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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO - FACULDADE DE DIREITO

Optativa: Formulação de Políticas Públicas


Professor: Luiz Guilherme Conci
Alunas: Isabela Vasques Tamai RA00195701; Carolina de André Plothow RA00197013.

Avaliação - 1º bimestre

“(...) na Constituição italiana, as normas que se referem a direitos sociais foram chamadas
puramente de programáticas. Será que já nos perguntamos alguma vez que gênero de
normas são essas que não ordenam, proíbem e permitem num futuro indefinido e sem
prazo de carência claramente delimitado? E, sobretudo, já nos perguntamos alguma vez
que gênero de direitos são esses que tais normas definem? Um direito cujo reconhecimento
e cuja efetiva proteção são adiados sine die, além de confiados à vontade de sujeitos cuja
obrigação de executar o ‘programa’ é apenas uma obrigação moral ou, no máximo, política,
pode ainda ser chamado corretamente de ‘direito’?”( Bobbio, N. (2004). Era dos direitos.
Elsevier Brasil).

A partir da afirmação por Norberto Bobbio:

a) Responda se é possível afirmar que existem tais normas programáticas em


constituições dirigentes? Explique.

Essencialmente, a Constituição Dirigente refere-se a um instrumento de estatização


do mundo e da vida, de forma que se caracteriza por conter normas definidoras de tarefas e
programas de ação a serem concretizados pelo poder estatal.

José Joaquim Gomes Canotilho, em seu texto “Brancosos” e Interconstitucionalidade


já afirmava que a Constituição dirigente e os textos constitucionais, eram carregados de
programaticidade. Historicamente, a Constituição Dirigente ganhou potência no século XX,
sendo fruto das lutas de integração política da classe trabalhadora. Ademais, desde a
Constituição Mexicana de 1918 até a Constituição Brasileira de 1988, já haviam traços do
pragmatismo estatal, no qual o Estado e o Direito foram arrastados pela crise política
regulatória.

Como aponta Bobbio, há necessidade de reflexão no que tange a classe dos


gêneros de direitos que tais normas definem. Canotilho, já se referia a tentativa da
Constituição Dirigente de transportar um modelo de modernidade: a conformação do mundo
político econômico no decurso do direito estruturado sob forma de pirâmide. Entretanto, o
que não se esperava, era um autismo nacionalista e patriótico na tentativa de aplicar as
normas programáticas nas constituições dirigentes.

Tentava-se, assim, repousar-se na ideia de um estado soberano e programático nas


constituições dirigentes. No entanto, não se contava com a ideia de que os espaços de
decisão não estão centrados unicamente de forma autárquica e nacional, ainda mais em um
mundo globalizado, rodeado por decisões de interdependência e cooperação entre Estados
de forma internacionalizada.

Ante o exposto, retoma-se que a Constituição Dirigente é detentora de normas


definidoras de tarefas e programas de ação a serem concretizados pelos poderes públicos,
de modo que se faz necessária a existência de normas programáticas. É importante
ressaltar que a Constituição deve fornecer exigências constitucionais mínimas, ou seja, o
complexo de direitos e liberdades definidoras das cidadanias pessoais, políticas e
econômicas.

b) Reflita a respeito do trecho a partir do texto de Holmes e Sustein com o qual


trabalhamos.

No que se refere ao trecho de Norberto Bobbio, é necessário ponderar quanto à


efetividade dos direitos constitucionais de segunda geração, e, portanto, os direitos sociais.
Sobre esses, referem-se a garantia e efetivação das igualdades sociais via entes estatais.

A partir da Segunda Guerra, viu-se a inevitabilidade de um Estado como ente


atuante nos preceitos sociais e legislativos. Estipulou-se, assim, o “direito positivo”, como
forma de efetivação de direitos estatais nos Estados de bem-estar social. Em discordância
dos direitos positivos, surgem, os chamados de “direitos negativos”, que decorrem do
pensamento liberal inglês, que vem como forma de uma tentativa de autonomia dos
indivíduos sociais, que buscavam o descolamento dos entes estatais.

No entanto, tanto Holmes quanto Sustein, apontam discordância na nomenclatura


dos direitos negativos. Isso se deve, pois entendem que mesmo os direitos positivos
acabam por frear o poder do Estado contra o indivíduo, tendo em vista que em ambos os
casos, o Estado encontra-se como elemento central da efetivação da garantia de direitos.
Ao contrário do que se concentra no liberalismo econômico, o indivíduo por si só não é
capaz de dispor de direitos sem um aparato social, coletivo, e, portanto, estatal.

Assim sendo, Bobbio, acaba por aprofundar-se também no próprio conceito de


direito. Se o direito é feito pelos homens, os homens estão em sociedade, até que ponto os
direitos são normativas de fato igualitárias? E, portanto, a reflexão se direciona às
normativas legislativas que acabam por efetivar “direitos”, que, se olharmos a fundo,
transcorrem de características sociais de determinados momentos políticos advindos dos
cidadãos que se inserem nesses contextos sociais.

c) Recentemente, a Corte Interamericana de Direitos Humanos vem, desde o artigo 26


da Convenção Americana de Direitos Humanos, implementando decisões que
alcançam direitos sociais, algo inovador em sua trajetória. Qual seria o papel dos
tribunais internacionais na concretização de tais direitos?

É necessário, antes de tudo, conceituar sobre o que se referem os direitos sociais.


Os direitos sociais buscam a garantia dos direitos fundamentais constitucionalmente
assegurados. Dessa forma, entende-se a ambiguidade de interesses que devem ser
promovidos pelo Estado: os indivíduos sociais e os entes governamentais - com o
pressuposto da chamada de supremacia do interesse público.

Cumpre destacar que a ideia de que há uma hierarquia dos tribunais internacionais
em detrimento dos tribunais nacionais é equivocada. Isso porque verifica-se que a proteção
dos direitos humanos no âmbito internacional deve ser vista como um elemento a funcionar
conjuntamente com a estrutura estabelecida no direito doméstico. Assim, infere-se que a
denominada integração substancial, quando trata-se de integração por meio de direitos
humanos, é realizada quando os tribunais internacionais atuam para garantia e efetividade
dos direitos humanos.

Não obstante, o que se discute nos processos de integração tem um potencial de


influenciar decisões no âmbito doméstico, mais especificamente, em políticas públicas.
Assim, os tratados cumprem papel importante com o fim de produzir uma certa
homogeneização de políticas públicas.

Pode-se dizer que existe um conjunto de normas jurídicas de cunho internacional


que produzem efeitos quanto às políticas públicas em âmbito doméstico, que influenciam
autoridades domésticas, administradores públicos e juízes domésticos, considerando existir
movimento jurisprudencial que utiliza esse material para servir como norte às decisões
judiciais.

À título exemplificativo, cita-se a implementação das audiências de custódia na


seara processual penal, instituto previsto em tratados internacionais de direitos humanos
internalizados pelo Brasil, como o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos e a
Convenção Interamericana sobre Direitos Humanos, e que visa a proteção em face de
eventuais ocorrências de tortura ou de maus-tratos, entre outras irregularidades.

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