Você está na página 1de 22

Membro do Grupo

Rosiménia Elisabeth MASSINGA Rui VASCO

Morais DA CUNHA Uwitonze S. MUKASANO

Sumeila José Macamo NHARRULUGA


ESTRUTURA DA APRESENTAÇÃO
 Resumo
 Objectivos
 Metodologia
 Terminologias e interpretações locais da doença da malária
• Terminologias da Malária segundo sinais e sintomas
• O Papel e modus operandi dos Tinyanga
• Discurso sobre os pastores das igrejas ziones
 Relação do tema com a Antropologia e Sociologia de Saúde
 Conclusão
RESUMO
 Foi feito um estudo qualitative sobre a Interpretações locais sobre a malária e o discurso sobre os
provedores tradicionais de cuidados de saúde no sul de Moçambique e incluiu a revisão de literária ,
onde foram consulatados 41 fontes;
 Local: 24 (aldeias e bairros) do Distrito de Chókwè, Província de Gaza – Moçambique;
 Periódo: Março de 2008 - Julho de 2012;
 Participantes: Habitantes do distrito de Chókwè, dos quais: Tinyanga (44); Pastores de igrejas cristãs
(41), Muçulumanos (1), Técnicos e profissionais Biomedicos (19); Grupo de Homens e Mulheres da
Comunidade (87);
 Resultados: foram analisados os conhecimentos e práticas das sociedades de Chókwè, em Moçambique,
relativos à etiologia da malária. O estudo deparou-se com terminologias locais diversifcadas sobre a
malária como sendo: “doença do hospital”, “doença da tradição” e feitiçaria. A malária, cuja designação
e diagnóstico actual se difundiu, no ano 2000, aquando das cheias no distrito de Chókwè e
presentemente, classifcada como uma “doença do hospital” pela maioria dos interlocutores.
OBJECTIVOS
 Apresentação das terminologias e interpretações locais da doença da malária no distrito de
Chokwé;

 Apresentação e analise dos discursos dos pacientes e praticantes biomédicos sobre provedores de
saúde tradicionais (curandeiros/tinyanga e pastores Ziones).
METODOLOGIA
 Estudo travensal analítico;

 Realização de entrevistas e grupos focais;

 Amostragem: aleatória para selecção dos bairros e aldeias e Intencional para seleçãoo dos
participantes do estudo;

 Critério de inclusão do distrito de Chókwè: elevados casos de malária, existência de várias


intervenções para controlo da malária implementadas pelo MISAU e ONGs, e conhecimento
prévio do distrito por parte da investigadora;

 Utilização da língua local xiChangana e uso de intérprete.


TERMINOLOGIAS E INTERPRETAÇÕES LOCAIS
DA DOENÇA DA MALÁRIA
 Na sociedade de Chókwè enquanto pertencente ao grupo etnolinguístico xiChangana e partilhando
relações sociais, culturais e históricas específicas, o acesso aos signifcados das enfermidades, aos seus
sintomas e à terminologia pertencem à esfera privada, ao mesmo tempo que fazem parte da matriz
partilhada pelos membros de uma sociedade;

 Num quadro de saúde e doença, o acesso ao significado dos termos é dificultado pelo sofrimento e
aflição do momento ou pelas marcas e traumas deixados por um episódio passado;

 Por outro lado, Price (1987, p. 313 apud Kamat, 2013, p. 82) chama-nos a atenção para a informação
que é integrada como experiência por terceiros ao referir: “Individuals gain information about entire
illness episodes without having personally experienced those events. Such second hand episodes are
integrated with those the person has directly experienced and become part of his or her current script
concerning illness”.
TERMINOLOGIAS E INTERPRETAÇÕES LOCAIS
DA DOENÇA DA MALÁRIA
 Esse conhecimento socialmente gerado e que é reconfigurado ao longo das experiências
vivenciadas pelos pacientes e familiares reforça a constante (re)construção e dinamismos
dos conhecimentos médicos tradicionais;

