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Serviços Públicos de Transporte.
Serviços Públicos de Transporte.
Resumo
Com uma população estimada em mais de três milhões de habitantes2, segundo o Diário
Económico3, a carência dos transportes públicos de passageiros na área metropolitana de
Maputo continua a ser um dos grandes constrangimentos no dia-a-dia da população e um
desafio para as autoridades que lidam com o sector, visto que, estes serviços, apresentam uma
cobertura à baixo de 55%.
A literatura espelha que há uma incessante busca de teorias visando a solução dos
problemas vivenciados. Estes estudos têm interessado, tanto, aos académicos, políticos, assim
como à sociedade civil e, desembocam em propostas de modelos de gestão e fontes de
financiamento. Para elucidar esta tendência em Moçambique, há que destacar o impacto dos
estudos promovidos tanto pela USAID 20085, assim como pelo Conselho Municipal de Maputo
financiado pela Agência Japonesa de Cooperação Internacional (JICA) em 20146, os quais
1
Municípios de Maputo e Matola, vilas municipais de Boane e Distrito de Marracuene.
2
Instituto Nacional de Estatística – INE (2017). Anuário Estatístico, Maputo, Pág. 22
3“Rede de Transportes é Ainda Deficiente na Área Metropolitana de Maputo” – Diário Económico
(diarioeconomico.co.mz) do dia 12 de Agosto de 2022
4
Segundo o Municipal Council of Maputo (MCM, 2014, p.2-1), “(…), o congestionamento tem levado a uma
queda nas velocidades de operação dos transportes públicos, incluindo autocarros e chapas”.
5
USAID (2008). Proposta de Política dos Transportes Urbanos para Moçambique, Nathan, Associates, Inc.
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Municipal Council of Maputo and Japan International Cooperation Agency (2014), Comprehensive Urban
Transport Master Plan for the Greater Maputo, Final Report vol.1, Mater Plan, Map
apresentam diversificadas soluções para colmatar o dilema dos transportes públicos em
Moçambique no geral e, na área metropolitana de Maputo em particular.
Dentre vários aspectos debatidos nos estudos, vale destacar os principais problemas que
enfermam os serviços de transporte público, as fontes de financiamento e as propostas de
soluções, facto que levantou o interesse em debater sobre os modelos organizacionais, a
problemática e os desafios que caracterizam estes serviços na área metropolitana de Maputo.
1. Metodologia
Trata-se de uma pesquisa aplicada, a qual procura resolver problemas concretos, mais
imediatos, por isso tem a finalidade prática. Segundo Vergara (1998) e Gerhardt e Silveira
(2009), este tipo de pesquisa objectiva gerar conhecimentos para aplicação prática, dirigidos à
solução de problemas específicos e envolve verdades e interesses locais.
Quadro nº1
Distribuição de participantes da entrevista e inquérito por grupos de interesse
Província Local Ocupação
Chefe de Departamento de Transporte
Cons. Municipal
Público
Terminal Zimpeto Utentes dos transportes Públicos
Cidade de
Terminal Praça dos Combatentes Utentes dos transportes Públicos
Maputo
Terminal de Museu Utentes dos transportes Públicos
Terminal Praça dos
Utentes dos transportes Públicos
Trabalhadores
Fonte: Adaptado pelo autor, (2021)
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Amostra não probabilística por acessibilidade é aquela que “longe de qualquer procedimento estatístico, seleciona
elementos pela facilidade de acesso a eles”, (Vergara, 1998, p.49).
8
Principais terminais de transporte público no município de Maputo – Zimpeto, Matendene, Albazine, Malhazine,
Magoanine, Costa do Sol, Laulane, Praça dos Combatentes, Xipamanine, Museu, Anjo Voador e Praça dos
Trabalhadores.
2. RESULTADOS DA PESQUISA
Mapa: nº.1
Rede Estrutural de Transporte Público da Área Metropolitana de Maputo
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Disponível no https://www.infopedia.pt/apoio/artigos/$area-metropolitana (consultado no dia 25 de Agosto de
2022
10
Pimental, J. S. http://dspace.uevora.pt
Na sua estruturação, as áreas metropolitanas partilham, para além de utilidades
socialmente imprescindíveis, serviços agrupados e providos por grandes empresas, sejam elas,
estatais ou públicas, por exemplo, os de abastecimento de água, transporte público, etc,.
