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Da Matta – Carnaval

“ver a nossa totalidade como um drama, onde o princípio se bate no fim” p. 7

“zona onde se processam as escolhas que irão determinar o curso da ação após o recebimento de
estímulo (seja do passado, seja do presente)” p. 8

“discutir as peculiaridades da nossa sociedade é estudar também essas zonas de encontro e


mediação, essas praças e adros dados pelos carnavais, pelas procissões e pelas malandragens, zonas
onde o tempo fica suspenso e uma nova rotina deve ser repetida ou inovada, onde os problemas são
esquecidos ou enfrentados” p. 9

“é nessas regiões que renasce o poder do sistema, mas é também aqui que se pode forjar a esperança
de ver o mundo de cabeça para baixo” p. 9

“interpretá-lo pelo eixo dos seus modelos de ação, paradigmas pelos quais podemos pautar nosso
comportamento e marcar nossa identidade como brasileiros” p. 9

“fatos da consciência (ou fatores ideológicos, que servem para legitimar, marcar e definir as
posições, as identidades e a ação dos atores)” p. 9

“grupos como a família, a igreja e as forças armadas, embora tenham uma evolução temporal
claramente determinada, concebem-se como eternos e imutáveis, provavelmente porque daí deriva
parte de sua legitimidade e porque tendem a autodefinir-se por meio de certos princípios
organizacionais como a hierarquia, a descendência, a honra, a fé e o sangue” p. 13

“mesmo numa sociedade historicamente determinada, se podem encontrar valores, relações, grupos
sociais e ideologias que pretendem estar acima do tempo” p. 13

“o domínio das fórmulas paradigmáticas que sustentam personagens culturais [como o cidadão de
bem] é a esfera daquilo que gostaríamos que estivesse situada ao longo ou mesmo fora do tempo.
Daí porque os rituais servem, sobretudo na sociedade complexa, para promover a identidade social
e construir seu caráter” p. 14

“é o ritual que permite tomar consciência de certas cristalizações sociais mais profundas que a
própria sociedade deseja situar como parte dos seus ideais 'eternos'” p. 14

“no caso de uma sociedade que tem na história sua moldura dominante, é revelador saber quais os
seus domínios a-históricos ou mesmo anti-históricos, isto é, suas regiões vividas e concebidas
como invariantes, imutáveis ou perenes, cuja modificação acarretaria a catástrofe da perda de sua
substância, de sua marca registrada” p. 15

“o carnaval está, portanto, junto daquelas instituições perpétuas que nos permitem sentir (mais do
que abstratamente conceber) nossa própria continuidade como grupo. Tal como ocorre com um jogo
da seleção brasileira, em que vemos, sentimos, gritamos e falamos com o Brasil no imenso ardil
reificador que é o jogo de futebol” p. 15

“no futebol dramatizamos uma visão de nós mesmos por meio do confronto com os outros e pelos
outros (os adversários), enquanto no carnaval falamos com a nossa própria consciência na forma de
múltiplos grupos e planos que fazem parte do nosso universo e sistema” p. 15

“o ritual é um dos elementos mais importantes não só para transmitir e reproduzir valores, mas
como instrumento de parto e acabamento desses valores, do que é prova a tremenda associação
entre ritual e poder” p. 15

“é por meio do rito que se podem atualizar estruturas de autoridade, permitindo situar,
dramaticamente e lado a lado, quem sabe e quem não sabe, quem tem e quem não tem, que está em
contato com os poderosos e quem se situa longe deles” p. 15

“o ritual tende a criar o momento coletivo, fazendo sucumbir o individual e o regional no coletivo e
no nacional (…) O ritual, então, é, entre outras coisas, um instrumento privilegiado para expressar e
enfeixar totalidade. Ou melhor, é o ritual que consagra tais globalizações que já existem na
'realidade'” p. 16

