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A Lei de Terras em Santa Catarina e A Co
A Lei de Terras em Santa Catarina e A Co
Florianópolis, SC
2017
AGRADECIMENTOS
In this work I analyze how the brazilian Imperial State adapted the
centralizing project of the 1840s in correspondence with regional and
local elites and made the “Land Law” and the execution Decree
functionals instruments of aggregation and political consolidation in the
Second Reign. To deepen my hypothesis, I take as object of study the
province of Santa Catarina and the Plateau region, corresponding to the
municipality of Lages in the 19th century.
NOTAS INTRODUTÓRIAS
1
Jornal O Conservador (SC). Desterro. Ano III, nº. 235, pp. 03-04, jul.
1854, 1ª parte. Acervo da Biblioteca Nacional Digital. Hemeroteca digital,
seção periódicos, s. endereço eletrônico.
2
Com a ampliação da pressão do Governo da Inglaterra sobre a execução
dos tratados e leis em que o Brasil se comprometera a abolir o tráfico de
africanos, os debates parlamentares passaram a tratar cada vez mais da
virtual demanda de mão-de-obra livre no país. Para aprofundamento, cf.,
BETHELL, Leslie. A abolição do tráfico de escravos no Brasil: a Grã-
Bretanha, o Brasil e a questão do tráfico de escravos, 1807-1869. Rio de
Janeiro: Expressão e Cultura; São Paulo: Ed. da USP, 1976; e
MAMIGONIAN, Beatriz Gallotti. Africanos livres: a abolição do tráfico de
escravos no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2017.
14
3
Sobre o processo legislativo da Lei de Terras, cf., MOTTA, Márcia M. M.
“Sesmeiros e posseiros nas malhas da Lei (um estudo sobre os debates
parlamentares acerca do projeto de Lei de Terras – 1843-1850)”. In: Raízes.
Ano XVII, nº 18, set. 1998, pp. 102-110; e SILVA, Claudia Christina
Machado. Escravidão e grande lavoura: o debate parlamentar sobre a Lei
de Terras (1842-1854). Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do
Paraná. Curitiba, 2006.
15
4
Esta tornou-se a explicação clássica sobre a história da Lei de Terras,
segundo a qual a Lei consagrou a propriedade privada no país. Cf.
MARTINS, José de Souza. O cativeiro da terra. 2ª Ed. SP: Hucitec, 1986.
5
Anais do Parlamento Brasileiro. Câmara dos Deputados. Segundo ano da
quinta legislatura. Segunda sessão de 1843. Tomo I. Rio de Janeiro, 1882, p.
592. Em 1842, o Conselheiro Vasconcelos havia sugerido uma ementa que
aplicava o imposto anual de 1$500 reis sobre cada meio quarto de légua em
quadra, o qual aumentaria à proporção que o prédio fosse maior. A referida
ementa previa também que fossem devolvidas ao Governo as terras cujo
imposto não fosse pago por mais de três anos contínuos ou interrompidos.
6
Lígia Osório Silva reconheceu este “espírito conciliatório” na construção
da Lei de Terras. Convergindo à crítica do jornal catarinense, a autora
afirmou que “essa desistência [do Governo] diante dos proprietários de
16
terras foi um dos aspectos da Lei que mais crítica mereceu por parte dos
comentaristas da época. De fato, parece totalmente injustificado que uma lei
que tinha como um dos seus objetivos principais financiar a imigração, não
instituísse o imposto territorial. Além de reforçar os minguados recursos do
Estado Imperial, um imposto sobre as terras desestimularia a manutenção de
grandes latifúndios improdutivos.” SILVA, Lígia Osório. Terras devolutas
e Latifúndio: efeitos da Lei de Terras de 1850. Campinas: Ed. Unicamp,
1996, p. 144.
17
7
BRASIL, Lei nº. 601, de 18 de Setembro de 1850, Dispõe sobre as terras
devolutas do Império, art. nº 18. São deste período também o Decreto nº
885, de 4 de outubro de 1856, que autorizou o Governo a despender até seis
mil contos de reis em três anos com a importação de colonos e seu
estabelecimento; e o Decreto nº 1.915, de 28 de março de 1857, que
aprovou o contrato entre a Associação Central de Colonização de 1853 e o
Governo Imperial, por intermédio da Repartição Geral das Terras Públicas.
8
“(...) Pagando-se 5$ de direitos de chancelaria pelo terreno que não
exceder de um quadrado de 500 braças por lado, e outro tanto por cada igual
quadrado que de mais contiver a posse; e, além disso, 4$ de feitio, sem mais
emolumentos ou selo”. BRASIL, Lei nº. 601, de 18 de Setembro de 1850,
Op. cit., art. nº 11.
18
9
Jornal O Conservador (SC). Desterro. Ano III, nº. 236, jul. 1854, 2ª parte,
Op. cit., p. 03.
10
Haja vista o seguinte excerto: “Até aqui, a propriedade rural quase que só
nominalmente existia: nunca fixa, sem limites certos, sempre contestada,
dando ocasião a demandas intermináveis, aumentando-se por usurpações
sobre o domínio público, nunca aproveitada nem na décima parte de sua
extensão, e constituindo para seus proprietários uma espécie de baronias
feudais, não era ela verdadeira riqueza para os que a possuíam, nem uma
utilidade para o país”.
19
11
Acerca das revoltas da primeira metade do século XIX, cf. DANTAS,
Monica Duarte (org.). Revoltas, Motins, Revoluções: Homens livres e
libertos no Brasil do século XIX. SP: Alameda, 2011; MOTTA, Márcia M.
M.; ZARTH, Paulo. (orgs.). Formas de resistência camponesa: visibilidade
e diversidade de conflitos ao longo da história, vol. 01: Concepções de
justiça e resistência nos Brasis. SP: Editora Unesp; Brasília: Ministério do
Desenvolvimento Agrário, NEAD, 2008.
20
12
Cf. ZARTH, Paulo. Do arcaico ao moderno: o Rio Grande do Sul agrário
do século XIX. Ijuí: Uniijuí, 2002.
13
Cf. Anexo A. Destaquei Lages no mapa dos assentamentos alemães da
província com o objetivo de evidenciar a ausência de colônias estrangeiras
na região do Planalto na década posterior à promulgação da Lei de Terras.
Sobre a imigração e a colonização europeia no sul do Império, cf., entre
outros, PIAZZA, Walter F. A colonização de Santa Catarina. 3ª Edição.
