Você está na página 1de 271

Contato do autor:

jibare@infonet.com.br
IBARÊ DANTAS

MEMÓRIAS DE FAMÍLIA
(O PERCURSO DE QUATRO FAZENDEIROS)

Aracaju-SE, 2013
© 2013, José Ibarê Costa Dantas

Revisão: Silvia Góis Dantas


Editoração Eletrônica: Adilma Menezes
Capa: Comunicação UP

Dantas, Ibarê
D192m Memórias de família: o percurso de quatro
fazendeiros. Aracaju-Se. Criação, 2013.
270 p. ilust.
ISBN: 978-85-62576-79-9

1. Biografia - Sergipe. 2. Biografia - Genealogia. I.


Títulos.

CDU: 9 (929.5)
À memória de meus ancestrais aqui lembrados.

Edição comemorativa ao centenário de nascimento de


David Dantas de Brito Fontes
(1913-2001)
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 7

O Autor

José Ibarê Costa Dantas (1939) nasceu


no município de Riachão do Dantas (Sergi-
pe), onde realizou seus primeiros estudos
no Educandário D. Bosco. Em 1951, migrou
para Aracaju, cursou o ginásio interno no
Jackson de Figueiredo e concluiu o segundo
grau em Salvador.

Na busca de sua autonomia financeira, esteve em 1962 em São


Paulo, trabalhando no Banco do Povo e estudando. De volta a Araca-
ju, prestou concurso para o Banco do Brasil, onde serviu por cerca
de treze anos.

Durante esse tempo, licenciou-se em História, publicou seu pri-


meiro livro e ingressou no magistério da Universidade Federal de
Sergipe. Posteriormente, concluiu o mestrado em Ciência Política na
UNICAMP e persistiu a estudar a história política de seu Estado.

Lecionou na Graduação e na Pós-Graduação várias disciplinas,


proferiu numerosas palestras em eventos dentro e fora da Universi-
dade, apresentou diversas comunicações em congressos, participou
de vários colegiados e foi um dos fundadores e primeiro coordena-
dor do Núcleo de Pós-Graduação em Ciências Sociais na UFS.

Ao aposentar-se, permaneceu dedicado às suas pesquisas e parti-


cipando de fóruns dentro e fora do Estado nas áreas de Ciência Políti-
ca e de História. Presidiu o Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe
de dezembro de 2003 a janeiro de 2010 e foi agraciado pela Universi-
dade Federal de Sergipe com o título de Doutor Honoris Causa.
8 IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA

Casado com Beatriz Góis Dantas, professora e pesquisadora de-


dicada à Antropologia, tem dois filhos e três netos.
Publicou artigos em jornais, revistas e anais, enquanto produzia
os seguintes livros:
1. O Tenentismo em Sergipe (Da Revolta de 1924 à Revolução de
1930). Petrópolis-RJ, Vozes, 1974, 252 p.
2. A Revolução de 1930 em Sergipe: Dos Tenentes aos Coronéis.
São Paulo, Cortez, 1983, 199 p.
3. Coronelismo e Dominação. Aracaju, Diplomata-UFS, 1987, 110 p.
4. Os Partidos Políticos em Sergipe (1889-1964). Rio de Janeiro,
Tempo Brasileiro, 1989, 341 p.
5. A Tutela Militar em Sergipe, 1964-1984 (Partidos e Eleições
num Estado Autoritário). Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro,
1997, 363 p.
6. Eleições em Sergipe (1985-2000). Rio de Janeiro, Tempo Brasi-
leiro, 2002, 312 p.
7. História de Sergipe: República (1889-2000). Rio de Janeiro,
Tempo Brasileiro, 2004, 334 p.
8. Leandro Ribeiro de Siqueira Maciel (1825-1909). O patriarca
do Serra Negra e a política oitocentista em Sergipe. Aracaju:
Criação, 2009, 478 p.
9. História da Casa de Sergipe: Os 100 anos do IHGSE (1912-
2012). São Cristóvão, Editora UFS; Aracaju: IHGSE, 2012, 491 p.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 9

PREFÁCIO

Sílvia Góis Dantas*1

Vivemos um tempo marcado pela urgência e pela ênfase no mo-


mento presente. Por todos os lados, as mensagens convocam: Car-
pe diem, “aproveite o dia”, “a vida é agora”. Incitada pelo consumo,
motor da sociedade capitalista, a novidade superou a ideia de per-
manência e segurança, que antes parecia tão inabalável. O celular
e o computador comprados ontem já não satisfazem, embora fun-
cionem perfeitamente. O avanço tecnológico torna ultrapassados
objetos ainda novos e gera uma insatisfação permanente pelo que
está por vir, pela mais recente novidade, pela última moda, pelos
livros que ainda estão no prelo, mas já anunciam a pré-venda para
os apressados de plantão. Olhar para o futuro e viver o presente com
toda a força parece ser a tônica desses novos tempos.
Voltar-se para o passado pode parecer, então, um paradoxo
quando consideramos esse fluxo. Mas é justamente o hiato que pre-
cisamos para encarar o mundo sob uma ótica diferente. Investigar
o passado é descobrir novas experiências, recuperar lições e apren-
der com nossos antepassados.
Ao longo de toda minha vida, tenho presenciado a labuta de meu
pai, autor deste livro, a percorrer os caminhos da história na sua
incansável jornada de pesquisador. Sempre fizeram parte da rotina
da casa fichas de anotações, cópias de documentos, pastas arquivos,
livros, revistas e jornais espalhados pela sua escrivaninha. Nos últi-
mos tempos, testemunhei-o, com a disciplina de trabalho que lhe é
característica, entretido com a documentação que meu avô lhe en-
tregou. São cadernos antigos, cartas, agendas, traslados, escrituras,

1
Publicitária, professora universitária, mestra em Comunicação e Práticas de Consumo
pela ESPM/SP.
10 PREFÁCIO

pilhas de papéis amarelados, que têm trazido grandes descobertas e


gerado narrativas como esta que agora você tem nas mãos.
Este livro tem o sentido de revelação da existência de seres hu-
manos em seus percursos esquecidos e ignorados. Com esse resgate,
passei a conhecer bem melhor os quatro personagens cujas biogra-
fias compõem essa obra: meu trisavô David Martins; meus bisavôs
Manuel Costa (Manezinho) e Francisco Dantas; e meu querido vovô
David Dantas. São meus ancestrais, dois dos quais conhecia apenas
pelos retratos. E meu trisavô nem por foto.
A partir da leitura, todos passam a evocar vivências, costumes an-
tigos, limitações, dificuldades e feitos. A representação fragmentada
que eu tinha até então, formada por meio da imaginação das histórias
que ouvi contar, foi complementada por trajetórias de vida delinea-
das, fundamentadas por meu pai a partir do seu acervo documental.
De repente, a memória deles tornou-se “mais palpável”. Fatos,
histórias, acontecimentos da vida de cada um tornaram-se referên-
cias da existência da família. Em relação ao meu avô paterno, meu
padrinho, de quem ouvi muitas histórias e com quem aprendi bas-
tante, quando pensava que o conhecia muito, surpreendi-me com a
narrativa de sua luta, sua determinação, seu espírito empreendedor
e sua resistência no enfrentamento das adversidades.
No conjunto, observei que o texto é também uma amostra, uma ilus-
tração do ambiente e das atividades de quatro fazendeiros de gerações
diversas, atuando no espaço rural. Eles enfrentaram as intempéries da
natureza, as dificuldades de seu tempo, investiram, administraram pro-
priedades e, eventualmente, como representantes da elite local, presta-
ram sua contribuição à ordem político-administrativa municipal.
Curiosamente, o autor que investiga o percurso dos ascenden-
tes fazendeiros foi o único dos quatro irmãos que não se dedicou a
essa atividade. Atraído pelas histórias e pela sede de saber mais do
mundo e do seu estado, trocou o trabalho com a terra pela busca das
raízes. E é isso ele que nos proporciona: um encontro com nossas
raízes, onde jazem nossas referências, nossa memória e a origem da
nossa família. Boa leitura!
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 11

Sumário

Introdução 13

I. David Martins de Góes Fontes (1820-1904) 19


1. Origens familiares 19
2. De coletor a tabelião. Primeiro casamento 25
3. Segundas núpcias 32
4. Fazendeiro e político 36
5. Proprietário de escravos 45
6. Os filhos 50
7. Adversidades no crepúsculo 55

II. Francisco Dantas Martins Fontes (1871-1924) 61


1. Infância e mocidade 61
2. Fazendeiro 65
3. Incursão na política 72
4. Casamento e filhos 78
5. O fim brusco 86

III. David Dantas de Brito Fontes (1913-2001) 89


1. Infância 89
2. A tragédia de 1924 92
3. Primeiros tempos de fazendeiro: 1928-1937 100
4. Bom tempo no Boqueirão: 1937-1946 115
5. Tempo de fazenda e de cidade: 1947-1963 121
6. Tempo de atuação política: 1945-1963 132
7. Viageiro: 1963-1999 158
8. O crepúsculo: 2000-2001 168
12 PREFÁCIO

IV. Manoel Costa e Silva (1883-1967) 177


1. Origens familiares 177
2. Casamentos 181
3. Senhor de engenho e fazendeiro 185
4. Filhos e netos 194

V. Epílogo 201

VI. Bibliografia 207

VII. Anexos
- Anexo I. Proprietários de Escravos do Município da Vila
do Riachão (1875) 215
- Anexo II. Falas de David Dantas na Câmara de
Vereadores (1961-1962) 219
- Anexo III. Genealogia 239
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 13

INTRODUÇÃO

A curiosidade sobre nossas origens parece ser um sentimento


muito generalizado entre os homens. De onde viemos, quem foram
nossos antepassados, como viveram, que lições nos deixaram são
algumas das indagações mais frequentes. Essa motivação afetiva
tende a fortalecer-se na velhice, quando as avaliações da existência
aumentam a percepção do efêmero.
Marc Bloch, um dos grandes historiadores do século XX, mos-
trou os limites do tema das origens, sem negar sua importância
como referência para a compreensão do presente,1 fato que adquire
sentido quando desperta iniciativas e incentiva a investigação com
o fim de encontrar raízes ignoradas, vislumbrar figuras olvidadas ou
em processo de esquecimento. Para Paul Ricoeur,

Tratando-se do esquecimento definitivo, atribuível a um apa-


gamento de rastros, ele é vivido como uma ameaça: é contra
esse tipo de esquecimento que fazemos trabalhar a memória,
a fim de retardar seu curso, e até mesmo imobilizá-lo.2

Com essas preocupações, o interesse pelos meus ancestrais am-


pliou-se e, beneficiado por algumas circunstâncias, terminei elabo-
rando estes pequenos ensaios.
Ao longo do tempo em que convivi com meu pai, David Dantas
de Brito Fontes (1913-2001), escutei muitas referências a seus an-
tepassados, especialmente a seus pais e avós. Eram informações re-
correntes, fruto das imagens que guardou de seus parentes. Falava
do ambiente da Fazenda Salobro, onde vivera seu avô, David Martins

1
Ver Marc Bloch. Introdução à História. Lisboa. Publicações Europa-América, 1965, p.
31-32.
2
RICOEUR, Paul. A Memória, a história o esquecimento. Campinas-SP: Unicamp, 2010, p.
435.
14 INTRODUÇÃO

de Góes Fontes (1820-1904), mas sempre me pareceu desconcer-


tante observar como as informações eram escassas, e os resquícios
de ruínas das construções de alvenaria eram diminutos. Não obs-
tante o passado parecer soterrado, ao longo da vida senti crescer a
curiosidade de conhecê-lo melhor.
Quando meu pai já estava doente, em fins dos anos noventa do
século XX, entregou-me algumas pastas de documentos herdados de
seu avô e de seu pai. Sabendo de meu interesse por “papel velho”,
forneceu-me também seus próprios escritos, produzidos ao longo
de sua vida.
Curioso sobre o conteúdo da documentação, nos idos de 1999
passei a lê-la e, a partir dos dados fragmentados, tentei sintetizar
por partes os percursos de meu bisavô David Martins de Góes Fon-
tes e de meu avô Francisco Dantas Martins Fontes (1871-1924). Meu
pai leu-os, fez alguns comentários, demonstrando satisfação, mas o
notei pensativo. Tratando-se de histórias de vida que ele conhecia
muito fragmentariamente, imagino que ficou procurando correla-
cionar a imagem que guardava de seus ancestrais queridos com a
representação que a documentação me permitiu efetuar.
Dois anos após a morte de David Dantas de Brito Fontes, li seus
próprios papéis e escrevi um texto sobre sua vida. Procurei também
entender mais a trajetória de meu avô materno, Manoel Costa Silva
(1883-1967), apesar da escassez de dados.
Assim surgiram essas memórias de quatro familiares. Nenhum
deles nasceu em Riachão do Dantas, mas todos foram fazendeiros
no município, aí viveram grande parte de suas vidas, constituíram
família e, em seu solo, foram sepultados. De gerações diferentes,
foram figuras representativas do patronato rural e tiveram alguma
experiência político-administrativa.
Esses pequenos estudos biográficos, em sua maioria, tornaram-
-se possíveis porque alguma documentação foi conservada. Não é
muito comum os fazendeiros se preocuparem em cuidar da memó-
ria. Absorvidos na faina diária da lavoura e da criação de gado, os
dias passam e a existência transcorre sem a preocupação de regis-
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 15

trar suas experiências e os acontecimentos dos negócios e da famí-


lia. Mas, quase todos os personagens cuidaram de anotar fatos e
seus negócios com menor ou maior frequência e preservaram do-
cumentos valiosos.
David Martins de Góes Fontes (1820-1904), meu bisavô pater-
no, deixou três cadernos, inclusive um típico “livro de assento”, de
que fala o historiador Evaldo Cabral de Melo3, ou seja, um caderno
de anotações de capa dura no qual registrava datas de nascimen-
to, batizado, casamento e morte de familiares, mas sobretudo notas
desordenadas sobre seus negócios: empréstimos, escravos, venda
e compra de gado e assim sucessivamente. Além desse documen-
to precioso, David M. G. Fontes nos legou traslados de escrituras,
cópias de inventários, cartas, notas de compras, promissórias de
créditos jamais resgatadas e o ato de D. Pedro II concedendo-lhe a
Serventia Vitalícia dos Ofícios de Tabelião de Lagarto. No conjunto,
esse material fala muito dos seus negócios e pouco de sua vida fami-
liar. De qualquer forma, o que sobreviveu permite acompanhar suas
atividades e algumas decisões de família.
Francisco Dantas Martins Fontes, meu avô paterno, anotou da-
dos sobre os filhos na mesma caderneta deixada pelo pai, preservou
os papéis herdados de seu genitor e acrescentou outros, entre os
quais escrituras, cartas e um livro de anotações dos trabalhadores.
De todos, o que mais valorizava os escritos era meu pai, David
Dantas de Brito Fontes. Conservou zelosamente toda a documenta-
ção recebida dos seus ancestrais, guardou correspondências desde
o tempo de menino, quando seus pais ainda eram vivos. A partir de
1929, quando começou a administrar seu pedaço de terra, dedicou-
-se a registrar semanalmente os pagamentos aos trabalhadores em
cadernos compridos de capa dura. Esses assentamentos continham
um preâmbulo com pequeno resumo das realizações do período,
acontecimentos familiares, negócios etc. Além desse tipo de anota-

3
Ver Evaldo Cabral de Melo. O Fim das Casas Grandes in Luiz Felipe de Alencastro
(org). História da Vida Privada no Brasil. São Paulo. Cia de Letras, 1997.
16 INTRODUÇÃO

ções, fazia registros mensais em cadernos específicos e balanços ao


final de cada ano. Ao longo da vida, intensificou o cultivo da escrita
e, a partir do final dos anos oitenta, escreveu diários. Ao todo, deixou
vasto material, inclusive centenas de cartas, telegramas, discursos,
artigos publicados em jornais, enfim, memórias sobre fatos de sua
vida, dos filhos e dos irmãos. Para um fazendeiro voltado para seus
negócios, essa tendência de registrar acontecimentos de forma tão
sistemática não parece muito comum e pode servir como uma amos-
tra de variados aspectos da vida cotidiana e de visões de mundo.
Como meu interesse era adquirir uma noção de conjunto do
percurso das vidas desses familiares, limitei-me a traçar um esbo-
ço sumário de cada uma das trajetórias dos quatro ancestrais. Não
pesquisei nos livros das igrejas e pouco em cartórios. Apesar disso,
beneficiei-me de uma documentação significativa de informações
escritas e de um convívio enriquecedor com meu avô materno e com
meu pai.
Quanto a meu avô Manoel Costa Silva, tudo indica que não cul-
tivou o hábito de anotações frequentes. Entretanto, lembro-me de
vê-lo escrevendo bilhetes que seriam enviados a algumas pessoas. É
verdade que não tive acesso à documentação deixada aos seus her-
deiros. Consultei apenas duas cadernetas pequeninas com poucas
anotações e escassas informações sobre partilha de gado e medição
de terrenos. Meu mano Francisco J. C. Dantas, na fase final deste tex-
to, confiou-me mais dois documentos reveladores. Há notícias que
outros papéis foram queimados por uma pessoa que fizera uma faxi-
na nos tempos em que Manoel Costa estava em Aracaju, adoentado.
Ademais, encontrei alguns ofícios seus no Arquivo Público do Esta-
do de Sergipe, dos seus tempos de delegado de Riachão, mas nada
que acrescentasse alguma coisa de importância. Como meu irmão
Francisco J. C. Dantas retratou-o em páginas belas e memoráveis do
seu livro Coivara da Memória, meus acrescentamentos têm apenas o
sentido de buscar compreender suas origens, sua trajetória e o con-
texto em que viveu, dentro de uma perspectiva histórica. Além do
romance referido, servi-me de depoimentos de seus descendentes
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 17

e um pouco de minha vivência em sua casa, onde nasci e habitei em


numerosos momentos.
Como se tratam de resumos biográficos, que tentam enriquecer
a memória da família, pesquisei sobre as origens e os descendentes
dos personagens aqui analisados. Com a colaboração de parentes e
amigos, montei uma seção especial de Genealogia na qual apresento
no Anexo III as diversas procedências dos quatro varões enfocados
e das suas respectivas consortes. Procurei também ilustrar o tex-
to com algumas imagens. Lamentei muito a perda dos retratos de
David Martins de Góes Fontes e de Celina Dantas de Brito Fontes
(1846-1912), meus bisavós paternos.
Enfim, servindo-me de meus instrumentos de historiador, ten-
tei perscrutar as atividades públicas e privadas de quatro familia-
res. Reconheço, todavia, que essa iniciativa tem duas faces. Pois,
enquanto construo uma síntese sobre os percursos de suas vidas,
resgatando-os do esquecimento, ao mesmo tempo, retiro-os do seu
repouso merecido para submeter seus atos ao juízo público, passí-
veis de incompreensões.
A única justificativa está em minha esperança de que este livro
contribua para ampliar o conhecimento do tempo em que eles vive-
ram, especialmente do passado da sociedade de minha terra, Ria-
chão do Dantas, carente de estudos.
Na fase final desse texto, submeti-o aos meus familiares e colhi
numerosas sugestões valiosas do irmão Francisco J. C. Dantas e dos
filhos José Ibarê Dantas Júnior e Sílvia Góis Dantas. Beatriz, minha
esposa, acompanhou-me há mais tempo com seu olhar perceptivo e
sua lucidez. A todos, o meu reconhecimento e a minha gratidão.

Aracaju-SE, setembro de 2013.

José Ibarê Costa Dantas


18 INTRODUÇÃO
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 19

DAVID MARTINS DE GÓES FONTES

(1820-1904)

1.ORIGENS FAMILIARES

Quando David Martins de Góes Fontes tinha oito anos, nos idos
de 1828, a fazenda de seu pai foi cercada por mais de 40 soldados e
dois oficiais de justiça a serviço do ouvidor. Os invasores dispararam
muitos tiros de pistolas, espingardas, bacamartes com demonstra-
ção de alegria. Para complementar a arbitrariedade, fizeram “gran-
de estrondo” e levaram consigo nove escravos.1
Esses dados são os únicos que encontramos sobre a primeira
fase da existência de David Martins de Góes Fontes. Filho de Fran-
cisco Xavier de Góes e de Maria José da Piedade, David Martins de
Góes Fontes deixou alguns registros sobre sua vida, entre os quais
a data do seu nascimento, 04.08.1820.2 Mas as incertezas abundam,
a começar pelo local de nascimento. Pelas informações que conse-
guimos, há duas hipóteses: a mais provável seria no Engenho Passa-
gem, situado no município de Lagarto, às margens do Rio Vaza-Bar-
ris, próximo dos limites com Itabaiana.3 A segunda teria ocorrido no
Engenho Senhor do Bomfim, do termo de Lagarto.4

1
Cf. Queixa apresentada no Conselho de Governo de Sergipe, em 22.11.1828, por Fran-
cisco Xavier de Góes, do termo da vila de Lagarto, contra o ex-ouvidor interino da
Comarca, Antônio Rodrigues Montes. Fo n t e : A r q u ivo N a c i o n a l , 2 2 . 1 1 . 1 8 2 8 .
IJ1 905.
2
Cf. Caderno de Anotações de David Martins de Góes Fontes. Arquivo do autor.
3
Diz Arivaldo Silveira Fontes, depoimento ao autor, 09.09.1999, ter visto um documen-
to referindo-se ao Engenho Passagem como propriedade da família.
4
Arquivo Nacional, 22.11.1828. IJ1 905.
20 DAVID MARTINS DE GÓES FONTES (1820-1904)

Sobre seus genitores, as informações são escassas. Especifica-


mente de seu pai, uma das poucas referências que encontramos está
na ata do Conselho de Governo, 22.11.1828, já referida. Ali consta
que o cidadão Francisco Xavier de Góes, do termo da vila de Lagarto,
apresentou queixa contra o ex-ouvidor interino da Comarca, Antô-
nio Rodrigues Montes. Por este documento, que se encontra no Ar-
quivo Nacional do Rio de Janeiro, o reclamante apresentou-se como
proprietário do Engenho denominado Senhor do Bomfim do termo
de Lagarto. Queixou-se Xavier de Góes dizendo que:

(...) estava em sua caza, eis que na sua chegada ao dia desoito
de Outubro passado fora cercado com huma alçada de mais
de quarenta Soldados, e dois officiaes de Justiça do Ouvidor,
disparando muitos tiros de pistola, Espingardas, e bacamar-
tes, de alegria disendo está a barba do Supplicante feita, e fa-
sendo grande estrondo, e alarido na fasenda do Supplicante,
e despoticamente lhe levarão nove escravos prézos, e pinho-
rarão mais onze, que por doentes ficarão com Depozitario,
assim como cento e vinte cabeças de gado vacum, e cinco
sendeiros, e hum Sitio de terras, e caza da Propriedade do
Supplicante, tudo para pagamento daquela divida, que para o
Supplicante está paga, e este sem ser Citado, e nem seguir os
termos legaes, sendo Procurador do mesmo Soares o Escri-
vão que serve perante o dito Ouvidor José Manoel Machado
de Araujo.5

Menos de um mês depois, na reunião do Conselho de Governo


da Província de 12.12.1828, Francisco Xavier de Góes reiterou a
queixa, não apenas contra o ex-ouvidor como também em relação

5
Queixa apresentada ao Conselho de Governo de Sergipe, em 22.11.1828, por Francisco
Xavier de Góes, do termo da vila de Lagarto, contra o ex-ouvidor interino da Comarca,
Antônio Rodrigues Montes. Fonte: Arquivo Nacional, 22.11.1828. [IJ1 905].
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 21

àquele que estava atuando, “Serafim Álvares d’Almeida Rocha, com


documentos”. Em face dessa denúncia, o Conselho deliberou

(...) de acordo com o Exmo. Presidente que fosse remetida


a dita representação e documentos ao dito Ouvidor interino
atual, por cópia, para sobre o seu conteúdo responder sem
perda de tempo com quanto se lhe oferecer.6

Esse fato indica que Francisco Xavier de Góes era um senhor


de engenho que gozava de certo respaldo. Pois, além de ser apre-
sentado como “proprietário de muitos bens”, foi pessoalmente ao
Conselho, representou com documentos contra a autoridade maior
do seu município no órgão máximo da administração provincial nas
primeiras décadas do século XIX e teve sua queixa acatada pelo co-
legiado e encaminhada. Por mais que fosse um procedimento bu-
rocrático, exprimia uma ação ousada, denotando autonomia e/ou
determinação.
Francisco Xavier de Góes faleceu em 13.02.1839. Pelo inven-
tário, do qual a mulher, Maria José da Piedade, foi a inventariante,
pode-se ver que, pelo menos naquele momento, o maior relaciona-
mento da família de Francisco Xavier de Góes era com a vila de La-
garto, embora o casal tivesse bens em Itabaiana.7 O patrimônio do
pai de David Martins de Góes Fontes, por ocasião do falecimento, era
composto de um engenho de fabricar açúcar, um sítio, um quinhão
de outro sítio e parte de uma casa na “rua da praça”, em Lagarto, no
valor de 10$000 (dez mil réis). Além disso, tinha algum ouro e prata,
criava cavalos, cabras, gado vacum, dispunha de aproximadamente
12 escravos (quatro de Angola, cinco crioulos e alguns mulatos).8 No

6
Ver Ata das sessões do Conselho de Governo da Província em 17.11.1828 e 12.12.1828
in Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, Ano V, Vol. V, n. 9, 1920, p. 168
e 176.
7
Cf. Inventário de Francisco Xavier de Góes, Arquivo do Judiciário de Sergipe, Comarca
de Lagarto, 17.03.1840, n. 1.134.
8
Eram considerados crioulos os escravos nascidos no Brasil e cabra todo mestiço inde-
finido, de negro, índio ou branco, de pele morena clara. Cf. Dicionário Houaiss.
22 DAVID MARTINS DE GÓES FONTES (1820-1904)

conjunto, os bens foram avaliados em 6:573$002 (seis contos, qui-


nhentos e setenta e três mil e dois réis). Retirando a meia da esposa,
como tinha muitos filhos, coube a cada herdeiro 275$000 (duzentos
e setenta e cinco mil réis).9
Talvez Francisco Xavier de Góes não fosse um grande proprie-
tário. Todavia, dentro dos padrões da época, seus recursos davam
para criar a numerosa família sem exagerada austeridade. A mãe
de David Martins de Góes Fontes, Maria José da Piedade, por vol-
ta de 1842 morava no Sítio Cassimba ou Cacimba10 e faleceu, em
25.04.1855, quando todos os filhos já eram maiores de 20 anos, uma
vez que o primeiro nasceu em 1819 e o último em 1835.11
Sobre o filho David Martins de Góes Fontes (a quem passare-
mos a chamar de David Fontes), desconhecemos como transcorreu
a infância e os estudos nos anos vinte do século XIX, quando Sergi-
pe tentava se afirmar como Província independente da Bahia. Em
compensação, a documentação que chegou até nós permite, em cer-
ta medida, acompanhar sua trajetória de vida, especialmente seus
negócios. Ressalte-se que David Fontes nos legou três cadernos
importantes sobre suas atividades. No primeiro e mais informativo
constam notas de pagamentos, dívidas, registros sobre nascimento
e morte dos escravos até abril de 1888, partilha de gado, negócios
em geral e registros sobre seus familiares, pais, irmãos e, sobretudo,
seus filhos, dando conta do nascimento, batismo, estudos e morte. O
segundo caderno está bastante mutilado por cupim. Estão aí regis-
tradas compras e vendas dos anos cinquenta e sessenta do século

9
Embora a relação dos irmãos de David não mencione o nome Maria, entre os herdeiros de
Francisco Xavier de Góes constavam três netos, filhos de uma Maria, já falecida, que havia
se casado com Gonçalo Teles da Mota. Os netos eram os seguintes: José Antônio de Góes,
Manoel Teles de Góes e Antônio Teles de Góes, todos residentes em Itabaiana. Cf. Inven-
tário de Francisco Xavier de Góes, Arquivo do Judiciário, Comarca de Lagarto, n. 1.134. Na
relação dos irmãos apresentada por David M. G. Fontes, não consta o nome de Maria.
10
Cf. Inventário de Francisco Xavier de Góes. Arquivo do Judiciário, Comarca de Lagarto,
n. 1.134.
11
Cf. Caderno de Anotações de David Martins de Góes Fontes. Arquivo do autor. Ver Gene-
alogia no Anexo III.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 23

dezenove, empréstimos, inclusive aos irmãos, letras promissórias.


No terceiro encontram-se, sobretudo, registros de compra e venda
de gado e terra.
Por suas notas, sabemos que seus pais tiveram pelo menos doze
filhos, nove dos quais varões, nascidos sequencialmente com in-
tervalo de pouco mais de um ano.12 David Martins de Góes Fontes
fora o segundo rebento da prole. Recebera o sobrenome de Martins
Fontes, quando seus pais não o adotavam, nem seu primeiro irmão,
que fora registrado como José Martins de Freitas Góes (30.06.1819-
20.10.1903).
No século XIX fato como este era comum, pois “não havia no
Império nenhuma lei civil fixando normas a respeito da matéria.”13
No caso, tratando-se da existência da tradicional família dos Mar-
tins Fontes14 em Lagarto, um dos quais chegou a capitão-mor, le-
vantamos duas hipóteses. Ou se tratavam de parentes ou fora uma
maneira de homenageá-la, incorporando o prestigiado sobrenome.
De qualquer forma, são apenas suposições. Quanto aos demais ir-
mãos, foram registrados os seguintes: João (08.09.1823-1899), Fi-
lipe (02.08.1825-19.01.1839), Francisca (31.11.1826-13.06.1921),
Mariana (*22.09.1827-?), Manoel (29.08.1829-29.04.1848), An-
tônio (*30.04.1830-?), Salvador (02.02.1832-01.04.1869), Diogo
(*02.03.1833-?) e Joaquim (*1835-?). Como o primeiro José tinha

12
Cf. Caderno de Anotações de David Martins de Góes Fontes. Arquivo do autor.
13
Luiz Felipe de Alencastro. Vida privada e ordem privada no Império. História da vida
privada no Brasil. São Paulo, Cia de Letras, 1997, p. 55.
14
Antônio Martins Fontes foi capitão-mor do Terço das Ordenanças da Vila do Lagar-
to. Seu filho João Martins Fontes (23.06.1762 ou 1768-Vila de Lagarto e 07.07.1848
Riachão) foi um dos doadores das terras de Riachão. Joaquim Martins Fontes (1798-
1860), filho de João Martins Fontes, foi político de destaque no século XIX. Conselheiro
do governo (1824-1834), membro da Assembleia Provincial (1835-1837, 1840-1843
e 1848-1849), deputado da Assembleia Geral (1834-1837), e chegou a ocupar a vice-
-presidência da Província. Ver Arivaldo Silveira Fontes. Figuras e fatos de Sergipe. Por-
to Alegre-RS, CFP SENAI, 1992 e Ricardo Teles Araújo. Famílias sergipanas do período
colonial (II), inédito digitalizado.
24 DAVID MARTINS DE GÓES FONTES (1820-1904)

sobrenome diferente, há dúvidas se os seguintes tinham o mesmo


sobrenome de David Martins de Góes Fontes.15
Sabe-se que Salvador Martins de Góes Fontes foi fazendeiro em
Lagarto, casou-se com Delmídia Francisca da Silveira, filha de Pau-
lo Freire de Mesquita, de Riachão, teve filhos e foi morto, em 1869,
pela mão do escravo Gregório, conforme anotou David M. G. Fontes
em seu primeiro caderno. Após a morte do esposo, Delmídia con-
traiu núpcias com José Gomes Pinto. Quanto a Joaquim, de quem se
conhece pelo menos uma filha, Astéria Fontes, fora dono do Enge-
nho Barreiro no município de Itabaianinha.16
Antônio tivera pelo menos um filho chamado Rodolfo Ramos
Fontes.17 Mariana Martins de Góes Fontes, em 1858, estava casada
com Matias Gonçalves Pereira Dantas e morava no sítio Cacimba,
termo de Lagarto, onde sua mãe residiu.18
Dispomos de mais informações do irmão mais velho de David.
José Martins de Freitas Góes19 fora vereador, delegado, juiz de paz
em Lagarto e membro de Mesa Eleitoral em Simão Dias. Depois,
transferiu-se para Riachão, onde passou a maior parte de sua vida.
Não obstante as escassas informações sobre os filhos de Fran-
cisco Xavier de Góes e de Maria José da Piedade, parece que poucos
permaneceram em Lagarto.

15
Cf. Caderno de Anotações de David Martins de Góes Fontes. Arquivo do autor.
16
Cf. Arivaldo Silveira Fontes. Carta ao autor em 15.03.2000. Robustiano Silveira Góes,
que fora chefe político em Itabaianinha, seria neto de Salvador. Em carta de 22.01.1912
a Francisco Dantas Martins Fontes, filho de David Martins de Góes Fontes, Robustiano
Góes o tratou por primo. Arquivo do autor.
17
Idem. Ibidem.
18
Encontramos um Antônio Martins de Góes Fontes, portanto com o mesmo sobrenome
de David, residindo em Aracaju nos anos setenta do século XIX, tesoureiro da Rece-
bedoria e proprietário do terreno onde foi levantada a Cadeia Pública, pelo qual foi
indenizado. Mas não sabemos se é da família. Cf. Cândido Augusto Pereira Franco. Com-
pilação das Leis da Província de Sergipe 1835-1880. Aracaju, Typ. F. Chagas, s/d., p. 126.
19
Cf. se observa pela árvore genealógica apresentada no Anexo III, José Martins de Frei-
tas Góes era meu trisavó pelo lado materno.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 25

Quanto a David Fontes, criado no seio de uma família numerosa,


herdou, por morte do pai, parte do engenho e o escravo João. Mais
importante, no entanto, do que essa pequena herança, foi sua for-
mação intelectual e a cadeia de relações que constituiu. Quando o
pai faleceu, David Fontes estava com 19 anos e sua aprendizagem
deveria estar em processo de desenvolvimento. Nos papéis que nos
restaram, não encontramos referência onde teria estudado nem que
grau teria cursado. Todavia, tanto pelos escritos deixados, revelan-
do certa correção e desenvoltura, quanto pelos cargos que ocupou,
pode-se inferir que teve uma formação bem acima da média do seu
tempo.

2. DE COLETOR A TABELIÃO. PRIMEIRO CASAMENTO

Quando ia completar dez anos da morte do pai, registrou em


seu caderno que se mudou para a vila de Lagarto, em 05.01.1849,
já como coletor. Onde andou antes? Ignoramos. Na eleição de
08.11.1852 encontramo-lo como presidente da Mesa Paroquial em
Lagarto.20 O fato é que, em 08.06.1854, num momento em que Sergi-
pe vivia um processo de modernização, sob a direção do presidente
Ignácio Joaquim Barbosa, D. Pedro II concedeu-lhe a serventia vita-
lícia dos Ofícios de Tabelião do Público, Judicial e Notas, e Escrivão
de Capellas, Resíduos e mais anexos do termo da vila de Lagarto,
Província de Sergipe.

20
Cf. Correio Sergipense, 27.11.1852.
26 DAVID MARTINS DE GÓES FONTES (1820-1904)

Foto 01 – Ato de nomeação de David Martins Góes Fontes da Serventia Vitalícia dos Ofí-
cios de Tabelião e Escrivão do termo de Lagarto. Arquivo do autor.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 27

Como uma nomeação dessa pelo Imperador não surge por aca-
so, depreende-se que conquistou alguma influência na pequena eli-
te que controlava o aparato político-administrativo.
Quando o julgávamos integrado na sociedade lagartense, em
16.05.1855, portanto, cerca de três semanas antes de sua nomeação
para tabelião, contraiu núpcias com Thereza Maria de Jesus, viúva
proprietária de parte do Engenho Ribeira de Cima, Termo de Nossa
Senhora do Socorro. David Fontes estava com 34 anos e Thereza com
36 anos. Não sabemos como conseguiu protelar a posse do cargo de
tabelião em Lagarto. De qualquer forma, ao residir em Laranjeiras,
que gozava do estatuto de cidade desde 1848, o casal David e There-
za vivia num dos centros urbanos mais dinâmicos da Província. Na
zona rural, levantamento de 1852 registrou 68 engenhos, número
somente ultrapassado por Capela.21 Naquela importante povoação,
escoadoura de grande produção açucareira, expandia-se uma gama
variada de serviços dos mais avançados de Sergipe. Quando David
Fontes parecia inserido nesse ambiente, explorando a propriedade
do casal, surgiu o surto de cólera morbus. Tendo aparecido primeira-
mente na vila de Campos em meados de setembro de 1855, a epide-
mia propagou-se rapidamente por quase toda a Província. Segundo
um estudioso do assunto, “em pouco mais de três meses morreram
vitimados pela moléstia mais de 30 mil sergipanos, numa população
em torno de 300 mil habitantes.”22 A tragédia maior ocorreu justa-
mente em Laranjeiras, onde “morriam diariamente 70 a 80 infelizes,
e dia houve de mais de 100.”23

21
José Antônio de Oliveira Silva. Relatório apresentado à Assembléia Provincial em
08.03.1852.
22
Antônio Samarone de Santana. As Febres de Aracaju: Dos Miasmas aos Micróbios.
1997. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais). Universidade Federal de Sergipe -
UFS, São Cristóvão, 1997, p. 12.
23
Barão de Maroim, vice-presidente. Relatório em que foi entregue a administração da
Província de Sergipe no dia 27.02.1856.
28 DAVID MARTINS DE GÓES FONTES (1820-1904)

Muita gente abandonou o centro urbano, inclusive autoridades


e médicos. Ao final, o número de óbitos foi registrado em 3.500,24
entre os quais estava a mulher de David Fontes. No dia 19 novembro
de 1855, pelas 10 horas da noite, pouco mais de seis meses após o
casamento, a esposa Thereza faleceu, assim como alguns escravos
da família. Em seu caderno, David Fontes registrou a data e a hora
do falecimento da esposa e o local do sepultamento: “na capela pró-
xima ao Poxim”.25
Diante dessa situação ameaçadora e dramática, o instinto de so-
brevivência de David Fontes levou-o a abandonar sem demora aque-
la cidade afetada pela epidemia.26 É curioso que, ao deixar Laran-
jeiras abruptamente, com alguns escravos e os bens que conseguiu
retirar às pressas, em vez de ir para Lagarto, onde vivera, foi para o
Riachão, onde residia seu mano José. Como este lugarejo também
estava afetado pela epidemia, embora em menor proporção,27 tem
sentido a versão de que teria estado no Engenho Salgado do sogro
do seu irmão José Martins de Freitas Góes, Paulo Freire de Mesquita.
Pouco depois comprou o sítio, que posteriormente seria conhecido
por Conforto, nas proximidades daquela povoação. Aí teria residido
pouco tempo e logo regressado para Lagarto.28
Nessa vila, David Fontes exerceu suas atividades de tabelião que
lhe rendiam algum dinheiro, conforme suas próprias anotações, e
tratou de receber a herança proveniente do inventário da esposa fa-
lecida. De um lado, teve direito a receber 490 mil réis decorrentes de

24
Antônio Samarone de Santana. As Febres de Aracaju: Dos Miasmas aos Micróbios.
1997. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais). Universidade Federal de Sergipe -
UFS, São Cristóvão, 1997, p. 39-40.
25
Cf. David Martins Góes Fontes in Caderno de anotações. Arquivo do autor.
26
Cf. depoimento da filha Mariana ao sobrinho David Dantas de Brito Fontes, retransmi-
tido por este ao autor.
27
Cf. Barão de Maroim, vice-presidente. Relatório em que foi entregue a administração da
Província de Sergipe no dia 27.02.1856.
28
Cf. depoimento da filha Mariana ao sobrinho David Dantas de Brito Fontes, retransmi-
tido por este ao autor.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 29

uma meação, de outro coube-lhe dois quinhões do Engenho Ribeira


de Cima, termo de Socorro, por morte da mesma.
Essa propriedade situava-se entre os engenhos S. Pedro, Ribei-
ra de Baixo e Junco. Sua irmã Mariana e o marido Mathias Gonçal-
ves Pereira, moradores do sítio Cacimba, eram possuidores de três
quinhões do mesmo Engenho Ribeira de Cima, que foi vendido ao
tenente José Bernardino de Sá por 5:548$000 (cinco contos e qui-
nhentos e quarenta e oito mil réis), conforme traslado da escritura
datada de 1858.29 Por tal venda, David recebeu promissórias que
certamente nunca foram quitadas, pois, deixou, entre seus papéis,
uma cópia de procuração, datada de 1878, autorizando receber a
dívida de cinco contos.
Os vínculos do proprietário Antônio Menezes Fontes da Cruz do
Engenho Ribeira de Cima com Lagarto aparecem explícitos numa
nota publicada na imprensa no ano 1857, por ocasião da fuga de
um escravo, quando anuncia que quem o encontrasse poderia en-
tregá-lo a uma das seguintes pessoas residentes naquela vila, quais
sejam: tenente-coronel Félix Barreto de Vasconcelos e Menezes, Da-
vid Martins de Góes Fontes e seu irmão Salvador Martins de Góes
Fontes.30 De qualquer forma, ficam algumas dúvidas: Se o escravo
fugiu de um engenho em Socorro, por que entregá-lo a pessoas de
Lagarto? Se David e Mariana tinham quinhões no Engenho Ribeira
de Cima, por que Antônio Menezes Fontes da Cruz apresentava-se
como dono?
Apesar dessas questões, é certo que David Fontes voltou para
Lagarto e levou uma vida folgada em termos financeiros. Segundo
depoimento de André Ramos Romero, pai de Sílvio Romero, David
dispunha de “uma das moradas de casas de taipa e telha na dita villa,

29
Na documentação do acervo de David, há um traslado de 03.08.57 no qual ele autoriza
Francisco Joaquim da Silva a receber 490 mil réis decorrente da meação e outro sobre
a venda de 2 (dois) quinhões do Engenho Ribeira de Cima. Sua irmã Mariana e o ma-
rido Mathias Gonçalves Pereira, moradores do sítio Cacimba, estavam envolvidos na
transação. Arquivo do autor.
30
Correio Sergipense, 08.07.1857, p. 4.
30 DAVID MARTINS DE GÓES FONTES (1820-1904)

(Lagarto), um sítio com casa, cercas e mais benfeitorias ao pé do


açougue da mesma, o escravo João crioulo, e Vitória cabra, gado e
açúcar.”31
Com disponibilidade de recursos, decorrente em parte das he-
ranças deixadas pelo pai, pela mãe e pela esposa, ambas mortas em
1855, David Fontes esteve a comprar terra32e emprestar dinheiro,
afirmando-se como homem de negócios empenhado em prosperar,
de forma que, em fins dos anos cinquenta, sua fama de homem abas-
tado já extrapolava a vila de Lagarto. Quando o presidente, Manoel
da Cunha Galvão, convocou, em outubro de 1859, os cem homens de
negócios e negociantes mais ricos da Província para tratarem da re-
cepção a D. Pedro II, que deveria visitar Sergipe em janeiro de 1860,
David Fontes foi incluído na lista.33
Por esse tempo, embora não tenhamos conseguido mapear a
teia de suas relações políticas, tudo indica que, nas eleições primá-
rias e secundárias do termo de Lagarto, David teria se envolvido
numa prática ilícita, fato comum, mas nem por isso justificável, na
Província.
No relatório apresentado na Câmara dos Deputados, sobre as
eleições primárias de Lagarto, constava o seguinte:

A eleição foi presidida pelo 3º. juiz de Paz. Cumpre notar que
foram fabricadas atas, que oficialmente figuram de legais, em
casa do tabelião David Martins de Góes Fontes, a fim de que
por este modo constasse, como convinha ao governo provin-

31
Correio Sergipense, ano XXII, n. 58, 14.09.1859, apud Sebrão Sobrinho. Tobias Barreto,
o Desconhecido Gênio e Desgraça. Aracaju, Imprensa Oficial, 1941, p. 56.
32
Em 1858, David Fontes comprou sítio com casas em Lagarto. Seis quinhões, herança
de João Martins Fontes e Diogo, por 160 mil reis. Nesse mesmo ano, emprestou quatro
contos por um ano a Raimundo José de Souza e Sra. para compra do Engenho Cocão,
escravos, mediante escritura de débito e hipoteca. Arquivo do autor.
33
Correio Sergipense, 08.10.1859.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 31

cial, que nenhum movimento se deu na mesma comarca du-


rante o processo eleitoral.34

No mesmo relatório, referindo-se ao pleito de Riachão, consta


ainda o seguinte:
A eleição legítima foi presidida pelo 1º. juiz de Paz Paulo
Freire de Mesquita, forjando-se uma duplicata no engenho
do tenente-coronel João Martins dos Reis, na qual figura de
presidente e 3º. juiz de paz.35

Na mesma página, ao referir-se às eleições secundárias de La-


garto, a denúncia se repete nos seguintes termos:

Neste colégio compareceram unicamente 56 eleitores, dei-


xando de votar os legítimos de Simão Dias, que, reunidos aos
duplicados do Lagarto e Riachão, fizeram uma duplicada em
casa do tabelião David Martins de Góes Fontes. 36

Ainda neste ano, David Fontes foi nomeado comissário vacina-


dor do município de Lagarto, em consideração “ao seu merecimento
e mediante proposta do Dr. Comissário vacinador provincial.”37 No
ano seguinte, foi indicado para compor a comissão de três membros
encarregada de organização estatística da lavoura, mineração, in-
dústria e comércio e navegação na mesma vila.38
Quando parecia bem estabelecido em Lagarto, como proprie-
tário de terra e autoridade pública, prestigiado pelo governo para
várias funções, David Fontes deixou o ofício de tabelião e mudou de
profissão.

34
Anais da Câmara dos Deputados. Rio de Janeiro. Sexta sessão preparatória em 20 de
abril de 1861, p. 41.
35
Idem. Ibidem.
36
Idem. Ibidem.
37
Cf. Correio Sergipense, 09.11.1861.
38
Cf. Correio Sergipense, 1862.
32 DAVID MARTINS DE GÓES FONTES (1820-1904)

Quais os motivos dessa decisão? Não sabemos. Uma possibilida-


de seria seu envolvimento na política local ao lado dos conservado-
res que predominaram nacionalmente desde 1852. Como os liberais
ascenderam em 1862, a situação de David Fontes pode haver se tor-
nado desfavorável, ao ponto de levá-lo a buscar outras atividades.
O fato é que, em 1864, alegando problema de saúde, solicitou
ao presidente da Província licença do cargo de Tabelião do Público,
Judicial e Notas, e Escrivão de Capellas, Resíduos, e mais anexos do
termo da vila de Lagarto. Aquele governante deferiu seu pedido e
David procurou outra forma de vida.39

3. SEGUNDAS NÚPCIAS

Há cerca de oito anos como tabelião,40 David Fontes deixou o


cargo na Vila de Lagarto e foi para Pombal (BA). Aí comprou terras
ainda em 1864 e, no ano seguinte, casou-se com a jovem Celina Dan-
tas de Brito,41 filha do coronel Gonçalo Dantas de Brito42 e de Dona
Francisca Sérgia d’Oliveira Dantas. Era uma família pequena, pois os
pais de Celina tinham apenas dois filhos.
O sogro de David, Gonçalo Dantas de Brito, era uma personalidade
de destaque na região. Nascido em 02.08.1808, casou-se com Francisca
Sérgia de Oliveira, que lhe deu um casal de filhos: Benigno e Celina. Pro-

39
Cf. Correio Sergipense, 27.07.1864.
40
Quando vivia em Lagarto, David Martins de Góes Fontes teria passado algum tempo ama-
siado com uma índia que teria lhe dado pelo menos uma filha. Cf. declarações de David
Dantas de Brito Fontes, baseado em informações da tia Mariana. Há também indicações de
que David Martins de Góes Fontes seria o pai de uma filha da criola Amância, nascida em
1878 no Engenho Salobro. Cf. Livro n. 1 do Cartório de Riachão, período 1877-1879.
41
Entre os ancestrais de Celina Dantas, além dos relacionados abaixo, figuravam como
tios irmãos da mãe: Manoel da Silva Rabelo, Francisco Inácio de Macedo, Joana Fran-
cisca de Souza(?) e Maria da Silva Mattos. Cf. anotações no Caderno de David M. G.
Fontes. Ver também Genealogia no Anexo III deste livro.
42
Cf. J. C. Pinto Dantas Júnior. Cap-mor João D’Antas dos Imperiais Itapicuru in Revista do
Instituto Histórico da Bahia. Salvador, BA, Ed. Mensageiro da Fé, Ano XV, n. 15, 1967, p.
20. Ver também Cláudio de Britto Reis. Genealogia da Família Britto Dantas, Separata
da Revista Genealógica Brasileira, n. 4, 1941, p. 22-23. Arquivo do autor.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 33

prietário do moderno Engenho Sítio, termo de Pombal, Gonçalo Dantas


de Brito militou no Partido Liberal, conquistou alta patente na Guarda
Nacional e ocupou outros cargos, entre os quais o de Diretor dos Índios
da comarca de Itapicuru e coletor da vila de Pombal, nomeado em no-
vembro de 1861. Gonçalo Dantas faleceu em 26.01.1867.43
Benigno Dantas de Brito nasceu em 21 de agosto de 1845 no
município de Itapicuru. Formou-se em Direito em Recife em 1869.
Segundo registros em caderno de David Fontes, seu cunhado foi no-
meado pelo Imperador encarregado de negócios no Peru. Depois, foi
adjunto de promotor público de Pombal, juiz municipal e de órfãos
do termo de Itabaianinha e Campos (Sergipe), onde tomou posse no
dia 1º de março de 1875. Integrou-se na estrutura da burocracia do
Império, em 1879 foi nomeado juiz de Direito de Cucuí no Alto Ama-
zonas, depois esteve em Pindamonhangaba (SP). Ocupou os cargos
de chefe de polícia das províncias do Amazonas, Espírito Santo e São
Paulo. Como juiz, em 12.01.1884 foi removido para Itapicuru (BA) e,
em 21.01.1891, para Barra de Sergipe do Conde (BA). Organizada a
magistratura estadual baiana no início do período republicano, em
1892 tornou-se desembargador do Tribunal de Apelação e Revista,
tendo se aposentado em 1897.
Homem vivido, Benigno Dantas escreveu várias cartas aos seus
parentes, sua mana Celina Dantas de Brito Fontes, seu cunhado Da-
vid Fontes e seu sobrinho Francisco Dantas Martins Fontes, entre
outros, nas quais revelava seu senso de realidade e sabedoria, con-
forme veremos adiante.44
Após a aposentadoria de desembargador, com larga experiência de
vida, Benigno Dantas de Brito participou da política partidária. Paren-
te e amigo próximo do influente Cícero Dantas Martins (1838-1903),
o Barão de Geremoabo, com ele manteve correspondência.45 Após a

43
Cf. J. C. Pinto Dantas Júnior. Ob. cit., p. 20 e Cláudio de Britto Reis. Ob. cit., p. 23.
44
J. C. Pinto Dantas Júnior. Ob. cit. p. 349 e Cláudio de Britto Reis. Ob. cit., p.23.
45
Ver Consuelo Novais Sampaio (org.). Canudos: Cartas para o Barão. 2 ed. edUSP, São
Paulo, 2001.
34 DAVID MARTINS DE GÓES FONTES (1820-1904)

morte desse grande proprietário rural e político, Benigno Dantas foi in-
tendente Municipal de Itapicuru no quatriênio 1904-1907 e no biênio
1916-1917. Nessa cidade, faleceu a 17 de setembro de 1918.46
O matrimônio de David Fontes com Celina Dantas de Brito Fontes,
conforme suas anotações minuciosas, foi celebrado às oito e um quar-
to da noite de 26.08.1865, no oratório do Engenho do Sítio Freguesia
da Ribeira pelo vigário Manoel Ladislau de Jesus, tendo a noiva a ida-
de de 18 anos e oito meses, enquanto o noivo já estava com 45 anos.47

Mapa da região, de Pombal a Itapicuru.

46
Cf. J. C. Pinto Dantas Júnior. Descendências de Francisco Ferreira de Brito e do Cap.
José Bernardo Leite. Revista Genealógica Brasileira, n. 04, 1941, p. 349 e Cláudio de
Britto Reis. Ob. cit., p.23.
47
Cf. David Martins de Góes Fontes. Caderno de Anotações. Arquivo do autor.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 35

Embora David Fontes já tivesse propriedade rural em Pombal


(BA), após o matrimônio, foi residir na província de Sergipe. Juntou
os recursos já disponíveis com o dote da esposa no valor de três
contos de réis em dinheiro e mais os escravos recebidos por ocasião
do casamento e optou por viver essa nova fase de sua vida no muni-
cípio de Riachão com a esposa Celina Dantas.
O coronel Gonçalo Dantas de Brito e Francisca Sérgia d’Oliveira
Dantas, pais de Celina Dantas, dispunham de um considerável patri-
mônio. Por morte de Gonçalo Dantas de Brito, em 1867, seu inventá-
rio registrou 35 escravos, o engenho Sítio, mais seis áreas menores
de terras, casas na Ribeira, duas moradas em Pombal, cerca de 170
cabeças de gado bovino e mais 150 ovinos e 50 caprinos, 18 animais
de montaria, cavalos e burros, quatro carros de bois, máquina de
descaroçar algodão, além de dívidas a receber, de forma que tudo
foi avaliado em 39:630$000. Descontando a meia da esposa, coube
a cada herdeiro 9:907$300. Como David Fontes e Celina Dantas já
haviam recebido o dote de três contos por ocasião do casamento,
coube-lhes dessa vez menos de sete contos. De qualquer forma, era
uma significativa herança.48

48
Inventário datado de 12.02.1867 do coronel Gonçalo Dantas de Brito, falecido em
26.01.1867. Arquivo do autor.
36 DAVID MARTINS DE GÓES FONTES (1820-1904)

4. FAZENDEIRO E POLÍTICO

A opção por residir em Riachão pode ser compreendida pelos


laços que David Fontes mantinha com um grupo de proprietários
rurais estabelecidos nos engenhos daquela localidade.
Para entendermos melhor o contexto, vale a pena recordar que
a ocupação do território de Riachão começou nos primeiros séculos
da colonização em locais (Palmares, Forras e Bonfim) que jamais
chegariam a vila. A povoação, que se transformaria em sede munici-
pal, somente começaria a formar-se no início do século XIX em tor-
no do engenho de João Martins Fontes.49
A iniciativa de doar terras para a Igreja, formalizada por seus
herdeiros em 1853, indicou um passo significativo no sentido do ar-
raial ganhar foro de freguesia que se concretizaria dois anos depois.
Foi justamente neste último ano (1855) que David Fontes dei-
xou Laranjeiras, afetada pela cólera morbus, e foi acolhido no En-
genho Riachão por seu proprietário Paulo Freire Mesquita.50 Este
senhor, mais conhecido como Paulo Lebre, era um dos herdeiros dos
bens de João Martins Fontes51 e sogro de dois irmãos de David: José
Martins de Freitas Góes, que já vivia em Riachão, e Salvador Martins
Fontes, então fazendeiro em Lagarto.
Quando o surto de cólera diminuiu em Lagarto,52 provavelmente
já em 1856, David Fontes regressou àquela vila e assumiu as fun-
ções de Tabelião do Público, Judicial, e Notas, e Escrivão de Capellas,
Resíduos. Ali permaneceu até 1864, quando deixou o cartório e foi

49
Arivaldo Silveira Fontes. Figuras e fatos de Sergipe. Porto Alegre/RS, CFP SENAI, 1992,
p. 113-146.
50
Paulo Freire Mesquita casou-se com Maria Francisca da Silveira (1815-1892), uma
descendente dos Martins Fontes. Cf. João Dantas Martins dos Reis. A cidade de Riachão
do Dantas, como começou. Aracaju-SE, 1949, p. 14.
51
Observe-se que as terras doadas formalmente à Igreja pelos herdeiros de João Martins
Fontes, falecido em 1848, estavam dentro da área herdada por Paulo Freire Mesquita.
52
Depois de Laranjeiras, Lagarto foi o município que registrou maior número de mor-
tes, 1.374. Cf. Antonio Samarone de Santana. As febres de Aracaju, dos miasmas aos
micróbios. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação do NPPCS da UFS,
Aracaju, 1997. p. 40.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 37

para o sertão da Bahia, onde comprou terra, casou-se em 1865, e


voltou a Sergipe para estabelecer-se em Riachão.
Recorde-se que essa freguesia fora elevada a vila em 1864, mas
com a ascensão do partido liberal, o estatuto foi revogado. Indepen-
dente disso, David Fontes, que já era próximo de alguns parentes e/
ou herdeiros de João Martins Fontes, ampliou seu círculo de rela-
ções com outros importantes proprietários, entre os quais Alexan-
dre de Souza Vieira, também genro de Paulo Lebre, e com o coronel
João Dantas Martins dos Reis, chefe político já influente, do Engenho
Fortaleza.53
Dispondo desses vínculos com parte importante da elite local,
David Fontes adquiriu casa e terras cobertas de viçosas matas vir-
gens para explorar. Conforme os traslados de sua documentação,
em dezembro de 1865 David Fontes comprou a Alexandre de Souza
Vieira e Sra. Maria Francisca Freire de Mesquita, através do procu-
rador Dr. Benício Dantas Martins, uma casa de taipa e metade do
terreno denominado Riachão e Murituba por dois contos de réis.54
Um pouco mais tarde, seu mano José passou a viver no sítio Pontes
e o engenho construído na década de 1870, tomaria o nome de São
José das Pontes,55 depois abreviado para São José. Mais tarde seria
chamado de Olho do Boi.
Há também um extrato de escritura de compra e venda de 1866,
que trata da compra efetuada por David Fontes, em parceria com
Alexandre de Souza Vieira, de uma área de terras na Freguesia de
Riachão dos herdeiros do Comandante Superior da Imperial Ordem
da Rosa e Comandante da Guarda Nacional, domiciliado no termo de
Estância, Antônio Martins Fontes e sua mulher Maria Francisca Cos-

53
João Dantas Martins dos Reis (1830-1890) nasceu em Camuciatá, Itapicuru-BA, mas
residiu de 1851 até a morte no engenho Fortaleza (Riachão), afirmando-se como o
político representante de Riachão mais importante no século XIX. Ver João Dantas
Martins dos Reis. A cidade de Riachão do Dantas, como começou. Aracaju-SE, 1949; J. C.
Pinto Dantas Junior. O capitão-mor João D’Antas e sua descendência. Revista Genealó-
gica Brasileira. Ano I, n.. 2, 1940, p. 396.
54
Cf. Extrato de Escritura de compra e venda de 16.12.1865. Arquivo do autor.
55
Cf. Arivaldo da Silveira Fontes. Carta ao autor em 15.03.2000.
38 DAVID MARTINS DE GÓES FONTES (1820-1904)

ta Fontes, tendo por procurador o coronel João Dantas Martins dos


Reis. Os dois teriam pago pelo imóvel dois contos de réis. A descri-
ção dos limites dessa terra sugere que se tratava do Salobro e, pos-
sivelmente, também do Boqueirão,56 duas fazendas ligadas entre si.
Como essas terras, praticamente inexploradas, careciam de
marcos que indicassem com precisão a área de cada proprietário,
promoveu-se a demarcação. Nesse sentido, o documento que segue
cita algumas fazendas e nomeia vários proprietários da região, qua-
se todos aparentados.

