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A PROTEÇÃO, DEFESA E PROMOÇÃO

DOS DIREITOS INFANTOJUVENIS NO


BRASIL

PROFA. LUCIENE RINALDI COLLI


DPD UFV
POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A INFÂNCIA E A JUVENTUDE NO BRASIL:
MARCO TEÓRICO

 Código Civil de 1916

 Código Mello Mattos (1927)

 Código de Menores (1979)

 Constituição Federal (1988)

 Estatuto da Criança e do Adolescente ( Lei 8069/1990)

 Estatuto do Jovem: Lei 12.852/2013


INÍCIO DO SÉCULO XX

 Não se tem registro, até o início do século XX, do desenvolvimento de políticas


sociais criadas pelo Estado brasileiro. As populações economicamente carentes eram
entregues aos cuidados da Igreja Católica através de algumas instituições, entre elas
as Santas Casas de Misericórdia. No Brasil, a primeira Santa Casa foi fundada no ano
de 1543, na Capitania de São Vicente (Vila de Santos).
 Estas instituições atuavam tanto com os doentes quanto com os órfãos e
desprovidos.
 O sistema da Roda das Santas Casas, vindo da Europa no século XIX, tinha o objetivo
de amparar as crianças abandonadas e de recolher donativos.
A RODA DAS SANTAS CASAS

 A Roda constituía-se de um cilindro oco de madeira que girava em torno do próprio


eixo com uma abertura em uma das faces, alocada em um tipo de janela onde eram
colocados os bebês. A estrutura física da Roda privilegiava o anonimato das mães, que
não podiam, pelos padrões da época, assumir publicamente a condição de mães
solteiras.
 Em 1927 o Código de Menores proibiu o sistema das Rodas, de modo a que os
bebês fossem entregues diretamente a pessoas destas entidades, mesmo que o
anonimato dos pais fosse garantido.
O COMITÊ DE DEFESA PROLETÁRIA

O início do século XX foi marcado, no Brasil pelo


surgimento das lutas sociais do proletariado
nascente. Liderado por trabalhadores urbanos, o
Comitê de Defesa Proletária foi criado durante a
greve geral de 1917.
O Comitê reivindicava, entre outras coisas, a
proibição do trabalho de menores de 14 anos e
a abolição do trabalho noturno de mulheres e de
menores de 18 anos.
O JUIZADO DE MENORES E O CÓDIGO MELLO MATTOS

 Em 1923, foi criado o Juizado de Menores, tendo Mello Mattos como o primeiro Juiz
de Menores da América Latina. No ano de 1927, foi promulgado o primeiro
documento legal para a população menor de 18 anos: o Código de Menores, que
ficou popularmente conhecido como Código Mello Mattos.

 O Código de Menores era endereçado não a todas as crianças, mas apenas àquelas
tidas como estando em “situação irregular”
SERVIÇO DE ASSISTÊNCIA AO MENOR (SAM)

 Criado 1942, período considerado especialmente autoritário do Estado Novo.

 Órgão do Ministério da Justiça que funcionava como um equivalente do sistema Penitenciário para a
população menor de idade. O sistema previa atendimento diferente para o adolescente autor de ato

infracional e para o menor carente e abandonado.

Situação irregular Adolescente autor de Menor carente e


ato infracional abandonado

Tipo de atendimento Internatos: reformatórios e Patronatos agrícolas e


casas de correção escolas de aprendizagem de
ofícios urbanos
TRATAMENTO DA INFÂNCIA DURANTE A
DITADURA MILITAR
 O tratamento da área da infância no
regime militar foi pautado por dois
documentos significativos:

 A Lei que criou a Fundação Nacional do


Bem-Estar do Menor (Lei 4.513 de
1/12/64) e

 O Código de Menores de 79 (Lei 6697


de 10/10/79)
A FUNDAÇÃO NACIONAL DO BEM-ESTAR DO MENOR (FUNABEM)

 Era a Principal instituição de assistência à infância.