Florianópolis: Lunardelli, 1994; MACHADO, Paulo Pinheiro. A Política de
Colonização no Império. Porto Alegre: Ed. UFRGS, 1999; KLUG, João.
Imigração no Sul do Brasil. In: GRIMBERG; SALES (orgs.). O Brasil
Imperial, v. III, 1870-1889, Op. cit.; SEYFERTH, Giralda. “Colonização,
imigração e a questão racial no Brasil”. In: Revista USP. São Paulo, nº 53,
mar./mai. 2002, pp. 117-149.
21
14
Questiona a publicação: “não será igual a loucura do que a uma lei, cujo
resultado deve ser unicamente a criação da pequena propriedade, pedirem
que traga ela colonos livres que se substituam aos escravos no trabalho das
grandes propriedade?”.
15
BRASIL, Lei nº. 601, de 18 de Setembro de 1850, Op. cit., art. nº 5 §1º.
16
Ibidem, art. nº 15.
22
17
Não obstante, a afirmação carece de pesquisa específica.
18
Cf. DAROSSI, Flávia P. Regularização fundiária no Planalto
Catarinense durante o período Monárquico (1850-1889). Monografia de
Conclusão de Curso de Graduação em História. Universidade Federal de
Santa Catarina. Florianópolis, 2015.
19
Existem estudos importantíssimos que tratam da questão agrária e das
implicações da Lei de Terras no país. Cf., entre outros, LIMA, Ruy Cirne.
Pequena História territorial do Brasil: sesmarias e terras devolutas. 2ª Ed.
Porto Alegre: Livraria Sulina, 1954; GUIMARÃES, Alberto Passos. Quatro
23
23
No caso da propriedade escrava, a Lei nº 581, de 4 de setembro de 1850,
e o decreto de execução nº 731, normatizaram a repressão do tráfico de
africanos por meio da Auditoria da Marinha composta por juízes de Direito
em primeira instância, com a possibilidade de recurso ao Conselho de
Estado em segunda instância.
26
24
Anais do Parlamento Brasileiro. Câmara dos Deputados. Terceiro ano da
oitava legisl. Sessão de 1851. Tomo II. Rio de Janeiro: Tipografia de H. J.
Pinto, 1878, p. 81.
25
Ibidem, p. 82.
26
Ibidem, p. 83.
27
27
Anais do Parlamento Brasileiro. Câmara dos Deputados. Quarto ano da
oitava legislatura. Sessão de 1852. Tomo I. Rio de Janeiro: Tipografia de H.
J. Pinto, 1877, p. 37.
28
Ibidem, p. 41.
29
Anais do Parlamento Brasileiro. Câmara dos Deputados. Primeiro ano da
nona legislatura. Sessão de 1853. Tomo IV. Rio de Janeiro: Tipografia
Parlamentar, 1876, p. 91.
30
Ibidem, p. 96.
31
Ibidem, p. 475.
32
Anais do Parlamento Brasileiro. Sessão de 1853, Op. cit., p. 91.
28
33
Atas do Conselho de Estado Pleno. Ata de 25 de agosto de 1852. Brasília:
Centro Gráfico do Senado Federal. Vol. 4, 1978, p. 31.
34
Ibidem, p. 32.
35
Ibidem, p. 38.
36
Ibidem, p. 29.
29
37
Anais do Parlamento Brasileiro. Sessão de 1851, Op. cit., p. 82.
38
João Fragoso afirma que as províncias de Santa Catarina, Paraná e Rio
Grande do Sul eram classificadas como “periferia da periferia”, em razão da
economia ser direcionada ao mercado interno, especialmente ao
abastecimento de áreas agroexportadoras escravistas do Sudeste, que por
sua vez giravam em torno do mercado internacional capitalista. FRAGOSO,
João. “Economia brasileira no século XIX: mais do que uma plantation
escravista-exportadora”. In: LINHARES, Maria Yedda (org.). História
Geral do Brasil. 9ª Ed. RJ: Elsevier, 1990, p. 173.
30
entre 1845 e 1871 (da 5ª a 14ª legislatura) foi o tenente coronel José da
Silva Mafra, natural de Desterro. Quando foi indicado para formar a
lista tríplice de candidatos ao Senado, em 1844, Mafra desempenhava
em Santa Catarina o cargo de secretário da presidência e era deputado
provincial (desde a 1ª legisl. de 1835). Havia sido também vice-
presidente da província por longo período até assumir a senatoria
vitalícia. Era Cavaleiro das Ordens Imperiais do Cruzeiro e da Rosa
desde 1823 e na Corte tornou-se 1º secretário da Mesa do Senado.39
Quando presidiu a sessão do Senado em 27 de agosto de 1846,
Mafra apoiou uma solicitação da Assembleia Legislativa de Santa
Catarina acerca da concessão de três léguas quadradas para o patrimônio
das vilas de São José, São Miguel e Porto Belo, e de quatro léguas
quadradas para a vila de Lages. O presidente provincial fora ouvido e
concordara na necessidade da concessão “por não terem as respectivas
câmaras rendas com que recorrer às necessidades mais
indispensáveis”.40 Após discussão em duas outras seções, em que fora
diminuída a extensão dos terrenos a serem doados para ½ légua
quadrada, o projeto foi deferido no Senado e encaminhado à Câmara dos
Deputados.
De acordo com o historiador Walter F. Piazza, a maioria dos
membros Conservadores e Liberais catarinenses inicialmente pertenceu
à classe média e à elite urbana de Desterro, reunindo-se por meio de
coalizões familiares em torno de determinados candidatos em períodos
eleitorais, que “se constituíam nas próprias bandeiras políticas e
disputavam o poder para a manutenção de seus interesses”.41
39
Junto com o Pe. Lourenço Rodrigues de Andrade, Mafra representou a
província nas Cortes de Lisboa em 1821. Ele faleceu em 1871 e foi
substituído no Senado pelo Conservador Jesuíno Lamego da Costa. Além de
Mafra, foram representantes de Santa Catarina no Senado entre 1826 e 1889
o Pe. Rodrigues de Andrade (1ª-5ª legisl.), Lamego da C. (15ª-20ª legisl.) e
Alfredo d‟Escragnolle Taunay (20ª legisl.).
40
Anais do Senado do Império do Brasil. Ano de 1846. Livro I. Transcrição
disponível no sítio do Senado Federal, seção “Publicação e Documentação”.
41
PIAZZA, Walter F., Dicionário político catarinense. 2ª Ed. Florianópolis:
Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina, 1994, p. 526 e 553.