Traslado de Escritura de demarcação e divisão, que entre si


fazem amigavelmente os herdeiros do finado João Martins
Fontes e mais compradores das terras denominadas Boquei-
rão, Praia Grande, Murituba, Riachão e Bury, da Freguesia de
Nossa Senhora do Amparo do Riachão, do termo da Villa do
Lagarto, cujas terras houverão por herança de seus finados
pais, avós, sogros, como consta dos respectivos inventários; e
bem assim de outro quinhão no Boqueirão que haverão da he-
rança da finada Micaella como tudo abaixo se declara. Saibão
quantos este público instrumento, ou como em direito melhor
nome e lugar tenha hoje(?) virem(?) no ano do nascimento de
Nosso Senhor Jesus Cristo de mil oitocentos e sessenta e seis,
aos quinze dias do mês de Março do dicto ano, neste Engenho
denominado de Riachão, da Freguesia de Nossa Senhora do
Amparo do Riachão, termo da Villa de Nossa Senhora da Pie-
dade de Lagarto, onde Taberlium fui vindo por ser chamado,
e me ser distribuída a presente escritura, sendo ahi perante
mim e testemunhas abaixo assinaladas compareceram os ou-

56
O referido terreno limitava-se da passagem do Riacho das Pontes na estrada real de
Lagarto, seguia para o Campo do Crioulo pela dita estrada acima até encontrar a divisão,
o rumo que dividia os vendedores dos compradores, seguindo este rumo até sair na
estrada do Colégio, que ia para Riachão, por esta abaixo até encontrar a antiga estrada
do Colégio antes de chegar ao sítio Pita do tenente Gaspar José de Carvalho Fontes. Cf.
parte do Extrato de Escritura de compra e venda de 03.07.1866. Arquivo do autor.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 39

thogantes Paulo Freire de Mesquita e sua mulher Dona Maria


Francisca da Silveira, José Martins Freitas Góes e sua mulher D.
Avelina Francisca da Silveira Góes, Alexandre de Souza Vieira
e sua mulher Dona Maria Francisca Freire de Mesquita, tenen-
te- coronel João Dantas Martins dos Reis e sua mulher Dona
Mirena Maria da Silveira Dantas, por si e como procuradores
de seu pai irmãos e cunhados tenente-coronel João Dantas dos
Reis, Dr. Cícero Dantas Martins e sua mulher D. Maria da Costa
Pinto Dantas, Dr. Fiel José de Carvalho e Oliveira e sua mulher
Dona Francisca Dantas da Silveira Carvalho, Gaspar José de
Carvalho e sua mulher Dona Inez Maria de Oliveira, Teófilo
Martins Fontes e sua mulher Dona Ana Joaquina de Almeida,
Antônio Martins Fontes de Carvalho, sua mulher Dona Maria
Bernarda Fontes de Carvalho, José Esteves da Silva, sua mulher
Dona Martinha da Silveira Fontes, Afro Martins (...) (continua
em página perdida).57

Era uma tentativa de os herdeiros e/ou novos proprietários


estabelecerem limites precisos com o processo de demarcação da
grande área de terras que antes pertencera ao fundador de Riachão,
João Martins Fontes.
O casal David Fontes e Celina Dantas inseriu-se nesse ambiente
e encontrou receptividade para se estabelecer. Passou a dispor de
casa na vila e construiu morada na Fazenda Nova Lua, que depois
tomaria o nome de Salobro, situado no termo de Riachão, que, em
1870, teve restaurado seu estatuto de vila. Tudo indica que, a essa
altura, a comunidade ainda não havia construído sua igreja matriz.
Mas o termo já dispunha de uma capelinha,58 em torno da qual a
população estabeleceu-se. O Censo de 1872 registrou uma popula-

57
Cf. Traslado de Escritura de demarcação, dos herdeiros do finado João Martins Fontes
e mais compradores das terras denominadas Boqueirão, Praia Grande, Murituba, Ria-
chão e Bury da Freguesia de Nossa Senhora do Amparo do Riachão, do termo da Villa
do Lagarto. Arquivo de David Martins de Góes Fontes. Arquivo do autor.
58
Cf. Pe. José Augusto. Revista de Sergipe, 1926.
40 DAVID MARTINS DE GÓES FONTES (1820-1904)

ção de 7.444 cidadãos livres (3.554 homens e 3.890 mulheres), en-


quanto os escravos totalizaram 868 (478 do sexo masculino e 390
do feminino).59 Entretanto, um relatório do ano seguinte indicou um
resultado próximo, mas diferente, ao tempo em que permitia ver
Riachão comparado com outras localidades.

QUADRO I
POPULAÇÃO E FOGOS
1872
Categorias Riachão Boquim Lagarto Aracaju
Fogos 1.322 1.080 2.282 1.578
Habitantes 7.296 5.355 10.423 6.192
Livres 6.518 4.614 9.268 5.689
Escravos 778 741 1.153 503
Nacionais 7.275 5.341 10.413 6.118
Estrangeiros 21 11 10 74
Sabiam Ler 409 363 705 1.717
Não Sabiam 6.887 4.092 9.918 4.475

Fonte: Relatório Apresentado à Assembléia Legislativa Provincial de Sergipe no dia 1º. de


março de 1873 pelo 1º. vice-presidente Cypriano de Almeida Sebrão in Jornal de Aracaju,
12.03.1873.

Observa-se que, em 1872, a população de Riachão superava a


do município de Boquim e a da capital, instalada em 1855. Compa-
rando-se com outras localidades, observa-se que Lagarto superava
todas em população, embora em Aracaju fosse bem maior o número
de pessoas alfabetizadas.
Apesar de a fazenda de David Fontes situar-se dentro da área
de Riachão, o proprietário continuou mantendo vínculos estreitos
com a sociedade de Lagarto. Em 21.06.1866, o presidente desta
Província, José Pereira da Silva Morais, ao nomear seis suplentes de
juízes municipais e de órfãos para cada uma das diversas comarcas,

59
Dados sobre Riachão. Arquivo Público do Estado de Sergipe. Apes, maço 286, AP s/n,
s/d, p. 58.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 41

no caso de Lagarto incluiu o nome de David Fontes.60 Tudo indica


que não era um posto decorativo, pois, pelo parágrafo 6º do regula-
mento, aos suplentes caberia “cooperar ativa e continuamente nos
atos de formação de culpa dos crimes comuns e mais propriamente
criminal de competência dos mesmos juízes.”61
Em 1872, por ocasião da organização de exposição de produtos
agrícolas, o presidente da Província de então nomeou comissão de
cinco nomes nos vários municípios. Na vila de Lagarto o nome de
David Fontes foi incluído ao lado das maiores autoridades do mu-
nicípio: o vigário José Pacheco da Silveira Neto, o juiz Geminiano de
Oliveira Góes, o Comandante da Guarda Nacional João Dantas Mar-
tins dos Reis e de Francisco Basílio dos Santos Hora.62
A distância da fazenda Salobro para Lagarto era de aproximada-
mente três léguas. Dispondo de cavalos bons, a viagem geralmen-
te durava cerca de duas horas. Em tempos de muita chuva havia o
problema das cheias do Rio Piauí, dificultando as travessias. Mas,
enquanto os animais passavam nadando, as pessoas atravessavam
sobre dois cochos amarrados entre si e puxados através de cordas
de uma margem a outra.
Apesar dessas ligações com Lagarto, David Fontes foi se inte-
grando à política da vila de Riachão. Ajudou a organizar a adminis-
tração e afirmou sua identidade sem perder os vínculos com a terra
de Sílvio Romero, assim como ocorria com seu irmão mais velho.
Devemos lembrar que José Martins de Freitas Góes, também tivera
uma atuação destacada em Simão Dias, onde fora membro da Mesa
Paroquial, e, sobretudo, em Lagarto como juiz de paz e vereador an-
tes de mudar-se para Riachão.63

60
Foram nomeados para Lagarto: Antônio Manoel, Dr. Benito Dantas Martins, Antônio
Correa Seabra, David Martins Góes Fontes, José de Souza Vieira e André Ramos Rome-
ro. Correio Sergipense, 22.06.1866.
61
Cf. Jornal de Aracaju, 06.12.1871, p 4.
62
Cf. Jornal de Aracaju, 07.09.1872.
63
Cf. Correio Sergipense, 27.01.1852 e 04.12.1852.
42 DAVID MARTINS DE GÓES FONTES (1820-1904)

Nessa vila nascente, encontramos David Fontes, em 1871, exer-


cendo o cargo de juiz de órfãos. O livro de Registro número 1 do
Cartório daquela povoação foi aberto por ele. Em 1876 candidatou-
-se ao pleito eleitoral e afirmou-se como o vereador mais votado, ao
lado de prestigiadas figuras da elite local, inclusive de seu amigo e
correligionário João Dantas Martins dos Reis, que chefiava o Partido
Conservador na região sul do Estado.64
Depois da morte do padre José Alves Pitangueira, a influência
do referido chefe do Partido Conservador sobre o eleitorado de
Lagarto passou a ser preponderante. Foi nesse contexto que David
Fontes foi eleito vereador.
QUADRO II
ELEIÇÕES PARA VEREADOR
ANO 1876
VILA DO RIACHÃO65

CANDIDATO VOTAÇÃO
David Martins de Góes Fontes 289
João Dantas Martins dos Reis 271
Capitão Manoel da Costa e Silva62 270
Tenente M. José de Araújo 208
Alferes J. Lopes de Almeida 200
Alferes Egídio da F. Dores 195
Fonte: Jornal de Aracaju, 28.10.1876.

Na mesma ocasião, o mano de David Fontes, José Martins de


Freitas Góes, era o mais votado para juiz de paz de Riachão com 370
votos, ao lado do alferes Pedro José de Carvalho com 364 votos, An-
tônio Martins Freire com 362 votos e João da Silva Matos com 360
votos.66

64
Sebrão Sobrinho. Laudas da História do Aracaju, Aracaju, 1955, p 117.
65
O capitão Manoel da Costa e Silva deve ser o Manuel do Taquari, avô de Manoel Costa
e Silva de quem tratamos no último capítulo deste estudo.
66
Jornal de Aracaju, 28.10.1876.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 43

Com a instauração do regime republicano, David Fontes conti-


nuou com alguma atividade pública ao ponto de em 1º.10.1892 ser
eleito para o Conselho Municipal daquela vila, permanecendo no
cargo até 1895.
Adquiridas as terras de Riachão e Murituba, em 1866 David
Fontes procurou estabelecer de forma amigável a definição de sua
área em relação ao seu parceiro Alexandre Souza Vieira67 e, em
13.12.1869, saiu a sentença da demarcação. Mas, tudo indica que
David Fontes não ficou inteiramente satisfeito com o resultado, uma
vez que contratou, em 14.01.1872, o engenheiro Francisco Leal de
Barros para correr rumo no lugar denominado Riachão e Murituba,
visando obter uma demarcação mais precisa. O terreno tinha como
confrontantes Teófilo Martins Fontes e Gaspar José de Carvalho Fon-
tes, conhecidos proprietários da região.
Por esse tempo, David Fontes continuou comprando terras e
casas. Em 1870, adquiriu uma morada de casa de taipa com dois
vãos em Riachão, por 500 mil réis. Era um vistoso sobrado na rua
coronel Paulo Cardoso, entre as casas de João Cardoso da Silva e dos
vendedores Benedito Ferreira de São José e Tereza Maria de Jesus.
Em 1873, comprou uma casa de Gaspar José de Carvalho Fontes, na
praça da matriz, vizinha à de Paulo Freire Mesquita por 150 mil réis.
Tal residência tornou-se uma referência da presença dos Dantas
em Riachão, sendo reformada e ocupada pelos seus descendentes
por mais de um século. Em janeiro de 1875, David Fontes negociou
com Paulo Freire Mesquita e Sra. Maria Francisca da Silveira a fa-
zenda Campos dos Viados e Jabeberi pela quantia de 600 mil réis.
Em 01.05.1876 comprou a José Teles de Góis e Senhora uma parte
de terras, denominada de Saco do Jabibiri, termo de Lagarto, por
170$000. Entre as vendas conhecidas existe a da fazenda Cardoso,

67
Alexandre Souza Vieira era concunhado de José Martins de Freitas Góes. Ambos eram
casados com filhas de Paulo Freire Mesquita, também conhecido por Paulo Lebre, que
residiu no Engenho Salgado.
44 DAVID MARTINS DE GÓES FONTES (1820-1904)

em 13.03.1868, a Francisco Xavier da Silva, que, com animais e ou-


tros bens, chegou a 3.310$000 (três contos, trezentos e dez mil réis).
Quando alguns negócios se revelavam mal sucedidos, costu-
mava empenhar-se para evitar o prejuízo. Exigia promissórias, ad-
quiria bens para abater débitos68 e, acreditando nas leis, registra-
va hipotecas de escrituras, fato que certa vez mereceu comentário
crítico de André Ramos Romero, pai de Sílvio Romero, no Correio
Sergipense de Aracaju, ao afirmar que David tornou-se credor pri-
vilegiado “por uma escritura de hipoteca” feita quando Raimundo
José de Souza, negociante de Lagarto, “se achava sobrecarregadís-
simo de dívidas, cujos credores alguns chorão sem remédio”(sic).69
Apesar desse empenho, ainda restaram-lhe em seus documentos 15
promissórias com valores oscilando entre e 28$000 e 2:751$528,
com datas diferentes, somando 8:077$428 (oito contos, setenta e
sete mil e quatrocentos e vinte oito réis), decorrentes de créditos
jamais recebidos.

68
Visando evitar maiores perdas, em agosto de 1881 David M. G. Fontes adquiriu de
Dionísio José de Menezes uma casa, terras, um quinhão da fazenda Jacaré e escravos
como solução da dívida por 2:310$000. Depois que David M. G. Fontes morreu, a vi-
úva Celina Dantas procurou identificar esse quinhão no cartório de Lagarto e jamais
teve sucesso. Em março de 1878 conseguiu que Francisco Xavier de Souza Cunha do
Município de Boquim, domiciliado no Engenho Boi, assinasse promissória de débito
no valor de 2.751$528, mas que jamais seria honrada. É verdade que a dívida já fora
maior, ou seja, de 3.412$724, razão por que renegociou em dezembro de 1869, rece-
bendo escravos e outros bens para abatê-la, mas Francisco Cunha faleceu anos depois
sem quitar o restante do débito da referida promissória.
69
O comentário crítico foi o seguinte: “Ninguém contrate por forma alguma com David Mar-
tins de Góes Fontes: 1º tabelião da Vila do Lagarto com uma das moradas de casas de taipa
e telha na dita villa, um sítio com casa, cercas e mais benfeitorias ao pé do açougue da
mesma, o escravo João crioulo, e Vitória cabra, gado e açúcar que diz receberá insolutum
de Raymundo José de Sousa, negociante n’aquela villa, e d’onde se retirou furtivamente
com família e quanto pôde conduzir, visto que o anunciante e outros pretendem em dis-
cussão judicial mostrar que na transação houve dólo, em fraude de muitos credores de não
pequenas quantias, apesar do sr. David julgar-se credor privilegiado por uma escritura de
hipoteca feita já quando Raimundo se achava sobrecarregadíssimo de dívidas, cujos cre-
dores alguns chorão sem remédio”. Lagarto, 10 de agosto de 1859, André Ramos Romero.
Correio Sergipense, ano XXII, n. 58, 14.09.1859, apud Sebrão Sobrinho. Tobias Barreto, o
Desconhecido Gênio e Desgraça. Aracaju, Imprensa Oficial, 1941, p. 56.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 45

Apesar da incursão na política, o centro principal das ativida-


des de David Fontes era a fazenda Salobro, onde desbravava matas,
plantava cana e algodão. Aí, logo construiu amplo sobrado e montou
infraestrutura para beneficiar algodão e produzir açúcar. Eram os
efeitos da Guerra de Secessão (1861-1865) nos Estados Unidos. Em
Sergipe, a exportação de algodão crescia muito e alcançava cifras
inéditas.70 Justamente quando a produção se tornava investimento
compensador, em 23.10.1866 David Fontes comprou, por 300$000,
uma máquina de descaroçar algodão de 30 serras a Manoel José Lo-
pes da Silva e Sobrinho, proprietário de empresa da Bahia. Adquiriu
também outros produtos, inclusive sacos de aniagem, ao tempo em
que vendia açúcar.71

5. PROPRIETÁRIO DE ESCRAVOS

Nascido e criado numa sociedade escravocrata, David Fontes


utilizou-se muito dos cativos. Cresceu servido pelos escravos de
seu pai. Quando este morreu, herdou um crioulo que ficou sob seu
controle. No seu primeiro caderno de anotações, há informações de
nascimento e morte dos escravos, resultando em cerca de 60 regis-
tros no período de 1848-1867. Quando saiu de Laranjeiras, após a
morte da primeira mulher, viajou com alguns escravos. Como pri-
meiro tabelião também dispunha de cativos. Quando se casou pela
segunda vez em 1865, na própria certidão de casamento fornecida
pelo padre Manoel Ladislao de Jesus, David Fontes solicitou ao vigá-
rio que fizesse:

70
Ver Maria da Glória Santana de Almeida. Sergipe: Fundamentos de uma economia de-
pendente. Petrópolis, Vozes, 1984, p. 131.
71
Em junho de 1870, David Fontes pagou na Bahia por uma máquina a vapor, com força
de quatro cavalos, acompanhada de apetrechos de seis volumes, o valor de 2:350$000,
bem como 500$000 por outra máquina de 50 serras. O transporte custou 138$000. Cf.
notas preservadas em sua documentação. Arquivo do autor.
46 DAVID MARTINS DE GÓES FONTES (1820-1904)

o competente lançamento no Livro de Desobriga da paróquia


da Freguesia de Nossa Senhora do Amparo da Ribeira Pao-
-grande não só de si, como de toda a mais família eu o aceitei,
e fiz o seguinte lançamento:
Cabeças de casal
David Martins de Góes Fontes, brasileiro, 42 anos
Celina Dantas de Brito Fontes, 18 anos
Escravos
João criôlo 25 anos
Estevão criôlo 20 anos
Carlisto criôlo 17 anos
Helena cabra 22 anos
Julia criôla 14 anos
Theofila cabra 24 anos
Leonel cabra 11 anos
Miguel cabra 10 anos
Bevenuta cabra 11 anos
Rita cabra 7 anos
Pastora cabra 6 anos
Simplício cabra 3 anos
Amâncio cabra 8 anos
Antônio angola 38 anos
Maria cabra 12 anos
Faustina criôla 2 anos
Beraldo criôlo 1 ano
Thomazia criôla 15 anos
Vitória cabra 25 anos
Josefa cabra 8 anos
Diamanta cabra 5 anos
Nada mais continha nem declarara em o dito lançamento no Li-
vro de Desobriga, que eu aqui fielmente copiei e trasladei nesta
mesma Freguesia de Nossa Senhora do Amparo da Ribeira.
21 de Outubro de 1865.
Manoel Ladislao de Jesus72

72
Cópia da certidão de casamento do acervo pessoal de David Fontes. Arquivo do autor.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 47

Foto 02 – Certidão de Casamento. Arquivo do autor.


48 DAVID MARTINS DE GÓES FONTES (1820-1904)

O casal de nubentes apareceu como cabeça da “família” registra-


da, envolvendo os 21 escravos, em idade variada entre um e 38 anos,
sendo sete crioulos e 13 cabras e um angola.
Tempos depois, em 24.02.1871, David Fontes contratou, em Ria-
chão, formalmente oito escravos de Francisco Xavier da Silva por
três meses pelo preço de 100$000 (cem mil réis).73
Para se ter uma dimensão do plantel de David Fontes em rela-
ção aos demais proprietários, recorremos à classificação dos escra-
vos para serem libertados pelo fundo de emancipação do governo
realizada entre 1873 e 1875.74 Por essa fonte, foram classificados em
Riachão 693 escravos que pertenciam a cerca de 121 proprietários. A
maioria desses donos, constituída por 61 pessoas, listava apenas um
ou dois indivíduos destinados à libertação. No entanto, um grupo de
15 senhores, que detinha a posse de maior parte dos cativos, incluiu
10 ou mais pessoas a serem libertadas, conforme quadro abaixo.

QUADRO III
MUNICÍPIO DA VILA DO RIACHÃO
PROPRIETÁRIOS COM DEZ OU MAIS ESCRAVOS INCLUÍDOS NA LISTA DE CLASSIFICAÇÃO
1872-1875

Proprietário Número de Escravos


1. Alexandre de Souza Vieira 14
2. David Martins de Góes Fontes 13
3. David Meneses de Góes Fontes 25
4. Dionísio da Silva Dantas 30
5. Domingos de Ávila Freitas 15
6. Felisberto Tolentino Alves 10
7. Francisco Barreto de Faria e Mello, Major 20
8. João da Silva Mattos 15
9. João Dantas Martins dos Reis 74
10. José Francisco Borges 17
11. José Freire de Meneses 38

73
Cf. documentação do acervo pessoal de David Fontes. Arquivo do autor.
74
Ver Josué Modesto dos Passos Subrinho (org.). Os Classificados da Escravidão. Aracaju,
IHGSE, 2008, p. 9 e 246-266.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 49

Continuação
12. José Meneses de Freitas Góes 18
13. Manoel Freire de Mesquita 12
14. Paulo Freire de Mesquita 16
15. Religiosos de Nossa Senhora do Carmo 17
TOTAL 334
Fonte: Lista de classificação dos escravos para serem libertos pelo fundo de emancipação
do município da vila do Riachão. DOC. N. 12, APES. AG1,03-ª DOC.5. Cf. Josué Modesto dos
Passos Subrinho (org.). Os Classificados da Escravidão. Aracaju, IHGSE, 2008.

Pelos dados acima, vê-se que David Fontes apresentou 13 escra-


vos para fins de emancipação. Nesse grupo havia sete pardos e seis
pretos, 11 mulheres e dois homens, nove deles com menos de 18
anos. Integravam a relação duas costureiras e uma cozinheira; e os
demais, que tinham acima de 12 anos, eram considerados lotados
na lavoura. Aqueles que não estavam disponíveis para ganharem a
liberdade não constavam da lista.
É implicante no Quadro III a existência dos proprietários David
Meneses de Góes Fontes e David Martins de Góes Fontes com nomes
bastante parecidos. Uma hipótese é que se tratavam da mesma pes-
soa. Esse Meneses no lugar de Martins pode ter surgido por um erro
de grafia ou por outro motivo qualquer. Reforçam a hipótese dois
elementos. 1. A ordem dos números da matrícula do David Martins
contém a numeração apresentada no segundo proprietário, David
Menezes. 2. Também aparece como Menezes no lugar de Martins o
irmão da David, José Martins de Freitas Góes.
De qualquer forma, mesmo admitindo que David Fontes era um
grande proprietário em termos de Riachão, não sabemos qual o to-
tal de seus escravos.75

75
A metodologia realizada por alguns de estabelecer uma estimativa, tomando como
referência o menor e o maior número da matrícula dos escravos listados para serem
libertados pelo fundo de emancipação, não se aplica no seu caso bem como em outros,
entre os quais o de João Dantas Martins dos Reis, pela grandeza do número obtido.
Ver Classificação dos escravos para serem libertos pelo Fundo de Emancipação, APES
AGI 03 B. doc. 12. Cf. Josué Modesto dos Passos Subrinho (org.). Os Classificados da
Escravidão. Aracaju, IHGSE, 2008.
50 DAVID MARTINS DE GÓES FONTES (1820-1904)

Depois da experiência como plantador de algodão e beneficia-


dor do produto, como a compra de serras e outros apetrechos suge-
re, David Fontes dedicou-se a produzir açúcar. Construiu um grande
engenho com sobrado, associado com o alambique, com material de
primeira qualidade, por volta de 1880. No levantamento efetuado
em 1881 sobre os engenhos de Riachão, o de David foi incluído en-
tre os 15 nomeados: Salgado, São José, Nova Lua do Salobro, Lagoa
Grande, Roça de Dentro, Bom Jardim, Grutão, Cajueiro, Campestre,
Cipozinho, São Pedro do Barão, Cipó, São João da Fortaleza, Monte
Alegre e Nobre, todos a tração animal. 76
Desfrutando de tantos recursos, como teria gerenciado seu pa-
trimônio? Seria um empreendedor de visão capaz de expandir seus
bens? Os dados disponíveis indicam que se tratava de um homem
com certo dinamismo e muito motivado pelos negócios. Além dos
investimentos no Engenho Nova Lua (Salobro), na produção de
açúcar e algodão, envolveu-se em numerosas transações com certa
objetividade, procurando ampliar seu cabedal, apesar de algumas
intempéries.

6. OS FILHOS

O casal David Fontes e Celina Dantas, ao estabelecer-se no Enge-


nho Nova Lua, que depois seria chamado de Salobro, no município
de Riachão (SE), prosseguiu cultivando os laços afetivos com fami-
liares de Ribeira do Pombal (BA) e os comerciais com fazendeiros
daquela vila. Basta saber que toda vez que Celina Dantas ia dar à luz
a um filho viajava com antecedência para a casa dos pais no Enge-
nho Sítio, termo de Pombal, onde nasceram os seus descendentes.

76
Cf. Francisco Antônio Pimenta Bueno. Ferro-vias. Preferência de Traçados para Ferro-
-Via na Província de Sergipe. Relatório apresentado a s. ex. sr. conselheiro Pedro Luiz
Pereira de Souza Ministro e secretário d’Estado dos Negócios Estrangeiros e interino dos
da Agricultura, Commercio e obras públicas. 1881. In Instituto Histórico Geográfico de
Sergipe, registro 23-24.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 51

O primeiro a aparecer foi João Dantas Martins Fontes em


11.07.1866. Batizado no dia 6 de dezembro de 1866 no Engenho
Sítio, Freguesia do N. Sra. de Amparo da Ribeira, pelo Revmo. Vigá-
rio Manoel Laudislao de Jesus, teve como seus padrinhos os avós
maternos, coronel Gonçalo Dantas de Brito e D. Francisca d’Oliveira
Dantas. O menor João começou a aprender a ler na fazenda Salobro
em 1873. Pouco depois foi levado para Itabaianinha, sede da Comar-
ca do Rio Real de Sergipe, onde ficou sob a tutela do seu tio Benigno
Dantas de Brito, então juiz daquela vila, onde João foi discípulo do
professor Ricardo Montárgil.77 Segundo o padre Antônio Carmelo,
esse lente era “havido como dos melhores professores da vila de
Itabaianinha”, tendo sido mestre do conhecido político monsenhor
Olímpio de Souza Campos.78
Em fins de 1877, o menino João foi transferido para Estância
e, no ano seguinte, foi discípulo do professor José Leandro da Cos-
ta Pinto até julho, quando adoeceu de febre palustre. Seu estado
agravou-se e, ao ser conduzido para Riachão, quando passava pelo
Engenho Fortaleza do coronel João Dantas Martins dos Reis, no dia
23.07.1878, faleceu. Antes, portanto, de chegar à casa dos pais. Foi
sepultado naquela vila.79
Depois de João veio Mariana Dantas Martins Fontes, cujo nome
homenageava a irmã de David Fontes. Nascida em 02.04.1867,
Mariana principiou a aprender as primeiras letras na fazenda em
16.02.1876, depois foi estudar em Lagarto com a professora D. Ma-
ria. Casou-se, em 27.04.1899, com Eduardo de Carvalho Fontes, que
recebeu como dote dez contos de réis, sendo três contos e novecen-
tos mil réis em cinco apólices estaduais e seis contos e cem mil réis
em moeda corrente.80 Nos primeiros anos o casal residiu no Salobro,

77
Cf. David Martins de Góes Fontes. Livro de anotações. Arquivo do autor.
78
Pe. Antônio Carmelo. Olímpio Campos Perante a História. Aracaju-SEC. 2 ed., 2005, p. 23.
79
Cf. relato escrito por seu tio Benigno Dantas de Brito e David Martins de Góes Fontes.
Livro de anotações. Arquivo do autor.
80
Cf. Recibo de 17 de dezembro de 1901, assinado por Eduardo Carvalho Fontes. Arqui-
vo do autor.
52 DAVID MARTINS DE GÓES FONTES (1820-1904)

mas, em 26.01.1900, deixou aquela fazenda para residir na vila de


Itabaianinha, onde tiveram o filho, Eurico Dantas Fontes, nascido
em 24.11.1901.81
Anos depois, Mariana foi a Laranjeiras tratar-se da vista. Segun-
do depoimentos de familiares, um famoso médico aplicou-lhe medi-
camento que, de imediato, lhe tirou a visão dos dois olhos definitiva-
mente. Retornou cega para Riachão e, pouco tempo depois, o marido
abandonou-a. Mariana foi então morar com sua mãe no Salobro e
aí permaneceu até quando esta faleceu em 1912. Nos anos trinta,
residiu por algum tempo em Itabaianinha, mas passou seus últimos
anos numa casa da Rua do Tanque, em Riachão, assistida por seus
familiares, especialmente pelo casal David Dantas e Miralda Fontes.
Mariana Dantas Martins Fontes faleceu em 1947.82

Foto 03 – Mariana Dantas Martins Fontes. Arquivo do autor.

O terceiro filho de David Fontes e Celina Dantas de Brito foi José


Dantas Martins Fontes. Conforme anotações de seu genitor, nas-
ceu em 07 dezembro de 1869 no Engenho Sítio, termo de Pombal.

81
Cf. David Martins de Góes Fontes. Livro de anotações. Arquivo do autor.
82
Cf. anotações de David Dantas de Brito Fontes e informações de familiares.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 53

Batizou-se no dia 03 de novembro de 1870, no oratório da fazenda


Sítio, tendo por oficiante o Revmo. vigário Manoel Laudislao de Je-
sus. Foram seus padrinhos seu tio Benigno Dantas de Brito e sua avó
D. Francisca Dantas de Oliveira. José Dantas começou a aprender a
ler na fazenda, foi aluno do professor Ricardo Montárgil em 187683
e prosseguiu os estudos em Lagarto, para onde foi conduzido em
19.04.1881. Depois estudou Direito na Faculdade de Recife, na qual
recebeu o diploma de bacharel no dia 05 de dezembro de 1893. Es-
tava com 24 anos. Na vida profissional, foi nomeado em 24.04.1894
para exercer a promotoria pública em Minas do Rio de Contas, pos-
teriormente dedicou-se à magistratura. Foi juiz preparador da Capi-
tal, juiz de direito de Maracás, nomeado em 25.07.1899; de Salinas e
Bom Conselho. Removido para Salvador em 1903, foi nomeado, em
11.10.1913, desembargador do Tribunal Superior de Justiça. Fale-
ceu em 26.11.1926, sendo sepultado no Cemitério do Campo Santo.
Escreveu, além da tese de concurso, os trabalhos: Manual do Contra-
tante e Bens do Evento. 84

Foto 04 – José Dantas Martins Fontes. Arquivo do autor.

83
Cf. David Martins de Góes Fontes. Livro de anotações. Arquivo do autor.
84
Cf. J. C. Pinto Dantas Júnior. Ob. cit. p. 350 e Cláudio de Britto Reis. Ob. cit., 1941, p. 23-24.
54 DAVID MARTINS DE GÓES FONTES (1820-1904)

O quarto filho de David Fontes e Celina Dantas de Brito nasceu


em 04.07.1871 e recebeu o nome de Francisco, sobre o qual tratare-
mos no próximo capítulo.85 A última filha do casal foi Digna. Nasceu
em Pombal em 03.06.1878 e faleceu em 06.07.1887 com nove anos,
provocando grande consternação à família.86
Enfim, todos os filhos de David Fontes e Celina Dantas de Brito
nasceram em Pombal, inclusive depois do falecimento de Gonçalo
Dantas de Brito, avô das crianças, em 1867. Naquela vila a parturien-
te ficava sob os cuidados da mãe, cumprindo o resguardo, conforme
o costume tão difundido na época entre as classes mais abastadas.
Conforme foi observado, o casal David Fontes e Celina Dantas
demonstrou grande disposição em encaminhar os filhos para os
estudos. Os meninos eram alfabetizados com os professores con-
tratados para ensinar-lhes na fazenda. No período de 1868 a 1891,
estiveram no Salobro pelo menos os seguintes professores: Vicente
Ferreira de Sales, Dionísio Barreto de Lima e Joaquim P. de Andrade
e José Dias.87 Curioso é que quando foi contratado o primeiro pro-
fessor, o filho mais velho estava com dois anos incompletos. Esse
fato leva-nos a pensar que a clientela dos mestres nem sempre se
restringia aos filhos do casal.
Quanto ganhava cada mestre? Em 1873, Dionísio Barreto de
Lima recebeu 19$224 num mês pelo serviço. José Dias, em 1879, foi
contratado por 200$000 por ano, cuja importância ia sendo libera-
da de acordo com as necessidades do mestre.88
Não obstante o costume muito em voga de deixar a menina em
casa, habilitando-se nas prendas domésticas, Mariana, nascida em
02.04.1867, depois da iniciação com dois sucessivos professores

85
Sobre Francisco Dantas Martins Fontes, ver capítulo seguinte.
86
Sobre Digna, a principal fonte é o Caderno de anotações de seu pai, David Martins de
Góes Fontes. Arquivo do autor.
87
David Fontes contratou, pelo menos, os seguintes lentes: Vicente Ferreira de Sales
(04.07.1868 a 14.03.1869), Dionísio Barreto de Lima (1873), Joaquim P. de Andrade
(04.03.1874 a 02.1876) e José Dias (04.1879 a 1891). Cf. David Fontes. Caderno de
anotações. Arquivo do autor.
88
Cf. David Fontes. Caderno de anotações. Arquivo do autor.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 55

no Engenho, foi levada ao Lagarto, em 16.02.76, para estudar com a


professora D. Maria. Não sabemos até que grau cursou.
Francisco, de quem trataremos melhor no próximo capítulo,
nasceu em 04 de julho de 1871, esteve nos primeiros oito anos como
filho mais moço, depois da aprendizagem em casa, em 28.06.83 en-
trou para o Colégio do Cônego Bernardino (BA).
Digna, que faleceu com nove anos, tudo indica que não chegou a
separar-se da família para frequentar escola.
Com as mortes de João e de Digna, dos cinco filhos restavam
três. José ficou pela Bahia e raramente aparecia em Riachão. Maria-
na depois da separação voltou a residir com os pais. Próximo ficou
também Francisco, dando assistência aos genitores, interrompida
por algumas saídas, nessa fase de dificuldades decorrentes da tran-
sição do trabalho escravo para o trabalho livre.

7. ADVERSIDADES NO CREPÚSCULO

A abolição da escravatura, como seria de esperar, provocou um


certo impacto na vida dos proprietários de escravos e na economia
da Província que no ano seguinte se tornaria Estado. Embora, em
Sergipe, já tivesse havido alforrias em várias unidades açucareiras e
já houvesse contratos de trabalhadores assalariados, nem por isso
a Lei Áurea deixou de trazer consequências significativas no setor
produtivo e nos serviços domésticos. A primeira safra de açúcar
pós-abolição rendeu 29% da média anual exportada no período
1871-1888.89 Num Estado que dependia, sobretudo, das exporta-
ções da produção rural, os efeitos foram amplos. O patronato em
grande parte endividou-se ou faliu, os comerciantes entraram em

89
Ver Josué Modesto dos Passos Subrinho. Reordenamento do Trabalho: trabalho escra-
vo e trabalho livre no Nordeste açucareiro, Sergipe 1850-1930. Aracaju: Funcaju, 2000.
p. 207.
56 DAVID MARTINS DE GÓES FONTES (1820-1904)

dificuldades, a arrecadação diminuiu e o governo passou a atrasar o


pagamento dos funcionários públicos.
No caso do Engenho Nova Lua do Salobro de David Fontes, de-
pois da libertação dos cativos, quase todos os escravos permane-
ceram na fazenda. Algum tempo depois, espalhou-se o boato que
quem permanecesse trabalhando com o senhor voltaria a ser escra-
vo. Então, quase todos arribaram. Permaneceu apenas uma velha
das mais apegadas à família. 90
Afora a carência de gente para trabalhar, as falências no setor
produtivo e no comércio repercutiram nos negócios de David Fon-
tes. A Caza Ingleza de Estância, de propriedade de Adolpho Ribeiro
Guimarães, a quem o proprietário do Engenho Nova Lua do Salobro
vendia o seu açúcar e comprava alguns produtos, declarou-se insol-
vente. Depois de acumular débitos por mais de um ano, afinal seu
proprietário escreveu ao senhor do Engenho Salobro, propondo a
liquidação da dívida, oferecendo-lhe “em pagamento os débitos de
devedores meus” para cobrir os 18:686$929 que lhe restava. A se-
guir, completava, sem cerimônia, não ver melhor maneira para Da-
vid Fontes, senão essa alternativa, diante da “decadência, desânimo
e más condições” que estava vendo.91 Na Caza Ingleza, David Fontes
vendia, mas também comprava muito, conforme notas velhas de seu
arquivo. Era uma notícia extremamente desagradável.
O prejuízo de dezoito contos de réis, em 1889, indicava forte gol-
pe. Sem escravos e sem receber de seus credores o produto de algu-
mas safras, David Fontes, àquela altura com 69 anos de idade, jamais
voltou a fabricar açúcar. Entretanto, esses contratempos estiveram
longe de levá-lo à ruína, como ocorreu com diversos outros proprie-
tários. Sendo homem de muitas posses, inclusive dinheiro em caixa,
já em 13.12.1894 encontramo-lo comprando de Américo Amorim

90
Cf. depoimento de David Dantas ao autor.
91
Cf. Carta de Adolpho Ribeiro Guimarães, da Caza Inglêsa de 18.12.1899 e notas pro-
missórias, Arquivo do autor.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 57

Pedreira a fazenda Lages no termo de Tucano, Pombal (BA), por 500


mil réis.
A decorrência maior da abolição para David Fontes foi a falta
de trabalhadores, tornando difícil alguma atividade lucrativa. Num
momento em que o comércio interestadual era muito reduzido, fora
do açúcar as alternativas no campo eram bem limitadas. A criação e
a engorda de gado vacum revelavam-se opções econômicas fracas,
pois a procura era pequena e o preço relativamente baixo. Tentava-
-se a criação de gado miúdo, ovino e caprino, o cultivo de legumes
e mandioca, mas tudo numa escala reduzida, próxima à economia
de subsistência. Diante das carências de força de trabalho, predo-
minava a vida vegetativa, quando se sobrevivia sem grandes pers-
pectivas de progresso. Era uma conjuntura problemática. Os mais
velhos procuravam coexistir com os tempos difíceis, mas os jovens
impacientavam-se e pensavam em ir embora.
Dentro desse quadro, em 1899, David Fontes escreveu a seu
cunhado Benigno, então residente na Bahia, informando que Eduar-
do (o genro) e o filho Sinhô (Francisco) estavam resolvidos a aban-
donar o Salobro “em busca de outro qualquer meio de vida”.
Nesse tempo de dificuldades, David Fontes e Celina Dantas ven-
deram a Benigno Dantas de Brito a fazenda Boqueirão, desmem-
brando-a do Salobro, por quatro contos de réis com escritura passa-
da em 10.01.1901,92evitando assim que o patrimônio fosse para as
mãos de estranhos.
Outra contrariedade sofrida pelo velho senhor do Salobro foi
causada por seu sobrinho José Dias, certamente aquele que no perí-
odo de 1879 a 1881 foi contratado para ensinar aos meninos na fa-
zenda por 200$000 ao ano. Este indivíduo, como tesoureiro do Cor-
reio, deu um desfalque de 74.000$500, vendeu todos os bens, gado,
fazenda e a própria casa e tudo indica que se suicidou em 1903. Seu
tio David Fontes, que havia afiançado 4.000$000 foi ameaçado de

92
Cf. Translado da Escritura passada em 10.01.1901. Arquivo do autor.
58 DAVID MARTINS DE GÓES FONTES (1820-1904)

arcar com o prejuízo da Fazenda Pública, conforme carta de um cer-


to Clarêncio Fontes, deixando claro que ele haveria de ressarcir o
prejuízo.93 O caso teve repercussão na imprensa de Aracaju e causou
apreensão aos familiares. Há uma carta sem data de José Dantas (o
filho bacharel, que vivia na Bahia), dirigida ao irmão Sinhô (Francis-
co Dantas), dizendo-se preocupado. Mas estudou o caso, consultou
advogado, encontrou jurisprudência favorável, conforme mostrou
na missiva, citando as referências, e informou:
“Já escrevi a Lacerdinha94 e até mandei que lhe enviasse a res-
posta. Todos são de opinião que não há jeito. Só eu penso que há.”
Essa convicção se firmava no fato de Celina (a esposa de David Fon-
tes) não haver assinado a procuração para José Dias. Adiante dizia:

Eu irei ao Aracaju a tratar disso e afrontar a ladroeira pela


imprensa (...) Mande chamar o Déda95 e faça ele passar a
procuração junta e peça translado. Arrume todas as cartas
de José Dias e a cópia que ele mandou a meu Pai da procura-
ção. Tenha à mão três animais para minha viagem ao Aracaju,
sendo um para pagem, outro para carga e outro para mim.
Agora estou com mais esperança depois da descoberta que
fiz desta lei. Vou escrever ao meu Padrinho anunciando isto.96

Tudo indica que a opinião de José Dantas prevaleceu e David


foi considerado sem responsabilidade pelos atos de José Dias.97 De

93
Cf. Carta a David Fontes de 18.09.1903. Arquivo do autor.
94
Esse Lacerdinha referido, provavelmente, trata-se de Dr. Francisco Carneiro Nobre de
Lacerda (1869-1935) que foi juiz municipal e juiz de direito, procurador fiscal do te-
souro do Estado e juiz federal a partir de 1901 por mais de duas décadas. Escreveu
poesias, ensaios e uma memória sobre a primeira década republicana. Cf. Manuel Ar-
mindo Cordeiro Guaraná. Ob. cit., 1925, p. 79.
95
Quanto à referência a Déda, trata-se de José Antonio de Carvalho Déda, escrivão em
Riachão por no mínimo 15 anos, avô do desembargador Artur Oscar de Oliveira Déda
e bisavô do governador Marcelo Déda Chagas.
96
José Dantas, carta s/d ao irmão Francisco Dantas. Arquivo do autor.
97
Cf. informações de David Dantas de Brito Fontes ao autor.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 59

qualquer forma, foi mais uma provação enfrentada pelo velho David
Fontes.
A essa altura seus amigos mais próximos já tinham lhe deixado.
João Dantas Martins dos Reis cerrou os olhos para sempre em 1890.
E assim outros também se foram. Quem resistiu mais foi seu irmão
mais velho, José Martins de Freitas Góes, que morava no Engenho
São José, uma fazenda vizinha ao Salobro. Faleceu aos 85 anos em
20.10.1903.98 No ano seguinte, foi a vez de David Fontes. Adoentado,
o médico Fileno Martins Fontes de Carmelo foi chamado para tratá-
-lo, pelo que cobrou dos herdeiros 300 mil réis. Afinal, em 29 de
novembro de 1904, o tenente-coronel David Martins de Góes Fontes
faleceu, aos 84 anos, por problema no coração, no Engenho Salobro.
Eram 11 horas da noite de uma segunda-feira, conforme a anotação,
de seu filho Francisco Dantas Martins Fontes no mesmo caderno em
que o pai utilizava para registrar seus negócios e as datas da família.
Em resumo, nascido, em 1820, provavelmente no Engenho Pas-
sagem no município de Lagarto, David Martins de Góes Fontes, após
vivenciar a experiência em Cartório em Lagarto como coletor (1849-
1854), residiu em Laranjeiras (1854-1855), cidade que abandonou
por ocasião da epidemia de cólera e deixou a crise passar residindo
em Riachão. Retornou então para Lagarto, onde atuou como tabe-
lião (1856-1864). Em seguida foi para Pombal (BA), comprou terras,
casou-se em 1865, mas decidiu residir em Riachão, onde viveu até
1904 quando faleceu.

98
Cf. anotações de Cezarina Costa Fontes, sua nora, esposa de seu filho Fiel Freire Fon-
tes, numa pequena caderneta.
60 FRANCISCO DANTAS MARTINS FONTES (1871-1924)

Deixou esposa e três filhos. No dia seguinte, às 18 horas, foi se-


pultado no centro da Igreja do Riachão,99 defronte da porta princi-
pal, deixando saudades para seus familiares, bens100 e o testemunho
de um homem empreendedor.

Foto 05 – Igreja Velha do Riachão. Cópia cedida por José Renilton Nascimento Santos.

99
O funeral custou aos herdeiros 480 mil réis, assim distribuídos: 200 mil ao caixão,
outros 200 para a Igreja onde foi sepultado e 80 em outras despesas vinculadas à ceri-
mônia. Cf. Documentação do tenente-coronel David Martins de Góes Fontes. Arquivo do
autor.
100
Entre os bens deixados, estavam cinco fazendas, poucas centenas de gado, quatro ca-
sas e 52:613$400 em dinheiro. Cf. Inventário amigável do tenente-coronel David Mar-
tins de Góes Fontes (1905). Arquivo do autor.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 61

II

FRANCISCO DANTAS MARTINS FONTES

(1871-1924)

1. INFÂNCIA E MOCIDADE

Francisco Dantas Martins Fontes viveu a infância na fazenda


Nova Lua do Salobro, município da vila de Riachão, como filho de
proprietário rural abastado nos tempos da ordem escravocrata.
Como adulto, sofreu os efeitos das crises decorrentes de aconteci-
mentos nacionais e regionais de grande repercussão.
Nascido em 04 de julho de 1871, no Engenho Sítio, termo de
Ribeira do Amparo (BA), residência de seus avós maternos, Gon-
çalo Dantas de Brito e Francisca Sérgia de Oliveira Dantas, Fran-
cisco Dantas Martins Fontes era filho de David Martins de Góes
Fontes (04.08.1820-29.11.1904) e Celina Dantas de Brito Fontes
(22.12.1846-30.09.1912) gozavam de prestígio em Riachão (SE),
em Lagarto (SE) e em Pombal (BA). Nesta última vila havia uma pa-
rentela influente. Seu batismo ocorreu em 31.03.1873, tendo por
padrinhos José Martins de Freitas Góes (tio paterno) e sua mulher
D. Avelina da Silveira Góes, moradores do Engenho São José em Ria-
chão. Crismou-se durante uma Santa Missão nessa vila, apadrinha-
do por seu tio materno Benigno Dantas de Britto.1

1
Cf. registros no Caderno de Anotações, n. 1 de David Martins de Góes Fontes. Arquivo
do autor.
62 FRANCISCO DANTAS MARTINS FONTES (1871-1924)

Quarto filho de uma prole de cinco rebentos, João (11.07.1866-


23.07.1878), Mariana (02.04.1867-1947), José (07.12.1869-
26.11.1926) e Digna (03.06.1878-06.07.1887), com a morte prema-
tura desta irmã, tornou-se o filho caçula do casal e viveu cercado de
atenção e liberalidades.2
Os estudos começaram na casa paterna da fazenda, onde profes-
sores contratados por seu genitor ministravam as primeiras lições.
Quando Francisco Dantas se deu por gente já observava a presença
dos mestres, ensinando aos seus irmãos, até quando se incorporou
aos discípulos do professor que lecionava no Engenho Salobro.
Seu mano João, que se separou da família para estudar em Ita-
baianinha (SE) em 1875, faleceu dois anos depois. Foi certamente o
primeiro grande trauma da família, vivido quando Francisco tinha
sete anos. Em 1881, quando iria completar dez anos, saiu seu irmão
José para estudar em Lagarto, onde já se encontrava Mariana desde
1876. A esta altura, com os irmãos espalhados em escolas distantes,
na casa dos pais restavam Francisco e a irmãzinha Digna com três
anos de idade.3
Em junho de 1883, às vésperas dos doze anos, Francisco foi es-
tudar interno no Colégio do Cônego Bernardino, em Salvador. Não
sabemos quanto tempo permaneceu na capital da Bahia. Os dados
que dispomos indicam um jovem um tanto inquieto, procurando
prosseguir sua formação estudantil, mas mudando de uma cidade
para outra. Em 31.05.1887, encontramo-lo aluno do Colégio São Sal-
vador em Aracaju.

2
Cf. Caderno de Anotações de David Martins de Góes Fontes. Arquivo do autor.
3
Cf. Caderno de Anotações de David Martins de Góes Fontes. Arquivo do autor.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 63

Foto 01 – O Jovem Francisco Dantas. Arquivo do autor.

O ano seguinte passou em Recife. Nesta cidade, fez alguns cur-


sos preparatórios com o fim de ingressar no curso de Direito,4 onde
seu mano José já se encontrava. Ao retornar a Sergipe, encontrou o
Engenho do Salobro, que fora construído com tanto esmero, parado,
de fogo morto e a fazenda com poucos habitantes. Em 1889, Fran-
cisco Dantas retornou a Recife, para concluir os preparatórios. Mas,
conforme anotações do filho David Dantas, houve um incidente com
um professor, os alunos se solidarizaram com o colega envolvido, re-
sultando na suspensão de toda a turma. Francisco Dantas então veio
embora e não mais retornou à capital pernambucana. É possível que
o isolamento dos pais numa época de provação, carente de força de
trabalho para movimentar a fazenda, tenha concorrido para tal de-
cisão. Mas é apenas especulação. Sabemos sim que seu irmão José
colou grau em 1893 e foi viver em outras terras.

4
Entre os livros de estudo desse tempo dos preparatórios, restou em seu acervo a
obra Select Passages of Prose and Poetry from Lingard, Macaulay, and Milton. Revised
e Corrected by M. Neville. Rio de Janeiro, Nicoláo Alves, 1979. Exemplar cedido por
Francisco J. C. Dantas ao autor.
64 FRANCISCO DANTAS MARTINS FONTES (1871-1924)

Foto 02 – Francisco Dantas e o mano José Dantas (sentado) em Recife. Arquivo do autor.

Apesar de ter abdicado de cursar os preparatórios em Recife,


Francisco Dantas tentou continuar os estudos. Em maio de 1891,
de conformidade com a legislação centralizadora de então, o go-
vernador de Sergipe despachou pedido do filho de David e Celina
para matricular-se em Aritmética e Inglês no Atheneu da capital de
Sergipe.5 Entre seus pertences de estudante dessa época, restou um
livro para exame da língua inglesa, recomendado para a Corte e para
todas as Províncias do Império. Era o poema Evangeline de H. W.
Longfellow.6 Francisco Dantas estava com 20 anos e é provável que
essa tenha sido sua última tentativa de retomar os estudos formais,
passando, então, com o apoio dos pais, a negociar e a dedicar-se às
atividades de agricultor.

5
Cf. Gazeta de Sergipe, 06.05.91.
6
Cf. exemplar no Arquivo do autor.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 65

2. FAZENDEIRO

Em dezembro de 1892, os pais de Francisco Dantas adiantaram-


-lhe, como parte da herança, o terreno da Água Fria, no termo de
Itapicuru (BA), onde vivia seu tio e padrinho Benigno Dantas de
Brito. Entretanto, tudo indica que por lá não se fixou muito tempo,
pois em novembro de 1894 já era residente no Salobro, termo de
Riachão, mantendo trânsito com Lagarto, onde tinha suas relações
afetivas. A negociação da casa de Emiliana Lins de Jesus, em 1895,7
foi o primeiro indício da ligação com Francisco Dantas, resultando
na provável paternidade de José Silveira Lins, fato aludido por fami-
liares.8 Outra ligação do fazendeiro do Boqueirão foi com Maria Ra-
mira da Conceição, gerando Arabela (1904-1996),9 que não custou
a ser reconhecida.
Enquanto seus pais eram vivos, Francisco Dantas ajudava na ad-
ministração das fazendas e negociava terras. Era um tempo difícil,
pois a libertação dos escravos provocou grande carência de mão de
obra, exigindo adaptações demoradas. O problema era encontrar
trabalhadores para contratar a fim de reativar os serviços relacio-
nados às atividades produtivas.
Embora o Engenho Salobro jamais voltasse a moer, o velho Da-
vid Martins de Góes Fontes, às vésperas dos setenta anos, procurou
se ajustar aos novos tempos dentro de seu ambiente. Mas, Francis-
co Dantas, jovem, aos vinte anos, com ambições, empenhou-se em

7
A casa de taipa, comprada inicialmente à Maria Josefa Pitangueira, com quatro janelas
e uma porta da frente, localizada na Rua Nova do Cruzeiro, teria custado 100$000,
segundo nota de Francisco Dantas, no verso do traslado. Cf. traslado da Escritura, da-
tado de 24.11.1894. Muito posteriormente, José Silveira Lins aproximou-se do líder
lagartense Acrísio Garcez, tornou-se político em Lagarto, dono de cartório, prefeito
(1946-1950) e deputado estadual (1950-1958).
8
Cf. informações de David Dantas de Brito Fontes ao autor.
9
Cf. informações de Enelita Dantas de Melo ao autor, em 19.08.2013. Francisco Dantas
teria ainda outros filhos naturais, pelo menos Alexandre Osana e José Marinho que
deixaram descendentes.
66 FRANCISCO DANTAS MARTINS FONTES (1871-1924)

buscar alternativas, viajando de um lado para outro, averiguando


possibilidades.
Quando as atividades rurais, fora da produção açucareira, eram
retomadas, Francisco Dantas comprou um pequeno terreno contí-
guo à fazenda Salobro.10 Contudo, as decorrências prolongadas da
crise do Encilhamento nos primeiros anos da República, associadas
com a instabilidade administrativa vivida pela maioria dos Estados,
inclusive Sergipe, atingiam os irmãos Dantas. Como se sabe, o En-
cilhamento, compreendido por uma política de expansão monetária
que favoreceu a especulação financeira, gerou falta de liquidez dos
papéis. Como efeito, as falências se desencadearam, resultando em
prejuízos consideráveis, sobretudo para quem dispunha de títulos
financeiros.11
Os desdobramentos dessa crise atingiram também o meio rural
de Riachão e, nessa conjuntura, Francisco Dantas discutiu a situação
com seu cunhado, Eduardo Fontes, casado com sua irmã Mariana, e
declararam-se dispostos a abandonar o Salobro “em busca de outro
qualquer meio de vida.”12 Vimos no capítulo anterior, como seu pai
David M. G. Fontes demonstrou preocupação com o fato, em carta ao
seu cunhado Benigno Dantas, que terminou adquirindo a fazenda
Boqueirão. Poucos meses depois, chegou uma carta de 15.06.1901
de seu irmão José Dantas, proveniente do Riacho da Casa Nova (BA),
comarca de Salinas (MG), endereçada a Francisco Dantas, com más
notícias. Informava o Dr. José Dantas que o Banco onde depositara
algumas economias quebrara. O Tesouro estava há cinco meses sem
pagar os empregados, fato virgem, disse. Informava ainda que seu
relógio, os cartões e a bússola iriam com mais vagar. Recomendava-
-lhe “muita cautela nos negócios, para não deixar escapar, como já

10
A compra de um terreno no Salobro com 150 braças de frente e 150 de fundo, em
04.10.1899, foi realizada a Paula Maria de Jesus por 100 mil réis. Cf. Instrumento de
compra e venda de 04.10.1899. Arquivo do autor.
11
Sobre o assunto, ver Luiz Antonio Tannuri. O Encilhamento. São Paulo, Hucitec, 1981.
12
Cf. cópia de carta de David ao seu cunhado Benigno, s/d. Arquivo do autor.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 67

sucedeu uma vez”. Pediu notícia dos pais e falou com certo conven-
cimento da tese em elaboração.13
Quanto ao genro de David Fontes, Eduardo de Carvalho Fontes,
deixou o Salobro juntamente com a esposa Mariana rumo a Itabaia-
ninha (SE), onde fixaram residência. Mas Francisco Dantas ficou
gravitando em torno dos pais, demonstrando maior amadurecimen-
to, construindo sua imagem de proprietário rural conceituado.
Encontramos entre seus papéis registros de balanço de suas ati-
vidades que cobrem o período de 1901 a 1911, nos quais se pode
observar suas ações econômicas de fazendeiro. Por volta de 1901-
1902, seus pais facultaram-lhe um adiantamento em dinheiro no
valor de três contos de réis no sentido de fomentar seus negócios.14
Durante esse biênio, explorava a Fazenda Barroca (BA), crian-
do várias dezenas de gado bovino em solta, ao tempo em que fazia
melhoramentos na propriedade, principalmente com cercas. Criava
também porcos e ovelhas. No período 1901 a 1906, o quadro regio-
nal melhorou e houve um grande crescimento do seu patrimônio,
decorrente do lucro de suas produções e, sobretudo, da incorpora-
ção da herança do seu genitor.
Como vimos no capítulo anterior, com oitenta e quatro anos, saú-
de delicada, David Martins Góes Fontes nos últimos anos necessitou
de assistência até falecer em 29 de novembro de 1904. Em 13 de
maio do mesmo ano, Francisco Dantas já havia ficado sem sua avó,
Francisca Sérgia de Oliveira Dantas, mãe de Celina Dantas de Brito
Fontes, que perdia assim, num intervalo de seis meses, sua genitora
e seu esposo. No ano seguinte, seriam concluídos os dois inventários
e Francisco Dantas, que já estava com 33 anos, receberia dois qui-
nhões: um pela morte do pai e outro pela morte da avó materna. 15

13
Cf. carta de José Dantas a seu irmão Francisco Dantas, em 15.06.1901. Arquivo do autor.
14
Cf. anotações de Francisco Dantas no balanço realizado em 10.01.1902. Arquivo do
autor.
15
A parte recebida por Francisco Dantas Martins Fontes pela morte do pai foi de
19:144$150. Cf. Cópia do Inventário dos bens deixados por David Martins de Góes Fon-
tes e julgado pelo juiz João Dantas de Brito, Lagarto, 26.06.1905. Arquivo do autor.
68 FRANCISCO DANTAS MARTINS FONTES (1871-1924)

Como o Boqueirão havia sido vendido a seu tio Benigno em


1901, Francisco Dantas aproveitou a oportunidade e recomprou-
-o por três contos de réis em 1905,16 revelando sua disponibi-
lidade de recursos. Cerca de dois anos depois, antes da seca de
1907, construiu naquela fazenda uma casa grande com estriba-
ria e mobiliou-a, despendendo ao todo nada menos do que cinco
contos de réis, ou seja, um valor superior ao da recompra da fa-
zenda Boqueirão.17
Lembremo-nos de que na primeira década do século XX, a situ-
ação do país melhorava. O ajuste fiscal promovido pelo presidente
Campos Sales, apesar dos grandes sacrifícios para a população, sa-
neou as finanças, enquanto a política dos governadores contribuiu
para a estabilidade política. No âmbito local, o patronato rural pro-
curava conviver com a nova realidade econômico-social. Entre aque-
les vinculados à produção açucareira, alguns tentaram modernizar
seus centros de produção com a formação das meia-usinas, mas
outros com menor potencial financeiro retomaram suas pequenas
unidades produtivas, chamadas jocosamente de engenhocas.18 Den-
tro desse contexto, compreende-se então por que na Mensagem de
1904 do presidente do Estado Josino Menezes, Riachão aparece com
12 pequenos engenhos.19
Entretanto, Francisco Dantas não se dispôs a retomar as ativi-
dades do engenho construído pelo seu genitor. Além da carência
de mão de obra como forte fator explicativo, havia a dificuldade de
enfrentar uma administração com rotina regular e alguma comple-
xidade. Com os recursos disponíveis, preferiu aumentar o patrimô-

16
Embora conste na escritura dois contos, no Balanço Financeiro de Francisco Dantas
foram registrados três contos de réis. Arquivo do autor.
17
A casa foi derrubada, em agosto de 2009, pelos novos compradores da propriedade.
18
Josué Modesto dos Passos Subrinho. História Econômica de Sergipe (1850-1930). Ara-
caju, Programa Editoral da UFS, 1987.
19
Josino Menezes. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa em 07.09.1904, Ara-
caju, Typ d`O Estado de Sergipe, p. 43.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 69

nio adquirindo pequenas propriedades20e viver com mais liberdade,


circulando com certa frequência no eixo Riachão-Lagarto, cuidando
do seu patrimônio e de sua saúde.21
Nesse estilo de vida, Francisco Dantas prosseguiu administran-
do as fazendas Boqueirão (SE), Gonçalo da Rocha (SE), Barroca e
Campo dos Veados no sertão da Bahia, aprontando a nova casa,
criando vários tipos de animais, sujeito aos percalços das conjuntu-
ras políticas e da natureza.
Em 1911, enfrentou mais uma dificuldade, dessa vez em decor-
rência de um acontecimento estadual: a construção da Estrada de
Ferro de Timbó a Propriá, que atravessava o Estado de Sergipe do
sul ao norte. Como os responsáveis pela obra anunciaram salários
bem acima dos pagos pelo patronato rural, a notícia cedo se propa-
gou e levas de trabalhadores deixaram as fazendas, lembrando os
tempos da abolição dos escravos.
Francisco Dantas ficou desapontado com o fato e, em carta bas-
tante reveladora ao seu tio Benigno Dantas, principal interlocutor,
confessava-se “contrariado pela falta de braços”.

O pessoal anoiteceram e não amanheceram, isto já um mês


e tanto. Foram para estrada de ferro, de maneira que estou
aqui só. Já este ano não fiz roça por falta de pessoal. A febre
aftosa está aqui atacando na minha solta mais na de minha
mãe, de maneira quando não é a seca, é a peste, quando não
é a peste é falta de braços e como tenho pensado que isto
de lavoura vai de mal a pior, o momento com estas estradas

20
Francisco Dantas comprou, em 17.03.1906, a Anna Domingos da Costa um quinhão
do sítio Senzala Velha no lugar Passagem do Carro, no município de Lagarto, por 110
mil réis. Adquiriu ainda, em 08.04.1906, de herdeiros de Manoel Clemente da Silva
três partes de uma casa de taipa na Senzala Velha. No ano seguinte, pagou 110$000
pelo Sítio Santo Antônio no lugar Passagem de Gonçalo Rocha, às margens do Piauí, no
município de Lagarto. Cf. traslados de sua documentação. Arquivo do autor.
21
Em 1907 Francisco Dantas esteve em Salvador, onde foi operado de um caroço no
olho, tendo pago um conto de réis ao Dr. Ribeiro Santos. Cf. Anotações de David Dantas
de Brito Fontes no seu Caderno de memórias. Arquivo do autor.
70 FRANCISCO DANTAS MARTINS FONTES (1871-1924)

de ferro não só daqui como vão começar por lá, acho que os
pobres dos lavradores, tão cedo não farão nada e neste caso
estou resolvido abandonar isto aqui e procurar o comercio
ou outro meio de vida qualquer. 22

Continuando a missiva, Francisco Dantas lamentava-se e expres-


sava seus planos e suas dúvidas.

Tenho muita pena de deixar isto aqui pois já gastei trinta e


tantos contos e como sei que não vendo por não achar quem
compre ponho o amor ao longe e abandono. Mas não será
já, (...)Não irei para muito longe por causa de minha mãe e
Iaiá [Mariana], porque saindo eu elas irão comigo. Não tenho
ainda o ponto certo (...) Aracaju ou Propriá. Mas isto só faço
depois que liquidar, digo vender os bens de minha mãe. Mais
difícil é o Salobro, mas retalhando pode ser que venda.23

Este documento indica as dificuldades, as angústias e incertezas


daquele momento (1911), provocadas pela carência de trabalha-
dores e mostra também a constelação familiar: no primeiro plano,
Celina, a mãe, o casal de filhos que vivia próximo. Distantes estavam
os interlocutores e conselheiros: o filho José e o irmão Benigno. No
terreno das perspectivas, Propriá e Aracaju eram vistos como cen-
tros urbanos com possibilidades de vida melhor.
Além dessa missiva, cuja cópia guardou em seus documentos,
redigiu outra, em maio de 1911, com teor semelhante, para sua mãe
copiar a fim de enviar a Benigno.

