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No meio jurídico e político, as prerrogativas têm um papel importante.

Elas
são basicamente vantagens ou direitos especiais que são dados a certas pessoas ou
grupos de pessoas conforme suas posições, como por exemplo, um Deputado Federal.

As imunidades dos político, como os Deputados, Senadores, Presidente da


República etc., são um conjunto de direitos exclusivos que tem por objetivo garantir a
independência de suas atividades em favor dos cidadãos.

Em certas situações, isso significa que eles são tratados de maneira diferente
de alguém sem um cargo público específico.

Do princípio da isonomia irradia entendimento que a igualdade não pode ser


meramente formal, devendo-se buscar a igualdade material. Partindo de uma
visão aristotélica, o princípio da isonomia não garante apenas a igualdade pura
e simples: ele exige que essa igualdade seja substancial, que, para alcançá-la,
seja necessário tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na
medida de sua desigualdade.1

O princípio da isonomia resume-se em igualdade perante a lei. Mas essa


igualdade não deve ser apenas formal, ou seja, não basta tratar todos da mesma forma
superficialmente. Em vez disso, é necessário buscar uma igualdade real, o que
chamamos de igualdade material.

Esses direitos estão previstos na Constituição Federal e em leis


complementares. São também denominados, técnicamente, de “foro por prerrogativa de
função”, também conhecido como “foro privilegiado”, que confere a estas autoridades
públicas condições especiais em razão de seus cargos.

Deve ter atenção ao se utiliza a palavra “privilégio”, pois ela é utilizada


apenas para ilustrar a condição destas autoridades públicas. Ou seja, não existe
“privilégio”, pois o privilégio é entendido como algo que está ligado a pessoa e não ao
cargo que ela ocupa.

O que muito chamam de “privilégio” ou “foro privilegiado”, na verdade, é


prerrogativa. O privilégio não tem amparo na lei brasileira, apenas as prerrogativas. Ou
seja, ao se falar “foro privilegiado”, na verdade quer dizer prerrogativa de função.

1
SILVA. Jade Preis da. As Prerrogativas Processuais da Fazenda Pública à Luz do Princípio da Isonomia.
2015. 67 fls. TCC. Unisul - Universidade Do Sul De Santa Catarina. Apud SILVA, Jade Preis da. NUNES,
Allan Titonelli. As prerrogativas da Fazenda Pública e o Projeto de Lei 166 10: Novo Código de Processo
Civil. Revista Fórum Administrativo, Belo Horizonte, v.12, n.132, p. 35-43, fev. 2012, Mensal. Disponível
em: https://repositorio.animaeducacao.com.br/bitstreams/9f998280-5dac-4ae3-a93f-9c040c1ed835/
download Acesso em: 21/03/2024.
1
As prerrogativas conferem benefícios ou vantagens, visando assegurar o
funcionamento adequado das instituições brasileiras, como a União, Estados, Distrito
Federal e Municipios, assim como dos órgãos, por exemplo, Judiciário, Legislativo e
Executivo, tal como garantir a proteção dos direitos fundamentais dos cidadãos.

Por exemplo, deputados federais acusados de crimes não são julgados pela
justiça comum em primeira instância, isto devido ao “foro privilegiado”, ou seja, devido
as prerrogativas de função. Desta forma, seus processos serão decididos nos tribunais
superiores, como Superior Tribunal de Justiça e/ou Supremo Tribunal Federal.

Vejá-se o Art. 53 e alguns de seus parágrafos da Constituição Federal de


1988:

Art. 53. Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por


quaisquer de suas opiniões, palavras e votos. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 35, de 2001)

§ 1º Os Deputados e Senadores, desde a expedição do diploma, serão


submetidos a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal. (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 35, de 2001)

§ 2º Desde a expedição do diploma, os membros do Congresso Nacional não


poderão ser presos, salvo em flagrante de crime inafiançável. Nesse caso, os
autos serão remetidos dentro de vinte e quatro horas à Casa respectiva, para
que, pelo voto da maioria de seus membros, resolva sobre a prisão. 2

Esta lei está explicando as prerrogativas. Com ela, o Legislativo e os agentes


que ali estão, escolhidos pelo povo brasileiro, tem liberdade para agir sem serem
oprimidos indevidamente.

Quanto ao Estado brasileiro, este também tem prerrogativas, como já falado,


em casos de interesse público. Por exemplo, digamos que o Município queira um
terreno para uma determinada obra, nesta situação, haverá prerrogativas que vão
permitir tomar posse deste terreno, tudo dentro da lei – legalidade.

Já, há uma observação muito importante a ser feita. Pode-se ouvir falar que
o Código Penal admite privilégios, mas é o contrário. Nenhuma lei brasileira admite
privilégio, mas sim prerrogativas/imunidades.

O Código Penal traz crimes privilegiados. Ou seja, caso uma pessoa cometa
um crime, em determinada situação, seu crime será considerado privilegiado e sua pena
2
BRASIL. Constituição Federal de 1988. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm Acesso em: 21/03/2024
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será reduzida.

Mas apesar da Jurisprudência e a Doutrina darem este nome, não há


qualquer privilégio acontecendo, pois já foi demonstrado que o privilégio é algo
relacionado a pessoa, mas os crimes ali descritos se relacionam com situações.