Para aprofundamento, Cf. PIAZZA, Walter F. O Poder Legislativo
31
44
Respectivamente, o primeiro artigo da Lei normatizou a aquisição de
terras devolutas exclusivamente por meio de compra e o 12º previu a
reserva de terras devolutas para determinadas situações de interesse público,
como a fundação de povoações, aldeamentos indígenas, etc.
45
Anais do Parlamento Brasileiro. Sessão de 1852, Op. cit., p. 52.
46
Ibidem, p. 53.
47
Ibidem.
33
48
Ibidem.
49
Ibidem, p. 54.
50
Ibidem.
51
Ibidem.
34
52
Ibidem, p. 55.
53
Ibidem.
54
São deste período as discussões sobre a utilização dos imóveis como
garantia em hipotecas. Para fazê-lo, contudo, era necessário que as
35
57
Periódico O Correio Oficial de Santa Catarina. Desterro. Ano I, nº 47, p.
02, mai. 1861. Acervo da Biblioteca Nacional Digital. Hemeroteca digital,
seção periódicos, s. endereço eletrônico.
38
58
Descrição topográfica do mapa da Província de Santa Catarina
organizada na Comissão do Registro Geral e Estatística das Terras
Públicas e Possuídas sob a presidência do Conselheiro Bernardo Augusto
Nascentes de Azambuja. Rio de Janeiro, Imprimerie Impériale, 1874.
59
De acordo com o dicionário de 1874, “DEVOLUTO, A, p. p. irreg. de
devolver (Lat. Devolutus, p. p. de devolvo, devolver), adj. adquirido por
direito de devolução (benefício); que passa ao primeiro possuidor d‟onde
procedeu; v. g. o feudo ficou – ao império: –, vazio, desocupado, sem dono
(...). Terra –, não cultivada: –, tornado ao antigo estado”. Dicionário
Enciclopédico ou Novo Dicionário da Língua Portuguesa para uso dos
portugueses e brasileiros. 4ª Edição, vol.1. Lisboa: Francisco Arthur da
Silva, 1874, p. 930. O termo “terra devoluta” se referia à terra devolvida ao
Estado. Até 1822 o território brasileiro fazia parte do patrimônio real
português e a Coroa tinha o poder de transferir lotes a particulares por meio
de concessões. Pela Lei das Sesmarias, quando as exigências de cultivo,
medição e demarcação não fossem cumpridas, as terras cairiam em comisso
e deveriam ser devolvidas ao domínio patrimonial da Coroa.
39
60
BRASIL, art. 3º. Lei nº. 601, de 18 de Setembro de 1850. Dispõe sobre as
terras devolutas do Império.
61
Recenseamento Geral do Brasil de 1872. Biblioteca Nacional do IBGE.
62
O presidente provincial João José Coutinho relatou em 1854 que: “Uma
província como esta, cuja indústria se limita à lavoura, que quase não tem
relações comerciais com as províncias do interior, não pode ter grande
comércio, e nem este deixar de acompanhar o desenvolvimento da lavoura,
ainda mui limitada por falta de braços e de máquinas que os supram. A
colonização e a instrução que se for espalhando pela classe agrícola trará,
necessariamente, com o aumento da indústria agrícola, fabril e de
mineração, o desenvolvimento do comércio; socorrido este e aquelas pelos
melhoramentos das vias de comunicação, e pela abertura de novas”.
SANTA CATARINA, Relatório do presidente da província de Santa
Catarina Exm. Sr. Dr. João José Coutinho em 19 de abril de 1854.
Desterro: Tipografia Catarinense, 1854, p. 27. Ainda em 1850, Coutinho
queixou-se do aparente “atraso” em que a província se encontrava: “A
agricultura, que a pouco mais se estende da plantação da mandioca, milho,
cana, feijão e arroz, pouco aumento tem tido, já pela falta de braços, e já
porque nossos lavradores, aferrados ao que viram praticar seus
antepassados, não procuram, apartando-se da antiga rotina, bem amanhar o
terreno (...). O café, que faz a riqueza da província do Rio de Janeiro e de
alguns municípios de outras, é aqui em pequena escala cultivado, não
obstante ter a província terrenos mui apropriados à sua vegetação e
frutificação. A erva-mate ainda está por assim dizer escondida nos sertões
de São Francisco e nas matas de Lages, e se sai alguma dos campos desse
município, espavorida dos perigos de nossa estrada, vai-se asilar em Porto
Alegre”. SANTA CATARINA, Fala que o presidente da província de
40
O termo de Lages
68
Cf. Anexo C.
69
Para aprofundamento, cf. COSTA, Licurgo. Um cambalacho político: a
verdade sobre o “acordo” de limites PR-SC. Florianópolis: Editora
Lunardeli, 1987; e HEINSFELD, Adelar. Fronteira Brasil/Argentina: a
questão de Palmas (de Alexandre de Gusmão a Rio Branco). Passo Fundo:
Méritos, 2007. Cf. Anexo D.
70
Cristiano L. Christillino já abordou alguns aspectos desta perspectiva
quando analisou a aplicação da Lei de Terras em São Pedro do Rio Grande
44
72
A banca examinadora de Qualificação da Dissertação recomendou a
mudança de nível de meu Projeto de Mestrado para Doutorado.
Originalmente, estes dois capítulos juntos constituíam apenas o primeiro da
Dissertação. O projeto continha quatro capítulos, nos quais analiso – a partir
de agora na Tese –, toda a documentação da Repartição Especial das Terras
Públicas, dos juízes comissários de terras, os registros paroquiais de terras,
os processos judiciais de conflitos fundiários lageanos e outras fontes
pertinentes. Por este motivo, o debate contido neste trabalho é bastante
específico e direcionado à Nova História Política, sendo apenas um dos
eixos que tenho a desenvolver sobre a aplicação da Lei de Terras no
Império e especificamente em Santa Catarina.
46
73
Jacques Revel explica que a partir do enfoque inicial em experiências
localizadas e singulares, objetiva-se compreender as diversas formas pelas
quais o nível macro-histórico, “estrutural”, é enquadrado no nível micro,
“vivido” pelos indivíduos históricos. “Cada ato histórico participa, de
maneira próxima ou distante, de processos – e portanto se inscreve em
contextos – de dimensões e níveis variáveis, do mais local ao mais global”.
REVEL, Jacques. “Microanálise e construção do social”. In: Jogos de
escalas: a experiência da microanálise. RJ: FGV, 1998, p. 28.