 As diferentes terminologias e a descrição dos seus sintomas e sinais reforçam a


complexidade da análise dos fenômenos de saúde e doença, assim como as intervenções de
saúde pública promovidas pelas instituições biomédicas.
SURGIMENTO DO TERMO MALÁRIA EM
CHÓKWÈ
 O termo malária é bastante recente no léxico da população do distrito de Chókwè, com
exceção de todos aqueles que tiveram uma relação próxima com os colonos portugueses,
durante a ocupação colonial, ou tiveram um contacto mais próximo com as instituições
biomédicas, no período pós-independência, como os militares, os funcionários públicos, os
voluntários da Cruz Vermelha moçambicana, entre outros elementos das aldeias com maior
ligação à Administração do distrito;

 A vulgarização do termo malaria dá-se com as cheias de fevereiro do ano 2000, em que as
zonas mais afetadas da província de Gaza receberam, durante vários meses, trabalhadores
de várias ONG de ajuda humanitária. Estas organizações distribuíram milhares de redes
mosquiteiras e ajuda alimentar e realizaram ações de educação para a saúde, nos campos de
realojamento.
SURGIMENTO DO TERMO MALÁRIA EM
CHÓKWÈ
 O termo malária é bastante recente no léxico da população do distrito de Chókwè, com
exceção de todos aqueles que tiveram uma relação próxima com os colonos portugueses,
durante a ocupação colonial, ou tiveram um contacto mais próximo com as instituições
biomédicas, no período pós-independência, como os militares, os funcionários públicos, os
voluntários da Cruz Vermelha moçambicana, entre outros elementos das aldeias com maior
ligação à Administração do distrito;

 A vulgarização do termo malaria dá-se com as cheias de fevereiro do ano 2000, em que as
zonas mais afetadas da província de Gaza receberam, durante vários meses, trabalhadores
de várias ONG de ajuda humanitária. Estas organizações distribuíram milhares de redes
mosquiteiras e ajuda alimentar e realizaram ações de educação para a saúde, nos campos de
realojamento.
A MALÁRIA “DOENÇA DO HOSPITAL”
 À semelhança de estudos realizados na África Austral (Erhun; Agbani; Adesanya, 2005, p.
26; Pool et al., 2006, p. 1672; Hlongwana et al., 2009, p. 7), no distrito de Chókwè, a
malária é, em termos gerais, considerada uma “doença do hospital”, e os doentes e
familiares procuram tratamento nos Centros de Saúde, confiando e reconhecendo na
biomedicina os meios e conhecimento necessário para lhes garantirem a cura;

 O reconhecimento das "doenças do hospital" afirma-se como o resultado de uma


apropriação progressiva e adaptada de novos conhecimentos e práticas na área da saúde,
contudo, os sinais e sintomas da malária podem ser confundidos com doenças fora da esféra
biomédica, surgindo assim diferentes terminologias e interpretações para esta doença.
PRINCIPAIS TERMINOLOGIAS DA MALÁRIA
Figura 1 – A integração da malária nas
etnomedicinas locais e suas terminologias

“(…) Quando uma criança assusta, subiu a malária


até à cabeça… malária cerebral, convulsões. Há
outra doença que ataca muito as crianças e que não é
malária.
Então, há muita confusão com isso e as pessoas
basta ver isso e pensam que é doença da lua e não
vão ao hospital, enquanto é malária.” (#146,
homem, 5º bairro da cidade de Chókwè)
TERMINOLOGIAS DA MALÁRIA SEGUNDO
SINAIS E SINTOMAS
Na perspetiva biomédica, as convulsões surgem, quando estamos perante um episódio de
febres altas (convulsão febril), malária cerebral, epilepsia e meningite.

