Você está na página 1de 29

435

Bordando as redes familiares: sociedade, endogamia e homogamia


matrimoniais na freguesia de Jacarepaguá, Rio de Janeiro (c.1750-c.1800)

Embroidering family networks: matrimonials endogamy and exogamy in Jacarepaguá, Rio


de Janeiro (c.1750-c.1800)

Mareana Gonçalves Mathias da Silva Barbosa1

Resumo: Este artigo tem como objetivo analisar o estudo de caso de duas famílias e suas estratégias
matrimoniais de homogamia e endogamia matrimonial entre 1750 e 1800, na freguesia rural de Jacarepaguá.
Inseridos no Antigo Regime católico português, os personagens apresentados possuem uma forte noção de
pertencimento à Monarquia portuguesa e suas regras, que eram observadas por cada um, por suas famílias
e seus vizinhos. Visto que se trata de uma paróquia rural, onde os laços são intrinsecamente ligados à moral
religiosa, as principais formas de aliança eram a designação de padrinhos de batismo e a escolha familiar de
cônjuges para o casamento. Através dos laços familiares, escravos, libertos e livres, conviviam no mesmo
espaço e compartilhavam da mesma tradição, assim como inseriam estrangeiros e forasteiros a todo o tempo
em sua lógica de funcionamento, a fim de garantir a paz e a boa convivência.

Palavras-chave: antigo regime português; Jacarepaguá; estratégias matrimoniais.

Abstract: This article aims to analyze the case study of two families and their matrimonial strategies of
homogamy and endogamy between 1750 and 1800, in the rural parish of Jacarepaguá. Situated in the Old
Portuguese Catholic Regime, the characters presented have a strong notion of belonging to the Portuguese
Monarchy and its rules, which were observed by each one of them, their families and their neighbors. Since
this is a rural parish, where ties are intrinsically linked to religious morality, the main forms of alliance were the
nomination of baptismal godparents and the family choice of spouses for marriage. Through family ties, slaves,
freed and free, lived in the same space and shared the same tradition, as well as inserting foreigners and
outsiders at all times in their logic of functioning, in order to ensure peace and good coexistence.

Keywords: portuguese ancient regime; Jacarepaguá; marriage strategies.

Introdução

Este artigo tem por objetivo demonstrar um estudo de caso sobre as estratégias

matrimoniais dos moradores da freguesia de Jacarepaguá, onde habitavam partidistas e

foreiros2 entre as décadas de 1750 e 1800. Jacarepaguá localizava-se na área rural do Rio

1
Bacharel, licenciada e mestre em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Atualmente
cursa o Doutorado na mesma instituição, no Programa de Pós-graduação em História Social. É professora da
rede municipal na cidade de Piraí/RJ desde 2015.
2
Partidistas são lavradores de cana que em troca de um pedaço de terra, os partidos, devem entregar parte
da cana ao engenho em que estão submetidos. Foreiros, por sua vez, pagam um foro anual para o dono da

Aedos, Porto Alegre, v. 12, n. 27, março 2021.


436

de Janeiro, como quase todas as regiões que não faziam parte das quatro freguesias

urbanas: Sé, Candelária, Santa Rita e São José. Para este artigo, escolhemos duas famílias

que, por décadas, mantiveram a endogamia e a homogamia familiar matrimonial, ou seja,

planejaram casamentos entre membros de suas famílias a fim de manter, conforme a nossa

hipótese, o patrimônio material e imaterial adquirido durante séculos entre “iguais” (por isso

casamentos homogâmicos).

Para que este artigo fosse escrito, foram utilizadas, basicamente, quatro tipos de

documentação; três de natureza paroquial. A mais qualitativa e que contém mais

informações foram as habilitações matrimoniais - necessárias para homens e mulheres

livres que quisessem se casar frente à Santa Igreja Católica -, as quais contém muitas

informações sobre os cônjuges e suas famílias, além de testemunhos e anexos. Além das

habilitações matrimoniais, usamos, também, os batismos para compreender o intervalo

primogenésico e intergenésico, os quais auxiliam a compreender a permanência – ou não

– de alguns casais na mesma localidade, como é o caso da família a qual escolhemos para

o estudo de caso, além da atribuição de nomes e escolha de padrinhos. Por último, alguns

óbitos e testamentos foram utilizados para fazer uma análise primária e correlacional entre

a família e o acesso à terra. A partir do cruzamento dessas três fontes paroquiais e do censo3

realizado pelo Conde de Resende, pudemos chegar a algumas conclusões acerca da lógica

de funcionamento matrimonial das famílias Oliveira Lobo e Cordeiro de Castro.

Para a melhor compreensão da história que estamos prestes a contar, o presente

artigo divide-se em quatro partes. Em primeiro lugar mostraremos brevemente, embora

com mais especificidade, a “natureza” das documentações utilizadas; em seguida, faremos

fazenda, cujo valor pode depender da relação que este mantém com o senhor de engenho. Cf. ABREU,
Mauricio. Geografia Histórica do Rio de Janeiro (1502 – 1700). Rio de Janeiro, Ed. Andrea Jakobsson Estúdio
e Prefeitura do Município do Rio de Janeiro, 2010. V. II. pp. 106-11.
3
Mapa de população feito pelo Conde de Resende nas freguesias do Distrito da Guaratiba em 1797. Mapa
descritivo do distrito da Guaratiba, freguesia de Jacarepaguá. 1797. AHU-Rio de Janeiro, cx. 165, doc. 62. O
mapa de população apresenta os nomes dos chefes de domicílio, a quantidade de filhos, se eles eram ou não
casados, se eram homens ou mulheres, se possuíam escravos ou agregados, o tamanho de sua terra, o que
plantavam e a lucratividade anual. Trata-se obviamente, de um retrato estático da freguesia em 1797, o qual
precisou ser cruzado com mais documentos para que obtivéssemos uma ideia do funcionamento da
sociedade do período.

Aedos, Porto Alegre, v. 12, n. 27, março 2021.


437

uma pequena apresentação da freguesia de Jacarepaguá; enquanto isso, a parte três

concentra-se na explicação da organização da sociedade do Antigo Regime monárquico

português; a quarta parte dedica-se ao objeto principal de nossa análise, as duas famílias

envolvidas na endogamia e homogamia matrimonial; e a última e quinta parte continua a

história das famílias Cordeiro de Castro e Oliveira Lobo a partir da comparação com uma

localidade ibérica.

Escrevendo sobre o passado colonial: fontes paroquiais e o censo do Conde de Resende

Para que fosse possível representar em palavras a história de duas famílias que

viveram há mais de dois séculos atrás, contamos com a análise de documentos paroquiais

e com o censo feito em 1797. Por meio do cruzamento desses documentos, pudemos

colocar neste artigo, algumas informações, ainda que fragmentadas, sobre essas famílias –

fragmentadas porque o passado nunca pode ser reconstruído, tampouco o presente. Desse

modo, pudemos apresentar dados sobre como viviam essas famílias no Rio de Janeiro do

século XVIII. Entre as informações que encontram-se na habilitação matrimonial estão os

registros de batismo dos contraentes (e, portanto, o nome de seus pais e padrinhos e as

respectivas naturalidades), que são os que querem se casar, o depoimento deles4, indicando

seu local de moradia, suas naturalidades, idades, se são ou não legítimos 5, informação sobre

as paróquias em que moraram por mais de 6 meses e o certificado da quaresma atestado

por um pároco.

4
Em geral, os depoimentos deveriam ser dados ao juiz dos casamentos, que se localiza nas freguesias urbanas.
Como Jacarepaguá é uma freguesia rural, não é pouco comum que os contraentes pedissem, pela distância
que os depoimentos fossem tomados pelo seu pároco na própria freguesia de Jacarepaguá. Para isso, muitas
vezes lançavam mão do artifício do “atestado de pobreza”, dizendo não poder arcar com os custos do
deslocamento.
5
Legítimos são filhos que nasceram enquanto os pais eram casados. Naturais são os que tem os dois pais
solteiros ou só é declarada a ascendência de um progenitor. Caso os pais se casassem após o nascimento da
criança, esta poderia ser considerada legítima por casamento posterior. Embora tenham sido encontrados
casos como esses, não eram muito comuns na freguesia.

Aedos, Porto Alegre, v. 12, n. 27, março 2021.


438

Estas são as informações que aparecem em todas as habilitações, a não ser que

alguma certidão de batismo não fosse encontrada6 ou se estas informações não existissem,

como é o caso de alguns africanos recém-saídos do cativeiro cujos nomes dos pais não

consta, uma vez que provavelmente vieram adultos do continente. Nesses casos, era

obrigatória a realização de uma justificação de batismo, na qual o contraente deveria

apresentar três testemunhas capazes de confirmar que ele fora batizado, fornecendo todas

as informações de seu conhecimento referentes ao batismo.