47
74
GINZBURG, Carlo (org.). A micro-história e outros ensaios. Lisboa:
Difel, 1989, pp. 169-178.
48
75
Utilizo a classificação de “cargo” ou “empregado público” em um sentido
amplo, não considerando única e exclusivamente o critério de estabilidade
da carreira regular ou de educação superior (como no caso dos juízes de
Direito). Aproximo-me do sentido atribuído à categoria de “empregados
políticos”, aludida por Carvalho, que comporta a possibilidade de cargos
públicos ocupados esporadicamente ou de maneira mais ou menos
permanente por senhores de terras que, grande parte das vezes, não
possuíam instrução superior e desempenhavam outras ocupações
concomitantes as funções dos cargos aos quais foram empregados.
76
É deste período a criação da Guarda Nacional.
50
78
Segundo o Código do Processo Criminal de 1832, competia ao juiz de paz
a realização das fases iniciais dos processos judiciais como receber queixa e
denúncia, proceder auto de corpo de delito, formação de culpa, além de
prisão de culpados, concessão de fianças, julgamento de contravenções às
posturas da Câmara Municipal e de pequenos crimes. O cargo era de
natureza eletiva local e não era exigida formação jurídica. Muitos
contemporâneos criticaram a atividade destes magistrados, em consequência
da demasiada “liberdade” e falta de padronização e profissionalização no
desempenho de suas funções jurídicas e policiais nos distritos.
52
79
THOMAS, Flory, 1986, Op. cit., p. 270.
80
Ibidem, p. 293. As eleições para deputados eram distritais e indiretas,
constituídas de dois turnos. Os votantes designavam os cidadãos mais
eminentes das freguesias que, na mesa da assembleia paroquial, elegiam os
eleitores que votariam em deputados provinciais e senadores (este último
era escolhido pelo Imperador de lista tríplice constituída dos três cidadãos
mais votados em cada província). Votavam cidadãos livres mesmo
analfabetos. Era exigida renda líquida comprovada de 100$000 réis anuais
para ser votante e de 200$000 réis para ser eleitor (e uma renda ainda maior
para ser candidato).
53
81
CARVALHO, José Murilo de, 1996, Op. cit. p. 108.
82
THOMAS, Flory, 1986, Op. cit., p. 291.
83
GRAHAM, Richard, 1997, Op. cit., p. 118.
54
84
Ibidem, p. 65.
85
CARVALHO, José Murilo. “Mandonismo, coronelismo e clientelismo:
uma discussão conceitual”. In: Dados. Revista de Ciências Sociais, vol. 40,
nº 2. RJ, 1997. s.p. Neste texto, Carvalho cita como uma de suas referências
bibliográficas a tese de Thomas Flory, originalmente publicada em 1975.
55
86
APESC. Ofícios das câmaras municipais para presidência da província.
Lages. Livro 1869, volume 02, p. 100.
87
Sobre a competência destes cargos no Império, cf. Lei nº 261, de 3 de
dezembro de 1841. Reformando o Código do Processo Criminal.
56
88
Jornal A Regeneração: da província de Santa Catharina. Desterro. Ano
01, número 08, p. 07, set. 1868. Acervo da Biblioteca Nacional Digital.
Hemeroteca digital, seção periódicos, s. endereço eletrônico. O jornal A
Regeneração era ligado ao partido Liberal e funcionou na província de 1868
a 1889. Grande parte dos jornais produzidos em Santa Catarina no período
imperial caracterizava-se pela vinculação partidária, e sua vigência
dependia das transformações políticas que ocorriam em nível nacional,
provincial e local. Os principais jornalistas e proprietários de jornais
catarinenses ocuparam cargos públicos e foram deputados na Assembleia
Legislativa Provincial. Para aprofundamento, cf. PEDRO, Joana Maria. Nas
tramas entre o público e o privado: a imprensa de Desterro no século XIX
(1831-1889). Florianópolis: Ed. da UFSC, 1995.
89
GRAHAM, Richard, 1997, Op. cit., p. 87.
57
90
Uma publicação do jornal O Conservador de 1854 criticou a nomeação
de suplentes de juízes municipais em Santa Catarina: “(...) E apesar de
respeitarmos muito as qualidades individuais de cada um desses cidadãos,
todavia não podemos deixar de fazer algumas observações visto que se trata
do serviço público, em cujos assuntos todo cidadão tem direito de emitir os
seus pensamentos (Art. 79. § IV da Constituição do Império). Se em uns
municípios houve acerto na escolha, em outros desgraçadamente houve
grande desacerto! Por exemplo, o município de S. Miguel. O 1º Suplente,
posto que seja cidadão honrado, mal assina o seu nome, e o último nem isso
sabe, por cujo motivo (si é exata a informação que temos), a Câmara
Municipal convidou o filho, e o juramentou para exercer as funções do pai!
Também ignoramos as disposições da Lei em que a Câmara se fundou para
assim proceder. Este fato dá lugar a crer-se que não houve aquela
circunspecção, que as leis recomendam e o bom senso aprecia; e nem se
pode alegar falta de cidadãos em melhores circunstâncias para exercer o
cargo, pois que na certeza de existirem; foi talvez por causas menos
atendíveis, que pouco ou nada devem influir quando se procura cidadãos
que reúnam não só honradez, mas também aptidão, ao contrário é obrigar-se
com mão de ferro à serem os cidadãos administrados por aqueles que nem
sabem escrever os despachos que tiverem de dar às partes! A administração
da Justiça entre um povo livre deve ser o objeto da maior solicitude dos
governos sabios, prudentes, e amigos da paz das famílias que estão sob sua
administração (...)”. Jornal O Conservador. Desterro. Ano III, número 224,
mai. 1854, Op. cit.
58
91
CARVALHO, José Murilo de, 1996, Op. cit., p. 140.
92
BOPPRÉ, Maria R. Eleições diretas e primórdios do coronelismo
catarinense (1881-1889). Florianópolis: Secretaria de Estado da
Administração, 1989, p. 144.
93
CASTRO, Jeanne Berrance de. A milícia cidadã: a Guarda Nacional de
1831 a 1850. SP: Ed. Nacional. Brasília: INL, 1977, p. 154. A Guarda
Nacional foi criada em 1831 como uma força paramilitar municipal,
obrigatória, composta por cidadãos qualificados eleitores (maiores de 18 e
59
96
Jornal A Regeneração. Órgão do partido Liberal. Desterro. Ano 1,
número 56, mar. 1869. Acervo da Biblioteca Nacional Digital. Hemeroteca
digital, seção periódicos, s. endereço eletrônico.
