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A filosofia e os seus

instrumentos
Em discussão

Filosofia

O que é a filosofia? Que questões coloca a A que instrumentos


filosofia? recorre a filosofia?
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O que é a filosofia?
A nossa vida é orientada por uma série de crenças.

A filosofia começa por recolocar


muitas das questões que fizemos
em criança e examina as crenças
que formamos sobre a realidade que
nos rodeia.

A filosofia é uma atividade


conceptual crítica.
Filosofia

“philos” (“amor”) + “sophia” (“sabedoria”)

A filosofia é, na aceção etimológica, o amor à sabedoria.

O amor pela sabedoria é uma característica comum a


todos os filósofos. Leva-os a refletir criticamente e a
desenvolver respostas para os problemas que colocam.
Na origem da filosofia podem encontrar-se
diferentes situações e motivações

O espanto ou a admiração
A consciência da nossa
perante o mundo que nos
fragilidade e do sofrimento.
rodeia.

A dúvida face àquilo que A vontade de estabelecer


tomamos como certo e uma comunicação autêntica
garantido. com os outros.

A filosofia ocidental nasceu na Grécia, em Mileto, uma colónia grega da


Ásia Menor, no início do século VI a. C.
Dimensões da filosofia

Teórica e de análise Prática e de orientação


conceptual no mundo

Esta dimensão tem uma


índole moral e existencial,
Esta dimensão visa a
com carácter interventivo e
compreensão do mundo e
potencialmente
de nós mesmos.
transformador da realidade
social e política.
Distinção entre a filosofia e as ciências

Filosofia Ciências empíricas

Objetivo Encontrar a verdade Encontrar a verdade

Objeto Totalidade do real Parcelas do real

Problemas Conceptuais Empíricos

Método Reflexão crítica e


Experimental
argumentação racional

Algumas ciências, como a matemática ou a física teórica, são também disciplinas


conceptuais racionais. A filosofia distingue-se delas porque os seus problemas não
são resolúveis pelo raciocínio matemático.
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As questões da filosofia
Problemas Questões
filosóficos filosóficas

Implicam o desejo de conhecer as razões por que acreditamos


no que acreditamos.

As questões filosóficas:
– são relativas às nossas crenças fundamentais;
– geram controvérsia e discussão crítica de ideias;
– levam a um avanço na compreensão e no aprofundamento do tema;
– dizem respeito e interessam, em princípio, a toda a Humanidade;
– não são resolvidas matemática nem experimentalmente.
Exemplos de questões filosóficas

Como devemos agir? Quem sou eu?

O que é o conhecimento? Será que Deus existe?

Será que temos livre-arbítrio? O que é uma sociedade justa?

O que são os valores? O que é a realidade?

Será que o conhecimento é possível? O que é o belo?

Os problemas da filosofia incluem as várias dimensões da existência


humana – e encontram-se inter-relacionados.
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O trabalho filosófico
– noções elementares de lógica
Racionalidade
Reflexão crítica
argumentativa

Dimensão discursiva do trabalho filosófico

Formulação e Formulação e
Análise de
avaliação de teses avaliação de
conceitos
e teorias argumentos

Os filósofos recorrem à lógica.


Lógica

Estuda a distinção entre argumentos corretos e incorretos,


mediante a identificação e a compreensão dos processos
que conduzem da verdade de certas crenças à verdade
de outras.

Lógica formal Lógica informal

Estuda, sobretudo, Estuda, sobretudo,


a validade formal a força dos
dos argumentos argumentos
dedutivos. não-dedutivos.
Elemento básico do pensamento.
Conceito Representação intelectual de determinada
realidade.

Termo
O conteúdo dessa representação pode
dizer respeito a uma classe de objetos
ou a uma realidade singular.

É geralmente entendido como a


expressão verbal do conceito.

A clarificação dos conceitos faz-se a partir da definição.


Tese

Ideia o que se quer No âmbito da filosofia,


defender a propósito é a resposta a um
de um dado problema. problema em aberto.

As teses ou teorias são expressas em frases. As


ideias que subjazem a essas frases são as
proposições.
Proposição

Pensamento ou conteúdo, verdadeiro ou falso, expresso


por uma frase declarativa.

Apenas as frases declarativas expressam proposições:


só elas expressam um determinado conteúdo que pode
ser classificado em verdadeiro ou falso.