Obedecendo às regras do Concílio de Trento, o casal que desejasse se unir pelo laço

sagrado do matrimônio deveria informá-lo ao seu pároco7 e, por sequência, fazer

denunciar oralmente os proclames8, ditos em domingos ou dias santos, tanto nas freguesias

em que moraram por mais de seis meses quanto nas freguesias urbanas. 9 Este proclame

gerava um documento por um escrito que deveria ser anexado ao processo, cujo exemplo

segue:

Quer casar Francisco Coelho da Silveira, filho legitimo de Domingos Coelho


Linhares e Ana Maria da Silveira, natural e batizado na freguesia de Santa Barbara,
bispado de Mariana, por ora assistente na freguesia do Santissimo Sacramento
com Sebastiana Tereza de Azevedo, filha legitima de José Teixeira de Azevedo e
Antonia Maria da Assunção, natural e batizada na freguesia de Nossa Senhora do

6
Uma vez não se encontrando o batismo, era necessário que se chamassem três ou mais testemunhas para
atestar a naturalidade, filiação, data e o padre que havia batizado a criança.
7
É importante lembrar que para que o casamento fosse considerado lícito, os contraentes não poderiam ter
menos de 14 e 12 anos, respectivamente homem e mulher, a não ser que se mostrassem aptos para tal apesar
da pouca idade através de dispensa paroquial.
8
Os que pretenderem casar, o farão a saber a seu Parocho, antes de se celebrar o Matrimonio presente, para
os denunciar, o qual, antes que faça as denunciações, se informará se ha entre os contrahentes algum
impedimento, e estando certo que não ha, fará as denunciações em tres Domingos, ou dias Santos de guarda
contínuos á estação da Missa do dia, e as poderá fazer em todo o tempo do anno, ainda que seja Advento,
ou Quaresma, em que são prohibidas as solemnidades do Matrimonio, e se farão na fórma seguinte. Quer
casar N. filho de N., e de N. natturaes de tal terra, moradores de tal parte, Freguezia de N. com N. filha de N,
e N. naturaes de tal termo, moradores em tal parte, Freguezia de N., se alguem souber que ha algum
impedimento, pelo qual não possa haver effeito o Matrimonio, lhe mandamos em, virtude de obediencia, e
sob pena de excommunhão maior o diga, e descubra durante o tempo das denunciações, ou em quanto os
contrahentes VIDE, Dom Sebastião Monteiro da. Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia.
Typographia 2 de dezembro de Antonio Louzada Antunes. São Paulo: 1853.Pag. 107. TITULO LXII. Do
Sacramento do matrimônio.
9
No começo do século XVIII, observamos que as freguesias urbanas em que os proclames eram feitos se
resumiam à Sé e à Candelária, enquanto que, de meados do século em diante, talvez pelo crescimento
territorial e em importância do Rio de Janeiro, acrescem-se a essas duas as também freguesias urbanas de
Santa Rita e São José.

Aedos, Porto Alegre, v. 12, n. 27, março 2021.


439

Loreto de Jacarepagoa onde satisfez o preceito da quaresma passada e ele na do


10
Santissimo Sacramento.

Abaixo destas palavras, que deveriam ser repetidas três vezes em cada localidade,

o pároco colocava o seu parecer, onde constava que ele o fez em três dias e não surgira

impedimento. Nas freguesias que eram a da naturalidade dos contraentes, deste parecer

seguia também o traslado do batismo. No caso demonstrado acima, apenas o batismo de

Sebastiana foi traslado, enquanto o de Francisco precisava vir de um local mais distante.

Nestes casos, era comum, por conta dos gastos, que se pedisse um fiador para pagar

as custas. Este dado aparece primeiro com um pedido do contraente e, recebida a

permissão do juiz dos casamentos, é emitido um termo de fiança, em que consta o nome

o fiador11, estado civil, local de moradia, ofício e o tempo que tem para apresentar as ditas

certidões, além do valor que será depositado como caução. Em geral, este pedido vem

acompanhado de um “atestado de pobreza” emitido pelo pároco da freguesia em que o

contraente (ou a contraente) reside:

(...) o suplicante Francisco Coelho da Silveira he soldado do regimento novo da


Infantaria desta praça, não tem bens de seo, e só o seo oficio de ferreiro.
(...) a suplicante vive em suma pobreza sem bens alguns em companhia de seu pai
12
Jose Teixeira de Azevedo.

Pudemos observar, ao longo da análise de 329 habilitações matrimoniais ao longo

do século, que os fiadores, em geral, eram homens da cidade. Interessante notar que, no

início da centúria, os fiadores eram, em sua maioria, homens de negócio. Talvez por sua

maior credibilidade. Conforme se passava o tempo, era mais comum que houvesse fiadores

da própria região em que residiam os contraentes, como é o caso apresentado, em que

10
Arquivo da Cúria Metropolitana do Rio de Janeiro (daqui em diante ACMRJ). Habilitação Matrimonial (HM)
51452, cx. 2473. Opta-se, neste artigo, por utilizar a escrita original dos documentos. De um lado porque
acredita-se que a fidelidade à escrita do período pode trazer informações importantes sobre como a língua
portuguesa era utilizada no período em freguesias rurais, e, por outro, o quanto eram mescladas com falas
locais e medir a literacia dos párocos e escrivãos, o que pode permitir, futuramente, uma análise comparativa
e etimológica da língua.
11
Neste caso, o fiador era Ignacio Teixeira de Sampaio, casado, morador na Tijuca, em Jacarepaguá, vive de
sua lavoura e teve 8 meses para apresentar as certidões de banhos e de batismo do contraente pelo valor de
20 mil réis. HM 51452, cx. 2473.
12
O parecer do contraente foi emitido pelo pároco José Vieira Lima, da freguesia da Sé, em 10/06/1782 e o
da contraente pelo pároco Domingos de Azevedo, de Jacarepaguá, em 28/04/1782. HM 51452, cx. 2473.

Aedos, Porto Alegre, v. 12, n. 27, março 2021.


440

acreditamos que o fiador seja parente da noiva, uma vez que tem o mesmo sobrenome da

família e reside no mesmo local, o engenho da Tijuca. Podemos creditar este aumento do

número de fiadores da própria região de Jacarepaguá ao incremento da população e à

consequente extensão dos laços de solidariedade que se estabelecem localmente.

A freguesia de Jacarepaguá na segunda metade do século XVIII

13
As freguesias eram centradas nas igrejas paroquiais, onde as pessoas “faziam

contato de forma contínua, ouviam a missa, compareciam a casamentos, batizados e

funerais”.14Com o crescimento da vila, foi necessária a sua elevação a paróquia e a

separação de Irajá. Vale ressaltar que a feitura de uma igreja se fazia necessária quando

existia algum núcleo de povoamento. A paróquia, formada em torno da nova construção,

deve ser compreendida pela chave de que esta não só “protege os mortos, assegurando-

lhes o além, mas também beneficia os vivos e é a garantia da proteção de Deus”.15 Neste

sentido, “todo o paroquiano, conforme as suas posses, tem que contribuir, até os imigrantes

(...), se querem continuar a pertencer à sua comunidade”. A questão da pertença da

comunidade e consequentemente, sua manutenção, se apresenta como fundamental para

a compreensão das relações entre paroquianos.16

13
De acordo com o dicionário de Bluteau: Parrôchia, ou Parroquia. Freguezia, Igreja Parrochial, governada
por Parroco. Deriva-se do Grego Parochos, que quer dizer, Repartidor, ou Hospedeyro de Embayxadores.
Antigamente havia um costume, que nas casas em que se hospedava Embayxador, ou enviado Romano, lhe
haviaõ dar de raça quanta lenha podesse queymar, & quanto sal podesse comer ele, & sua gente. Então não
amassavão o paõ com sal, como agora; pelo que salgavão cada bocado de paõ, comião, como as talhadas
de carne, especialmente, que o sal não era simplez, senão composto, como cá sal, e pimenta. O que tinha
cuydado de dar aos Ministros Romanos a lenha, & o sal, se chamava Parochus, que (como já dissemos) vai o
mesmo que Repartidor. Tocou Horacio este costume na quinta Satyra do primeyro livro aonde diz: Tum
Parochi, que debentligna, salemque. A imitação disto chamamos à Igreja de huma colação Parochia,
&Parochus, porque não hade levar dinheyro por eles. Pela lenha entenderemos a matéria dos Sacramentos,
&e pelo sal, a graça, que sempre acompanha aos Sacramentos, dão-se estes a homens Romanos, que
caminhaõ nesta vida debayxo da obediência do Romano Pontifice.
14
SCHWARTZ, Stuart B; LOCKHART, James. A América Latina na época Colonial. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2010. p. 274.
15
SCOTT, Ana Silvia Volpi. Famílias, formas de união e reprodução social no noroeste português. São
Leopoldo: Ed. Unisinos, 2012. pp. 223-224.
16
Idem. p. 223.

Aedos, Porto Alegre, v. 12, n. 27, março 2021.


441

Criada em seis de março de 1661, como já dito, a Freguesia de Nossa Senhora de

Loreto e Santo Antônio de Jacarepaguá é a quarta paróquia do Rio de Janeiro a ser

fundada. Antes, assim como as freguesias de Campo Grande e Guaratiba, pertencia à

jurisdição de Irajá, primeira freguesia rural do Rio de Janeiro, estabelecida em 1644.17

Jacarepaguá alcançou, entre os séculos XVI e XVIII, um incremento constante de engenhos.