De acordo com a cosmovisão local, as convulsões e a sua manifestação violenta − contração


brusca e involuntária dos músculos − remetem a várias etiologias que, segundo Guiliche (2002,
p. 49), se podem dividir em:

• kutsivelela, a falta da cerimônia de recepção das crianças recém-nascidas na família


(apresentação aos vivos e mortos da linhagem patrilinear);

• kuphalha, um castigo dos antepassados decorrente da falta de cerimônia familiar ou


desacordo em relação à atribuição de um nome a uma criança; e, ainda;

• kuthankiwa, sanção social devido à prática de roubo, de adultério ou assassinato.


TERMINOLOGIAS DA MALÁRIA SEGUNDO
SINAIS E SINTOMAS
Figura 2 – Partilha de sinais e sintomas entre  Dzedzedza refere-se à febre, sensação de
as várias etnodoenças e a malária aquecimento do corpo. Em xiChangana, este
termo é considerado uma onomatopeia
associada aos tremores de frio durante a febre;

 A “doença da lua” é equiparada à malária


cerebral e as mães devem procurar cuidados de
saúde biomédicos, as percepções locais sobre as
convulsões são mais complexas e profundas
que uma mera substituição de terminologias;

 A “doença de maluquice” (considerada


“doença da tradição”), normalmente associada a
um discurso sem sentido e ofensivo para os
presentes.
O PAPEL E MODUS OPERANDI DOS
TINYANGA
 A medicina tradicional é um dos sistemas etnomédicos presentes na sociedade de Chókwè
desde o período pré-colonial e para as estratégias e recursos desenvolvidos pelas sociedades
para enfrentar a doença e a saúde.

No Passado: Actualmente:
A relação entre pacientes/tinyanga era Paciente/Nyanga = Provedor/Cliente
caracterizada pela confiança, preocupação Prestação de um serviço, sujeito às regras do
pela integridade e bem-estar comum. mercado − custo de oportunidade, (serviços
dispendiosos)
A cobrança do serviço prestado realizava-se
apenas após a família do doente ter lógica de oferta e procura, especificidade do
comprovado a eficácia do tratamento. serviço prestado e carteira de clientes.
Troca de bens, tais como galinhas ou milho, Falta de compaixão em relação à situação de
e quem tivesse acesso aos escudos pagaria enfermidade e de solidariedade.
com essa moeda.
PRINCIPAIS CRÍTICAS AOS TINYANGA
 Falta de compaixão em relação à situação de enfermidade e de solidariedade em face da
ausência de recursos financeiros e materiais dos pacientes que contratam os seus serviços;

 Serviços muito dispendiosos;

 Promotores de conflitos no seio das famílias, uma vez que, durante o processo de
adivinhação, acusam parentes de “encomendarem” enfermidades e infortúnios (feitiçaria) para
outros membros da linhagem;

 Ineficácia curativa de alguns dos seus tratamentos e à retenção dos clientes no seu domicílio;

 Transferência tardia dos pacientes as unidades hospitalares.


PRINCIPAIS CRÍTICAS AOS TINYANGA
(ALGUNS DISCURSOS)
“O dinheiro que os curandeiros cobram é muito alto. Ele irá
determinar o valor que quer, consoante a tua doença. Os
antigos eram bons, mas os atuais só querem dinheiro para
quem for lá. Cobram um valor muito alto.” (#51, homem,
Changulene)

“(…) Os curandeiros, por um lado, fazem um bom


trabalho, mas o problema dos curandeiros é que não
mandam as pessoas para o hospital. Uma doença
que ele não sabe curar, ele diz que sabe, porque
precisa do dinheiro.” (#168, pastor, Matuba)
DISCURSO SOBRE OS PASTORES DAS
IGREJAS ZIONES
 As igrejas ziones incluem nas suas práticas religiosas elementos da “tradição” africana e
reconhecerem a existência dos antepassados e de espíritos malignos, contudo, invocam o
Espiríto Divino para a cura;

 Os ziones assumem uma total rejeição dos tinyanga, uma vez que para os zionistas eles
personificam a maldade e a desgraça, sendo considerados a antítese de Deus, da harmonia e da
saúde;