“é pela dramatização que o grupo individualiza algum fenômeno, podendo, assim, transformá-lo em
instrumento capaz de individualizar a coletividade como um todo, dando-lhe identidade e
singularidade” p. 18

“o ritual é definido por meio de uma dialética entre o cotidiano e o extraordinário, o rito estando na
situação extraordinária, constituindo-se pela abertura desse mundo especial para a coletividade. Não
há sociedade sem uma ideia de mundo extraordinário, onde habitam os deuses e onde, em geral, a
vida transcorre num plano de plenitude, abastança e liberdade. Montar o ritual é, pois, abrir-se para
esse mundo, dando-lhe uma realidade, criando um espaço para ele e abrindo as portas da
comunicação entre o 'mundo real' e um 'mundo especial'”. p. 19

“os eventos formais têm um sujeito ou um centro (para quem se faz a festa) e uma assistência. Mas
os carnavais são momentos muito mais individualizados, sendo visto como propriedade de todos e
como momentos em que a sociedade se descentraliza” p. 24

“essas três semanas festivas [carnaval, semana santa e 7 de setembro] sugerem um 'triângulo ritual
brasileiro' muito significativo, sobretudo nas suas implicações políticas, uma vez que temos festas
devotadas à vertente mais institucionalizada do Estado Nacional (suas Forças Armadas), festas
controladas pela Igreja (outra corporação crítica na formação da sociedade brasileira) e, finalmente,
as festas carnavalescas, consagradas à vertente mais desorganizada da sociedade civil, ou melhor, da
sociedade civil enquanto povo ou massa” p. 26

“no melhor estilo da sociedade tradicional e hierarquizada, cada momento festivo e extraordinário
remete a um grupo ou categoria social que tem seu lugar garantido, sua hora e vez no quadro da
vida social nacional” p. 26

“a temporalidade em que se situam as comemorações do Dia da Pátria [ao contrário do eternum


carnavalesco e das procissões] é registrada, empírica, tem um início documentado e que faz parte de
um conjunto de momentos críticos da vida brasileira, que são vistos como encadeados” p. 27

“Assim, não se pode compreender a independência sem se falar do período colonial e, a seguir, do
período republicano. Tal temporalidade é assim marcada pelo sentido de 'progresso', 'evolução' e,
sobretudo, 'não-repetição'” p. 27

“É, pois, um rito histórico de passagem, já que sua performance visa não só recriar um momento
glorioso do passado, mas marcar a passagem entre o mundo colonial e o mundo da liberdade e da
autodeterminação” p. 27

“O ponto focal do Dia da Pátria é a passagem pelo local sacralizado, onde se presta continência às
mais altas autoridades constituídas. O povo faz o papel de assistente, e, junto com os soldados,
prestigia o ato de solidariedade e respeito às autoridades e símbolos nacionais (a bandeira e as
armas da república)” p. 28

“A cerimônia [militar] segue, pois, atualizando em todos os seus níveis as distinções hierárquicas”
p. 28

“O desfile militar cria um sentido de unidade” p. 28

“o desfile carnavalesco reúne um pouco de tudo – a diversidade na uniformidade, a homogeneidade


na diferença” p. 29

“[na parada militar] a hierarquia é, pois, mantida e, por meio de sua dramatização, manifesta” p. 30

“nas paradas do Dia da Pátria, a veste é o uniforme – que torne todos os homens iguais no nível de
sua posição. No carnaval, a roupagem apropriada é a fantasia, um termo que no português do Brasil
se refere às ilusões e idealizações da realidade” p. 30

MISCELÂNIA DE DIREITA. “as fantasias carnavalescas criam um campo social de encontro, de


mediação e de polissemia social, pois, não obstante as diferenças e incompatibilidades desses
papeis representados graficamente pelas vestes, todos estão aqui para 'brincar'. E brincar significa
literalmente 'colocar brincos', isto é, unir-se, suspender as fronteiras que individualizam e
compartimentalizam grupos, categorias e pessoas”. p. 31