Era também, a freguesia com a segunda maior produção de aguardente se comparada às

suas vizinhas, sendo a terceira em caixas de açúcar e de alqueires de farinha de mandioca.18

No século XVIII esta freguesia açucareira transformou-se na distante periferia de

uma cidade que cada vez mais se converteu no principal porto do Atlântico Sul luso, em

função do ouro das Minas Gerais e do tráfico atlântico de escravos. Apesar deste processo,

fidalgos da casa real lusa mantiveram engenhos em Jacarepaguá, como os Correa de Sá e

Benevides, que, inclusive, tinham terras vinculadas a seu morgado no local19, assim como

estes últimos continuaram a ser objeto de desejo de negociantes enriquecidos. 20

17
ARAUJO, Carlos. Jacarepaguá de antigamente. Belo Horizonte: C. Borges Editora, 1995.
18
OLIVEIRA, Victor L. A. Retratos de Família: sucessão, terras e ilegitimidade entre a nobreza da terra de
Jacarepaguá, séculos XVI-XVIII. Dissertação de Mestrado. Instituto de História – UFRJ, 2014.p. 55
19
As terras dos Correa de Sá e Benevides vinculadas ao morgado ficavam no Engenho D’Água, primeiramente
chamado Engenho da Tijuca. A vinculação pode ser vista no documento que segue: “Instituição do morgado
do Excelentíssimo Visconde de Asseca feita em o ano de 1667 aos 27 dias do mes de mayo – D. Victoria
faleceo, em 27 de agosto de 1667.
Bens vinculados no morgado pertencentes ao Rio de Janeiro
O Engenho (...) de agoa chamado São Salvador da Tijuca no dito Engenho com todas suas terras,
confrontaçoens, partidos de canas, Escravos e gados, que tem de terras duas legoas de testadas, e do mar
para a serra outras duas legoas, Em a restinga de campos que lhe toca, queparte no cume a serra vindo da
cidade pella Lagoa para a banda de leste, e da de costas com terras do Engenho de Nossa Senhora do
Desterro, que temos nomiado a um de nossos filhos, Irmão de João Correa de Sá, e pella parte do Norte no
cume da serra aonde chamão a cruz, parte com terras dos P. P. da Companhia, e da parte do Sul com o mar
Logo, (...)do-se as lagoas e restingas e esta (...) o rendimento em oitocentos mil reis – e nada mais nos respeita
a estas partes (1 linha ilegível).
Tem esta instituissaõ a seguinte (...) a folha 34 verso.
E assim queremos por avistar demandas que hao de haver, que nenhua palavras desta instituissam se lhe de
outro nenhum (...) diferente do que sam, porquanto he nossa vontade que assim se cumpra e goarde, pela
fazermos com toda a clareza e palavras para assim se evitarem demandas, e todas as duvidas, que ao diante
pode haver; e com todas estas sancssoens reta ficamos esta nossa instituissam com todas as clauzulas, e tudo
o mais que de direito necessario for.” Arquivo do Mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro, seção 8,
documento nº 992. Agradeço a Francisco Javier Muller pela cessão da versão digitalizada do documento.
20
SAMPAIO, A. C. J. Na Encruzilhada do Império: hierarquias sociais e conjunturas econômicas no Rio de
Janeiro (1650-1750). Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2003.pp. 57-92.

Aedos, Porto Alegre, v. 12, n. 27, março 2021.


442

Na América lusa, ao contrário das imensas gangs de escravos de Barbados, onde

estava a monocultura de açúcar de melhor qualidade do período, as áreas rurais se

desdobravam nos chamados partidos de cana, explorados em geral pelo dono do engenho

e por lavradores e seus parentes e escravos21. Jacarepaguá contava com oito engenhos e

uma engenhoca em 1797. Eram eles os engenhos da Vargem e do Camorim, pertencentes

aos beneditinos; os engenhos da Taquara e o Novo da Taquara, além do da Serra,

pertencente aos Teles de Menezes; o de Fora, o do Rio Grande, dos Sampaio e Almeida; o

engenho D’água, dos Viscondes de Asseca e a engenhoca de Covanca, de Felix Muniz de

Aguirre. Algumas regiões se encontravam dentro das delimitações dos engenhos. São elas,

Piabas, que ficava nas terras de São Bento, não sabemos se na Vargem ou no Camorim;

Pavuna, Areal e Barro Vermelho, que se situavam na Taquara e; Retiro, Bananal e o sítio de

Urussanga, sitos nas terras do Engenho D’água.

Além destes sítios, ainda tínhamos as regiões da Ilha do Ribeiro, Cruz das Almas,

Gabinal, Estiva e Tijuca que constavam como sendo local de moradia e diversos chefes de
22
domicílio. A seguir, gráfico elaborado por Victor Oliveira para mimetizar a distribuição

espacial dos moradores da freguesia:

21
FRAGOSO, João. O capitão João Pereira Lemos e a parda Maria Sampaio: notas sobre hierarquias rurais
costumeiras no Rio de Janeiro do século XVIII. In: ALMEIDA, Carla Maria Carvalho de; OLIVEIRA, Mônica
Ribeiro de (org.). Exercícios de micro-história. Rio de Janeiro: FGV, 2009. p. 158.
22
OLIVEIRA, Victor. Algumas notas sobre demografia, terras e elites no Recôncavo da Guanabara do século
XVIII. In: Revista Latino-Americana de História Vol. 3, nº. 11 – Setembro de 2014. p. 161. Disponível em:
http://projeto.unisinos.br/rla/index.php/rla/article/viewFile/457/442 Acesso em: 18/02/2015.

Aedos, Porto Alegre, v. 12, n. 27, março 2021.


443

Gráfico I. Divisão por localidade dos moradores de Jacarepaguá

Dos 252 domicílios que foram assinalados no Mapa de população de Jacarepaguá

de 1797, conseguimos rastrear 87 habilitações matrimoniais de seus moradores, o que nos

permite visualizar melhor a maneira que era estabelecida a relação do matrimônio com o

acesso à terra, muito embora esta parte da pesquisa não seja explorada no presente artigo.

Desse modo, inseridos numa complexa rede de artifícios engendrados por famílias

do período, grupos familiares engendravam as estratégias matrimoniais não apenas no

momento do ritual do casamento, mas direcionando o destino dos filhos. Assim, um futuro

casamento poderia ser selado, inclusive, na designação de padrinhos e em outras alianças

estabelecidas antes ou depois do nascimento do filho, uma vez que era eterna, numa

sociedade tão hierarquizada, a busca de ascensão social ou manutenção do status na

Monarquia portuguesa.

Na maioria dos casos, a escolha era eminentemente familiar, já que a família era a

célula mais elementar desta sociedade23, o que não exclui, entretanto, que casamentos

tenham sido realizados por vontade dos nubentes, uma vez que pudemos rastrear casos

23
HESPANHA, A. Imbecillitas. As bem-aventuranças da inferioridade nas sociedades de Antigo Regime. São
Paulo: Ed. AnnaBlume, 2010.

Aedos, Porto Alegre, v. 12, n. 27, março 2021.


444

de matrimônios realizados sem a autorização do pater familias. Não se pode desprezar,

neste sentido, a ação das Leis Pombalinas, denominadas pelo moralista setecentista José

Telles como A Lei da Boa Razão. Nessas, é fácil notar que o poder paterno ganhou maior

acento. Vejamos a Lei de 6 de outubro de 1784, incluída na Lei da Boa Razão, que regulava

os esponsais. De acordo com esta, os nubentes de até 25 anos não poderiam realizar

promessas de casamento caso não tivessem autorização dos pais ou tutores. 24 A efetividade

desta lei, entretanto, no que se refere às práticas, fica no campo das poucas evidências das

quais dispomos, as quais apresentam dados parcos sobre o que efetivamente ocorreu, pois

nossos documentos limitam-se a fontes secundárias daqueles que falam. Mesmo os

documentos em que há testemunhos, estes são transcritos por um escrivão ou pároco, que

elabora a pergunta e pode, sem dúvidas, enviesar a resposta, já que há praticamente uma

fórmula, um topos, um lugar comum do qual se constitui a resposta. A coexistência e a

complementaridade entre as regras e as práticas, entretanto, é uma de nossas apostas para

a Monarquia portuguesa, embora apostemos que em regiões rurais, essas regras poderiam

ser mais “afrouxadas” e adaptadas.

Consideramos que a definição familiar do matrimônio a ser realizado fazia parte do

conjunto de práticas pertencente à transmissão patrimonial, que entendemos como o

conjunto de bens simbólicos e materiais que passavam de uma geração à outra, cuja lógica

se pautava pelos hábitos que presidiam a herança, em plano relativamente rígido.25

Como viviam livres e escravos em uma freguesia açucareira: uma breve digressão

É impossível, vale salientar, falar de uma sociedade cuja base econômica era o

trabalho escravo sem mencionar escravos. Trouxemos, portanto, um vislumbre sobre a vida

de escravizados na freguesia. Em Jacarepaguá havia 2224 habitantes26 em 1797, dos quais

24
TELLES, José Homem Correa. Commentario crítico à Lei da Boa razão. Lisboa: Typographia de Maria da
Madre de Deus, 1865.
25
PEDROZA, Manoela. Engenhocas da Moral: redes de parentela, transmissão de terras e direitos de
propriedade na freguesia de Campo Grande. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2011. p. 96.
26
OLIVEIRA, Victor. Algumas notas sobre demografia, terras e elites no Recôncavo da Guanabara do século
XVIII. In: Revista Latino-Americana de História Vol. 3, nº. 11 – Setembro de 2014. Disponível em:
http://projeto.unisinos.br/rla/index.php/rla/article/viewFile/457/442 Acesso em: 18/02/2015. p. 155-161.

Aedos, Porto Alegre, v. 12, n. 27, março 2021.


445

1235 (aproximadamente 55%) eram escravos. Destes escravos, a maioria estava concentrada

nos 11 engenhos da região. O que queremos chamar atenção, nesta altura do trabalho, é

que os escravos e pessoas livres não viviam suas vidas de forma isolada, mas em comum.