 Os maziones curam enfermidades relacionadas com a feitiçaria (mas também podem estar na
origem de actos de feitiçaria), utilizando plantas e raízes nos seus tratamentos, assim como
cinzas e raízes;

 Os ziones são considerados pelos locais , como sendo a “melhor solução local de cura”,
relação aos tinyanga.
DISCURSO SOBRE OS PASTORES DAS
IGREJAS ZIONES
“(…) Os curandeiros gostam mais de ir rezar para o maziones, porque usam os
mesmos espíritos. (…) Os maziones dizem-se crentes quando são curandeiros.
Porque uma pessoa pode ir lá, quando secou um dos seus membros, e curam-no
e dizem que era a pessoa X é que estava a enfeitiçá-lo. Há anos atrás, os
maziones e curandeiros eram boas pessoas, mas nos dias de hoje não”. (#133,
pastora, Macunene)

“(…) Há igrejas que curam doenças, como os


maziones. Há umas mulheres grávidas que, quando
demoravam a dar parto, vão chamar uma
crente/pastora mazione que cura o recém-nascido e,
depois, a mulher dá parto. Ajudam a saúde”. (#40,
provedor biomé-dico)
RELAÇÃO COM A ANTROPOLOGIA E
SOCIOLOGIA DE SAÚDE
 Deve existir um espaço de diálogo, interconhecimento e partilha de experiências terapêuticas,
caso contrário, prática biomédica e o encontro clínico dissocializam-se da realidade em que
estão inseridos;

 A implementação de políticas de saúde que atendam à diversidade local, às relações de poder


existentes e aos conhecimentos e práticas médicas pode fortalecer os cuidados biomédicos
prestados e harmonizar as relações entre os provedores e a população;

 Homem como unidade bio-psico-sócio-cultural: este artigo mostra claramente que o homem é
uma unidade biologiaca que vive numa sociedade com uma cultura; dai que ao analizar a
interpretação da doença e a procura da cura pelo individuo, deve-se ter em conta todos traços
humanos que derivam dele como individuo que pensa, que herda hábitos e cultura dos seus
progenitores, e também herda a cultura da comunidade do local com quem socializa.
CONCLUSÃO
 A malária é, presentemente, classificada como uma “doença do hospital” na medida em que os
pacientes e seus familiares valorizam as práticas e sucesso terapêutico alcançados pela
biomedicina;

 As experiências pessoais e das sociedades em que as comunidades de Chókwè estam inseridas


influenciam na intrepetação de sinais e sintomas das doenças e nas decisões a tomar na procura
da cura e no tipo de provedor (biomedico ou etnomedicina);

 O conhecimento dos provedores não biomédicos disponíveis numa sociedade é essencial para
os pacientes que procuram a cura das suas enfermidades, dentro da sua cosmovisão e do limite
das suas crenças;

 Nos dia de hoje os tinyanga são considerados elementos de desagregação social, mais focados
nos seus ganhos directos (“individualismo”) do que nas suas missões curativas.
CONCLUSÃO
 As igrejas demonizam os tinyanga pelos infortúnios causados, alegadamente decorrentes das
suas práticas, consideradas de feitiçaria;

As igrejas Zion valorizam as crenças tradicionais, reconhecem a importância da relação com os
antepassados e reproduzem alguns dos tratamentos realizados pelos tinyanga, porém,
diferetemente dos tinyanga, invocam a ajuda do Espírito Santo e a aquisição, por via divina, dos
dons espirituais;

 As igrejas ziones vêm colmatar este dilema e são alternativa ao confito de interesses e à
decisão de vida ou de morte;

As igrejas zion atraem um número muito significativo de crentes, devido aos seus rituais
curativosos, contudo, os pastores ziones condenam e desaconselham a ida aos tinyanga que,
segundo eles, enriquecem à custa do infortúnio e desgraça alheios.
OBRIG
ADO

Você também pode gostar