Conforme refere a MCM (2014, p.2-6) estes serviços são complementados por serviços
de ferry entre Maputo Cidade e KaTembe e KaNyaka. Aos mesmos, adiciona-se a operação de
um sistema ferroviário integrado pertencente à empresa Metro Bus, o qual opera na linha da
Matola-Gare, e o transporte público oferecido pela empresa pública Caminhos de Ferro de
Moçambique nas linhas Matola-Gare e Marracuene, de ferir que os serviços ferroviários,
somente, são prestados para atender a mobilidade de passageiros nas horas consideradas da
ponta.
Por fim, o nível operacional representa a fase de produção e consumo dos serviços de
transporte, os quais podem ser directamente realizados pela autoridade transportadora, caso em
que se acumula também a concepção do sistema, ou contratados a um operador, por negociação
direta ou através de um procedimento de concurso, (Viegas & Macário, 1999).
Modelo organizacional cujos objetivos gerais são determinados por uma entidade or-
ganizadora, que delega a operação do serviço a um operador privado ou público. Neste
caso, a operação cobre tanto o planeamento quanto a produção, trata-se, porém, da
Agência Metropolitana de Transporte de Maputo (AMT), criada pelo decreto
nº.85/2017, de 29 de dezembro;
A gestão direta caracteriza-se pela existência exclusiva de um poder público, é nesta lógica
que, por exemplo, de acordo com a Resolução nº.15/AM/2009, de 15 de dezembro, “a prestação
do serviço de transporte coletivo urbano de passageiros no Município de Maputo compete ao
respectivo Conselho Municipal”.
No entanto, críticos apontam que neste modelo existe pouca pressão sobre o operador,
por isso, presume-se que o serviço não seja prestado de uma forma eficiente, porque, a
autoridade pública controla todos os aspectos de prestação, incluindo a fixação de tarifas,
considerando que assim será fácil garantir o alcance dos objetivos da empresa.
Este tipo de contrato encontra o seu enquadramento legal no artigo 40, do Decreto
nº.11/2009, de 29 de maio, que estabelece que o “transporte público de passageiros deve ser
realizado por veículos da propriedade plena do transportador ou que seja em virtude de contrato
de locação financeira”.
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O FTC tem por objecto dinamizar o desenvolvimento integrado do sistema de transporte e comunicações através
de ações coordenadas e cativar as parcerias público-privadas no desenvolvimento de infraestruturas de transportes,
logística, fiscalização e segurança de transporte, (artigo 3, do Decreto nº.38/2010, de 15 de Setembro).
Analisados os modelos organizacionais e de prestação dos STPP, chega-se ao
entendimento de que o padrão mais comum é a prevalência de empresas públicas e privadas,
sendo que estas últimas estão organizadas em cooperativas de transporte. Tal como acontece
na América Latina12, na área metropolitana de Maputo os operadores piratas são comuns, tanto
devido à falta de fiscalização quanto à pressão de demandas não atendidas.
Assim, Araújo et al, (2011) advogam que os problemas causados pelo transporte
público de passageiros podem resumirem-se em congestionamento do tráfego, comutação mais
longa, inadequação e/ou degradação do transporte público, dificuldades para o transporte não
motorizado, impactos ambientais e consumo de energia, acidentes e segurança, consumo da
terra e distribuição de frete.
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Vide Vasconcelos (2000, p.23)
A realidade socioeconómica da área metropolitana de Maputo, faz com que esta
apresente problemas específicos em matéria de transportes públicos, os quais já foram descritos
pela USAID (2008), e que prevalecem aos dias de hoje, nomeadamente, tarifas excessivas,
serviços irregulares, inadequados e não fiáveis, mau estado de manutenção de viaturas, má
condução, rendimentos inadequados dos operadores, congestão de tráfego e insustentabilidade
ou incapacidade de financiamento.
Por exemplo, após a paralisação dos transportes públicos operados pelas empresas
privadas a 4 de Agosto de 2022, conforme reportou o jornal DW do dia 04 de julho de 2022, o
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Ministério de Transportes e Comunicações; Fundo de Desenvolvimento de Transportes e Comunicações;
Agência Metropolitana de Transportes de Maputo; Três Conselhos Autárquicos e Três Empresas Municipais;
Federação Moçambicana de Transportes Rodoviários; Instituto Nacional dos Transportes Terrestres; Polícia da
República de Moçambique; Cooperativas e “empresas familiares”.