Alguns escravos, inclusive, tinham a vida parecida com a dos livres pobres, possuindo uma

casa e uma família, gerando vários filhos e trabalhando em sua lavoura, como é o caso dos

crioulos Mariana e Francisco, escravos de Tomás da Costa 27, que tiveram 6 filhos (5

gestações, sendo uma de gêmeos) entre 1789 e 1799. É muito provável que esta família,

em particular, apesar de escravos, gozasse de uma posição privilegiada frente ao restante

da escravaria, pois todos os seus filhos foram batizados em livros de batismos de livres,

mesmo ambos os seus pais sendo escravos.

Inclusive, seu reconhecimento deveria ser óbvio (porque partimos do pressuposto

de que o óbvio, que podia ser observado por todos por vezes era negligenciado pelo

pároco, pois não fazia sentido anotar algo que era de conhecimento geral), pois entre as

seis crianças batizadas, apenas uma aparece com registro formal de alforria em pia batismal,

apesar de todas serem consideradas livres, já que estavam no livro de batismos de livres.

Poderíamos inferir que era um erro do pároco batizar as crianças no livro de livres, mas a

verossimilhança nos leva a crer que não foi um erro, mas uma opção por batizar os filhos

dos escravos do livro dos nascidos livres - porque era sabido, admitimos como hipótese

plausível, que o seu senhor concederia a alforria a eles quando do seu nascimento. O

porquê disso, nunca saberemos, mas apenas que seus pais tinham um papel diferenciado

entre os demais escravos de Tomás da Costa.

Partilhamos, neste sentido, do conceito proposto de que, através dos laços

familiares, os escravos e libertos, convivendo no mesmo espaço, inserindo estrangeiros a

todo o tempo em sua lógica de funcionamento, buscariam a paz para sua convivência.

27
Claudina, batizada em 22/07/1789, imagem 319 do livro de Batismos de 1750 a 1791 [1794] Jacarepaguá;
Ambrosio e Tomasia (gêmeos), batizados em 20/03/1791, imagem 6 do livro de Batismos Mar-1791, Fev-
1802, Jacarepaguá; Maria, batizada em 26/0/1793, imagem 28 do livro de Batismos Mar-1791, Fev-1802,
Jacarepaguá; Maria, batizada em 19/02/1796, imagem 57 do livro de Batismos Mar-1791, Fev-1802,
Jacarepaguá; Angelo [crioulo], batizado em 10/08/1799, imagem 106 do livro de Batismos Mar-1791, Fev-
1802, Jacarepaguá. Os dois livros estão disponíveis no familysearch.org.

Aedos, Porto Alegre, v. 12, n. 27, março 2021.


446

28
Alerta, portanto, para a força social da família dentro e fora das senzalas . O controle

senhorial era antes político que físico. Não que inexistisse o castigo corporal, mas a

negociação, em vez da punição física, era o efetivo mecanismo de resguardo do

funcionamento da hierarquizada sociedade arcaica de Antigo Regime,


o que tornava a constituição de relações parentais em geral, e familiares em
particular, estratégias políticas por excelência, voltadas à pacificação da escravaria.
Pacificando, organizando a vida do cativeiro, a família amainava os
enfrentamentos entre os cativos. (...) Sem se constituir um instrumento direto de
controle senhorial, a família escrava funcionava como elemento de estabilização
29
social, ao permitir ao senhor auferir uma renda política.

Seja como for, é possível dizer que esta família se manteve estável por, pelo menos,

10 anos30 nas terras em que vivia seu senhor Tomás da Costa, em Jacarepaguá, sem ter

especificado no mapa se era foreiro, partidista ou posseiro daquelas terras. Contando mais

de 64 anos em 179731, casado, é provável que ele também tenha se estabelecido no local

há bastante tempo.

Constatamos, também, que pequena parte da população destas localidades possuía

efetivamente o território em que habitava, grupo, grosso modo, formado pelos senhores

de engenho e alguns donos, ou seja, parcela pouco significativa da maioria dos fregueses.

Tendo a posse da terra ou não, compreendemos que estas famílias eram geridas por uma

lógica camponesa, ou seja, uma unidade econômica que, em seus relacionamentos com a

terra32, arrendamento ou compra, busca, com estas transações, alcançar um equilíbrio seja

no melhoramento do nível de vida, seja na diminuição do tempo de trabalho. Portanto, o

campesinato de que tratamos, opera num sistema de economia em que o objetivo não é a

28
BRÜGGER, Silvia M. J.. Minas Patriarcal. Família e Sociedade (São João del Rei – séculos XVIII e XIX). São
Paulo: Annablume, 2007. passim.
29
FLORENTINO, Manolo; GÓES, Roberto. A paz das senzalas: famílias escravas e tráfico atlântico, Rio de
Janeiro, c. 1790 – c. 1850. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1997. p. 175
30
Essa conta foi feita com base no tempo de nascimento de seus filhos.
31
Mapa descritivo do distrito da Guaratiba, freguesia de Jacarepaguá. 1797. AHU-Rio de Janeiro, cx. 165, doc.
62.
32
BACELLAR, C. A. P. Viver e sobreviver em uma vila colonial– Sorocaba, séculos XVIII e XIX. São Paulo:
Annablume . Fapesp, 2001a.

Aedos, Porto Alegre, v. 12, n. 27, março 2021.


447

troca e sim a subsistência, o equilíbrio entre as necessidades da família e o esforço

distribuído.33

Neste sentido, a produção interna de gêneros alimentícios para subsistência parece

figurar na maioria dos domicílios da freguesia, o que não quer dizer que esta produção não

pudesse ser comercializada com outras regiões do recôncavo. Desta maneira, nos

atentaremos, para além dos donos, à grande quantidade de famílias foreiras ou partidistas

e seus agregados34, visto terem sido os integrantes da nobreza da terra35 alvos de pesquisas
36
significativas na recente historiografia sobre freguesias agrárias .

As teias das redes sociais: endogamia e homogamia matrimonial

“Matrimonio. Deriva-se do latim mater, porque a mãy pare, e cria os filhos, que
saõ fruto do matrimonio. Na Igreja Catholica he hum dos sete Sacramentos,

33
LEVI, Giovanni. Economia camponesa e Mercado de terra no Piemonte do Antigo Regime. In: OLIVEIRA,
Mônica.; ALMEIDA, Carla. (orgs.) Exercícios de micro-história. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2009. p. 91.
34
Agregados podem ser caracterizados como um grupo que não mantém nenhum tipo de relação com a
terra, estando subordinados, sob diversos tipos de laços de dependência, a uma casa. MACHADO, Cacilda. A
Trama das vontades: negros, pardos e brancos na produção da hierarquia social do Brasil escravista. Rio de
Janeiro: Apicuri, 2008. p. 50. Cf. também BACELLAR, C. A. P. Agregados em casa, agregados na roça: uma
discussão. In: SILVA. M. B. N. da (Org.) Sexualidade, família e religião na colonização do Brasil. Lisboa: Livros
Horizonte, 2001b.
35
O conceito “de nobreza da terra, no Rio de Janeiro, estaria ligada à antiguidade da família no exercício do
poder político-administrativo da cidade e à descendência dos conquistadores”. Nem toda nobreza da terra,
porém, possuía o título de nobreza, tendo a ascensão à governança da terra, uma eficácia, sobretudo, local
e não reconhecida em todos os territórios do Império, sendo esta elite majoritariamente constituída por
conquistadores, aqueles “que, ao longo de duzentos anos, à custa de suas vidas e fazendas serviram à
monarquia no domínio da América (...) e que se viam como nobreza de origem imemorial”, achando-se com
prerrogativa exclusiva de mando através do acesso aos cargos de vereança e do reconhecimento de seus
vizinhos, muitas vezes corroborado pela concessão de mercês régias. FRAGOSO, João. Fidalgos e parentes
de pretos: notas sobre a nobreza principal da terra do Rio de Janeiro (1600-1750). In: FRAGOSO, J.; ALMEIDA,
C.; SAMPAIO, A. (Org). Conquistadores e Negociantes. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007. pp. 35-50
36
Cf. entre outros, FARIA, Sheila. A Colônia em Movimento, Fortuna e Família no Cotidiano Colonial. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 1998.; MACHADO, Cacilda. Op. Cit.; GUEDES, Roberto. Egressos do cativeiro:
trabalho, família, aliança e mobilidade social (Porto Feliz, São Paulo, c. 1798-c.1850). FAPERJ: MAUAD X, 2008.
PEDROZA, Manoela. Engenhocas da moral: redes de parentela, transmissão de terras e direitos de
propriedade na freguesia de Campo Grande (Rio de Janeiro, século XIX). Rio de Janeiro: Arquivo Nacional,
2011.TOSTES, Ana P. C. O lugar social dos homens “pardos” no cenário rural da Cidade do Rio de Janeiro
(Recôncavo da Guanabara, Freguesia de Nossa Senhora do Desterro de Campo Grande, século XVIII).
Dissertação de mestrado. UFRJ/IH, 2012. Oliveira, Victor. Op. Cit. AGUIAR, Julia Ribeiro. As práticas de
reprodução social das elites senhoriais da freguesia de São Gonçalo: um estudo de caso da família Arias
Maldonado (séculos XVII – XVIII). Rio de Janeiro, 2012. Monografia (Graduação em História) – Instituto de
História. UFRJ, 2012.;

Aedos, Porto Alegre, v. 12, n. 27, março 2021.