GEERTZ: “é uma estória que eles contam a eles próprios, sobre eles mesmos” (1973: 448)

“é preciso lembrar que o carnaval termina na Quarta-Feira de Cinzas, com o silêncio pesado de uma
missa, e a parada do Dia da Pátria tem seu ponto terminal na dispersão informal, onde soldados,
oficiais, povo e autoridades retomam seus lugares no universo do mundo diário” p. 32

“o carnaval é um momento de communitas, mas que serve – nas condições da organização social da
sociedade brasileira, dividida em classes e segmentos – para manter a hierarquia e a posição das
classes. Sua universalidade e homogeneidade servem precisamente para reforçar e compensar, num
outro plano, o particularismo, a hierarquia e a desigualdade do mundo da vida diária” p. 32

“A procissão religiosa em geral é iniciada com uma missa, e termina com uma festa no adro da
igreja onde foi depositada a imagem do santo. Aí se vendem doces, bebidas e são leiloados objetos
para a irmandade, há jogos e danças, criando-se um ambiente de encontro e comunhão semelhante
ao do carnaval” p. 32

“A própria procissão teria características conciliadoras, pois seu núcleo é formado das pessoas que
carregam a imagem do santo, e essas pessoas são rigidamente hierarquizadas: são as autoridades
eclesiásticas, civis e militares. Entretanto, o núcleo é formado e seguido por um conjunto
desordenado de todos os tipos sociais: penitentes que pagam promessas, aleijados e doentes que
buscam alívio para seus males, pessoas comuns que apenas demonstram sua devoção” p. 32

“A procissão reúne os componentes da hierarquização da parada militar no seu centro e os


elementos da reunião polissêmica no seu conjunto. Une, como o desfile carnavalesco, o alegre ao
triste, o sadio ao doente, o puro ao pecador e, mais importante, as autoridades ao povo” p. 32

“o dia da pátria, o carnaval e as festas religiosas são discursos diversos a respeito de uma mesma
realidade, cada qual salientando certos aspectos críticos, essenciais dessa realidade – de acordo com
uma perspectiva de dentro dessa realidade” p. 33
“não deveria causar surpresa o fato de que o povo que faz o carnaval ser precisamente o povo de
Sete de Setembro; o chefe 'boa-praça' ser o homem do 'sabem com quem está falando?'; o homem
cordial ser capaz da violência; e o malandro e o caxias serem igualmente admirados” p. 33

É, portanto, na cultura da igualidade desmedida e despersonalizada das massas que surge o caudilho
autoritário, mas paternal na sua simpatia. E é no mundo do populismo reformador que surge o mais
violento autoritarismo como modo crítico de reestruturar o sistema” p. 33

“o caso dos rituais nacionais brasileiros constitui um bom exemplo de três modos possíveis de
salientar e tornar manifesto, por meio de um discurso específico, aqueles aspectos considerados
importantes da estrutura da sociedade brasileira. Assim, o Dia da Pátria salienta os aspectos
rotinizados (e por isso mesmo implícitos e internalizados) da ordem social. Traz à tona a hierarquia
que é parte do sistema social, e é dominado pela ênfase com que tal sistema de posições é
salientado” p. 33

“o foco do rito [carnavalesco] parece ser o conjunto de sentimentos, ações, valores, grupos e
categorias que cotidianamente são inibidos por serem problemáticos” p. 34

“as festas religiosas, por colocarem lado a lado e num mesmo momento o povo e as autoridades, os
santos e os pecadores, os homens sadios e os doentes, atualizam em seu discurso uma sistemática
neutralização de posições, grupos e categorias sociais, exercendo uma espécie de Pax Catholica” p.
35

“sendo o mundo social fundado em convenções e símbolos, todas as ações sociais são realmente
atos rituais ou atos passíveis de uma ritualização” p. 36