Para melhor esclarecer, um crime “privilegiado” não é em relação ao


pessoal do criminoso, mas sim por uma situação já previamente colocada em lei.

A título de exemplo, como já explicado, há aqueles que tem suas penas


diminuidas. Daí que vem o termo “crime privilegiado”.

PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO ESPECIAL.


NÃO CABIMENTO. FURTO QUALIFICADO PELO CONCURSO DE
PESSOAS. PLEITO DE APLICAÇÃO DO FURTO PRIVILEGIADO
(ART. 155, § 2º, DO CP). PRIMARIEDADE DO AGENTE. VALOR DA
RES FURTIVA INFERIOR AO SALÁRIO-MÍNIMO VIGENTE AO
TEMPO DO FATO. QUALIFICADORA OBJETIVA. SÚMULA
XXXXX/STJ. REQUISITOS NECESSÁRIOS PREENCHIDOS. HABEAS
CORPUS NÃO CONHECIDO. ORDEM CONCEDIDA, DE OFÍCIO. I -
Firmou-se nesta Corte, nos termos do entendimento manifestado pela Primeira
Turma do col. Pretório Excelso, orientação no sentido de não admitir habeas
corpus substitutivo do recurso adequado, situação que implica o não
conhecimento da impetração, ressalvados casos excepcionais em que,
configurada flagrante ilegalidade apta a gerar constrangimento ilegal, seja
possível a concessão da ordem de ofício. II - O art. 155, § 2º, do CP
condiciona a aplicação da forma privilegiada à satisfação simultânea de duas
condições: (a) a primariedade do agente, condição de ordem subjetiva; e (b) o
pequeno valor da res furtiva, condição de ordem objetiva. III - Verifica-se, no
particular, que a reincidência do corréu, por ser circunstância de caráter
subjetivo e não configurar elementar do crime de furto, não se comunica ao
paciente - que é primário -, nos termos do art. 30 do CP. Desse modo, não se
revela fundamento adequado para afastar o reconhecimento do privilégio. IV -
Cuida-se, no presente caso, de crime de furto qualificado pelo concurso de
pessoas (art. 155, § 4º, IV) de produtos diversos comercializados por uma
unidade de rede de supermercados avaliados no valor total de R$ 200,00
(duzentos reais). V - Com efeito, a coisa subtraída de pequeno valor
entende este Superior Tribunal de Justiça ser aquela que não ultrapassa o
equivalente a um salário-mínimo vigente ao tempo do fato. Precedentes. VI
- Consoante o atual entendimento desta Corte Superior de Justiça, a teor do
enunciado da Súmula XXXXX/STJ, é possível o reconhecimento do furto
privilegiado-qualificado quando presentes a primariedade do acusado, o
pequeno valor da res furtiva e qualificadora de natureza objetiva. VII - Dessa
forma, tendo em vista a primariedade do agente, o pequeno valor da res
furtiva e o caráter objetivo da qualificadora, reconheço a INCIDÊNCIA
DO PRIVILÉGIO do § 2º do art. 155 do CP. Habeas corpus não conhecido.
Ordem concedida, de ofício, para reconhecer o furto privilegiado e determinar,
por conseguinte, que o eg. Tribunal de origem refaça a dosimetria da pena,
aplicando, como entender de direito, as medidas previstas no art. 155, § 2º, do
CP. (STJ - HC: 464.005 - ES 2018/0205111-2, Relator: Ministro FELIX
FISCHER, Data de Julgamento: 13/11/2018, T5 - QUINTA TURMA, Data de
Publicação: DJe 22/11/2018)3 (grifo meu)

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STJ - HC: 464.005 - ES 2018/0205111-2, Relator: Ministro FELIX FISCHER, Data de Julgamento:
13/11/2018, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 22/11/2018
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Veja que o crime de furto ocorreu, mas o valor do objeto furtado é muito
menor que o salário mínimo da época. Desta forma, ocorre o “Furto Privilegiado”, onde
a pena é diminuida. Veja que este privilégio não ocorreu por causa da pessoa criminosa,
mas por uma circunstância que estava na lei.

Não há este privilégio apenas no Furto, mas em outros crimes podem


ocorrer esta privilegiadora, tendo suas próprias consequencias a cada caso concreto.

Diante do exposto, é evidente que as prerrogativas e imunidades,


desempenham um papel importante no contexto jurídico e político, pois garantem a
independência de certas autoridades públicas em suas funções, como os Deputados ao
votarem alguma lei importante para a população.

Já os privilégios, não são aceitos em nossa legislação, aparecendo apenas


pelos nomes populares que os cidadãos dão para alguma ocasião, como dos políticos,
assim como na Doutrina e Jurisprudência referente ao Código Penal, mas não na lei.

Por isto que é muito importante distinguir as prerrogativas/imunidades


legais dos privilégios pessoais, que não são aceitos pelo ordenamento jurídico pátrio.

Assim, as prerrogativas têm o propósito de assegurar o o bom


funcionamento da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, tal como de seus
agentes públicos, Presidente da República, Governadores, Prefeitos, Deputados,
inclusive agentes diplomatas.

Tudo isto contribuiu para a estabilidade da democracia no Estado


Democrático de Direito Brasileiro.

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