DISCENTES: AMANDA SOUZA DA SILVA, ELIDA NATALIA, GABRIEL DE
JESUS MOTA, VALÉRIA CERQUEIRA.
DIREITO DE SUPERFÍCIE
O direito de superfície tem sua origem no Direito Romano, quando
tornou-se comum a concessão de solo público à particulares com direito de gozar da construção, surgido em um contexto de escassez de terrenos privados. Com a disseminação dessa prática, passou a receber proteção inicialmente através do interdito de superficiebus, com o intuito de defender a posse do superficiário das agressões de terceiros e, depois, por meio de ação real semelhante a reivindicatória. E assim, consolidou-se como um direito real de valor econômico, transmissível e alienável (Ebert Chamoun, 1962, 4ª ed., pp. 277-278). O direito de superfície ressurge em vários ordenamentos de tradição romanista devido a evolução econômica e social. Na legislação brasileira, ele se manteve até o advento da Lei nº 1.237/1864 (Lei Hipotecária) que o aboliu como direito real. As tentativas de ingresso no Código Civil de 1916 não prosperam, isso porque a doutrina considerava uma fonte perigosa de controversas. (J. M. de Carvalho Santos, 1987, 11ª ed., p. 16). Porém, a grande proporção desse instituto em outros países, reacendeu o interesse sobre o debate de sua inclusão no direito brasileiro. Reintroduzido pela Lei nº 10.257/2001 (Estatuto das Cidades), foi destinado a promover o uso ordenado de imóveis urbanos. Mais tarde, com a entrada em vigor do Código Civil de 2002 trouxe também disposições sobre o direito de superfície, gerando grandes debates sobre a coexistência dos dois regimes, objeto de estudo na presente pesquisa. Nesse contexto de embates, foi aprovado em 2002, na I Jornada de Direito Civil, o Enunciado nº 93 que afirma que as normas dispostas no CC/2002 não revogam disposições legais sobre o direito de superfície previstas no Estatuto das Cidades, dada a sua especialidade, se tratando de política de desenvolvimento urbano (Tepedino, Gustavo, Fundamentos do Direito Civil, 4ª ed., 2023, p.380). O direito de superfície, vigora na legislação brasileira como mais uma possibilidade de ocupação da propriedade privada e no cumprimento de sua função social, ao determinar a forma de se utilizar o imóvel urbano ou rural, através da ideia de vínculo indissociável existente entre o solo e a superfície, na qual tudo que se planta ou se constrói, pertence ao detentor do direito real de uso do solo, no caso, o superficiário. Nesse instituto, o proprietário concede o uso da plantação, solo ou terreno para que o superficiário possa dispor de sua utilização por tempo indeterminado ou determinado, fazendo - se o registro em escritura pública no Cartório de Registro de Imóveis. Pelo fato do instituto do direito de superfície estar previsto em duas legislações distintas, no caso o Código Civil e o Estatuto da Cidade, acabou ocasionando alguns conflitos normativos. Quando LOUREIRO ( 2002), afirma que o tempo de concessão do direito real de superfície pode ser determinado ou indeterminado, ele leva em consideração apenas o Estatuto da Cidade, mas o Código Civil permite apenas por tempo determinado a utilização do direito de superfície em plantações ou solo no prazo de 30 anos, bem como no Estatuto da Cidade é permitido o uso da propriedade no solo, subsolo e espaço aéreo, já no Código Civil é permitido a utilização em todos esses setores, caso esteja expressamente previsto no contrato. Neste sentido, é importante ressaltar que existe uma diferença daquilo que é plantado ou construído e a propriedade do solo que abriga a construção e a plantação. Quando ROSENVALD (2006) questiona se o direito real de superfície seria de coisa alheia ou de propriedade, e no mesmo questionamento, ele afirma que ambos estão corretos, pois de fato a sua formação depende da pessoa que concede a propriedade e aquele que fará do bem algo materialmente autônomo para o uso, ele está referendado uma posição consolidada na doutrina sobre o assunto. Diante disso, é preciso mencionar a possibilidade da coexistência de direitos reais distintos, neste caso não se admite a figura da copropriedade, fazendo com que o proprietário do solo continue a utilizar a propriedade, desde que não atrapalhe o uso pelo superficiário, pois trata-se de direito real de uso limitado. Além disso, o direito de superfície pode ser repassado para terceiros, sendo que é preciso fazer a alteração do contrato, indo até o Cartório de Registro de Imóveis. Em caso de falecimento, os herdeiros continuarão a utilizar a propriedade fruta da concessão de superfície, sem a necessidade de indenizar o titular da propriedade, podendo também a haver a perda do uso do solo em caso de desapropriação, parecimento ou término do prazo. Em linhas gerais, em que pesem as particularidades previstas em algumas legislações que o contemplam, o direito de superfície pode ser definido como o direito real, perpétuo ou temporário, de ter como sua, separadamente da propriedade do solo, uma construção ou uma plantação erguidas sobre terreno alheio, sejam estas preexistentes ou resultantes do exercício de uma concessão para construir (ad edificandum) ou para plantar (ad plantandum). José Oliveira Ascensão, por sua vez, assevera o seguinte: Esta observação é de extrema importância prática, sendo suficiente para tornar dispensável criar um longo e desnecessário capítulo buscando diferenciar o direito de superfície de institutos com alguma proximidade conceitual, como, por exemplo, a enfiteuse e o direito real de uso. No que tange à natureza jurídica do direito de superfície, pode-se afirmar, com escólio em ASCENSÃO19, que se trata de um direito real complexo, com distintas facetas, conforme se tenha em mira um ou outro sujeito da relação superficiária. REFERÊNCIAS:
Tepedino, Gustavo, et al. Fundamentos do Direito Civil: Direitos Reais. v.5 .
Disponível em: Minha Biblioteca, (4ª edição). Grupo GEN, 2023. ASCENSÃO, José de Oliveira, Direitos Reais, Coimbra, Coimbra 5.ed. 1993. SARMENTO FILHO, Eduardo Sócrates Castanheira. Instituto de Registro Imobiliário do Brasil- IRIB- Direito de Superfície- São Paulo, IRIB- 2012. 40 p. Oliveira Ascensão, José. Direitos Reais, Coimbra Editora, 5 edição, página 525.