448

sagrado vinculo, e ajuntamento natural de homem, e mulher, feito entre legitimas


pessoas, para passar húa vida commua, e inseparável entre os dous. Entre os infiéis
há verdadeiro matrimonio em razão de contrato, mas não em razão de
Sacramento, e deste, só legitimas pessoas saõ capazes, id est, os que estão
bautizados, e tem idade legitima, e uso de razão, sem ter algum impedimento dos
quatorze que os Doutores apontão. A essência deste Sacramento consiste em a
união dos ânimos dos contraentes, como se colige do matrimonio de muitos
santos, que o não consumàrão, e estavão verdadeiramente casados. (...)”
37
Raphael Bluteau. Verbete Matrimonio.

De acordo com as Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia, o casamento

era o sétimo dos sacramentos instituídos por Cristo, sendo, portanto, o último. O

casamento, neste sentido, é um contrato de vínculo perpétuo, a união que o homem faz

com a mulher, assim como o Senhor com a sua Igreja. O princípio que rege esse sacramento

é o consentimento mútuo e os ministros são aqueles que se casam. 38 Entretanto, após o

Concílio Tridentino, ocupou-se a Igreja na matéria de regularizar as práticas maritais,

instituindo e regularizando o sacramento, tanto que este não poderia mais ser realizado

sem o testemunho de um pároco e nem portas afora da Igreja.

Portugal foi um dos primeiros países a acolher as disposições do Concílio de Trento

sobre casamento. Ao requerer a intermediação dos eclesiásticos na cerimônia, reforçou a

Igreja a intervenção no sacramento mutuamente ministrado pelos dois cônjuges. Mas,

sobretudo, ao impor o explícito consentimento dos nubentes debilitou inexoravelmente o

controle paternal sobre uma dimensão essencial da política das famílias, controle este que

seria restabelecido após um dos decretos pombalinos, a Lei de 17 de junho de 1770.

Na freguesia de Jacarepaguá, Manoel Cordeiro de Castro casou-se com Dona

Margarida do Bonsucesso em 175639, antes do decreto de Pombal, portanto. Ainda assim,

o pátrio poder dos pais ainda colocava medo na jovem, que fugira para a casa do tio com

medo do que seus pais pudessem fazer com ela. 40 À infâmia a que se lançou poderia ter

37
Disponível em http://dicionarios.bbm.usp.br/pt-br/dicionario/1/matrimonio Acesso em: 12/05/2016
38
VIDE, Dom Sebastião Monteiro da. Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia. Typographia 2 de
dezembro de Antonio Louzada Antunes. São Paulo: 1853.Pag. 107.
39
ACMRJ. HM. Doc. 54739 Cx. 2574
40
Depoimento da oradora D. Margarida do Bonsucesso: “se acha gravemente infamada com ele precisa casar,
foi para a casa do tio com receio que seus pais lhe façam dano”. ACMRJ. HM. Doc. 54739 Cx. 2574

Aedos, Porto Alegre, v. 12, n. 27, março 2021.


449

desgraçado sua vida e levado junto o nome da família. No caso, da família de ambos os

nubentes, pois consanguinidade é o que não falta em suas histórias.

O laço sagrado do matrimônio41, portanto, não era o único que os unia. A afinidade

entre as duas famílias vinha de longa data. O casal era parente de 4º grau, em razão de

possuírem como antepassado comum Maria de Oliveira, que era bisavó de D. Margarida e

tataravó de Manoel. De seu primeiro casamento, Maria de Oliveira pariu João Pimenta de

Moraes, avô materno da oradora e, das suas segundas núpcias, nasceu Francisca de

Almeida, bisavó paterna do orador. João Pimenta e Francisca de Almeida eram, portanto,

meio-irmãos, como diz a passagem seguinte:


“Em razão de que João Pimenta de Moraes e Francisca de Almeida sam meyo
irmaos em razão de ambos serem filhos de Maria de Oliveira e esta ter sido casada
duas vezes húa com o coronel Agostinho Pimenta de quem ouverão o dito João
Pimenta de Moraes, e outra com Feliciano Madeira de quem ouverão a dita
Francisca de Almeida;
Porque de João Pimenta de Moraes, nasceu dona Antonia Pimenta e desta nasceu
a oradora dona Margarida do Bonsucesso;
Que de Francisca de Almeida nasceu Thereza de Jesus e dessa nasceu Christovao
42
Cordeiro de Castro de quem hé filho o orador Manoel Cordeiro (...)”

Embora as Ordenações previssem pena àqueles aparentados que mantivessem

cópula antes da dispensa e as Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia tratasse

como impedimento a “cognação natural, se são parentes por consanguinidade até o quarto

grau”43, o juiz dos casamentos, responsável pela avaliação dos casos e representante da

41
Para mais leituras sobre o casamento no Brasil colonial, cf. BRAGA, Isabel D.O Brasil setecentista como
cenário da bigamia. Estudos em homenagem a Luís Antônio de O. Ramos. Faculdade de Letras da
Universidade do Porto, 2004.; CAMPOS, Alzira Lobo de Arruda. Casamento e família em São Paulo colonial:
caminhos e
descaminhos. São Paulo: Paz e Terra, 2003.; BACELLAR, C. A. P. O matrimônio entre escravos e libertos em
São Paulo, Brasil, séculos XVIII e XIX. In: GHIRARDI, M.; SCOTT, A. S. V. (Coord.). Familias históricas:
interpelaciones desde perspectivas Iberoamericanas a través de los casos de Argentina, Brasil, Costa Rita,
Espana, Paraguay y Uruguay. São Leopoldo, RS: Oikos; Editora Unisinos, 2015. BURMESTER, A. M. O. A
nupcialidade em Curitiba no século XVIII. História: Questões e Debates, Curitiba, Ano 2, n. 2, jun. 1981; SCOTT,
Ana Silvia. Op. Cit.; NAZZARI, Muriel. O desaparecimento do dote: mulheres, famílias e mudança social em
São Paulo, Brasil, 1600 a 1900. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.; MACHADO, Cacilda. Op. Cit; SILVA,
Maria B. N. Sistema de casamento no Brasil Colonial. São Paulo: Edusp, 1984.
42
Trecho do processo de impedimento. ACMRJ. HM. Doc. 54739 Cx. 2574
43
Cognação espiritual se são ligados pelo sacramento do batismo, cognação legal se há parentesco por
adoção. Cf. VIDE, Dom Sebastião Monteiro da. Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia. Typographia
2 de dezembro de Antonio Louzada Antunes. São Paulo: 1853.Pag. 107. TITULO LXII. Do Sacramento do

Aedos, Porto Alegre, v. 12, n. 27, março 2021.


450

Sagrada Igreja Católica, garantiu, apesar do “parentesco de quarto grao mixto com o

terceiro de consanguinidade”44, que o casamento fosse efetuado com a observância das

penas estipuladas.

Moradores no Rio Grande, localidade duas léguas distante da Matriz do Loreto, os

oradores pediram dispensa da pena, que se resumia em serviços à sua Matriz paroquial,

rezas e doações. Não obstante ter recusado o pedido do casal, foi concedido por ninguém

menos que D. Frei Antonio do Desterro o abrandamento da pena mediante o pagamento


45
de “10 mil réis de pena pecuniária [que] diminuem 2 meses [de serviço à Matriz] a 10 dias.”

Os casamentos entre membros da mesma família, entretanto, não se restringiria

apenas ao enlace do casal Manoel Cordeiro de Castro e D. Margarida do Bonsucesso. Após

o casamento, realizado quase um ano após o início do processo, Manoel e Margarida

tiveram 6 filhos. Não há notícia de todos, mas 3 reaparecem na documentação 46 como

nubentes em processos maritais. Nada menos que complexa era a relação de parentelas

que decidiam pelo casamento entre consanguíneos. E não apenas em Jacarepaguá.


47
Distante da afirmação de Maria Beatriz Silva , segundo a qual os impedimentos por

cognação eram condenados ferozmente pela legislação “civil” e pela canônica e o incesto

uma linha de divisão entre a “barbárie” e a “civilização”, a ocorrência de casamentos entre

parentes é mais complexa e guarda estreita relação com as estratégias familiares de

reprodução social e de transmissão de patrimônio, além de serem muito mais do que uma

simples ausência de aplicação das normas da Igreja Católica.

De acordo com a autora, as leis que vigoravam no Reino, ou “metrópole”, eram

distintas das leis da conquista, ou “colônia”. Na primeira, que seria regulada pelas

Ordenações Filipinas, o crime do incesto era duramente reprimido e, por conta de sua

matrimônio: da instituição, matéria, forma e ministro deste sacramento; Dos fins para que foi instituído, e nos
efeitos que causa.
44
Processo de impedimento por consanguinidade de D. Margarida do Bonsucesso e Manoel Cordeiro de
Castro. ACMRJ. HM. Doc. 54739 Cx. 2574
45
Parecer do juiz dos casamentos sobre o pedido de isenção da pena do processo de dispensa. ACMRJ –
Série HM – Doc. 54739 Cx. 2574
46
ACMRJ – Série Habilitações matrimoniais. Localidade: Jacarepaguá. Décadas de 1780 e 1790. Livro de
Batismos de livres de Jacarepaguá. Disponível em familysearch.org.
47
SILVA, Maria B. N. Sistema de casamento no Brasil Colonial. São Paulo: Edusp, 1984. pp. 126-127

Aedos, Porto Alegre, v. 12, n. 27, março 2021.