“há, junto aos códigos múltiplos que dividem os 'palcos' e os papéis sociais, uma luta pela
contaminação de todo o sistema por parte de um grupo social e sua ideologia” p. 37

“certos períodos são dominados por certos grupos sociais e todo o sistema é ordenado segundo sua
perspectiva, categorias e valores” p. 37

“como os elementos triviais do mundo social podem ser deslocados e, assim, transformados em
símbolos que, em certos contextos, permitem engendrar um momento especial ou extraordinário” p.
38

“o que parece ocorrer é um inflacionamento daquilo que já existe de modo que os rituais fundados
no reforço (ou na separação) guardam uma relação direta com as rotinas do mundo cotidiano” p. 39

“trata-se de juntar o que está normalmente separado, criando continuidade entre os diversos
sistemas de classificação que operam discretamente no sistema social” p. 40

“no mundo ritual, as coisas são ditas com mais veemência, com maior coerência e com mais
consciência. Os rituais seriam instrumentos que permitem maior clareza às mensagens sociais” p.
41

“temos de nos perguntar em que condições um determinado conjunto de ações se transforma num
rito” p. 49

“o ritualizar, como o simbolizar, é fundamentalmente deslocar um objeto de lugar – o que traz uma
aguda consciência na natureza do objeto, das propriedades do seu domínio de origem e da
adequação ou não do seu novo local” p. 49

“o simbolismo das nossas bandeiras – e o nosso simbolismo em geral – é a dramatização do poder


como elemento totalizador de um sistema frequentemente carente de centro e fragmentado em suas
leituras de experiência” p. 50

“um dos problemas críticos colocados pela dialética da rua e da casa é saber que objetos passam de
um para outro domínio, e em que circunstâncias isso se dá. Em outras palavras, pergunta-se quando
se pode modificar o mundo doméstico ou o mundo público, seja transformando um desses domínios
ou outro, seja enfatizando apenas um deles” p. 50

carnaval é exceção. Nos protestos, dono era “a família”, o “cidadão de bem”. “no Brasil todas as
situações sociais têm algum 'dono'. Se este não é uma pessoa concreta, é um santo. Se não é um
herói, é algum domínio. Sempre – e este é um ponto-chave – existe uma necessidade de impor um
código qualquer, de modo que a situação possa ser hierarquizada” p. 60

“as procissões, paradas e carnavais são modos fundamentais, por meio dos quais a realidade
brasileira se desdobra diante dela mesma, mira-se no seu próprio espelho social, na sua luta e
dilema entre o permanecer e o mudar” p. 22

“o momento do carnaval redefine o mundo social brasileiro” p. 68

“nas procissões a casa é invadida pelo que ocorre na rua; ao passo que, nas paradas militares, a casa
simplesmente desaparece como categoria, pois o evento se desenrola no centro mesmo da cidade,
obrigando a um deslocamento e transformando todos os membros de uma família em cidadãos
brasileiros.
No carnaval, tudo se passa como se a sociedade fosse capaz de, finalmente, inventar um
espaço especial onde rua e casa se encontrassem” p. 68

“o universo do ritual (e do drama) é aquele das coisas visíveis, das coisas corretas (prescritas,
mesmo que sejam chocantes e incomuns) e, por isso mesmo, das coisas destacadas e deslocadas” p.
68

“a sequência do rito pode ser criada na base do uso consciente e obstinado (e essas são duas
características sempre indicadas para uma 'ação ritual') de três princípios sociais bastante
conhecidos: a inversão (que engendra o joking), o reforço (que conduz ao respeito) e a neutralização
(que induz à evitação ou à invisibilidade social)” p. 68

“Cria-se, então, um espaço especial em que as rotinas do mundo diário são rompidas e de onde se
pode observar, discutir ou criticar o mundo real visto de pernas para o ar” p. 68