Governo de Moçambique, anunciou uma série de medidas para financiar os serviços, facto que
levou a FEMATRO a afirmar que não haveria subida da tarifa, em contrapartida, semanas
depois, no município de Maputo, a Assembleia Municipal, reunida em sessão ordinária,
anunciou o agravamento da tarifa em 7 e 9,00Mt, respectivamente, justificando lhe o custo dos
combustíveis, tendo seguidamente suspenso a decisão.
Quanto à constituição das cooperativas, Dambe14 explica que, “por exemplo, a questão
das cooperativas não foi consolidada como funciona noutros quadrantes, «aqui» trata-se de
um grupo de associados que, sem capacidade financeira sustentável, beneficia-se de
iniciativas de financiamento governamentais”, seja por isso que, ciclicamente ressentem-se dos
custos operacionais.
Outro problema ainda, tem a ver com as condições das estradas, na sua maioria, as vias
que servem ao transporte seja, público e/ou particular na área metropolitana de Maputo, são
escassas, estreitas e sem faixas de rodagem reservadas aos transportes públicos, apresentam-se
em um estado avançado de degradação e com uma sinalização, tanto vertical, assim como
horizontal deficiente, e/ou inexistente.
O cenário que vem sendo descrito, pode resultar do desajustamento da legislação que
rege os serviços, constata-se que o papel dos órgãos do nível táctico não está claro, pois, as
autarquias locais, para além de serem proprietárias de empresas públicas, a sua actuação está
limitada para questões de índole fiscal, aliás, a própria Resolução nº. 5/96 15, de 2 de abril, e o
decreto nº. 11/2009, de 29 de maio, que aprovam a Política dos Transportes e Regulamento de
Transportes Automóveis, respectivamente, não clarificam a responsabilidade das autoridades
municipais.
14
Hamilton Dambe. Chefe de Departamento de Transporte Público na Direção Municipal de Mobilidade,
Transportes e Trânsito do Município de Maputo
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“Ao Estado fica reservado o papel de facilitador, cabendo-lhe a delimitação de políticas e a criação de ambientes
propícios aos agentes económicos. Ao Estado cabe também as atividades que lhe são próprias, nomeadamente a
normação e o licenciamento da actividade de transporte e, bem assim, a fiscalização e controlo de todos os aspetos
atinentes ao sector dos transportes”.
transportadores de passageiros, que em bom da verdade, simplesmente resolveram problemas
minúsculos e espontâneos daqueles serviços.
Este rol de problemas pode encontrar uma explicação em Bell et al (2010), eles buscam
questões políticas para justificar a prevalência deste fenómeno e os categorizam em duas
maneiras, nomeadamente, o conflito de interesse e problemas de comunicação. Os conflitos de
interesse surgem entre políticos eleitos e o público, pois, este último espera ver soluções para
os problemas de transporte nas cidades durante os mandatos dos políticos.
Por outro lado, Bell et al (2010), entendem que os problemas de comunicação envolvem
vários processos como a motorização, gestão dinâmica e fiscalização, sendo muito frequente
que, diferentes autoridades sejam responsáveis por cada uma delas, nomeadamente, na maioria
das cidades, pelo menos três autoridades são envolvidas na gestão do tráfego, sendo as mais
comuns, as autoridades centrais, locais/municipais e a polícia, mas também sendo
complementadas por empresas públicas e parceiros privados.
De acordo com Viegas & Macário (1999), à medida que as cidades se dispersam e as
demandas de consumo se tornam mais complexas, a mobilidade se torna um ativo essencial
para a realização de outras atividades sociais e económicas. Além disso, padrões residenciais
dispersos característicos e dependentes de automóveis, tornam os sistemas de transporte
público menos conveniente para apoiar a mobilidade urbana apesar de investimentos adicionais
neste sector, o que se torna num tema desafiador para os fazedores de políticas públicas,
(Rodrigue, 2013:218).
Assim, em estudos sobre transporte público, os desafios mais difíceis são apresentados
para Verbirt (1975) e Rodrigue (2013), nomeadamente, restrições de tráfego, planeamento do
uso das estradas, descentralização, fixidade, conectividade, concorrência, estruturas de
financiamento e custos legados.
