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Desclassificados do ouro – Laura de Mello e Souza

relacionar com Márcio Borges. “Além de tantas outras viradas, os anos 60 e 70 deste século
revelaram um interesse súbito pelas minorias, pela marginalidade, pela exclusão – a tal ponto que,
no futuro, ao lado da revolução comportamental, do movimento estudantil, da incorporação (latu
sensu) do Oriente, talvez fique este súbito interesse dos estudos acadêmicos pelo louco, pelo
criminoso, pelo mendigo, pelo migrante miserável que o capitalismo selvagem dos países latino-
americanos despejou sobre os seus principais centros urbanos” pg. 11

paisagem da janela. “Como definir um elemento que pertence e não pertence à sociedade, que é
parte e negação do sistema, enfim, que vive a cavaleiro de dois mundos, na encruzilhada de vários
caminhos? No que difere dos outros, dos não-marginais, e no que lhes é semelhante?” pg. 11

marginais e marginais “marginal seria antes o insólito, o exótico, do que o elemento vomitado por
uma ordem incapaz de o conter? O marginal seria aquele que, deliberadamente, se coloca à
margem, ou que é colocado à margem? Mais ainda: porque não entender o marginal como o que
está mal integrado na sociedade? Em outras palavras, o que está mal classificado?” pg. 13

Caio Prado Junior: evolução da economia e sociedade mineira “por arrancos, por ciclos, em que se
alternam, no tempo e no espaço, prosperidade e ruína”. p. 16.

Nos primeiros 60 anos do século XVIII, em decorrência da descoberta do ouro em Minas, 600 mil
pessoas deslocam-se para o estado. “Na expressão já tão conhecida de Antonil, ´a mistura´ foi ´de
toda a condição de pessoas´, para desespero das autoridades, que tentavam, a todo custo, refrear a
onda migratória”. p. 24.

melancolia e decadência da aldeia morta (que se observou também em Ouro Preto pré-
modernismo). “alusões à pobreza, à ruína, ao abandono a que ficavam relegadas as populações
mineradoras representam a tônica dominante dos documentos do século XVIII mineiro, sejam eles
oficiais ou não” p. 30

o grande herói das estradas; relacionar com o ladrilhador de Sérgio Buarque. “Ninguém precisa
encorajar os homens para a atividade mineradora, pois ´o natural instinto, de que nos dotou a
natureza, de caminharmos sempre pelo caminho mais curto à nossa felicidade, fará com que hajam
sempre muitos mineiros´” p. 38. O citado é Vieira Couto, em “Memória sobre a utilidade pública
em se extrair o ouro das Minas e os motivos dos poucos interesses que fazem os particulares, que
mineram igualmente no Brasil”.

“o ouro sempre acaba, não é eterno, mas atrai os homens devido ao seu ´caráter mais imediato, e de
primeira espécie´” p. 38. O citado é D. Rodrigo José de Menezes, em “Exposição do governador D.
Rodrigo José de Menezes sobre o estado de decadência da capitania de Minas Gerais e meios para
remediá-lo”.

Tiradentes, sobre a pobreza de Minas. Minas era pobre “só porque a Europa, como uma esponja, lhe
tivesse chupado toda a substância, e os Exmos Generais de três em três anos traziam uma quadrilha,
a que chamavam criados, que depois de comerem a honra, a fazenda, e os ofícios, que deviam ser
dos habitantes, se iam rindo deles para Portugal” pg. 41.

subversão “A ideia de que a riqueza, drenada para fora, engendrava pobreza, achava-se presente em
tudo quanto de subversivo se imputou ao Alferes [Tiradentes]” p. 41.
instabilidade. “mais do que em qualquer outro ponto da colônia, foi grande nas Minas a
instabilidade social, a itinerância, o imediatismo, o caráter provisório assumido pelos
empreendimentos” p. 66

Minas e pobreza. Somando-se aos aventureiros do ouro e aos desqualificados que Portugal
despejava nas Minas, toda uma camada de gente decaída e triturada pela engrenagem econômica da
colônia ficava aparentemente sem razão de ser, vagando pelos arraiais, pedindo esmola e comida,
brigando pelas estradas e pelas serranias, amanhecendo morta embaixo das pontes ou no fundo dos
córregos mineiros. Muitos morriam de fome e de doença, mestiços desraçados que, não bastando a
desclassificação social e econômica, traziam estigmatizada na pele a desclassificação racial. p. 71

comparar com o gosto de Milton pelos desqualificados. O devassamento do sertão das Minas e o
estabelecimento dos primeiros arraiais auríferos se fizeram sob o signo do aproveitamento dos
desclassificados sociais nas bandeiras que entravam pelo mato. pg. 75

sempre lá. Assim, não se pode dizer que [os desclassificados] fossem dispensáveis à persistência da
produção da sociedade escravista: imbricados em seu seio, preenchendo os interstícios deixados
pelo trabalho escravo, contribuíram para a construção, manutenção e derrocada do mundo colonial.
Negação do trabalho, trabalharam. Negação da revolta, revoltaram-se com frequência e alimentaram
quase todos os movimentos regenciais. Negação da Ordem, embrenharam-se pelos matos no
encalço dos quilombolas e de índios bravos. pg. 90

parei na pg. 32

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