62
97
SANTA CATARINA, Fala com que o Exm. Sr. Dr. João Capistrano
Bandeira de Mello Filho abrio a 1ª sessão da 21ª legislatura da Assembleia
Legislativa da Província de Santa Catarina em 1º de Março de 1876.
Desterro: Typ. de J. J. Lopes, 1876, p. 100.
98
SANTA CATARINA, Relatório apresentado à Assembleia Legislativa
Provincial de Santa Catharina na 2ª sessão de sua 26ª legislatura pelo
63
100
Jornal O Despertador (SC). Desterro. Ano II, número 185, pp. 02-03,
out. 1864. Acervo da Biblioteca Nacional Digital. Hemeroteca digital, seção
periódicos, s. endereço eletrônico.
65
101
GRAHAM, Richard, 1997, Op. cit., p. 165.
102
Na publicação d‟O Despertador, a menção ao “tiro que deram no
ferreiro” por correligionários políticos e à promessa do juiz substituto de
“cravar um punhal” no juiz municipal, exemplifica para Lages a pesquisa de
Ivan de Andrade Vellasco sobre a criminalidade na comarca de Rio das
Mortes - MG, no que se refere à crítica à ideia de que a violência no século
XIX era uma característica apenas de pobres livres e escravos, resultado
“das condições de marginalização e escassez”, quando, na verdade, era
culturalmente experienciada por todas as classes sociais, inclusive a “elite”
– como no caso entre os funcionários públicos opositores políticos.
VELLASCO, Ivan de Andrade. “A cultura da violência: os crimes na
Comarca do Rio das Mortes – Minas Gerais Século XIX”. In: Tempo,
volume 09, nº 18. Niterói, jan./jun. 2005.
66
104
THOMAS, Flory, 1986, Op. cit., p. 298.
105
Graham reconhece que o sistema fundiário brasileiro era um poderoso
estímulo à prática do clientelismo. O autor afirma que “sesmarias
sobrepostas umas às outras e os direitos tradicionais de posseiros, junto à
virtual ausência de agrimensura ou registros territoriais, criavam um sistema
caótico de reivindicações potencialmente conflitantes.” Quando não era
resolvida por meio da violência e coerção direta, a administração destes
conflitos na justiça poderia ser balanceada pela influência junto a
magistrados. GRAHAM, Richard, 1997, Op. cit., p. 40. Além disso, James
Holston destacou a possibilidade de estratégia política da Coroa portuguesa
em utilizar a manutenção dos conflitos e emaranhados fundiários ainda no
68
106
MATTOS, Ilmar Rohloff de, 2004, Op. cit., p. 263.
107
DOLHNIKOFF, Miriam, 2005, Op. cit.
70
108
GOUVÊA, Maria de Fátima Silva, 2008, Op. cit.
109
Ibidem, p. 131.
71
110
“Relatório da Repartição Geral das Terras Públicas”. MINISTÉRIO DO
IMPÉRIO, Relatório apresentado à Assembleia Geral Legislativa na
terceira sessão da nona legislatura pelo ministro e secretário de Estado dos
Negócios do Império Luiz Pedreira de Couto Ferraz. RJ: Tip. Laemmert,
1855, p. 10.
72
Descentralizando a centralização
111
SANTA CATARINA, Relatório com que o Exm. Sr. Dr. Pedro Affonso
Ferreira passou a administração da província de Santa Catarina ao 4º Vice
presidente Exm. Snr. Tenente Coronel Luiz Ferreira do Nascimento e Mello
no dia 8 de Outubro de 1873. Desterro: Tipografia de J. J. Lopes, 1874, pp.
13-14.
74
114
APESC. Registros de correspondência para execução da Lei de Terras
na província 1854-70, p. 05.
115
PIAZZA, Walter F., 1994, Op. cit., p. 175.
78
diretor geral;116 mas não existe qualquer registro das atividades destes
cidadãos na documentação relativa à aplicação da Lei na província, o
que torna provável que ambas as propostas foram indeferidas pelo
Ministério.
Foi apenas a partir do Decreto nº 1.722, de fevereiro de 1856,
que foi promulgada a instalação da Repartição Especial das Terras
Públicas de Santa Catarina, juntamente com as de Pernambuco e Bahia.
Neste mesmo ano foi nomeado por decreto imperial o engenheiro João
de Souza Mello Alvim para o cargo de delegado da recém-criada
Repartição Especial catarinense. Mello Alvim era natural de Desterro e
já havia sido o demarcador das terras da Colônia Militar Santa Tereza
(atual município de Alfredo Wagner) e o seu diretor interino até o ano
de 1855. Ele era filho do português Miguel de Souza Mello e Alvim, um
dos políticos mais proeminentes de Santa Catarina (intendente e
ministro da Marinha do Rio de Janeiro, presidente provincial de Santa
Catarina e São Paulo, deputado provincial catarinense), que no ano
anterior, em 1855 havia sido nomeado como Conselheiro de Estado.
Filiado ao partido Liberal catarinense desde 1848, João de Souza Mello
Alvim foi deputado da Assembleia Legislativa de Santa Catarina (em
1848-1849) e posteriormente da Assembleia Geral (em 1864-1866,
1867-1868, 1878-1881). Sua nomeação ocorreu no período marcado
pela conciliação política de hegemonia Conservadora (1854-62). Pelo
desempenho satisfatório de suas atividades junto ao Governo Imperial,
foi promovido a major em 1856 e a tenente coronel em 1866. Ao longo
da vida pública, foi condecorado com as comendas imperiais de
Cavaleiro da Ordem da Rosa, de Fidalgo Cavaleiro da Casa Imperial, de
Cavaleiro da Ordem de Aviz, de Comendador e da Ordem de Cristo.117
Em 1860 nomeou como amanuense da Repartição Especial Henrique
Julio de Mello Alvim118 (possivelmente tratava-se de seu irmão Julio
116
APESC. Registros de correspondência para execução da Lei de Terras
na província 1854-70, p. 23.
117
PIAZZA, Walter F., 1994, Op. cit., pp. 47-48.
118
APESC. Registro da presidência da província para Diretoria de Terras
e Colonização 1856-70, p. 85.