 A Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor foi um herdeiro do SAM
em sua estrutura e seus objetivos. Por isso, esta estrutura tinha os
mesmo caráter autoritário.
 Sua principal medida, tanto para os abandonados quanto para os
infratores era a internação.
O CÓDIGO DE MENORES DE 1979

 Foi uma revisão do Código de Menores de 27, não rompendo, no entanto, com sua
linha principal de arbitrariedade, assistencialismo e repressão junto à população
infanto-juvenil.

 Introduziu o conceito de “menor em situação irregular”: meninos e meninas que


possuíam sua infância em “perigo” ou uma infância “perigosa”.

 Esta população era o objeto potencial da administração da Justiça de Menores.


A “AUTORIDADE JUDICIÁRIA”

É interessante que o termo “autoridade judiciária” aparece no Código de Menores de


1979 e na Lei da Fundação do Bem Estar do Menor, respectivamente, 75 e 81 vezes,
conferindo a esta figura poderes ilimitados quanto ao tratamento e destino desta
população.
A DOUTRINA DE PROTEÇÃO INTEGRAL DA ONU

 A adequação desta norma no Brasil, trouxe alguns avanços na lei


nacional, como garantir às crianças e adolescentes os direitos
fundamentais de:
 Sobrevivência
 Desenvolvimento pessoal e social
 Integridade física, psicológica e moral
O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (ECA)

 A promulgação ECA (Lei 8.069/90)


ocorreu em 13 de Julho de 1990.
 Foi uma grande conquista, pois significou a
produção de um documento de direitos
humanos que contempla o que há de mais
avançado na normativa internacional em
respeito aos direitos da população infanto-
juvenil.
A INTERVENÇÃO COMO SEGUNDA OPÇÃO

Este novo documento altera significativamente as possibilidades de uma intervenção


arbitrária do Estado na vida de crianças e jovens. Como exemplo disto pode-se citar
a restrição que o ECA impõe à medida de internação, aplicando-a como último
recurso, restrito aos casos de cometimento de ato infracional.
DEFINIÇÃO DO ECA: CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos


desta Lei, a pessoa até doze anos de idade
incompletos, e adolescente aquela entre doze
e dezoito anos de idade.
ALGUNS DADOS ESTATÍSTICOS

 A população brasileira é formada por 51 milhões de jovens entre 15 e 29 anos.


(IBGE, 2010). 32,5 milhões têm renda per capita familiar de até um salário mínimo.
 Em relação às infrações cometidas pelos jovens (CNJ, 2015), são cerca de 192 mil
cumprindo medidas socioeducativas.
 Em contrapartida, dos crimes cometidos contra os jovens, segundo dados do Senado,
apenas 8% deles são investigados.
A VIOLENCIA LETAL NO BRASIL

Reunindo dados do período entre os anos 2016 e 2020,


ocorreram 34.918 mortes violentas intencionais de
crianças e adolescentes no país nesse intervalo de
tempo – portanto, uma média de 6.970 mortes por ano
ao longo dos últimos cinco anos.
(Forum Brasileiro de Segurança Pública, 2021)
É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao
adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à
saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização,
à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência
familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão
(art. 227 CF)
A criança e o adolescente gozam de todos os direitos
fundamentais inerentes à pessoa humana, assegurando-se-
lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e
facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico,
mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e
de dignidade (art. 3º ECA)
COMO SE EFETIVA A PROTEÇÃO INTEGRAL PELO ESTADO?

 Pela primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias;


 Pela precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública;
 Pela preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas;
 Pela destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude.
O DIREITO À VIDA E À SAÚDE

A criança e o adolescente têm direito à proteção à vida e


à saúde,mediante a efetivação de políticas sociais
públicas que permitam o nascimento e o
desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições
dignas de existência
O DIREITO À LIBERDADE, AO RESPEITO E À
DIGNIDADE

A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao


respeito e à dignidade como pessoas humanas em
processo de desenvolvimento e como sujeitos de
direitos civis, humanos e sociais garantidos na
Constituição e nas leis
O DIREITO À CONVIVÊNCIA FAMILIAR E
COMUNÍTÁRIA

Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado


no seio da sua família e, excepcionalmente, em família substituta,
assegurada a convivência familiar e comunitária, em ambiente
livre da presença de pessoas dependentes de substâncias
entorpecentes
A PREVENÇÃO GERAL

É dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça


ou violação dos direitos da criança e do
adolescente
O SISTEMA DE GARANTIA DE DIREITOS
O Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente representa a
articulação e integração entre os diversos atores do Estado e da sociedade civil na
promoção, defesa e controle da efetivação dos direitos da infância e da adolescência
previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Isso significa que, embora a sociedade civil, a família, os órgãos públicos e as
autoridades federal, estaduais e municipais tenham atribuições específicas a
desempenhar para que crianças e adolescentes tenham plenamente garantidos seus
direitos, esses atores possuem igual responsabilidade para evitar, apurar e solucionar
os problemas existentes para efetivação dessas garantias.
O SISTEMA DE GARANTIA DE DIREITOS

 Fazem parte do Sistema de Garantia os órgãos públicos do sistema judiciário; as


polícias militar, civil e federal; os conselhos tutelares; as entidades de defesa de
direitos humanos; os conselhos dos direitos de crianças e adolescentes e os diversos
outros conselhos que atuam na discussão, formulação e controle de políticas
públicas; entre outros.
LEI 13.431/2017
CRIA O SGDCA VÍTIMAS OU TESTEMUNHAS DE VIOLÊNCIA

 Qualquer pessoa que tenha conhecimento ou presencie ação ou


omissão, praticada em local público ou privado, que constitua violência
contra criança ou adolescente tem o dever de comunicar o fato
imediatamente ao serviço de recebimento e monitoramento de
denúncias, ao conselho tutelar ou à autoridade policial, os quais, por
sua vez, cientificarão imediatamente o Ministério Público.
 ºA criança e o adolescente gozam dos direitos fundamentais inerentes à
pessoa humana, sendo-lhes asseguradas a proteção integral e as
oportunidades e facilidades para viver sem violência e preservar sua saúde
física e mental e seu desenvolvimento moral, intelectual e social, e gozam
de direitos específicos à sua condição de vítima ou testemunha.
 Qualquer pessoa que tenha conhecimento ou presencie ação ou omissão,
praticada em local público ou privado, que constitua violência contra
criança ou adolescente tem o dever de comunicar o fato imediatamente
ao serviço de recebimento e monitoramento de denúncias, ao conselho
tutelar ou à autoridade policial, os quais, por sua vez, cientificarão
imediatamente o Ministério Público.
A ESCUTA ESPECIALIZADA

 Escuta especializada é o procedimento de entrevista sobre


situação de violência com criança ou adolescente perante
órgão da rede de proteção, limitado o relato estritamente ao
necessário para o cumprimento de sua finalidade.
O DEPOIMENTO ESPECIAL

 Depoimento especial é o procedimento de oitiva de criança ou


adolescente vítima ou testemunha de violência perante
autoridade policial ou judiciária.
 A criança ou o adolescente será resguardado de qualquer contato, ainda
que visual, com o suposto autor ou acusado, ou com outra pessoa que
represente ameaça, coação ou constrangimento.
 A escuta especializada e o depoimento especial serão realizados em local
apropriado e acolhedor, com infraestrutura e espaço físico que garantam
a privacidade da criança ou do adolescente vítima ou testemunha de
violência.
LEI 14.344/2022- LEI HENRY BOREL

 Cria Mecanismos Para a Prevenção e o Enfrentamento da Violência


Doméstica e Familiar contra Crianças e Adolescentes
 A violência doméstica e familiar contra crianças e adolescentes constitui
uma forma de violação de direitos humanos
A V.D. CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES
 Configura violência doméstica e familiar contra a criança e o adolescente qualquer ação ou
omissão que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual, psicológico ou dano patrimonial:
 I - no âmbito do domicílio ou da residência da criança e do adolescente, compreendida como o
espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as
esporadicamente agregadas;
 II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que
compõem a família natural, ampliada ou substituta, por laços naturais, por afinidade ou por
vontade expressa
 III - em qualquer relação doméstica e familiar na qual o agressor conviva ou tenha convivido
com a vítima, independentemente de coabitação.
 Azevedo e Guerra (1998, p.25) “toda a ação que causa dor física numa
criança ou adolescente, desde um simples tapa até o espancamento fatal,
representam um só continuum de violência"
Obrigada!

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