O planeamento do uso das estradas implicaria que uma política de atrito de automóveis
deve ser uma componente para responder ao problema do transporte urbano, a qual forçaria os
passageiros a mudar para os modos mais praticáveis do transporte público, assim como,
tornaria a cidade um lugar mais humano e agradável para se estar (ibid, p.466).
Numa outra perspectiva, Rodrigue (2013, p.208-219) entende que quanto maior a
descentralização das atividades urbanas, mais difícil e caro se torna a atender as áreas com
serviços de transporte público. Além disso, a descentralização promove viagens de longa
distância em sistemas de trânsito, causando custos operacionais mais elevados e problemas de
receita para o sistema de transporte com tarifa fixa.
Mais avante, Rodrigue (2013) adiante que a maioria dos sistemas de transporte público
abandonou uma estrutura de tarifa baseada na distância para um sistema mais simples de tarifa
fixa. Isso teve a consequência não intencional de desencorajar viagens curtas para as quais a
maioria dos sistemas de transporte público é bem adequado, e de incentivar viagens longas,
que tendem a ser mais caras por usuário do que os lucros que eles gerem, assim, o desafio é o
regresso a uma estrutura de tarifa mais justa e baseada na distância;
Assim, para Gomide (2006) a redução do tempo de espera, a melhoria do acesso físico
às redes, o aumento do conforto, entre outros benefícios, pode ser conseguido por meio do
empoderamento dos usuários e da promoção da participação e controlo social no desenho e
implementação de políticas públicas de transporte.
Na prática, está cada vez mais claro que, as soluções colocadas em prática não são
suficientes, nomeadamente, o subsídio aos transportadores, a implementação dos planos ope-
racionais, com destaque para o plano “1000”, a introdução de faixas exclusivas, o transporte
por Metro Bus, as revitalizações da EMTPM, MP, providenciaram melhoria em termos estatís-
ticos.
Como referiu Matos16, “a solução não está na compra de autocarros, mas sim, é parte,
é necessária uma solução mais integrada e mais inovadora”. Aliás, aquela é uma forma
tradicional de pensar no planeamento dos transportes, pelo contrário, é necessário avançar com
solução estrutural que envolva um sistema integrado.
16
António Matos (2018). Académico, (Actual Presidente de Conselho de Administração da AMM) em entrevista
ao programa televisivo “Grande Plano” da STV, do dia 12 de Março de 2018
17
António Matos (2022). Presidente de Conselho de Administração da Agência Metropolita de Maputo,
entrevista extraída do http://www.diarioeconomico.co.mz/2022/08/12/negocios/rede-de-transportes-e-ainda-
deficiente-na-area-metropolitana-de-maputo
Para o efeito, ibid. entende que, “tudo isto obriga a uma organização, o que significa
que os operadores têm de transformar-se e começar a ser empresas a sério – as tripulações não
têm contratos, não pagam impostos e são cidadãos que, amanhã, precisarão de ter o seu futuro
assegurado por via do pagamento de impostos”.
Como pode se denotar, estes desafios coincidem em parte com os apresentados pela
USAID em 2008 e pela Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA) em 2014, que,
essencialmente passavam pela melhoria da política, incluindo as fontes de financiamento e o
uso da tecnologia através da implementação do sistema de Bus Rapid Transit.
5. Referências Bibliográficas
a) Livros
Gerhardt, T., E., & Silveira, D., T. (2009). Métodos de Pesquisa. UFRGS, Porto Alegre.
http://www.ufrgs.br/cursopgdr/downloadsSerie/derad005.pdf
Prodanov, C., C., & Freitas, E. (2013). Metodologia do Trabalho Científico. Feevela
Rodrigue, J-P, (2013). The Geography of Transport Systems, 3ª edição, Claude Comtois, Brian
Slack. https://transportgeography.org/wp-content/uploads/GTS_Third_Edition.pdf
Verbit, G., P. (1975). The Urban Transport Problems. University of Pennsylvania Law Review
Vergara, S., C. (1998). Projetos e Relatórios de Pesquisa em Administração. Atlas
b) Artigos científicos
c) Artigos de Jornais
d) Publicações Oficiais
e) Relatórios
f) Fontes Primárias