79
119
MINISTÉRIO DO IMPÉRIO, Relatório apresentado à Assembleia
Geral Legislativa na quarta seção da nona legislatura pelo Ministro e
Secretário d’Estado dos Negócios do Império Luiz Pedreira do Coutto
Ferraz. Rio de Janeiro: Tipografia Nacional, 1856, p. 16.
120
APESC. Registro da presidência da província para Diretoria de Terras
e Colonização 1856-70, p. 09.
121
Ibidem, p. 12 v.
122
Ibidem, p. 51 v.
80
123
Ibidem, p. 83 v.
124
Ibidem, p. 55 v.
125
PIAZZA, Walter F., 1994, Op. cit., p. 759.
126
Ibidem, p. 427.
81
131
PIAZZA, Walter F., 1994, Op. cit., pp. 55-56.
132
APESC. Registro da presidência da província para Diretoria de Terras
e Colonização 1856-70, p. 07.
133
PIAZZA, Walter F., 1994, Op. cit., p. 629.
134
Ibidem, p. 742.
135
APESC. Registro da presidência da província para Diretoria de Terras
e Colonização 1856-70, p. 39.
83
136
SANTA CATARINA, Relatório que o Exm. Sr. Presidente da província
de Santa Catharina, Dr. Joaquim Bandeira Gouvêa, dirigiu á Assembleia
Legislativa Provincial no ato da abertura da sua sessão ordinária em 26 de
Março de 1871. Desterro: Tipografia do Jornal, 1871, p. 13. Enquanto a
Repartição Especial de Santa Catarina funcionou até o ano de 1870, já
haviam sido extintas em 1861 as Repartições Especiais do Amazonas, Piauí,
Paraíba do Norte, Goiás, Sergipe, Minas Gerais e Rio de Janeiro, e as
atribuições de seus delegados transferidas aos presidentes das províncias.
137
Silva Gouvêa ressalta que “ aqueles que podiam servir na Assembleia
Provincial e ocupar postos em nível nacional eram os mesmos que poderiam
assegurar mais facilmente o cumprimento com êxito das estratégias
políticas mais caras aos principais grupos de poder na província. Isso
explica porque políticos de grande projeção (...) ocuparam assentos na
assembleia provincial fluminense nessa época, ao mesmo tempo que
também se destacavam no cenário político da Corte. Uma clara evidência de
como a política provincial (...) estava intimamente associada ao cenário
político nacional em formação”. GOUVÊA, Maria de Fátima Silva, 2008,
Op. cit., p. 296. Salvaguardado o fato do Rio de Janeiro ser a capital do
Império no referido período, esta assertiva pode ser apropriada para o caso
de Santa Catarina.
84
138
Sobre a Assembleia Legislativa de Santa Catarina, cf. CABRAL,
Oswaldo R., 2004, Op. cit..
139
CARVALHO, José Murilo de, 1996, Op. cit. p. 144.
85
140
APESC. Registros de correspondência para execução da Lei de Terras
na província 1854-70, p. 01.
141
APESC. Ofícios do juízo de Direito para presidente de província. Lages.
Livro 1854, p. 176.
142
Ibidem, p. 200.
143
Ibidem, p. 204.
87
144
PIAZZA, Walter F., 1994, Op. cit., p. 192.
145
APESC. Ofícios do juízo de Direito para presidente de província. Lages.
Livro 1855, p. 17.
146
PIAZZA, Walter F., 1994, Op. cit., p. 622.
147
APESC. Inventário analítico dos ofícios das Câmaras Municipais para
Presidentes de Província (1854-1857), volume 10, pp. 51-57.
148
Idem.
88
149
COSTA, Licurgo, 1982, Op. cit., vol. 01, p. 258.
150
APESC. Ofícios do juízo municipal para presidente de província. Lages,
Livros 1848-1890, s. p.
151
Jornal O Conciliador catarinense. Desterro. Ano 01, número 91, p. 03,
mar. 1850. Acervo da Biblioteca Nacional Digital. Hemeroteca digital,
seção periódicos, s. endereço eletrônico.
152
COELHO, Manoel Joaquim D'Almeida (Major), 1856, Op. cit., p. 131.
89
153
APESC. Ofícios do juízo municipal para presidente de província. Lages,
Livros 1850-56, s. p.
154
Conforme o art. nº 85 da Lei de 1º de outubro de 1828, que trata da
forma e atribuições das câmaras municipais, o Fiscal estava incumbido de
“vigiar na observância das Posturas da Câmara, promovendo a sua execução
pela advertência aos que forem obrigados a elas, ou particularmente ou por
meio de editais; (...)” etc.
90
155
APESC. Ofícios do juízo municipal para presidente de província. Lages,
Livro 1856, s. p.
156
COSTA, Licurgo, 1982, Op. cit., vol. 01, p. 272.
157
Ibidem.
158
Ibidem, p. 274.
91
159
Para aprofundamento, cf. WEGNER, Felipe Henrique. Santa Catarina
vai à guerra: a mobilização militar catarinense durante a Guerra do
Paraguai. Monografia de Conclusão de Curso. Universidade Federal de
Santa Catarina. Florianópolis, 2010.
160
BOITEUX, Henrique, 1985, Op. cit., pp. 07 e 250.
92
161
PIAZZA, Walter F., 1994, Op. cit., p. 498; COSTA, Licurgo, 1982, Op.
cit., vol. 03, p. 1220.
162
APESC. Ofícios das câmaras municipais para presidência da província.
Lages, s. p.
163
PIAZZA, Walter F., 1994, Op. cit., p. 208.
93
164
Apenas a Lei nº 2.033 de 20 de Setembro de 1871 impôs algum limite à
acumulação de empregos.
165
APESC. Ofícios das subdelegacias de polícia para presidente de
província. Tabela elaborada pela autora com base nos livros de 1850-1881.
166
Em 1854, Felippe Pessoa e Alves de Sá demitiram-se do cargo devido à
nomeação de 3º e 4º substitutos de juiz municipal.
167
Foi o primeiro presidente da Câmara de Curitibanos (instalada em 1873).
Também é conhecido por ter legado em testamento parte de sua fazenda a
seus oito escravos e três libertos em 1877. A Invernada dos Negros foi o
94
170
Museu do Tribunal de Justiça de Santa Catarina. Autoamento de uma
petição e despacho para ser inquirida uma testemunha ad perptiam rei
memoriam, Juízo Municipal de Lages, 1862, caixa 1860-1869/014.