“O carnaval não promove reuniões familiares nas casas, mas reuniões de indivíduos nas ruas” p. 69

“A exibição em oposição à modéstia e ao recato, ou melhor, a dialética do que é (ou deve ficar)
escondido do que é abertamente revelado. Esse ponto fica claro quando falamos das organizações e
do espaço carnavalesco, pois em ambos vimos a possibilidade de exibir e 'fazer teatro'” p. 69

“No carnaval, o mundo é abertamente brincado e cantado por todos. A história que, no carnaval, os
brasileiros contam sobre eles próprios para eles mesmos é uma história cantada e brincada, jamais
falada. Assim, as três formas críticas de comunicação verbal – o canto, a fala e a reza – escolhe-se,
para o carnaval, o canto (e seu associado, o grito), para a parada militar, a fala (nas suas formas
discursivas, eloquentes) e, para a procissão, a reza (forma intermediária entre o coletivo e o
individual, entre o canto e a fala) p. 71

parei na 77

file:///C:/Users/LEANDRO/Desktop/roberto-damatta-carnavais-malandros-e-herois.pdf

*
Patriarcado e formação do Brasil: uma leitura feminista de Oliveira Vianna e Sérgio Buarque
de Holanda - Daniela Leandro Rezende

O resultado era predominarem, em toda a vida social, sentimentos próprios à comunidade


doméstica, naturalmente particularista e antipolítica, uma invasão do público pelo privado, do
estado pela família (HOLANDA, 2002, p. 82).

o patriarcado não apenas como uma forma de dominação tradicional, datada historicamente e
fadada a desaparecer na modernidade, mas como um sistema de opressão que permanece e se
atualiza mesmo com o avanço do capitalismo e da democracia liberal. p. 14

o desenvolvimento econômico e político do país não necessariamente implicaram a superação das


desigualdades de gênero, mas apenas indicam uma reestruturação do patriarcalismo p. 17

file:///C:/Users/LEANDRO/Desktop/patriarcado%20buarque%20de%20holanda.pdf
*
A direita que saiu do armário: a cosmovisão dos formadores de opinião dos manifestantes de
direita brasileiros - Débora Messenberg

no sentido weberiano (1992), o qual a relaciona aos valores ou princípios culturais que embasam as
concepções do universo e das filosofias de vida de uma sociedade ou grupo. Além disso, como
aponta Weber: “[...] cosmovisões nunca podem ser o resultado de um avanço do conhecimento
empırico, e que, ́ portanto, os ideais supremos que nos movem com a máxima força possıvel,
existem, ́ em todas as épocas, na forma de uma luta com outros ideais que são, para outras pessoas,
tão sagrados como o são para nós outros” (Weber, 1992: 113).

Reis era seguido, em outubro de 2016, em sua página no Facebook, por cerca de 308 mil pessoas.
Lá se encontravam registrados de forma insistente, os seguintes lemas: “Guerra entre o Bem e o
Mal”, “só temos Deus na nossa frente” e “não vamos desistir do Brasil”. De acordo com ele, o
Revoltados Online financiava-se basicamente a partir da venda de “kits pró-impeachment”, os quais
eram compostos por camisetas com mensagens a escolher e entre as mais emblemáticas:
“Impeachment já”, “Fora Dilma e leve o PT junto com você”, “100% anticomunismo”, “Deus,
Família, e Liberdade”, “Keep calm and say no to communism in Latin America”, “Fraude:
impeachment já”, além de um boné com a logomarca do movimento e cinco adesivos com os
dizeres “Fora Dilma”. p. 9

“Sheherazade é louvada por seus seguidores nas redes sociais, em virtude de sua disposição em se
colocar como protetora contumaz da moral cristã e dos valores tradicionais da família brasileira;
além de reconhecerem nela uma crítica feroz aos defensores dos direitos humanos no Brasil e aos
partidos e governos de esquerda. p. 10