451

população mais integrada e menos dispersa, era mais difícil de ocorrer que nos trópicos,

onde as famílias se “encastelavam” e dificilmente mantinham relações que não fossem com

consanguíneos. Somado a isso, as Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia teria

adotado penas mais brandas para a referida infração.

No entanto, mesmo para o Reino e outras regiões da Monarquia, o casamento

endogâmico parece ser uma realidade que se estende por todas as camadas sociais e,

principalmente, nos casamentos aristocráticos, em que a dispersão do patrimônio, tanto

material quanto imaterial, colocaria muito a perder. Menos que uma escolha de pessoas

bárbaras, a endogamia fazia parte de estratégias matrimoniais definidas no campo familiar.

É fundamental, portanto, reconhecer a centralidade da família enquanto base da sociedade

e instrumento de poder.

Comparação com outras regiões católicas ibéricas

48
Estudando a pequena região de Formentera , insular província de Espanha, Joan

Bestard Camps49 fornece informações esclarecedoras acerca do estudo de uma população

pouco numerosa e o mercado matrimonial. Ao abordar as proibições matrimoniais

definidas pela Igreja, afirma que estas não eram levadas da mesma maneira pelas famílias.

Os significados eram distintos, tanto que havia pedidos de dispensa para atendimento do

interesse dos próprios grupos familiares, como se pode observar também em Jacarepaguá.

Na tentativa de impedir os casamentos entre “primos”, ou seja, parentes até o quarto

grau, a Igreja justificou oficialmente, após o Concílio de Trento, a proibição matrimonial por

afinidade tanto pelo caráter moral quanto pelo caráter social. O caráter moral dizia respeito

ao fato de que, para unir-se na mesma carne, era necessário não ser consanguíneo, uma

vez que seria redundante unir pela carne aqueles que já o eram pelo sangue. Isso diminuiria,

48
Formentera é um município da Espanha na província e comunidade autônoma das Ilhas Baleares, sendo
considerada mais próspera ilha da península.
49
CAMPS, Joan Bestard, La estrechez del lugar. Reflexiones en torno de las estrategias matrimoniales cercanas.
In: CHÁNCON JIMENEZ, Francisco, FRANCO, Juan Hernández (eds). Poder, Família y Consanguinidade en la
España del Antiguo Regimen. Barcelona: Anthropos, 1992.

Aedos, Porto Alegre, v. 12, n. 27, março 2021.


452

inclusive, a quantidade de alianças que se poderia amealhar através deste contrato, pois o

número de parentes criados seria diminuto.50

Se a justificação social da união marital afirmava que o matrimônio unia aqueles que

não possuíam laços por afinidade consanguínea, não fazia sentido que parentes estivessem

envolvidos em um enlace sagrado. Como todos os cristãos são irmãos, o casamento

reforçava o sentido de irmandade quando os nós da consanguinidade já haviam se

desatado. Expandir as alianças sociais e reafirmar a cooperação entre os católicos era a


51
função social, portanto, do casamento.

Entretanto, segundo o autor, os pedidos abundantes de dispensa matrimonial por

afinidade em Formentera revelam uma diferença entre as regras jurídicas e as práticas. A

endogamia, muito embora não possa ser considerada uma prática universal, deve ser

analisada em sua importância para as estratégias matrimoniais, tendo em vista que a

manutenção dos laços parentais pode garantir os ganhos adquiridos através das gerações.

As histórias da família Cordeiro de Castro, imbricada com a Correa Pimenta e a

Barbosa de Sá, demonstram a endogamia matrimonial entre os paroquianos da “lagoa dos

jacarés”. Sendo todas moradoras na localidade do Rio Grande 52, importante engenho da

freguesia de Jacarepaguá, é válida a hipótese de que era essencial a manutenção do espaço

conquistado, ou seja, o acesso à terra. Neste sentido, os casamentos entre consanguíneos

poderiam ser uma maneira de assegurá-lo e manter próximos territorialmente as alianças

que se faziam virtualmente através do matrimônio. Longe de se tratarem de exceções, estes

casamentos fechados devem ser vistos como participantes de uma lógica local de

estratégias matrimoniais.53

Dos 3 filhos do casal Manoel e Margarida54, – Teresa Maria de Jesus, José Cordeiro

de Castro e Francisco Cordeiro de Castro – dois deles se casam também com parentes

50
CAMPS, Op. Cit. pp. 108-110
51
CAMPS, Op. Cit. pp. 112-113
52
Sobre a freguesia de Jacarepaguá e as estratégias sociais da família Sampaio no engenho do Rio Grande,
confira. OLIVEIRA, Victor L. A. Retratos de Família: sucessão, terras e ilegitimidade entre a nobreza da terra
de Jacarepaguá, séculos XVI-XVIII. Dissertação. Mestrado em História. Instituto de História – UFRJ, 2014.
53
CAMPS, Op. Cit. p. 150
54
Batismos de livres da freguesia de Jacarepaguá. 1750-1800. Disponível em familysearch.org.

Aedos, Porto Alegre, v. 12, n. 27, março 2021.


453

próximos, gerando habilitações matrimoniais com impedimentos análogos aos de seus pais.

Francisco Cordeiro de Castro, o único que não possui impedimento algum em seu

casamento55, não tem, entretanto, uma escolha aleatória para seu matrimônio, uma vez que

a nora escolhida, Maria Joaquina da Assunção, era prima em primeiro grau do marido de

Teresa Maria de Jesus, Inacio Correa Barbosa, cujos pais eram irmãos56.

A filha mais velha de Manoel e Margarida, Teresa Maria de Jesus, parece ter seguido

os passos dos pais. Seu cônjuge, Inacio Correa Barbosa, era seu primo de 2º grau, estando
57
os dois ligados no 3º grau de consanguinidade . Além disso, antes do início dos proclames,

o casal se “conheceu” carnalmente58, gerando um filho natural. Embora as testemunhas do

impedimento afirmem que não sabem se o casal teve relações ilícitas com âmbito de facilitar

a dispensa, o nascimento de um filho pode ter servido como estratégia para a obtenção da

permissão para o casório.

Na maioria dos testemunhos vistos em outros processos que tinham esta pergunta,

ao menos uma testemunha costuma afirmar que sabe que não se conheceram carnalmente

para facilitar a dispensa e sim por “fraqueza da carne”. Não foi o caso das testemunhas de

Teresa e Inacio, que preferiram afirmar que não tinham conhecimento acerca do assunto.

Embora Teresa e Inacio afirmem “que se conheceram e a oradora pariu um filho varão “que

ainda existe”, o que aconteceu por fragilidade e não com ânimo de facilitar a dispensa”, os

que se dispuseram a falar sobre o caso parecem “omitir” ou se esquivar do assunto:

Antonio Dias de Azevedo: Conhece muito bem os oradores e sabe porque se


acham contratados para casar. Confirma todos os impedimentos. Do 2 [que versa
sobre se terem se conhecido carnalmente], acrescenta que não sabe se ocorreu
por fragilidade ou para facilitar a dispensa. Do 3 [sobre a pobreza dos cônjuges],
o orador tem o ofício de sapateiro ou seleiro; o pai dela tem 5 escravos a trabalhar
em terras alheias para sustentar 3 filhas e 2 machos que tem e para pagar dívidas.
Jacinto Barbosa de Sá: Conhece muito bem os oradores e saber porque se acham
contratados para casar. Confirma todos os impedimentos. Do 2 não menciona a

55
ACMRJ – Série HM – Doc. 41421 Cx. 2202. Ano de 1792.
56
Informações obtidas, principalmente, através do cruzamento entre os matrimônios da família, na ACMRJ e
nos assentos de batismos de livres da freguesia de Jacarepaguá entre 1750 e 1800.
57
ACMRJ – Série HM – Doc. 21194 Cx. 1621. Ano de 1784.
58
Processo de impedimento no 3º grau de consanguinidade de Inacio Correa Barbosa e Teresa Maria de
Jesus. ACMRJ - Série HM – Doc. 21194 Cx. 1621.

Aedos, Porto Alegre, v. 12, n. 27, março 2021.


454

fragilidade. Do 3 não sabe quantas crianças escravas tem, mas sabe que há, que
trabalham em terras alheias; o orador tem ofício e 2 cavalinhos.
Manoel Pacheco Freire: Conhece muito bem os oradores e saber porque se acham
contratados para casar. Confirma todos os impedimentos. Do 2 não menciona a
59
fragilidade. Do 3 o orador tem ofício e 2 cavalinhos.

De acordo com Carvalho60, a atividade sexual fora do casamento poderia ocorrer

entre pessoas que pretendiam se casar, como é o caso dos nascimentos ilegítimos

analisados no Minho, que demonstram a existência de uma atividade sexual generalizada

em casais com casamento já acordado. O autor cita ainda as relações sexuais ilícitas

subsidiárias dos casamentos em que havia impedimento por relação de parentesco, o que

fazia com que muitos casais vivessem sob o mesmo teto aguardando a decisão do juiz de

casamentos. Mesmo sendo juridicamente uma união incestuosa, era socialmente aceita

pelos olhos vigilantes da comunidade.

É provável que Teresa e Inacio mantivessem moradia na mesma casa enquanto

aguardavam o processo de dispensa. Ainda mais porque o pequeno Luis já havia nascido

6 meses antes do início do processo61. Sua condição de filho natural mudaria após o

casamento dos seus pais, Luis seria agora um filho legitimado por casamento subsequente.