171
Ivan de Andrade Velasco afirma que a noção de que apenas grandes
senhores e proprietários tinham acesso à justiça no Brasil do século XIX
está sendo questionada pela crescente pesquisa em documentos de acervos
do sistema judiciário, nos quais livres pobres e inclusive escravos aparecem
requisitando a intervenção da justiça. Segundo o autor, a lógica tradicional
de dominação clientelista passou a concorrer cada vez mais com os poderes
do Estado e a afirmação do espaço público, e o recurso à Constituição e à
justiça ampliou o campo de possibilidades da população na luta por direitos.
VELASCO, Ivan de Andrade. “Clientelismo, ordem privada e Estado no
Brasil oitocentista: notas para um debate”. In: CARVALHO, José Murilo
97
172
APESC. Ofícios do juízo de Direito para presidente de província. Lages.
Livro 1853, p. 200-203.
99
173
Este tipo de abuso não foi exclusivo do período Imperial. Uma
reclamação apresentada à Câmara de Lages em 1822 pelo Comandante
Joaquim José Rodrigues contra o Capitão de Ordenanças e Comandante da
vila, o “abastado criador” Manoel Cavalheiro Leitão, nos fornece indícios
neste sentido: “Cavalheiro Leitão é um insultante! É vestido de um aspecto
feroz, quer ser obedecido legalmente em todas as suas desmedidas
violências (...). Quando lhe parece, degrada, intromete-se no que pertence à
justiça. Manda chamar à sua presença este ou aquele cidadão e, tendo já
consigo o juiz e o escrivão, provoca o mísero com palavras insolentes (...).
A matadores dá passaportes (...). Passa concessões de terras e até das já
possuídas, como sucedeu com a viúva do Ref. Capitão-mor (...) coadjuva os
que fez introduzir em seus campos, fazendo desfeitas contínuas a essa
honrada viúva (...).” Sublinhado da autora. CABRAL, Oswaldo Rodrigues,
2004, Op. cit., (vol. 1), pp. 168-170.
100
174
Jornal O Conservador. Desterro. Ano IV, nº 319, ago. 1855, Op. cit.
101
175
APESC, Registros paroquiais de terras. Lages, 1850-57. Livros 08 e 09.
Infelizmente, desconheço a conclusão da ação promovida por Córdova a
Alves de Sá por não ter tido acesso ao processo judicial.
102
176
SILVA, Lígia Osório, 1996, Op. cit., p. 169.
103
179
PIAZZA, Walter F., 1994, Op. cit., p. 712.
180
Ibidem, p. 484.
181
SANTA CATARINA, Relatório apresentado pelo 2º vice-presidente de
Santa Catharina o Exm. Sr. Doutor Manoel do Nascimento da Fonseca
Galvão ao presidente Exm. Sr. Doutor André Cordeiro de Araújo Lima por
ocasião de passar-lhe a administração da mesma em 3 de Janeiro de 1870.
Desterro: Tipografia de J. J. Lopes, 1870, p. 16.
105
186
Jornal O Conservador (SC). Desterro. Ano IX, nº. 182, nov. 1874, Op.
cit., p. 02.
107
187
MOTTA, Márcia M. M., 2008, Op. cit., pp. 229-230.
108
190
DA SILVA, Januario Antonio. APESC. [Requerimentos: concessões de
terras T.C. = 1834 - 1840/41–1847 – 1855/56 – 1859/64 – 1867], Lages,
vol. 01.
110
191
APESC. Ofícios das câmaras municipais para presidência da província.
Lages. Livro 1876, p. 233.
192
PIAZZA, Walter F., 1994, Op. cit., p. 485.
193
Em 1884, mais de trinta colonos moradores da ex-colônia Theresópolis
reclamaram ao presidente da província contra o procedimento de Castro Jr.,
pelo motivo de “ter invadido terras de alguns dos suplicantes, medindo e
demarcando como terras devolutas em proveito de terceiros, terras
pertencentes aos lotes distribuídos há muitos anos aos que hoje são seus
senhores e possuidores”. Jornal A Regeneração. Órgão democrático.
Desterro. Ano XVI, número 84, abr. 1864. Acervo da Biblioteca Nacional
Digital. Hemeroteca digital, seção periódicos, s. endereço eletrônico.
111
194
PIAZZA, Walter F., 1994, Op. cit., p. 675.
112
195
Ibidem, p. 602.
196
ROCHA, Antonio Alves da. Requerimento de juiz comissário ad hoc.
APESC. [Requerimentos: concessão de terra: T.C. 1867-1887], 1884, maço
14, pp. 13-17.
113
197
Ibidem.
198
SOUZA, Luis Antonio de. Protesto de medição. APESC.
[Requerimento: concessão de terra] 1884, set., Curitibanos, vol. 13.
199
Ibidem.
114
202
MACHADO, Paulo Pinheiro. Lideranças do Contestado: a formação e a
atuação das chefias caboclas (1912-1916). SP: Ed. da Unicamp, 2004, p. 78.
203
PIAZZA, Walter F., 1994, Op. cit., p. 690. Segundo Pinheiro Machado,
ele era “um agrimensor relativamente pobre quando chegou ao Brasil (...).
Logo Rupp seguiu para Curitibanos, onde trabalhou alguns anos como
escrivão substituto do cartório municipal. Na década de 1880, estabeleceu-
se em Campos Novos, atuando como agrimensor, procurador de grandes
fazendeiros e, rapidamente, foi nomeado titular do cartório municipal. A
partir destas atividades, durante a década de 1890, Rupp tornou-se grande
proprietário de terras, adquirindo logo o título de coronel da Guarda
Nacional”. MACHADO, Paulo Pinheiro, 2004, Op. cit., p. 102.
116
204
Museu do Tribunal de Justiça de Santa Catarina. Ação de representação
a Henrique Rupp, Comarca de Campos Novos, 1866, caixa 1880-1889/004.
Infelizmente não foram encontrados os autos do referido processo, de modo
que desconhecemos o conteúdo da inquirição das testemunhas por parte do
juiz municipal e a sentença do juiz de Direito.
205
SANTA CATARINA, Relatório com que ao Exm. Sr. Coronel Manoel
Pinto de Lemos 1º vice-presidente passou a administração da província de
Santa Catharina o Dr. José Lustosa da Cunha Paranaguá em 22 de Junho
de 1885. Desterro: Tipografia do Jornal do Comércio, 1885, p. 40.