Feliciano foi o terceiro candidato mais votado do estado de São Paulo e aquele que obteve o maior
número de votos da bancada evangélica (398 mil e 87 votos); reconhece-se como um defensor
férreo do ideário tradicional da moral cristã, principalmente ao que se refere à sua luta pessoal para
a aprovação do projeto de “cura gay” e a sua oposição à prática do aborto, ao controle da natalidade,
à união civil entre pessoas do mesmo sexo e à ideologia de gênero nas escolas. Em suas palavras: “é
preciso salvar a família brasileira!” p. 12

Umberto Eco (1995) como “Ur-Fascismo ou Fascismo eterno”. Trata-se de uma “nebulosa” com
características peculiares, mas que não constituem um sistema, podem muitas vezes se
contradizerem e estão também presentes em outras formas de despotismo, são elas: (1) culto da
tradição; (2) recusa da modernidade; (3) culto da ação pela ação; (4) não aceitação de críticas; (5)
medo da diferença; (6) apelo às classes médias frustradas; (7) obsessão pelo complô; (8) sentimento
de humilhação pela riqueza ostensiva e pela força do inimigo; (9) princípio da guerra permanente;
(10) elitismo; (11) culto do heroísmo; (12) desdém pelas mulheres e condenação de hábitos sexuais
não conformistas; (13) “populismo qualitativo”; (14) “Novilíngua” (Eco, 1995).

Os elementos discursivos que com maior frequência se relacionam a ideia-chave de “família


tradicional” são os seguintes: oposição ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, oposição ao
aborto, à ideologia de gênero nas escolas, à expansão do feminismo e a concordância com a “cura
gay”. Os conteúdos centrais da ideia-força “resgate da fé cristã” envolvem emissões que invocam a
entrega dos destinos individuais e coletivos “nas mãos de Deus”, a profusão de mensagens de
salmos e provérbios bíblicos, além da crítica ao que denominam de “cristofobia”, atribuída à
esquerda. Por último, e ao que se refere à leitura do “patriotismo” no discurso desses atores sociais,
convém destacar o seu vínculo umbilical à ideia do “anticomunismo” (guerra permanente a esse
inimigo comum), as louvações às Forças Armadas e os incentivos a adoração dos símbolos
nacionais, com destaque para o hino e a bandeira. p. 17

A meritocracia é, como nos ensina Pierre Bourdieu (2007), uma ideologia que serve de base ao
consenso social e político das sociedades capitalistas, justamente por ocultar a produção social dos
desempenhos diferenciais entre os indivíduos, transmutando-os em “qualidades inatas”. É, pois,
fonte basilar para a naturalização das desigualdades e legitimação da hierarquia social. Encontra-se,
assim, claramente articulada às críticas relacionadas às cotas sociais e justifica o “sucesso” das
classes médias nas disputas por bens materiais e simbólicos. p. 20

tende a estruturar e a organizar não apenas a ação dos governantes, mas até a própria conduta dos
governados. A racionalidade neoliberal tem como característica principal a generalização da
concorrência como norma de conduta e da empresa como modelo de subjetivação (Dardot & Laval,
2016: 17)

O neoliberalismo é, nesta perspectiva, um “sistema normativo” que abarca discursos e práticas que
expandem a lógica do capital a todas as esferas e relações sociais. p. 21

Não obstante, a lógica da concorrência e o modelo de empresa, como normas de conduta e


subjetivação, encontram-se claramente expressos em suas emissões discursivas. A exaltação da livre
iniciativa, a certeza da capacidade empreendedora dos indivíduos e a total desconfiança em relação
ao Estado como administrador dos negócios públicos, são indicadores da introjeção desta “razão do
mundo” p. 21

Para Dardot e Laval (2016), o recrudescimento dos movimentos conservadores e mesmo os de


caráter fascista tem sua raiz nas transformações subjetivas provocadas pela hegemonia neoliberal,
no sentido do fortalecimento do egoísmo social e da recusa à redistribuição e à solidariedade. p. 23

https://www.scielo.br/pdf/se/v32n3/0102-6992-se-32-03-621.pdf
*
Apocalipticos e integrados – Umberto Eco

Si la cultura es un hecho aristocrático, cultivo celoso, asiduo y solitario de una interioridad refinada
que se opone a la vulgaridad de la muchedumbre (Heráclito: "¿Por qué queréis arrastrarme a todas
partes oh ignorantes? Yo no he escrito para vosotros, sino para quien pueda comprenderme. Para mí,
uno vale por cien mil, y nada la multitud"), la mera idea de una cultura compartida por todos,
producida de modo que se adapte a todos, y elaborada a medida de todos, es un contrasentido
monstruoso. La cultura de masas es la anticultura. Y puesto que ésta nace en el momento en que la
presencia de las masas en la vida social se convierte en el fenómeno más evidente de un contexto
histórico, la "cultura de masas" no es signo de una aberración transitoria y limitada, sino que llega a
constituir el signo de una caída irrecuperable, ante la cual el hombre de cultura (último
superviviente de la prehistoria, destinado a la extinción) no puede más que expresarse en términos
de Apocalipsis. p. 11

En contraste, tenemos la reacción optimista del integrado. Dado que la televisión, los periódicos, la
radio, el cine, las historietas, la novela popular y el Reader's Digest ponen hoy en día los bienes
culturales a disposición de todos, haciendo amable y liviana la absorción de nociones y la recepción
de información, estamos viviendo una época de ampliación del campo cultural, en que se realiza
finalmente a un nivel extenso, con el concurso de los mejores, la circulación de un arte y una cultura
"popular". Que esta cultura surja de lo bajo o sea confeccionada desde arriba para consumidores
indefensos, es un problema que el integrado no se plantea. P. 11

El apocalíptico, en el fondo, consuela al lector, porque le deja entrever, sobre el trasfondo de la


catástrofe, la existencia de una comunidad de "superhombres" capaces de elevarse, aunque sólo sea
mediante el rechazo, por encima de la banalidad media. Llevado al límite, la comunidad
reducidísima —y elegida— del que escribe y del que lee, "nosotros dos, tú y yo, los únicos que
hemos comprendido y que estamos a salvo: los únicos que no somos masa". p. 12

No es casual la concomitancia entre civilización del periódico y civilización democrática,


nacimiento de la igualdad política y civil, época de las revoluciones burguesas. Pero, por otra parte,
no es tampoco casual que quien dirige a fondo y con coherencia la polémica contra la industria
cultural, sitúe el mal no en la primera emisión de televisión, sino en la invención de la imprenta; y,
con ella, en las ideologías del igualitarismo y de la soberanía popular p. 18

El apocalíptico, no sólo reduce los consumidores a aquel fetiche indiferenciado que es el hombre
masa, sino que —mientras lo acusa de reducir todo producto artístico, aun el más válido, a puro
fetiche—' él mismo reduce a fetiche el producto de masa. p. 23
Cuando lo analiza, traiciona una extraña propensión emotiva y manifiesta un complejo no resuelto
de amorodio; hasta tal punto que surge la sospecha de que la primera y más ilustre víctima del
producto de masas sea el propio crítico p. 24

La situación conocida como cultura de masas tiene lugar en el momento histórico en que las masas
entran como protagonistas en la vida social y participan en las cuestiones públicas. Estas masas han
impuesto a menudo un ethos propio, han hecho valer en diversos períodos históricos exigencias
particulares, han puesto en circulación un lenguaje propio, han elaborado pues proposiciones que
emergen de abajo. Pero, paradójicamente, su modo de divertirse, de pensar, de imaginar, no nace de
abajo: a través de las comunicaciones de masa, todo ello le viene propuesto en forma de mensajes
formulados según el código de la clase hegemónica p. 29

El ascenso de las clases subalternas a la participación (formalmente) activa en la vida pública, el


ensanchamiento del área de consumo de las informaciones, ha creado la nueva situación
antropológica de la "civilización de masas". En el ámbito de dicha civilización, todos los que
pertenecen a la comunidad pasan a ser, en diversa medida, consumidores de una producción
intensiva de mensajes a chorro continuo, elaborados industrialmente en serie y transmitidos según
los canales comerciales de un consumo regido por la ley de oferta y demanda p. 33

Análisis estructural que no debe sólo limitarse a la forma del mensaje, sino definir también en qué
medida la forma es determinada por las condiciones objetivas de la emisión (que determinan
también el significado del mensaje, las capacidades de información, las cualidades de propuesta
activa o de pura reiteración de lo ya dicho) p. 33

En segundo lugar, establecido ya que estos mensajes se dirigen a una totalidad de consumidores
difícilmente reducibles a un modelo unitario, establecer por vía empírica las diferentes modalidades
de recepción según la circunstancia histórica o sociológica, y de las diferenciaciones del público. p.
33

toda modificación de los instrumentos culturales, en la historia de la humanidad, se presenta como


una profunda puesta en crisis del "modelo cultural" precedente; y no manifiesta su alcance real si no
se considera que los nuevos instrumentos operarán en el contexto de una humanidad profundamente
modificada, ya sea por las causas que han provocado la aparición de aquellos instrumentos, ya por
el uso de los propios instrumentos p. 39
Más aún, en el filósofo alemán existía ya en germen la tentación presente en toda polémica sobre
este asunto: la desconfianza hacia el igualitarismo, el ascenso democrático de las multitudes, el
razonamiento hecho por los débiles y para los débiles, el universo construido no a medida del
superhombre sino a la del hombre común. Idéntica raíz anima la polémica de Ortega y Gasset. Y no
carece ciertamente de motivos buscar en la base de todo acto de intolerancia hacia la cultura de
masas una raíz aristocrática, un desprecio que sólo aparentemente se dirige a la cultura de masas,
pero que en realidad apunta a toda la masa. p. 41

PARA CASTELLS: Se da por descontado el convencimiento de que la circulación libre e intensiva


de los diversos productos culturales de masa, dado que ofrece sin duda aspectos positivos, es en sí
naturalmente "buena". p. 56

Raramente se tiene en cuenta el hecho de que, dado que la cultura de masas en su mayor parte es
producida por grupos de poder económico con el fin de obtener beneficios, permanece sometida a
todas las leyes económicas que regulan la fabricación, la distribución y el consumo de los demás
productos industriales: "El producto debe agradar al cliente", no debe ocasionarle problemas, el
cliente debe desear el producto y debe ser inducido a un recambio progresivo del producto. p. 56

la cultura de masas es un hecho industrial, y que, como tal, experimenta muchos condicionamientos
típicos de cualquier actividad industrial. p. 57

¿qué acción cultural es posible para hacer que estos medios de masa puedan ser vehículo de valores
culturales? p. 58

Procesos de aprehesión implicados. Posibilidades narrativas conexas. Unión palabra-acción


realizada mediante artificios gráficos. Nuevo ritmo y nuevo tiempo narrativo que de ahí derivan
(…) Influencias de las experiencias pictóricas precedentes. Nacimiento de un nuevo repertorio
iconográfico y de standardizaciones que funcionan ya como topoi para la koiné de los fruidores
(destinados a convertirse en elementos de lenguaje adquirido para las nuevas generaciones).
Visualización de la metáfora verbal. Estabilización de tipos caracterológicos, sus límites, sus
posibilidades pedagógicas, su función mitopoética p. 71

PÁGINA 86
https://monoskop.org/images/c/c4/Eco_Umberto_Apocalipticos_E_Integrados_1984.pdf

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