22
Francisco Dantas, cópia de carta enviada ao seu tio Benigno Dantas, maio de 1911.
Arquivo do autor.
23
Francisco Dantas, cópia de carta enviada ao seu tio Benigno Dantas, maio de 1911.
Arquivo do autor.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 71

Sinhô está resolvido a procurar um lugar que se preste ao


comércio ou outro meio de vida qualquer e eu o acompa-
nharei sem duvida alguma, porque não hei de ficar aqui só e
mormente doente como sou e com a fama de rica que tenho,
sem ser.(...) Você sabe quais são os meus bens que lhe ofereço
Ipupú com os gados, a parte do Sítio com os gados, Barroca
com os gados, Onça e Posso da Carahiba com os gados. Salo-
bro com os gados e animais. Uma casa no Riachão. Uma posse
do Itapicurú com umas reses e as criações que tenho nestes
lugares acima.24

Pouco depois, chegou a resposta de Benigno para Francisco Dan-


tas. Sempre mais cauteloso e experiente, comentou com sabedoria
seu projeto de “mudar de profissão uma vez que não pode manter a
propriedade por falta de braços”, ponderando-lhe:

É sempre grave uma resolução semelhante. Toda profissão


requer tirocínio, e não raro a falta de prática é causa de gran-
des transtornos. A profissão comercial não deixa de ter seus
embaraços, e não é dos menores a extraordinária concorrên-
cia (...) Aqui também há falta de trabalhadores, e esta situa-
ção tende a agravar-se. (...) Confio em seu critério quanto a
resolução final.25

A resposta à carta da mãe Celina foi em 01.06.1911, quando


seu tio Benigno lhe comunicou que “para evitar condomínio com
estranhos”, oferecia quatro contos de réis por sua parte no Sítio, “o

24
Cópia de carta redigida por Francisco Dantas para a mãe enviar ao tio Benigno Dantas,
em maio 1911. No mesmo papel Francisco Dantas informava: Minha mãe, esta é a car-
ta que vai para vosmice passar a limpo, para eu mandar segunda ou terça. Deixe para
datar depois que nos acertarmos. Do filho Sinhô. Abaixo a lápis: Em 22.05.1911 escrevi
por Dé a Benigno dizendo dá o sítio e Itapicurú por sete contos, gado a 40$, ovelhas a 3$,
cabras a 4$. Arquivo do autor.
25
Benigno Dantas, Carta a Francisco Dantas, de 16.05.1911. Arquivo do autor.
72 FRANCISCO DANTAS MARTINS FONTES (1871-1924)

dobro do valor que herdamos”. Pouco depois, em 24.06.1911, o mes-


mo Benigno escreveu à irmã Celina, pedindo-lhe preferência para o
parente Melchíades Rodrigues de Sá, das fazendas Riacho da Onça
e Poço da Caraíba. Em 17.09.1911, Celina, através de procuração do
próprio punho com letra bonita e firme, autorizou Francisco Dantas
a vender as fazendas Riacho da Onça e Passo da Caraíba, localizadas
em Tucano (BA).
Em meio a esses problemas, Francisco Dantas teve uma pequena
experiência política.

3. INCURSÃO NA POLÍTICA

Durante a Primeira República (1890-1930), uma das figuras de


maior influência na política de Riachão foi o padre Manuel Luiz da
Fonseca (1856-1938), que assumiu a direção da Paróquia dessa vila
em 1884 e aí permaneceu até a morte em 1938.26
Dentro das parcas informações de que dispomos, não sabemos
se suas ações contribuíram para melhorar as práticas políticas. O
padre Fonseca apoiou o grupo dos pebas,27 sob a direção de Oliveira
Valadão, e foi intendente no biênio 1896-1897. Envolvido na polari-
zação política do momento, o referido sacerdote revelou-se aguerri-
do e exaltado, a ponto de motivar, em 1895, o envio da polícia para

26
O padre Manuel Luiz da Fonseca nasceu na vila do Espírito Santo (SE), hoje Indiaroba.
Estudou em Belém e Salvador. Cf. Arivaldo Silveira Fontes. Figuras e fatos de Sergipe.
Porto Alegre/RS, CFP SENAI, 1992, p. 42. Ver também Edimário Alves Macedo. Sob o
amparo da virgem. O cônego Manoel Luiz da Fonseca e as práticas romanizadoras na
Província de Riachão (1884-1938). Trabalho de conclusão de curso (História) - Facul-
dade José Augusto Vieira. Lagarto, 2011.
27
Após uma eleição marcada pela violência, o governo de Calazans (1892-1894), atro-
pelado pelo grupo do general Oliveira Valadão, mudou a sede da administração para
Rosário do Catete, gerando dualidade de poderes. A contenda entre os dois grupos
acentuou-se. Os que ficaram nas areias de Aracaju passaram a ser chamados de Pebas
e os que se reuniram na zona dos engenhos foram denominados de Cabaús. Ver Ibarê
Dantas. História de Sergipe. República (1889-2000). Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro,
2004, p. 27.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 73

investir contra populares, ferindo cerca de sete pessoas, inclusive


um sexagenário doente, conforme uma petição de seus adversários,
denunciando os atos violentos. 28 Arivaldo Fontes qualificou-o de
espírito liberal que “se chocava com o conservadorismo político de
Riachão.”29 Adversário de Olímpio Campos, “integrou-se nas hostes
de Fausto Cardoso.” 30
Francisco Dantas ingressou na política aliado ao padre Fonseca
e a Leopoldo de Carvalho Braque (1861-1947). Em 1895, quando
tinha 24 anos, o proprietário do Boqueirão integrou o Conselho Mu-
nicipal, tendo sido eleito com 52 votos.31 No Estado de Sergipe, em
1899, ascendeu à presidência o monsenhor Olympio Campos, que
controlou o quadro estadual até 1906 quando foi assassinado após
a Revolta de Fausto Cardoso. Justamente por esse tempo (1906-
1907), Francisco Dantas participou mais uma vez do Conselho Mu-
nicipal da Vila.32
No pleito de 30.12.1907 concorreram para intendente de Ria-
chão dois candidatos: Leopoldo de Carvalho Braque, que obteve 75
votos, e Nemésio Fontes, com 35 votos. Na mesma oportunidade
ocorreu a votação para conselheiros. Francisco Dantas foi o mais vo-
tado, com 77 votos, conforme se vê pelo quadro abaixo.

28
A petição, datada de 14.12.1895, dirigida ao vigário Forâneo da Comarca de Sergipe
era assinada por Próspero Ferreira de Faria Oliveira, Nemézio de Carvalho Fontes,
José de Souza Vieira, Luiz Francisco Lima, Antonio Pinto Morgado, José Esteves da
Silva e Leonides de Carvalho Fontes. Arquivo IHGSE, caixa 31-A.
29
Arivaldo Silveira Fontes. Figuras e Fatos de Sergipe, CFP, SENAI, Porto Alegre, 1992, p. 42.
30
Arivaldo Silveira Fontes. Ob. Cit. 1992, p. 42.
31
Cf. Anotações de seu filho David Dantas. Arquivo do autor. Ver também Arivaldo Silvei-
ra Fontes. Ob. Cit. 1992, p. 123.
32
Cf. Arivaldo Silveira Fontes. Ob. Cit., 1992, p. 124.
74 FRANCISCO DANTAS MARTINS FONTES (1871-1924)

QUADRO I
Eleições de 30.12.1907
Votação para conselheiros na vila de Riachão33

Candidato Votação
Abdias Carvalho 66
Alfredo Lopes 48
Amélio Borges 61
Antonio Tolentino 56
José Borges 37
Francisco Dantas 77
Francisco Oliveira 24
João Ferreira 32
José Costa 39
Manoel Evaristo 42
Pedro Gonçalves 35
Urcino Fontes 53
Fonte: Correio de Aracaju, 04.01.1908, p.2.

Quando o novo intendente Leopoldo Braque assumiu a admi-


nistração, o Estado de Sergipe passava por um período de estiagem
dramática que se prolongou pelos cinco primeiros meses de 1908.34
Segundo notícias publicadas pela imprensa, tanques e açudes de
Riachão secaram. A feira, que vendia 12 rezes abatidas, passou a co-
mercializar apenas uma. A emigração para “o sul foi espantosa”. No
“povoado de Tanque Novo somente ficaram os inválidos, as mulhe-
res e as crianças.”35 O preço dos produtos básicos, especialmente da
farinha, aumentou bastante. Para minorar a situação, o intendente
Leopoldo Braque contratou trabalhadores necessitados para limpar
tanques, inclusive nos povoados Samba e Palmares, calçar ruas e re-
formar a intendência. O proprietário do Engenho Salgado, Manoel

33
Correio de Aracaju, 04.01.1908.
34
Cf. A Razão, 24.05.1908.
35
Cf. A Razão, 24.05.1908.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 75

Costa Silva, cedeu baixios de suas terras para que se abrissem cis-
ternas e cacimbas no sentido de amenizar as necessidades do povo.
Houve “criadores que perderam 400 a 500 cabeças de gado”.36 Quan-
do as chuvas chegaram em fins do primeiro semestre de 1908, a la-
garta dizimou as plantações que brotavam verdejantes.37
Francisco Dantas também foi bastante afetado por essa seca de
1907-1908. Segundo registros nos cadernos da família, teria per-
dido 644 animais. Na solta do Boqueirão finaram-se 364 cabeças
de bovinos, 36 éguas, cinco cavalos e 22 burros. Nas propriedades
Gonçalo da Rocha, Barroca e Campo dos Veados, morreram ao todo
217 bovinos.38
Nesse mesmo tempo, uma epidemia de varíola atacou a popula-
ção de Lagarto a tal ponto que o juiz João Dantas de Brito e a família
Hora foram passar uma temporada em Riachão, onde a doença atin-
gia menor proporção.39
Quando vieram as chuvas, Francisco Dantas reanimou-se e di-
namizou seus negócios, fez roça, vendeu gado, comprou terras e au-
mentou sua integração na política de Riachão. Sendo considerado
um correligionário estimado pelo intendente Leopoldo Braque, foi
indicado delegado de polícia.40
Durante a sua gestão, houve um incidente lamentável. Por oca-
sião de uma feira, quando os soldados prenderam um indivíduo e
passaram a espancá-lo, mulheres e homens se revoltaram, gerando
um conflito que resultou em algumas pessoas feridas. O caso foi logo
pacificado com a intervenção do sargento que comandava o desta-

36
Cf. A Razão, 24.05.1908.
37
Cf. A Razão, 19.07.1908.
38
Cf. Anotações de David Dantas de Brito Fontes no seu Caderno de memórias. Arquivo
do autor.
39
Cf. A Razão, 16.08.1908.
40
Cf. José Cupertino da Fonseca Dória. Relatório do Chefe de Polícia ao Presidente do
Estado Desembargador Guilherme de Souza Campos.
76 FRANCISCO DANTAS MARTINS FONTES (1871-1924)

camento.41 Mas, como alcançou certa proporção e deixou sequelas


nos envolvidos, o caso repercutiu na imprensa de Aracaju.42
Pouco depois, no período 1910-1911, Francisco Dantas, dentro
dos esquemas do seu grupo de correligionários, foi eleito Intenden-
te de Riachão.43

Foto 03 – Francisco Dantas Martins Fontes. Arquivo do Autor.

Como os dados sobre Riachão nesse momento são extremamen-


te escassos, não conseguimos informações sobre os feitos de sua
gestão. Entretanto, pode-se dizer que não chegou a ser um chefe
político para disputar espaço com figuras influentes como o padre
Manuel Luiz da Fonseca ou o coronel Leopoldo de Carvalho Braque,
seus amigos e correligionários.
Padre Fonseca, que já havia sido intendente (1896-1897), subs-
tituiu Francisco Dantas na prefeitura (1912-1913) e travou uma
demorada questão com dois adversários políticos, Próspero Olivei-

41
Cf. A Razão, 19.07.1908 e Correio de Aracaju, 30.07.1908.
42
Cf. A Razão, 19.07.1908 e Correio de Aracaju, 30.07.1908.
43
Cf. Arivaldo Silveira Fontes. Ob. cit., 1992, p. 124. Não dispomos de dados sobre suas
realizações administrativas.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 77

ra44 e Manoel Machado de Aragão, este líder dos protestantes.45 Os


evangélicos, ao tentarem construir uma Igreja Presbiteriana, foram
obstados pelo padre, que entrou com Ação Possessória e o caso ter-
minou no Tribunal de Relação, que se pronunciou favorável a Ma-
chado.46 O padre Fonseca mobilizou a população católica, e alguns
militantes mais afoitos tentaram impedir a construção, derrubando-
-a. Não obstante as intervenções dos católicos, o prédio foi inaugu-
rado em 1924.

Foto 04 – Igreja Presbiteriana Inaugurada em 1924 e Talho de Carne.


Fonte: Centenário de Manoel Machado Aragão. 1892-1992. Aracaju, [s.n]. 1992.

44
Próspero Ferreira de Faria Oliveira (1863-1930), filho de Antonio Joaquim de Faria
Oliveira e Ana Ferreira de Brito Oliveira, participou do Conselho Municipal durante
muitos anos e foi intendente de Riachão nos períodos de 1990-1901 e 1914-1916.
Deixou cinco filhos de dois casamentos. Cf. Cláudio de Britto Reis. Genealogia da Famí-
lia Britto Dantas. Separata da Revista Genealógica Brasileira, n. 4, 1941, p. 14-15.
45
Os pioneiros do protestantismo em Riachão foram dois irmãos que vieram da Bahia
em fins do século XIX. O primeiro a chegar foi Honorino Ferreira de Araújo, que se ca-
sou quatro vezes, deixando vários filhos de todas esposas. O seu irmão, Inácio Ferreira
de Araújo, chegou um pouco depois e casou-se duas vezes, uma das quais com Yayá,
filha de José Martins de Freitas Góes, irmão de David Martins Góes Fontes. Inácio
Araújo foi proprietário do engenho Maratá e sogro de Manoel Machado de Aragão. Cf.
informações de Raimunda Fontes ao autor, em 15.04.2003.
46
Cf. Maria de Fátima dos Santos. A Disputa pelo Espaço Sagrado em Terra de N. S. Ampa-
ro: Vila do Riachão (1918-1920). Trabalho de conclusão de curso (História) - Universi-
dade Federal de Sergipe. São Cristóvão, 2002. p. 40-46.
78 FRANCISCO DANTAS MARTINS FONTES (1871-1924)

Essa questão político-religiosa revelou-se bastante emocional


e dividiu a sociedade riachãoense entre católicos e protestantes.
Padre Fonseca ainda voltou a administrar a intendência no triênio
1926-1928, mas não conseguiu impedir a ascensão de Manuel Ma-
chado Aragão, que o sucedeu em meio a disputas acirradas.47 A essa
altura, Francisco Dantas já estava casado e um tanto afastado das
querelas políticas.

4. CASAMENTO E FILHOS

Em 1911, quando completou quarenta anos, Francisco Dantas


avaliou que já não dava para viver solteiro. Com nome firmado na
sociedade local, intendente do município, passou a incomodar-se
pela falta de uma companheira efetiva e legal. Dispondo de uma pa-
rentela numerosa na Bahia, especialmente em Pombal, aproximou-
-se de sua prima Thereza Ferreira de Brito e passaram a namorar.
Em 24.11.1911, seu mano José Dantas (Nonô) escreveu ao irmão,
Sinhô, felicitando-lhe pela escolha de Thereza e dizendo ter as me-
lhores informações da moça.
Thereza Ferreira de Brito era filha do coronel Antonio Ferreira
de Brito (Ferreirinha) e Josefa Soares de Brito, esta, por sua vez, fi-
lha do tenente-coronel Antonio Soares Monte Santo. Ferreirinha fez
carreira política no município do Pombal. Filiado ao Partido Conser-
vador, fora delegado, vereador, conselheiro municipal e projetou-se
como chefe no município, tendo falecido em 04.09.1904. O coronel
Antonio Ferreira de Brito (Ferreirinha) construiu, no mesmo ano do
seu casamento (1868), um imponente sobrado na praça da matriz. O

47
Ver Opúsculo a propósito do Centenário de Manoel Machado Aragão 1892-1992 e Edi-
mário Alves Macêdo. Sob o amparo da virgem. O cônego Manoel Luiz da Fonseca e as
práticas romanizadoras na Província de Riachão (1884-1938). Trabalho de conclusão
de curso (História). Faculdade José Augusto Vieira. Lagarto, 1911.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 79

prédio impôs-se como o mais expressivo da cidade, representativo


de seu poderio.
Os pais de Thereza tiveram 16 filhos, formando um grupo fami-
liar influente. Thereza foi a penúltima.48 Nascida em 16.07.1893, sua
mãe adoeceu quando ela tinha dez anos. Em decorrência desse fato,
ela foi morar com a irmã, Josefa Ferreira de Brito, casada com Inácio
Dantas de Brito. Foi esse casal que a criou.
Dentro dos relacionamentos familiares, conheceu o primo Fran-
cisco Dantas e depois de algum tempo de noivado, casaram-se, em
20.02.1912, em Ribeira do Amparo (BA). Foram testemunhas do ca-
samento: Domingos Ferreira de Brito, irmão de Thereza, e José Dan-
tas Martins Fontes, irmão do noivo Francisco. Thereza Ferreira de
Brito Dantas estava com dezenove anos, enquanto Francisco Dantas
já era quarentão.
O casal foi morar na Fazenda Boqueirão, onde ofereceu aos pa-
rentes e amigos uma grande festa. Desde então, o casal radicou-se
nesse imóvel, mas Francisco e Thereza alternavam sua morada en-
tre essa propriedade e o Salobro, junto da mãe de Francisco. Na sede
da Vila de Riachão, estabeleciam-se na casa da praça da matriz, com
frente voltada para nascente, quase defronte à velha Igreja. Do lado
direito, vivia Avelina Silveira, viúva de seu tio José Martins de Freitas
Góes, irmão de David Martins Góes Fontes. Do lado esquerdo, mora-
va Gaspar Fontes.
Na praça residia a maior parte da elite local, inclusive os correli-
gionários de Francisco Dantas. O padre Fonseca habitava um sobrado
na parte mais alta da urbe, de onde se descortinava bela vista. No lado
mais baixo da praça, vivia Leopoldo Braque com sua loja na extre-
midade oposta, grande amigo do finado David Fontes e de seu filho
Francisco Dantas. Ainda na praça, funcionava aos sábados o talho de
carne verde, onde hoje se encontra a prefeitura, e a feira semanal num
terreno baldio entre as casas de Moisés Dantas e Ferreira.

48
J. C. Pinto Dantas Júnior. Descendências de Francisco Ferreira Brito e do cap. José Ber-
nardo Leite. Revista Genealógica Brasileira. n. 4, 1941, p. 16.
80 FRANCISCO DANTAS MARTINS FONTES (1871-1924)

Foto 05 – Feira em Riachão em 1910. Fonte: Clodomir Silva. Álbum de Sergipe, 1920.

Nos anos dez, várias casas da praça da matriz eram ligadas entre
si, o que não acontecia na maioria das ruas. Uma artéria de grande
densidade de residências era a Estância, assim denominada por ser
a principal saída para a cidade homônima. Descendo para a outra
praça, onde foi construído o templo evangélico, havia um tanque no
centro e poucas moradas.49
Era nessa vila que Francisco Dantas e Thereza vez por outra apa-
reciam, nos dias de feira, nas cerimônias sociais e religiosas. Desde
então, a vida do fazendeiro do Boqueirão ganhou mais sentido e os
negócios prosseguiram sem as grandes intempéries do passado,
como a seca de 1907 ou a falta de braços em 1911-1912. O casal,
além de se fazer presente em Riachão, viajava também a Pombal,
onde vivia a maior parte dos parentes. As propriedades situadas na
Bahia eram administradas pelo pai adotivo de sua mulher, Inácio

49
Cf. Izabel Costa Fontes (Bebé) (25.12.1896-14.10.1986). Depoimento ao autor, em
16.12.1974.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 81

Dantas de Brito.50 Por esse tempo, as intercomunicações entre Si-


nhô, sua mãe Celina e seu tio Benigno se intensificavam.51
Em certo momento, Francisco Dantas andou pensando em ven-
der o Salgadinho, mas desistiu, conforme confessou ao seu cunhado
Quincas, em face da existência de “água nativa, bom de criar”. Além
disto, havia outra razão: “não deixa de ter o seu pezo, o que me foi
observado por meu mano que me disse ser de mau efeito eu, sem
necessidade, vender os bens que minha mulher trouxe.” 52
Em 21 de agosto, Francisco Dantas estava em Pombal (BA)
quando soube que sua mãe, Celina Dantas, havia adoecido e regres-
sou imediatamente. Tendo se engasgado com um osso de galinha,
o quadro complicou-se, gerou uma broncopneumonia e a viúva de
David Martins de Góes Fontes faleceu em 30.09.1912 com 66 anos
incompletos. Terminava uma existência sobre a qual encontramos
raras alusões, entre as quais a de um neto ressaltando sua “bonda-
de espontânea e perene” que “refletia a alma de uma verdadeira
santa.”53 Celina Dantas de Brito Fontes foi sepultada ao lado do ma-
rido na velha Igreja do Riachão.
Órfãos, os irmãos Dantas ficaram na seguinte situação: Francis-
co administrava seu patrimônio e residia no Boqueirão com casa em
Riachão, enquanto seu mano José ascendia em sua carreira jurídica
na Bahia, estando às vésperas de tornar-se desembargador. Quanto
a Mariana, ficava sob os cuidados do mano Francisco.

50
Em carta de 24.03.1912, Inácio Dantas de Brito informou a Francisco Dantas sobre
a ferragem de gado da fazenda Várzea Salgada. Ao todo o procedimento alcançou 50
cabeças: 41 fêmeas e nove machos, sobraram 15. Arquivo do autor.
51
Em 16.04.1912, Benigno enviou carta a Celina, informando que em abril, quando Si-
nhô esteve no Sítio, lhe remeteu 400$000 de juros de suas apólices do 1º semestre do
ano passado. Da última vez, voltou a remeter-lhe 400$000 de juros do 2º semestre
vencido em 31.04. Enviou-lhe também 16 apólices no valor nominal de um conto de
reis. Arquivo do autor.
52
Carta de Francisco a Quincas, em setembro de 1912. Arquivo do autor.
53
Cf. depoimento deixado escrito nos anos cinquenta do século XX pelo seu neto, Petrô-
nio Dantas Fontes, filho do desembargador José Dantas Martins Fontes, que a conhe-
ceu. Arquivo do autor.
82 FRANCISCO DANTAS MARTINS FONTES (1871-1924)

Procedido o inventário, do qual Francisco Dantas foi o inventa-


riante, Leopoldo de Carvalho Braque, liderança política das mais
expressivas de Riachão, foi designado o procurador de José Dan-
tas e Mariana Dantas Fontes,54 que, separada de Eduardo de Car-
valho Fontes, vivia há anos enclausurada ao lado de sua mãe. Em
28.12.1912, José Dantas, em carta a Sinhô, sugeriu que os dois ficas-
sem com metade do Salobro e metade da Fazenda Sítio.
No ano seguinte, os filhos do casal Francisco e Thereza começaram
a chegar. O primeiro, em homenagem ao pai, recebeu o nome de Francis-
co. Nasceu em 14.01.1913, batizou-se, mas logo faleceu em 15.04.1913.
David veio ao mundo em 29.12.1913, Celina em 29.12.1914 e Louri-
val em 15.03.1916. Este também teve morte prematura ao falecer
quatro dias depois. Vieram, então, Odete, em 15.12.1917; Nivalda, em
22.04.1918; Vandete, em 21.07.1919; e Clóvis em 22.07.1921.
Enquanto a família se ampliava, o relacionamento com os pa-
rentes prosseguia, especialmente com Benigno55 e José Dantas, sem
falar de Mariana, que vivia próxima. O que proporcionava uma cer-
ta preocupação a Francisco Dantas era a situação da filha Arabela
(1904-1996), que vivia com a família. Depois de alguns namoros,
casou-se com o primo Eurico, filho de sua tia Mariana, e do enlace
nasceu a filha Eurita. Mas o casal passou a desentender-se, Mariana
ficou ao lado do filho e Francisco Dantas solidário com Arabela, sua
filha. Consumou-se a separação e Arabela voltou a viver no Boquei-
rão em meio aos filhos de Francisco e Thereza. Essa convivência não
tardou a trazer aborrecimentos à madrasta, sobretudo pelo apoio
que o marido dispensava àquela filha, um tanto insolente.
Apesar desses pequenos problemas familiares, os tempos ha-
viam melhorado bastante para Francisco Dantas. Além das três
heranças sucessivas (pai, avó e mãe), a situação econômica do país

54
O desquite entre Eduardo, residente no lugar denominado Bica em Itabaianinha, e
Mariana Fontes foi formalizado a partir do Código Civil de 1916.
55
07.03.1913. Benigno, em carta de Itapicuru a Sinhô, participou-lhe a morte de sua
filha Anna em 27.02.1913. Arquivo do autor.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 83

melhorara, assim como a do Estado. A construção da Estrada de Fer-


ro até Timbó se encerrara, os trabalhadores voltavam às fazendas,
a criação de gado tornava-se mais compensadora. Em 1915, Fran-
cisco Dantas comprou a José Dantas, seu irmão, o Salobro, antigo
Engenho Nova Lua, com “benfeitorias e 81 cabeças de animais, entre
bovinos cavallares e muares por 14$500.000”.56
Eram sinais da vida de um fazendeiro que se estabilizara e pro-
gredia. Depois de tantas dificuldades e incertezas, arquivara os pro-
jetos de comércio e passara a viver entretido com a família e com as
atividades produtivas das fazendas, a maior parte delas herdada de
seus ancestrais. A prosperidade era manifesta.
Neste mesmo ano, animado com a vida de fazendeiro, inscreveu-
-se no Registro de Lavradores, Criadores e Profissionais de Indús-
trias Conexas, registrando que o Boqueirão teria 1.000 tarefas, com
600 de área cultivada, da qual 500 seriam de pastagens. A área de
mata era estimada em 400 tarefas. Nas terras desbravadas plantava
mandioca, legumes e capins. Dispunha ali de 200 cabeças de gado
fêmeas e 80 machos.57
Por esse tempo (1916), o irmão José Dantas, cada vez mais in-
tegrado na Bahia como desembargador, desfez-se dos seus imóveis
rurais tanto em Sergipe quanto na Bahia. Passou procuração para
Francisco Dantas vender o Engenho Boi, termo de Boquim e Comar-
ca de Lagarto. Em 1919, vendeu o sítio Boa Vista no termo de Ribei-
ra do Amparo (BA), Comarca de Bom Conselho, tendo como procu-
rador o mesmo irmão que, por sua vez, vivia um bom momento.
Enquanto Francisco Dantas via a família crescendo e os negócios
prosperando, mostrava-se mais integrado à sociedade do que nun-
ca. Além dos seus contatos em Riachão e Lagarto, procurava manter-
-se informado do que se passava no Estado e no país. Entre 1915

56
Cf. Cópia do traslado de outubro de 1915, que teve como procurador de José Dantas
Martins Fontes, Leopoldo de Carvalho Braque. No verso do traslado, Francisco Dantas
anotou: “Voltei os quatro contos em dinheiro e não precisei retirar os quatro contos da
Caderneta de Theresa.” Arquivo do autor.
57
Cf. Anotações do próprio livreto oficial de proposição do registro. Arquivo do autor.
84 FRANCISCO DANTAS MARTINS FONTES (1871-1924)

e 1924, assinava algumas das principais folhas do Estado, como o


Jornal do Povo, o Diário da Manhã e o Correio de Aracaju.
Prestigiado no Riachão, nem por isso deixavam de ocorrer
algumas contrariedades. Indicado Juiz de Fato para um júri de
24.03.1915, faltou à sessão e foi multado em 60$000. Em decorrên-
cia, recorreu, alegando que estava doente e residia a mais de seis
quilômetros da vila e o recurso demorou anos para seu desfecho,
por nós desconhecido. De qualquer forma, o fato indicava que o Ju-
diciário gozava de um mínimo de autonomia para penalizar, inclusi-
ve, proprietários rurais com certo prestígio.
De 1917 a 1920, Francisco Dantas se desfez de alguns bens como
o Sítio Santo Antonio, numa das margens do Rio Piauí, município de
Lagarto e comprou outros.58 Em 14.10.1922, adquiriu um terreno, de-
nominado Pinto, no município na Vila do Amparo, por 200 mil réis.59
Na ocasião Thereza F. Brito passou procuração do próprio punho, com
letra certa e bonita (ao contrário da do marido), para Elias de Souza
Ávila60 receber juros da Caixa Econômica de Estância. Em 1923, nova
compra de imóvel rural ocorreu, dessa vez foi o Piauí Velho.
Enquanto isso, Riachão paulatinamente se modernizava. Na ges-
tão de Próspero Ferreira Farias Oliveira (1920-1922), houve melho-
ramentos na iluminação pública e nas estradas. O novo intendente
investia em calçamento de rua, na construção de ponte no Riacho
da Limeira e reconstruía o cemitério.61 Quanto a Francisco Dantas,
parecia vivenciar um período bom da vida. Embora tivesse sido

58
O local era denominado passagem de Gonçalo Rocha e o imóvel foi vendido por
200$000, enquanto a Fazenda Riacho da Onça, situada na Vila de Tucano, fora ce-
dida por dois contos de réis. Em compensação, em 1920, comprou a Marcelino Elias
de Mendonça e a sua mulher, uma terra no subúrbio de Riachão por 300 mil réis. O
terreno principiava na estrada que vai ao Cemitério, fazendo fronteira com cercas de
Antonio Tolentino de Macedo. Este terreno foi posteriormente doado à prefeitura por
seu filho David, sendo ocupado com escola pública e casas. Arquivo do autor.
59
Cf. traslado da escritura de compra de 14.10.1922. Arquivo do autor.
60
Elias de Souza Ávila era casado com a irmã de Thereza, Alzira Brito. O casal teve onze
filhos e era muito conhecido em Estância.
61
Cf. José Joaquim Pereira Lobo. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa em
1922, Aracaju, Imprensa Oficial, 1922. p. 70.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 85

membro do Conselho Municipal, delegado e intendente de Riachão,


depois de casado não mais se candidatou a cargos públicos. Voltou-
-se para a vida privada.

Foto 06 – Francisco Dantas, Thereza Brito Fontes e o filho David Dantas. Arquivo do autor.

Com a família estabelecida e estável, cercado de crianças sadias,


conceituado na sociedade riachãoense, onde os filhos começavam a es-
tudar, Francisco encontrava-se motivado com os negócios em expansão
e seu patrimônio atingia o ápice, um dos maiores da vila do Riachão.
Entre fins de 1923 e inícios de 1924, Francisco Dantas e Thereza
foram à capital da Bahia com planos de transferirem-se para aque-
la cidade a fim de educar melhor as crianças. Segundo informações
de sua filha Nivalda, quando seu pai regressou, vendeu uma boiada
com o fim de adquirir uma casa naquela capital.62
No Boqueirão, vivia entretido com a criação de gado raciado,
zebu com crioulo, cultivando algodão, mandioca e capim, mantendo
uma média de 50 trabalhadores.63 Em suas anotações, falava da ad-
ministração das fazendas no município de Pombal (BA), quais sejam

62
Cf. Nivalda Jacobina Brito. Informações ao autor, em 20.09.2004.
63
Cf. Anotações do próprio punho em formulário, onde estimava o valor da propriedade
em 40 contos de réis. Arquivo do autor.
86 FRANCISCO DANTAS MARTINS FONTES (1871-1924)

Sítio e Salgadinho, este gerenciado por José Pancada, comprando e


vendendo gado, fazendo partilhas. Satisfeito com as 480 braças de
brejo do Salgadinho, pelo qual recebera uma proposta de compra
por 12 contos, achava pouco. Segundo ele, valia 18 contos, pois só
em cercas de arame teria gasto 60 rolos. Coisas triviais de um coti-
diano que se aproximava do seu fim. Em 05.09.1923 anotou numa
caderneta que havia contratado com “Pedro Bury de Santa Ana e
Severo Antonio de Souza a venda de 120 braças de brejo, podendo
tomar conta hoje, sendo 120 braças a 15$000, ficando eles dois a
me pagarem no dia 1º de setembro de 1924 e neste dia passarei a
escritura”. Contudo, não chegou a concluir o contrato.

5. O FIM BRUSCO

Depois de participar da queima de uma roça em fevereiro de


1924, tomou água no Salobro e adoeceu no dia 27 daquele mês com
febre indomável.64 Mandaram o filho David consultar o farmacêu-
tico de Riachão, Sr. Machado Aragão. Pouco depois enviaram um
portador a Lagarto com o objetivo de chamar o compadre juiz João
Dantas de Brito,65 que chegou acompanhado por um doutorando.
Mas as prescrições do doutor não surtiram efeito. Uma semana de-
pois do início da doença, ou seja, no dia cinco de março, às sete ho-
ras da manhã de uma quarta-feira, Francisco Dantas Martins Fontes

64
Os médicos consultados sobre o diagnóstico aventaram a hipótese da ocorrência de
uma hipertermia maligna de causa endógena.
65
João Dantas de Brito nasceu em Itapicuru (BA) em 1877. Formou-se em Direito na
Bahia, casou-se com Conceição Hora Brito, foi juiz preparador de Maroim e secre-
tário do Tribunal de Relação de Sergipe. Com o assassinato do Dr. Philomeno Hora,
substituiu-o na comarca de Lagarto, onde atuou de 1902 a 1926, quando foi nomeado
desembargador do Tribunal de Relação. Cf. Ana Maria F. Fonseca Medina (org). Di-
cionário Biográfico dos Desembargadores do Poder Judiciário de Sergipe (1892-2008).
Aracaju, TJ-Sercore, 2008; Cláudio de Britto. Genealogia da Família Britto Dantas, Se-
parata da Revista Genealógica Brasileira, n. 4, 1941, p 5-6. O referido magistrado João
Dantas de Brito era padrinho de Celina Dantas de Brito Fontes, filha de Francisco Dan-
tas Martins Fontes.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 87

expirou. Tinha 51 anos, oito meses e três dias. Após doze anos de
casado, deixava a esposa com seis filhos órfãos entre as idades de
10 e dois anos.
O corpo de Francisco Dantas foi sepultado no canto direito do
cemitério da vila do Riachão, local que se tornou jazigo da família
Dantas.
Resta saber o destino da esposa e das crianças órfãs, assunto
do próximo capítulo que analisa mais detidamente o percurso do
primogênito David Dantas de Brito Fontes.
88 FRANCISCO DANTAS MARTINS FONTES (1871-1924)
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 89

III

DAVID DANTAS DE BRITO FONTES

(1913-2001)

1. INFÂNCIA

David Dantas de Brito Fontes passou a infância na casa de seus


pais na Fazenda Boqueirão, um local privilegiado. Situada em um
morro, a morada era ventilada e dotada de uma vista ampla e agra-
dável. Da varanda da residência, descortinava-se um cenário diver-
sificado. Do lado do nascente, num alto separado por um vale, as ca-
sas das famílias dos trabalhadores e uma parte da mata inexplorada.
Do lado do poente, as fruteiras do sítio que se prolongavam até uma
mata com suas árvores seculares de floradas temporárias. Adiante,
plantações de capim sempre-verde onde pastavam bovinos e equi-
nos. Da frente da casa, avistava-se o Rio Piauí que, a cerca de duzen-
tos metros, fluía como uma grande serpente estabelecendo limites
da propriedade. Entre o rio e a residência, numa pequena assentada,
ficavam a casa do vaqueiro e o curral atravessado pela estrada real
percorrida por transeuntes com destinos ignorados.
A residência era alta e ampla, com dois alpendres, um na frente e ou-
tro atrás. Na parte interna, havia sala de visita extensa, gabinete, quatro
quartos, corredor, sala de jantar grande, copa, cozinha e despensa, todos
relativamente amplos. O sanitário, até fins dos anos trinta, situava-se
fora do corpo da casa, conforme o costume da época1. Anexo à residên-
cia, havia a cocheira e um quarto para guardar sela e outros apetrechos.

1
Somente nos anos quarenta, uma reforma incorporou o sanitário no centro da residência.
90 DAVID DANTAS DE BRITO FONTES (1913-2001)

Foto 01 – Casa da Fazenda Boqueirão.


Município de Riachão do Dantas -SE. Arquivo do autor.

Seus pais, Francisco Dantas Martins Fontes (Sinhô) (04.07.1871-


05.03.1924) e Thereza Ferreira de Brito Fontes (30.07.1893-
04.11.1924) haviam se casado em fevereiro de 1912 e tiveram seu
primeiro filho em 14 de janeiro de 1913, na fazenda Boqueirão, si-
tuada a seis quilômetros da vila de Riachão-SE. O menino recebeu o
nome do pai, mas viveu apenas três meses. Em face da morte pre-
matura da criança, o casal decidiu que o próximo rebento nasceria
na casa dos pais adotivos, a irmã Josefa Ferreira de Brito, mais co-
nhecida por Yayá Dona e o esposo Inácio Dantas de Brito. Neste lar,
na Fazenda Várzea Salgada, termo da Vila de Pombal (BA), nasceu
David Dantas numa manhã de segunda-feira no dia 29 de dezembro
de 1913. Batizou-se ainda naquela vila, em 08.05.1914, e foi criado
com muita proteção e deferência, afirmando-se como o primogêni-
to de uma prole, predominantemente de mulheres, que quase todo
ano aumentava. Justamente um ano depois de David Dantas, em
29.12.14, nasceu Celina.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 91

Foto 02 – A Casa em que nasceram David e Celina.


Fazenda Várzea Salgada, termo da Vila de Pombal (BA). Arquivo do autor.

Em 15.03.1916 apareceu Lourival, que faleceu com quatro dias.


Odete veio ao mundo em 15.02.1917; Nivalda, em 22.04.1918; Van-
dete, em 21.07.1919; todos esses nascidos no Boqueirão. Apenas
Clóvis nasceu na vila de Riachão em 22.07.1921.
As crianças se criavam num ambiente de bem estar, graças aos
meios disponíveis dos pais e o afeto e a atenção que lhes dispen-
savam. Enquanto cresciam, seu pai, Francisco Dantas, dispunha de
propriedades no sertão da Bahia, administrava pessoalmente as
fazendas Boqueirão e Salobro, em Riachão, onde plantava capim,
legumes e criava bois, carneiros, cavalos e bichos miúdos. Os meni-
nos geralmente acompanhavam as visitas que os genitores faziam a
compadres e amigos. Quando residia na Fazenda Boqueirão, sema-
nalmente Francisco Dantas ia à feira e, de vez em quando, passava
dias numa casa na praça da matriz que fora de seus pais. Essas es-
tadas se ampliaram quando os meninos mais velhos, David, Celina e
Odete, começaram a frequentar a escola. Inicialmente David Dantas
foi levado à professora Idalina, mas, uma semana depois, passou a
estudar na escola de D. Joaninha Araújo, que ficava vizinha à sua
casa na praça da Matriz.
Por volta de 1923, David Dantas, com nove anos, já revelava cer-
to domínio da escrita, conforme se pode atestar por um rascunho de
92 DAVID DANTAS DE BRITO FONTES (1913-2001)

carta daquele ano, respondendo a um amigo de Ilhéus que estivera


em Riachão. Ao chegar àquela cidade da Bahia e escrever para Da-
vid Dantas, este lhe respondeu, dizendo ser a primeira missiva que
recebera, revelando desenvoltura em expressar seu pensamento em
um texto com poucos erros gramaticais.
Antes disso, quando estava com cerca de oito anos, David Dantas
foi com seus pais a Salvador, onde se submeteu a operação de amí-
dalas. A parentela que Francisco e Thereza tinham em Riachão era
relativamente pequena, restringindo-se aos descendentes de José
Martins de Freitas Góes (30.06.1819-20.10.1903), tio de Francisco
Dantas. Tanto este como o pai, David Martins Fontes Góes, casaram-
-se com gente de Pombal-BA. Por isso, a maioria dos parentes vivia
na Bahia, inclusive o irmão de Francisco, chamado José Dantas, que
ocupava o cargo de desembargador na capital.
A imagem que David Dantas guardou de seu genitor foi de um
pai afetuoso, tolerante e bondoso, que costumava sempre tomar o
partido dos filhos quando a mãe queria dar-lhes algum castigo. Sen-
do Francisco Dantas vinte e dois anos mais velho que Thereza Bri-
to, esta o tratava sempre respeitosamente, mas não ficava satisfeita
quando o marido usava sua autoridade para impedir reprimendas
aos filhos. Eram pequenas diferenças na convivência cotidiana de
um casal que, segundo testemunho dos filhos, vivia bem. As crian-
ças, cada vez mais sabidas e brincalhonas, desenvolviam-se sob a
guarda atenta e protetora dos pais até quando eventos inesperados
mudaram suas vidas.

2. A TRAGÉDIA DE 1924

Vimos no capítulo anterior que em fins de fevereiro de 1924,


Francisco Dantas adoeceu com elevada febre e faleceu na manhã
de cinco de março de 1924. Segundo depoimento de David Dantas,
durante esta curta enfermidade de Francisco, para não agravar a si-
tuação da esposa, que estava se recuperando de um aborto, o casal
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 93

ficou em quartos separados. Mesmo enfraquecida, na véspera da


morte de seu marido, Thereza levantou-se com dificuldades e foi vê-
-lo. Chamou-o “Sinhô, ô Sinhô” e o marido, já combalido, olhou-a e
balbuciou: “minha filha!”.2 Foram talvez suas últimas palavras.
No dia seguinte, ao saber do desenlace do seu querido esposo,
Thereza não encontrou forças para reagir. Para uma figura um tanto
frágil, criada longe dos pais, ao casar-se com um homem mais velho
22 anos, a convivência acentuou-lhe a dependência. O marido era
sua proteção e sua segurança. Com o desaparecimento do esposo,
a casa entregue à enteada insolente de quem não gostava, Thereza,
fisicamente debilitada, sentiu-se desolada e desamparada. Sem vis-
lumbrar alternativas, desestruturou-se psiquicamente, ficou desati-
nada, no dia seguinte caiu em desespero e enlouqueceu.
Chamaram os parentes da Bahia, José Dantas, o irmão de Fran-
cisco; Yayá Dona e Inácio Brito, pais adotivos de Thereza, que se
reuniram em Riachão e decidiram levar Thereza e o filho mais ve-
lho, David Dantas, para a casa de José Dantas em Salvador. Clóvis
e Nivalda acompanharam Yayá Dona para a Várzea Salgada (BA),
enquanto Arabela ficaria em Riachão, cuidando provisoriamente
das demais irmãs.
A viúva de Francisco Dantas foi conduzida à Bahia numa cabine
isolada de trem e tratada com brutalidade como se fosse uma do-
ente perigosa. Em Salvador, Thereza foi internada no Hospício São
João de Deus, em 23.03.1924, enquanto o filho David ficava com seu
tio e padrinho desembargador José Dantas. Como Thereza chama-
va muito pelo filho, levaram-no para vê-la. Ao avistar o filho, a mãe
adoentada caiu em prantos.3
Após a visita, Thereza ficou mais abatida. Cinco meses após, em
04.08.24, retiraram-na daquela instituição e colocaram-na numa
casa de pessoa amiga no Campo da Pólvora, bairro de Salvador. Le-

2
Cf. testemunho de seu filho David, que, ao longo da vida, vez por outra recordava esses
tristes momentos.
3
Cf. David Dantas. Caderno de Memórias. Arquivo do autor.
94 DAVID DANTAS DE BRITO FONTES (1913-2001)

varam o pequeno David para vê-la, mas a distância. Ele avistou-a e


jamais esqueceria a condição de sua mãe, a viúva de Francisco Dan-
tas: acocorada, o cabelo longo, um tanto descuidado, o olhar sofrido,
estava muito magra e abatida, decorrente da tuberculose que con-
traíra. Ao ver o filho, Thereza pôs-se a chorar e depois seu estado de
saúde agravou-se. Um médico sugeriu para ela os ares do sertão.4
Em fins de setembro, levaram-na de trem de Salvador até a esta-
ção de Cajueiro. Daí, acompanhada por seu pai adotivo, Inácio Brito,
foi levada à propriedade Campinhos, termo do município de Ribeira
(BA), numa viagem de 25 léguas percorrida em carro de boi durante
cinco dias. Na modesta casa daquela fazenda, a viúva de Francisco
Dantas sobreviveu um mês e poucos dias, perguntando à irmã de dia
e de noite, insistentemente, se criaria seus filhos.5
Por esse tempo, David Dantas acompanhou até Riachão o pa-
drinho José Dantas, que fora cuidar do inventário e, como a mãe
continuava reclamando a presença do filho, este foi conduzido para
a fazenda Campinhos, onde testemunhou traumatizado as últimas
semanas de delírios e de sofrimentos de sua genitora.6
Em meio a esse penar, Thereza Ferreira de Brito Fontes faleceu,
em quatro de novembro de 1924, assistida pela irmã Yayá Dona e
outros familiares e foi sepultada na Igreja de Ribeira do Amparo-
-BA.7 Estava com apenas 31 anos. Nesse momento, ficavam órfãos de
pai e mãe os filhos: David com dez anos, Celina com nove, Odete com
sete, Nivalda com seis, Vandete com cinco e Clóvis com três anos.
No intervalo dos oito meses que separaram a morte do pai do fa-
lecimento da mãe, não há notícias das crianças frequentando escola.
Chocados pelo desaparecimento do pai e atormentados com a doen-

4
Cf. Carta de José Dantas a Inácio em 18.08.1924.
5
Cf. David Dantas. Caderno de Memórias. Arquivo do autor.
6
Como as noites eram de grande desassossego, o menino passou a dormir em casa do
vaqueiro. Cf. David Dantas. Caderno de Memórias. Arquivo do autor.
7
Sobre os últimos tempos de Thereza Ferreira de Brito Fontes, ver David Dantas. Minha
Santa Mãe. Correio de Aracaju, 14.11.1956 e Caderno de Memórias. Arquivo do autor.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 95

ça da mãe, os meninos estiveram inseguros, ouvindo as conversas


dos adultos sem atinar como iriam viver.
Sepultada Thereza Brito Fontes, José Dantas, o mentor dos filhos
de Francisco Dantas, em combinação com Yayá Dona, tomou as pri-
meiras providências. Em 1925, David Dantas, Celina e Odete, sendo
os mais velhos, foram encaminhados para os estudos em Esplanada
(BA). As meninas foram internas num colégio de feiras. Entretanto,
pouco depois adoeceram, foram para Cipó (BA) e não retornaram à
Esplanada porque o estabelecimento fechou. Passaram, então, uma
temporada sem estudar enquanto procuravam outro local apropria-
do. Durante esse tempo, estiveram no Amparo (BA) e no Boquei-
rão (SE).8 Celina, em 1927, passou duas semanas em casa do seu
padrinho desembargador João Dantas de Brito e recebeu o convite
para ficar em sua residência a fim de continuar os estudos.9 Toda-
via, os tutores acharam melhor interná-la no Colégio de D. Luizinha,
em 1928, em Salvador. Quanto a Odete, esteve numa escola de frei-
ras, Nossa Senhora do Carmo, em São Cristóvão (SE) e, mais tarde
(1928), foi para a Bahia.
David Dantas estudou em regime de internato no Colégio São
José, da ordem dos Irmãos Maristas, de 1925 a 1927 em Esplanada
(BA). Em uma carta de 1926, ao seu padrinho José Dantas, David
informava que os professores eram carinhosos e afáveis.10 Em fins
de 1927, David Dantas mudou-se para Salvador, onde prestou exa-
me de admissão no Colégio Nossa Senhora da Vitória (Maristas).11
Foi aprovado, mas logo se transferiu para o Colégio Central, onde
cursou em 1928 a primeira série ginasial.

8
Cf. Yayá Dona. Carta a David Dantas em 04.07.1928 e 12.07.1928. Arquivo do autor.
9
Cf. Celina Dantas. Carta a David Dantas em 22.02.1927. Arquivo do autor.
10
Carta de David Dantas a seu padrinho José Dantas, datada de 1926. Arquivo do autor.
11
No Boletim que nos legou entre seus papéis, consta que David Dantas, em Português,
obteve 5,00 na prova escrita e 8,00 na oral. Geografia 7,00; Aritmética escrita 7,00 e
oral 10,00; História do Brasil oral 9,00; História Natural oral 8,00; Moral e Cívica 8,00.
Ao final, ficou com média 7,75. Arquivo do autor.
96 DAVID DANTAS DE BRITO FONTES (1913-2001)

Nas férias, passava parte do tempo entre Riachão (SE) e a Várzea


Salgada (BA) com seus pais adotivos. O desembargador José Dantas,
que atuava como orientador dos órfãos, faleceu em 26.11.1926, am-
pliando as responsabilidades de Yayá Dona e Inácio Brito. Apesar
dessa perda, os meninos prosseguiram os estudos, ao menos por
algum tempo.
No curso de sua existência, David revelou que seu melhor de-
sempenho fora em matemática, disciplina de que gostava. Sua agi-
lidade em fazer contas era um indício real de sua propensão pela
matéria. Embora aprovado para o segundo ano ginasial, ao ir para o
Boqueirão passar as férias em dezembro de 1928, não mais retor-
nou ao colégio.
A essa altura, a sociedade riachãoense ainda estava retomando a
vida normal com as festas de Natal, depois da grande tragédia regis-
trada em meados de 1928. Um grupo de jovens da vila de Riachão,
liderado por Álvaro Costa Fontes (25.08.1903-24.06.1928), decidiu
preparar uma grande festa de São João. Para tanto, os companheiros
José Moura, Olegário Nunes, José Pretinho, Antônio Mocidade, entre
outros, dedicaram-se a fabricar os fogos. Quando faltavam dois dias
para a comemoração, um dos artesãos, ao completar um artefato, pro-
vocou uma explosão que incendiou tudo. A força de inúmeros estam-
pidos das bombas dos foguetes e dos buscapés fechou a porta da casa
e derrubou seus ocupantes, que não conseguiram sair. Pelo menos
sete pessoas morreram.12 Os que escaparam ficaram com pulmões
comprometidos e tiveram a vida abreviada. Álvaro Fontes, primo de
David Dantas, teve o corpo queimado e faleceu dois dias depois.
Na segunda metade dos anos vinte do século XX, o município de
Riachão, que dispunha de uma área de 538 km2, cerca de 2,55% do
território do Estado13, tinha sua base econômica firmada em alguns

12
Cf. Josefa Brito. Cartas para David Dantas de 04.07.1928 e 12.07.1928.
13
Cf. IBGE. Sinopse Estatística de Riachão do Dantas. Rio de Janeiro, IBGE, 1948. Poste-
riormente, o município de Riachão seria considerado integrante da microrregião de
Lagarto.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 97

alambiques, fábricas de descaroçar algodão, um pequeno comércio,


propriedades rurais com roças e criação de gado, além de pequenas
unidades açucareiras em processo de decadência. Em 1930 conti-
nuavam em atividade pelo menos os seguintes engenhos: o Salgado,
propriedade Manoel Costa Silva; o São José, de Fiel Freire Fontes; o
Paraná, de Abdias Evaristo de Carvalho; o Fortaleza, de João Dantas
dos Reis; o Maxixe, de Alberto Menezes; e o Maratá, de Manoel Fer-
reira de Araújo.14
Em fins da década de vinte, o filho órfão mais velho de Francisco
Dantas e Thereza Brito estava com 15 anos e passaria a viver na
fazenda tutelado por seus pais adotivos, Yayá Dona e Inácio Dantas.
A irmã Celina, após um tempo no Colégio de D. Luizinha em Sal-
vador, nesta cidade continuou os estudos interna em colégio de frei-
ras, sob a responsabilidade de um primo de confiança da família,
Ezequiel Batista da Silva. Este parente administrava suas despesas,
controlava rigorosamente suas saídas e prestava contas de tudo aos
pais adotivos e, posteriormente, ao irmão mais velho, David.15
Concluído o ciclo básico, Celina frequentou o Instituto Normal
e recebeu o diploma de normalista em fins de 1934. Depois, pres-
tou concurso e, uma vez aprovada, foi lecionar em Paripiranga, uma
pequena vila da Bahia, situada na fronteira com Sergipe, onde se
encontrava em meados de 1936, ensinando a 50 alunos.16 Aí perma-
neceu até 1941 enquanto esteve solteira.
Odete, em 1931, estudou num colégio de freira em São Cristó-
vão, mas o estabelecimento fechou as portas e não sabemos onde

14
Há informações dando conta de que havia na época “doze engenhos de açúcar, treze
alambiques e quatro fábricas de descaroçar algodão.” João Oliva Alves e José Alves de
Menezes. Enciclopédia dos Municípios Brasileiros. Rio de Janeiro, IBGE, 1959, v. XIX, p.
422-324. Contudo, houve quem dissesse que, em 1930, estariam funcionando apenas
os seis citados. Cf. Oziel Costa Fontes (Pequeno) (*11.02.1898- †14.09.1987). Depoi-
mento ao autor em 25.12.1981.
15
Esses fatos podem ser comprovados pelas cartas numerosas de Celina e de Ezequiel
Batista que David Dantas preservou entre sua documentação. Arquivo do autor.
16
Os dados dos irmãos Dantas desse período de estudos foram fundamentados nas nu-
merosas cartas das irmãs que integram o acervo de David Dantas, herdado pelo autor
desta memória. Arquivo do autor.
98 DAVID DANTAS DE BRITO FONTES (1913-2001)

esteve, assim como Nivalda e Vandete. As três citadas irmãs ainda


estudaram com professor particular desenho, matemática, portu-
guês e corte e costura, segundo se depreende de correspondência
da época.
Quanto ao caçula, Clóvis Dantas, ficou sob os cuidados de Yayá
Dona, que lhe dedicou toda atenção, sofrendo quando ele adoecia e
assistindo-o em todos os momentos. O filho mais novo estudou em
Riachão enquanto Yayá Dona ali viveu. Em 1931 foi para Boquim,
onde foi aluno do Colégio de São Benedito, cujo corpo docente “era
de alto gabarito”.17 A elogiada professora Maria Céres de Oliveira18
dedicou-lhe grande atenção. Em 1933, a referida mestra foi para
Riachuelo (SE) prestar seus serviços no Colégio Santa Terezinha,
ligado à Paróquia daquela vila. Provavelmente, em face de sua li-
gação com Maria Céres, Clóvis Dantas transferiu-se também para
Riachuelo e passou o ano sob cuidados da competente professora,
matriculado no Santa Terezinha. Pelas cartas que a referida lente
enviava à família, sabe-se que não foi um ano tranquilo. O menino
adoeceu de catapora e sofreu outros problemas de saúde, preocu-
pando a todos os que o acompanhavam.19 Em 1934 o irmão mais
velho o levou ainda a Riachuelo.20 Depois, Clóvis estudou em Aracaju
no Colégio Tobias Barreto, transferiu-se para o Colégio Salesiano,
onde manifestou fraco desempenho, conforme atestam seus bole-
tins conservados no acervo do irmão David. Em 1938, aos 17 anos,
quando estudava no Jackson de Figueiredo, deixou os estudos e foi

17
Benjamim Fernandes Fontes. Meu cobertor de lã. Aracaju, 1986, p. 55. Segundo o re-
ferido autor, os alunos do quarto ano que se destacaram foram Aderbal Fontes Góis,
Hélio Fontes, Tonho e Clóvis Dantas. Idem, ibidem.
18
Maria Céres de Oliveira (1889-1992) fundou o Colégio S. Benedito em Estância e em
Boquim e marcou o magistério por onde passou. Cf. Ana Maria Fonseca Medina. Tri-
lhando memórias. Aracaju, Sercore, 2013, p. 78-80 e Benjamim Fernandes Fontes. Meu
cobertor de lã. Aracaju, 1986, p. 54-55.
19
Maria Céres de Oliveira acompanhava Clóvis Dantas, revelando dedicação. Todavia,
deixou o estabelecimento por receber baixo salário. Cf. Cartas de Maria Céres de Oli-
veira de 22.08.1933, 02.10.1933, e outra s/d, narrando inclusive suas próprias dificul-
dades. Arquivo do autor.
20
Cf. David Dantas. Caderno de Anotações, 1929-1934. Arquivo do autor.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 99

viver no Boqueirão com seu mano, a quem escolheu como padrinho,


que a esta altura já se encontrava casado.
Tanto seus pais adotivos, que lhe devotavam grande afeição,
quanto seus irmãos lamentaram a decisão do jovem Clóvis em dei-
xar de estudar, mas pouco puderam fazer para reverter sua decisão.
Era o único dos irmãos de David que ainda frequentava estabele-
cimento de ensino. Ao final, apenas a irmã mais velha conseguira
diplomar-se.
David, embora tenha sido o primeiro a deixar os estudos, não
o fez por falta de aplicação. Voltou para a fazenda a fim de tomar
conta do seu patrimônio. Celina, muito parecida com o irmão no
temperamento, também se mostrou bem desenvolta e voluntariosa,
conforme demonstram as numerosas cartas que escreveu ao mano
desde os anos vinte.
A sua formatura no Curso Normal aumentou sua autoestima,
levando algumas amigas a vê-la “com nariz em pé”. Sendo como o
irmão mais velho, franca e determinada, costumava reclamar de
David, inclusive pela demora em responder suas cartas, enquanto
o mano também não se furtava de dizer-lhe o que pensava. Apesar
das divergências, entendiam-se. Quanto a Odete, embora tivesse
uma formação escolar mais elementar do que os dois irmãos mais
velhos, revelou-se ao longo dos anos mais disposta para enfrentar
as intempéries da vida do que os três manos mais novos, marcados
por uma certa melancolia.
Bem cedo, os filhos de Thereza Brito e Francisco Dantas assisti-
ram a divisão dos bens dos seus genitores. Foram dois inventários
sucessivos, correspondentes à morte do pai e, meses depois, à da
mãe. Os processos burocráticos ficaram aos cuidados do tio José
Dantas, que se deslocava de Salvador para Riachão com despesas
debitadas aos órfãos.
100 DAVID DANTAS DE BRITO FONTES (1913-2001)

Os principais imóveis eram duas fazendas no Município de Ria-


chão (Boqueirão e Salobro)21, outra no município de Ribeira do
Pombal-BA, o Salgadinho, e uma pequena propriedade denominada
Sítio, termo de Amparo-BA. Havia também duas casas em Riachão
de bom padrão para a época, uma na praça da Matriz e outra na rua
coronel Paulo Cardoso, além de outros bens.22
A David Dantas, na primeira divisão, coube 1/3 do Boqueirão,
pequena parte no Salobro e 18 contos de réis do depósito existente
no Banco do Brasil. Na segunda partilha, decorrente da morte da
mãe, herdou seis contos e seiscentos mil réis, depositados na Caixa
Econômica Federal de Estância, próximo de cem cabeças de gado,
cinco cavalos, parte em duas casas situadas em Riachão e uma por-
ção de coisas miúdas.

3. PRIMEIROS TEMPOS DE FAZENDEIRO: 1928-1937

Quando Francisco Dantas faleceu, os negócios em andamento


foram interrompidos e o patrimônio sofreu perdas. A viúva Thereza
Brito enlouquecida, David Dantas, o filho mais velho, com dez anos
não tinha amadurecimento para administrar os bens. Arabela, a fi-
lha natural, permaneceu um tempo no Boqueirão sem conquistar a
simpatia dos parentes. Em início de 1926, casou-se e passou a resi-

21
O Boqueirão com cerca de 1.600 tarefas e o Salobro com área estimada em 1.000 tare-
fas.
22
Em dinheiro, existiam cerca de 25 contos na Caixa Econômica Federal de Estância,
aproximadamente 1.500 contos na Agência do Banco do Brasil, doze contos em apó-
lices, cerca de 500 cabeças de gado, uns vinte cavalos e burros, ovelhas e algumas
peças de ouro e brilhante em casa. Na herança paterna coube a cada um dos seis fi-
lhos o valor de 13:992$745. Cf. Inventário de Francisco Dantas Martins Fontes (Sinhô)
(04.07.71-05.03.1924) em 1926. Na segunda partilha, a cota de cada órfão foi avaliada
em 15:378$777, descontadas as despesas com tratamento de Thereza e com os me-
ninos, incluindo também os deslocamentos dos parentes responsáveis pelas crianças.
Cf. Inventário de Thereza Ferreira de Brito Fontes (30.07.1893-04.11.1924) em 1926.
Arquivo do autor.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 101

dir em Aracaju. Enquanto isso, os empregados ficaram carentes de


chefia e os bichos largados.
Quando José Dantas e Inácio Dantas chegaram a Riachão, toma-
ram algumas providências, mas logo retornaram cada um para sua
casa levando parte dos meninos. O gado ficou descuidado e alguns
bens domésticos desapareceram. Em dezembro de 1924, o tutor
José Dantas havia acertado a venda do Boqueirão, do Salobro e da
casa do Riachão a Rosendo Ribeiro, de Lagarto, por 120 contos em
moeda corrente. Ao tomar conhecimento do fato, o menino David
Dantas chorou, protestou, falou com alguns amigos do seu pai fa-
lecido e reagiu como podia. Os pais adotivos, então, telegrafaram
e escreveram a José Dantas, discordando da venda das fazendas e
da casa, e a transação não se consumou.23 Para cuidar das fazendas
até então abandonadas e auferir algum rendimento, decidiram ar-
rendar o Boqueirão a Pedrinho Moura, um cidadão que residia em
Riachão, entretanto, o arrendamento não deu certo. Em março de
1927, quando José Dantas já havia falecido, o casal Inácio Dantas
e Yayá Dona deixou sua casa e sua propriedade na Várzea Salgada
na Bahia e foi viver dois anos no Riachão no sentido de educar os
meninos que estavam sob sua guarda e administrar de perto as duas
fazendas, o Boqueirão e o Salobro.
Quando, em início de 1929, David Dantas decidiu não mais re-
tornar ao colégio, seus pais adotivos reagiram, mas não houve ape-
lo nem pressão que o fizessem mudar de opinião. Estava com 15
anos e andava insatisfeito com a forma como o velho Inácio vinha
administrando as propriedades deixadas por seu pai. Por mais boa
vontade que tivesse, observava que o patrimônio estava diminuindo
e queria cuidar do que era seu.

23
Cf. David Dantas. Caderno de Memórias, p. 20 e carta de José Dantas a Yayá Dona de
28.12.1924. Arquivo do autor. Nesse episódio, a autoridade de Yayá Dona se impôs.
José Dantas ficou um tanto aborrecido. Avaliava que outra oportunidade como aquela
dificilmente se repetiria, motivo pelo qual todos poderiam arrepender-se.
102 DAVID DANTAS DE BRITO FONTES (1913-2001)

Foto 03 – Vista parcial da Praça da Matriz de Riachão nos anos 20 do século XX.
Clodomir Silva. Álbum de Sergipe. 1920.

O primeiro ano foi bastante difícil. Sendo menor de idade, de-


vendo obediência aos seus pais adotivos, discordava da orientação
dos negócios, mas lhe faltava autonomia para fazer valer seus pro-
pósitos. Com dificuldades, em 1929, começou a criar seu próprio
espaço, ao fazer uma roça de quatro tarefas de mandioca sob sua
responsabilidade na qual investiu cerca de Cr$ 300$000.24 No ano
seguinte, as empreitadas aumentaram. Fez cerca, plantou feijão,
milho e gastou 526$700.25 Mas os obstáculos e as limitações eram
grandes. Com sede de realizações, mas sem dinheiro, de vez em
quando se apertava para pagar aos trabalhadores. Passou, então, a
contrair pequenos empréstimos a algumas pessoas mais próximas,
como o amigo José Bernardo, o compadre de seu pai Leopoldo Bra-
que, o novo marido da irmã Arabela, Enock Melo, e assim por dian-
te.26 Eram pequenas importâncias que eram pagas em pouco tempo,
mas que não resolviam sua carência de capital de giro.

24
Cf. David Dantas. Caderno de anotações. Despesas mensais de 1929 a 1956. Arquivo do
autor.
25
Cf. David Dantas. Caderno de anotações. Despesas mensais de 1929 a 1956. Arquivo do autor.
26
Arabela Fontes contraiu as segundas núpcias, em 1926, com Antonio Enock de Melo,
funcionário dedicado da empresa de tecidos dos irmãos Brito. Atencioso, loquaz e ca-
tivante, mantinha boas relações com todos.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 103

Angustiado, num percurso que fazia de Riachão para o Boquei-


rão com o velho Inácio Dantas, seu pai adotivo, segundo suas pró-
prias anotações, no dia 24.03.1930, participou-lhe uma decisão. Já
que ele não lhe fornecia recursos para fazer seus pequenos empre-
endimentos, iria pedir ao Dr. Josias, que administrava as cadernetas
de poupança dos órfãos, para liberar os juros de sua conta.
O problema era sua pouca idade, 16 anos, que levava as pessoas
a serem por demais cautelosas. Mas o rapaz era teimoso. Com esse
pleito, foi ao senhor Leopoldo Braque, procurou insistentes vezes o
Dr. Josias,27 a quem nunca encontrava, recorreu ao magistrado João
Dantas de Brito, compadre de seu pai,28 mas as dificuldades pare-
ciam intransponíveis.
Nesse tempo, estava sempre a lamentar a falta que fazia seu pai.
Se a ausência dos genitores fora sentida quando estudante, ao tentar
afirmar-se como fazendeiro, a carência de apoio paterno persistia
forte. Avaliava que para alguns amigos de seus pais, David Dantas
era apenas um órfão impertinente.
Diante dessa situação, o filho de Francisco Dantas pensou em
ir embora para a Bahia, onde tinha numerosos parentes calorosos.
Mas de que adiantaria se era um tutelado com bens situados em Ser-
gipe, embora sem poder deles dispor como gostaria?
Entretanto, depois de muita peleja, foi a Aracaju pela primeira
vez em março de 1931 e, após mais de quatro meses, conseguiu que
parte dos juros de sua caderneta fosse liberada.29

27
Cf. David Dantas. Caderneta de Anotações de 1929-1934, p.35. Arquivo do autor.
28
João Dantas de Brito (1877-1965), filho de Francisco Barreto Dantas e Vicência Josefa
da Silva Dantas, nasceu na cidade de Itapicuru. Formou-se em Direito em 1898. Foi
juiz em Lagarto de 1902 a 1925. Nomeado, em 1926, desembargador do Tribunal de
Relação do Estado de Sergipe. Em 1932 instalou o Tribunal Regional Eleitoral. Apo-
sentou-se em 1952. Cf. Ana Maria Fonseca Medina (org). Dicionário Biográfico dos De-
sembargadores do Poder Judiciário de Sergipe (1892-2008), Aracaju: TJ; Sercore, 2008.
29
Em 1931, retirou de juros 855$300 (oitocentos e cinquenta e cinco mil réis e trezen-
tos centavos). Cf. David Dantas, em longa narrativa, in Caderno de anotações, 1929-
1942. Arquivo do autor.
104 DAVID DANTAS DE BRITO FONTES (1913-2001)

Foto 04 – David Dantas de Brito Fontes aos 17 anos. Arquivo do autor.

Em consequência, fez investimentos, mas veio a seca de 1931-


1932, que dizimou a maior parte dos seus animais. Conforme regis-
trou:
“Na seca de 1931, perdi 17 cabeças de gado vacum. Todas de
criar. Perdi também cinco cabeças de animal cavalar. Entre gado de
criar daqui e do Salôbro tenho 10 cabeças.” Revelava que perdera
mais cinco cavalos, a maioria de pouca idade, e um burro.
Sobre suas atividades, registrou:

Fiz um pastinho de 06 tarefas perto de casa, uma roça de


10 tarefas no local denominado Piauí, toda de capim. Plan-
tei também entre roça de agregado e de rendeiro 14 tarefas.
Tenho 7 carradas de milho. A despesa maior foi porque foi
preciso cercar a roça em quadro.
Este ano tenho vontade de cercar um pedaço de capim, o qual
já falei com meu Tutor e mandei roçar. Tenho vontade também
de mandar buscar uma parte de meu gado de criar do Sertão.
Pois aqui tem muito pouco gado e lá não dá resultado.30

30
David Dantas. Notas em folha solta, sem data, mas provavelmente de 1932, antes do
agravamento do quadro.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 105

David Dantas, no Boqueirão, dispondo de terras, mas sem di-


nheiro e com muito pouco gado, passou a aceitar bois de terceiros
para engordá-los num sistema de meação, entretanto novos proble-
mas apareceram.
Em março de 1932, quando foi a Salvador levar sua irmã Celina
para os estudos, adoeceu e foi interno num hospital de isolamento
em Monte Serrat por 13 dias com suspeita de tifo.31 Aliás, os anos de
1931 e 1932 foram de adversidades sucessivas, inclusive pela estia-
gem prolongada.
Apesar das intempéries, paulatinamente sua situação financei-
ra melhorou. Em setembro de 1933, retirou mais uma parte de sua
caderneta32 e, a partir daí, o quadro tornou-se mais animador. Em
1934, conforme se pode inferir por suas anotações contábeis mês a
mês, os investimentos foram três vezes maiores do que a média dos
anos anteriores. Aproveitou o bom tempo e foi à Bahia, esteve no
sertão, onde visitou os parentes na Ribeira e em Cipó.33
Em 31.12.1935, David Dantas foi reconhecido como de maior e
transformou-se em tutor dos irmãos mais novos. Quinze dias depois
da maioridade de David, seus pais adotivos, Inácio Dantas e Yayá Dona,
deixaram Riachão e retornaram à Bahia para sua fazenda Várzea Sal-
gada, mas continuaram acompanhando com interesse o destino dos
órfãos. Em compensação, David e todos os irmãos nunca deixaram de
reconhecer o amor, o desprendimento e a generosidade com que se
dedicaram à criação dos filhos de Francisco Dantas e Thereza Brito,
que também os chamavam de pais. Afinal, criaram Thereza e seus fi-
lhos que, aliás, ao longo da vida souberam ser-lhes gratos.
Com a morte de Inácio Dantas em 1945, a viúva Yayá Dona ven-
deu a fazenda e foi morar em Nova Soure (BA), onde os filhos adoti-
vos passaram a visitá-la e fornecer uma mesada, contribuindo para
que ela vivesse com tranquilidade. Quando, em meados dos anos

31
Cf. David Dantas. Caderneta de Anotações de 1929-1936, p. 55. Arquivo do autor.
32
Em 1933, retirou 2:385$000 (dois contos e trezentos e oitenta e cinco mil réis) da sua
caderneta. Cf. David Dantas. Caderneta de Anotações de 1929-1934. Arquivo do autor.
33
Cf. David Dantas. Caderneta de Anotações de 1929-1934. Arquivo do autor.
106 DAVID DANTAS DE BRITO FONTES (1913-2001)

cinquenta, os filhos lhe comunicaram o aumento da contribuição,


ela respondeu que não necessitava, pois além do que recebia regu-
larmente, dispunha de 20 mil réis na caderneta.34

Foto 05 – Da esquerda para direita, Clóvis, Celina, Yayá Dona,


David, uma jovem e uma menina não identificadas. Arquivo do autor.

Com o retorno de seus pais adotivos para a Várzea Salgada (BA)


em janeiro de 1935, David, diante do peso de sua responsabilidade
de encaminhar os irmãos e atender às suas despesas nos colégios,
passou um período bastante preocupado.
Contudo, empenhou-se em administrar as demandas dos ma-
nos, em orientá-los e, apesar das eventuais discordâncias com a
irmã mais velha, manteve-se sempre respeitado, estimado e, dessa
forma, contribuiu para que todos permanecessem unidos.
Na fazenda, acumulou experiência na administração, diversifi-
cou as culturas, plantou capim, algodão e milho, melhorou os tan-
ques, construiu o curral do Piauí, fez sítio, ampliou a área de capim,
tratou os pastos, arrancando os matos e aumentou seu plantel de
gado vacum. Em janeiro de 1936, já dispunha de uma centena de

34
Cf. carta de Josefa Brito, Yayá Dona, de 23.06.1955. Arquivo do autor.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 107

cabeças de gado.35 Tudo isso implicava em gastos crescentes com


pessoal.
Em sua esmagadora maioria eram micro proprietários que re-
sidiam em suas próprias terras e recorriam ao ganho salarial em
determinadas fases do ano para suprir suas necessidades básicas.
Alguns permaneceram por cerca de três décadas dentro de um re-
lacionamento de grande entendimento, tornando-se compadres e
estabelecendo laços de respeito, amizade e mútua consideração.
Nunca presenciamos nem soubemos de qualquer conflito com os
trabalhadores. Apenas nos anos oitenta ou noventa, um ou dois ex-
-moradores recorreram a cobrar direitos trabalhistas, mas poucos
ganhos tinham a acrescentar.
No início dos anos trinta, eram cerca de quinze pessoas que
prestavam serviço semanal. Mestre Galdinho, Fanvinho, Ferreira,
Leonardo, Rufino, José Martins, Bertoldo, Caetano, Alexandre, Bas-
tião, Zé de Roque, Justino, Nestor, Pin, Abílio, Satú, Daniel e tantos
outros, todos esses eram trabalhadores que integraram a folha de
pagamento por anos e anos consecutivos, construindo a fazenda,
ajudando-o a prosperar.

Foto 06 – Trabalhadores na Fazenda Boqueirão. Fins dos anos 30. Arquivo do autor.

35
Cf. David Dantas. Cadernos de 1929-1936 e 1936-1945. Arquivo do autor.
108 DAVID DANTAS DE BRITO FONTES (1913-2001)

Mas o número cresceu e, mais tarde, nos anos cinquenta, David


Dantas chegou a oferecer trabalho a mais de cem pessoas em um só
dia. Os serviços não possuíam a regularidade dos engenhos, em que
cotidianamente se fazem as mesmas coisas. Nas fazendas de gado, as
atividades eram de curto e médio prazo. As prioridades eram decididas
semanalmente ou até em cada dia de conformidade com a oferta de
mão de obra e os ciclos das atividades agrícolas. O fato mais comum
era os trabalhadores chegarem e perguntarem o que iriam fazer. Havia,
então, uma certa variação: roçagens, coivaras, construção ou conserto
de curral e de cerca, plantações de mandioca, de capim, de milho, de
fava, de feijão, de cana, de algodão, cuidar de fruteiras nos sítios Suzana
ou no Cabula, quebrar milho, apanhar algodão. Apenas o vaqueiro tinha
sua rotina própria, em seu trabalho específico de prender gado, apartar
e curar bezerro ou vaca, ajudar a vacinar, a ferrar e tirar leite.
Os nomes dos pastos Guiné, Fundão, Chile, Sabonete, Cana Bra-
va, Boqueirão Velho, Angolinha, Piauí, Suzana, Canafístula, Sibéria,
Gruta, Pau Preto apareceram com frequência em sua contabilidade.
Os nomes indicam a intervenção de David com seus empregados na
derrubada de matas e capoeiras, nas queimadas, na construção de
cercas e no plantio de capim, transformando matos em pastos.
O pagamento do pessoal, a partir de 1931, foi anotado semanal-
mente em livro específico até os últimos anos de vida. O registro dos
trabalhadores com os dias trabalhados e da importância que deve-
riam receber era precedido por um preâmbulo, no qual eram rela-
tados os serviços da semana e alguns acontecimentos considerados
marcantes, fatos relacionados a fazendas, família, amigos, viagens e,
poucas vezes, a política local ou nacional.
Além disso, havia os cadernos de anotação mensal de aconte-
cimentos e de registros de despesas e receitas. Ao fim de cada ano,
com sua letrinha miúda, David Dantas fazia um balanço dos acon-
tecimentos de cada mês e do respectivo período. Nas duas últimas
décadas de existência, dedicou-se a escrever muito mais, chegando
a narrar os acontecimentos diariamente, deixando nada menos de
oito cadernos de diários.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 109

De 1929 a 1937, David Dantas, enquanto se dedicava às ativida-


des agrícolas, não se isolou na fazenda. Viajava para levar as irmãs
ao colégio e aproveitava para visitar parentes e amigos na Bahia. De
volta à fazenda, empenhava-se em ampliar seu círculo de relações.
Embora as manifestações calorosas de alguns amigos de seus pais
tenham esfriado com o desaparecimento dos genitores, paulatina-
mente os filhos, a partir das tradições familiares, tentaram construir
ou reativar vínculos com parentes, bem como com pessoas mais
próximas e mais leais.
Neste ponto, um bom subsídio para conhecer a construção ou
recriação dessa rede de relacionamento é o bloco de correspondên-
cias que David nos legou. Nessa documentação, há dezenas de escri-
tos dos anos vinte de parentes e amigos, entre os quais estão dois
bilhetes de João Góes, datados de 09.01.1928 e 07.02.1928, combi-
nando uma visita que os filhos de Francisco Dantas deveriam fazer
à Fazenda Maratá de seu genitor.36 O fortalecimento dos laços de
David com essa família era importante, inclusive pela liderança que
João Góes, embora ainda jovem, já revelava em relação à comunida-
de riachãoense. Sendo ainda parentes e tratando-se por primos,37
quando Francisco Dantas faleceu, os Góes continuaram atenciosos
com seus descendentes e fazendo negociações com gado.
Outro vínculo importante que David cultivou foi com Nemésio
Fontes, seus irmãos e, posteriormente, com os filhos. Embora estes
fossem mais moços, foram amizades que duraram por toda a vida.

36
Em 27.04.1930 o pai de João Góes, Manoel Inácio Ferreira de Araújo, enviava carta a
David e aos seus pais adotivos, alertando-os sobre a presença do indivíduo João Ma-
mede, que não inspirava confiança. Arquivo do autor.
37
João Góes de Araújo era filho de Manoel Ferreira de Araújo e Maria Góes de Araújo,
que, por sua vez é filha de José Martins de Freitas Góes, irmão mais velho de David
Martins Fontes Góes, objeto do primeiro capítulo desta memória. A importância dos
Fontes na história de Riachão levou Manoel Machado Aragão a afirmar em discurso:
“Riachão é a terra dos Fontes e assim deveria se chamar, pois foi a família Fontes que a
fez e é a família Fontes quem ainda hoje, lhe enobrece com o valor de seus filhos como
o meu velho e estimado amigo Lourival Fontes. Opúsculo a propósito do centenário de
nascimento de Manoel Machado Aragão 1892-1992, p. 17. Arquivo do autor.
110 DAVID DANTAS DE BRITO FONTES (1913-2001)

Com relação ao casal Manuel Costa Silva e Mariana Fontes Cos-


ta, seus futuros sogros, não temos elementos para avaliar o grau de
aproximação antes do casamento. De qualquer forma, as cartas de
José Costa Fontes, o filho mais velho do casal, endereçadas a David,
demonstram que, desde 1930, se consideravam amigos. Quando es-
tudava interno no Colégio Tobias Barreto, em Aracaju, José enviou
várias missivas a David, revelando algumas confidências.38 David,
por sua vez, demonstrava-lhe admiração e o elogiava pela sua for-
mação escolar e aplicação nos estudos, incentivando-o e prenun-
ciando-lhe um futuro brilhante.39
Ainda de Riachão, David receberia um convite que muito o hon-
rou. Em carta de 08.03.1932, José Alves dos Santos, que nessa altura
já era conhecido por Zuza, convidava-o para ser padrinho do seu
filho que acabava de nascer.40
Mas, como seria de esperar, o grande volume de correspondên-
cias era de fora de Riachão devido principalmente a uma parentela
numerosa. Somente irmãos de sua genitora eram 15 pessoas. É ver-
dade que apenas um ou outro tio lhe escrevia, mas havia a legião de
primos de idade aproximada e com interesses comuns. O fato é que,
a partir dos anos 20, David guardou as cartas recebidas. Entre estas,
há várias da casa de sua tia Alzira, irmã de sua mãe. Residente em
Estância, era casada com Elias Ávila, com quem tinha onze filhos.
O tio e alguns primos, especialmente Joãozito e Elias, escreviam a
David, falando dos negócios e de sua propriedade. Era uma família

38
Em uma das cartas, José dizia que estava vivendo triste como um pássaro cativo, lon-
ge dos seus e dos amigos. Confessou-lhe sua vontade de seguir a carreira das armas,
ao tempo em que revelava preocupação com o fechamento da Escola Militar. Diante
das saídas dos jovens de Riachão para buscar sua autonomia financeira, lamentava a
situação de sua terra carente de homens. Em 1932, diante da Guerra Civil, enfrentada
pelo governo Vargas, José se manifestou inconformado com a perspectiva de ir lutar
em São Paulo ao lado das forças legalistas.
39
Cf. José Fontes Costa, cartas a David Dantas, 08.07.1931, 30.08.1931, 28.10.1931,
13.04.1932, 27.07.1932. Arquivo do autor.
40
José Alves dos Santos, carta de 08.03.1932. A criança, de nome Francisco, faleceu um
ano depois. Cf. Anotações de David em seus cadernos. Arquivo do autor.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 111

atenciosa que demonstrava dedicar-lhe afeição. Trocavam favores,


negociavam entre si e visitavam-se.41
Em Lagarto, David correspondia-se com José Silveira Lins, co-
nhecido na intimidade por Nô, provavelmente filho natural de Fran-
cisco Dantas. Numa carta de 1934, José Lins estava engajado na
campanha do interventor Maynard Gomes, que pretendia continuar
no governo do Estado de conformidade com a nova Constituição.
José Lins, filho de Emiliana, casou-se com Dária em 1930 e revelou-
-se um seguidor da orientação do chefe político Acrísio Garcez. Anos
depois, José Lins foi prefeito de Lagarto (1946-1950) e Deputado
Estadual em duas legislaturas seguidas (1950-1958). No pleito des-
te último ano, ficou na primeira suplência. Sua mulher, apesar da
origem humilde, tinha um porte elegante de nobreza. Conversa pau-
sada, senhora de si, sabia enfeitar uma história com espirituosidade
e humor. O casal manteve-se como grandes amigos de David e de sua
esposa até a morte.
Não obstante as dificuldades, desde cedo David demonstrou
uma disposição muito grande em ajudar os que o procuravam. Eram
irmãos que lhe pediam favores de toda espécie, parentes outros pre-
cisados, como a tia Yayá, irmã de Francisco Dantas. Esta tia cega vi-
via em Itabaianinha, necessitando de auxílios, e David não se furtava
em atendê-la. Havia também amigos que, pessoalmente ou através
de cartas, lhe pediam dinheiro emprestado. Como David ficava cons-
trangido em dizer não, em face da lembrança das dificuldades vi-
venciadas na mocidade, os pedidos se intensificaram e, ao longo dos
anos, muitos abusaram de sua generosidade.

41
Em janeiro de 1932, Joãozito passou uma semana no Boqueirão. Meses depois, David
retribui-lhe a visita, percorrendo a Fazenda Porco Magro, em ambiente de grande cor-
dialidade.
112 DAVID DANTAS DE BRITO FONTES (1913-2001)

Foto 07 – David Dantas aos 22 Anos. Arquivo do autor.

De Aracaju, chegavam as correspondências da irmã Arabela, do


cunhado Enock e de Idália, uma amiga da família, que o hospedou
em sua primeira viagem à capital em abril de 1931. Além disso, vi-
nham as cartas dos amigos e amigas de Esplanada, dos pais adotivos
da Várzea Salgada com certa frequência, de Pombal e, sobretudo, de
Salvador, endereçada por dois amigos da família: Ezequiel Batista,
que controlava as cadernetas dos órfãos na Caixa Econômica, e Ar-
naldo F. Cabral e sua senhora, casal muito atencioso com os filhos
de Francisco Dantas e Thereza, a quem manifestavam vivo interesse
com o seu destino. E assim a rede de relações foi paulatinamente
construída e ampliada ao longo do tempo.
Tornando-se tutor dos irmãos, as preocupações de David se am-
pliaram. As irmãs estavam em idade de casar e começaram a apare-
cer os pretendentes. David ficaria com a responsabilidade de dar au-
torização para o casamento. Odete, a terceira em idade da família, foi
a primeira a ser pedida. Após uma estada em Caldas de Cipó, conhe-
ceu o primo Agenor Brito e se afeiçoaram. Agenor já se correspondia
com frequência com David desde o início dos anos trinta, falando,
sobretudo, dos seus negócios e trocando favores entre si. Pelas suas
várias missivas, depreende-se que era um homem dinâmico, que
associava o comércio com as atividades agrícolas. Loquaz, dotado
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 113

de uma sabedoria própria da maioria dos comerciantes, sempre


em busca de novas transações, casou-se, em 31.03.1937, com Ode-
te, que se revelou uma companheira excepcional em sua vida, em
seus negócios e na atividade política. Com sua ajuda, Agenor Brito
tornou-se chefe político do município, controlou a administração de
Caldas de Cipó (BA) direta e indiretamente por meio do filho Wilson
Brito Silva, que continuou influente após a morte do pai.
Por ocasião do casamento da irmã, David já estava noivo. Em
junho de 1931, numa novena de Santo Antonio na casa de Antonio
Tolentino Macedo, proprietário do Murituba, em Riachão, David co-
nheceu uma filha de Manoel Costa e Silva e Mariana Fontes Costa,
donos do Engenho Salgado. Era uma jovem de 14 anos de nome Mi-
ralda. Numa brincadeira de entrega de anel, trocaram olhares furti-
vos e os primeiros gestos. O segundo contato demorou, mas David
persistiu, descobriu um intermediário que levou para a amada uma
carta e a comunicação foi estabelecida. Mas a conquista não foi fácil.
Miralda, moça discreta, recatada e cautelosa, foi-se revelando deva-
gar. David, expansivo e determinado, aproximou-se, insistiu, enten-
deu o jeito de ser da jovem, até que o namoro firmou-se.
Em cópia rascunho de uma carta que David supostamente teria
lhe enviado, pode-se perceber as tendências das duas personalida-
des. Escreveu o namorado:

Eu vou passando regular, sentindo saudades daqueles dias que


passamos juntos, onde m’o destes mais provas de verdadeira
amizade que nos une. Espero breve resposta a fim de ameni-
zar a minha dor. Pois tua índole modesta e reservada da qual
sou admirador não permite que trocamos todas as ideias.
Não quero pedir-te agora porque, meu amor, não garanto
ainda uma posição social que me liberte de preocupações de
meios para o sustento do nosso lar...42

42
David Dantas. Rascunho de carta supostamente enviada a Miralda Costa Fontes em
1936. Arquivo do autor.
114 DAVID DANTAS DE BRITO FONTES (1913-2001)

O rascunho da carta deve ter sido escrito em inícios de 1936,


poucos meses depois de haver se comprometido com a própria
em 06.12.1935. Entretanto, o pedido em casamento não demorou
muito, pois se realizou em 07.06.1936. Os pais da moça avaliaram e
demoraram 14 dias para responder-lhe favoravelmente, acabando
com a longa apreensão do pretendente.
A situação financeira de David estava longe de ser confortável.
Dispunha de um certo patrimônio, mas lhe faltava dinheiro para
as despesas do matrimônio, motivo pelo qual tomou emprestado o
montante de 11 contos de réis a Almeida.43 Faltando cinco dias para a
festa, faleceu abruptamente Maria Carmen, uma criança de três anos
que vivia no Engenho Salgado, prima da noiva, e a ela muito apegada,
gerando muita consternação. Ainda pensaram em adiar a cerimônia,
mas com os convites distribuídos, gente da Bahia se deslocando, num
tempo de comunicação demorada, tudo concorreu para manterem o
enlace matrimonial para 09.11.1937 no Engenho Salgado.

Foto 08 – Núpcias de David Dantas de Brito Fontes e Miralda Costa Fontes -1937.
Araquivo do autor.

43
Cf. David Dantas. Livro de memórias políticas, p. 23. Arquivo do autor.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 115

A cerimônia foi celebrada pelo padre Manuel Luís da Fonseca.


Foram os padrinhos de Miralda: Fiel Costa Fontes (tio da noiva) e
Maria Costa Teixeira (irmã da noiva), Antonio de Jesus e D. Dalva
(amigos da noiva). Por parte do noivo: Arnaldo Cabral e Olga (ami-
gos), José Silveira Lins (provável irmão por parte de pai do noivo),
Celina Dantas (irmã).
David e Miralda, duas personalidades bem diferentes, se uniam
e tenderiam a se complementar até que a morte os separou.

4. BOM TEMPO NO BOQUEIRÃO: 1937-1946

Quando David Dantas contraiu núpcias estava com vinte e qua-


tro anos. Foi uma grande mudança em sua vida. O rapaz encontra-
va uma companheira que tenderia a ajudá-lo muito no decorrer da
existência, apesar das diferenças patentes. David Dantas expansivo,
empreendedor, ousado nos negócios, determinado, franco, sim-
ples, desprovido de vaidades, nem sempre media a conveniência
das confidências. Ela, polida, discreta, cautelosa, reservada, distinta
e solidária. Atenta às sutilezas das relações humanas, com a sábia
intuição feminina, era hábil em dirimir conflitos e animosidades.
Sensível, manifestou-se zelosa companheira de todos os momen-
tos, exceto nas lides político-partidárias. De qualquer forma, tinham
consciência das diferenças e respeitavam-se. Em todos os tempos
que convivemos com o casal, assistimos a muitas divergências, quei-
xas, mas nunca agressões verbais de um contra outro. Quando ele
completou oitenta anos, escreveu sobre a esposa:

De minha mulher tudo que eu disser será pouco, muito pou-


co, diante de sua grandeza imensa, da sua generosidade, dis-
crição, solidariedade, da nobreza dos seus sentimentos, da
sua devoção pelos filhos, noras, netos, bisnetos. Enfim, Miral-
da sempre foi o porto seguro, o amparo e o refúgio, o grande
eixo para o qual convergimos todos, na dor e na alegria.
116 DAVID DANTAS DE BRITO FONTES (1913-2001)

No primeiro ano de casamento, David e Miralda foram a Salva-


dor e estenderam a viagem até o sertão da Bahia, onde a jovem es-
posa conheceu a vasta parentela do marido.44

Foto 08 – David Dantas de Brito Fontes e Miralda Costa Fontes recém casados - 1937.
Arquivo do autor.

De volta à fazenda, a vida cotidiana se constituiu num teste para


a esposa, pois teve de conviver com alguns cunhados que moravam
com o irmão no Boqueirão. Nesse meio, existiam as visitas demora-
das do casal Dária e José Silveira Lins, que, no fundo, lhe agradavam.
O marido aparecia nos fins de semana e retornava a Lagarto na ma-
nhã de segunda. Mas a mulher ficava e passava longas temporadas,
numa das quais perdurou nada menos de quatro meses.
Quanto às irmãs de David, aos poucos casaram-se e dispersa-
ram-se. Odete já havia contraído matrimônio em 31.03.1937. Van-
dete passava temporadas com Celina, professora em Paripiranga,
onde conheceu o bacharel Belmiro da Silveira Góes, passaram a na-
morar e, meses depois, foi pedida em casamento.
David escreveu ao futuro cunhado favoravelmente, mas tentou
diminuir as expectativas do enamorado em relação à irmã, alertan-
do-o para alguns pontos, entre os quais os poucos recursos da moça,

44
Cf. David Dantas. Caderneta de Anotações de 1929-1934. Arquivo do autor.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 117

sem muitos predicados, pois cedo perdera os pais. À irmã, David dis-
se o seguinte:

Acabo de receber uma carta de Belmiro lhe pedindo em ca-


samento. Se bem que ele já tenha tido um entendimento com
você e as meninas, eu respondo a carta a qual lhe envio junto
a esta para você entregar se estiver de acordo. Lembre-se do
que lhe tenho dito e do que você me disse.
Pense bem o que vai fazer pois está em suas mãos e daí de-
penderá sua sorte.

Vandete contraiu matrimônio em 10.09.1940. O casal, inicial-


mente, residiu em Paripiranga, depois em Simão Dias, até quando se
transferiu para Aracaju, onde o esposo atuou como desembargador
do Tribunal de Justiça de Sergipe, presidiu a instituição em momen-
tos difíceis e aposentou-se por questão de saúde.45
Celina contraiu núpcias em 11.09.1941 com José Fontes Costa,
conhecido como Ioiô, amigo e cunhado de David. Sendo José oficial
da Aeronáutica, o casal viveu no Rio de Janeiro, até quando o esposo
se reformou como major. Retornou então à Riachão e aí viveu até
05.06.1986, quando faleceu. Celina, ao tornar-se viúva, mudou-se
para Aracaju, onde morreu em 09.08.1996.
Nivalda uniu-se por matrimônio, em abril de 1942, a Reynaldo
Jacobina Brito, um primo e fazendeiro de Pombal (BA). Em fins da
década de quarenta, o casal residiu por um curto período em Ria-
chão, depois voltou para Pombal. Nivalda ficou viúva em 1994 e fa-
leceu em 10.10.2012, deixando cinco filhos.

45
Belmiro da Silveira Góes, filho de Fenelon da Silveira Góes e Maria das Neves Prata
Góes, nasceu em 1914 e bacharelou-se em Direito na Bahia em 1938. Foi, quando es-
tudante, promotor público da Comarca de Simão Dias. Em 1941 tomou posse como
juiz de Direito de Japaratuba e, em seguida, atuou como juiz de Simão Dias a partir
de 1945. Foi nomeado desembargador em 1960. Assumiu a direção do Tribunal de
Justiça em 1964 e 1966. Aposentou-se em 1967 e faleceu em 2011. Cf. Ana Maria Fon-
seca Medina (org). Dicionário Biográfico dos Desembargadores do Poder Judiciário de
Sergipe (1892-2008), Aracaju: TJ: Sercore, 2008.
118 DAVID DANTAS DE BRITO FONTES (1913-2001)

Clóvis, o caçula, foi o último a casar-se, o que ocorreu em


19.05.1942, em Lagarto, com Maria Fontes.46

Foto 09 – Casamento de Clóvis Dantas de Brito


Fontes e Maria Fontes - 1942. Arquivo do autor.

Com esse acontecimento, a mãe de Clóvis Dantas, Thereza Fer-


reira de Brito Fontes, que tanto se angustiou com o destino dos fi-
lhos, poderia descansar em paz, pois todos eles se encontravam en-
caminhados e casados. Quanto a David Dantas, concluía sua missão
de encaminhar os irmãos, sem desobrigar-se de prosseguir solidá-
rio aos manos em todos os momentos.
O casal Clóvis e Maria passou uns tempos na fazenda Piauí,
propriedade vizinha ao Boqueirão, viveu um período em Riachão,
depois transferiu-se já com numerosa prole para Lagarto. Nes-
sa cidade, Clóvis ficou viúvo e cerrou os olhos para sempre em
19.05.1997.
Enquanto os irmãos tomavam seu destino próprio, maiores
emoções aconteceriam com o aparecimento dos filhos de David.
Ibarê chegou em 1939; Francisco, em 1941 e Manoel, em 1943. O
quarto filho, José Eduardo, viria dez anos depois, em 1953. A casa
ficou mais animada. O grande problema era quando aparecia algu-
ma doença. Como Riachão não dispunha de médico, apelava-se para

46
Cf. David Dantas. Caderno de Anotações. Biografias. s/d. Arquivo do autor.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 119

o farmacêutico Manoel Machado Aragão, que atuava também como


parteiro e demonstrava grande habilidade nos primeiros socorros.
Mas quando o quadro exigia maior atenção, provocava grandes an-
gústias e recorria-se a outros meios. David Dantas viajava até La-
garto, ou mesmo a Aracaju, a fim de encontrar-se com Dr. José Ma-
chado de Souza, um dos mais competentes pediatras da história de
Sergipe. Nesse momento, ainda não existia linha regular de ônibus
de Riachão para Aracaju. Mesmo em Lagarto, o transporte não era
fácil. Em Aracaju, David Dantas descrevia para o médico a situação
da criança, que, pela narrativa, era medicada.
Em meio a esses envolvimentos familiares, foi um período de
expansão do patrimônio. Com o casamento das irmãs, as duas que
tinham parte no Boqueirão (Odete e Celina) venderam seu quinhão
a David Dantas. O pagamento dessas terras deixava o irmão aperta-
do, mas a fazenda ficava sob sua exclusiva propriedade.
Quando David se casou, sua esposa recebeu como dote dez no-
vilhas, mas pouco significava diante desses novos compromissos
assumidos. Endividado, o filho primogênito de Francisco Dantas re-
correu a bancos de forma crescente. Quando estava em dificuldades
para saldar todos os débitos financeiros, o governo Vargas, em 1942,
perdoou as dívidas dos pecuaristas. David Dantas, que pagava juros
de Cr$ 142.000,00 no Banco do Brasil, teve seu passivo dispensado.
Foi um alívio. Mas, como quem se acostuma a dever se torna mais
ousado com dinheiro dos outros, pouco depois estava novamente
endividado em Banco.
Enquanto isso, começou a plantar fumo e ampliou o criatório de
vacas (1945) para vender leite em Riachão. Posteriormente mon-
tou fábrica de laticínios. Cada vez mais motivado com os negócios,
derrubava matas no Boqueirão, expandia capineiras e aumentava
a criação de gado. Quando o tempo favorecia e o preço de gado se
tornava favorável, não escondia seu contentamento. Mesmo porque
gostava muito de comentar com familiares e amigos sobre suas ne-
gociações e seus empreendimentos com grande franqueza, esponta-
neidade e transparência.
120 DAVID DANTAS DE BRITO FONTES (1913-2001)

No conjunto, foi um dos períodos mais felizes de sua vida. Os


filhos nasciam e cresciam integrados no ambiente da fazenda e os
negócios prosperavam. O bom relacionamento com a família dos so-
gros se consolidava e o círculo de amigos se ampliava.

Foto 10 – David Dantas e família -1945. Arquivo do autor.

A família estava estabelecida no Boqueirão, mas mantinha um


trânsito ativo e forte com o Engenho Salgado de seu Manuelzinho.
Além das visitas e estadas recorrentes, o sogro de David Dantas,
sempre que viajava, convocava-o para acompanhá-lo.
Especialmente no Boqueirão, havia um ambiente de trabalho
desprovido de tensões e conflitos. Na Fazenda nunca soubemos de
uma só briga ou agressão física e muito menos de assassinato en-
tre trabalhadores da propriedade. A vida transcorria através de um
cotidiano em que cada homem ou mulher exercia suas atividades,
enquanto os meninos entretinham-se com suas diversões típicas
de filhos de proprietários rurais, enriquecidas pelos banhos do Rio
Piauí, que cercava a fazenda.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 121

Foto 11 – A família no Rio Piauí. Arquivo do autor.

5. TEMPO DE FAZENDA E DE CIDADE: 1947-1963

Em fevereiro de 1947, esses bons tempos ficaram reduzidos aos


períodos de férias. A família mudou-se para a sede do município de
Riachão do Dantas, distante seis quilômetros do Boqueirão. Para a
esposa e filhos, fazenda a partir de então somente em feriados pro-
longados ou em férias. Ficava para trás um tempo de brincadeiras
mais livres e espontâneas dos meninos, pois, até então, a cidade não
despertava atração. Foi uma retirada melancólica e triste. Mas a ne-
cessidade de colocar as crianças na escola impunha-se.
Em Riachão, como a casa de David Dantas e Miralda necessitava
de grande reforma, a família foi morar provisoriamente num mo-
desto imóvel onde nascera Lourival Fontes47, casa essa que, então,
pertencia aos pais de Miralda. Os serviços da obra da casa exigiam a

47
Lourival Fontes (1899-1967) atuou como jornalista, partidário da Aliança Liberal e
tornou-se um ideólogo do fascismo. Dirigiu o Departamento de Propaganda e Difusão
Cultural (DPDC) entre 1934 e 1937 durante o tempo de Getúlio Vargas. No ano seguin-
te o DPDC transformou-se no Departamento Nacional de Propaganda e, em 1939, no
Departamento de Imprensa e Propaganda. Lourival Fontes permaneceu à frente do
órgão até 1942. Em 1945 foi nomeado embaixador no México e ocupou a chefia do
Gabinete Civil da Presidência da República (1951-1954), senador por Sergipe entre
1955 e 1963. Faleceu no Rio de Janeiro em 1967. Cf. Israel Beloch, Alzira Alves de
Abreu (Org.). Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro (1930-1983). Rio de Janeiro,
Forense/FGV/CPDOC/FINEP, 1984, p.1309-1312; Sonia de Castro Lopes. Lourival
Fontes: as duas faces do poder. Rio de Janeiro: Litteris, 1999.
122 DAVID DANTAS DE BRITO FONTES (1913-2001)

assistência de David, que esteve durante vários meses dividido en-


tre a administração do Boqueirão e o acompanhamento da melhoria
da residência na cidade, prejudicando a gestão da fazenda.
Concluída a reforma, a casa de David Dantas ficou confortável e
com boa apresentação.

Foto 12– Residência de David Dantas em Riachão. A garagem foi


adaptada quatro décadas depois. Arquivo do autor.

Novo cotidiano foi-se estabelecendo. Cedinho David Dantas par-


tia para o Boqueirão a cavalo e pouco depois os meninos eram des-
pertados para irem para a escola. À tarde, a mãe fazia banca com as
crianças e, quando a noite chegava, David Dantas retornava cansado
após mais um dia de atividade. Com pequenas variações, esse foi
ritmo da vida por seis anos.
Em relação à categoria dos fazendeiros de Riachão do Dantas,
David foi-se diferenciando pela sua inquietação. Embora a grande
parte dos proprietários rurais do município se manifestasse, em ge-
ral, trabalhadores, pacíficos e probos nos seus negócios, pareciam
um tanto acomodados quanto à disposição em expandir suas ativi-
dades. Cada propriedade era repassada de pai para filho sem pro-
porcionar grande mudança na estacionária economia local.
O historiador José Sebrão Sobrinho, que, pelos anos 1936 e
1937, passou uns dias em Riachão, captou algumas tendências de
seu povo em soneto dedicado ao município.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 123

Vilarejo perdido entre os sopés dos montes


Rodeado de currais e fazendas de criatório
Os seus filhos são bons, resignados, insontes
Esponta em cada lábio um sentimento flóreo
Pleno em melancolia! Avalanches de sonhos
Conturbam perenal o ambiente de Riachão
É bela a natureza! Mas o homem é tristonho
Um contraste sem par pungente ao coração.48
(grifos nossos)

Mas David, sem pai nem mãe, demonstrou ao longo de sua exis-
tência acentuada capacidade de iniciativa. Ao tempo em que buscava
oportunidades de negócios, revelava coragem para correr riscos e
determinação para realizar investimento, lembrando seu pai e mais
ainda seu avô paterno falecido em 1904. Depois de comprar a parte
do Boqueirão das irmãs, recorreu a empréstimos a particulares e a
bancos e, no ano de 1948, foi agente do Banco Mercantil Sergipense
em Riachão do Dantas. Aos sábados, dia de feira, saía ele com um
livro debaixo do braço pelas ruas da cidade a visitar os devedores da
referida casa financeira, da qual ele próprio possuía o maior débito:
Cr$ 30.000,00.49
Por esse tempo, junto com o cunhado João, montou uma loja de
tecidos. O negócio não deu certo, mas lhe deixou experiências, entre
as quais sua inabilidade para a atividade comercial. Afinal, o estabe-
lecimento foi fechado cerca de um ano depois com algum prejuízo.
Se na cidade foi mal sucedido, no campo a situação lhe era mais
favorável. Há algum tempo havia saldado o compromisso decorren-
te da compra das terras das duas irmãs. Em 1949, era proprietário
único do Boqueirão, fazenda avaliada pelo Cadastro de Sergipe em

48
Transcrito de Silvan Aragão Almeida. História de Riachão do Dantas. Abril de 1993, p.
30. (Digitado).
49
Cf. relação dos títulos sob sua responsabilidade, todos com vencimento em 1948. Ar-
quivo do autor.
124 DAVID DANTAS DE BRITO FONTES (1913-2001)

Cr$ 500.000,00. No município, eram consideradas mais valoriza-


das do que ela a Fortaleza de Edmundo Freire, o Maxixe de Pedro
Ribeiro, o conjunto das várias propriedades de Thomé Dantas da
Costa, próspero fazendeiro radicado em Tobias Barreto, o conjunto
das terras dos herdeiros de Antônio Tolentino de Macedo e as duas
fazendas reunidas de Manoel Costa e Silva.50
Apesar dessa situação relativamente confortável, David Dantas
não se contentou em manter-se estacionário e resolveu ampliar
suas terras. Em 06.01.1949 comprou uma propriedade, denomina-
da Fazendinha, a Manuel Dentista, um odontologista prático muito
conhecido de Lagarto.51 O pagamento foi honrado dentro do prazo
estabelecido.52
Assim que tomou posse, David Dantas ampliou a propriedade
com a aquisição de outros pequenos pedaços de terras de vizinhos,
fez cercas, roçagens e vários melhoramentos. Segundo seus próprios
apontamentos, somente para cercá-la, despendeu a quantia de CR$
25.000,00 durante o ano 1951, exatamente o preço que pagara pela
propriedade dois anos atrás. Houve dias em que aí trabalhavam 60
homens. O grande problema eram os feitores. Fez algumas experiên-
cias, mas todos deixaram muito a desejar.
A Fazendinha era uma área diferente do que estávamos acostu-
mados a ver. Localizada a cerca de seis quilômetros do Boqueirão,
em direção ao povoado Samba do município de Riachão do Dantas,

50
Nesse registro aparece também uma tal fazenda de Benta de Arão da Silva Carvalho
avaliada em Cr$ 1.000.000,00. Ver Armando Barreto. Cadastro de Sergipe, Aracaju,
1950, p. 211-212.
51
Os rumos da Fazendinha eram assim descritos: “Principia no marco de pedra da es-
trada que vai de Oiteiros para Bomfim, seguindo linha reta até o marco do riacho da
serra, daí segue na mesma direção do nascente até encontrar a segunda pedra; desta
segue fazendo uma curva até sai na estrada de Madanela no marco de pedra fincado;
deste segue pela mesma estrada da Madanela, até sai na estrada que vai para Palma-
res, seguindo margeando esta estrada de Palmares até encontrar a entrada referida
de Oiteiros para Bomfim, seguindo esta até o marco onde teve princípio”. Cf. Escritura
Pública, fls. 53, livro 5, em 27.09.1944. Cartório de Registro de Imóveis de Lagarto-SE,
52
Conforme o acerto prévio, o custo foi de CR$ 25.000,00 e foi pago com 12 vacas pa-
ridas no valor de CR$ 15.000,00 e o restante a dinheiro com prazo de dois anos. Cf.
Anotações de David Dantas. Caderno sobre compra de fazendas. Arquivo do autor.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 125

a propriedade era formada por duas partes bem diferenciadas. Mais


de metade era coberta por um capim nativo, baixo, ralo, num terre-
no arenoso plano e vasto, chamado de tabuleiro. A outra parte era
preenchida por uma vegetação de tamanho médio com plantas re-
sistentes às secas, como jurema, calumbi, candeia, entremeadas de
pedras de vários tamanhos.
Nos primeiros anos, a viagem do Boqueirão para a Fazendinha
despertava atrativos para os meninos, que se deparavam com uma
realidade física e social bastante diferenciada daquela que conhe-
ciam. Beirando a estrada, habitava uma população pobre, ocupan-
do pequenas áreas de terra, como microproprietários, dedicados à
agricultura ou criação que mal davam para subsistência. Cada fa-
mília tinha sua casa bem simples, onde se percebia como a vida ali
era bem mais difícil, a partir da baixa fertilidade da terra arenosa e
pedregosa.
A qualidade do solo da Fazendinha era considerada fraca. Mas,
apesar de suas limitações, prestou grande auxílio à manutenção do
rebanho de David Dantas, pois aliviou os pastos do Boqueirão, so-
bretudo nos momentos de estio, permitindo assim que ele dispu-
sesse de mais gado e continuasse a vender leite para uma fábrica de
laticínios em Riachão. Como a compra do imóvel fora relativamente
barata e paga sem grandes sacrifícios, em pouco tempo David Dan-
tas empreendia novo negócio.
Em 10.04.1951 adquiriu a Fazenda Colina de João Góes de Araújo,
um dos homens de maior prestígio pessoal em Riachão do Dantas.53
A Colina era formada por terreno bastante fértil, sobretudo o
pasto do Jaboá, onde um baixio de terra boa para capim deixou Da-
vid Dantas fascinado. Situada a cerca de quatro quilômetros do nú-

53
A compra foi acertada por CR$ 268.000,00 nas seguintes condições de pagamento: Em
1951, quando vendesse o fumo, pagaria CR$ 100.000,00 e o restante em dois anos. Cf.
Declaração do vendedor, João Góes de Araújo, em documento de 28.04.1951. A segunda
prestação foi saldada em 01.05.1952 no valor CR$ 81.000,00 e a terceira e última parce-
la foi liquidada em 01.05.1953 na quantia de CR$ 87.000,00. Cf. notas de David Dantas
de Brito Fontes no caderno sobre compra e venda de fazendas. Arquivo do autor.
126 DAVID DANTAS DE BRITO FONTES (1913-2001)

cleo urbano de Riachão do Dantas, tinha área de 384 tarefas. A pro-


priedade era ocupada com animais de vários amigos de João Góes e
encontrava-se bastante descuidada. Ao adquiri-la, dos seus pastos,
apenas o Jaboá tinha comida para o gado. David Dantas tomou pos-
se, em 01.05.1951, e passou a investir. Em pouco tempo, a fazenda
permitia o aumento de seu plantel de criação e de engorda.
Ao tempo em que o patrimônio se ampliava, os problemas tam-
bém iam aumentando. Com três fazendas, ficou mais difícil admi-
nistrá-las de perto. Começou a delegar poderes a gerentes, a quem
atribuía as responsabilidades de contratar trabalhadores e inspe-
cionar os serviços, bem como efetuar pagamentos. Porém o pequeno
profissionalismo dos feitores por vezes gerava prejuízos. Vendo-se
numa situação de destaque e com dinheiro em mãos, alguns faziam
espertezas. Houve casos em que chegaram a abusar da bebida e a
perder o dinheiro de pagamento dos trabalhadores em jogo. Mas
eram ocorrências que faziam parte dos custos, que sempre eram
menores do que os ganhos.
Em relação à família, a partir do início dos anos cinquenta, os
três primeiros filhos deixaram a casa paterna para estudarem inter-
nos em ginásios de Aracaju. Como o casal Miralda e David criava sua
prole com muito afeto e extrema dedicação, a saída do primogênito,
em novembro de 1951, para viver distante, no Ginásio Jackson de
Figueiredo, um meio estranho, com apenas 11 anos e sem nenhuma
pessoa conhecida, provocou muita apreensão e um custo emocio-
nal forte.54 Anos depois, as separações dos demais, que foram para
a companhia do irmão, foram assimiladas com menos sofrimento e
preocupação. Nem por isso os pais deixavam de acompanhá-los com
devotamento e disponibilidade para atender às suas reivindicações
com generosidade. Nos momentos de dificuldades sempre estive-
ram ao lado de cada um, animando-os e ajudando-os a encontrar

54
Oito dias após haver internado seu primogênito, David Dantas deixou seus afazeres
e passou o dia em viagem de marinete a Aracaju para ver como o filho estava, fato
indicador de sua preocupação.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 127

alternativas. Em 1953 a família ampliou-se com o nascimento de


Eduardo, filho temporão.

Foto 13 – David Dantas e família -1954. Arquivo do autor.

Por esse tempo, David Dantas adquiriu seu primeiro veículo mo-
torizado, um jipe, que lhe facilitou a locomoção. Para um homem
inquieto como era o filho mais velho de Francisco Dantas, foi uma
grande mudança. O transporte facilitava a administração das fazen-
das, as viagens a Aracaju para ver os meninos que viviam nos colé-
gios e as suas visitas aos parentes e amigos em Sergipe e na Bahia.
Mas a aquisição do carro exigiu investimentos nada desprezíveis em
estradas. Para a Colina o acesso foi mais fácil, mas para o Boqueirão
foi difícil, e a Fazendinha jamais foi visitada por carro.
Os anos cinquenta representaram um tempo bem favorável para
os pecuaristas, que ascendiam beneficiados pelos elevados preços
do boi, trazendo bons lucros.55 Mas, nesse período, David Dantas
atravessou fases difíceis. Diversificava as atividades, pois, além de
investir em vaca de leite e em boi de engorda, passou a comprar
fumo. Certa vez, quando acumulava um bom estoque, o preço bai-

55
Sobre a expansão dos pecuaristas, ver Ibarê Dantas. Os Partidos Políticos em Sergipe
1889-1964. Rio de Janeiro, Edições Tempo Brasileiro, 1989.
128 DAVID DANTAS DE BRITO FONTES (1913-2001)

xou, resultando num grande prejuízo. Enquanto isso, os emprésti-


mos se tornaram uma prática constante em sua vida empresarial.
Cada vez mais dependente dos bancos num tempo em que o
calote era coisa rara, passava muitas noites com dificuldade para
dormir, remoendo suas angústias, preocupado em saldar seus com-
promissos. Apesar das aflições, dizia que no dia do pagamento sem-
pre o dinheiro aparecia.
A exemplo de outros fazendeiros da época, David Dantas passou
a viajar para o sul da Bahia, como Feira de Santana, Jequié e outros
centros criadores de boi, no intuito de comprar boiadas e algumas
vezes o fez. Mas o transporte do gado era difícil. A boiada vinha a pé
em viagem que durava semanas. Alguns bois se dispersavam, outros
adoeciam e ficavam pelas margens das estradas perdidos ou mor-
tos. Somente de uma vez morreram na viagem 26 bois.56
Depois de gordos, chegava o momento das vendas, que nem
sempre eram tranquilas. Em 1952, vendeu a boiada para um se-
nhor de Arco Verde em Pernambuco, um certo José Benedito, que
lhe deu um prejuízo estimado em CR$ 80.000,00. Usando do nome
de Ferreira Brito, chefe político de Pombal e primo de David Dantas,
o comprador protelou o pagamento por quase dois anos e somente
resgatou uma parte do dinheiro, após a contratação de advogado e
depois de aborrecimentos e várias viagens à Bahia.
Como efeito, a dívida de David Dantas no Banco Mercantil su-
biu para 800 mil. Acossado pelos compromissos, cogitou em vender
uma fazenda para aliviar seu aperto financeiro. Ao final, manteve
o patrimônio e amortizou o passivo. De qualquer forma, o negócio
afetou suas finanças por um bom tempo.
Com os compradores de gado de Sergipe, entre os quais Antonio
Dória de Almeida (Dorinha) de Simão Dias e Martinho Almeida de

56
Em julho de 1952, com doze anos de idade, acompanhado de um vaqueiro, fomos en-
contrar uma boiada. Após dois dias de viagem, alcançamo-la no território da Bahia e
pudemos verificar as práticas dos vaqueiros, os comportamentos dos bois, os momen-
tos de descanso e de caminhada vagarosa nas estradas poeirentas.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 129

Lagarto, grandes importadores de gado de outros Estados, fazen-


deiros e negociantes dos mais conhecidos no Estado, jamais tivera
qualquer problema.
No fim dos anos cinquenta, quando suas dívidas estavam em pa-
tamar mais administrável, David Dantas foi convidado por alguns
fazendeiros de Riachão do Dantas, liderados por João Góes, para
conhecer uma fazenda no município de Itabaianinha, de Raimundo
da C. Fontes. Visitaram-na, olharam os pastos, suas dependências,
mas acharam a empresa grande e iam saindo sem nada oferecer.
David Dantas, constrangido com a situação, chamou-lhes atenção
e sugeriu apresentarem alguma oferta ao proprietário, conhecido
como Senhor da Onça. Resultado, compraram a Lages. Uma parte
ficou com João Góes de Araújo e seus sobrinhos, Thenisson Aragão e
Herófilo Aragão, e a outra banda foi adquirida por David Dantas com
o prazo de pagamento de nove anos sem juros.57
Em face dessas condições e da inflação, que depreciou a moeda
nos anos subsequentes, o compromisso foi saldado sem dificulda-
des com os lucros da própria fazenda. Com uma área total de 1.626
tarefas, a Lages, situada na beira da estrada entre Itabaianinha e
Arauá, com relevo um tanto irregular, comportava baixios de grande
fertilidade para o capim e também assentadas, que mais tarde se
revelariam boas para a cultura da laranja. Embora um pouco aci-
dentada, no conjunto era um imóvel que se aproximava do porte do
Boqueirão, embora seu clima fosse mais frio, um tanto impróprio
para a criação de rebanhos de ovinos e caprinos. Restava investir
para torná-la mais rentável. Foi o que David Dantas fez, despren-
dendo muitas energias e recursos. Se antes já viajava bastante entre
as propriedades, que eram relativamente próximas, a partir de en-
tão tornou-se ainda mais viageiro. Dar conta de quatro fazendas ao

57
A primeira prestação paga por David Dantas foi de CR$ 1.000.000,00 em março de
1959. Quanto às demais, ocorreram quase sempre em 06 de setembro de cada ano, de
1959 a 1967, geralmente no valor de Cr$ 655.500,00 cada. Cf. David Dantas. Caderno
de Anotações. Livro Caixa do período 1952-1972, p. 199. Arquivo do autor.
130 DAVID DANTAS DE BRITO FONTES (1913-2001)

mesmo tempo, sem nenhum filho ou parente para ajudá-lo, fez dele
um homem mais assoberbado e mais endividado.
Suas transações financeiras, que já eram frequentes, intensifi-
caram-se. Era um tempo em que tomava empréstimos a bancos e
a particulares, mas também atendia a muitos, sobretudo aos pe-
quenos e médios proprietários e a cidadãos diversos. Com fama de
rico, numerosos eram os que o procuravam e raramente recebiam
uma resposta negativa. Pelas anotações de fins da década de 1950
e início da década de 1960, por mês era comum fazer mais de dez
transações envolvendo recebimentos, empréstimos e pagamentos.58
Os valores maiores aconteciam através de notas promissórias, mas
as importâncias menores eram fornecidas mediante transação oral
com empenho da “palavra dada”. Como seria de esperar, muitos dos
empréstimos pequenos jamais seriam ressarcidos. Mas tudo isso
fazia parte da lógica do homem de negócios. Poder-se-ia dizer até
que se acostumou com essa vida agitada de compromissos nume-
rosos se não fosse uma dor no estômago aguda e intermitente que
provinha desde os anos quarenta, tornando sua saúde prejudicada,
apesar de procurar administrá-la sem impor sérios limites às suas
atividades.
Em fins dos anos cinquenta, no governo Leandro Maciel (1955-
1959), em parceria com o deputado José Almeida, chefe político de
Riachão, David Dantas encarregou-se da construção de uma estra-
da de piçarra no município de Simão Dias e obtiveram lucro de Cr$
500.000,00 cada. Animados, conseguiram outro contrato, dessa vez
no município de Indiaroba. Para tanto, David tomou dinheiro em-
prestado.59 Vendeu gado, apertou-se e o Estado somente pagou-lhe
quatro anos depois, no final do governo Luiz Garcia. José Almeida
Fontes, sendo deputado estadual, acertou conta antes, mas a parte

58
Cf. David Dantas. Caderno de Anotações . Transações financeiras. Arquivo do autor.
59
Um dos empréstimos foi de Cr$ 200.000,00, tomado a Thomé Dantas, próspero em-
presário de Tobias Barreto. Como esse fazendeiro faleceu, a dívida foi paga ao filho. Cf.
David Dantas. Caderno de Anotações.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 131

de David Dantas foi recebida defasada pela desvalorização da moe-


da, resultando-lhe numa péssima empreitada.
Na esfera familiar, em fins dos anos cinquenta, a situação dos
três primeiros filhos nos estudos deixava-o apreensivo. Ibarê e
Francisco foram reprovados na Bahia. Diante desses insucessos, Da-
vid lamentava, mas sempre demonstrava tolerância e compreensão.
Entretanto, no início dos anos sessenta, as perspectivas dos filhos
lhe pareceram muito preocupantes. Considerando a formatura em
alguma área como importante para estabilidade profissional, após
empenhar-se tanto para ver os meninos formados, ficou bastante
contrariado, senão decepcionado, com os dois mais velhos, quan-
do Francisco deixou os estudos para viver na Fazenda Lages e Ibarê
foi para São Paulo contra a vontade de seu pai.60 Como o terceiro,
Manuel Davis, demonstrava ainda menor inclinação para os estu-
dos, restou como esperança apenas o quarto filho, Eduardo, que fre-
quentava o curso primário. Diante da iminência de separar-se dele
quando fosse cursar o ginásio, mudou-se para Aracaju.
Em março de 1963, deixou o Riachão do Dantas como morada
central para tristeza de parentes e amigos, sobretudo da esposa,
que, bastante chorosa, separou-se de seus pais e do amplo círculo
de amizades construído na sua terra natal, incluindo parentes e ve-
lhas amigas. Devem ter contribuído também para mudança de resi-
dência de David Dantas, os seus insucessos em sua atuação política,
tema do próximo subcapítulo.

60
Francisco José decidiu abandonar os estudos em março de 1961 e Ibarê foi para São
Paulo em novembro de 1961.
132 DAVID DANTAS DE BRITO FONTES (1913-2001)

6. TEMPO DE ATUAÇÃO POLÍTICA: 1945-1963

As disputas políticas em Riachão prosseguiram nos anos trinta


bastante acirradas, mescladas com questões religiosas. Dois gru-
pos se rivalizavam: de um lado, o do padre Manoel Luiz da Fonseca
(1856-1938), que foi continuado pela liderança de Leopoldo de Car-
valho Braque (1861-1947); de outro, o de Manoel Machado Aragão
(1892-1978). Este último, como já dissemos, prestou enormes ser-
viços à população local. Pai de numerosa prole, diante das carências
da Vila, desempenhou o papel de médico, farmacêutico, engenheiro,
negociante, fazendeiro, chefe religioso e político, revelando-se um
“espírito dinâmico e empreendedor.”61
A convite de Leandro Maynard Maciel, então influente diretor
do Departamento de Obras do presidente do Estado Manuel Correia
Dantas, Machado Aragão ingressou na política em 1928, venceu o
pleito e governou Riachão de inícios de 1929 a outubro de 1930,
quando Augusto Maynard Gomes o substituiu pelo coronel Leopol-
do Braque. 62
Com a criação da União Republicana de Sergipe (URS), sob a lide-
rança estadual do médico Augusto César Leite e do coronel Gonçalo
Rolemberg do Prado, da Usina Pedras, Machado Aragão incorporou-
-se àquela agremiação. Quando Eronides Ferreira de Carvalho (da
URS) ganhou a eleição indireta para governador em 1935, indicou-o
para administrar Riachão pela segunda vez. Mas, assim que Vargas
demitiu Eronides Carvalho da interventoria estadual e o substituiu
pelo coronel Milton Azevedo, este, em 16.07.1941, afastou Machado
Aragão, que realizava uma das administrações mais operosas da his-

61
Ver Philomeno de Vasconcelos Dantas Hora. Memórias. Meu Pai, meu queridíssimo
amigo. Rio de Janeiro. 1975, p. 66-67. Centenário de Manoel Machado Aragão 1892-
1992, opúsculo s/d.
62
Cf. Arivaldo Silveira Fontes. Figuras e fatos de Sergipe. Porto Alegre-RS, CFP SENAI,
1992, p. 127
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 133

tória do município.63 Sem mandato e com adversários empenhados


em pôr fim a sua carreira política, Machado de Aragão candidatou-
-se a deputado estadual constituinte em 1947, mas não foi eleito.
Apesar dos grandes feitos ao administrar Riachão em duas ocasi-
ões e travar muitas lutas, cansado de perseguições, transferiu-se em
1948 para Itabaianinha, onde permaneceu até 1978.
Terminava, assim, o domínio do líder protestante e começava o
de Horácio Dantas de Góes (1914-1998),64 pecuarista que governa-
ria Riachão de 1941 a 1947, com pequeno intervalo em 1946 e, pos-
teriormente, seria eleito várias vezes deputado estadual.
Na esfera do catolicismo, com a morte do padre Fonseca em
1938, alguns religiosos provisórios atuaram em Riachão, entre os
quais Frei Idelfonso Raffauf (1938–1941), que começou a construir
novo templo católico, melhor situado na praça da matriz, mais am-
plo e imponente.

63
Entre as obras do prefeito Manoel Machado de Aragão, são citados alguns prédios
como o da Prefeitura Municipal, o Talho de Carne Verde, o das Escolas Reunidas, o da
Usina Elétrica, a instalação de cinco Escolas Municipais, o barracão da feira de Tanque
Novo, calçamento e nivelamento da Praça da Matriz, calçamento no povoado Bomfim,
cemitério do povoado Palmares, a iluminação com acetileno nos povoados. Cf. Opús-
culo Centenário de nascimento de Manoel Machado de Aragão (1892-1992). Arquivo
do autor.
Não obstante o teor informativo da Enciclopédia dos Municípios, as obras de Machado
Aragão foram omitidas na importante publicação. Ver João Oliva Alves e José Alves
de Menezes. Riachão do Dantas in Enciclopédia dos Municípios Brasileiros. Sergipe e
Alagoas. Rio de Janeiro, IBGE, v. 19. 1959.
64
Horácio Dantas de Góes (1914-1998) era filho de Ana Dantas de Magalhães Góes e
Epifânio Francisco de Góes. Sua mãe era neta do coronel João Dantas Martins dos Reis
(1830-1890) do Engenho Fortaleza. Casou-se em primeiras núpcias com Dr. Filome-
no de Carvalho Hora com quem teve vários filhos. Após o assassinato do esposo em
1902, Ana Dantas (Naninha) nove anos depois voltou a contrair núpcias, dessa vez
com Epifânio Francisco de Góes, nascendo Horácio Góes que governou Riachão indi-
cado por interventores e atuou como deputado estadual em sete legislaturas. Primei-
ro, como membro do PSD. Com a intervenção do militares em 1964, aderiu à Arena.
Para uma versão enaltecedora de sua trajetória política, ver Osmário Santos, Jornal da
Cidade, 30.09.1991 e Gazeta de Sergipe, 28.10.1998. Ver também Correio de Aracaju,
26.03.1947, 02.08.1949, 09.08.1949, 06.02.1950, 03.04.1951 e 17.11.1956.
134 DAVID DANTAS DE BRITO FONTES (1913-2001)

Foto 14 – Igreja da Matriz. 1940. Fonte: Enciclopédia dos Municípios. IBGE.

Mas a polarização entre católicos e protestantes prosseguiu com


a chegada do padre José Alves de Castro, que assumiu a direção da
paróquia em 1942 e ali permaneceu até 1953, período em que se
revelou um decidido aliado de Horácio Góes.
David Dantas e sua família, a exemplo de numerosos paroquia-
nos, manifestaram-se muito receptivos à chegada do novo vigário
acompanhado da mãe e irmãs, pessoas muito distintas. Além das
afinidades religiosas que aproximavam David Dantas do chefe re-
ligioso, a este interessava também o apoio material nas obras que a
paróquia desenvolvia. Essa convergência de valores e interesses con-
tribuía para uma relação bastante amigável entre as duas famílias.
O padre José de Castro frequentava a casa de David, onde tra-
vavam conversas amistosas e, não raro, calorosas. No segundo se-
mestre de 1947, quando o referido sacerdote passava férias em Es-
tância, acompanhava de longe as obras da Igreja e pedia favores aos
paroquianos, inclusive a David Dantas, a quem enviou pelo menos
três cartas.65 Atento a tudo, o vigário agradecia as doações de David,

65
As cartas do padre José Alves de Castro são datadas de 28.08.1947, 11.09.1947 e
19.09.1947 e o rascunho de David está sem data, mas escrito no verso da carta recebi-
da de 11.09.1947.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 135

falava das providências para a festa da padroeira e de outros assun-


tos, inclusive da política. Nesse assunto, uma de suas preocupações
era saber se Machado Aragão iria participar da campanha.66
Com o fim do Estado Novo, em 1945, e a deflagração do proces-
so eleitoral, David Dantas alistou-se na Justiça Eleitoral e tirou seu
título sem intenções de participar da política partidária. Diante da
derrota de Machado Aragão para deputado em janeiro de 1947 e
da continuidade do domínio de Horácio Góes, que administrava o
município desde 1941, a UDN, recém-criada, encontrava dificulda-
des em formar sua representação na localidade, apesar dos descon-
tentamentos de algumas lideranças com a gestão do prefeito, como
teria sido o caso de José Hora de Oliveira, que teria revelado sua
insatisfação a Leandro Maciel.67
Nessa conjuntura, segundo David Dantas, certo dia o padre José
de Castro mandou chamá-lo e falou: “Você me disse que quer ficar
afastado da política. O senador Walter Franco quer fundar um parti-
do aqui em Riachão do Dantas e você seria o representante.”68 Pouco
depois, o senador manteve encontro com David, convenceu-o a re-
presentar a UDN em Riachão e a candidatar-se a prefeito. Mas quan-
do David Dantas participou ao padre José de Castro seus propósitos
de candidatar-se, este estranhou a aceitação, reafirmou sua amiza-
de, chamou atenção para a delicadeza de sua situação e concluiu. “Se
pudesse, tê-los-ia no mesmo bloco, formando um só grupo e todos
trabalhando num só sentido. Infelizmente vou vê-los separados.”69
Era manifesta a insatisfação do padre com a candidatura de David,
dando a entender que ficaria do outro lado.
A esposa de David Dantas, Miralda Costa Fontes, que via na po-
lítica um fator de dissensão familiar, também se manifestou reso-
lutamente contra a candidatura e jamais o ajudou nas atividades

66
Cf. carta do padre José de 27.08.1947. Arquivo do autor.
67
Cf. rascunho de carta de David para o padre José, s/d. Arquivo do autor.
68
David Dantas in Caderno de Memórias Políticas, Aracaju, 1999. Arquivo do autor.
69
Pe. José Alves de Castro. Carta a David Dantas, em 19.09.1947. Arquivo do autor.
136 DAVID DANTAS DE BRITO FONTES (1913-2001)

das campanhas eleitorais. Mesmo assim, o filho de Francisco Dantas


resolveu enfrentar o domínio de Horácio Dantas de Góes, prefeito
desde 1941. Antes, porém, foi à casa do adversário comunicar sua
decisão e não o encontrou. Depois, o chefe político filiado ao PSD,
sob a orientação de Augusto Maynard Gomes e Francisco Leite Neto,
passou-lhe o seguinte telegrama.

Muito grato sua visita. Referência sua candidatura continua


firme, minhas comunicações política, lamento seja preciso
trabalharmos campo oposto vencido ou vencedor saberei
respeitar autonomia povo minha terra. Abraços Horácio.70

No pleito de 19.10.1947, o PSD de Riachão apoiou o coletor fe-


deral José Hora de Oliveira,71 conhecido como Joca Hora, e empe-
nhou-se pela sua candidatura a prefeito.
Em contraposição, David Dantas aceitou o desafio de concorrer
pela UDN. Poucos dias antes eleição, teria proferido um discurso,
cujo rascunho dá uma noção dos sentimentos:

Um governo sem oposição significa falta de homens e cami-


nhos a passos largos para a decadência.
Encarando esses importantes problemas, aceitei essa tarefa
árdua e difícil de representante da União Democrática Na-
cional.
Quiseram meus correligionários que me candidatasse a Pre-
feito de Riachão, e, aqui estou candidato oposicionista de
nossa terra.

70
Telegrama 126601/95/19/14 de 09.09.1947. Arquivo do autor.
71
José Hora de Oliveira (1900-1967) descendia dos Ferreira Brito de Catu (BA). Filho
de Próspero Ferreira de Faria Oliveira (1863-1926) e Zulmira Hora de Oliveira, tinha
cinco irmãos, entre os quais o comerciante João Hora de Oliveira. O pai fora comer-
ciante e esteve envolvido na política de Riachão durante a Primeira República, tendo
administrado o município de 1900 a 1901 e no triênio de 1914 a 1916. J. C. Pinto Dan-
tas Júnior. Descendências de Francisco Ferreira Brito e do cap. José Bernardo Leite.
Revista Genealógica Brasileira. n. 4, 1941, p. 343-344.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 137

Meus amigos. Tencionamos fazer uma política amistosa, vi-


sando o progresso de nossa terra acima das paixões partidá-
rias. Duas eleições que assisti em Riachão, ambas os chefes
estavam prevenidos para o que desse e viesse. Mudemos de
opinião. Façamos uma política decente para que Riachão não
marche na retaguarda dos municípios (...) como tem marcha-
do.72
Como candidato que sou, vencedor ou vencido, formaremos
um grupo para defendermos os interesses de nossa terra.
Cooperaremos com atual situação, encarando acima de tudo
o progresso de Riachão. Domingo próximo vindouro, iremos
às urnas e espero do povo dessa terra o seu apoio. (...) 73

O usineiro e, então, senador Walter do Prado Franco (1908-


1957), uma das principais lideranças da UDN, a exemplo do que fa-
zia em praticamente todo o Estado, ajudou a financiar as despesas
da campanha dos correligionários de Riachão do Dantas. O demons-
trativo que se segue, encontrado entre os papéis de David Dantas, é
expressivo enquanto revela a natureza dos gastos que eram realiza-
dos nas eleições daquele tempo, quando o transporte de eleitores e
o fornecimento de alimentação eram práticas comuns:

72
No rascunho David Dantas escreveu que “Manoel Machado Aragão abandonou a polí-
tica dando ampla liberdade a seus amigos,” mas, certamente por considerar inoportu-
na, riscou a frase. Documento no Arquivo do autor.
73
Rascunho de discurso dirigido aos amigos de Riachão do Dantas. Arquivo do autor.
138 DAVID DANTAS DE BRITO FONTES (1913-2001)

QUADRO I
DESPESAS NAS ELEIÇÕES DE 19.10.1947

RUBRICA IMPORTÂNCIA EM CR$


Passagem de avião 400,00
Ida e volta a Tanque Novo de Automóvel 50,00
Ida e volta a Campos 300,00
Missa Curralinho 150,00
Carne de gado: 27 arroubas a 80 2.160,00
Carne de Porco 900,00
Farinha, Feijão e Lenha 225,00
Gratificação José Alípio 2.000,00
Caminhão João Carlos 2.000,00
Gratificação e despesas Caçula 1.200,00
Idem Beatriz * 400,00
Despesas [de]Antônio Prata, Oscar e Juca 380,00
Gratificação Juvenal 200,00
Viagem a Aracaju 200,00
Total 10.565
Gratificação a diversos de 50, 100, 30 ?
Fonte: Anotações de David Dantas.
* Não sabemos se essa Beatriz era a França ou a filha de Sr. Moisés.

Na ocasião, Walter Franco mandou chamar David Dantas e deu-


-lhe 20 contos para as despesas da campanha. O candidato udenista,
neófito em política, com a franqueza e a determinação que lhe eram
peculiares, saiu em campo à busca de adeptos, contou com o apoio
do grupo de Machado Aragão, que depois de seis anos de domínio de
Horácio Góes já se encontrava enfraquecido. Quando David aborda-
va alguma liderança, quase sempre ouvia que estava comprometida
com seu Horácio. Até alguns cidadãos que lhe estimularam a candi-
datar-se, alegando que era preciso “derrubar Horácio”, terminaram
votando no candidato situacionista, apoiado pelo padre José Alves
de Castro. David Dantas e José Hora travaram uma disputa civiliza-
da, sem ofensas pessoais ou qualquer incidente lamentável e saíram
da eleição sem queixas mútuas. O Diário de Sergipe, órgão do PSD,
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 139

publicou que José Hora de Oliveira foi vitorioso com 624 votos, mas
não revelou a votação de David Dantas como candidato a prefeito.74
Após o pleito, o filho de Francisco Dantas foi a Aracaju, procurou
Walter Franco e devolveu o restante do dinheiro que tinha recebido
para a campanha. Ao entregar-lhe a sobra, ouviu do senador: “É a
primeira vez que alguém me devolve alguma importância restante.
Todos levam mais dinheiro”.75
O prefeito José Hora de Oliveira (1948-1952) realizou uma das
mais operosas administrações de Riachão do Dantas.76 Homem sisu-
do, ao não se subordinar a todas as orientações do chefe político Ho-
rácio Góes, com ele se incompatibilizou e deixou o município após
sua profícua gestão.
No pleito seguinte para prefeito, ou seja, em 1950, o lagartense
José Almeida Fontes (1915-1975) candidatou-se pela UDN.77 Casado
com uma filha de Machado Aragão, que deixara o Riachão, em 1948,
contrariado com as perseguições que os adversários lhe moviam, o
novo postulante afirmou-se como chefe político da oposição ao do-
mínio do PSD no município. David Dantas incorporou-se à sua cam-
panha e parte da sociedade mobilizou-se para debilitar o domínio
de Horácio Góes. Mas era uma competição desigual. Pois, além do
apoio da estrutura situacionista estadual, havia o suporte da prefei-

74
O jornal publicou que o PSD elegeu quatro vereadores e a UDN, dois. Foram citados
como eleitos pelo PSD: José Costa Fontes, 196 votos; José Batista de Souza, 131; José
Oliva Alves, 122 e Teófilo V. dos Santos, 96 votos. Quanto aos candidatos a vereador
pela UDN cita: David Dantas, 383 votos e Aquino, 120 votos. Deve ter havido equívoco
apresentar David como candidato a vereador. Cf. Diário de Sergipe, 05.11.1947.
75
Ver David Dantas. Caderno de memórias 2. Arquivo do autor.
76
Entre as obras do prefeito José Hora e Oliveira, podem ser citadas a grande reforma
da praça da matriz, calçamento de ruas, recuperação de estradas vicinais, melhoria
do cemitério, entre outras. Ver Silvan Aragão Almeida. História de Riachão do Dantas.
Abril de 1993. (Digitado). p. 35.
77
José Almeida Fontes assumiu a direção do partido após reunião com as presenças dos
deputados Leandro Maciel e Jocelino Carvalho com um grupo de correligionários de Ria-
chão, entre os quais José Almeida Costa, Fiel Fontes Costa, Raul Silva Castro, Mariano Pe-
reira de Souza, Antonio Prata Matos, Urcino Fontes de Almeida e os eleitos para o diretório
que ficou assim constituído: José Almeida Fontes (presidente), Oscar Araújo Pinho (secre-
tário), José Boaventura Filho (tesoureiro). Cf. Correio de Aracaju, 24.05.1949, p. 1.
140 DAVID DANTAS DE BRITO FONTES (1913-2001)

tura e o controle clientelista liderado pela atuante esposa do depu-


tado, Creuza Fontes de Góes.78

Fotos 15 e 16 – Riachão do Dantas em fins da década de 1940.


Fonte: Enciclopédia dos Municípios. IBGE.

Como José Almeida não dispunha de recursos suficientes para


financiar uma campanha, foi passada uma lista de colaboradores
que apurou CR$ 11.505,00, importância que teria superado as des-

78
Jeferson Augusto da Cruz. Sob o Comando da Matriarca: Trajetória Política, Social e
Familiar de Creuza Fontes de Goes em Riachão do Dantas/SE (1925 – 2000). Trabalho
de conclusão de curso (História). Faculdade José Augusto Vieira, Lagarto, 2011.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 141

pesas do pleito, registradas em CR$ 5.345,00.79 Apesar de ações


conjugadas como essa, mais uma vez os udenistas saíam derrotados
em Riachão do Dantas. Em 1950 triunfou o candidato do PSD João
Simões Freire, dono de cartório.
Em 1954, o deputado Horácio Góes apresentou como postulante
à prefeitura local seu próprio sogro, José Costa Fontes, conhecido
como Seu Costinha, tio da esposa de David Dantas, e o PSD venceu
pela terceira vez consecutiva. Desde a indicação de Horácio Góes
para administrar o município até o fim da gestão de seu sogro, se-
riam 18 anos de predomínio daquele chefe político, quando adver-
sários teriam sofrido perseguições e violências. É certo que no pas-
sado, houve momentos mais conflituosos com ocorrências inclusive
de atentados contra lideranças. 80
Durante o pleito de 1947, quando David Dantas concorreu com
José Hora de Oliveira, não encontramos registros de violências. En-
tretanto, a partir da eleição de 1950, quando José Almeida Fontes
concorreu para prefeito pela oposição, as campanhas se tornaram
mais acirradas e os adeptos da UDN passaram a ser tratados de for-
ma abusiva. Horácio Dantas Góes, em entrevista sobre suas práticas
políticas, afirmou: “Eu sempre me conduzi com equilíbrio. Não per-

79
Colaboraram com Cr$ 2.000,00 os senhores: João Góes de Araújo, David Dantas e Antonio
Prata. Com Cr$ 1.000,00: Pedro Ribeiro e Nemézio Fontes Filho. Com Cr$ 500,00: José
Costa, João Lisboa, Egídio Lisboa, Abdias Evaristo de Carvalho, Isac Araújo, Antonio Lisboa
e Valter Fontes & Irmão com R$ 505,00. Cf. Relação dos doadores. Arquivo do autor.
80
Antes de 1930 houvera as acusações contra o padre Fonseca. Manoel Machado Aragão
sofreu dois atentados. O primeiro ocorreu em 1930 em sua própria casa. O autor do
crime teria confessado que recebeu 500$000 (quinhentos mil réis) de Epifânio Fran-
cisco de Góes e de seu filho Quincas Góes, sendo este irmão de Horácio Dantas de Góes
por parte de pai. Cf. depoimentos ao autor de Neuza Aragão Costa, em 22.07.2009,
filha de Machado Aragão, e de Raimunda Fontes Aragão, filha de José Costa Fon-
tes e nora de Machado Aragão, em 27.07.2009. O segundo atentado aconteceu em
01.03.1935 em passagem pelo Campo do Crioulo, povoado do município de Lagarto,
segundo sua nora Raimunda Fontes Aragão, por questão de terras na região. Nessa
ocasião, Machado Aragão foi atingido por uma bala e mais de vinte caroços de chumbo
e foi hospitalizado em Aracaju por vários dias. Cf. David Dantas, anotações em seu ca-
derno do período 1929-1942. Epifânio Francisco de Góes fora intendente de Riachão
no período de 1923 a 1925. Cf. Arivaldo Silveira Fontes. Figuras e fatos de Sergipe.
Porto Alegre-RS, CFP SENAI, 1992, p. 127.
142 DAVID DANTAS DE BRITO FONTES (1913-2001)

segui ninguém.”81 Não parece ter sido assim. Que dizer das denún-
cias de transferências de professoras e serventes,82 de agressões,
prisões e espancamentos de vários simpatizantes ou militantes
partidários na versão dos udenistas?83 Com o controle da máquina
pública, numa conjuntura em que o governador, o prefeito, o depu-
tado estadual eram do PSD, Horácio Dantas Góes endureceu diante
da perspectiva de alternância de poder.

Foto 18 – Prédio da Prefeitura de Riachão do Dantas.


Fonte: Enciclopédia dos Municípios. IBGE.

81
Horácio Góes in entrevista a Osmário Santos. Memórias de Políticos de Sergipe no Sécu-
lo XX. Aracaju, J. Andrade, 2002, p. 324.
82
Há informações de transferência da professora Risoleta Cursino Freire, mãe de nume-
rosa prole, do professor Francisco Dantas Araújo e dos serventes Otoniel de Araújo
Pinto e Pedro Oliva de Andrade. Este último teria sido também espancado com cipó
caboclo. Cf. Correio de Aracaju, 17.11.1956.
83
Ver Correio de Aracaju, 06.07.1951 e 17.11.1956. Esta última matéria trata de uma
carta aberta a Orlando Dantas, proprietário da Gazeta de Sergipe, crítico acerbo da
UDN, que não publicando a missiva, foi reproduzida no órgão da UDN, declinando os
nomes das numerosas vítimas de prisões e/ou espancamentos.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 143

As prisões arbitrárias se amiudavam, os udenistas impetravam


habeas-corpus, mas quase sempre a decisão perdia efeito diante
da força policial respaldada pela estrutura de poder vigente rami-
ficado até o Judiciário.84 De forma que as ações truculentas contra
os opositores, perpetradas pelos sargentos Balbino Nunes e Milton
Menezes, ou mesmo pelo praça Amarílio, encontravam reduzida re-
percussão.85
David Dantas acompanhou a eleição de 1954 com muito interes-
se e anotou a apuração dos votos no seu município.
QUADRO II
Eleições de 03.10.1954
Votação em Riachão do Dantas

PARA GOVERNADOR
Leandro Maciel 1.181
Edézio Vieira de Melo 1.349

PARA PREFEITO
Abílio Fontes 1.174
José Costa Fontes 1.344

PARA DEPUTADO ESTADUAL


José Almeida 1.128
Horácio Góes 1.292

84
Foram citados como vítimas de arbitrariedades do domínio de Horácio Góes: Onéssimo
Pinto, João França Pais, Otoniel Pinto Filho, Raul Silva Castro, João Monteiro de Faria,
José Lourenço dos Santos, João Evangelista de Macedo, os três irmãos: José, Domingos
e Lourival Vieira dos Santos, Josefa Freire Costa, esposa de Guilhermino Roberto da
Costa, Raimundo Lisboa dos Santos, João Costa, Ricardo Francisco dos Santos, Maria
Edite Dantas, o comerciante Guilhermino Martins Fontes, Maria Domingas de Jesus e
seus filhos Antonio Monteiro dos Santos e José Alves da Silva; José Batista dos Santos,
Salustiano de Jesus, José Pereira Filho, Marinho Pereira dos Santos, Olímpio Costa e Silva
e seu filho Otávio Costa e Silva. Teriam sido espancados Mariano Pereira de Souza, Almi-
ro Souza, Walderison Pereira do Nascimento, João Batista Santana, Paulo Pereira, João
Evangelista dos Santos, João de Bela, Alcides dos Santos e José Lopes de Figueiredo. Cf.
Correio de Aracaju, 17.11.1956. Ver também Edileuza Silveira Alves. UDN X PSD em Ria-
chão do Dantas (1950-1964). Trabalho de conclusão de curso (História) Universidade
Federal de Sergipe (UFS), Programa de Qualificação do Docente, Pólo de Lagarto, 2002.
85
Cf. Correio de Aracaju, 02.08.1949, 09.08.1949, 06.02.1950, 03.04.1951 e 06.07.1951.
144 DAVID DANTAS DE BRITO FONTES (1913-2001)

Continuação
VEREADORES
José Boaventura 331
Urcino Almeida 276
José A. Costa 160
Luiz Victor 159
Fiel Fontes 169
Otaviano Correia 60
Deusdeth Ferreira 271
José Oliva Alves 183
Fortunato Melo 204
José S. Batista 229
José Alves da Silva 273
João Alves da Silva 165

DEPUTADOS FEDERAIS
Jocelino Emílio de Carvalho 1.059
Valter Franco 21
Seixas Dória 41
Matos Teles 03
Jesuíno Abreu 02

SENADOR
Lourival Fontes 2.298
Maynard Gomes 1.118
Durval Cruz 1.261
Orlando Dantas 305
Francisco Macedo 04
José Conde Sobral 974
Antonio J... 06
Houve mais 33 candidatos a deputado com pouca votação

Fonte: Anotações realizadas por David Dantas. Arquivo do autor.

Embora os pessedistas mantivessem, por meio do pleito de


1954, o controle da prefeitura, a eleição de José Almeida Fontes
(UDN) para a Assembleia Legislativa, num momento em que Lean-
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 145

dro Maynard Maciel (UDN) sairia vitorioso para governador, torna-


va o quadro menos favorável para os pessedistas, embora eles de-
morassem a dar-se conta da nova conjuntura política.
Quando, em inícios de 1955, os udenistas fizeram uma recep-
ção festiva a José Almeida Fontes, que assumira uma cadeira na
Assembleia Legislativa, houve um incidente grave. Políticos e po-
pulares simpatizantes e/ou vinculados à UDN receberam o novo
deputado no ponto de ônibus e acompanharam-no até a praça da
Matriz, onde tentaram prestar homenagem com discursos políticos
elogiosos. Antes de as falas começarem, funcionários vinculados à
prefeitura, que tinha como titular José Fontes Costa, ligaram o alto
falante em elevado volume e, em explícita provocação, colocaram
música de letra de achincalhação, perturbando a manifestação. En-
quanto o pequeno evento era interrompido, em meio à indignação
dos udenistas, um membro do grupo subiu num poste e cortou o fio
do alto falante. As falas foram retomadas em ambiente de tensão,
mas não demoraram e o ajuntamento se dispersou. David Dantas
foi embora, assim como a maioria das pessoas que participaram da
homenagem. Mas, cerca de uma hora depois, começou uma certa
inquietação entre udenistas e pessedistas.
Horácio Góes estava fora da cidade, mas um seu subalterno, ao
circular com uma arma à vista, foi desarmado e o revólver entregue
à esposa, Creuza Góes, em meio a seus pedidos veementes, alegando
que a arma era do marido. Depois de algum tempo, o deputado José
Almeida teria apontado revólver em direção à casa do prefeito, cujas
portas foram então fechadas, enquanto um grupo de correligioná-
rios do prefeito refugiado na referida residência esteve a preparar-
-se para o confronto com barricadas internas. 86 No início da noite,
a situação se agravou e a força policial, sob controle dos udenistas,
passou a atirar das proximidades do Quartel de Polícia. As balas,

86
Cf. informações de Manoel Davis Costa Dantas ao autor, em 10.08.2009. Sobre a versão
dos pessedistas, ver Diário de Sergipe, 08.01.1956.
146 DAVID DANTAS DE BRITO FONTES (1913-2001)

certamente de fuzil, passavam pela frente da casa do prefeito em


direção à rua do Tanque. Afinal, ninguém saiu ferido ou morto.87
O caso repercutiu no governo Leandro Maciel, indicando o novo
momento da política de Riachão, quando a competição se tornou
mais renhida e agressiva. Horácio Góes articulou-se. Próceres do
PSD acompanhados de Dr. Osman Hora Fontes, Procurador da Re-
pública em Sergipe e parente do chefe político pessedista, estiveram
em Riachão. O juiz Solón Figueiredo foi encarregado de apurar os
fatos, mas ninguém foi punido.
Com a representação de dois deputados estaduais, um do PSD
e outro da UDN, Riachão continuou sem registrar assassinatos polí-
ticos, mas circularam notícias não comprovadas de atentados con-
tra Horácio Góes88 e também em relação a José Almeida.89 Ademais,
houve desarmamentos, agressões, entre as quais a mais grave ocor-
reu em 1956 contra Francisco Julião de Oliveira (1927-1997), um
auxiliar de Horácio Góes,90 fato que aborreceu David Dantas, que
não compactuava com tais métodos.
Homem pacífico, nunca em suas fazendas ou em sua carreira
política David promoveu qualquer ato de perseguição ou violência
com quem quer que fosse. Em relação aos seus adversários políti-
cos, sempre os tratou com urbanidade e nunca os considerou como
inimigos, embora alguns eventos tenham lhe trazido contrarieda-
des. Quando foi pedir a José Costa Fontes, tio de sua esposa Miralda

87
Próximo de meia-noite chegou ao Engenho Salgado o estudante de medicina Givaldo
Costa Fontes, que se encontrava na residência do prefeito e narrou a movimentação
interna da casa, manifestando indignação com as ações dos policiais.
88
Noticiou-se que Horácio Góes sofrera atentado na sua fazenda, mas reagiu à altura,
revidando contra os malfeitores. Cf. Sergipe Jornal, 05.02.1955.
89
Segundo o filho de José Almeida, este “foi a procura do assassino contratado, sabati-
nando-o na fazenda de seu primo Martinho Almeida, em Lagarto. Descobriu o man-
dante, o valor pago, etc., e o liberou para retornar a Pernambuco. Ficou sem provas e,
consequentemente, sem condições de abrir um processo judicial contra os autores
intelectuais do plano criminoso.” Cf. Silvan Aragão Almeida. História de Riachão do
Dantas. Abril de 1993. (Digitado). p. 42.
90
Foram considerados suspeitos da agressão Salustiano de Jesus, João de Gino, Samuel
Pereira, José Raimundo, Josias Pereira e José Eliziário. Diário de Sergipe, 06.10.1956.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 147

e sogro de Horácio Góes, para avalizar uma nota promissória, ouviu


dele a admoestação: “Eu olho com maus olhos aquele que vota con-
tra Horácio” e teria repetido a ameaça. Tratando-se de uma pessoa
com quem mantinha relações cordiais e familiares desde sua infân-
cia, o fato desagradou-lhe muito e, do seu jeito, comentou-o com nu-
merosos interlocutores.
Apesar de absorvido em suas atividades de fazendeiro, David
Dantas manifestava-se bastante interessado em acompanhar os
acontecimentos mundiais e nacionais. Pelos anos cinquenta, não
perdia o noticiário do Repórter Esso, assinava o jornal Correio de
Aracaju, órgão da UDN, e A Semana, folha feita por Francino da Sil-
veira Déda e por José Carvalho Déda, conhecido como Zéca Déda
de Simão Dias. Era assinante também da Revista O Cruzeiro. Mais
tarde, passou a receber A Cruzada, a Gazeta de Sergipe e algumas
revistas cristãs de preferência de sua esposa Miralda. A partir dos
anos sessenta, esteve muito interessado também em alguns jornais
do Sudeste, que o autor desta memória comprava, tais como o Jornal
do Brasil, o Correio da Manhã, ambos do Rio de Janeiro, bem como a
Folha de S. Paulo.
No pleito de 1958, quando Horácio Góes não dispunha do res-
paldo do governo estadual, envolvendo a força policial e as agências
cobradoras de impostos para penalizar adversários, os oposicionis-
tas, que se fortaleciam, ganharam a prefeitura de Riachão do Dantas.
Na mesma ocasião, foram eleitos os dois candidatos a deputado es-
tadual, Horácio Dantas de Góes (PSD) e José Almeida Fontes (UDN).
Para administrar o município foi eleito o candidato da UDN Abílio
de Carvalho Fontes (conhecido como Bilú), proprietário da fazenda
Lagoa Grande, homem cordato, tímido, pouco afeito às disputas po-
líticas e ao ritual da vida pública.
A decisão de sua candidatura ocorreu numa reunião com a
presença de Dr. Leandro Maciel. Insistiram com David Dantas, mas
como ele se manifestou irredutível, apelaram para Abílio Fontes que,
aceitou sob condição: a presença de David Dantas ao seu lado como
vereador. E assim ocorreu. Abílio Fontes foi eleito com 254 votos.
148 DAVID DANTAS DE BRITO FONTES (1913-2001)

Foto 19 – Posse de Abílio Fontes (UDN). Machado Aragão discursando. Da direita para
a esquerda, Luiz Garcia de terno claro, David Dantas de óculos, Abílio Fontes e um
personagem não identificado. Fonte: Centenário de Manoel Machado Aragão. 1892-
1992. Aracaju, [s.n]. 1992.

Desde a campanha, o filho de Francisco Dantas respaldou seu


velho amigo em todos os momentos mais difíceis. No fundo, ad-
ministraram o município em parceria, no período de 07.02.1959 a
10.02.1963. Quando as dificuldades pronunciavam-se, Abílio Fontes
licenciava-se e David Dantas assumia a direção. A primeira licença
durou seis meses. Terminado o período de licença, o prefeito titular
assumiu. Mas, falando de vez em quando em renúncia, não demorou
a solicitar a volta de David Dantas, e assim transcorreu seu mandato.
Quando surgia um problema maior para resolver, o prefeito eleito
apelava para seu companheiro de administração.
Nos primeiros meses da primeira substituição, David Dantas,
como presidente da Câmara Municipal, elaborou um texto para seus
pares, no qual avaliava a situação financeira em que se encontrava o
município. Por esse pronunciamento, a administração de José Costa
Fontes, sob o controle de Horácio Góes, deixou ao seu sucessor a im-
portância de Cr$ 3.000,00 (três mil cruzeiros) no cofre. Os salários
do funcionalismo estavam defasados há vários meses. Mas, ao sair,
o prefeito concedeu um aumento superior a 200% para seus suces-
sores pagarem. A folha de pessoal que era de Cr$ 20.000,00 (vinte
mil cruzeiros) passou para Cr$ 60.000,00 (sessenta mil cruzeiros).
Como se isso não bastasse, ficaram também as dívidas com o IAPI
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 149

(Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Industriários), de com-


bustível para a Usina Elétrica e da ambulância da prefeitura. Ade-
mais, na visão de David Dantas, havia uma estrutura de arrecadação
defeituosa, de forma que pagavam impostos apenas os oposicionis-
tas, mesmo assim o montante significava diante dos compromissos
efetivos da prefeitura. Registrava-se também uma defasagem na
tributação. Por exemplo, o despacho de um caminhão carregado de
fumo em Lagarto custava Cr$ 1.560,00 (um mil quinhentos e ses-
senta cruzeiros) e em Riachão do Dantas Cr$ 34,80 (trinta e quatro
cruzeiros e oitenta centavos).91
O que mantinha a máquina administrativa era a cota do governo
federal destinada aos municípios. Metade dessa verba deveria ser
aplicada nos distritos (povoados), que, aliás, apresentavam muitas
carências. O povoado Volta, grande produtor de laranja, dispunha de
estrada muito precária, dificultando escoamento de sua produção.
As vias que ligavam os povoados Tanque Novo, Bomfim e Palmares
se encontravam semidestruídas pelas chuvas. Palmares, então, vivia
abandonado à própria sorte. Carecia de prédio para abrigar a feira
e reformas no cemitério. O ensino era precário e o município mal
mantinha as poucas escolas existentes nos povoados.92
Diante desse quadro, David Dantas prometia administrar com
transparência, mostrando as receitas e as despesas. Para melhorar
a arrecadação, foram criados cargos de 4o. e 5o. fiscais. O prefeito
procurou atender às reivindicações maiores dos povoados e na sede
municipal realizaram-se algumas obras. Abílio Fontes (Bilú) come-

91
Cf. David Dantas. Texto elaborado no primeiro período em que administrou o municí-
pio Riachão do Dantas, provavelmente em 1960 ou 1961. Não encontramos evidência
se chegou a ser apresentado aos vereadores. Cópia no Arquivo de David Dantas com o
autor. Outro texto discorrendo sobre a situação do município foi lido em 28.06.1961,
conforme documento 38, correspondente à Ata da 14ª. sessão da Câmara municipal
daquela data.
92
Cf. David Dantas. Situação da prefeitura de Riachão do Dantas. A Cruzada de 05.08.1961
e cópias de discurso proferido, na Câmara Municipal, em 31.07.1961 e 31.01.1962. Ver
anexo II.
150 DAVID DANTAS DE BRITO FONTES (1913-2001)

çou a construir um matadouro93 com as mínimas condições sanitá-


rias necessárias, obra concluída por David Dantas. Este avaliava que
as maiores carências do município estavam na educação, assistência
médica, abastecimento de água e energia. Diante da herança deixa-
da pelos adversários políticos e consciente das dificuldades inter-
nas, decidiu agir, recorrendo a influências externas.
Com relação à água, tratando-se de uma obra de grande dimen-
são para a época, seu propósito era apelar para o presidente Jânio
Quadros, através do Serviço Nacional de Assistência aos Municípios,
pois a situação existente era inaceitável. Conforme informou: “o tan-
que público que antes servia a população, tem suas correntezas ori-
ginadas de fundos de quintais, muitos destes não possuindo fossas
e a água que vem com as chuvas é contaminada de todos os germes,
sendo o mesmo tanque considerado pela Saúde Pública como um
dos maiores focos de shistosomose de Sergipe.”94
A renúncia do presidente Jânio Quadros atrapalhou seus planos.
Apesar disso, com os proventos dos primeiros seis meses de prefei-
to, substituto de Abílio Fontes, David mandou construir uma fonte
de água para a cidade e deu-lhe o nome de Fonte D. Thereza, como
uma forma de homenagear a mãe. Como perdera os pais aos dez
anos, falava deles com grande frequência e tudo fazia para enaltecê-
-los. Não foi por acaso que publicou num jornal uma crônica como-
vente sobre o último ano de vida de sua mãe, a propósito do 32O
aniversário de morte.95

93
O matadouro foi construído em terreno doado pela família de Manoel Costa e Silva. Cf.
informações de Francisco J. C. Dantas ao autor.
94
Cf. David Dantas. Discurso na Câmara Municipal em 31.08.1961, jornal A Cruzada,
05.08.1961.
95
Ver Correio de Aracaju, 14.11.1956.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 151

Quanto à educação, articulou-se com lideranças de Aracaju


e recorreu ao seu primo e amigo Oliveira Brito, deputado federal
eleito pela Bahia.96 Este liberou verba e viabilizou a instalação do
Ginásio, que contou com a colaboração do então juiz de Riachão do
Dantas, Artur Oscar de Oliveira Déda. Este magistrado, que residia
na comarca, passou a dirigi-lo com eficiência, de forma que, nos pri-
meiros meses, já contava com 40 alunos. Como funcionava proviso-
riamente no prédio do Grupo Escolar, a pretensão de David Dantas
era dar-lhe uma sede nova. Para tanto, recorreu mais uma vez a Oli-
veira Brito e foi atendido. O Ginásio Francisco Dantas, inaugurado
em 1960, ofereceu ensino fundamental da 1a. a 8a. séries até 1977,
quando Horácio Góes e seus correligionários mudaram a denomina-
ção para apagar a memória dos feitos dos adversários.97
Outra ideia no campo educacional que David Dantas tentou rea-
lizar foi a instalação em Riachão do Dantas de um colégio de freiras.
Na qualidade de prefeito substituto, mandou um ofício para o bispo
de Estância. Este foi à sede daquele município na semana seguinte,
verificou a carência de escola, depois vieram duas religiosas e, com
o padre, fizeram um recenseamento da demanda da cidade e encon-
traram 74 jovens interessadas em tornarem-se alunas.
O problema foi proporcionar-lhe instalações próprias e perma-
nentes. Naquele momento, havia uma casa relativamente ampla, um

96
Antônio Ferreira de Oliveira Brito (1908-1997) nasceu em Ribeira do Pombal (BA).
Filho de Domingos Ferreira de Brito e de Evência de Oliveira Brito, esta nascida no
Engenho Grutão em Riachão do Dantas (SE). Formou-se pela Faculdade de Direito da
Bahia em 1933. Exerceu o mandato de deputado da Assembleia Constituinte da Bahia
(1947) e elegeu-se deputado federal pelo PSD a partir de 1950 em todas as legisla-
turas até 1962. No curso desse tempo, foi Ministro da Educação e Cultura (09.1961
a 06.1962) e Ministro de Minas e Energia de 1963 até 1º.04.1964. Depois de 1964,
esteve no MDB, depois foi para ARENA, reelegendo-se em 1966, mas teve o mandato
cassado em 1969. Em 1985-1990, presidiu a Companhia Hidro Elétrica do São Fran-
cisco. Faleceu no dia 3 de julho de 1997, em Salvador. Cf. Israel Beloch, Alzira Alves de
Abreu (Org.). Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro (1930-1983). Rio de Janeiro,
Forense/FGV/CPDOC/FINEP, 1984, p. 484-485.
97
Cf. depoimento de Helenaldo da Fonseca Oliva, secretário da Prefeitura de Riachão do
Dantas ao autor em 02.11.2003. Arquivo do autor.
152 DAVID DANTAS DE BRITO FONTES (1913-2001)

sobrado localizado na praça da matriz num alto com vista privilegia-


da que fora residência do padre Manuel Fonseca.

Foto 20 – Residência do Cônego Manoel Luiz Fonseca (1856-1938).


Fonte: Clodomir Silva. Álbum de Sergipe.1920.

David Dantas havia adquirido o imóvel e passado para o autor


dessas memórias. Como este estava em São Paulo, a pedido do pai,
enviou-lhe uma procuração cedendo o imóvel para abrigar o colé-
gio. Uma comissão de católicos reuniu-se com o vigário, no sentido
de angariar fundo para adaptar a casa para residência das freiras.
Por esse tempo, realizou-se um leilão de 14 reses para manutenção
inicial das religiosas e tudo indicava que a ideia seria concretiza-
da. David Dantas escreveu ao então deputado federal Lourival Ba-
tista, solicitando seu apoio,98e foi a Brasília, onde conversou com o
senador Lourival Fontes, que apoiou a ideia e, de imediato, assinou
a doação de Cr$ 20.000,00 como contribuição pessoal, prometendo
ainda destinar Cr$ 120.000,00 no orçamento para tal fim.99

98
Cf. carta de 02.05.1962 em nosso poder. Arquivo do autor.
99
Cf. David Dantas. Cópia de carta enviada ao padre Ezaú Barbosa, 01.11.1962 e Livro
caixa 1952-1972, p. 194. Arquivo do autor.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 153

Mas aí surgiu um problema. Como a procuração estabelecia que,


se o colégio não funcionasse, a casa cedida voltaria ao doador, o pa-
dre Esaú Barbosa, certamente instruído por políticos contrários ao
projeto, disse que somente aceitaria se fosse doada definitivamen-
te à Paróquia. Nasceu assim o desentendimento e o impasse. David
e o padre Ezaú foram ao Bispo Diocesano, com sede em Estância,
tentar contornar o problema. Mas Sua Reverendíssima D. Coutinho
apegou-se à sugestão da inalienabilidade, as divergências se acentu-
aram e o projeto do colégio de Freiras inviabilizou-se. Parecia que a
incorporação da casa aos bens da paróquia prevalecia sobre a insti-
tuição de ensino.
David ficou decepcionado e mandou uma carta expressiva ao
padre Ezaú Barbosa, datada de 01.11.1962, historiando os fatos,
manifestando seu desapontamento e pedindo o desligamento da
Comissão Organizadora. Enquanto o Ginásio era uma realidade, o
estabelecimento voltado para o ensino feminino, sob o comando de
freiras, não se implantou.100
Empreendimento de melhor resultado foi o calçamento de uma
das mais importantes avenidas da cidade. Os prefeitos anteriores fo-
ram cuidando de várias artérias da urbe. Entretanto, a avenida mais
movimentada, por onde passavam todos os veículos que atravessa-
vam Riachão do Dantas com destino a Lagarto, a Boquim, a Tobias
Barreto e ao Estado da Bahia, continuava de piçarra e ficava bastan-
te danificada no inverno em face do trânsito de caminhões, ônibus
e automóveis.
Diante dessa situação, David Dantas recorreu a seu círculo de
influência. Promoveu um abaixo-assinado da população, articulou-
-se, foi ao governador Luiz Garcia, até que este autorizou o calça-
mento da artéria. O diretor do DER, José Garcia Neto, em 7.12.1961,
afirmou-lhe: “o trecho é longo e a obra muito dispendiosa, mas o

100
Cf. Cópia do documento citado. Arquivo do autor.
154 DAVID DANTAS DE BRITO FONTES (1913-2001)

governo quer e vamos calçar.”101 De fato, tratando-se de uma área de


5.000 m2, a obra estava avaliada em Cr$ 10.000.000,00. A avenida
recebeu o nome do governador Luiz Garcia e foi inaugurada em iní-
cios de julho de 1962, quando David Dantas discursou agradecendo
àqueles que mais contribuíram para sua realização.102
Outra iniciativa de David Dantas foi a tentativa de instalar a ener-
gia de Paulo Afonso. Na qualidade de prefeito substituto, foi ao Dr.
Jorge Leite da Companhia Sul Sergipana de Eletricidade, SULGIPE,
com sede na cidade de Estância, apresentou seu pleito e o diretor
orçou a obra em Cr$ 15.000.000,00 (quinze milhões de cruzeiros).
Mas, para que o contrato fosse firmado, Dr. Jorge Leite exigiu que
David Dantas conseguisse permissão dos fazendeiros para a rede
elétrica passar em suas terras. David foi a Boquim, procurou Jaco-
mildes Barreto, chefe político da UDN local, e este lhe encaminhou
aos quatro proprietários daquele município e todos acederam, in-
clusive um pequeno sitiante com apenas duas tarefas com sete fi-
lhos e com problemas de saúde. Mas, quando chegou a Riachão do
Dantas, Horácio Góes não concordou que a referida rede passasse
por sua fazenda. Dr. Jorge Leite, ao saber da recusa, teria dito que já
havia levado energia a vários municípios e nunca havia ocorrido um
caso desse.103 Enquanto isso, os municípios de Boquim e Pedrinhas
desfrutavam da energia elétrica sem problemas.
Diante do impasse, gerou-se uma questão demorada. David
Dantas recorreu a interferências de várias lideranças, inclusive ao
Bispo de Estância. Horácio prometia recebê-lo para acertar, mas
sempre protelava, procrastinando a solução. Em face da dificuldade,
a prefeitura entrou com ação de desapropriação, mas Horácio Góes,

101
A citação de José Garcia Neto encontra-se no discurso de David Dantas, proferido no
ensejo da inauguração da avenida em julho de 1962. Arquivo do autor.
102
Ver A Cruzada, 07.07.1962.
103
Uma informativa narração dos fatos encontra-se no discurso de David Dantas, profe-
rido na Câmara Municipal em 25.10.1961. Documento n. 57, Ata da Câmara Municipal
de Riachão do Dantas de 25.10.1961 fornecida por José Renilton Santos do Projeto
Raízes: Um Resgate do Patrimônio Documental de Riachão do Dantas. Ver Anexo II.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 155

bem articulado no Judiciário, retardou a conclusão do processo, de


forma que a obra de instalação da luz elétrica terminou bem mais
tarde, inaugurada pelo grupo do PSD com um detalhe. A rede foi
estendida à Fazenda Areias de Horácio Góes sem nenhum ônus para
seu proprietário.
Outra ideia de David Dantas era melhorar o atendimento médi-
co do município, por meio de um órgão com certa autonomia. Para
tanto, procurou também levar o Serviço Especial de Saúde Públi-
ca (SESP) para Riachão do Dantas. Registre-se que, desde o início
dos anos cinquenta, Horácio Góes e, posteriormente, José Almeida,
passaram a receber verbas federais para construção de seus respec-
tivos hospitais: um do PSD e outro da UDN. Mas as obras nunca ter-
minavam. Por volta de 1960, David Dantas, na direção da prefeitura,
empenhou-se em dotar o município de um órgão de saúde de quali-
dade sem grandes ingerências políticas.

Foto 21 - David Dantas aos cinquenta anos. Arquivo do autor.

Para alcançar seu objetivo, o prefeito substituto recorreu mais


uma vez ao seu primo Oliveira Brito, que demonstrava uma certa
deferência para com Riachão do Dantas por ser terra de sua mãe.104
Sendo Oliveira Brito influente como deputado federal pela Bahia e

104
A mãe de Oliveira Brito, Evência de Oliveira Brito, nasceu no Engenho Grutão em Ria-
chão-SE.
156 DAVID DANTAS DE BRITO FONTES (1913-2001)

depois Ministro da Educação e Ministro de Minas e Energia, David


Dantas escreveu-lhe, expressando o pleito àquele político baiano.
Este remeteu o pedido para o Ministério da Saúde que autorizou
a implantação de um posto do Serviço Especial de Saúde Pública-
SESP em Riachão do Dantas.
Dr. João Batista, a quem caberia implementar a agência de saúde,
comunicou-se com David Dantas, que o levou a Riachão do Dantas
para escolher o local.105 Aquela autoridade considerou suficiente um
dos dois salões do Hospital que o deputado José Almeida construía.
Segundo a versão de David Dantas em seus escritos, quando ele pro-
curou o deputado José Almeida, este afirmou que não consentia a ins-
talação de um posto do SESP. Aborrecido, David foi participar o fato
ao Dr. João Batista e este afirmou-lhe: “Nunca vi coisa igual”.106 Como
estava nos últimos meses de sua gestão e não havia outro espaço con-
siderado adequado para instalação do SESP, o projeto inviabilizou-se.
Outro fato que concorreu para que as relações entre David Dantas
e o deputado José Almeida se desgastassem foi a questão do não paga-
mento de algumas contas. A versão que David Dantas deixou escrita
informa que o deputado foi a Aracaju, trouxe o carro cheio de mercado-
rias e mandou a nota para o prefeito Abílio Fontes pagar. Este consultou
David Dantas, que lhe disse: “A prefeitura não tem dinheiro. Caso você
pague este, toda semana vem uma nota”.107 O deputado soube da posi-
ção de seu correligionário e, no pleito de 1962, ao controlar a distribui-
ção de chapas, empenhou-se para que o vereador não fosse reeleito.108
E David Dantas, que não dispunha de base clientelista, candida-
tou-se à reeleição sem montar estrutura de campanha e não atingiu
o coeficiente da legenda.

105
Cf. Ata da Sessão Câmara Municipal de Riachão do Dantas de 05.10.1962. Idem.
106
David Dantas. Caderno de Memórias Políticas, p. 26. Arquivo do autor.
107
David Dantas. Caderno de Memórias Políticas, p. 31. Arquivo do autor.
108
Ao final, David Dantas obteve apenas 282 votos. Cf. David Dantas. Preâmbulos do Ca-
derno de anotações de pagamento aos trabalhadores. 1961-1966. p. 37-verso. Arquivo
do autor.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 157

Foto 22 - David Dantas candidato a vereador (1962). Arquivo do autor.

Ao tempo em que era derrotado para vereador, David Dantas


assistia ao grupo de Horácio Góes retomar o controle da prefeitura
de Riachão do Dantas. Era mais um motivo para mudar-se com a es-
posa para Aracaju. É verdade que, na capital, passaria apenas o fim
de semana. Mas se distanciaria um pouco do domínio de Horácio.
Terminava assim melancolicamente sua atuação política em cargo
público, quando se empenhou para proporcionar melhorias nos ser-
viços de educação, saúde, estradas, água e energia a Riachão sem
cultivar o clientelismo e jamais misturar sua atuação pública com
seus negócios particulares. Avesso à demagogia, ao exibicionismo e
à simulação, seu comportamento ético e sua franqueza nem sempre
ajudaram-no no jogo competitivo da política.
Em suma, tendo recebido, com seu parceiro Abílio Fontes, a pre-
feitura com as finanças públicas comprometidas, tiveram suas ações
limitadas. Com dificuldades internas, David buscou ajuda externa.
Entretanto, não conseguiu o colégio de freiras, nem a implantação
do posto do SESP. Apenas contribuiu para melhoramentos em povo-
ados, criação do Ginásio Francisco Dantas, construção de uma fonte
de pouco efeito, calçamento da av. Luiz Garcia e o encaminhamento
da instalação da energia elétrica. Fez a sua parte, mas saiu com pe-
sar por não haver realizado tanto quanto se empenhou. Contudo, a
reivindicação de melhoria dos serviços básicos ganhou mais força
na agenda das campanhas locais.
158 DAVID DANTAS DE BRITO FONTES (1913-2001)

7. VIAGEIRO: 1963-1999

A transferência de David Dantas para Aracaju, em 1963, resul-


tou num certo distanciamento da política de Riachão do Dantas.
Desde então, aquele proprietário rural limitou-se às suas atividades
de fazendeiro empreendedor, inquieto, tentando ampliar seu patri-
mônio.
Em 27.12.1962, adquiriu de João Oliveira Sobral, conhecido
como Sobralzinho, uma ampla casa situada na rua Maroim, 974,
num local alto, próximo ao limite com o bairro Cirurgia. Com 17m
de frente e 55 metros de comprimento, era um terreno com grande
quintal e duas dependências: um apartamento com três cômodos
sobre a garagem e a parte central da casa propriamente dita, que o
casal passou a ocupar após uma reforma.

Foto 23 – Casa na Rua Maroim 974 – Aracaju-SE 2013. Arquivo do autor.

Na capital, viveu mais próximo dos filhos, que se casaram e pas-


saram a dar-lhe netos. Ibarê Dantas e Francisco Dantas retornaram
aos cursos regulares e, juntamente com Eduardo Dantas, em mo-
mentos diferentes, concluíram a faculdade. Posteriormente os dois
primeiros tornaram-se professores universitários. Enquanto isso,
David Dantas ampliava seu círculo de amizades, mas sempre empe-
nhado em desenvolver seus negócios, viajando semanalmente para
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 159

as fazendas e pousando em Riachão do Dantas, onde continuava


montada a casa que fora de seu avô. Nessa fase, pouco se envolvia
com a política local. Transferiu seu título eleitoral para Aracaju e
passou a atuar discretamente no município onde sempre participou.
Apesar desse semidistanciamento das disputas partidárias, seu
adversário político, Horácio Dantas, continuava lhe provocando cha-
teações. Uma das mais conhecidas foi a construção de um campo de
futebol de salão em plena praça da matriz, com uma das traves bem
defronte à casa de David Dantas, causando-lhe incômodos grandes
e duradouros. Como havia jogos diariamente e muitas vezes prolon-
gavam-se até mais de meia-noite, além do barulho dos jovens es-
portistas, havia as boladas que batiam nas paredes, nas janelas ou
no portão da frente. A residência virou alvo das bolas arremessadas
pelos desportistas. David Dantas reclamava, falava a um e a outro,
mas não teve força política para que o prefeito colocasse uma tela
de proteção. Passar pela calçada em frente à sua residência signifi-
cava arriscar-se a receber uma pancada inesperada. O próprio David
Dantas recebeu algumas boladas, uma das quais provocou sequelas.
Quando a esposa ou algum filho apareciam, todos vivenciavam os
incômodos.
Apesar disso, continuava ocupando a casa por alguns dias, abas-
tecendo a família com alguns produtos da feira aos sábados e admi-
nistrando seus bens, inclusive os recebidos por herança.109
Em 1967, David Dantas comprou de José Bernardes a Fazenda
Aguilhada, situada nas adjacências do povoado de Palmares, muni-
cípio de Riachão do Dantas, com cerca de 500 tarefas.110 Segundo
seu depoimento, deixado num de seus livros de anotações, a fazenda
“era boa, porém fria para esses anos de muita chuva.” Considerava

109
Em 1964, seus sogros Manoel Costa Silva e Mariana Fontes Costa resolveram doar par-
te de suas fazendas aos filhos. À esposa de David Dantas, Miralda Costa Fontes, coube
o Coqueiro, um imóvel de cerca de 120 tarefas, que mais tarde (20.09.1970) seria
vendido ao seu cunhado Joel Fontes Costa. Cf. Escritura pública. Arquivo do autor.
110
Cf. David Dantas. Caderno de Anotações, período 1967-72. Arquivo do autor.
160 DAVID DANTAS DE BRITO FONTES (1913-2001)

que o clima era importante. Nas terras frias, o gado era mais vulne-
rável a doenças e desenvolvia-se menos do que no sertão.
No ano seguinte (1968), vendeu a Sibéria a Dr. Belmiro da Silvei-
ra Góes, seu cunhado. Este pedaço de terra anexo à sua fazenda Sa-
lobro, adquirido das irmãs, não deveria ter mais de 100 tarefas, mas
era formada por um massapé de grande fertilidade. Nos anos trinta,
David Dantas ali cultivou cana, que vendia aos filhos de Fiel Freire
Fontes (09.04.1863-10.02.1939), avô paterno de sua futura esposa.
Pouco depois plantou capim, deixou uma parte em mata virgem,
onde havia alguns pés de jabuticabas, que anualmente brotavam
frutos extremamente saborosos. Nesse terreno havia também um
tanque muito piscoso, onde se pescava muitas traíras. Seu cunhado
Belmiro Góes, que de muito cobiçava esse imóvel, afinal tornou-se
proprietário da Sibéria.
Ao tempo em que se desfazia de uma área de 100 tarefas de ter-
reno fértil, David Dantas adquiria de Martinho Almeida, de Lagar-
to, a Fazenda Campos no município de Pedro Alexandre, Estado da
Bahia, bem próximo de Geremoabo. Tinha cerca de 1.600 tarefas.
Era uma propriedade desarrumada com quase tudo por fazer, se-
gundo o comprador escrevera.111
Para pagar a dívida, o novo proprietário tomou empréstimo no
Banco do Nordeste, apertou-se, mas honrou os compromissos nos
prazos estabelecidos, ao tempo em que investia muito na nova pro-
priedade. Nessa fazenda, plantou capim e palma, construiu cercas,
além de outros melhoramentos. Era uma aventura, própria de um
homem audacioso. Em suas anotações, justificava a nova aquisição,
observando que os terrenos do Boqueirão se encontravam cansados
e não estavam correspondendo às necessidades da engorda do gado.

111
A fazenda custara Cr$ 70.000,00 (setenta mil cruzeiros), que foram pagos em quatro
parcelas ao longo de dois anos. Os pagamentos das parcelas ocorreram nas seguintes
datas: Cr$ 20.000,00 em 01.07.1968, Cr$ 10.000,00 em 20.06.1969, Cr$ 20.000,00 em
20.06.1970 e Cr$ 20.000,00 em 20.12.1970. Cf. David Dantas. Livro de notas. Período
1967-1972, p. 64. Arquivo do autor.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 161

Nesse tempo, suas atividades, que eram intensas, aumentaram.


No Boqueirão continuava criando e engordando gado, “tirando leite”,
fabricando manteiga e requeijão. Na Colina engordava boi e acabava
de criar os bezerros apartados. Na Lages, além da engorda de boi,
fazia roças e expandia seu sítio de laranja num tempo em que os po-
mares dessa fruta proliferavam na região centro-sul do Estado. Com
a compra da fazenda Campos, próxima de Geremoabo (BA), suas
viagens se intensificaram. Para um homem que gostava de transi-
tar por caminhos vários e tinha satisfação em contar os quilômetros
percorridos, teria muito a andar. Somente para a Fazenda Campos
registrara em 1971 nada menos de 31 viagens. Experimentou ir de
ônibus, mas quase sempre viajava em carro próprio acompanhado
de um ou mais companheiros. Madrugador, muitas vezes quando o
dia amanhecia, o sol o encontrava já longe do ponto de partida. Ex-
trovertido, simples e espontâneo, tinha numerosos amigos por onde
andava e era comum ao longo dos percursos ser recebido com de-
monstrações de alegria e generosidade. Sabendo tirar proveito das
travessias, visitava conhecidos, conversava, informava-se, negociava
e, não raro, aceitava participar de alguma refeição sem demonstrar
grande preocupação com o retorno. A expressão do poeta, “navegar
é preciso,” bem se lhe aplicava, pois para ele antes de alcançar os
objetivos se interpunham os meios que careciam de ser vivenciados
e aproveitados.
Em 1974, quando completou cinquenta anos da morte da mãe,
David Dantas convidou os irmãos e juntos lembraram a data. Parti-
ciparam de uma missa pela alma de Thereza Brito, com outros fami-
liares estiveram na fazenda onde passou os últimos dias e evocaram
o drama da família.
162 DAVID DANTAS DE BRITO FONTES (1913-2001)

Foto 24 - Os irmãos Dantas perfilados por idade. Da esquerda para direita: David, Celi-
na, Odete, Nivalda, Odete e Clóvis. (1974). Arquivo do autor.

Se já visitava com certa frequência suas irmãs, que moravam em


Ribeira do Pombal e em Caldas de Cipó (BA), com suas idas à fazen-
da Campos, em pleno sertão, passou a fazer-lhes visitas amiudadas,
estreitando os laços familiares. Normalmente passava a semana toda
viajando. Saía segunda ou terça-feira, já com roteiro mais ou menos
definido, alimentação apropriada para sua dieta e passava a percorrer
as fazendas. Dormia em uma, seguia para outra, informava-se, tomava
providências, dava instruções a gerentes e a outros empregados, entre
os quais o tratorista, com quem nunca tivera sorte. Teve tantos abor-
recimentos com os sucessivos responsáveis pelo trator que terminou
vendendo a máquina, preferindo alugar os serviços de terceiros.
Depois de longo périplo semanal, aos sábados retornava a Ara-
caju com seu carro abarrotado de produtos colhidos nas fazendas
e os adquiridos na feira de Riachão do Dantas para o consumo de
sua casa e para serem presenteados aos filhos e amigos. Nos fins de
semana, um dos seus passatempos era registrar suas atividades em
seus cadernos, ao tempo em que fazia balanço dos seus negócios.
Dois dos filhos se estabeleceram nas fazendas. Francisco residiu
na Lages e Manoel Davis, no Boqueirão. Mas o primeiro, em 1969, foi
para Aracaju retomar os estudos e as exigências da administração
se ampliaram para seu pai. A todos, David Dantas gostava de ajudar.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 163

Apesar de tantos afazeres, David Dantas encontrou tempo para


viagens de turismo mais dilatadas. Em 1973 foi a São Paulo com a
esposa e o filho caçula, Eduardo. Em 1977, ao lado da esposa, fez um
passeio por Recife, Fortaleza, Maranhão, Belém, Amazonas e Brasí-
lia. Pouco depois, estiveram na Argentina, no Uruguai e no Paraguai.

Foto 25 – Em Foz do Iguaçu. Arquivo do autor.

No ano seguinte, o casal visitou os filhos que faziam o mestrado


em Campinas (SP) e João Pessoa (PB), Ibarê e Francisco respectiva-
mente. Em 1982, David Dantas e Miralda Fontes passaram 45 dias
em viagem pela Europa ocidental, percorrendo dez países. Em 1985,
os dois passaram por Roma, visitaram o Egito, Israel, a Grécia e Is-
tambul. Em 1987, ao completarem cinquenta anos de casados, volta-
ram a percorrer alguns Estados do Nordeste, dessa vez de ônibus de
excursão. Em 1990, foram aos Estados Unidos, percorrendo Miami,
Orlando, Nova York, Washington, Boston, entre outras localidades.
Na ida, o casal visitou sua irmã Arabela no Rio de Janeiro.
164 DAVID DANTAS DE BRITO FONTES (1913-2001)

Foto 26 - Miralda entre Arabela a filha Elusa.


Na esquerda, o esposo Enock. Arquivo do autor.

De volta, retomava a faina de viagens e negócios. No ano de


1973, já havia vendido a Aguilhada. Neste mesmo ano, comprou a
Cotia, propriedade de João Macedo, com área de 556 tarefas, vizinha
à Colina, no município de Riachão do Dantas.112 Em relação à Agui-
lhada, situada no povoado de Palmares, foi um avanço, não apenas
por ser mais próxima das outras, como pela qualidade de suas ter-
ras. Somando as duas, a Cotia e a Colina, constituíam-se numa boa
fazenda de 940 tarefas.
Possuindo várias propriedades, o fazendeiro foi aconselhado a
constituir uma empresa e criou a Agropastoril David Dantas, mas o
resultado não foi vantajoso e, por volta de 1974, liquidou-a.
Um dos maiores problemas na vida dos homens do campo era
permanente dependência das oscilações do tempo. As estiagens,
muitas vezes prolongadas, eram verdadeiras catástrofes. Como Da-
vid Dantas não tinha plantações com irrigação, tudo dependia das
chuvas e da intensidade de sol. Nos arredores do município de Ria-
chão do Dantas, as secas intermitentes quase sempre permitiam
que se convivesse sem grandes perdas. Mas na região do sertão, as

112
Cf. David Dantas. Caderno de Anotações, 1973, e cópia de Escritura Pública. Arquivo do
autor.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 165

longas estiagens eram mais frequentes e dramáticas. Na fazenda


Campos, a falta de chuvas regulares lhe proporcionou problemas re-
correntes e prejuízos. Essa situação, nos anos setenta ou início dos
anos oitenta, inibiu sua satisfação com a referida propriedade. Nos
repetidos tempos de estio, as perdas se revelavam significativas, na
medida em que o capim morria e as roças se perdiam. Quando sur-
gia alguma chuva, os campos verdes alegravam-no, David voltava a
investir, mas com pouco tempo os problemas repetiam-se. Desgos-
toso, vendeu a Fazenda Campos e comprou uma propriedade em
Barreiras, Estado da Bahia, numa localidade denominada de Javy.
Era uma zona de fronteira agrícola em fase de exploração e ex-
pansão. Para David Dantas, era um projeto que comportava riscos.
Havia muitos aventureiros, alguns inclusive assessorados por advo-
gados inescrupulosos, que atuavam na região, onde a presença do
Estado, na regulamentação das propriedades, era precária. Basta di-
zer que, depois de passada a escritura em 28.01.1980, apareceram
pendências nas vizinhanças e mais de uma vez David pagou parte
das terras já saldadas. Mas a fazenda era promissora, abrangendo
uma área de 2.508 tarefas de terrenos férteis, boa parte deles ocu-
pados por matas virgens.113
Como era do seu costume quando adquiria um novo imóvel, Da-
vid animou-se com o empreendimento e dedicou-se a investir para
obter retorno financeiro. Entretanto, era preciso sua presença para
administrar as demandas. Como não havia gerente confiável, a gran-
de distância de sua residência revelou-se um problema. Mesmo para
um homem que gostava de viajar, o deslocamento era bastante incô-
modo, pois nem toda a estrada era asfaltada e teria de atravessar o
rio São Francisco numa balsa. Mesmo assim, conforme anotou num
seu caderno de capa verde, destinado a registros da Fazenda Ma-
ravilha, em 1980 fez nove viagens e, em 1981, nada menos do que
doze, acompanhado de parentes e/ou amigos num percurso que de-

113
Cf. David Dantas. Caderno de Anotações sobre Javy ou Fazenda Maravilha, folhas 1-11
e Caderno de Anotações de 1982. Arquivo do autor.
166 DAVID DANTAS DE BRITO FONTES (1913-2001)

morava de 18 a 24 horas, dependendo das condições da estrada e


da espera na balsa. Lá passava de dois a oito dias em acomodações
precárias.114
Apesar das dificuldades, David Dantas contratou um trator115 e
com ele desbravou matas, preparou roças de arroz, plantação de ca-
pim e fez longas extensões de cerca. Na fazenda havia gado bovino,
ovino, caprino e suíno. Ao longo de dois anos, engordou boi, criou
ovelha e plantou arroz nos espaços já desbravados. Mas houve mo-
mentos desanimadores, conforme anotou no início de 1981, quan-
do ocorreu uma estiagem prolongada. O pessoal estava roubando o
milho na roça, o arroz acabou-se, as sementes não brotavam, a água
pouca, tudo isso deixou-o desanimado. Ao voltar no mês seguinte, o
quadro já havia se modificado com o advento das chuvas, levando-o
a esquecer a realidade do mês anterior.116
Já realizara numerosos melhoramentos e começava a ter ren-
dimentos com a produção de arroz e a venda de gado, quando al-
guns elementos foram contribuindo para reduzir seu ânimo, entre
os quais as dificuldades de administrar a distância e os riscos da
viagem. Sendo um homem de 68 anos com saúde limitada, os con-
selhos de familiares e de amigos começaram a repercutir em sua
disposição em persistir com esses desafios.

114
Cf. David Dantas. Idem, ibidem. Arquivo do autor.
115
O aluguel do trator custou 523 mil cruzeiros em moeda de 1980.
116
Cf. David Dantas. Caderno de Anotações, 1982. Ver também Caderno de Anotações so-
bre Javy ou Fazenda Maravilha, folhas 1-11. Arquivo do autor.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 167

Foto 27 - David Dantas e Miralda Costa (1983). Arquivo do autor.

Por esse tempo, encontrou-se com Salvador Barreto, que propôs


uma troca da fazenda Maravilha, mais conhecida por Javy, pela fazen-
da Riachão no município de Frei Paulo. Como havia uma certa des-
proporção entre as duas propriedades, pois estavam trocando 2.508
tarefas de terras férteis por 1.704 tarefas numa região de chuvas no
mínimo irregulares, passaram um bom tempo divergindo até que se
acertaram.117 Foi um negócio ruim para David Dantas, que trocava a
fazenda no Estado da Bahia por outra no semiárido do Estado de Ser-
gipe, com esperança de melhores proveitos. Para tanto, tomou em-
préstimo no Banco do Nordeste, fez grandes tanques, mas, nas épocas
de estio, a vegetação rasteira desaparecia e se tornava inapropriada
para a criação. O riacho, que a cortava, possuía alto teor de sal. Ape-
sar dos problemas detectados ao longo do tempo, investiu, fez roças,
plantou capim, criou gado e ovelhas com a motivação que o caracteri-
zava, mas os resultados não foram compensadores.

117
David Dantas aceitou receber de Salvador Barreto a fazenda Riachão e mais oito mi-
lhões, parcelados em quatro prestações de 2 milhões entre abril e agosto de 1982 numa
época em que o salário mínimo era da ordem CR$ 16.608,00 (dezesseis mil, seiscentos e
oito cruzeiros).Cf. David Dantas. Caderno de Anotações. 1982-1983. Arquivo do autor.
168 DAVID DANTAS DE BRITO FONTES (1913-2001)

Em 1991, como produto da herança dos pais da esposa, recebeu


a Lagoa do Salgado, uma porção de terra de 174 tarefas bem perto
da cidade de Riachão do Dantas. Em 1992, David Dantas, às vésperas
de completar oitenta anos, decidiu dividir as propriedades com seus
filhos com grande liberdade de ação e não houve questionamentos.
Passou as escrituras, sob reserva de domínio, para o controle até
sua morte e de sua esposa. Mas, com o tempo, retirou a reserva de
domínio de alguns pedaços que os filhos ocupavam.
Essas doações deixaram de fora apenas a fazenda Riachão que,
em 1999, foi vendida a Antônio Messias por cem mil reais. Um pre-
ço baixo, considerado por ele como um dos piores negócios de sua
vida. Entretanto, para quem esteve sempre endividado, aquela im-
portância permitiu que atravessasse os últimos anos de existência
sem preocupação com problemas financeiros.
No conjunto, o período de 1964 a 1999 não foi dos mais próspe-
ros. Intensificou suas viagens, continuou com o mesmo dinamismo,
mas os resultados não foram favoráveis. Os gastos e a energia despen-
didos nas Fazendas Campos e Riachão estiveram longe de correspon-
der às expectativas. Piores foram seus investimentos em ações. Desde
os anos cinquenta, vinha comprando títulos de bancos e de outras
empresas, mas no fim dos anos noventa não valiam quase nada.

8. CREPÚSCULO: 1997-2001

Ao longo de sua existência, David Dantas vivenciou a perda de


numerosos entes queridos. Para quem viu a morte dos pais aos dez
anos, diz-se-ia que tudo seria coisa menor. Mas o desaparecimento
de parentes, amigos e companheiros de viagem era sempre uma dor
a mais que se acrescentava. A partir dos anos sessenta, as perdas se
acentuaram.
Em julho de 1962, depois de sonhar com Yayá Dona, David Dan-
tas amanheceu inquieto, foi à residência do mano Clóvis Dantas, a
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 169

quem ela devotava um carinho todo especial, e juntos foram a Nova


Soure (BA). Ao avistar a casa, notaram um ajuntamento de gente.
Surpresos, aproximaram-se e viram na salinha da frente um cai-
xão.118 Dentro, estava o corpo de Josefa Ferreira de Brito, a quem
chamavam de mãe, a querida Yayá Dona, que criara Thereza Ferreira
Brito Fontes e seus filhos. Falecera com 86 anos, em boa parte deles
dedicados à irmã e aos seus sobrinhos nos momentos mais difíceis.
Em 1967, foi a vez de seu sogro Manuel Costa e Silva, compa-
nheiro de muitas viagens nas décadas de quarenta e cinquenta, pai
de sua querida Miralda e avô dos seus filhos. No mesmo ano, faleceu
também seu compadre Otávio, um velho comprador de gado aten-
cioso e solícito. Outros compadres, a quem dispensava estima e re-
conhecimento, também se foram. A maioria era de velhos trabalha-
dores de longa convivência, tais como seus compadres Alexandre,
Ferreira, José de Miguel, Bertoldo (1978), Manoel Silvério, a quem
se chamava Silivéro, Messias, Miguel de Tufinha (1999) e numero-
sos outros. Eram os companheiros de labuta, que muito lhe servi-
ram, cujas mortes deixavam-no pesaroso.
Entre os parentes mais próximos, sua sogra Mariana Fontes Cos-
ta (Iazita) desapareceu em 1973. A partir daí começaram a ir seus
cunhados: João (1974), Fiel e Givaldo (1980), José (1986) e por fim
Joel (1998). Seu amigo João Góes, a quem muito ouvia e respeita-
va, foi-se em 1991. O compadre mais próximo, Nemésio Fontes, em
1997. Uma enorme dor atingiu a família, em 1993, com o trágico
desaparecimento do seu neto homônimo. Enquanto isso, foram-
-se quase todos os irmãos. A primeira foi Odete, em 03.03.1985,
aquela com quem mais tinha afinidades. A segunda foi Vandete em
17.12.1995, depois seguiram-se Celina em 09.08.1996, Arabela em
18.09.1996 e Clóvis em 19.05.1997. Dos filhos de Francisco Dantas
Martins Fontes, sobreviviam apenas David e Nivalda.

118
Dias depois, David Dantas registrou: Encontrei mamãe Yayá morta. “Passei uma das
grandes dores de minha vida.” Preâmbulos do Caderno de anotações. 1961-1966. p. 32.
Arquivo do autor.
170 DAVID DANTAS DE BRITO FONTES (1913-2001)

No curso da existência, a doença que mais afetou a David Dantas


foi a referida dor de estômago, atribuída a uma úlcera crônica, que
somente nos últimos tempos de vida teria se amenizado. Esse proble-
ma, que vinha dos anos quarenta, acentuou-se nos anos sessenta com
crises seguidas. Em julho de 1965, incomodado, foi a Salvador, onde
foi internado no Hospital São Francisco. Em 1967, em meio a uma for-
te dor estomacal, não teve condições nem de ir ao enterro do sogro.
Em 1986, passou por outra grave crise do estômago, chegando
a ter hemorragia interna. Contudo, sua doença fatal foi leucemia,
descoberta em fins de 1996. No início do ano seguinte, começou a
tratar-se à base de comprimidos, como não surtiu efeito, passou-
-se para aplicações venosas. Mesmo assim, os leucócitos persistiam
baixos. Sem resultados positivos, submeteu-se às prolongadas ses-
sões de quimioterapia, vivenciando tudo com paciência e resigna-
ção. Para assisti-lo mais de perto, seu filho Ibarê, que há dez anos
residia no bairro Atalaia, transferiu-se, em 1997, para a casa da rua
Maroim, defronte à de seus pais, situada no centro da cidade. Pôde
assim, com mais presteza, acompanhá-lo às consultas médicas, aos
hospitais e às aplicações de quimioterapia semanais. Foram longas
esperas em consultórios, clínicas e hospitais, mudando de um para
outro local de conformidade com as conveniências do momento e as
orientações do médico que o assistia.119
Apesar desses incômodos, em 1997 participou das comemora-
ções da família pelos sessenta anos de casado com certa disposição.

119
Entre os locais onde foi tratado, lembramo-nos do Hospital São Lucas, da Avosos no fundo do
Hospital João Alves, na rua Campo do Brito, na Unicat e, depois, retornou-se ao São Lucas.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 171

Foto 28 - Comemoração dos sessenta anos de casamento - 1997. Arquivo do autor.

Mas a partir de 1998 passou a sentir-se paulatinamente mais


debilitado. Novas intercorrências apareceram, ao ponto de ser hos-
pitalizado várias vezes, com assistência de profissionais da área da
saúde, da esposa, dos filhos e netos.
Como o tratamento tinha efeito pequeno em seu estado de saú-
de, pensou em deslocar-se para São Paulo, mas quando os exames
foram enviados para um conceituado especialista em Campinas e
este afirmou que as prescrições estavam corretas, a ideia da viagem
esmoreceu e procurou viver dentro de suas limitações. Ao sentir-
-se mais disposto, pegava o carro e saía sozinho para suas fazendas.
Quando permanecia em casa, gostava de conversar com os amigos,
fazer anotações nos seus livros e ler, especialmente as biografias
que seus filhos lhe facultavam. Lia com grande rapidez e aprecia-
va, sobretudo, os homens empreendedores, entre os quais o jorna-
lista Assis Chateaubriand, na versão apresentada por Fernando de
Morais. Regozijava-se com as publicações dos filhos, comentava-as
com palavras de estímulos, mesmo quando as abordagens não com-
binavam muito com sua visão de mundo de proprietário rural. Na
política, seu pensamento se assemelhava à maioria dos empresários
do campo conservador, na medida em que valorizava a propriedade,
a produção, lamentava as greves, as elevadas taxas de inflação, os
casos de corrupção e simpatizava com governantes tidos por em-
172 DAVID DANTAS DE BRITO FONTES (1913-2001)

preendedores. Nos últimos anos de existência, leu boa parte de suas


numerosas anotações, feitas ao longo dos anos, as quais revelavam
a variedade de seus negócios e suas intensas atividades. Ao final,
observou: “já fui gente”, demonstrando satisfação com seus feitos.
Inquieto, notava-se uma certa vontade de comunicação com seus
parentes e amigos. Uma expressão desse desejo foi a carta circular
que mandou para cerca de uma centena de pessoas ao completar
oitenta e quatro anos:

Aracaju, 29 de dezembro de 1997


Se um dia, já homem feito e realizado, sentires que a terra
cede a teus pés, que tuas obras se desmoronam, que não há
ninguém à tua volta para estender a mão esquece a tua matu-
ridade, passa pela mocidade, volta à tua infância e balbucia,
entre lágrimas e esperança, as últimas palavras que te resta-
ram na alma: “minha mãe, meu pai”.
Rui Barbosa

Ao comemorar a passagem de mais um ano de vida, desejo


enviar aos familiares e amigos esta sentida mensagem.
Tive a infelicidade de perder meus pais aos dez anos de idade
e, ainda na adolescência, me faltou terra a meus pés, porque
não tinha para quem apelar, não tinha para quem estender
a mão. Na infância, no internato, desconfiado e só, ninguém
podia me salvar dessa vida hostil. Com fama de rico (heran-
ça de meu Pai), passando por dificuldades e humilhações, fui
tomando empréstimos a ponto de adoecer de uma úlcera por
mais de quarenta anos, da qual só melhorei quando me afas-
tei dos Bancos.
Pouco a pouco, fui vencendo barreiras intransponíveis e tive
a ventura de me casar com uma mulher que, além de me fa-
zer feliz e me dar quatro filhos e noras, netos e bisnetos, que
compõem todo o meu tesouro, tem sido o grande lenitivo nas
tragédias que tenho vivido.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 173

No mês passado, tangido pelos filhos e noras, eu e Miralda


fomos surpreendidos pela comemoração dos nossos sessen-
ta anos de casados, nossas Bodas de Diamante, cercados de
estima de parentes amigos, e das pessoas ligadas a nós, o que
muito nos emocionou. Agora, ao completar os meus oitenta
e quatro anos, quero festejá-los de um modo diferente. Pri-
meiro, expressando saudades daqueles que se foram, desta-
cando o meu Neto, que nos deixou, para sempre, um vácuo
e um dilaceramento que não podemos ultrapassar. Segundo,
fazendo votos que tenham festejado o Natal com paz e ale-
gria. Terceiro, externando o meu agradecimento aos paren-
tes e amigos que me têm cercado de atenção e consideração,
desejando-lhe o dobro que me desejarem e um ano novo de
paz e felicidades.
Hoje, alquebrado, caminhando lentamente na estrada da ve-
lhice, apesar de atropelado pela doença que vem assustando
minha família, conservo a esperança de que, ao lado dos ami-
gos e familiares, possamos comemorar daqui a dois anos a
entrada do novo milênio.
Saudações
David Dantas de Brito Fontes

Estava consciente de sua decadência física, embora se conser-


vasse com grande resistência psicológica, evitando a repetir la-
mentações. Mas a leucemia avançava, minando suas forças. O ano
de 1998 transcorreu com David Dantas submetendo-se às sessões
de químio, porém continuava muito ativo na direção dos seus negó-
cios. No ano seguinte, seu quadro apresentou mais problemas. Mes-
mo assim continuava em atividade, providenciando silos, alugando
serviços de trator para rasgar terra na Lagoa, plantando milho no
Boqueirão, capim nos pastos do Sabonete e da Suzana, até quando
vendeu a Fazenda Riachão, situada no município de Frei Paulo.
174 DAVID DANTAS DE BRITO FONTES (1913-2001)

Foto 29 – A Família de David Dantas. Filhos, Noras, Nestos e Bisnetos.


Década de 1980. Arquivo do autor.

Em 26 de setembro de 2000, seu filho Manoel Davis o levou ao


Boqueirão. Em outubro resolveu passar uma semana em Riachão do
Dantas acompanhado da esposa e do enfermeiro. Visitou a Colina e o
Boqueirão, mas sofreu grave crise de queda de pressão e retornou às
pressas. Foi a última vez que viu suas fazendas, que tanto o motivou
e a que muito se dedicou. Depois, fora hospitalizado algumas vezes.
No segundo semestre de 2001, seus sofrimentos se intensifica-
ram, mas sua resistência psicológica se mantinha forte. No dia 04
de novembro, foi internado no São Lucas e, no dia 14, voltou para
casa enfraquecido, sentindo as forças faltarem. Consciente, sofrendo
muito, tornou-se mais pensativo, mas se revelava disposto a resistir
até o fim. No dia 20 de novembro, logo após o almoço, sentiu-se
mal, chamou-se um médico, que considerou seu estado terminal. Às
14 horas e 50 minutos, em sua residência, cercado por familiares,
lentamente a respiração diminuiu até desaparecer.120 Foi-se serena-
mente sem nenhuma frase de efeito, sem qualquer gesto dramático.

120
Assistiram à sua morte a esposa Miralda, a irmã Nivalda, os filhos Ibarê e Eduardo, a
cunhada Maria, a nora Beatriz, a sobrinha Maria Eucaristia e um enfermeiro.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 175

Foto 30 – David Dantas de Brito Fontes. Uma das últimas fotos. Arquivo do autor.

Às vésperas de completar oitenta e oito anos, findava a vida de


um fazendeiro empreendedor, que viveu numa sociedade competi-
tiva, buscando ampliar seu patrimônio material sem desviar-se de
seu padrão de comportamento e sem faltar com o respeito ao próxi-
mo. Não viveu da política e quando atuou na administração, jamais
confundiu a coisa pública com seus interesses privados. Dotado de
grande força interior, foi um devotado à família. Deixou irmã, es-
posa, filhos, netos, bisnetos, enfim, uma vasta parentela e o teste-
munho de um homem que enfrentou desafios sem esmorecimento,
muito realizou e serviu.
O esquife foi velado em sua própria casa à rua Maroim e, no
outro dia cedinho, foi levado para Riachão do Dantas, onde foi se-
pultado às 10 horas ao lado dos restos mortais do seu querido ge-
nitor, a quem considerava o melhor dos pais. No momento de seu
sepultamento, um de seus velhos amigos, Nunes, espontaneamente
pronunciou pequeno discurso comovente, ressaltando algumas de
suas qualidades. Na missa de sétimo dia, os dizeres em um santinho
tentavam sintetizar sua existência:

Nasceu bem acolhido, mas a orfandade precoce o golpeou


impiedosamente. Desafiado, lutou e, ajudado pela sua abne-
gada Miralda, muito realizou. Temente a Deus, devoto da Vir-
176 DAVID DANTAS DE BRITO FONTES (1913-2001)

gem Maria e crente na oração de Santa Helena, viveu como


andante simples e comunicativo. De hábitos frugais, mas ge-
neroso, serviu a uma legião de pobres e necessitados, a ami-
gos e a familiares que estão a chorar sua ausência. Que Deus
o tenha ao Seu lado em companhia dos seus pais queridos e
nunca esquecidos. Lembrança da missa de sétimo dia de seu
falecimento. Aracaju-SE, 26.11.2001.

A esposa Miralda Costa Fontes continuou residindo na mesma


casa, em Aracaju, faleceu em 07.01.2008 e foi sepultada ao lado dos
restos mortais de David Dantas de Brito Fontes.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 177

IV

MANOEL COSTA E SILVA

(1883-1967)

1.ORIGENS FAMILIARES

São raras as informações sobre a infância de Manoel Costa e


Silva, vivida ainda no século XIX. Sabe-se apenas que com pequena
idade foi encaminhado para o trabalho.
Nascido, em 27.02.1883, no município de Arauá-Sergipe ou,
mais precisamente, no Engenho João Pinto, dos seus genitores, Ho-
nório Costa e Silva e Inácia Saturnina de Jesus,1 cedo sua mãe faleceu
e o menino passou a assumir responsabilidades, enquanto seu pai
ainda se casaria por duas vezes.
Dos seus ancestrais, aquele de quem há mais referências no sé-
culo XIX é seu avô paterno, que também se chamava Manoel Costa
e Silva, mais conhecido como Manezinho do Taquari, nome associa-
do a engenho do referido município. Apesar dessas vinculações com
Arauá, tudo indica que ele teve uma longa vivência em Riachão, pois
encontramos várias referências sobre sua presença nessa última vila.
Na lista de classificação dos escravos, realizada entre 1873
e 1875, para serem libertados pelo fundo de emancipação do
governo,2 Manoel Costa e Silva apareceu com sete escravos, alguns
inclusive situados entre os mais valiosos do município. Em 1876,

1
Cf. informações de Cezarina Fontes Costa, filha de Manoel Costa e Silva, ao autor.
2
Ver Josué Modesto dos Passos Subrinho (org.). Os Classificados da Escravidão. Aracaju,
IHGSE, 2008, p. 246-266.
178 MANOEL COSTA E SILVA (1883-1967)

candidatou-se a vereador e foi o terceiro mais votado.3 Em 1885 foi


novamente citado como vereador eleito.4 Nos anos de 1877 a 1879,
esteve entre as testemunhas dos registros de nascimento no livro 1
do Cartório de Registros dessa vila e foi citado no processo de re-
pressão ao grupo do Céu das Carnaíbas no povoado do termo de
Riachão.5
Manoel Costa e Silva casou-se com Maria José dos Anjos e te-
ria gerado seis filhos: Honório, Mariana, Pequena, Josefa, Sebastião
e Antipas Costa e Silva (06.08.1880-18.07.1949) 6, sobre o qual há
mais notícias por destacar-se na vida econômica e administrativa
do município com seu prestígio e sua autoridade moral. De Honório,
possivelmente o mais velho da família, dispomos de poucas alusões.
Apesar disso, não restam dúvidas sobre suas vinculações com Arauá
e com Riachão. Uma escritura firmada em 29.04.1882, formalizando
a compra da escrava Severa de 34 anos por 700$000 (setecentos mil
réis), atesta que na ocasião Honório Costa e Silva era morador do
engenho Mendes em Arauá.7
Posteriormente encontramo-lo como proprietário do Engenho
Salgado, que teria sido construído por João Martins Fontes Júnior,
filho de João Martins Fontes, “proprietário das terras em que fora
erigido o povoado.”8 Depois que Paulo Freire Mesquita (vulgo Pau-
lo Lebre) († 09.12.1876) casou-se com Maria Francisca da Silveira
(1815-1892), uma descendente dos Martins Fontes, coube ao casal

3
Cf. Jornal de Aracaju, 28.10.1876.
4
Cf. Arivaldo Fontes. Figuras e fatos de Sergipe. Porto Alegre, Senai, 1962, p. 120.
5
Cf. João Dantas Martins dos Reis. As almas das carnaíbas - Um céu no Riachão - Resquí-
cio das Intituladas “Santidades”. Aracaju, RIHGSE, n. 16, p. 27-28, 1942.
6
Nos anos trinta Antipas Costa e Silva aparecia como proprietário de três engenhos: o
Buril, estimado em 50 mil réis, o Caborge, em 30 mil réis e o Santo Antônio em 20 mil
réis. Cf. Armando Barreto. Cadastro Comercial, Industrial, Agrícola e Informativo do Es-
tado de Sergipe (1933-1934). Aracaju, 1934, p. 199-200. Sobre as datas de nascimento
e morte de Antipas Costa e Silva, ver Adelvan Macedo dos Santos. Arauá. O Reencontro
com o passado..., Arauá, 2000, p. 20.
7
Cf. Escritura compra de compra e venda da escrava Severa, firmada em 29.04.1882.
Documento cedido gentilmente ao autor por Francisco J. C. Dantas, em 20.08.2013.
8
João Dantas Martins dos Reis. A cidade de Riachão do Dantas, como começou. Aracaju,
1949, p. 6.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 179

por herança o Engenho Riachão, que a partir de agora passamos a


chamar de Salgado, denominação que prevaleceu. Como vimos no
primeiro capítulo, foi justamente nessa residência que David Mar-
tins de Góes Fontes foi bem acolhido depois que deixou Laranjeiras
afetada pela cólera nos idos de 1855.
Naquela altura, o irmão de David, José Martins de Freitas Góis
(Vevéio) (30.06.1819-20.10.1903), já era genro de Paulo Freire Mes-
quita, pelas núpcias com a filha deste, Avelina Silveira Góis (* ? -†
20.04.1917). Com a morte do sogro, Vevéio herdou o Salgado. Por
esse tempo, envolveu-se com a construção do engenho São José, que
seria depois conhecido como Olho do Boi, e vendeu o engenho Sal-
gado a seu parente João Dantas dos Reis (28.01.1852-14.04.1933),
(mais conhecido por Joãozinho Dantas) que residiu no local por vá-
rios anos.9
Com a abolição da escravatura em 1888, o pai de Joãozinho
Dantas, João Dantas Martins dos Reis, figura política de grande in-
fluência, proprietário do engenho Fortaleza, faleceu em 1890. Por
esse tempo, Honório Costa e Silva teria adquirido a Fazenda Riachão
(Salgado) de Joãozinho Dantas em transação pouco conhecida pelo
autor.10
Ignoramos quando Honório Costa e Silva passou a residir no
município de Riachão. Uma hipótese seria no início dos anos noven-
ta do século XIX, pois colhemos informações que o filho mais velho
de Honório deixou Arauá com a idade de oito anos, ou seja, por vol-
ta de 1891.11 Em Riachão Manoel Costa e Silva (neto) (1883-1967)

9
Joãozinho Dantas, que fora seu único filho homem, casou-se com Joana Francisca de
Menezes (falecida em 1930) que lhe deu oito filhos, entre os quais João Dantas Mar-
tins dos Reis, que nasceu, em 1884, no Engenho Salgado. Cf. Luiz Magalhães. Des. João
Dantas Martins dos Reis. Aracaju, Livraria Regina, 1965, p. 9. Sobre a família, ver J.
C. Pinto Junior. O capitão-mor João d’Dantas e sua descendência. Revista Genealógica
Brasileira, Ano 1, 1940, n. 2. Ver também Des. João Dantas Martins dos Reis. Homena-
gem ao comendador Des. João Dantas Martins dos Reis e ao coronel João Dantas dos Reis.
Aracaju, Livraria Regina, 1972.
10
Ver Livro de Registros. Cartório de Riachão.
11
Cf. Cezarina Fontes Costa, declarações ao autor.
180 MANOEL COSTA E SILVA (1883-1967)

viveria todos os anos subsequentes de sua vida. Ali cursou a escola


de um professor Luiz, que lhe ensinou a ler, escrever e executar as
operações fundamentais, conhecimentos que muito haveriam de lhe
servir nos seus negócios aprumados. Foi seu colega de escola Ber-
nardo França, entre outros.
Quando Honório Costa e Silva faleceu, Manoel Costa e Silva as-
sumiu as responsabilidades na manutenção e encaminhamento de
seus numerosos manos, frutos dos três consórcios de seu genitor.
Cedo, porém, começaram os problemas. A irmã Maria, conheci-
da como Mariquinha, casou-se e passou a residir no Sítio Boa Vista,
cujas terras eram ligadas ao Salgado e chegavam até a sede da vila.
Com a morte de Honório Costa e Silva, o esposo de Mariquinhas, An-
tônio Tolentino Macedo, manifestou-se insatisfeito com a situação,
começou a divergir do cunhado primogênito da família e ameaçou
vender as terras a terceiros.
Diante desse quadro, em 1906, Manoel Costa Silva, a essa altura
com 23 anos, recorreu à Justiça como tutor dos seguintes irmãos:
Ana (Sinhazinha) com 19 anos, Jovelina com 18 anos, José com 17
anos, Antonia com 14 anos, Joviniano com 12 anos, Antônio com 11
anos, Cícero com nove anos, Inácio com oito anos e 10 meses e Asce-
lino Costa Guimarães com seis anos e três meses.12
O objetivo do tutor com essa ação foi de promover os meios de
uma divisão amigável, ou seja, desmembrar o quinhão correspon-
dente à terceira parte que, por cabeça de sua mulher, o cunhado
teria direito. Para tanto, foram convocadas para reunião algumas
pessoas consideradas qualificadas e conhecedores da propriedade
com a assistência do curador geral para testemunhar e ajudar na
operação.13

12
Cf. Alvará de licença concedido em 19.07.1906 pelo juiz João Dantas de Brito da co-
marca de Lagarto. Documento cedido gentilmente ao autor por Francisco J. C. Dantas,
em 20.08.2013.
13
Participaram da reunião Leopoldo de Carvalho Braque, Urcino Fontes, Filadelfo de
Carvalho Fontes, José Antônio de Carvalho Déda e o curador geral dos órfãos Francino
Carvalho Oliveira. Cf. Alvará de licença concedido em 19.07.1906 pelo juiz João Dantas
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 181

A propriedade foi avaliada em 13 contos de réis, exclusive a má-


quina do engenho e seus acessórios. Ao final, consumou-se a divisão
com o estabelecimento minucioso do rumo. O cunhado ficou com
o Sítio Boa Vista, acompanhado de uma ampla faixa de terra e suas
benfeitorias. Aí o casal Antônio Tolentino Macedo e Maria Costa
(Mariquinha) usufruiu da fazenda e criou os numerosos filhos que
geraram, tornando a família Macedo muito conhecida em Riachão.14
Mas os 2/3 da propriedade ficaram para os demais órfãos, inclu-
sive o engenho Salgado, sob controle de Manoel Costa Silva.

Foto 01 – Casa do Salgado. Década de 1970. Arquivo do autor.

2. CASAMENTOS

Por volta dos 27 ou 28 anos, Manoel Costa e Silva casou-se com


a jovem Maria de Oliveira Góis, mais conhecida como Marocas, filha

de Brito da comarca de Lagarto. Documento cedido gentilmente ao autor por Francis-


co J. C. Dantas, em 20.08.2013.
14
Entre os filhos de Antônio Tolentino Macedo e Maria Costa Macedo (Mariquinha), lem-
bramos de Eliezer, João, Isaac, Jessé (Maninho), Esmeralda (Sinhazinha), Raimunda
(Iaiá), Antônia (Sinhá), Josefa (Cafinha), Elisabete (Betinha), Zulmira e Mariana (Ma-
rianinha).
182 MANOEL COSTA E SILVA (1883-1967)

do capitão Paulo Cardoso de Menezes Góis e de Evência de Faria Me-


nezes, moradores da fazenda Grutão, município de Riachão.15

Foto 02 – Casa do Grutão. Fonte: Clodomir Silva. Álbum de Sergipe (1820-1920).


Aracaju, Estado de Sergipe, 1920. Arquivo do autor.

Todavia perdurou pouco a união, pois a mesma faleceu durante


o primeiro parto, enquanto o filho, João, sobreviveria apenas vinte
três dias.
Viúvo, Manoel Costa e Silva não demorou a procurar outra com-
panheira. Em fevereiro de 1912, foi ao Boqueirão, onde participou
da longa festa de casamento de Francisco Dantas com Thereza Bri-
to. Não sabemos se fora acompanhado ou se já era viúvo. De qual-
quer forma, deve ter avistado as duas ou três filhas de Fiel Freire
Fontes que também estiveram nas bodas. Cerca de um ano depois,
segundo contava em família, sabendo das moças prendadas do casal
Fiel Freire Fontes (09.04.1863-10.02.1939) e Cezarina Costa Fontes
(22.08.1863-15.11.1928), numa tarde foi ao Engenho Olho do Boi
visitar seu proprietário e encontrou pelo menos três das jovens na

15
Paulo Cardoso de Menezes Góis foi político do Partido Conservador, deputado pro-
vincial em Sergipe e Presidente da Assembleia Provincial. Casado com Evência Faria
de Oliveira Cardoso, o casal deixou quatro filhos, inclusive Evência de Oliveira Brito,
mãe do ministro Oliveira Brito, ao qual nos referimos no capítulo anterior. Cf. Cláudio
de Britto Reis. Genealogia da Família Britto Dantas. Separata da Revista Genealógica
Brasileira, n. 4, 1941, p. 16.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 183

varanda da casa grande, sentadas atrás de almofadas, produzindo


renda de bilro. Tudo indica que não chegou a trocar palavra com as
donzelas, mas as observou de soslaio e, numa segunda visita, pediu
a mais velha em casamento.

Foto 03 – Fiel Freire Fontes e Cezarina Costa Fontes, pais de Mariana Costa Fontes
(Iazita). Arquivo do autor.

A eleita foi Mariana Costa Fontes (Iazita) (10.05.1893-


04.05.1973), com quem contraiu núpcias em 16 de julho de 1913.
Dez anos mais jovem do que Manoel Costa, Mariana Costa Fontes
provinha de linhagens da elite do seu tempo. Pelo lado paterno, des-
cendia dos Martins de Góis Fontes de Lagarto. Seu avô José (1819-
1903) era o primogênito de numerosa prole descendente de Fran-
cisco Xavier de Góis ( * ? - †13.02.1839) e de Maria José da Piedade
(*?-†25.04.1855). Entre os irmãos de seu avô, estava David Martins
de Góis Fontes, pai de Francisco Dantas Martins Fontes e avô de Da-
vid Dantas de Brito Fontes.
Do lado materno, a esposa de Manoel Costa descendia dos Costa
Lisboa, prósperos empresários de Estância. A mãe de Mariana Costa
Fontes (Iazita), Cezarina Costa, era filha de Mariana Ribeiro Souza
Freire, esposa em segundas núpcias de José da Costa Lisboa Júnior,
conforme se observa pelos dados dos seus ancestrais.
184 MANOEL COSTA E SILVA (1883-1967)

Foto 04 - José da Costa Lisboa Júnior, avô de Mariana Costa Fontes (Iazita).

Embora Cezarina Costa Fontes fosse criada em Estância como


fidalga, recebendo educação requintada, tocando piano e pouco vol-
tada para os trabalhos de casa, as filhas desde cedo foram convoca-
das a assumir obrigações dos serviços domésticos. Mariana (Iazita),
a mais velha, desde menina assumiu a responsabilidade do lar. O
casamento com Manezinho do Salgado, que também já tinha fama
de trabalhador, reforçou essa tendência, passando a jovem esposa
a enfrentar uma rotina de labor pesado, dirigindo a casa, providen-
ciando alimentação para todos.
A essa altura, duas das irmãs de Manoel Costa já se achavam ca-
sadas, mas os irmãos continuavam sob sua guarda: Antônio, José,
Cícero, Joviniano, Inácio Costa e Silva. Permaneceram residindo no
mesmo teto com o casal Manezinho e Iazita, até que cada um tomou
seu próprio caminho. Entretanto, alguns demoraram. Antônio, por
exemplo, ainda viveu na casa do Engenho Salgado por cerca de 18
anos, quando enfim constituiu família.
Como se isso não bastasse, cedo começaram a chegar os filhos,
nove ao todo, exigindo daquela mulher um tanto franzina muito la-
bor. Os desafios contribuíram para fazê-la cada vez mais uma senho-
ra forte, resistente às intempéries, zelando pela família e pelos bens
ao lado do marido, ajudando-o a enfrentar os problemas, impondo-
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 185

-se com sua autoridade moral diante das decisões mais difíceis. A
exemplo do que sempre ocorreu em muitos lares, sua presença foi
marcante e os sucessos de Manoel Costa e Silva muito deveram à sua
vigilância constante e segura.

Foto 05 – Mariana Fontes Costa (Iazita) (em 1913) e


Manoel Costa Silva (em 1919). Arquivo do autor

3. SENHOR DE ENGENHO E FAZENDEIRO

Contando com essa parceira abnegada, que não enjeitava traba-


lho, Seu Manezinho do Salgado administrou o engenho, criou gado,
comprou partes das terras de alguns dos irmãos e prosperou.
Riachão não era uma terra das mais ricas em engenhos. En-
quanto em Boquim se fala em 52 unidades,16 no município vizinho,
como já vimos no capítulo 1, o maior registro que se tem é de 1881,17
quando foram citados 15: Salgado, Fortaleza, Maratá, Salobro, Olho

16
Cf. Jadson Barbosa de Matos in prefácio ao livro de Benjamim Fernandes Fontes. Meu
cobertor de lã. Autobiografia (Infância e Juventude). Aracaju, 1985, p. 3.
17
Cf. Relatório sobre Traçados para Estrada de Ferro na Província de Sergipe apresentado
ao Ilmo. e exmo. Sr. Conselheiro Francisco Luiz Pereira de Souza Ministro e Secretário de
Estado dos Negócios da Agricultura, Commércio e Obras Públicas. Rio de Janeiro, Typ.
Nacional, 1881.
186 MANOEL COSTA E SILVA (1883-1967)

do Boi, Lagoa Grande, Bom Jardim, Roça de Dentro, Grutão, Cajueiro,


Campestre, Cipozinho, São Pedro do Barão, Cipó e Monte Alegre.
O Salgado, que era dos mais antigos, depois da morte de seu pro-
prietário Honório Costa e Silva, na primeira década do século XX,
retomou suas atividades sob a direção do filho Manoel Costa e Silva.
Há uma hipótese de, em certa época, o engenho ter funcionado a
vapor, conforme se infere pela existência da “ferragem antiga, já im-
prestável, [que] ficava à direita do engenho.18 De qualquer forma, o
que conhecemos era movido por seis bestas que se revezavam após
cerca de uma hora e meia de esforço.
Nas primeiras décadas do século XX, o número de unidades
produtivas diminuiu, ao ponto de, em 1930, estar reduzido a seis: o
Salgado, sob a propriedade Manoel Costa e Silva; o São José, de Fiel
Freire Fontes; o Paraná, de Abdias Evaristo de Carvalho; o Fortaleza,
de João Dantas dos Reis; o Maxixe, de Alberto Menezes; e o Maratá,
de Manoel Ferreira de Araújo.19 Entretanto, um a um encerrou suas
atividades. No início da década de 1950, somente o Salgado conti-
nuava ativo, absorvendo muitos trabalhadores no seu complexo co-
tidiano típico.
Ainda era madrugada quando os primeiros carros de boi, dirigi-
dos por Zé de Joana, Zé Carreiro e Seu Ventura, apanhavam as canas
no canavial cortadas por Pequeno, Catingueiro e Nascimento. Ao
chegarem ao engenho para descarregarem nos picadeiros, Mano-
el Costa já estava ativo, observando Camilo, Laércio e João Miúdo,
tangedores de cavalos, apanharem as bestas para levá-las às alman-
jarras. Quando estas começavam a movimentar-se, já Maçu estava
em ação alimentando as moendas de onde saía a garapa canalizada

18
A hipótese foi levantada por Francisco J. C. Dantas em face da existência da “ferragem
antiga, já imprestável, [que] ficava à direita do Engenho que conhecemos, justamen-
te abaixo daquele pequeno cômodo onde vovô guardava as cabaças de garapa azeda.
Eram blocos de ferragem maciça, encostados numa parede, e sumariamente evocados
por ele”. Francisco J. C. Dantas. Informação ao autor via email de 14.08.2013.
19
Cf. Oziel Costa Fontes (Pequeno) (11.02.1898-14.09.1987). Depoimento ao autor em
25.12.1981.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 187

para o paiol. Do outro lado, as moendas cuspiam o bagaço das canas


moídas que Ernesto recolhia e transportava para a bagaceira. Lá em-
baixo, seu Geraldo acendia a fornalha e alimentava com lenha para
aquecer as tachas. Do paiol, a garapa era derramada nas tachas que
o mestre de açúcar José Firmino transferia de uma tacha para outra
de conformidade com sua fervura e coloração até chegar ao cocho. A
essa altura, uma variada quantidade de vasilhas de parentes, amigos
e várias outras pessoas de Riachão e de diversas localidades eram
enchidas com o gostoso mel de engenho.
A maior parte do mel era transportada para o cocho, onde era
mexido e transferido para outro cocho onde se solidificava, virando
açúcar. Depois de algum tempo, era levado por Juca para as barricas
no tendal na caixaria. As barricas purgavam o mel cabaú e, tempos
depois, o açúcar acabava de enxugar nos balcões que eram expostos
ao sol. Posteriormente, era ensacado e apareciam os negociantes in-
termediários que o levavam para o comércio.
Era um processo com alguma complexidade que exigia trabalho
concatenado e administração vigilante para que nenhum setor pre-
judicasse os demais.
Além de administrar o engenho, Manoel Costa e Silva cuidava
das fazendas. Da herança da primeira mulher, recebeu o imóvel de-
nominado Barro, situado no município de Poço Verde (SE), sobre o
qual há informação em sua cadernetinha desde 1929.20 Nessa área,
criavam-se bovinos, que raramente ultrapassavam 50 cabeças, e
menor quantidade de cabras. A mesma fonte fornecia também da-
dos de outra fazenda, a Amargosa.21

20
A área do Barro continha 1.793, 1.750, 1.847 e 1.947 varas em cada lado, correspon-
dentes a 5.382 tarefas. No mencionado documento, havia assentamentos sobre parti-
lha em 1935, 1937, 1941, dando ideia de que o criatório era pequeno. Em 13.03.1935
escreveu que encontrou 31 crias. Cf. Caderneta consultada em mãos de Cezarina Costa
Fontes.
21
Os lados da área da Amargosa continham 560, 569, 445 e 484 varas, correspondentes
a 423 tarefas. Cf. Caderneta consultada em mãos de Cezarina Costa Fontes. Cada vara
media 2,20m.
188 MANOEL COSTA E SILVA (1883-1967)

Na primeira metade dos anos trinta, Manoel Costa comprou de


Próspero Ferreira Farias Oliveira, personalidade muito conhecida
em Riachão como líder político e intendente, por quarenta contos
de réis, a Nova Olinda, propriedade situada a 2 quilômetros da sede
municipal. Em 1940, recebeu por herança de seu sogro a Lagoa
Seca,22 situada próxima do Barro, onde teria encontrado 86 crias.23
Como pouco chovia, pouco depois desfez-se, como teria ocorrido
com Amargosa e Pocinho, esta última recebida em 1941 com 104
cabeças de cabras e 55 ovelhas.24 A partir dos anos quarenta, seu
patrimônio estabilizou-se e passou a ser composto basicamente das
fazendas Salgado, Barro e Nova Olinda.25 A propriedade Barro foi
vendida em outubro de 1964 por CR$ 35.000.000, cuja importância
foi recebida em cinco parcelas no espaço de cerca de um ano.26
No âmbito da família, as filhas cresceram e passaram a aparecer
pretendentes.

Foto 06 – Manoel Costa Silva e suas filhas em Riachão. Arquivo do Autor

22
Segundo informações de Miralda Costa Fontes, sua filha, ao autor.
23
Cf. Caderneta consultada em mãos de Cezarina Costa Fontes.
24
Cf. Caderneta consultada em mãos de Cezarina Costa Fontes.
25
Há informações de que, em 1948, Manoel Costa e Silva e Mariana Costa Fontes, como
herdeiros de Cezarina Costa Fontes, teriam vendido a fazenda Hervaçal a Alice Va-
ladares e seus irmãos. Cf. Paulo Valadares. Os Valadares: Últimos Cem Anos de Uma
Família Sertaneja. Aracaju, Revista do IHGSE, Ano 2006, n. 35. p. 195.
26
Cf. Anotações em uma caderneta de 1961.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 189

Quando os filhos preparavam-se para casar, fazia doações de


terras. Assim adquiriu o Cambuí, que doou a Fiel Fontes e o Caminho
Novo, a João Fontes. Dessa forma, mantinha a integridade das três
fazendas e continuava explorando-as de forma tradicional.
O vaqueiro da distante Fazenda Barro e o da Fazenda Nova Olin-
da ganhavam por cria. Ao fim de cada período determinado, reali-
zava-se a partilha. Era entregue ao vaqueiro um percentual sobre o
total de bezerros nascidos no período.
Tudo indica que nessas terras não havia grandes investimentos.
O gado era criado livremente na solta, ou seja, dentro de um mato
mais ou menos ralo, onde o vaqueiro inspecionava os nascimentos
e cuidava das primeiras providências pós-parto. Em Nova Olinda,
os trabalhos estavam sob a responsabilidade do vaqueiro Ângelo,
conhecido pela alcunha de Seu Anjo, auxiliado por dois filhos, Antô-
nio e Raimundo, dois negros fortes, sadios e simpáticos. O primeiro
mais tarde foi vaqueiro do Salgado mas, subitamente, foi embora
provavelmente para o Sudeste sem avisar a ninguém, e nunca deu
notícias à família. Quanto a Raimundo, sucedeu ao pai e lá permane-
cia até 2004. Os dois foram criados ajudando ao genitor nos serviços
de criação do gado. Evitavam que os urubus matassem os bezerros
recém-nascidos, observavam se estavam mamando e assim sucessi-
vamente.
No Salgado, a situação era um pouco diferente. Embora também
criasse gado na solta, Seu Manezinho paulatinamente derrubou par-
te das matas para ocupar as terras férteis de massapê com os ca-
naviais. Quando a fertilidade diminuía, cortava as árvores de outra
área, no primeiro ano fazia roça de milho, fava, abóbora, depois in-
troduzia cana, que era sucedida pelo capim e assim foi expandindo
os pastos ao longo de décadas de labor sistemático.
190 MANOEL COSTA E SILVA (1883-1967)

Com essas capineiras, ampliou seu plantel de gado de engorda,


que era vendido a compradores geralmente conhecidos. Nos perí-
odos de secas, os prejuízos eram grandes. Os tanques secavam, a
comida nas soltas tornava-se escassa e as vacas velhas começavam a
cair. Os trabalhadores cuidavam de levantá-las, fornecer-lhes água e
capim com cabaú, mas a maioria terminaria servindo de pasto para
os urubus.
Nessa época não havia a preocupação em construir silos ou to-
mar medidas acautelatórias, a não ser de provimentos para a ali-
mentação da família e dos trabalhadores. Manoel Costa era caute-
loso em guardar feijão, farinha e, sobretudo, milho. Quando a seca
de 1932 chegou, dizem os mais velhos, Seu Manezinho do Salgado,
como era conhecido, dispunha de um compartimento de cerca de 25
metros quadrados cheio de milho até o telhado. Foi essa reserva que
socorreu muitos retirantes que passavam por Riachão, em situação
deprimente, em busca de paragens menos tórridas.

Foto 07 – Manoel Costa e esposa. Arquivo do Autor

Homem de palavra, perspicaz, correto nos negócios, sabendo


situar-se nas contendas, foi construindo uma autoridade cada vez
mais respeitada. Sóbrio, trabalhador, pessoa de pouca conversa, seu
Manezinho adquiriu notoriedade, ao tempo em que se projetava nas
intervenções por mediar e resolver conflitos. Francisco J. C. Dantas,
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 191

ao longo de obra memorável, viu seu avô como homem de fala escas-
sa, sem derramamento afetivo.
Não pagava visita, reclamava dos males urbanos e detestava ce-
rimônias e ostentações oficiais. Sisudo, implicante com mal feito, ti-
nha comando forte, era leal e de decência insuspeita.27
Embora frequentasse pouco a cidade, morando a um quilôme-
tro da sede, acompanhava seus problemas. Relativamente integra-
do com os proprietários rurais por laços de amizade, parentesco
ou compadrio, participava pouco das solenidades religiosas e cí-
vicas do município, mas cooperava com obras públicas, quando
solicitado.
Por volta de 1926,28 um grupo de fazendeiros decidiu fazer a
estrada de rodagem ligando Riachão a Boquim, onde passava a via
férrea, a fim de retirar a urbe do isolamento. Reuniram-se e ficou
acertado que cada um dos proprietários periodicamente iria com
seus homens abrir a estrada, e Seu Manezinho do Salgado foi um
dos que contribuiu para a execução da obra. Mas, como a rodagem
cortou ao meio sua fazenda Nova Olinda, ao longo da vida reclamou
das desvantagens de ter propriedade atravessada por rodovia. Fi-
cava devassada, os carros atropelavam as vacas que andavam pelos
caminhos e assim sucessivamente. Um pouco mais tarde, ele ajudou
também, inclusive com seus trabalhadores e com sua experiência
em estrutura de construção de elevado porte, na obra da nova Igreja
Matriz, no início dos anos quarenta.
Embora não se envolvesse na política partidária, quando Mano-
el Machado de Aragão tornou-se intendente em Riachão, no início
de 1929, aquele líder persuadiu Seu Manezinho a ser o delegado do
município. Neste momento, teve testada como nunca sua capacida-
de de resolver conflitos, conciliar interesses, desfazer controvérsias
e simulações. Não foi um período fácil. As notícias de ameaças do
bando de Lampião, que amedrontava municípios próximos, levavam

27
Francisco J. C. Dantas. Coivara da Memória. Estação Liberdade, São Paulo, 1991.
28
Cf. Sergipe Jornal, 28.02.1927.
192 MANOEL COSTA E SILVA (1883-1967)

a mobilizações em meio à onda de boatos e de alarmes falsos. Mas


Seu Manezinho mostrou bom desempenho. A forma de interrogar
as pessoas, com firmeza e perspicácia, ajudava a descobrir contra-
dições, reforçando sua autoridade, que se tornou cada vez mais re-
conhecida. Enérgico com os transgressores amigos do alheio, uma
intimação sua se tornava bastante temida.
Em outubro de 1930, quando a Revolução se tornou vitoriosa,
Manoel Machado Aragão deixou a prefeitura e Seu Manezinho o
acompanhou. Mais tarde, no período 1935-1941, na gestão do in-
terventor Eronides de Carvalho, quando Machado Aragão voltou a
administrar Riachão, Seu Manezinho voltou a atender ao amigo, não
obstante as obrigações de suas atividades de senhor de engenho.
Nesse segundo momento, com a experiência adquirida, com nome já
firmado, tudo indica que sua respeitabilidade aumentou.
Nos anos quarenta, a atividade da pecuária tornou-se mais lu-
crativa do que a produção de açúcar, motivo pelo qual os engenhos
de Sergipe entraram em fogo morto.
Mesmo quando o engenho não estava funcionando, Manoel
Costa e Silva prosseguia com seus hábitos rotineiros. O Salgado era
seu mundo e dali pouco se afastava. Uma das raras vezes em que
se ausentou foi quando apareceu problema na próstata. Seu genro
David Dantas o acompanhou a Salvador e ao Rio de Janeiro, onde,
em junho de 1952, hospedou-se em casa do filho José e foi operado.
Quando convalescia, recusou-se a conhecer a cidade, alegando que
fora se tratar e não passear.
Fora de sua fazenda sentia-se desconfortável. Das festas fora do
seu território, era o primeiro a retirar-se.
Gostava de seus cavalos bem arreados para visitar as capineiras
e as roças. Seus utensílios pessoais eram cuidados com muito es-
mero, típico do homem sistemático, organizado e caprichoso. Sentia
grande prazer, em tempos de safra, em trazer legumes verdes para
a família saborear. Em face das atividades próprias do engenho ab-
sorvedoras de mão de obra, mantinha geralmente na fazenda mais
de uma dezena de trabalhadores. Um dos mais apegados à família de
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 193

Seu Manezinho era Zé de Joana, que ainda relativamente jovem ado-


eceu do baço e faleceu, deixando numerosa prole ainda a ser criada.
Mais tempo viveu Zé Carreiro com sua família grande com costumes
peculiares. Outra figura curiosa era Seu Geraldo, imortalizado por
Francisco Dantas no livro Coivara da Memória como Garangó. Ex-
tremamente calado, era responsável por um dos serviços mais incô-
modos, alimentar com lenha o fogo que aquecia as caldeiras. Morava
sozinho numa casinha muito isolada e recebia sua comida toda tar-
de na balaustrada da casa grande.
Esses costumes sobrecarregavam a esposa de Manoel Costa, que
participava diretamente das atividades domésticas, suprindo as nu-
merosas refeições dos parentes e aderentes sem dispor de geladeira
ou de outros instrumentos facilitadores da dona de casa. Somente
o trato com as carnes exigia cuidados especiais, pois além daquelas
adquiridas na feira dos sábados, toda quarta-feira teria que cuidar
do carneiro sacrificado na própria fazenda. 29
Enquanto isso, os filhos cresciam. Uma vez realizado o curso pri-
mário no Riachão, quase todos tomaram seu caminho próprio.

Foto 09 – Manoel Costa Silva em plena maturidade. Arquivo do autor.

29
Um seu neto descreveu em detalhes essas práticas de sua avó com muita beleza lite-
rária. Ver Francisco J. C. Dantas. Coivara da Memória. Estação Liberdade, São Paulo,
1991.
194 MANOEL COSTA E SILVA (1883-1967)

4. FILHOS E NETOS

1. Maria Fontes Costa (Marinete) (04.08.1914-18.05.2013) ca-


sou-se com Juvenal Teixeira e residiu em Estância, onde tiveram três
filhos. Bem mais tarde, transferiu-se para Aracaju.
2. José Fontes Costa (Yoyô) (15.08.1915-05.06.1986) estudou
no colégio Tobias Barreto, depois foi para o Rio de Janeiro, onde
ingressou nos quadros do oficialato da Aeronáutica e reformou-se
como coronel. Casou-se com Celina Dantas de Brito Fontes, que lhe
deu um filho. Reformado da Aeronáutica, regressou a Riachão, onde
viveu seus últimos anos.
3. Miralda Fontes Costa (Bibi) (15.04.1917- 07.01.2008). Con-
cluiu o curso primário com distinção, teve vontade de prosseguir
os estudos, mas como Riachão não dispunha de grau mais elevado,
permaneceu na casa dos pais e tornou-se ao longo dos anos das
mais estimadas. Casou-se com David Dantas de Brito Fontes e criou
quatro filhos. Sábia nos relacionamentos e muito dedicada aos fami-
liares, faleceu em Aracaju, reverenciada por filhos, netos, bisnetos,
outros parentes e amigos.
4. Cezarina Fontes Costa (Zaim) (18.10.1918-01.09.2007) per-
maneceu com os pais, acompanhando-os até os seus últimos mo-
mentos. Com o falecimento do seu genitor, mudou-se para a cidade
de Riachão com sua mãe, onde permaneceu querida por todos os
irmãos e sobrinhos, mesmo depois da morte de sua genitora. Espiri-
tuosa, acumulou muitas informações sobre os parentes.
5. João Fontes Costa (Doão) (26.05.1920-15.03.1974) estudou
em Riachão e Estância no Colégio de Marocas Monteiro. Por um ano,
serviu ao Exército, lotado na CR, em Aracaju. Era o mais alegre e
extrovertido da família e revelava uma percepção das coisas acima
do comum. Casou-se por volta de 1947 com Maria Solange Costa e
tiveram filhos gêmeos, um dos quais logo faleceu. Cerca de um ano
depois do nascimento dos filhos, uma doença insidiosa, e mal diag-
nosticada, afetou seus membros. Esteve em cadeira de rodas, em
seguida viveu imobilizado em leito por mais de três décadas com es-
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 195

pírito levantado, assistido pela mãe e sobretudo por sua abnegada e


santa mulher. Residiu com os pais e, anos depois mudou-se para sua
própria casa na praça da matriz em Riachão, onde faleceu (1974)
traumatizado pela morte da esposa cerca de um mês antes.
6. Fiel Fontes Costa (01.05.1922-28.03.1980) estudou em Ria-
chão e dedicou-se à lavoura e à pecuária. Sóbrio e extremamente
trabalhador, casou-se com Neuza de Aragão Costa e residiu um tem-
po na cidade de Riachão, depois na Fazenda Cambuí e, em seguida,
na Limeira daquele município. Em fevereiro de 1972, transferiu-se
com a família para Aracaju, onde faleceu acometido por câncer. Do
casamento com Neuza de Aragão Costa nasceram onze filhos.30
7. Valdomira Fontes Costa (Domira) (17.05.1925-26.10.2011)
estudou em Riachão, casou-se com o bancário Antônio da Silva San-
tana (09.07.1915-19.02.2011). O casal residiu alguns anos em La-
garto, depois mudou-se para Aracaju. Tiveram quatro filhos.
8. Joel Fontes Costa (21.04.1927-10.04.1998) frequentou o
curso primário em sua cidade natal e o secundário no Colégio To-
bias Barreto em Aracaju. Aluno aplicado da Escola Politécnica da
Universidade Federal da Bahia, formou-se Engenheiro Civil no ano
de 1953. Ingressou no Departamento de Estradas de Rodagem de
Sergipe, em janeiro de 1955, como engenheiro responsável pela
“residência” de Salgado e, posteriormente, Estância. Em 1960-
1961, participou de curso de especialização em pavimentação
rodoviária no Rio de Janeiro. Ao retornar a Sergipe, assumiu a di-
reção da Divisão de Pavimentação do DER-SE. Depois, foi diretor
desse departamento por mais de uma gestão governamental. Ensi-
nou na Escola Técnica Federal de Sergipe e na Universidade Fede-
ral de Sergipe. Homem sóbrio, era dotado de conversa persuasiva,
revelando sabedoria. Em 1998, tratava-se de um câncer quando
teve um infarto fulminante e morreu.