206
SANTA CATARINA, Relatório apresentado à Assembleia Legislativa
Provincial de Santa Catharina na 2ª sessão de sua 26ª legislatura pelo
presidente Francisco José da Rocha em 11 de Outubro de 1887. Rio de
Janeiro: Typ. União de A. M. Coelho da Rocha & C., 1888, p. 333.
207
APESC. Ofícios das câmaras municipais para presidência da província.
Lages. Livro 1888, p. 140.
117
208
SANTA CATARINA, Relatório com que ao Exm. Sr. Doutor Luiz Alves
Leite de Oliveira Belo passa a administração da Província ao Exm. Sr.
Doutor Abdon Baptista 2º vice-presidente em 19 de Julho de 1889.
Desterro: Tipografia do Democrata, 1890, p. 30.
118
210
APESC. Ofícios das câmaras municipais para presidência da província.
Lages. Livro 1883, p. 177.
121
211
Pinto foi um dos principais responsáveis pela fundação da freguesia de
São Joaquim da Costa da Serra, desmembrada da cidade de Lages em 1871.
Anos antes, havia mandado erguer “uma capela e construir várias casas para
seus descendentes e escravos”. BIANCHINI, Susana Scóss. Recordando
São Joaquim. Florianópolis: Ed. da Aurora, 1986, p. 20.
123
213
APESC. Ofícios das câmaras municipais para presidência da província.
Lages. Livro 1854, p. 314.
214
Para aprofundamento, cf., entre outros, ZARTH, Paulo Afonso. História
Agrária do Planalto Gaúcho (1850-1920). Ijuí: Ed. da Unijuí, 1997;
GERHARDT, Marcos. História ambiental da erva-mate. Tese de
Doutorado. UFSC. Florianópolis, 2013.
125
215
Artigo substitutivo nº 2: “A erva-mate que se beneficiar na província não
é sujeita na sua exportação a imposto algum”. Jornal O Conservador.
Desterro. Ano III, nº 241, jul. 1854, p. 2, Op. cit.
216
Sublinhado da autora. BRASIL, Lei nº. 601, de 18 de Setembro de 1850.
Artigo 5º §1, Op. cit.
217
A questão torna-se ainda mais curiosa se contemplarmos o fato de que,
entre 1850 e 1855 (isto é, entre a promulgação da Lei de Terras e de seu
Regulamento de excussão), muitos destes vereadores, como Lourenço Dias
Baptista, Antonio Felipe Pessoa, Manoel Delfes da Cruz, Claudiano de
Oliveira Roza, pagavam à Câmara Municipal o aforamento de terrenos na
forma da Lei Provincial nº 347, de 1º de maio de 1852. Museu Histórico
126
220
SANTA CATARINA, Fala que o presidente da província de Santa
Catarina o marechal de campo Antero José Ferreira de Brito dirigiu à
Assembleia Legislativa da mesma província no ato da abertura de sua
sessão ordinária em 1º de março de 1848. Tipografia provincial da cidade
de Desterro, 1848, p. 04.
128
223
Sublinhado da autora. BRASIL, Decreto nº 6129 de 23 de fevereiro de
1876. Organiza a Inspetoria Geral de Terras e Colonização.
224
Na documentação relativa à Inspetoria Especial de Terras Públicas e
Colonização disponível no Arquivo Público do Estado de Santa Catarina
não constam os registros de sua administração de 1876 a 1885.
225
Relatório apresentado à Assembleia Legislativa Provincial de Santa
Catharina na 2ª sessão de sua 26ª legislatura pelo presidente Francisco
José da Rocha em 11 de Outubro de 1887. Rio de Janeiro: Tip. União de A.
M. Coelho da Rocha & C., 1888, p. 296.
131
226
Relatório apresentado à Assembleia Legislativa da Província de Santa
Catharina na 1ª sessão de sua 26ª Legislatura pelo presidente Dr.
Francisco José da Rocha em 21 de Julho de 1886. Desterro: Tip. do
Conservador, 1886, p. 191.
132
CONSIDERAÇÕES FINAIS
227
Um estudo baseado nas estatísticas fundiárias do Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária de 2014 concluiu que: “existem no
território catarinense 1.721 latifúndios que ocupam 1.005.584,33 ha, ou
seja, 11,21% de toda a área ocupada pelos imóveis rurais no estado. (...)
Considerando os latifúndios por exploração – que são aqueles categorizados
como grandes propriedades improdutivas pelo INCRA –, o estado de Santa
Catarina apresenta 1.719 imóveis rurais que podem ser enquadrados nessa
situação, segundo critérios do Estatuto da Terra de 1964. Esses latifúndios
ocupam quase 1 milhão de hectares (977.959 ha), o que representa 10,9%
da área total ocupada pelos imóveis rurais no estado. A disposição espacial
da localização desses imóveis revela que a maior proporção na área ocupada
pelos latifúndios (por dimensão e exploração), encontra-se na microrregião
dos Campos de Lages, onde se verificou a incidência de 466 latifúndios que
ocupam 261.451 ha”. TALASCA, Alcione. “Ainda existem latifúndios no
Brasil? E em Santa Catarina? Uma análise do espaço agrário catarinense”.
In: Revista Grifos, nº 42, 2007, pp. 189-210.
134
FONTES
Leis e Regulamentos
http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei_sn/1824-1899/lei-37497-18-
agosto-1831-564307-publicacaooriginal-88297-pl.html
Ofícios e Registros
Relatórios Oficiais
SANTA CATARINA, Fala que o Exm. Sr. Dr. João José Coutinho
Presidente da Província de Santa Catarina dirigiu à Assembleia
Legislativa Provincial no ato da abertura de sua sessão ordinária em 1º
de março de 1855. Desterro: Tipografia do Correio Catarinense, Largo
do Quartel, 1855.
SANTA CATARINA, Relatório com que o Exm. Sr. Dr. Pedro Affonso
Ferreira passou a administração da província de Santa Catarina ao 4º
Vice presidente Exm. Snr. Tenente Coronel Luiz Ferreira do
Nascimento e Mello no dia 8 de Outubro de 1873. Desterro: Tipografia
de J. J. Lopes, 1874, pp.13-14.
SANTA CATARINA, Fala com que o Exm. Sr. Dr. João Capistrano
Bandeira de Mello Filho abrio a 1ª sessão da 21ª legislatura da
Assembleia Legislativa da Província de Santa Catarina em 1º de Março
de 1876. Desterro: Typ. de J. J. Lopes, 1876.
Jornais, Periódicos *
228
Mapas
Tipologias diversas
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS