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AMARO - Análise de Procedimentos Utilizados em Uma Proposta de Formação Contínua de Educadores em Serviço para A Construção de Práticas Inclusivas
AMARO - Análise de Procedimentos Utilizados em Uma Proposta de Formação Contínua de Educadores em Serviço para A Construção de Práticas Inclusivas
Faculdade de Educação
São Paulo
2009
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Faculdade de Educação
São Paulo
2009
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Aqueles que têm como atributo profissional específico “educar” – os professores – sem
dúvida nenhuma, têm uma responsabilidade fundamental quanto a envolvimento, formação e
questionamento para as questões relacionadas às práticas educativas e aos processos de
ensino-aprendizagem, afinal todo professor é um educador.
Assim sendo, considero esses profissionais e outros ligados aos atos educativos –
numa perspectiva de educação e prática inclusiva – como educadores para os quais ações de
formação contínua e em serviço são desejadas.
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A apresentação realizada neste item tem a contribuição direta da disciplina cursada na Faculdade de Educação
da USP, no Programa de Pós-graduação, da área temática Didática, teorias do ensino e práticas escolares:
“Formação de professores: Tendências investigativas contemporâneas”, ministrada por Selma Garrido Pimenta,
Maria Isabel de Almeida e José Cerchi Fusari, em 2005, graças às discussões teóricas propiciadas à luz de
referenciais teóricos sobre o tema.
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desejáveis e necessários na vida profissional daqueles que lidam, direta ou indiretamente com
a função de mobilizar os sujeitos para suas aprendizagens.
Para Lima (2001, p. 48) “se, para as pessoas em geral, o sentido da inconclusão
humana estabelece a perspectiva de um estado constante de aprendizagem, para o professor,
essa recomendação torna-se uma exigência”.
É importante sinalizar que, embora tenhamos de ter muito cuidado com o apelo à
qualificação constante da sociedade capitalista – por estar “ganhando” atributos profissionais
para continuar e ter “sucesso” no mundo do trabalho –, não podemos negar que estar em
constante mudança é uma característica da sociedade na “modernidade líquida” em que
vivemos (BAUMAN, 2001). Esse fato colabora para incrementar a necessidade de estarmos
nos situando no campo do desenvolvimento profissional a partir das características que ela
nos indica: fluidez – nada permanece por muito tempo. E, sem dúvida, considero a
necessidade da preservação de princípios, mas se o que está em torno não for construído,
criado, modificado, como poderemos nos manter vivos e saudáveis?
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Trarei algumas citações da literatura que tratam especificamente da formação do professor. Entretanto
considero que elas também dizem respeito à concepção e à prática dos educadores tal como defendo neste texto.
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LIBÂNEO, José Carlos. Organização e gestão da escola: teoria e prática. Goiânia: Alternativa, 2001, p. 132.
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Lima (2001) entende que os profissionais de educação devem participar das ações de
formação contínua das Secretarias de Educação, mas lembra da fundamental importância ao
respeito dos projetos pessoais dos professores. A mesma autora considera que formação
contínua e desenvolvimento profissional são partes da mesma luta da educação.
Lima (2001) considera ainda que a escola como referência ou ressonância é o desejado
nos trabalhos de formação contínua de educadores, na qual a análise das práticas deve ocorrer
com a mediação da teoria.
Para Fusari e Rios (1995), a formação do educador em serviço deve ter pressupostos
coerentes com a democratização da educação escolar brasileira, tais como: considerar o
educador como um cidadão concreto e, portanto, marcado por múltiplas determinações; a
formação do educador é um processo em que diferentes fases e meios devem estar
articulados; os educadores devem participar efetivamente da identificação de suas
necessidades de educação em serviço e esse processo deve ser, simultaneamente, de
aprendizado para a prática educativa; os problemas da prática devem ter pontos de partida e
chegada do processo educativo. Os mesmos autores apontam a importância de esses
processos de educação ocorrerem como ações coletivas planejadas e, portanto, em grupos, nos
quais se compartilhem os encaminhamentos das práticas educativas.
O campo da formação contínua em serviço abre espaço para inovações na área, embora
destaque que a realidade desse tipo de formação mostra debilidade e contradições, pois
“continua atada aos mesmos velhos esquemas da formação inicial. Por que, na realidade, o
que está em crise e não funciona mais é o modelo de formação docente em geral”. (TORRES,
1998, p. 176).
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Para a psicanálise existem diferenças entre os sentidos dos termos: “necessidade”, “desejo” e “demanda.
Entretanto, nesta pesquisa, trabalho com os sentidos do termo “necessidades” apresentados ao longo do texto.
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Transparência apresentada pelo Prof. José Cherchi na aula de 30/11/05, na disciplina “Formação de
professores: tendências investigativas contemporâneas”, já mencionada em nota anterior.
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Para Fusari (1997), a década de 1980 traz um movimento que questiona a adesão a-
crítica do que surgia como “moda” na educação. E, a partir dessa década, ocorreram
movimentos que questionam e propõem formas de lidar com a formação de docentes críticos
a essa tendência, que aprendam a respeitar as especificidades de cada um, promovendo
movimentos em favor do professor reflexivo, do professor pesquisador, da epistemologia da
crítica, do professor como intelectual crítico e autônomo (GHEDIN, 2005; PIMENTA, 2005).
Diante das considerações expostas até aqui, concordo com Colares e Moysés (1995) e
com Marin (2000, apud LIMA 2001),47 os quais destacam que, embora muito destacado
atualmente, há muito o que ser sistematizado e analisado sobre o tema da formação
continuada.
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MARIN, Alda Junqueira. Educação continuada: reflexões alternativas. (Coleção Magistério: Formação e
Trabalho Pedagógico). Campinas, SP: Papirus, 2000.
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Pelas razões citadas neste item e pelas leituras realizadas sobre princípios, conceitos e
valores à Educação Inclusiva, acredito que a formação de educadores para a construção de
práticas de educação inclusiva deva acontecer na perspectiva de uma formação contínua,
incentiva a ser realizada em serviço e de forma ética e crítica, tendo consciência da
importância desse processo na formação dos sujeitos em suas dimensões subjetivas, culturais,
políticas e sociais.
E, tal como Forbes (2004, p. 1) considero que se trata de “algo que engendra, que vem
antes, a cabeça primeira”. Assim, consequentemente, sendo algo que “vem antes”, pode
auxiliar no norteamento dos caminhos a serem seguidos. Por esse motivo, assinalo que os
princípios devem se pautar pela ética de que são os sujeitos – em suas constituições singulares
– que necessitam de serem olhados, respeitados e investidos em seus processos educacionais.
O respeito aos princípios possibilita o percurso por vários caminhos e por diversas formas de
fazer acontecer os processos de formação educacional.
Assim sendo, após a revisão das leituras realizadas no capítulo sobre Educação
Inclusiva, do material empírico desta pesquisa e, também, de textos e autores que discutem
direta ou indiretamente sobre formação de educadores, levanto, de forma propositiva, seis
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