30
Ver no Anexo III a genealogia.
196 MANOEL COSTA E SILVA (1883-1967)

8. Givaldo Fontes Costa (06.09.1930-12.06.1980) frequentou o


curso primário em sua cidade natal e o secundário no Colégio Tobias
Barreto em Aracaju. Formou-se na Faculdade de Medicina da Bahia.
Encaminhou-se para a obstetrícia. Demonstrou grande perícia du-
rante o estágio do último ano na Pro-Mater em caso raríssimo, sobre
o qual escreveu uma monografia. Benquisto entre os colegas, viveu
no Ribeira do Conde (BA), onde clinicou e operou com muita dedi-
cação e criatividade de 1959 a 1979. Casou-se com Carmem Barreto
que lhe deu três filhos. Pouco depois de transferir-se para Aracaju,
descobriu um câncer no pulmão e faleceu muito angustiado, preocu-
pado com o destino dos seus filhos.
Desde a formatura do filho Joel que algumas mudanças foram
se operando na vida do casal Manoel Costa e Mariana Costa. A casa
grande do Engenho Salgado recebeu uma pequena reforma na parte
traseira. Para facilitar os serviços domésticos, foi introduzida uma
geladeira, amenizando as dificuldades dos afazeres da cozinha. A
estrada ligando o Engenho Salgado a Riachão foi reconstruída para
veículos motorizados. Seu Manezinho adquiriu um jipe, que foi pou-
co usado, servindo mais para empréstimo. Eram alguns sinais da
modernidade que ia chegando. Os filhos promoveram algumas fes-
tas animadas por ocasião de aniversários, formaturas, casamentos,
coroando com as bodas de ouro do casal em 1963.

Foto 10 - Casal e filhos na missa em celebração das bodas de ouro. Arquivo do autor.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 197

A austeridade dos costumes diminuiu. Contudo a rotina de Seu


Manezinho pouco se alterava. Continuava criando suas ovelhas, en-
gordando seus magotes de garrotes e semanalmente vendendo um
boi para o marchante Dorico. Este, não raro, começava a pechinchar
na segunda-feira e a conversa ardilosa prolongava-se até sexta-feira,
quando o negócio era fechado e o boi era levado ao matadouro. Sá-
bado cedo, o barbeiro Damásio chegava ao engenho Salgado para
fazer-lhe a barba e/ou o cabelo. Ao tempo em que exercia seu ofício,
aquele profissional ia contando suas histórias, algumas das quais in-
verossímeis. Uma das inesquecíveis foi quando assegurou que havia
pegado um anjinho numa arapuca. Um anjinho sarará. Seu Mane-
zinho divertia-se com esses casos, em seguida aparecia na feira li-
geiramente, doava aos netos uma nota de um cruzeiro novinha sem
dobrar, conversava rapidamente com algum amigo e regressava logo
para seu refúgio.
A partir da segunda metade dos anos trinta, os filhos casaram-se
e, quando se pensava que o movimento da casa iria diminuir, come-
çaram a chegar os netos para temporadas, e os serviços domésti-
cos voltaram a ampliar-se, sobrecarregando a dona da casa sempre
atenta e vigilante.
Apesar de criar os filhos mantendo uma relação distanciada, sem
grandes demonstrações de agrados e afetividade, diante dos netos
Manoel Costa revelou-se atencioso e tolerante. Embora se manifes-
tasse generoso com todos, havia um que era seu predileto, Francisco
J. C. Dantas. Concorreu para a distinção uma convivência em mea-
dos dos anos quarenta, quando Manoel Costa passou vários meses
adoentado de reumatismo. Entrevado e imobilizado, os empregados
transportavam-no para o engenho e aí ele ficava parado até o mo-
mento de retornar. Francisco J. C. Dantas, então com cerca de quatro
ou cinco anos, vivia uma temporada no Salgado e passou, então, a
acompanhá-lo. Enquanto o avô observava o movimento do engenho,
ele ficava brincando ao lado. Essa convivência resultou numa cum-
plicidade e, sobretudo, numa afeição crescente ao netinho, ao ponto
de o avô pedir à mãe para criá-lo. Discretamente foi-lhe sugerido
198 MANOEL COSTA E SILVA (1883-1967)

que ele ficaria lá e cá, mas a distinção e a generosidade perdura-


ram até a morte, embora um pouco abrandada. Em reconhecimento,
Francisco J. C. Dantas retratou o ambiente e os personagens em Coi-
vara da Memória, obra de referência na literatura brasileira.
Enquanto isso, a presença dos meninos foi aumentando.

Foto 11 – Netos em tempos de férias no Engenho Salgado. Arquivo do autor.

O Salgado virou um paraíso da “netaria”, principalmente quando


o engenho estava moendo. Não obstante a vigilância da avó mais
atenta aos exageros, aí brincavam de tudo, tomavam banho nos tan-
ques, caçavam passarinho, jogavam bola, tangiam as bestas nas al-
manjarras do engenho, andavam a cavalo, ficavam horas em cima
do monte de cana degustando e andavam pelas redondezas em am-
biente de muita liberdade e espontaneidade. E tal era a atenção dos
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 199

avós com os netos que o engenho, em fins dos anos cinquenta, adiou
o encerramento de suas atividades em cerca de dois anos para pro-
porcionar agrado e alegria aos meninos.

Foto 12 – Manoel Costa e Silva em frente à Igreja do Riachão. Arquivo do autor.

Em fins dos anos cinquenta, quando Manoel Costa e Silva já se


mostrava menos exigente com os empregados e menos temido, o
Engenho Salgado entrou em fogo morto. A fazenda, inclusive a casa
grande, perdeu parte da movimentação que a moagem proporcio-
nava. A família foi assumindo a direção dos negócios enquanto o
velho Manezinho cedia subordinado a uma lei inexorável da natu-
reza. Entre fins de 1963 e inícios de 1964, contrariou-se em face
das ameaças de invasão de suas terras na Fazenda Nova Olinda. Foi
aconselhado a dividi-la entre os filhos, o que terminou acontecendo.
Por esse tempo, seus problemas de saúde se acentuaram e Dr.
Costa Pinto, famoso médico urologista, passou a tratá-lo. Quando
os males se complicavam, tratava-se em Aracaju, obrigando-o a
passar algumas temporadas na casa da rua de Maroim de sua filha
Miralda. Depois de algumas idas e vindas, tratamentos, exames,
remédios, faleceu em sua própria casa no engenho Salgado, em
11.03.1967, de complicação renal, cercado da esposa, filhos, netos,
200 MANOEL COSTA E SILVA (1883-1967)

bisnetos e velhos amigos trabalhadores. Com a morte de Manoel


Costa e Silva, foi-se uma das principais referências das personali-
dades de Riachão do Dantas no século XX. Para os netos, findou-se
o tempo da casa de vovô.

Foto 13 – Filhos e genro de Manoel Costa e Silva sobreviventes em 1997. Arquivo do autor
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 201

EPÍLOGO

A tentativa de construção de pequenas sínteses sobre a experi-


ência de quatro fazendeiros terminou concentrando-se nas ativida-
des econômicas, de longe as mais registradas. Mas, enquanto narra-
va seus percursos, é possível que tenha apresentado alguma noção
das maneiras de agir, de administrar a vida e de suas realizações.
É certo que ficaram muitas lacunas, especialmente sobre deter-
minados personagens. As interrogações sem respostas tornaram-
-se mais perceptíveis com relação a David Martins de Góes Fontes
(1820-1904). Quase nada sabemos de sua fase da infância e da ado-
lescência. Apenas inferimos que, sendo filho de um médio produtor
rural que possuía uma prole de doze filhos, dos quais nove eram
varões, a concorrência e os desafios cedo devem ter se apresenta-
do. Tudo indica que adquiriu uma formação acima da média do seu
tempo, conforme sugere a ocupação de determinados cargos.
Sua inquietude parece estar relacionada com sua visão pros-
pectiva, não apenas por melhorias econômicas. O empenho para
encaminhar os filhos através da educação, desde a contratação dos
professores na própria fazenda, depois mandando-os estudar fora,
inclusive uma filha, e, por fim, a formatura de um dos seus descen-
dentes, tudo reforça essa suposição.
De qualquer forma, dos quatro personagens aqui tratados, David M.
G. Fontes foi aquele que mais mudou de condição, rompendo com o pas-
sado na busca de uma situação melhor. Seu percurso revelou um homem
de certo modo ambicioso, com vontade de progredir, capacidade de en-
frentar adversidades e de adaptar-se aos condicionantes do seu tempo.
202 EPÍLOGO

Depois de uma experiência de coletor e de perder a esposa


em Laranjeiras na epidemia de cólera de 1855-1856, passou por
Riachão e esteve oito anos como tabelião de Lagarto. Em segui-
da, mudou-se para Pombal (BA), casou-se novamente e, em 1866,
transferiu-se para Riachão (SE), onde viveu quase quatro décadas
como fazendeiro, por vezes participando da administração local, e
adaptando-se às oscilações da economia.
Quando chegou àquele município, era uma época em que o al-
godão atingia preços elevados decorrentes da Guerra de Secessão
(1861-1865) nos Estados Unidos. Justamente nesse momento, Da-
vid Fontes comprou máquina de descaroçar algodão e, utilizando do
trabalho escravo, dedicou-se a cultivar a planta herbácea.
Quando os preços internacionais se reduziram e o açúcar voltou a
afirmar-se como o produto mais rentável, o fazendeiro do Salobro in-
vestiu na construção de um engenho no início da década de oitenta do
século XIX. Entretanto, após poucos anos de produção, foi decretada a
abolição da escravatura, os cativos foram embora, ocorreram falências,
os compradores do seu açúcar deixaram de saldar dívidas e o engenho
entrou em fogo morto. Desde então, nos quinze anos derradeiros da exis-
tência, David Fontes debateu-se com grande carência de mão de obra.
Voltou-se para criação de gado, mas tudo indica que de forma limitada
e pouco lucrativa. Apesar de tudo, faleceu deixando grande patrimônio.
Francisco Dantas Martins Fontes (1871-1924), penúltimo filho
de David Fontes e Celina Dantas, com a morte prematura da irmã
que chegou derradeira, tornou-se o caçula de pais abastados. Viveu
então a mocidade sem muita preocupação com o futuro, como se
a estabilidade econômica já estivesse assegurada. Interrompeu os
preparatórios em Recife e começou suas atividades à sombra dos
pais. Paulatinamente despertou para o lado prático, acumulou ex-
periência de fazendeiro enquanto contribuía com a administração
do município de Riachão nos cargos de conselheiro municipal, dele-
gado e intendente. Adquiriu conceito na cidade e ampliou seu patri-
mônio graças a heranças e atividades no campo, apesar de vivenciar
várias conjunturas adversas durante a Primeira República.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 203

Ao explorar as propriedades situadas em regiões pouco habi-


tadas em suas redondezas, a contratação de trabalhadores assala-
riados transformou-se num grande problema. Quando, com muita
peleja, conseguiu alguns homens para efetuar os serviços das fazen-
das, veio a seca de 1907-1908, que dizimou grande parte do reba-
nho de Francisco Dantas. Passada a estiagem, poucos anos depois
ocorreu a saída dos trabalhadores para a construção da Estrada de
Ferro em 1911.
Nesse momento, o fazendeiro do Boqueirão pensou em abando-
nar tudo e tentar a vida no meio urbano. Ainda andaram avaliando
as fazendas para vendê-las. Mas o preço das terras era muito baixo
e, mesmo assim, não achava quem as comprasse. Entretanto, Fran-
cisco Dantas continuou explorando a pecuária numa época em que
o comércio interno de boi era pequeno e o interestadual, reduzido,
tornando a demanda acanhada. Apesar desse quadro limitado, Fran-
cisco Dantas progrediu, casou-se com uma prima e, quando criava
seis filhos, a morte brusca o levou.
O percurso de David Dantas de Brito Fontes (1913-2001) foi
muito marcado pela morte dos pais. Jogado aos dez anos na orfan-
dade, vendo os bens da família ameaçados de serem dissipados,
diante de enormes desafios, cedo compreendeu que somente lhe
restava a peleja desprotegida, difícil, ao lado de cinco irmãos meno-
res. Poucos anos depois, deparou-se com o dilema de estudar e ver
seu patrimônio minguar ou deixar o colégio e cuidar do que era seu.
Cedo também percebeu como a segunda alternativa era-lhe dificul-
tosa, sobretudo pela carência de respaldo. Quando tentava se firmar
como fazendeiro, o casamento com uma moça sensata e dedicada,
originária de uma família de prestígio e estabilizada, foi um salto
de qualidade. O aparecimento dos filhos e o apoio afetivo cotidiano
da esposa proporcionaram-lhe realização pessoal e autossuficiên-
cia. Dir-se-ia que poderia ter-se acomodado, mas a determinação e
o embalo com que conduzia suas atividades serviram de estímulo ao
prosseguimento de sua luta. Com vontade de servir, foi induzido a
participar da política partidária. Com seu jeito franco e espontâneo,
204 EPÍLOGO

sem a argúcia e as sutilezas dos profissionais ardilosos, não foi bem


sucedido, mas deixou o testemunho de seu empenho em dotar Ria-
chão de melhores serviços de saúde, educação e energia.
A exemplo de seu pai, e mais ainda de seu avô, David Dantas
tornara-se empreendedor ousado sem jamais afastar-se de uma
postura de grande correção nos negócios. Enfrentou adversida-
des, mas no conjunto navegou num tempo mais favorável do que
o pai e o avô. Após os prejuízos com a seca de 1932, David Dantas
diversificou suas atividades agrícolas, plantando milho, algodão e
fumo, mas paulatinamente concentrou-se na pecuária, que, a partir
dos anos quarenta do século XX, revelou-se mais lucrativa. O mer-
cado de gado expandiu-se, a criação de bovino tornou-se bem mais
compensadora do que era antes de 1930. Quando, nas décadas de
sessenta e setenta, o cultivo da laranja se expandia na região centro-
-sul em decorrência dos preços atrativos, David Dantas investiu em
pomares na fazenda recém-adquirida e foi bem sucedido. Contudo,
ao adquirir terras no sertão de Sergipe e na Bahia, os resultados
não se revelaram compensadores. Apesar de tudo, prosseguiu pe-
lejando pacificamente, com seus hábitos frugais, seu jeito simples e
determinado, investindo como nenhum dos seus ancestrais, viajan-
do e registrando sua labuta. E assim viveu até quando as forças lhe
faltaram, legando aos seus descendentes um exemplo de vida sem
esmorecimentos.
Manoel Costa e Silva (1883-1967) difere um pouco do perfil dos
Fontes. Nascido no século XIX e conduzido desde cedo ao trabalho
pesado por força de injunções familiares, com a morte do genitor
assumiu a direção do Engenho Salgado, uma propriedade coberta
de matas e a responsabilidade de encaminhar uma fileira de irmãos.
Essas circunstâncias levaram-no a assumir uma rotina de labutas
voltadas para a produção rural com poucas relações com o mundo
circundante, moldando seu perfil de agricultor, senhor de engenho e
pecuarista correto e retraído. O casamento com uma moça de muita
fibra foi fundamental para assegurar seu prestígio e seu progresso.
Contudo, Manoel Costa permaneceu contido, com os hábitos regu-
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 205

lares voltados para seu mundo interno, suas propriedades. As duas


experiências como delegado contribuíram para ampliar seu olhar
sobre o conjunto da sociedade e os aparatos públicos. Todavia, ces-
sada sua contribuição, voltou às suas lides rotineiras com toda a na-
turalidade.
Diante das mudanças dos ciclos econômicos, tentou adaptar-se
aos novos tempos sem operar mudanças bruscas. Assistiu aos enge-
nhos circunvizinhos entrarem em fogo morto e continuou resistindo
até os anos cinquenta. Atravessou as três grandes secas do século
XX e sofreu grandes perdas, ao tempo em que criava gado caprino
e bovino livres em soltas de forma pouco rentável. Entretanto, nas
fazendas Salgado e Nova Olinda, ao longo de décadas, expandiu a
área de pastagens e paulatinamente concentrou-se na pecuária. En-
velheceu e faleceu cercado de numerosos familiares e do respeito
reverente de todos.
Assim viveram esses quatro ancestrais sem grandes destaques,
mas servindo de exemplo aos seus descendentes. Todos encontra-
ram mulheres cuja companhia foi fundamental em seu progresso¸
merecendo um capítulo à parte com perícia e arte. Todos sofreram
com mortes prematuras de parentes. Não obstante os contratem-
pos familiares, climáticos ou decorrentes das políticas nacionais,
os quatro senhores empenharam-se para encaminhar os filhos nos
estudos, ampliaram seus patrimônios, integraram a elite local, em-
prestaram sua contribuição à vida administrativa e concorreram de
formas variadas para a melhoria da sociedade envolvente.
206 BIBLIOGRAFIA
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 207

BIBLIOGRAFIA

ALENCASTRO, Luiz Felipe de. Vida privada e ordem privada no Império.


História da vida privada no Brasil. São Paulo, Cia de Letras, 1997.

ALMEIDA, Maria da Glória Santana de. Sergipe: Fundamentos de uma


economia dependente. Petrópolis, Vozes, 1984.

ALMEIDA, Silvan Aragão. História de Riachão do Dantas. Abril de 1993.


(Digitado).

ALVES, Edileuza Silveira. UDN X PSD em Riachão do Dantas (1950-1964).


Trabalho de conclusão de curso (História). Universidade Federal de Ser-
gipe ( UFS), Polo de Lagarto, 2002.

ALVES, João Oliva e MENEZES, José Alves de. Riachão do Dantas in En-
ciclopédia dos municípios brasileiros. Sergipe e Alagoas. Rio de Janeiro,
IBGE, vol. XIX.1959.

ARAÚJO, Ricardo Teles. Famílias sergipanas do período colonial (II), iné-


dito digitalizado.

BARRETO, Armando. Cadastro comercial, industrial, agrícola e informa-


tivo do Estado de Sergipe (1933-1934). Aracaju, 1934.

_____. Cadastro de Sergipe, Aracaju, 1949-1950. Livraria Regina, Aracaju-


-SE, 1950.

_____. Cadastro de Sergipe, Aracaju, 1957. Livraria Regina, Aracaju-SE, 1950.

BELOCH, Israel; ALVES DE ABREU, Alzira (Org.). Dicionário histórico-


-biográfico Brasileiro (1930-1983). Rio de Janeiro, Forense/FGV/
CPDOC/FINEP, 1984.
208 BIBLIOGRAFIA

BLOCH, Marc. Introdução à História. Lisboa. Publicações Europa-Amé-


rica, 1965.

BORGES, Vavy Pacheco. Grandezas e misérias da biografia. In: SOUZA, Eli-


zeu Clementino de. Autobiografias, histórias de vida e formação: pesquisa
e ensino. Porto Alegre-Salvador, EDUNEB, 2006.

BUENO, Francisco Antonio Pimenta. Ferro-vias. Preferência de traçados para


ferro-via na Província de Sergipe. Relatório apresentado a S. Ex. Sr. Conselheiro
Pedro Luiz Pereira de Souza Ministro e Secretário d’Estado dos Negócios Es-
trangeiros e interino da Agricultura, Commercio e Obras Públicas. 1881.

CÂMARA DOS DEPUTADOS. Anais. Rio de Janeiro. Sexta sessão prepara-


tória em 20 de abril de 1861.

CÂMARA MUNICIPAL DE RIACHÃO DO DANTAS. Atas de 1961-1962.


Projeto Raízes: Um Resgate do Patrimônio Documental de Riachão do
Dantas. José Renilton Nascimento Santos.

CARMELO, Pe. Antônio. Olímpio Campos perante a História. Aracaju/


SEC, 2 ed., 2005.

CARVALHO JÚNIOR, Álvaro Pinto Dantas de. O Barão de Jeremoabo e a


política do seu tempo. EGB, Salvador, 2006.

CENTENÁRIO de Manoel Machado Aragão. 1892-1992. Aracaju, [s.n]. 1992.

CONSELHO DE GOVERNO DA PROVÍNCIA DE SERGIPE. Atas de


17.11.1828 e 12.12.1828. Revista do Instituto Histórico e Geográfico de
Sergipe, Ano V, Vol. V, n. 9, 1920.

_____. Atas de 17.11.1828 e 12.12.1828. Revista do Instituto Histórico e


Geográfico de Sergipe, Ano V, Vol. V, n. 9, 1920.

CRUZ, Jeferson Augusto da Cruz. Sob o comando da matriarca: trajetó-


ria Política, social e familiar de Creuza Fontes de Goes em Riachão do
Dantas/SE (1925 – 2000). Trabalho de conclusão de curso (História)
Faculdade José Augusto Vieira, Lagarto, 2011.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 209

DANTAS JÚNIOR. Cap-Mor João D’Antas dos Imperiais Itapicurú. Revista


do Instituto Histórico da Bahia. Salvador, Ano XV, n. 15, 1967.

DANTAS JÚNIOR. J. C. Pinto. Descendências de Francisco Ferreira


Brito e do cap. José Bernardo Leite. Revista Genealógica Brasileira.
n. 4, 1941.

_____. O capitão-mor João D’Antas e sua descendência. Revista Genealógi-


ca Brasileira. Ano I, n.. 2, 1940.

DANTAS, Francisco J. C. Coivara da memória. Estação Liberdade, São


Paulo, 1991.

DANTAS, José Ibarê Costa. Os partidos políticos em Sergipe (1889-1964).


Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro, 1989.

_____. História de Sergipe: República (1889-2000). Rio de Janeiro, Tempo


Brasileiro, 2004.

DOSSE, François. O Desafio biográfico: escrever uma vida. São Paulo,


EDUSP, 2009.

FONTES, Arivaldo Silveira. Figuras e fatos de Sergipe. Porto Alegre/RS,


CFP SENAI, 1992.

FONTES, Benjamim Fernandes. Meu cobertor de lã. Autobiografia (In-


fância e Juventude). Aracaju, [s.n]. 1985.

FONTES, David Dantas de Brito. Minha santa mãe. Correio de Aracaju,


14.11.1956.

FRANCO, Cândido Augusto Pereira. Compilação das Leis da Província de


Sergipe 1835/1880. Aracaju, Typ. F. Chagas, [s/d].

FREITAS, Anamaria Bueno. A produção dos estudos biográficos em Ser-


gipe e as principais contribuições para a história da educação. In: SOU-
ZA, Elizeu Clementino de. Autobiografias, histórias de vida e formação:
pesquisa e ensino. Porto Alegre-Salvador, EDUNEB, 2006.
210 BIBLIOGRAFIA

GUARANÁ, Manuel Armindo Cordeiro. Dicionário biobibliográfico sergi-


pano. Rio de Janeiro, Pongetti & Cia. 1925.

HORA, Philomeno de Vasconcelos Dantas. Memórias. Meu pai, meu que-


ridíssimo amigo. Rio de Janeiro. 1975.

HOUAISS, Antônio et al. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio


de Janeiro, 2001.

IBGE. Sinopse estatística de Riachão do Dantas. Rio de Janeiro, 1948.

LOBO, José Joaquim Pereira. Mensagem apresentada à Assembléia Legis-


lativa em 1922. Aracaju, Imprensa Oficial, 1922.

LOPES, Sônia de Castro. Lourival Fontes: as duas faces do poder. Rio de


Janeiro: Litteris, 1999.

MACÊDO, Edimário Alves. Sob o amparo da virgem. O cônego Manoel


Luís da Fonseca e as práticas romanizadoras na Província de Riachão
(1884-1938). Trabalho de conclusão de curso (História). Faculdade
José Augusto Vieira. Lagarto, 2011.

MAGALHÃES, Luiz. Des. João Dantas Martins dos Reis. Aracaju, Livraria
Regina, 1965.

MAROIM, Barão de, vice-presidente. O Relatório com que foi entregue a


administração da Província de Sergipe no dia 27.02.1856 ao Dr. Salvador
Correia de Sá Benevides.

MATOS, Jadson Barbosa de. Prefácio. In: FONTES, Benjamim Fernandes.


Meu cobertor de lã. Autobiografia (Infância e Juventude). Aracaju, Con-
selho de Governo da Província de Sergipe.1985

MEDINA, Ana Maria Fonseca (org). Dicionário biográfico dos desembar-


gadores do Poder Judiciário de Sergipe (1892-2008). Aracaju, TJ-Sercore,
2008.

_____.Trilhando memórias. Aracaju, Sercore, 2013.


IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 211

MELO, Evaldo Cabral de. O fim das casas grandes. In: ALENCASTRO,
Luiz Felipe de.(org). História da Vida Privada no Brasil. São Paulo. Cia
de Letras, 1997.

MENEZES, Josino. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa em


07.09.1904, Aracaju, Typ d`O Estado de Sergipe, 1904.

PASSOS SUBRINHO, Josué Modesto dos Passos. História Econômica de


Sergipe (1850-1930), Aracaju, Programa Editoral da UFS, 1987.

_____. (org.). Os classificados da escravidão. Aracaju, IHGSE, 2008.

_____. Reordenamento do trabalho. Aracaju, Funcaju, 2000.

REIS, Cláudio de Britto. Genealogia da família Britto Dantas, Separata


da Revista Genealógica Brasileira, n. 4, 1941.

REIS, João Dantas Martins dos. As almas das carnaíbas - Um céu no Ria-
chão: resquício das intituladas “santidades”. Aracaju, Revista do Institu-
to Histórico de Sergipe, n. 16, p. 27-28, 1942.

_____. A cidade de Riachão do Dantas, como começou. Aracaju-SE, 1949.

RICOEUR, Paul. A Memória, a história o esquecimento. Campinas-SP:


Unicamp, 2010.

SAMPAIO, Consuelo Novais (org.). Canudos: Cartas para o Barão. 2 ed.


São Paulo, EDUSP, 2001.

SANTANA, Antonio Samarone de. As febres de Aracaju, dos miasmas aos


micróbios. 1997. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) - Univer-
sidade Federal de Sergipe (UFS), São Cristóvão, 1997.

SANTOS, Adelvan Macedo dos. Arauá. O Reencontro com o passado...,


Arauá, [s.n]. 2000.

SANTOS, José Renilton Nascimento. Riachão do Dantas: nossa terra, nos-


sa gente, nossa história. Riachão do Dantas-SE, 2009. (Digitado).
212 BIBLIOGRAFIA

SANTOS, Maria de Fátima. A disputa pelo espaço sagrado em terra de


N. S. Amparo: Vila do Riachão (1918/1920). Trabalho de conclusão de
curso (História). Universidade Federal de Sergipe (UFS). São Cristóvão,
2002.

SANTOS, Osmário. Memórias de políticos de Sergipe no século XX. Araca-


ju, J. Andrade, 2002.

SEBRÃO SOBRINHO. Tobias Barreto, o desconhecido gênio e desgraça.


Aracaju, Imprensa Oficial, 1941.

_____. Laudas da História do Aracaju. Aracaju, [s.n]. 1955.

SEBRÃO, Cypriano de Almeida. Relatório Apresentado à Assembléia


Legislativa Provincial de Sergipe no dia 1º. de março de 1873 pelo 1º.
Vice-presidente. Jornal de Aracaju, 12.03.1873.

SILVA, Clodomir Souza e. Álbum de Sergipe. (1820-1920), Aracaju, 1920,


Estado de Sergipe.

SILVA, José Antônio de Oliveira. Relatório apresentado à Assembléia Pro-


vincial em 08.03.1852. Typ. Provincial, Sergipe, 1852.

TANNURI, Luiz Antonio. O encilhamento. São Paulo, Hucitec, 1981.

VALADARES, Paulo. Os Valadares: últimos cem anos de uma família ser-


taneja. Aracaju, Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, n.
35, 2006.

Obs. A documentação manuscrita encontra-se indicada nas notas.


IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 213

JORNAIS

A Cruzada, Aracaju,1961-1962.
A Razão, Estância,1908.
Correio de Aracaju, 1908, 1947, 1949, 1956.
Correio Sergipense, Aracaju,1852 a 1866.
Diário de Sergipe, Aracaju,1947, 1956.
Gazeta de Sergipe, Aracaju,1891, 1998.
Jornal da Cidade, Aracaju,1991.
Jornal de Aracaju, 1871, 1872, 1876.
Sergipe Jornal, Aracaju, 1927, 1955.

Depoimentos Orais
ARAGÃO, Raimunda Fontes. Informações ao autor em 27.07.2009.
BRITO, Nivalda Jacobina Brito. Informações ao autor em 20.09.2004.
COSTA, Cezarina Fontes. Informações ao autor em 2002.
COSTA, Neuza Aragão. Informações ao autor em 22.07.2009.
FONTES, Arivaldo Silveira, depoimento ao autor em 09.09.1999.
FONTES, David Dantas de Brito. Informações ao autor em 1997-2000.
FONTES, Izabel Costa Fontes (Bebé). Informações ao autor em
16.12.1974.
FONTES, Mariana Dantas M. Depoimento ao sobrinho David Dantas de
Brito Fontes, retransmitido por este ao autor.
FONTES, Miralda Costa. Informações autor em 2002-2007.
FONTES, Oziel Costa Fontes (Pequeno). Informações ao autor em
25.12.198.
MELO, Enelita Dantas de. Depoimento ao autor, em 19.08.2013.
OLIVA, Helenaldo da Fonseca, secretário da Prefeitura de Riachão do
Dantas. Depoimento ao autor em 02.11.2003.
214 BIBLIOGRAFIA
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 215

ANEXOS

ANEXO I

PROPRIETÁRIOS DO MUNICÍPIO DA VILA DO RIACHÃO


COM NÚMEROS DE ESCRAVOS INCLUÍDOS NA LISTA DE
CLASSIFICAÇÃO PARA SEREM LIBERTOS PELO FUNDO DE
EMANCIPAÇÃO.
1875

Número de
Proprietário
Escravos
Abdias de Faria e Oliveira 02
Afro Martins Fontes 04
Alexandre de Souza Vieira 14
Américo Lopes de Almeida 01
Ana Dantas Freire, D. 04
Ana Joaquina da Conceição 01
Ana Joaquina de S. José 03
Anacleto José de Carvalho e Oliveira 02
Angélica, órfã 01
Antonio da Rocha Borges 01
Antonio Escopério de Almeida 09
Antonio Joaquim Correia 06
Antonio Joaquim de Faria e Oliveira, Ten. Cel. 39
Antonio Meneses Fontes de Carvalho 05
Antonio Rocha Borges 02
Barbara das Virgens de S. José 03
Barnabé do Carmo Amado 06
Benjamim Francisco Pinto 01
Cesarina, filha de Antonio Meneses Fontes – órfã 03
D. Francisca Dantas 01
D. Maria de Araujo 01
David Martins de Goes Fontes 13
216 ANEXOS

David Meneses de Goes Fontes 25


Dionisio da Silva Dantas 30
Dionisio Francisco de Meneses 06
Domingos de Avila Freire 06
Domingos de Avila Freitas 15
Domingos Firmino de Araujo 01
Domingos José de Araujo 09
Domingos José de Carvalho 08
Domingos José de Carvalho e Oliveira 03
Domingos, filho de José Freire de Meneses, órfão 07
Dr. Remigio de Faria e Oliveira 04
Feliciana Maria de Almeida 01
Felipa Pimentel dos Anjos 01
Felipe José de Goes 02
Felisberto Tolentino Alves 10
Felix Soares de Carvalho e seu irmão 01
Francelina Francisca de Goes 01
Francisco Barreto de Faria e Mello, Major 20
Francisco Bernardino de Souza 01
Francisco Lopes de Almeida 03
Gaspar José de Carvalho Fontes 03
Gregório de Fraga Mello 02
Helena Francisca do Amor Divino 01
Honorina de Farias Bastos, órfã 04
Joana, filha de José Freire de Meneses – órfã 07
João Antonio da Cruz 01
João Antonio da Silva 01
João Batista de Carvalho Daltro, Vigário 02
João da Costa Silva 01
João da Silva Mattos 15
João Dantas Martins dos Reis 74
João Henrique Ayard 02
Joaquim Lopes de Almeida 02
Joaquina Maria de Meneses 09
Jonas de Faria Bastos 04
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 217

José Amancio de Santana 01


José Ananias da Silva 02
José Antonio de Almeida 01
José de Souza e Oliveira 04
José Domingos d’Almeida 02
José Domingos de Araujo 06
José Domingues de Araujo 09
José Ezequiel de Araujo 02
José Francisco de Araujo 01
José Francisco Borges 17
José Freire de Meneses 38
José Meneses de Freitas Goes 18
José Patrício de Souza 01
José Raimundo de Carvalho 01
José, filho de José Freire de Meneses, órfão 04
Josefa Maria de Souza 04
Leandro Correia Freire 02
Luiz Bernardino de Araujo 01
Luiz Francisco Lima 06
Luiz Joaquim de Oliveria 02
Luiza Maria de Jesus 02
Luzia do Coração de Jesus 02
Manoel Antonio Viana 08
Manoel Cesario Pimentel 09
Manoel da Costa Silva 06
Manoel Francisco de Araujo 07
Manoel Freire de Mesquita 12
Manoel José da Silva 07
Manoel Zacarias de Jesus 01
Marcelino José de Araujo 06
Marcolina Olinda d’Almeida, D. 01
Marcolino José de Amaro 07
Maria Dantas, D. 01
Maria José de Jesus 01
Maria José de Jesus Barreto 01
218 ANEXOS

Maria Luduvina d’Almeida, D. 02


Maria Rosa da Silva Dantas 02
Maria Rosa Firmina de Goes 02
Maria, filha de Pedro Augusto Cesário, órfã 01
Mariana da Costa Silva 02
Minervina, órfã 01
Nazaria Maria de Goes 01
Paulo Freire de Mesquita 16
Paulo José Teixeira 02
Paulo Martins Fontes 01
Paulo Meneses Fontes 01
Paulo, filho de José Freire de Meneses, órfão 04
Pedro Augusto Cesario 01
Pedro Augusto Cezar 01
Pedro de Freitas Avila Jorge 01
Pedro José de Carvalho e Souza 06
Pedro Pereira de Araujo 02
Prima, tutelada de Felix Carvalho da Cruz 01
Religiosos de Nossa Senhora do Carmo 17
Teofilo Meneses Fontes 01
Thomas da Costa Leite 03
Tomas da Rocha Leite 01
Valeriano de Faria e Oliveira 03
Venceslau da Costa S. 03
Venceslau da Costa Silva 05
Vicente Lopes de Almeida 02
Vigário Daltro 06
TOTAL 637
Fonte: Josué Modesto dos Passos Subrinho (org.). Os Classificados da Escravidão. Aracaju,
IHGSE, 2008, p. 9 e 246-266.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 219

2. ANEXO II

FALAS DE DAVID DANTAS NA CÂMARA DE VEREADORES


1961-1962

DOCUMENTO Nº 38

Ata da 14ª Sessão da Câmara Municipal


de Riachão do Dantas, 28 de junho de 1961

Presidente: David Dantas de Brito Fontes


Secretário: Oscar Boaventura dos Santos

Aos vinte e oito (28) dias do mês de junho do ano de mil nove-
centos e sessenta e um (1961) às quatorze (14) horas, no edifício
da Prefeitura, sede da Câmara Municipal, presentes os vereadores:
David Dantas de Brito Fontes, Oscar Boaventura dos Santos; Urcino
Fontes de Almeida, Daniel Fabrício da Costa, quatro (4) e ausente
o vereador Deusdete Ferreira dos Santos, havendo número legal o
senhor Presidente declarou aberta a sessão.

Expediente:

Na hora do expediente foi lido um requerimento do senhor Abí-


lio de Carvalho Fontes, solicitando a esta Câmara uma licença de seis
(6) meses para tratar de negócios do seu interesse particular.
Nessa ocasião o senhor Presidente pronunciou o discurso que
passo a transcrever:
220 ANEXOS

Senhores Vereadores:

Submetendo hoje à aprovação de vossas Excelências o pedido de


seis meses de licença do Prefeito Abílio de Carvalho Fontes, quero,
na qualidade de seu substituto legal como Presidente desta Câma-
ra, tornar público, desde já, a difícil situação financeira em que se
encontra a Prefeitura e pedir a ajuda e a compreensão dos ilustres
representantes do povo, caso concedam a licença, para que eu pos-
sa realizar neste período a tarefa que me cabe, de levar à frente o
programa traçado nesta administração, em que se incluem, ao lado
de outros benefícios, a instalação da energia de Paulo Afonso nesta
cidade, a manutenção em nível satisfatório dos serviços públicos e o
equilíbrio financeiro da Municipalidade. Tenho sido pessoal e publi-
camente participante da administração Abílio de Carvalho Fontes,
não só como uma pessoa amiga a quem o Prefeito vem consultan-
do e com quem vem combinando os seus planos de trabalho, como
também na qualidade de seu substituto que já assumiu a adminis-
tração no ano anterior por seis meses em outra licença por ele soli-
citada e concedida por esta Casa. Posso testemunhar todo o esforço
que ele tem empenhado, ou melhor, todo o drama que ele tem vivi-
do; conjuntamente comigo, para dar a este município uma adminis-
tração rigorosamente honesta e realmente proveitosa para o bem
da comunidade. Como sabem Vs. Excias, a renda própria de nosso
município é diminuta e a alta constante dos custos nos serviços pú-
blicos, não tem permitido a realização de tudo o que temos plane-
jado. A arrecadação média nos últimos quatro meses não ultrapas-
sou a casa dos 80 mil cruzeiros mensais, enquanto a defesa média,
só com a folha normal de pessoal fixo e a manutenção dos servi-
ços públicos imprescindíveis, sobe a cerca de Cr$ 100.000,00 por
mês. Os débitos atuais da Prefeitura, cuja relação passarei a ler no
final deste discurso, atingem a importância total de Cr$ 843.048,00.
Nessa relação de débitos como verão Vs Excias estão incluídos os
subsídios atrazados dos senhores vereadores referentes a quatro
meses na importância de Cr$ 46.500,00, vencimentos atrasados
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 221

aos funcionários na importância de Cr$ 95.000,00 e Cr$ 200.000,00


de adiantamento à Prefeitura, do próprio bolso do Prefeito Abílio
Fontes e do Presidente da Câmara que ora fala, adiantamento este
feito por ocasião da assinatura do contrato com a Sulgipe para o for-
necimento de energia elétrica à cidade. Sabem Vs Excias – porque
esta Câmara foi consultada e deu a sua aprovação – que na opor-
tunidade da assinatura desse contrato a Prefeitura só dispunha de
Cr$ 300.000,00 em dinheiro, tendo que entrar com um mínimo de
Cr$ 500.000,00 exigido pela Sulgipe e a solução que encontramos,
o Prefeito Abílio Fontes e eu, para não adiar o empreendimento, foi
nos cotizarmos os dois, entrando cada um com Cr$ 100 mil cruzei-
ros de nosso bolso, a título de empréstimo, tal era o nosso empe-
nho em fornecer a esta população a energia de Paulo Afonso, fator
de conforto e de progresso. Assim é que todos nós, até os próprios
funcionários estamos sacrificados em virtude da pobreza de nossa
prefeitura. Atualmente a Sulgipe já mandou preparar a picada nos
terrenos por onde têm que ser fincados os postes e estendidas as
redes, abrangendo cerca de 20 propriedades entre sítios, quintais,
etc. cujos proprietários deverão ser indenizados pelo Município em
importância superior a 100 mil cruzeiros. No contrato com a Sulgi-
pe, ratificado pela Câmara, a Prefeitura abriu mão de 70% da quota
federal a fim de adiantar à referida Empresa os custos dos serviços;
esta importância só voltará ao município quando for liberada a ver-
ba incluída no Orçamento da União para as despesas de eletrificação
na área de concessão da mesma Empresa distribuidora de energia.
Ora, senhores vereadores, é com um município que não arrecada o
suficiente nem para manter os seus serviços normais e que só pode
lançar mão de 30% da quota federal, que a administração atual se
encontra a braços. Como homem que não tem interesse em fazer
carreira política, o Prefeito Abílio Fontes, que aceitou a indicação
do seu nome para o cargo, com o intuito de fazer alguma cousa pelo
Município que lhe serviu de berço, viu-se na quase impossibilidade
de realizar este desejo e tem chegado às raias do desânimo. Também
eu que o tenho animado a prosseguir oferecendo-lhe toda a minha
222 ANEXOS

solidariedade, confesso que às vezes me sinto abatido, e nem nos


sentimos com coragem de visitar alguns povoados por não poder-
mos atender às reivindicações que fazem os seus habitantes e a que
eles têm direito. Somos dois homens que desejam realizar um go-
verno honesto e tirar o povo da miséria e abandono em que vive,
esquecido dos poderes públicos da União e do Estado. Infelizmente
não temos podido realizar o nosso desejo quanto a esta última par-
te, pela falta de recursos. Como sabem Vs. Excias. a Prefeitura tinha
feito a encomenda de um trator, através da Sociedade Brasileira dos
Municípios. Essa máquina seria de grande utilidade não só na rea-
lização de obras públicas, como também, num município agrícola
como é Riachão do Dantas, ajudando os lavradores, num regime de
rodízio nos trabalhos agrícolas que lhes pudesse prestar. Acontece
que, vendo a impossibilidade de liquidar os compromissos finan-
ceiros correspondentes a esta aquisição resolvemos desistir dela e
o Prefeito propôs uma Resolução neste sentido, que foi aprovada
por esta Câmara. É preciso que se diga que no ano anterior quan-
do a quota federal ainda não estava comprometida a administração
Abílio Fontes construiu o importante matadouro desta cidade, um
mercado no povoado Palmares e beneficiou o meio rural com o me-
lhoramento de estradas e outros serviços. Agora, porém, contando
apenas com a sua própria arrecadação e com uma pequena parte
da quota federal, estamos na situação que tenho exposto. Aprovada
esta licença que vem pedir o Prefeito Abílio Fontes, é meu propósito
formular um apelo ao Presidente Jânio Quadros, através do Serviço
Nacional de Assistência aos Municípios, pedindo ajuda do Governo
da União para resolver um problema angustioso como é o da falta de
água para beber, que esta população está sofrendo. Como sabemos
o único tanque público de água que antes servia para o abasteci-
mento da população, tem as suas correntezas originadas de fundos
de quintais muitos destes não possuindo fossas e a água que vem
com as chuvas é contaminada de todos os germes, sendo o mesmo
tanque considerado pela Saúde Pública! Já esteve aqui o pessoal do
DNOCS fazendo o levantamento de um terreno para a construção de
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 223

um açude mas até agora nada resolvido. Pedirei também a ajuda do


Governo do Estado, no sentido de que S. Excia deixe neste município
uma marca do seu Governo, pelo menos mandando pavimentar a
avenida Tobias Barreto, por onde passa a estrada de rodagem Ara-
caju-Salvador. Pretendo ainda entrar em entendimento com a Se-
cretaria da Educação, Cultura e Saúde do Estado, pedindo ao ilustre
Secretário, Dr. Antônio Garcia Filho além de benefícios no terreno
da educação, que S. Excia faça funcionar um Posto Médico que há 3
anos foi construído no Povoado Tanque Novo e ainda não foi sequer
inaugurado e que proporcione a visita regular de um médico aos
povoados Tanque Novo e Bomfim, para servir àquelas populações.
O Município de Riachão do Dantas, tendo um total de ..... habitantes
é visitado por um médico apenas duas vezes por mês. Com a ajudan-
te do eminente Presidente Jânio Quadros que está se interessando
pelos rincões mais longínquos da imensa Pátria, com o auxílio do
Governo do Estado e o apoio da Câmara que Vs Excias representam,
bem como de todo o povo e antes de tudo, com a ajuda de Deus, es-
pero que possamos fazer alguma cousa de útil para este município e
seus habitantes, os quais são dignos de ter dias melhores.
Agora lerei a relação dos débitos da Prefeitura, que o seguinte:

Compra de óleos e lubrificantes para a Usina Elétrica Cr$ 60.000,00


A Socimel, concerto do motor da Usina Termoelétrica (dois títu-
Cr$ 15.548,00
los vencidos)
Ao Sr. Osvaldo Agostinho, de serviços executados no novo pavi-
Cr$ 12.400,00
lhão do matadouro modelo
Livraria Regina – fornecimento de material Cr$ 9.600,00
Saldo do compromisso da Prefeitura com a Diocese de Estância Cr$ 20.000,00
Ao contador Eduardo Silva Amaral – serviços contábeis Cr$ 20.000,00
Subsídios aos Vereadores – 5 meses Cr$ 46.500,00
Vencimentos dos Funcionários da Prefeitura Cr$ 95.000,00
Institutos de Previdência (inclusive IAPI) Cr$ 364.000,00
Aos senhores Abílio e David Dantas – empréstimos Cr$ 200,000,00
Total Cr$ 843.048,00

Era o que tinha a dizer, senhores vereadores.


224 ANEXOS

Ordem do Dia

Na Ordem do Dia foi posto em 1ª discussão o requerimento do


Sr. Prefeito Abílio de Carvalho Fontes solicitando uma licença de 6
meses a esta Câmara o qual foi aprovado unanimente. Nada mais
havendo a tratar, o senhor presidente deu por encerrada a sessão.
E para constar, foi lavrada esta ata. Eu Oscar Boaventura dos Santos
que subscrevi.

Oscar Boaventura dos Santos


José Hilário Ávila.

Fonte: Livro C de Atas da Câmara de Vereadores, aberto em 09 de fevereiro de 1960, por


David Dantas de Britto Fontes. p. 53v-54-54v-55-55v-56-56v.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 225

DOCUMENTO Nº57

Ata de 16ª Sessão Ordinária da Câmara Municipal


de Riachão do Dantas , 25 de outubro de 1961.

Presidente: Oscar Boaventura dos Santos


Secretário: Ursino Fontes de Almeida

Aos vinte e cinco (25) dias do mês de outubro de mil novecentos


e sessenta e (1961) às quatorze horas no edifício da Prefeitura Mu-
nicipal, sede da Câmara Municipal, presentes os vereadores Oscar
Boaventura dos Santos, Ursino Fontes de Almeida, José Hilário Ávila,
Daniel Fabrício da Costa, 4, havendo número legal, o Sr. Presidente
declarou aberta a Sessão.

Expediente.

Na hora do Expediente compareceu pessoalmente o Sr. David


Dantas de Brito Fontes, Prefeito em Exercício, que veio dar conheci-
mento à Câmara do que está se passando com referência à vinda de
energia elétrica para esta cidade. Nos princípios de julho quando
assumi a Prefeitura, a Sulgipe, depois de mandar avivar a picada por
onde deverá passar a rede elétrica, me entregou uma relação cons-
tando os nomes de vinte e um proprietários de fazendas, sítios e
quintais, a fim de que a Prefeitura conseguisse permissão dos seus
proprietários para a passagem das linhas, pois é esta uma das cláu-
sulas do contrato. Como é do nosso conhecimento, a Sulgipe só terá
obrigação de ligar luz à esta cidade sessenta (60) dias depois de pa-
gar a última prestação. Na semana seguinte a que recebi a lista, fui a
Estância, onde tive entendimento com o Diretor da Sulgipe que me
disse o seguinte: “consiga a permissão dos proprietários que na pri-
meira segunda-feira começarei os trabalhos, só paro quando termi-
nar, mandando imediatamente ligar as chaves para fornecer luz a
sua terra”. Confesso-lhes que voltei entusiasmado, pois só pagamos
226 ANEXOS

a Sulgipe até o momento Cr$ 500.000,00, e nossa obra, se pusermos


postes de cimento, atingirá mais ou menos a importância de Cr$
15.000.000,00. Na lista que recebi, tinham quatro proprietários de
Boquim; mandei os pedidos de permissão pelo senhor Feliciano
Emídio dos Santos, que no dia seguinte me trouxe as permissões
assinadas, com firmas reconhecidas pelos dois Tabeliães, que nada
cobraram. Convém notar que uma dessas pessoas que assinou a per-
missão tem apenas duas tarefas de sítio. Alguém lhe falando que ele
não devia ter assinado sem prévio acerto ele respondeu referindo-
-se a nós: “eles não me darão prejuízo”. Ao ter ciência disso, convidei
o Deputado José Almeida Fontes para vê-lo de perto o que estou re-
latando, e aquele proprietário nos disse com lágrimas nos olhos:
“não tendo jeito deixem passar a linha elétrica e os senhores dêem o
que quiserem”. Esse sítio é onde a linha faz canto. Pessoalmente já
interferi junto ao Diretor da Sulgipe a fim de que se possível, façam
a curva antes, para beneficiar esse pobre homem de bem. Os outros
três proprietários de Boquim, inclusive o Prefeito Jacomildes Barre-
to, nos receberam com satisfação, adiantando mais, que nada tínha-
mos a agradecer e que estariam as nossas ordens caso surgisse
qualquer embaraço na rede daquele município. O mesmo Prefeito
que teve suas duas propriedades cortadas pela linha acrescentou:
“quando a Sulgipe tirou a picada daqui para Pedrinhas, mandei um
fiscal da Prefeitura montado num burro velho e a tarde voltou com
todas as permissões assinadas”. Senhor Presidente e senhores vere-
adores: Tenho tristeza e vergonha em trazer ao conhecimento desta
casa, que alguns dos proprietários de Riachão não atenderam ao
meu pedido naquilo que trará um dos melhores benefícios a esta
terra. Alguns, consegui com muito sacrifício e interferência de ter-
ceiros, entretanto o Deputado Horácio Dantas de Góis, chefe político
desta terra e dois eleitores seus (com exceção de um que depois da
desapropriação, fizemos um acordo). Esses três cidadãos não conse-
guiram até o momento, a assinatura. Quero esclarecer amiudamente
com relação ao Deputado Horácio Dantas de Góis: mandei-lhe entre-
gar o pedido de permissão pelo senhor Luiz Gonzaga de Sousa, seu
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 227

amigo e fiscal desta Prefeitura. Oito dias depois mandei procurar o


referido pedido que ele não entregou e o fiscal me pediu que não o
mandasse mais procurar esse documento. Na semana seguinte man-
dei procurar pela escrituraria desta Prefeitura Maria Inês de Freitas
Dantas, sua amiga e eleitora a quem ele respondeu que depois man-
daria. Cansado de esperar, salvo engano, no dia 29 de julho fui à re-
sidência do Pe. Esaú, Vigário desta Paróquia, onde lhe historiei o
caso e pedi sua interferência. Esse imediatamente dirigiu-se à casa
do Deputado, e, logo depois que o mesmo voltou novamente a sua
residência, tendo o dito vigário me trazido como resposta que o De-
putado Horácio queria falar comigo. Imediatamente pedi a senhori-
ta Maria Inês que fosse avisar ao senhor Horácio que me encontrava
na Prefeitura a espera dele. Esse, pela mesma portadora mandou
dizer que não podia falar comigo, pois estava de viagem para Araca-
ju. Convém notar que ele tem transporte próprio. Estando em véspe-
ras de esgotar-se o prazo de entregar os pedidos de permissão a Dr.
Jorge eu se bem que, havia cerca de 6 anos que tinha deixado de
freqüentar a casa do senhor Horácio, fui na segunda-feira seguinte a
Aracaju, dia 31 de julho, convidei o nosso patrício e amigo José Elson
Fontes e nos dirigimos a casa do senhor Horácio. Depois de longa
palestra, fazendo ver a ele que eu estava indenizando os amigos dele
da mesma forma que os outros, ficou acertado que, na quarta feira
ele estaria aqui, e no máximo até sábado, tudo ficaria resolvido,
adiantando mais que indenizando a parte dos amigos dele, a sua não
haveria problema. Chegou aqui no domingo, mandando marcar um
encontro no salão da Associação Rural aonde fui atendê-lo. Nesse
encontro cheguei a conclusão que havia um grande impasse na vin-
da da luz para esta cidade, o senhor Horácio exigiu que só assinaria
o pedido de permissão para que a rede elétrica passasse na sua fa-
zenda com a condição da volta de Francisco Barão à Prefeitura. Fiz
ver ao mesmo, que isso era impossível, e que e que eu afirmava por
mim e pelo Prefeito eleito, Abílio de Carvalho Fontes. Adiantou-me
mais o senhor Horácio, que, acertando a parte dele as outras seria
caso resolvido, me fazendo ciente que na semana seguinte viajaria
228 ANEXOS

ao Rio e de lá fosse até Uberaba. Vendo que essa atitude do senhor


Horácio era entravar a vinda de um dos maiores melhoramentos
desta terra e tendo nessa ocasião recebido uma carta do Diretor da
Sulgipe me mandando nova lista em que estava aguardando o con-
sentimento dos proprietários para iniciar os serviços, eu com o in-
tuito exclusivamente de apressar a vinda da energia para esta cida-
de, decretei desapropriação da faixa de terra por onde deverá passar
a rede elétrica na propriedade do senhor Horácio Dantas de Goes e
nas de seus amigos José Lídio dos Santos, José de Aprígio, Antídio
Cruz, pessoas essas que recebem a sua orientação. No dia seguinte
ao que o Decreto de Desapropriação foi publicado no jornal A Sema-
na da cidade de Simão Dias, fui a Estância fazendo entrega ao Dire-
tor da Sulgipe Dr. Jorge Leite das assinaturas nas permissões e do
jornal onde continha o referido Decreto. Adiantando-lhe mais que,
caso dentro do prazo de 20 dias eles não me procurassem eu iria
constituir um advogado para a Prefeitura, para concretizarmos o
conteúdo do referido Decreto, tendo Dr. Jorge me pedido que só
constituísse advogado depois dele ter um entendimento com o se-
nhor Horácio ou melhor mandaria um amigo dele. Comentou ainda
admirado do que estava se passando pois nos diversos lugares que
ele já construiu redes como sejam: Arauá, Boquim, Pedrinhas, Ita-
baianinha, Tobias Barreto, Santa Luzia, Ilha e tantos outros não
aconteceu um caso idêntico a esse daqui. Depois de trinta dias fui a
Estância, tendo o Dr. Jorge admirado-se dele não me ter procurado,
me sugeriu que eu devia procurar o Senhor Bispo. Imediatamente
dirigi-me a residência episcopal onde relatei ao Senhor Bispo o que
estava sucedendo e pedi a sua cooperação, que prometeu interceder
por achar a minha causa justa. Decorridos quase dois meses, e tendo
o senhor Horácio comentado que não atenderia ao Sr. Bispo, eu com
o intuito exclusivo de trazer esse melhoramento a esta terra, tele-
grafei ao Sr. Bispo agradecendo a sua cooperação, como também le-
vando ao seu conhecimento e noutro telegrama ao Diretor da Sulgi-
pe, que iria constituir advogado para a Prefeitura, pois só pela
justiça e por ser de direito é que conseguiremos ordem de passar a
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 229

rede elétrica nas propriedades dos referidos cidadãos, sendo que


um deles já fez acordo, o senhor José Lídio dos Santos. O segundo
desapropriado, Deusdete Ferreira dos Santos vendeu há muito tem-
po uma casa nesta cidade em cujo quintal, deverá passar a rede, ven-
deu ao Sr. Antídio Cruz o qual convidado diversas vezes para compa-
recer a Prefeitura não atendeu, alegando que “quem resolve é meu
padrinho Horácio”. O último José de Aprígio, não chegamos a um
acordo com referência ao preço, entretanto cheguei a lhe dizer que,
caso Horácio assinasse eu pagaria por fora do valor com o intuito de
começar os trabalhos. Como porém Horácio e o seu afilhado não as-
sinaram, incluí o seu nome entre os requeridos na ação de desapro-
priação proposta em juízo. Senhor Presidente e senhores Vereado-
res era esta a explicação que eu na qualidade de prefeito em exercício
venho dá a esta Egrégia Câmara, advertindo que a política desta ter-
ra é capaz para tudo.

Ordem do Dia

Na Ordem do Dia, depois de uma discussão amistosa do senhor


Prefeito com os vereadores foi encerrada a sessão, passando a Or-
dem do Dia para a sessão seguinte o que ocorrer. E para constar foi
lavrada esta ata. Eu Urcino Fontes de Almeida que subscrevi.

Oscar Boaventura dos Santos


Urcino Fontes de Almeida.

Fonte: Livro C de Atas da Câmara de Vereadores, aberto em 09 de fevereiro de 1960, por


David Dantas de Britto Fontes. p. 65-65v.
230 ANEXOS

DOCUMENTO Nº 58

Ata da 17ª Sessão Ordinária da Câmara Municipal de


Riachão do Dantas, 26 de outubro de 1961

Presidente: Oscar Boaventura dos Santos


Secretário: Urcino Fontes de Almeida

Aos vinte e seis (26) dias do mês de outubro de mil novecentos


e sessenta e um (1961) às quatorze horas no edifício da Prefeitura
sede da Câmara Municipal, presentes os vereadores Oscar Boaven-
tura dos Santos, Urcino Fontes de Almeida, José Hilário Ávila, Daniel
Fabrício da Costa (4) quatro e ausente o vereador Deusdete Ferrei-
ra dos Santos, havendo número legal o senhor Presidente declarou
aberta a sessão.

Expediente

Na hora do Expediente foi apresentado um projeto de Lei nº 32


da autoria do Senhor Prefeito “reconhecendo de utilidade pública
o Setor Municipal de Riachão do Dantas da Campanha Nacional de
Educandários Gratuitos”. Ainda foi apresentado outro projeto de
Lei nº 33 pedindo crédito especial da importância de Cr$ 36.000,00
para as seguintes verbas do Orçamento vigente:
8.4.8.85.1 – Limpeza Pública – P. Variável Cr$ 26.000,00
8.6.8.99.4 – Despesas Eventuais Cr$ 10.000,00

Foi mais apresentado o Projeto de Lei nº 34 conforme o teor se-


guinte: Projeto de Lei nº 34. Majora vencimentos do funcionalismo
da Prefeitura Municipal de Riachão do Dantas, em exercício: Faço
saber que a Câmara Municipal desta cidade de Riachão do Dantas
decretou e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1º - Ficam majorados os
vencimentos dos funcionários da Prefeitura Municipal de Riachão
do Dantas, na forma da tabela abaixo:
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 231

Secretário de Cr$ 36.000,00 para Cr$ 54.000,00 anuais;


Tesoureiro de Cr$ 30.000,00 para Cr$ 45.000,00 anuais;
Escriturário de Cr$ 30.000,00 para Cr$ 45.000,00 anuais;
Porteiro de Cr$ 12.000,00 para Cr$ 18.000,00 anuais
1º Fiscal de Cr$ 30.000,00 para Cr$ 45.000,00 anuais
2º Fiscal de Cr$ 24.000,00 para Cr$ 36.000,00 anuais
3º Fiscal de Cr$ 18.000,00 para Cr$ 27.000,00 anuais
Fiscais arrecadadores (2) de Cr$ 24.000,00 para Cr$ 36.000,00 anuais cada;
Professores (4) de Cr$ 18.000,00 para Cr$ 26.400,00 anuais, cada;
Professores (16) de Cr$ 12.600,00 para Cr$ 18.000,00 anuais cada;
Motorista – Eletricista de Cr$ 30.000,00 para Cr$ 45.000,00 anuais;
Auxiliar de Motorista de Cr$ 12.000,00 para Cr$ 18.000,00 anuais;
Zelador do Cemitério de Cr$ 12.000,00 para Cr$ 18.000,00 anuais;
Eletricista aposentado de Cr$ 24.000,00 para Cr$ 36.000,00 anuais;
Gratificação ao encarregado do de Cr$ 12.000,00 para Cr$ 18.000,00 anuais;
D.M.E.R.

Art. 2.º A majoração constante do artigo anterior deverá constar


do orçamento da Despesa da Prefeitura para o exercício de 1962,
com base no acréscimo da receita prevista para igual período. Art.
3º Esta Lei entrará em vigor no dia 1º de janeiro de 1962, revogadas
as disposições em contrário.

Ordem do Dia

Na Ordem do Dia foram postos em primeira discussão os proje-


tos de Leis números 32, 33 e 34 os quais, em sessão secreta foram
aprovados. Nada mais havendo a tratar o senhor Presidente deu por
encerrada a sessão. E para constar foi lavrada esta ata. Eu, Urcino
Fontes de Almeida que subscrevi.

Oscar Boaventura dos Santos


Urcino Fontes de Almeida
José Hilário Ávila

Fonte: Livro C de Atas da Câmara de Vereadores, aberto em 09 de fevereiro de 1960, por


David Dantas de Britto Fontes. p. 69-69v-70.
232 ANEXOS

DOCUMENTO Nº 64

Ata da Sessão Extraordinária da Câmara Municipal


de Riachão do Dantas, em 26 de dezembro de 1961

Presidente: Oscar Boaventura dos Santos


Secretário: Urcino Fontes de Almeida

Aos vinte seis (26) dias do mês de dezembro de mil novecentos


e sessenta e um (1961), no edifício da Prefeitura sede da Câmara
Municipal, presentes os vereadores Oscar Boaventura dos Santos,
Urcino Fontes de Almeida, e auzentes os vereadores Deusdete Fer-
reira dos Santos e José Hilário Ávila, havendo número legal o senhor
Presidente declarou aberta a sessão.

Expediente

Na hora do expediente foi lido um ofício do senhor Prefeito em


exercício, desta cidade, do teor seguinte: Ilmos. Srs. Presidente e de-
mais Membros da Câmara Municipal. Por intermédio do presente,
estou dirigido a esse colendo poder, solicitando a necessária autori-
zação para promover a venda do Motor Gerador e demais pertences,
de propriedade desta Prefeitura, pelos meios julgados convenientes
e legais, em face de não mais haver necessidade do mesmo, pois a
cidade, dentro em breve será provida da energia da Sulgipe, como é
do conhecimento público. Depois de providenciar medida ventilada,
continua a cidade às escuras, em virtude da incapacidade de força
do mencionado motor e bem assim da necessidade da reforma geral
da rede interna. Respeitosamente: David Dantas de Brito Fontes –
Prefeito em exercício. Ainda foi apresentado e lido um Projeto de Lei
do vereador Urcino Fontes de Almeida, o Projeto de Lei nº 37, que dá
cumprimento à determinação expressa na Emenda Constitucional
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 233

nº 5, de 21 de novembro de 1961, referente à nova discriminação de


rendas em favor dos Municípios brasileiros.