Os irmãos de Inacio Correa Barbosa, Pedro Barbosa de Sá e , todos filhos de Jose

Correa Pimenta e Maria Barbosa, também tem seus casamentos impedidos por

consanguinidade, dos quais obtém a dispensa. Pedro Barbosa de Sá se casaria com a filha

de Antonio de Oliveira Lobo, que, por sua vez, também estaria ligado à família Cordeiro de

Castro pelo casamento de sua outra filha, D. Teresa Francisca, já viúva, com o filho de

Manoel Cordeiro de Castro, Jose Cordeiro de Castro.

As filhas de Antonio de Oliveira Lobo, casadas entre as décadas de 1780 e 1790,

possuem, todas, impedimento de consanguinidade em seus casamentos62. Estando

59
Testemunhas do processo de impedimento de Inacio Correa Barbosa e Teresa Maria de Jesus. ACMRJ –
Série HM – Doc. 21194 Cx. 1621.
60
MONTEIRO, Nuno G. (coord.) MATTOSO, J. (dir.). História da Vida Privada em Portugal. A idade moderna.
Lisboa: Círculo de leitores, 2013. p. 118.
61
O processo é de agosto de 1784, enquanto Luis nasceu em fevereiro.
62
ACMRJ. HM. Doc. 86243 Cx. 3393 José Cordeiro de Castro e D. Teresa Francisca; Doc. 21199 Cx. 1621 Inacio
Manoel de Sampaio e D. Mariana Rosa de Oliveira; Doc. 14079 Cx. 1414 Pedro Barbosa de Sá e Josefa Maria
Lizarda de Oliveira; Doc. 20794 Cx. 1609 Inacio dos Santos Sampaio e Antonia Joaquina de Oliveira.

Aedos, Porto Alegre, v. 12, n. 27, março 2021.


455

impedidas no 2º ou 3º grau de consanguinidade, impossível não pensar nestas famílias

como estrategicamente endogâmicas, uma vez que havia um constante incremento de

pessoas na freguesia, principalmente nas décadas mencionadas, em que o crescimento

demográfico é pujante.

Mesmo o último casamento recuperado da família Cordeiro de Castro não

possuindo impedimento por consanguinidade, é impossível ignorar o fato de que a nora

escolhida, Maria Joaquina da Assunção, era prima em primeiro grau do marido de Teresa

Maria de Jesus, Inacio Correa Barbosa, cujos pais eram irmãos.

Mais do que uma estratégia para manter os bens indivisos, à custa da diminuição de

parentelas, esta grande família pode estar fazendo frente ao crescente número de pardos,

uma vez que nenhum deles consta como pardos nos documentos analisados, de batismos,

habilitações matrimoniais ou casamentos. Numa parentela em que se multiplicam as donas

e os sobrenomes são dos conquistadores quinhentistas do Rio de Janeiro, parece essencial

fechar as redes nelas mesmas, garantindo uma grande união entre estas famílias que antes

tinham o poder econômico e político e agora perderam o primeiro, repetindo

incessantemente sua condição de “pobreza”.

Conclusão

Os atores desta história foram os homens, mulheres e crianças da freguesia de

Jacarepaguá: lavradores, donos, foreiros, partidistas, escravos, pardos, negros, brancos,

europeus, forros, livres, capitães... Difícil enunciar todos os qualificativos de uma sociedade

que vivia da representatividade social, ou seja, do status sócio-político de seus membros.

Este trabalho nada mais é que o conjunto de fragmentos de representação de vidas que

estão sendo aqui reproduzidas, possibilitada pelo intenso cruzamento realizado através do

método onomástico e da reconstituição de famílias, mas que não leva em consideração

aquelas apenas regulamentadas de acordo com as Leis Católicas.

Embora não sejam membros da nobreza como os personagens estudados por Nuno

Gonçalo Monteiro, em que “a homogamia matrimonial era parte fundamental do modelo

Aedos, Porto Alegre, v. 12, n. 27, março 2021.


456

63
reprodutivo do grupo”, parece que as famílias aqui mencionadas estão tentando garantir

sua coesão e unidade enquanto grupo diferenciado dos demais. De acordo com Monteiro,

a homogamia era uma forma de “preservar a identidade social” 64 da nobreza, assegurando

a exclusividade dos ofícios da monarquia e da remuneração em doações régias. Como não

estava em seu horizonte a remuneração régia, esta não era uma preocupação latente entre

os habitantes da freguesia de Jacarepaguá, no entanto, era fundamental para eles garantir

o privilégio da família adequada de acordo com os padrões morais católicos.

Se este privilégio “é, no concreto, uma das principais condições de acumulação e de

transmissão de privilégios, econômicos, culturais e simbólicos”65, não é de surpreender que

não se queira que a aliança se estenda para além dos grupos já formados.

Como bem sublinhou Gilberto Freyre, o português que veio para conquistas

americanas foi o primeiro entre os “colonizadores modernos” a preocupar-se menos com

a pura extração de riqueza mineral, vegetal ou animal para a criação local de riqueza, ao

“prolongamento da vida europeia ou a adaptação dos seus valores morais e materiais a

meios e climas tão diversos.” Neste sentido, a sociedade das terras luso-americanas

“desenvolveu-se patriarcal e aristocraticamente (...), não em grupos a esmo instáveis.”66

Este artigo, no entanto, traz apenas algumas amostras das centenas de casamentos

que se realizaram em Jacarepaguá ao longo do século XVIII. Matrimônios cujo processo foi

preservado e chegou até os dias de hoje para contar uma história que não era exclusiva

das famílias citadas. Impedimentos eram comuns no Antigo Regime católico e, sobretudo

para uma freguesia rural em que o número de habitantes era consideravelmente pequeno,

o casamento entre parentes que “compartilhavam o mesmo sangue” se multiplica e ajuda

a desvelar minúcias das representações de práticas que, entre uma norma e outra, ocorriam

entre os fregueses.

63
MONTEIRO, Nuno G. Casa e linhagem: o vocabulário aristocrático em Portugal nos séculos XVII e XVIII. in:
Penélope – fazer e desfazer a História, no. 12, 1993. p. 611.
64
Idem. p. 613.
65
BOURDIEU, Pierre. Razões Práticas. Campinas: Papirus Editora, 1996. p. 138.
66
FREYRE, Gilberto. Casa-grande e senzala. São Paulo: Global Editora, 2008 [1933]. pp. 78- 79

Aedos, Porto Alegre, v. 12, n. 27, março 2021.


457

Quadro genealógico I. Família Cordeiro de Castro

Fonte: Mapa de população de


1797,
Habilitações Matrimoniais de
Cristóvão Ana Maria Felix D. Antônia
Cordeiro de Jacarepaguá (1701-1800) citadas
de Jesus Correa da Pimenta de
Castro Cruz Moraes no texto – ACMRJ; Batismos de
livres de Jacarepaguá (1750-1800).
Acesso em familysearch.org.
Acesso em 23/09/2016

Manoel D. Margarida
Cordeiro de do
Casamento............................................
Casamento entre consanguíneos........
Primos...................................................
Filiação..................................................

Castro Bonsucesso

José D. Teresa Teresa Inácio Francisco Maria


Cordeiro Francisca Maria de Correa Cordeiro Joaquina
de Castro Jesus Barbosa de Castro Assunção

Primos de 4º grau
Impedimento no 3º grau Primos de 4º grau
de consanguinidade Impedimento no 3º grau
de consanguinidade

Primos de 1º grau

Aedos, Porto Alegre, v. 12, n. 27, março 2021.


458

Fonte: Mapa de população de


Quadro genealógico II. Família Oliveira Lobo 1797,
Habilitações Matrimoniais de
Jacarepaguá (1701-1800)
Francisco de Brites de Cristóvão D. Mariana citadas no texto – ACMRJ;
Oliveira Lobo Oliveira Velho de de Sousa Batismos de livres de
Araújo Barreto Jacarepaguá (1750-1800).
Acesso em familysearch.org.
Acesso em 23/09/2016

Antônio de Rita Maria


Oliveira Lobo Barbosa

Inácio
Manoel de
Pedro Sampaio
Barbosa de
D.

Mariana
D. Teresa Josefa Rosa D. Antônia
José Inácio dos
Francisca Maria Joaquina de
Cordeiro Santos
Lizarda Oliveira
de Castro Sampaio

3º grau misto com o 2º


de consanguinidade

3º grau misto com o 2º


3º grau de de consanguinidade
consanguinidade
3º grau de
duplicado
consanguinidade Filiação.........................................................
Casamento...................................................
Casamento entre consanguíneos...............
Primos..........................................................

Aedos, Porto Alegre, v. 12, n. 27, março 2021.


459

Gráfico de vizinhança I. Moradia próxima e contígua entre membros da família Oliveira Lobo e Cordeiro de Castro

Manoel Cordeiro de Castro &


Dona Margarida do
Bonsucesso
Domicílio 113
Rio Grande

Inacio dos Santos Sampaio &


Inacio Manoel de Sampaio & Dona Antonia Joaquina de
Mariana Rosa (Oliveira Lobo) Oliveira (Lobo)
Domicílio 110 Domicílio 127
Rio Grande Rio Grande

Fonte: Mapa de população de João Barbosa de Sá Freire &


José Cordeiro de Castro &
1797, Dona Teresa Francisca Dona Maria Teresa de
Habilitações Matrimoniais de (Oliveira Lobo) Sampaio
Jacarepaguá (1701-1800) citadas Domicílio 114 Domicílio 128
Rio Grande Rio Grande
no texto – ACMRJ; Batismos de
livres de Jacarepaguá (1750-1800).
Acesso em familysearch.org.
Acesso em 23/09/2016
Pedro Barbosa de Sá & Dona
Josefa Maria Lizarda
(Oliveira Lobo)
Domicílio 125
Rio Grande

Aedos, Porto Alegre, v. 12, n. 27, março 2021.