Ordem do Dia

Na Ordem do Dia foram postos em 1ª discussão e votação o pe-


dido feito pelo senhor Prefeito através do ofício, para autorização
da venda do Motor Gerador da Uzina Elétrica Municipal desta ci-
dade. Foi também discutido e votado o Projeto de Lei nº 37 que “dá
cumprimento à determinação expressa na Emenda Constitucional
nº 5, de 21 de novembro de 1961, referente à nova discriminação de
rendas em favor dos Municípios brasileiros”, sendo que os mesmos
foram aprovados. Nada mais havendo a tratar o senhor Presidente
deu por encerrada a sessão. E para constar foi lavrada esta ata. Eu
Urcino Fontes de Almeida que subscrevi.

Oscar Boaventura dos Santos


Urcino Fontes de Almeida.

Fonte: Livro C de Atas da Câmara de Vereadores, aberto em 09 de fevereiro de 1960, por


Dantas de Britto Fontes. p. 72v-73,73v-74.
234 ANEXOS

DOCUMENTO Nº 66

Ata da Sessão Extraordinária da Câmara Municipal


de Riachão do Dantas, em 28 de dezembro de 1961

Presidente: David Dantas de Britto Fontes


Secretário: Oscar Boaventura dos Santos

Aos vinte oito (28) dias do mês de dezembro de mil novecentos


e sessenta e um (1961) às quatorze horas, no edifício da Prefeitura
sede da Câmara Municipal, presentes os vereadores David Dantas
de Brito Fontes, Oscar Boaventura dos Santos, Urcino Fontes de Al-
meida, Deusdete Ferreira dos Santos, Daniel Fabrício da Costa (5),
havendo número legal o senhor Presidente declarou aberta a sessão.

Expediente

Na hora do Expediente o Presidente Sr. David Dantas de Britto


Fontes, fez ligeira explanação sobre as suas atividades quando na di-
reção do cargo de Prefeito deste Município. Demonstrando grande
interesse pelo progresso da sua terra, resolveu passar ao Ministro
Oliveira Britto o seguinte telegrama: “Ministro Oliveira Britto – Brasí-
lia. Fundado Ginásio nesta cidade solicito Vossência empenho sentido
estabelecer convênio esta Prefeitura esse Ministério fim construção
manutenção referido Ginásio PT. Riachãoenses confiam administra-
ção vossência deixará marca nesta terra vg- Prefeito em exercício.
berço sua digníssima genitora PT Cordiais saudações. David Dantas
de Britto Fontes. Ainda na hora do expediente foi lido outro telegrama
em resposta ao pedido feito pelo Prefeito em exercício: David Dan-
tas Britto Fontes R. do Dantas – Se. Resposta seu telegrama pode vir
ou mandar procuração assinar convênio construção prédio ginásio
pt Abraços Oliveira Britto. Conforme é de nosso conhecimento o Mi-
nistro Oliveira Britto é primo do Sr. David Dantas sendo sua genitora
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 235

filha desta terra é justo que devemos empregar meios de assinar esse
convênio, pois a ocasião é propícia. Disse mais o Senhor Presidente
que sua intenção era ir à Brasília assinar o convênio, pois nessa oca-
sião poderia tratar de outros problemas indispensáveis à nossa terra,
e se for a Brasília, não quer que essa despesa seja totalmente coberta
pela Prefeitura pois ninguém mais do que ele sabe das dificuldades
que tem a enfrentar o senhor Prefeito para por em dia os pagamen-
tos desta Prefeitura. Chegando ao nosso conhecimento que o Ministro
Oliveira Britto virá a Sergipe por esses dias, estamos providenciando
os papeis do Ginásio para nessa ocasião termos com ele um entendi-
mento. Disse mais o senhor Presidente que, quando estava prestes a
passar o exercício ao Prefeito da primeira vez que o substituiu fez um
apelo ao senhor Governador do Estado com dezenas de assinaturas
apelando para que o senhor Governador mandasse calçar a Avenida
Tobias Barreto que é considerada como sala de visitas da nossa cida-
de. Disse mais o senhor Presidente que, de julho para cá todas as seis
vezes que se avistou com o Governador renovou o seu apelo com ve-
emência, e, além disso, passou seis telegramas onde dizia esperava o
Sr. Governador atender o nosso pedido afim de que na próxima pres-
tação de contas, Riachão figurasse entre as cidades beneficiadas pelo
seu Governo, pois em conversa com o Sr. Governador chegou a dizer-
-lhe que nas duas primeiras prestações de contas do seu Governo os
filhos de Riachão não tiveram o direito de bater palmas. Já podemos
dizer que tal apelo será atendido pois os primeiros paralelepípedos
já chegaram e foram nomeados membros da Comissão pelo Dr. José
Garcia Neto – Diretor do D.E.R os senhores: Eng.º Joel Fontes Costa,
Eng.º Humberto Silveira e Sr. David Dantas de Britto Fontes. Entre
outros telegramas foi lido um telegrama do Sr. Araújo Cavalcante um
dos Chefes Municipalistas solicitando com insistência a presença em
Brasília do Sr. Prefeito afim de que todos reunidos, fossem ao Senado
Federal assistir a votação da Emenda Constitucional que tantos be-
nefícios virá trazer aos Municípios brasileiros; tendo o Prefeito em
exercício telegrafado apoiando esse grande movimento lastimando
não poder comparecer em virtude de a Prefeitura está em situação
236 ANEXOS

difícil não dispondo de numerário. Quanto a parte de rodagem, não


nos foi pago a Quota rodoviária Federal a que tem direito a Prefeitura
razão porque as estradas estão quase semi-abandonadas. Declarou
ainda o Sr. Presidente que na parte referente a vinda de energia para
esta cidade cumpriu o seu dever. As desapropriações, os pedidos e
as diligências que o mesmo fez nesse sentido, tem o direito de dizer
ou desafiar que ninguém mais do que ele tem lutado para a vinda de
energia para esta cidade, adiantando mais que o Juiz da 4ª Vara da Ca-
pital já despachou a seu favor por achar a causa justa. Com referência
à Quota Federal, recebeu às vésperas de passar o exercício ao prefeito
eleito, senhor Abílio de Carvalho Fontes. pego o dinheiro no Banco Co-
mércio e Indústria de Sergipe e entregou ao Sr. Prefeito. Foi lido ainda
um Projeto de Lei da autoria do Sr. Prefeito pedindo crédito especial
da importância de Cr$ 200.000,00 para o pagamento do adiantamen-
to feito a Prefeitura pelo Senhor David Dantas de Britto Fontes e por
ele Prefeito Municipal Abílio de Carvalho Fontes cujo adiantamento
prestou-se ao pagamento da 1ª prestação à Sulgipe bem como a ou-
tras despesas também urgentes e que na ocasião o saldo existente,
não chegava a cobrir tais despesas.

Ordem do Dia

Na ordem do dia foi submetido em 1ª discussão e votação o Pro-


jeto de Lei nº 38 o qual em sessão secreta foi unanimente aprovado.
Nada mais havendo a tratar o senhor Presidente deu por encerrada
a sessão anunciando uma outra sessão extraordinária para as 16 ho-
ras deste mesmo dia. E para constar eu Oscar Boaventura dos Santos
lavrei a presente ata.

David Dantas de Britto Fontes


Oscar Boaventura dos Santos

Fonte: Livro C de Atas da Câmara de Vereadores, aberto em 09 de fevereiro de 1960, por


Dantas de Britto Fontes. p. 75-75v-76-76v.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 237

1962
DOCUMENTO Nº

Ata da 38ª Sessão Ordinária da Câmara Municipal


de Riachão do Santas, 5 de outubro de 1962

Presidente: David Dantas de Britto Fontes


Secretário: Oscar Boaventura dos Santos

Aos cinco dias do mês de outubro de mil novecentos e sessenta


e dois, no edifício da Prefeitura, sede da Câmara Municipal, presen-
tes os vereadores: David Dantas de Britto Fontes, Oscar Boaventura
dos Santos, Urcino Fontes de Almeida, Deusdete Ferreira dos Santos,
Daniel Fabrício da Costa cinco (5), havendo número legal, o senhor
Presidente declarou aberta a sessão.

Expediente

Na hora do Expediente o senhor Presidente usou das seguintes


palavras “Senhores Vereadores: Sempre foi o meu desejo resolver o
problema de saúde e saneamento neste município, chegando a con-
clusão que só o SESP poderia resolver este problema. Falei a Depu-
tados, Governador, Secretário da Saúde, conseguindo apenas uma
promessa vaga. Resolvi enviar um telegrama ao Ministro da Saúde
e ao Ex Ministro da Educação Deputado Oliveira Britto que respon-
deu-me havia encaminhado meu pedido ao Ministro da Saúde. Dias
depois recebi um chamado do Dr. João Batista Diretor do SESP neste
Estado, que me fez ciente ter recebido aviso do Sr. Ministro da Saúde
para instalar o SESP nesta cidade, tendo respondido que não insta-
lava logo, por lhe faltar os meios necessários, adiantando que logo
seja liberada a verba deste Estado, iria começar as adaptações que
julgar necessárias, para que seja cumprida essa determinação. Devo
adiantar, que o Dr. João Batista visitou esta cidade no dia 12 de julho
deste ano. Diante disso, como ficou claro, logo seja liberada as ver-
238 ANEXOS

bas, dará início aos trabalhos pelo que venho solicitar dos senhores
vereadores a necessária licença para que o senhor prefeito possa
assinar o convênio com o SESP cujo melhoramento muito vem enri-
quecer a nossa querida terra”.

Ordem do Dia

Na Ordem do Dia foi submetido em 2ª discussão o projeto de Lei


nº 8 da autoria do vereador Urcino Fontes de Almeida recebeu por
unanimidade a sua aprovação. Nada mais havendo a tratar o senhor
presidente declarou encerrada a sessão. E para constar, foi lavrada
esta ata. Eu Oscar Boaventura dos Santos que subscrevi.

David Dantas de Britto Fontes


Oscar Boaventura dos Santos

Fonte: Manuscrito do Livro C de Atas da Câmara Municipal, aberto em 9 de fevereiro de


1960 pelo Presidente David Dantas de Britto Fontes. p. 98v-99. Documento gentilmente
cedido ao autor pelo historiador José Renilton Nascimento Santos.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 239

ANEXO III

GENEALOGIA

DIAGRAMA RESUMIDO
O TRONCO COMUM DE DUAS FAMÍLIAS
240 ANEXOS

ORIGENS FAMILIARES E DESCENDENTES


RAMO LAGARTO – 1
ORIGENS FAMILIARES DE
DAVID MARTINS DE GÓIS FONTES1 (04.08.1820 – 28.11.1904)

I. FRANCISCO XAVIER DE GÓES (? – 13.02.1839)


C/c Maria José da Piedade (? – 25.04.1855)
Descendência:
1. José Martins de Freitas Góis (Vevéio) (30.06.1819 – 20.10.1903)
2. David Martins de Góis Fontes (04.08.1820 – 28.11.1904)2
3. Donana Martins de Góis Fontes (27.11.1822)
4. João Martins de Góis Fontes (08.09.1823 – 1899)
5. Filipe Martins de Góis Fontes (02.08.1825 – 19.01.1839)
6. Francisca Martins de Góis Fontes (31.11.1826 – 13.06.1921)
7. Mariana Martins de Góis Fontes (22.09.1827 – ?)
8. Manoel Martins de Góis Fontes (29.08.1829 – 29.04.1848)
9. Antônio Martins de Góis Fontes (30.04.1830 – ?)
10. Salvador Martins de Góis Fontes (02.02.1832 – 1º.04.1869)
11. Diogo Martins de Góis Fontes (02.03.1833 – ?)
12. Joaquim Martins de Góis Fontes (1835 – ? )

David Martins de Góis Fontes (04.08.1820 – 28.11.1904)


C/C Thereza Maria de Jesus (? – 16.05.1855)
David Martins de Góis Fontes (04.08.1820 – 28.11.1904)
C/c Celina Dantas de Brito Fontes (22.12.1846 – 30.09.1912)

1
DANTAS JÚNIOR. Cap-Mor João D’Antas dos Imperiais Itapicuru in Revista do Instituto
Histórico da Bahia. Salvador, BA, Ed. Mensageiro da Fé, Ano XV, n. 15, 1967.
DANTAS JÚNIOR. J. C. Pinto Dantas Júnior. Descendências de Francisco Ferreira Brito e
do cap. José Bernardo Leite. Revista Genealógica Brasileira. n. 4, 1941.
DANTAS JÚNIOR. J. C. Pinto. O capitão-mor João D’Antas e sua descendência. Revista
Genealógica Brasileira. Ano I, n. 2, 1940, p. 396.
REIS, Cláudio de Britto. Genealogia da Família Britto Dantas, Separata da Revista Gene-
alógica Brasileira, n. 4, 1941.
2
Há dúvidas se os irmãos mais novos de David Martins de Góis Fontes tinham o mesmo
sobrenome.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 241

RAMO PORTUGAL – ITAPICURU – 1

ORIGENS FAMILIARES DE
CELINA DANTAS DE BRITO FONTES (22.12.1846 – 30.09.1912)

I. Manuel Alves Martins3


C/c Teodósia Maria Souza Dantas
Descendência:
1. Joana Dantas de Brito
C/c Manuel Ferreira Silva
2. Ana Maria Nazaré
C/c Caetano José Martins (português)
3. Maria Francisca Souza
C/c Inácio Reis e/ou Gonçalves Leite

II. Maria Francisca Souza


C/c Inácio Reis e/ou Gonçalves Leite

Descendência:
Capitão – mor João D’Antas dos Imperiais do Itapicuru
Maria Josefa da Conceição
Leandra Sancha Leite
Teodósio Souza Leite
Josefa Francisca dos Reis
Francisca Xavier de Souza

III. Maria Josefa da Conceição (? – 14.11.1825)


C/c primo Francisco Ferreira de Brito (? – 1850)

3
Português Familiar do Santo Ofício. O casal era dono da fazenda Catu no Município de
Itapicuru. Revista Genealógica da Bahia, n. 15, Ano 15, Mensageiro da Fé, 1967.
242 ANEXOS

Descendência:
Cap. Manoel Ferreira da Silva (25.01.1793 – 12.06.1847)
Maria Francisca de Souza (20.10.1794 – 13.08.1882)
Joana Bernardina de Souza (? – 14.10.1876)
Ana Francisca de Souza (16.03.1802 – 02.07.1862)
Cap. Antônio Ferreira de Brito (12.03.1806 – 10.05.1853)
Gonçalo Dantas Brito (02.08.1808 – 26.01.1867)
João Dantas de Brito (14.11.1811)

IV. Gonçalo Dantas Brito (02.08.1808 – 26.01.1867)


C/c Francisca Sérgia de Oliveira Dantas, filha de José Inácio de
Macedo e Anna Francisca da Sunção? e Silva (? – 13.05.1904)
Descendência
1. Benigno Dantas de Brito (21.08.1845 – 17.09.1918)
2. Celina Dantas de Brito Fontes (22.12.1846 – 30.09.1912)

DESCENDÊNCIA DE
DAVID MARTINS DE GÓIS FONTES (04.08.1820 – 28.11.1904) E
CELINA DANTAS DE BRITTO FONTES (22.12.1846 – 30.09.1912)

Descendência:
1. João (11.07.1866 – 23.07.1878)
2. Mariana (02.04.1867 – 1947)
3. José (07.12.1869 – 26.11.1926)
4. Francisco (04.07.1871 – 05.03.1924)
5. Digna (03.06.1878 – 06.07.1887)

III – Francisco Dantas Martins Fontes (Sinhô) (04.07.1871 –


05.03.1924)
C/c Thereza Ferreira de Britto Dantas (30.07.1893 –
04.11.1924).
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 243

II

ORIGENS FAMILIARES DE FRANCISCO DANTAS MARTINS FONTES4


(SINHÔ) 04.07.1871 – 05.03.1924)

David Martins de Góis Fontes (04.08.1820 – 28.11.1904)


C/c Celina Dantas de Britto Fontes (22.12.1846 – 30.09.1912)

Descendência:
1. João (11.07.1866 – 23.07.1878)
2. Mariana (02.04.1867 – 1947)
3. José (07.12.1869 – 26.11.1926)
4. Francisco (04.07.1871 – 05.03.1924)
5. Digna (03.06.1878 – 06.07.1887)

III. Francisco Dantas Martins Fontes (Sinhô) (04.07.1871 –


05.03.1924)
C/c Tereza Ferreira de Britto Dantas (30.07.1893 – 04.11.1924).

RAMO PORTUGAL – ITAPICURU2


ORIGENS FAMILIARES DE THEREZA FERREIRA DE BRITTO DANTAS

I. FRANCISCO GONÇALVES LEITE (? – Antes de 1748)


C/c Joana Vitória de Souza

Descendência
Leandra Sancha Leite

4
DANTAS JÚNIOR. Cap-Mor João D’Antas dos Imperiais Itapicuru in Revista do Instituto
Histórico da Bahia. Salvador, BA, Ed. Mensageiro da Fé, Ano XV, n. 15, 1967.
DANTAS JÚNIOR. J. C. Pinto Dantas Júnior. Descendências de Francisco Ferreira Brito e
do cap. José Bernardo Leite. Revista Genealógica Brasileira. n. 4, 1941.
DANTAS JÚNIOR. J. C. Pinto. O capitão-mor João D’Antas e sua descendência. Revista
Genealógica Brasileira. Ano I, n. 2, 1940, p 396.
REIS, Cláudio de Britto. Genealogia da Família Britto Dantas, Separata da Revista Gene-
alógica Brasileira, n. 4, 1941.
244 ANEXOS

C/c Alfares Baltazer Reis Porto


Maria Leite de Souza
C/c Manuel Alves Aranha

II. Leandra Sancha Leite


C/c Capitão Baltazer dos Reis Porto
Descendência
Inácio dos Reis Leite († Camuciatá antes de 1832)
C/c Maria Francisca de Souza Dantas,5 (? – 23.01.1826)
Ajudante Balthasar José dos Reis
C/c Ana Joaquina de Macedo (prima)
Cap. Francisco Xavier dos Reis
C/c Rosa Maria de Macêdo6
Maria de Souza Neves7

III. Inácio dos Reis Leite († Camuciatá antes de 1832)


C/c Maria Francisca de Souza Dantas8 (? – 23.01.1826)
Descendência:
Capitão mor João D’Antas dos Imperiais do Itapicuru
Maria Josefa da Conceição
Leandra Sancha Leite
Teodósio Souza Leite
Josefa Francisca dos Reis
Francisca Xavier de Souza

IV. Maria Josefa da Conceição (? – 1850)


C/c primo Francisco Ferreira de Brito (? – 14.11.1825)

5
Filha do português Manoel Alves Martins e Teodosia Maria de Souza Dantas. Revista
Genealógica da Bahia, n. 15, Ano 15, Mensageiro da Fé, 1967.
6
Filha de José de Souza Dias e Ana Maria de Macêdo Revista Genealógica da Bahia, n. 15,
Ano 15, Mensageiro da Fé, 1967, p. 25.
7
Falecida solteira a 13.07.1820. Revista Genealógica da Bahia, n. 15, Ano 15, Men-
sageiro da Fé, 1967, p. 25.
8
Filha do português Manoel Alves Martins e Teodosia Maria de Souza Dantas. Revista
Genealógica da Bahia, n.15, Ano 15, Mensageiro da Fé, 1967.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 245

Descendência:
Cap. Manoel Ferreira da Silva (25.01.1793 – 12.06.1847)
Maria Francisca de Souza (20.10.1794 – 13.08.1882)
Joana Bernardina de Souza (? – 14.10.1876)
Ana Francisca de Souza (16.03.1802 – 02.07.1862)
Cap. Antônio Ferreira de Brito (12.03.1806 – 10.05.1853)
Gonçalo Dantas Brito (02.08.1808 – 26.01.1867)
João Dantas de Brito (14.11.1811 – ?)

V. Cap. Antônio Ferreira de Brito (12.03.1806 – 10.05.1853)


C/c prima Cristina Moreira da Silva9
Descendência:
1. Cap. Domingos Ferreira de Brito (18.05.1833 – 25.01.1876)
2. Tte. Cel. Francisco Ferreira de Brito (10.09.1834 – 26.12.1899)
3. Maria Ferreira de Britto (? – 26.02.1888)
4. Ana Ferreira de Brito Oliveira (? – 1877)
5. Tte. Cel. Antônio Ferreira de Brito (Ferreirinha) (? –
04.09.1904)

VI. Tte. Cel. Antônio Ferreira de Brito (Ferrerinha) (? –


04.09.1904)
C/c Josefa Soares de Brito, filha do Tte. Cel. Antônio Soares
Monte Santo em 28.11.1868.
Descendência:
1. Alferes Antônio Ferreira de Brito Filho (19.06.1870 – 16.03.1912)
2. Licério Ferreira de Brito
3. Rogaciano Ferreira de Brito
4. Maria Ferreira de Brito Costa
5. Ana Ferreira de Brito Silva
6. Josefa Ferreira de Brito – Yayá Dona (21.09.1876 – 28.07.1962)
C/c Inácio Dantas de Brito (15.12.1860 – 29.07.1942)

9
Filha do Cap. Domingos Álvares Moreira.
246 ANEXOS

7. Domingos Ferreira de Brito


8. Cecília Ferreira de Brito Macedo
9. Maria Ferreira de Brito Rabelo
10. João Ferreira de Brito
11. Ana Ferreira de Brito Gama
12. Alzira Ferreira de Brito Ávila
13. Joaquim Soares de Brito (Quincas)
14. Bédo Ferreira de Brito
15. Thereza Ferreira de Brito Fontes (30.07.1893 – 04.11.1924)
16. Sílvia Ferreira de Brito (18.12.1894 – 31.12.1929)

VII. Tereza Ferreira de Brito Fontes (30.07.1893 – 04.11.1924)


C/c Francisco Dantas Martins Fontes (Sinhô) (04.07.71 –
05.03.1924)

DESCENDÊNCIA DE
FRANCISCO DANTAS MARTINS FONTES E TEREZA FERREIRA DE
BRITO DANTAS.
CASAMENTO EM 20.02.1912

I Francisco Dantas Martins Fontes (Sinhô) (04.07.71 –


05.03.1924)
C/c
I – Maria Ramira da Conceição
Descendência:
1.Arabela Dantas Melo (1904 – 1996)
c/c Eurico Fontes
Descendência:
Josefa Eurita Fontes (1921 – 2013)
C/c Fon bem Sun
1.Arabela Dantas Melo (1904 – 1996)
c/c Antonio Enock de Melo (04.09.1901 – 1991)
1.Enelita Dantas de Melo (05.10.1926 – ?)
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 247

c/Alfredo de Araujo Gomes (05.10.1926 – 1989)


1.1.1.Márcia de Melo Gomes (1960 – ?)
1.2.Josefa Edna Dantas de Melo (1931 – 26.03.1952)
1.3.Elusa Dantas de Melo (30.05.1935 – 08.02.1991)

Francisco Dantas Martins Fontes (Sinhô) (04.07.71 –


05.03.1924)
C/c Tereza Ferreira de Brito Fontes (30.07.1893 – 04.11.1924)
Descendência:
1. Francisco (14.01.1913 – 15.04.1913)
2. David (19.12.1913 – 20.11.2001)
3. Celina (29.12.1914 – 09.08.1996)
4. Lourival (15.03.1916 – 19.03.1916)
5. Odete (15.12.1917 – 03.03.1985)
6. Nivalda (22.04.1918 – 10.10.2012)
7. Vandete (21.07.1919 – 17.12.1995)
8. Clóvis (22.07.1921 – 19.05.1997)

DESCENDÊNCIA
Francisco (14.01.1913 – 15.04.1913)

2. DAVID DANTAS DE BRITO FONTES (19.12.1913 – 20.11.2001)


C/c Miralda Costa Fontes (15.04.1917 – 07.01.2008)10
Tiveram quatro filhos:

2.1. José Ibarê Costa Dantas (06.12.1939 – )


C/c Beatriz Góis Dantas (21.09.1941 – )
Tiveram dois filhos:
2.1.1. José Ibarê Dantas Júnior (23.04.1965 – )
C/c Ivana Macedo (22.01.1963 – )
2.1.1.1. Rodrigo Macedo Dantas (23.02.1986 – )

10
Observe-se que os dois descendem de um tronco comum: Francisco Xavier de Góes
(?-†13.02.1839) e de Maria José da Piedade (? †25.04.1855).
248 ANEXOS

2.1.1.2. Juliana Macedo Dantas (16.07.1987 – )


2.1.1. José Ibarê Dantas Junior (23.04.1965 – )
C/c Josefa Rosimeri Soares da Cruz (28.03.1974 – )
Tiveram uma filha:
2.1.1.3. Ana Beatriz Soares Dantas (01.06.2005 – )
2.1.2. Silvia Góis Dantas (25.03.1977 – )

2.2. Francisco José Costa Dantas (18.10.1941 – )


C/c Nilma Fontes Dantas (16.03.1940 – )
Tiveram dois filhos:
2.2.1. Kátia Maria Fontes Dantas (21.08.1964 – )
C/c Paulo César Barreto Lopes (08.09.1963 – )
Tiveram três filhos:
2.2.1.1. Lucas Dantas Lopes (07.07.1988 – )
2.2.1.2. Luciana Dantas Lopes (02.09.1992 – )
2.2.1.3. Luiz Paulo Dantas Lopes (25.01.1997 – )
2.2.2. David Fontes Dantas (27.10.1974 – 11.07.1993)

2.3. Manoel Davis Costa Dantas, (15.06.1943 – )


C/c Nílvia Santana Dantas (01.07.1949 – )
Tiveram duas filhas:
2.3.1. Mônica Dantas Lima (06.01.1967 – )
C/c Jailton Lima (15.09.1966 – )
Tiveram dois filhos:
2.3.1.1. Priscila Dantas Lima (08.06.1992 – )
2.3.1.2. Jailton Lima Júnior (16.07.1993 – )
2.3.2. Cláudia Dantas Menezes (20.08.1969 – )
C/c José Menezes Siqueira (...)
Filha de Claudia

2.4. José Eduardo Costa Dantas (12.01.1953 – )


C/c Cristina Diniz Dantas.
Tiveram três filhas:
2.4.1.Nayra Diniz Dantas (25.05.1980 – )
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 249

c/c Dernival Souza dos Santos Júnior (13.08.1983 – )


2.4.2.Tayora Diniz Dantas (15.09.1983 – )
c/c Valdelson Batista Santos (10.02.1978 – )
Tiveram um filho:
2.4.2.1. Yuri Dantas Batista (14.07.2012 – )
2.4.3.Raíssa Diniz Dantas (04.03.1989 – )

3. CELINA DANTAS COSTA (29.12.1914 – 09.08.1996)


C/c José Fontes Costa (...)
Tiveram um filho:
3.1.Ivan Dantas Costa (12.10.1943 – 2012)
C/c Lindóia Freire Costa (...)

4. LOURIVAL (15.03.1916 – 19.03.1916)

5.ODETE DANTAS DE BRITO (15.12.1917 – 03.03.1985)


C/c Agenor Brito Silva.
Tiveram três filhos:
5.1 Wilson Brito Silva (24.04.1938 – )
C/c Terezinha Brito. (...)
Tiveram quatro filhos:
5.1.1.Marcelo Brito (...)
5.1.2.Márcio Brito (...)
5.1.3.Jamile Brito (...)
5.1.4.Renata Brito (...)

5.2. Tereza Sônia Brito Ávila (06.06.1939 – )


C/c João Ávila.
Tiveram três filhos:
5.2.1. Patrícia Brito Ávila (...)
5.2.2. Gustavo Brito Ávila (...)
5.2.3. Ricardo Brito Ávila (...)
250 ANEXOS

5.3. Aída Maria (16.06.1940 – 27.03.1941)

5.4. Nilda Brito


C/c Roberto Ibrahim
Tiveram duas filhas:
5.4.1 Dúnia Brito Ibrahim (...)
C/c Francisco ....... (...)
Tiveram um filho:
5.4.1.1.Diogo. (...)
5.4.2.Cíntia Ibrahim Brito. (...)

6. NIVALDA DANTAS BRITO (22.04.1918 – 10.10.2012)


C/c Reinaldo Jacobina Brito. (29.04.1916 – 21.06.1994)
Tiveram quatro filhos:
6.1. Reinivaldo Jacobina Brito (20.06.1943 – )
C/c Darci Nogueira Brito (23.12.1943 – )
6.1.1. Luciana Nogueira Britto (23.02.1971 – )
C/c
6.1.1.1. Luiza Brito Costa (29.06.1995 – )

6.1.2. Indaiá Jacobina Brito (11.07.1944 – )

6.1.3. Nirvan Jacobina Brito (03.02.1946 – )


C/c Neusa Araújo Brito (02.07.1947 – )
Tiveram três filhos:
6.1.3.1.Vanessa Araújo Jacobina Brito (30.09.1973 – )
6.1.3.2.Anderson Araújo Jacobina Brito (26.10.1975 – )
6.1.3.3.Nirvan Jacobina Brito Júnior (15.10.1979 – )

6.1.4. Iara Maria Dantas Brito Santana (10.08.1953 – )


C/c Evandro Batista de Santana. (13.08.1952 – )
Tiveram dois filhos:
6.1.4.1.Ricardo Dantas Brito Santana (26.07.1979 – )
6.1.4.2.Lorena Dantas Brito Santana (29.04.1985 – )
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 251

7. VANDETE DANTAS BRITO GÓES (21.07.1919 – 17.12.1997)


C/c Belmiro Silveira Góes (04.06.1914 – 2011)
Tiveram quatro filhos:
7.1. Ruy Dantas da Silveira Góes (11.10.1941 – )
C/c Cecília Maria de Melo Góes (04.11.1968 – )
Tiveram duas filhas:
7.1.1. Márcia Maria de Melo Góes (07.11.1968 – )
C/c Adriano Pessoa Lebre (02.08.1966 – )
Tiveram dois filhos:
7.1.1.1. Mariana Melo Góes Lebre (10.05.1989 – )
7.1.1.2. André Melo Góes Lebre (04.03.1991 – )
7.1.2. Andréa Melo Góes (18.09.1972 – )
C/c Luis Eduardo Oliveira Andrade (09.02.1962 – )
Tiveram um filho:
7.1.2.1. Ruy Dantas da Silveira Góes Neto (03.04.2001 – )
7.2. Dênio Dantas da Silveira Góes (26.09.1944 – 28.02.2005)
C/c Denise Garcez Mattos Góes (19.04.1950 – )
Tiveram quatro filhos:
7.2.1. Daniela Mattos Góes (20.05.1974 – )
C/c Fernando José Andrade de Melo (01.07.1973 – )
Tiveram uma filha:
7.2.1.1.Denise Góis de Melo (14.12.2002 – )

7.2.2. Débora Mattos Góes Sobral (06.08.1977 – )


C/c Manoel Conde Sobral Neto (27.05.1977 – )
Tiveram os filhos:
7.2.2.1. Dênio Dantas da Silveira Góis Neto (09.05.1998 – )
7.2.2.2. Ana Caroline Góis Sobral (03.04.2000 – )
7.2.3. Belmiro da Silveira Góes Neto (30.07.1981 – )
7.2.4. Dermival Mesquita Mattos Neto (22.03.1983 – )
7.3. Tereza Maria Góes Buarque (19.06.1953 – )
C/c Geraldo Múcio Cardoso Buarque (08.09.1948 – )
Tiveram dois filhos:
7.3.1. Vanessa Góes Buarque (16.06.1979 – )
252 ANEXOS

7.3.2. Érich Góes Buarque (23.08.1983 – )


7.4. Vera Lúcia Dantas Góes (12.06.1957 – )
C/c Osvaldo Vieira Prado (29.01.1957 – )
Tiveram três filhos:
7.4.1. Tiago Góes Prado (15.06.1981 – )
7.4.2. Filipe Góes Prado (09.08.1984 – )
7.4.3. Priscila Góes Prado (28.01.1986 – )

8. CLÓVIS DANTAS DE BRITO FONTES (22.07.1921 – 19.05.1997)


C/c Maria Fontes Brito

Tiveram oito filhos:


8.1.Fernando Augusto Brito Fontes (31.03.1943 – )
C/c Eulina Alves Fontes (06.08.1946 – )
Tiveram dois filhos:
8.1.1. Eraldo Alves Fontes (07.04.1965 – )
C/c Normélia Souza Silva Fontes (22.09.1963 – )
Tiveram dois filhos:
8.1.1.1. Fernando Augusto Silva Fontes (26.08.1987 – )
8.1.1.2. Sâmela Silva Fontes (09.03.1989 – )
8.1.2. Telma Brito Fontes Correia (08.03.1968 – )
C/c Jailton Nascimento Correia (02.08.1964 – )
Tiveram dois filhos:
8.1.2.1. Filipe Dantas Ângelo Fontes Correia (14.12.1989 – )
8.1.2.2. Thauane Dantas Correia (18.02.1991 – )

8.2. Roberto Dantas Fontes


C/c Valdice Rocha Fontes
Tiveram três filhos:
8.2.1.Dunha Paula Rocha Fontes
C/c José Oliveira Irineu Oliveira
Tiveram dois filhos:
8.2.1.1. Maíla Rocha Fontes
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 253

8.2.1.2. Michel Fontes de Oliveira


8.2.2. Roberto Dantas Fontes Júnior
8.2.3. Vanessa Rocha Fontes
2º. C/c Neide Nascimento Santos (22.04.1976 – )
8.2.4. César Dantas Santos (13.09.1994 – )
8.2.5. Clóvis Dantas de Brito Fontes Neto (12.11.1995 – )
8.2.6. José Alberto Dantas Santos (30.12.1999 – )

8.3. Cléber Dantas de Brito Fontes (19.08.1994 – )


C/c Maria de Fátima Hora Fontes (24.03.1953 – )
Tiveram quatro filhos:
8.3.1. Mércia Hora Dantas de Brito Fontes (31.08.1969 – )
8.3.2. Leila Hora Dantas de Brito Fontes (10.12.1973 – )
8.3.3. Clésia Hora Dantas de Brito Fontes (10.01.1979 – )
C/c Alex Carvalho
Tiveram uma filha
8.3.3.1. Maria Clara Hora de Carvalho (11.07.2002 – )
8.3.4. Cléber Dantas de Brito Fontes Júnior (17.01.1992 – )
2º. C/c Gedilva Maria da Costa (...)
Tiveram um filho:
8.3.5. Vinícius Costa Dantas (...)

8.4. César Fontes Dantas (13.10.1949 – )


C/c Maria do Socorro Santos (16.12.1955 – )
Tiveram cinco filhos:
8.4.1. Júlio César Santos Dantas (12.09.1972 – )
C/c Cyntia Resende Silva (...)
Tiveram um filho
8.4.1.1. Hercílio Resende Silva Neto (... )
C/c
Tiveram um filho
8.4.1.2. César Dantas (...)
8.4.2. Verônica Santos Dantas (23.06.1974 – )
8.4.3. Wadson Santos Dantas (...)
254 ANEXOS

C/c Ilesdânia de Souza Galiza (...)


Tiveram dois filhos:
8.4.3.1. Watson Victor Galiza Dantas (28.01.2000 – )
8.4.3.2. Irislândia Vitória Galiza Dantas (08.01.2001 – )
8.4.4. Pablo Santos Dantas (24.12.1980 – )
8.4.5. Mônica Santos Dantas (20.01.1983 – )

8.5 Nelma Dantas Carvalho (...)


C/c José Carlos de Carvalho (...)
Tiveram três filhos:
8.5.1. Alex Sandro Dantas Carvalho (...)
1º. C/c Iolanda Nascimento (...)
Tiveram uma filha
8.5.1.1.Camila Nascimento de Carvalho (22.04.1989 – )
2º C/c Viviane Domingos de Carvalho (...)
Tiveram três filhos:
8.5.1.2. Vivian Iasmin Domingos de Carvalho (...)
8.5.1.3. Alex Lorran Domingos de Carvalho (...)
8.5.1.4. Alex Vitor Domingos de Carvalho (...)
8.5.2. Clóvis Dantas de Carvalho (...)
8.5.3. Carla Dantas de Carvalho (...)
C/c Ezequias Santos Costa (...)
Tiveram uma filha:
8.5.3.1. Nelma Michele Carvalho Costa (...)

8.6. Nilma Dantas Ribeiro (...)


C/c Jorge Ribeiro Prata (...)
Tiveram quatro filhos:
8.6.1. Luana Dantas Ribeiro (...)
1º C/c Dário Ferreira Nunes (...)
Tiveram um filho:
8.6.1.1. Yuri Ribeiro Nunes (...)
1º C/c Diego (...)
Tiveram um filho:
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 255

8.6.1.2. Jorge Ribeiro Prata Neto (...)


8.6.2. Sara Beth Dantas Ribeiro (...)
8.6.3. Max Vinicius Dantas Ribeiro (...)
8.6.4. Larissa Betânia Dantas Ribeiro (...)

8.7. Norma Dantas dos Santos (...)


C/c José Rodrigues dos Santos (...)
Tiveram quatro filhos:
8.7.1. Humberto Dantas Santos (...)
C/c Jackeline Reis Vieira (...)
Tiveram quatro filhos:
8.7.1.1. Maria Vieira Santos (...)
8.7.1.2. Heloísa Vieira Santos (...)

8.7.2. Andreza Dantas Santos (...)


C/c Marcantônio Dias Pessoa Cavalcante (...)
Tiveram dois filhos:
8.7.2.1. Guilherme dos Santos Pessoa Cavalcante (...)
8.7.2.2. José Rodrigues dos Santos Neto (...)

8.7.3. Rodrigo Dantas dos Santos (...)


8.7.4. Romário Dantas dos Santos (...)
C/c Michele Barbosa de Souza (...)
Tiveram um filho:
8.74.1. Ray Souza Dantas dos Santos (2004 – )

8.8. José Francisco Dantas Fontes (19.03.1961 – 01.08.2013)


1º. C/c Mariza Santos
Tiveram um filho:
8.8.1. Alan Dantas Fontes (28.12.1979 – )
C/c Rangeli Menezes
Tiveram uma filha:
8.8.1.1.Alana Maria Menezes Fontes (20.12.1997 – )
2º. C/c
256 ANEXOS

Tiveram um filho:
8.8.1.2. José Francisco Dantas Fontes Neto (22.01.2004 – )
3º. C/c
Tiveram uma filha:
8.8.1.3. Maria Vitória Fontes (23.04.2004 – )
2º. C/c Marta Menezes de Almeida
Tiveram uma filha:
8.8.1.3 Marta Catarina Dantas de Almeida (23.02.1984 – )
3º. C/c Edilma Barreto
Tiveram uma filha:
8.8.3. Monique Barreto Fontes (02.08.1984)
4º. C/c Rosângela Ferreira dos Santos (...)
Tiveram um filho:
8.8.4. Luan Saulo Ferreira Fontes (06.12.1987 – )
5º. C/c Taciana Maria Silveira (08.09.1964 – )
8.8.5. José Francisco Dantas Júnior (06.06.1988 – )

III

RAMO PORTUGAL – ARAUÁ


ORIGENS FAMILIARES DE MANOEL COSTA E SILVA (27.02.1883 –
11.03.1967)

MANOEL COSTA E SILVA (Manoelzinho do Taquari – Arauá)


C/c Maria José dos Anjos

Honório Costa e Silva


Mariana Costa e Silva
Pequena Costa e Silva
Josefa Costa e Silva
Sebastião Costa e Silva
Antipas Costa e Silva (06.08.1880 – 18.07.1949)
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 257

HONÓRIO COSTA E SILVA


C/c a) INÁCIA SATURNINA DE JESUS
Descendência:
1. Manoel Costa e Silva (27.02.1883 – 11.03.1967)
C/c Maria Oliveira Cardoso (Faleceu de parto do primeiro filho)

C/ c Mariana Costa Fontes (10.05.1893 – 04.05.1973)

2. Antonio Costa e Silva


C/c Elvira Costa. Filha de Cafinha e Joaquim Costa
Tiveram os filhos
João José
Jacob
Jocastra

3. José Costa e Silva


C/c Luiza conhecida como Santa
Tiveram os filhos: Sinhozinho, Maninho, João, Honório, Raimundo
e Maria (Sinhazinha) C/c Abidias de Carvalho, depois C/c Oliveira

4. Cícero Costa e Silva


C/c com Prescilia
Tiveram duas filhas: Luzia e Anália
5. Juviniano Costa e Silva
C/c Maria Costa e Silva (Loló)
Tiveram dois Filhos: Benjamin e Carmem

6. Jovelina Costa e Silva


C/c Juvenal Costa e Silva
Tiveram os filhos
Antonio, José (Juca), João, Otaviano, Raimunda e Maria?
258 ANEXOS

7. Ana Costa e Silva (donana)


C/c Camilo
Filhos: Caçula José e Zefinha
Maria (Mariquinha) Costa e Silva
C/c Antônio Tolentino Macedo
Filhos: Eliezer Macedo, João Macedo, Esmeralda Macedo, Zulmira de
Noca, Raimunda, Antônia (Sinhá), Jessé Macedo (Maninho), Maria-
ninha de Fontes, Izaac Macedo (c/c Censinha,) Elisabeth (c/c Rai-
mundo,) Josefa (Cafinha)

b) Segundo Consórcio de Honório Costa e Silva


C/c Acelina
Tiveram o filho Acelino Costa e Silva

c) Terceiro Consórcio Honório Costa e Silva


C/c Iayá
Teve 1 filho
João Costa

III – Manoel Costa e Silva (27.02.1883 – 11.03.1967)


C/c Maria Oliveira Cardoso (Faleceu de parto do primeiro filho)

C/ c Mariana Costa Fontes (10.05.1893 – 04.05.1973)


IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 259

RAMO LAGARTO /2
ORIGENS FAMILIARES DE MARIANA COSTA FONTES (10.05.1893 –
04.05.1973)

I.FRANCISCO XAVIER DE GÓIS ( ? – 13.02.1839).


C/c Maria José da Piedade (? – 25.04.1855)
Descendência:
1. José Martins de Freitas Góis (Vevéio) (30.06.1819 – 20.10.1903)
2. David Martins de Góis Fontes (04.08.1820 – 28.11.1904)11
3. Donana Martins de Góis Fontes (27.11.1822)
4. João Martins de Góis Fontes (08. 09.1823 – 1899)
5. Filipe Martins de Góis Fontes (02.08.1825 – 19.01.1839)
6. Francisca Martins de Góis Fontes (31.11.1826 – 13.06.1921)
7. Mariana Martins de Góis Fontes (22.09.1827 – ?)
8. Manoel Martins de Góis Fontes (29.08.1829 – 29.04.1848)
9. Antônio Martins de Góis Fontes (30.04.1830 – ?)
10. Salvador Martins de Góis Fontes (02.02.1832 – 1º.04.1869)
11. Diogo Martins de Góis Fontes (02.03. 1833 – ?)
12. Joaquim Martins de Góis Fontes (1835 – ?)

II. José Martins de Freitas Góis (Vevéio) (30.06.1819 – 20.10.1903).


C/c Avelina Silveira Góis (? – †20.04.1917)
Descendência:
1. Fiel Freire Fontes (09.04.1863 – 10.02.1939)
2. Francisca (? +?)
3. Yayá do Maratá (? – +? )12

III – Fiel Freire Fontes (09.04.1863 – 10.02.1939)13


C/c Cezarina Costa (22.08.1863 – 16.11.1928).

11
Há dúvidas se os irmãos mais novos de David Martins de Góis Fontes tinham o mesmo
sobrenome.
12
Mãe de João Góis e de Dona (esposa de Sr. Machado)
13
Fiel Freire Fontes (09.04.1863-10.02.1939) irá reaparecer incorporado ao ramo de
Estância.
260 ANEXOS

RAMO PORTUGAL / ESTÂNCIA


ORIGENS FAMILIARES DE CEZARINA COSTA (22.08.1863 –
15.11.1928) E DE MARIANA COSTA FONTES (IAZITA) (10.05.1893
– 04.05.1973)

I – JOSÉ DA COSTA LISBOA (Portugal em 05.1778 – Estância em


31.04.1863)
C/c Josefa Lisboa (Cotinguiba † 02.02.1856 )

Descendência:
José da Costa Lisboa Júnior
Maria Isabel Lisboa
Maria Ermelinda

II. José da Costa Lisboa Júnior (19.08.1817 – 03.04.1880)


C/c Ana de Souza Vieira (24.10.1855 – 29.02.1891)
Descendência do primeiro casamento
1. Filenila Costa (Yaya do Porção (01.11.1847 – ? )
2. Philadelpho Costa (?. 01.06.1849 – ?)14
3. José Anthero Costa (19.12.1854 – 20.12.1917)
4. Jessé Costa (? –14.12.1922)
5. Maria Costa
6. Isabel Theodora da Costa Nóbrega

Casou – se em segunda núpcias com Mariana Ribeiro Souza Freire


(†04.01.1881), Filha de Dionízio Ribeiro Souza (? – 25.04.1869)
Descendência:
1. Leopoldina Costa (26.02.1859 – ? )15
2. Cezarina Costa (22.08.1863 – 15.11.1928).

14
Philadelpho Costa (?-01.06.1849-† ?) era pai de Durvalina, Olga, Zélia, Beatriz, Cecília,
Alberto e Ageu.
15
Leopoldina Costa (26/02/1859-†? ) teve três filhas: Áurea, Marianinha e Zulmira.
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 261

Cezarina Costa (22.08.1863 – 15.11.1928).


C/c Fiel Freire Fontes (09.04.1863 – 10.02.1939)

Descendência:
1. José Costa Fontes (05.04.1892 – 1894)
2. Mariana Costa Fontes (Iazita) (10.05.1893 – 04.05.1973)
3. José Costa Fontes (Costinha) (11.08.1895 – 04.02.1988)
4. Maria Costa Fontes (Falecida com sete dias)
5. Izabel Costa Fontes (Bebé) (25.12.1896 – 14.10.1986)
6. Oziel Costa Fontes (Pequeno) (11.02.1898 – 14.09.1987)
7. Dulce Costa Fontes (Carmina) (16.07.1899 – 10.03.1990)
8. Fiel Costa Fontes (Fielzinho) (31.10.1900 – 12.12.1947)
9. Cezarina Costa Fontes (Nenete) (04.07.1902 – ?)
10. Álvaro Costa Fontes (25.08.1903 – 25.06.1928)
11. Avelina Costa Fontes (Caçula) (30.06.1906 – 13.05.1993)

IV. Mariana Costa Fontes (10.05.1893 – 04.05.1973)


C/c Manoel Costa e Silva (27.02.1883 – 11.03.1967)

DESCENDÊNCIA DE MANOEL COSTA E SILVA E MARIANA FONTES


COSTA

IV. Mariana Costa Fontes (10.05.1893 – 04.05.1973)


C/ em 16 de julho de 1913 c/c Manoel Costa e Silva (27.02.1883 –
11.03.1967)
Tiveram nove filhos:
1. Maria Fontes Costa (Marinete) (04.08.1914 – 18.05.2013)
2. José Fontes Costa (Yôyô) (15.08.1915 – 05.06.1986)
3. Miralda Fontes Costa (Bibi) (15.04.1917 – 07.01.2008)
4. Cezarina Fontes Costa (Zain) (18.10.1918 – 01.09.2007)
5. João Fontes Costa (Doão) (26.05.1920 – 15.03.1974)
6. Fiel Fontes Costa (01.05.1922 – 28.03.1980)
7. Valdomira Fontes Costa (Domira) (17.05.1925 – 26.10.2011)
262 ANEXOS

8. Joel Fontes Costa (21.04.1927 – 10.04.1998)


9. Givaldo Fontes Costa (06.09.1930 – 12.06.1980)

1. MARIA COSTA (FONTES) TEIXEIRA (04.08.1914 – 18.05.2013)


C/c Juvenal Oliveira Teixeira, tiveram três filhos:
1.1. José Rubens Costa Teixeira (31.12.1938 – )
C/c Maria Angélica Teixeira
Tiveram seis filhos:
1.1.1. Ana Luiza Pereira Teixeira (07.06.1964 – )
C/c Marco Aurélio
Tiveram um filho:
1.1.1.1.Gabriel Teixeira Barreto (20.05.1993 – )

1.1.2.Luís Rubens Teixeira (30.04.1963 – )


C/c Rosemeire Andrade Teixeira.
Tiveram um filho
1.1.2.1. Lucas Teixeira

1.1.3. Rui Eduardo Pereira Teixeira (12.01.1972 – )


c/c Roneide Alves Teixeira
Tiveram dois filhos
1.1.3.1.Angélica Alves Teixeira (10.07.1996 – )
1.1.3.2. Daniel Alves Teixeira (10.12.2000 – )
1.1.4. Ivan Pereira Teixeira (26.08.1977 – )
1.1.5. Ivo Pereira Teixeira (09.08.1979 – )

1.2. Maria Eucaristia Teixeira (15.12.1940 – )


C/c Fernando Sampaio Leite
Tiveram duas filhas:
1.2.1. Tatiana Teixeira Leite (14.12.1971 – )
1.2.2. Fernanda Teixeira Leite (30.11.1973 – )
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 263

1.3. – Maria Guadalupe Teixeira


C/c Francisco Carlos Varela
Tiveram dois filhos:
1.3.1.Marcio Teixeira Varela (24.04.1971 – )
1.3.2. Fábio Teixeira Varela (02.04.1974 – )

2. JOSÉ FONTES COSTA, (15.08.1915 – 05.06.1986)


C/c Celina Dantas Costa (29.12.1914 – 09.08.1996)
Tiveram um filho:
2.1. Ivan Costa Fontes (12.10.1943 – 2012)
C/c Lindóia Costa.

MIRALDA COSTA FONTES (Bibi) (15.04.1917 – 07.01.2008)


C/c David Dantas de Brito Fontes (19.12.1913 – 20.11.2001)
Tiveram quatro filhos:

3.1. José Ibarê Costa Dantas (06.12.1939 – )


C/c Beatriz Góis Dantas (21.09.1941 – )
Tiveram dois filhos:
3.1.1. José Ibarê Dantas Júnior (23.04.1965 – )
C/c Ivana Macedo (22.01.1963 – )
3.1.1.1. Rodrigo Macedo Dantas (23.02.1986 – )
3.1.1.2. Juliana Macedo Dantas (16.07.1987 – )
3.1.1. José Ibarê Dantas Junior (23.04.1965 – )
C/c Josefa Rosimeri Soares da Cruz (28.03.1974 – )
Tiveram uma filha:
3.1.1.3. Ana Beatriz Soares Dantas (01.06.2005 – )
3.1.2. Silvia Góis Dantas (25.03.1977 – )

3.2.Francisco José Costa Dantas, (18.10.1941 – )


C/c Nilma Fontes Dantas (16.03.1940 – )
Tiveram dois filhos:
3.2.1. Kátia Maria Fontes Dantas (21.08.1964 – )
264 ANEXOS

C/c Paulo César Barreto Lopes


Tiveram dois filhos:
3.2.1.1. Lucas Dantas Lopes (07.07.1988 – )
3.2.1.2. Luciana Dantas Lopes
3.2.1.3. Luiz Paulo Dantas Lopes
3.2.2. David Fontes Dantas (27.10.1974 – 11.07.1993)

3.3. Manoel Davis Costa Dantas, (15.06.1943 –


C/c Nílvia Santana Dantas (01.07.1949 – )
Tiveram duas filhas:
3.3.1. Mônica Dantas Lima (06.01.1967 – )
C/c Jailton Lima (15.09.1966 – )
Tiveram dois filhos:
3.3.1.1. Priscila Dantas Lima (08.06.1992 – )
3.3.1.2. Jailton Lima Júnior (16.07.1993 – )
3.3.2. Cláudia Dantas Menezes (20.08.1969 – )
C/c José Menezes Siqueira

3.4. José Eduardo Costa Dantas (12.01.1953 – )


C/c Cristina Diniz Dantas.
Tiveram três filhas:
3.4.1.Nayra Diniz Dantas (25.05.1980 – )
c/c Dernival Souza dos Santos Júnior (13.08.1983 – )
3.4.2.Tayora Diniz Dantas (15.09.1983 – )
c/c Valdelson Batista Santos (10.02.1978 – )
Tiveram um filho
3.4.2.1. Yuri Dantas Batista (14.07.2012 – )
3.4.3.Raíssa Diniz Dantas (04.03.1989 – )

4. CEZARINA FONTES COSTA (Zain) (18.10.1918 – 01.09.2007))


IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 265

5. JOÃO FONTES COSTA (Doão) (26.05.1920 – 15.03.1974)


C/c Maria Solange Costa ( – +6.02.1974)
Tiveram dois filhos:
5.1. Wilames Silveira Costa
5.2. José Sérgio Silveira Costa
C/c Jiselma Sousa Costa
Tiveram quatro filhos:
5.2.1. Solange Dias Costa
5.2.2. João Costa Neto
5.2.3. Bruno Sousa Costa
5.2.4. José Sérgio Costa Filho

6. FIEL FONTES COSTA (01.05.1922 – 28.03.1980)


C/c Neusa Aragão Costa (25.03.1924 – )
Tiveram onze filhos:

Valdívia Aragão Costa (09.04.45 – )


C/c Hilton José Ribeiro (19.04.24 – ? )
Tiveram uma filha
6.1.1.Hilvana Aragão Costa (22.02.1970 – )
Valdívia Aragão Costa (09.04.45 – )
C/em 2ª. núpcias com José Vieira dos Santos (29.02.42 – )
Tiveram uma filha:
6.1.2.Patrícia Aragão Costa de Oliveira (29.12.74 – )
C/c Valter Alves de Oliveira (10.07.70 – )

Valdério Aragão Costa (19.11.48 – )


C/c Maria Luiza França Costa (16.12.44 – )
Tiveram dois filhos:
6.2.1.Rosimeire Costa Souza (26.09.65 – )
C/c Wolney Aragão Souza (25.09.56 – )
6.2.1.1. Mateus Costa Souza (08.01.88 – )
6.2.1.2. Wolney Aragão Souza Filho (08.05.90 – )
6.2.2. Rogério França Costa (07.05.72 – )
266 ANEXOS

C/c Cristiana Quirino Costa – (02.11.73 – )


Tiveram uma filha:
6.2.2.1. Maria Luiza Quirino Costa (29.11.02 – )

6.3. Valdevan Aragão Costa (20.12.51 – )


C/c Cleide Maria Fonseca Costa (01.12.53 – )
Tiveram dois filhos:
6.3.1. Michele Fonseca Costa (01.04.82 )
C/c
Tiveram 01 filho
6.3.1.1. Felipe Fonseca Costa (01.04.2000 – )
6.3.2. Diego Fonseca Costa (20.05.84 – )
C/c Maria de Fátima Gonçalves (13.11.68
Tiveram dois filhos:
6.3.2.1. Vitor Gonçalves Aragão Costa (15.11.94 – )
6.3.2.2. Vinícios Gonçalves Aragão Costa (15.11.94 – )

6.4. Valdina Aragão Costa (19.06.53 – )


C/c Paulo Edson de Andrade Costa (14.05.52 – )
Tiveram dois filhos:
6.4.1.Elaine Aragão Costa (14.01.78 – )
6.4.2.Fábio Aragão Costa. (31.03.82 – )

6.5. Valmira Costa dos Santos (17.02.55 – )


C/c Weddno Bispo dos Santos (25.02.51 – )
Tiveram três filhos:
6.5.1.Adriana Costa dos Santos (01.05.78 – )
6.5.2.Alyson Costa dos Santos (29.04.80 – )
6.5.3.Andréa Costa dos Santos (05.02.85 – )

6.6. Valda Aragão Costa Santos (06.08.56 – )


C/c Nathanael Menezes Santos (03.08.56 – )
Tiveram dois filhos:
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 267

6.6.1.Naldyson Menezes Costa Santos (05.03.81 – )


6.6.2.Naelson Menezes Costa (26.12.84 – )

6.7. Valdécio Aragão Costa (15.11.57 – )


C/c Esmeralda Paes Barreto Costa (28.09.62
Tiveram três filhos:
6.7.1.Valdécio Paes Barreto Costa Filho (31.10.92 – )
6.7.2.Paloma Barreto Costa (25.05.97 – )
6.7.3. Priscila Barreto Costa (25.05.97 – )

6.8.Valdyson Aragão Costa (22.11.59 – )


C/c Rosângela dos Santos Costa (20.08.67 – )
Tiveram dois filhos:
6.8.1.Valternyson Aragão Santos Costa (03.03.88 – )
6.8.1. Denyson Aragão Santos Costa (31.01.94 – )

6.9. Valtiza Aragão Costa Leão de Oliveira (06.05.65 – )


C/c Geraldo José Leão de Oliveira (30.08.57 – )
Tiveram dois filhos:
6.9.1.Ramon Aragão Costa Leão de Oliveira (23.10.87 – )
6.9.2.Rodrigo Aragão Costa Leão de Oliveira (29.09.93 – )

6.10. Valfran Aragão Costa (17.05.63 – )


C/c Yeda Rocha Melo Costa (23.05.56 – )
Tiveram uma filha:
6.10.1.Tissane Rocha Melo Costa (27.04.93 – )

6.11. Valdineire Aragão Costa Melo (08.04.65 – )


C/c Ronaldo Andrade de Melo (03.09.65 – )
Tiveram três filhos:
6.11.1.Rômulo Aragão Costa Melo (28.11.87 – )
6.11.2.Renan Aragão Costa Melo (10.04.93 – )
6.11.3. Rafael Aragão Costa Melo (03.03.98 – )
268 ANEXOS

VALDOMIRA FONTES COSTA (17.05.1925 – 26.10.2011)


C/c Antônio da Silva Santana (09.07.1915 – 19.02.2011)
Tiveram quatro filhos:

7.1. Moema Costa Santana (12.05.1950 – )


C/c Edmundo Bispo (16.11.1946 – )
Tiveram dois filhos:
7.1.1. Fábio Santana Bispo (23.05.1972 – )
7.1.2. Ricardo Santana Bispo (29.03.1976 – )
C/c Fabiana Azevedo Bispo (01.06.1973 – )
7.1.3. Murilo Azevedo Bispo (22.06.1999 – )
7.1.4. Bernardo Azevedo Bispo (17.01.2003 – )

7.2. Magali Costa Santana (19.07.1951 – )


C/c Eduardo Santos Bastos (01.05.1949 – )
Tiveram três filhos:
7.2.1.Daniela Santana Bastos (12.02.1977 – )
7.2.2.Valter Bastos Neto (18.11.1980 – )
7.2.3. Rafael Santana Bastos (23.01.1986 – )

7.3. Márcia Costa Santana (15.12.1952 – )


C/c José Antônio Souza (28.03.1952 – )
Tiveram três filhos:
7.3.1.Taysa Santana Souza (17.11.1979 – )
7.3.2.Diogo Santana Souza (26.04.1982 – )
7.3.3.Márcio Santana Souza (25.10.1983 – )
7.4. Marcelo Costa Santana (06.02.1958 – )
C/c Aile Guimarães Santana (05.12.1959 – )
Tiveram dois filhos:
7.4.1.Marcela Guimarães Santana (27.12.1989 – )
7.4.2.Pedro Guimarães Santana (20.11.1981 – )

JOEL FONTES COSTA (21.04.1927 – 10.04.1998)


C/c Laudelina Hora Costa (21.05.1928 – )
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 269

Tiveram cinco filhos:


8.1. Joel Costa Filho (10.11.1956 – )
C/c Rosaly Costa (17.06.1956 – )
Tiveram dois filhos:
8.1.1. Danilo Costa (29.10.1988)
8.1.2. Raquel Costa.(08.08.1992)
8.2. Joelson Hora Costa (29.01.1958 – )
C/c Geodete Batista Costa (26.01.1957 – )
Tiveram três filhos:
8.2.1.Mariana Batista Costa (12.11.1984 – )
8.2.1.Marina Batista Costa (08.12.1987 – )
8.2.1.Marília Batista Costa (06.08.1990 – )
8.3. Manuel Costa Neto (03.03.1960 – )
C/c Silvana Lisboa Costa (10.02.1962 – )
Tiveram dois filhos:
8.3.1. Manuela Lisboa (30.04.1988 – )
8.3.2. Flávio Lisboa Costa. (17.04.1990 – )
8.4. Ângela Teresa Hora Costa (19.05.1962 – )
C/c Marcos Sales (20.04.1961 – )
Tiveram dois filhos:
8.4.1. Lucila Costa Sales (10.10.1988 – )
8.4.2. Daniel Costa Sales (07.11.1995 – )
8.5. Leonardo Hora Costa (13.09.1964 – )
C/c Rita do Amor Costa (06.07.1976 – )
Tiveram três filhas:
8.5.1.Taísa do Amor Costa (06.07.1991 – )
8.5.2. Renata do Amor Costa (18.08.1993 – )
8.5.3. Beatriz do Amor Costa (27.04.1997 – )

9. GIVALDO FONTES COSTA (06.09.1929 – 12.06.1980)


C/c Carmen Barreto Costa (27.06.1940 – )
Tiveram três filhos:
9.1.Givaldo Barreto Costa (15.04.1963 – )
270 ANEXOS

C/c Patrícia Cavalcante Costa (01.02.1975 – )


Tiveram um filho:
9.1.1.Givaldo Fontes Costa Neto (27.09.1993)
9.1.2.Rafael Cavalcante Costa (08.01.1996 – )
9.1.3. Gustavo Cavalcante Costa (27.05.2002 – )
9.2. Maria Auxiliadora Barreto Costa (08.10.1964 – )
C/c David Moreira de Oliveira, (04.04.1957)
9.3. Cezarina Barreto Costa (01.03.1971 – )
C/c ?Oyama Teles
9.3.1. Clara Costa Teles (09.07.1995 – )
IBARÊ DANTAS | MEMÓRIAS DE FAMÍLIA 271

Você também pode gostar