460

Referências

Manuscritos

Arquivo da Cúria Metropolitana do Rio de Janeiro – Série HM – Doc. 41421 Cx. 2202

Arquivo da Cúria Metropolitana do Rio de Janeiro – Série HM – Doc. 21194 Cx. 1621

Arquivo da Cúria Metropolitana do Rio de Janeiro – Série HM – Doc. 86243 Cx. 3393

Arquivo da Cúria Metropolitana do Rio de Janeiro – Série HM – Doc. 21199 Cx. 1621

Arquivo da Cúria Metropolitana do Rio de Janeiro – Série HM – Doc. 14079 Cx. 1414

Arquivo da Cúria Metropolitana do Rio de Janeiro – Série HM – Doc. 20794 Cx. 1609

Arquivo da Cúria Metropolitana do Rio de Janeiro – Série HM – Doc. 54739 Cx. 2574

“Instituição do morgado do Excelentíssimo Visconde de Asseca feita em o ano de 1667


aos 27 dias do mes de mayo”. Arquivo do Mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro, seção
8, documento nº 992.

Livro de Batismos de livres da freguesia de Jacarepaguá de 1750 a 1791. Disponível em


familysearch.org.

Livro de Batismos de livres da freguesia de Jacarepaguá de 1791 a 1802. Disponível em


familysearch.org.

Mapa descritivo do distrito da Guaratiba, freguesia de Jacarepaguá. 1797. AHU-Rio de


Janeiro, cx. 165, doc. 62.

Bibliografia

ABREU, Mauricio. Geografia Histórica do Rio de Janeiro (1502 – 1700). Rio de Janeiro, Ed.
Andrea Jakobsson Estúdio e Prefeitura do Município do Rio de Janeiro, 2010. V. II.

AGUIAR, Julia Ribeiro. As práticas de reprodução social das elites senhoriais da freguesia
de São Gonçalo: um estudo de caso da família Arias Maldonado (séculos XVII – XVIII). Rio
de Janeiro, 2012. Monografia (Graduação em História) – Instituto de História. UFRJ, 2012.

ARAUJO, Carlos. Jacarepaguá de antigamente. Belo Horizonte: C. Borges Editora, 1995.

Aedos, Porto Alegre, v. 12, n. 27, março 2021.


461

BACELLAR, C. A. P. Agregados em casa, agregados na roça: uma discussão. In: SILVA. M.


B. N. da (Org.) Sexualidade, família e religião na colonização do Brasil. Lisboa: Livros
Horizonte, 2001a.

BACELLAR, C. A. P. Viver e sobreviver em uma vila colonial– Sorocaba, séculos XVIII e XIX.
São Paulo: Annablume . Fapesp, 2001b.

BACELLAR, C. A. P. O matrimônio entre escravos e libertos em São Paulo, Brasil, séculos


XVIII e XIX. In: GHIRARDI, M.; SCOTT, A. S. V. (Coord.). Familias históricas: interpelaciones
desde perspectivas Iberoamericanas a través de los casos de Argentina, Brasil, Costa Rita,
Espana, Paraguay y Uruguay. São Leopoldo, RS: Oikos; Editora Unisinos, 2015.

BOURDIEU, Pierre. Razões Práticas, Campinas: Papirus Editora, 1996.

BRAGA, Isabel D.O Brasil setecentista como cenário da bigamia. Estudos em homenagem
a Luís Antônio de O. Ramos. Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2004.

BRÜGGER, Silvia M. J.. Minas Patriarcal. Família e Sociedade (São João del Rei – séculos
XVIII e XIX). São Paulo: Annablume, 2007.

BURMESTER, A. M. O. A nupcialidade em Curitiba no século XVIII. História: Questões e


Debates, Curitiba, Ano 2, n. 2, jun. 1981

CAMPS, Joan Bestard. La estrechez del lugar. Reflexiones en torno de las estrategias
matrimoniales cercanas. In: CHÁNCON JIMENEZ, Francisco, FRANCO, Juan Hernández
(eds). Poder, Família y Consanguinidade en la España del Antiguo Regimen. Barcelona:
Anthropos, 1992.

CAMPOS, Alzira Lobo de Arruda. Casamento e família em São Paulo colonial: caminhos e
descaminhos. São Paulo: Paz e Terra, 2003.

FARIA, Sheila. A Colônia em Movimento, Fortuna e Família no Cotidiano Colonial. Rio de


Janeiro: Nova Fronteira, 1998.

FLORENTINO, Manolo; GÓES, Roberto. A paz das senzalas: famílias escravas e tráfico
atlântico, Rio de Janeiro, c. 1790 – c. 1850. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1997.

FRAGOSO, João. Fidalgos e parentes de pretos: notas sobre a nobreza principal da terra
do Rio de Janeiro (1600-1750). In: FRAGOSO, J.; ALMEIDA, C.; SAMPAIO, A. (Org).
Conquistadores e Negociantes. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007.

FRAGOSO, João. Apontamentos para uma metodologia em História Social a partir de


assentos paroquiais (Rio de Janeiro, séculos XVII e XVIII). In: FRAGOSO, João; GUEDES,

Aedos, Porto Alegre, v. 12, n. 27, março 2021.


462

Roberto; SAMPAIO, Antônio Carlos Jucá de (org.). Arquivos paroquiais e história social na
América Lusa, séculos XVII e XVIII: métodos e técnicas de pesquisa na reinvenção de um
corpus documental. Rio de Janeiro: Mauad X.

FREYRE, Gilberto. “Casa-grande e senzala”. São Paulo: Global Editora, 2008 [1933].

GUEDES, Roberto. Egressos do cativeiro: trabalho, família, aliança e mobilidade social


(Porto Feliz, São Paulo, c. 1798-c.1850). FAPERJ: MAUAD X, 2008.

HESPANHA, A. Imbecillitas. As bem-aventuranças da inferioridade nas sociedades de


Antigo Regime. São Paulo: Ed. AnnaBlume, 2010.

LEVI, Giovanni. Economia camponesa e Mercado de terra no Piemonte do Antigo Regime.


In: OLIVEIRA, Mônica.; ALMEIDA, Carla. (orgs.) Exercícios de micro-história. Rio de Janeiro:
Editora FGV, 2009.

MACHADO, Cacilda. A Trama das vontades: negros, pardos e brancos na produção da


hierarquia social do Brasil escravista. Rio de Janeiro: Apicuri, 2008.

MONTEIRO, Nuno G. ‘Casa e linhagem: o vocabulário aristocrático em Portugal nos


séculos XVII e XVIII’, in: Penélope – fazer e desfazer a História, no. 12, 1993.

MONTEIRO, Nuno G. (coord.) MATTOSO, J. (dir.). História da Vida Privada em Portugal. A


idade moderna. Lisboa: Círculo de leitores, 2013.

NAZZARI, Muriel. O desaparecimento do dote: mulheres, famílias e mudança social em


São Paulo, Brasil, 1600 a 1900. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.

TELLES, José Homem Correa. Commentario crítico à Lei da Boa razão. Lisboa:
Typographia de Maria da Madre de Deus, 1865.

OLIVEIRA, Victor L. A. Retratos de Família: sucessão, terras e ilegitimidade entre a nobreza


da terra de Jacarepaguá, séculos XVI-XVIII. Dissertação. Mestrado em História. Instituto de
História – UFRJ, 2014.

OLIVEIRA, Victor L. A. Algumas notas sobre demografia, terras e elites no Recôncavo da


Guanabara do século XVIII. In: Revista Latino-Americana de História Vol. 3, nº. 11 –
Setembro de 2014. Disponível em:
http://projeto.unisinos.br/rla/index.php/rla/article/viewFile/457/442 Acesso em:
18/02/2015.

Aedos, Porto Alegre, v. 12, n. 27, março 2021.


463

PEDROZA, Manoela. Engenhocas da Moral: redes de parentela, transmissão de terras e


direitos de propriedade na freguesia de Campo Grande. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional,
2011.

SAMPAIO, A. C. J. Na Encruzilhada do Império: hierarquias sociais e conjunturas


econômicas no Rio de Janeiro (1650-1750). Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2003.pp.
57-92.

SCHWARTZ, Stuart B; LOCKHART, James. A América Latina na época Colonial. Rio de


Janeiro: Civilização Brasileira, 2010.

SCOTT, Ana Silvia Volpi. Famílias, formas de união e reprodução social no noroeste
português. São Leopoldo: Ed. Unisinos, 2012.

SILVA, Maria B. N. Sistema de casamento no Brasil Colonial. São Paulo: Edusp, 1984.

TOSTES, Ana P. C. O lugar social dos homens “pardos” no cenário rural da Cidade do Rio
de Janeiro (Recôncavo da Guanabara, Freguesia de Nossa Senhora do Desterro de
Campo Grande, século XVIII). Dissertação de mestrado. UFRJ/IH, 2012.

VIDE, Dom Sebastião Monteiro da. Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia.


Typographia 2 de dezembro de Antonio Louzada Antunes. São Paulo: 1853.

Aedos, Porto Alegre, v. 12, n. 27, março 2021.

Você também pode gostar