– a mesma proposição pode ser expressa por diferentes frases declarativas;


– frases ambíguas exprimem mais do que uma proposição;
– frases declarativas absurdas não expressam proposições.
Exemplos de frases que não expressam proposições

Saia imediatamente! Frase imperativa

Que dia belo! Frase exclamativa

Quem inventou a roda? Frase interrogativa

Prometo ajudar os outros. Frase que traduz uma promessa

Ajuda-me a carregar estes sacos. Frase que expressa um pedido

Que o mundo se torne mais pacífico. Frase optativa (exprime um desejo)


Proposições categóricas

Proposições em que, de modo absoluto, se estabelece


uma relação de afirmação ou de negação entre termos.

A fórmula clássica desta relação é “S é P” ou “S não é P”.

Ser, ou conjunto de seres, relativamente ao qual


Sujeito
se afirma ou nega o predicado.

Característica, propriedade ou qualidade que se


Predicado
afirma ou nega do sujeito.

Elemento que faz a ligação do sujeito com o


Cópula
predicado (é uma forma do verbo ser).

Exemplo: Todos os artistas são sábios.


Proposições
categóricas

Qualidade Quantidade

Afirmativas Negativas Universais Particulares

O sujeito é
O sujeito é tomado
Afirmam Negam
tomado em toda apenas numa
alguma coisa. alguma coisa.
a sua extensão. parte da sua
extensão.
Tipo de proposições Forma lógica Exemplo

Tipo A Universal afirmativa Todo o S é P. Todos os cães são fiéis.

Tipo E Universal negativa Nenhum S é P. Nenhum cão é fiel.

Tipo I Particular afirmativa Algum S é P. Alguns cães são fiéis.

Tipo O Particular negativa Algum S não é P. Alguns cães não são fiéis.
Quadrado da oposição

A Contrárias E

Subalterna Contraditórias Subalterna

I Subcontrárias O

As relações apresentadas designam-se por: contrariedade,


contraditoriedade, subcontrariedade e subalternação (ou
subalternidade). Na relação de subalternação, às proposições
universais também se chama subalternantes; as particulares são
subalternas.
Quantificadores

Universais
Existencial
(“Todos”,
(“Algum”)
“Nenhum”)

Mas há outros quantificadores com idêntico significado.


Por exemplo, “Qualquer” equivale a “Todos”.

Exemplos de proposições categóricas na sua forma-padrão ou


expressão canónica e outras expressões das mesmas

Todos os filósofos são justos. Nenhum animal é cruel.


A Qualquer filósofo é justo. E Os animais não são cruéis.
Ser filósofo é ser justo. Não há animal que seja cruel.

Alguns quadros são belos. Alguns textos não são claros.


I Certos quadros são belos. O Existem textos não claros.
Há quadros belos. Nem todos os textos são claros.
Negação de proposições categóricas (quantificadas)

Proposição inicial Negação da proposição inicial

A Todos os belgas são ricos. Alguns belgas não são ricos. O


A negação de uma universal afirmativa é uma particular negativa.

E Nenhuma nuvem é bela. Algumas nuvens são belas. I


A negação de uma universal negativa é uma particular afirmativa.

I Alguns atletas são felizes. Nenhum atleta é feliz. E


A negação de uma particular afirmativa é uma universal negativa.

O Algumas plantas não são verdes. Todas as plantas são verdes. A


A negação de uma particular negativa é uma universal afirmativa.
Negação de proposições categóricas (singulares)

Proposição inicial Negação da proposição inicial

António é agricultor. António não é agricultor.


A negação de uma singular afirmativa é a singular negativa respetiva.

O Sol não é brilhante. O Sol é brilhante.


A negação de uma singular negativa é a singular afirmativa respetiva.
Argumento

Conjunto de proposições devidamente articuladas


– a conclusão e a(s) premissa(s) –, no qual a(s)
premissa(s) tenta(m) defender, sustentar, apoiar ou
justificar a conclusão (ou seja, a tese).

Exemplo
Todos os animais são mortais.
As iguanas são animais.
Indicador de conclusão Logo, as iguanas são mortais.

Premissa Todos os animais são mortais.


Premissa As iguanas são animais.
Conclusão As iguanas são mortais.
Indicadores de premissa e de conclusão

Sabendo que os desportistas


Indicador de premissa são persistentes, segue-se que Indicador de conclusão
os futebolistas são persistentes,
Outros indicadores uma vez que os futebolistas são Outros indicadores
de premissa: desportistas. de conclusão:

Porque… Logo…
Pois… Por conseguinte…
Admitindo que… Portanto…
Pressupondo que… Daí que…
Dado que… Assim…
Em virtude de… Isso prova que…
Já que… Como tal…
Avaliar argumentos

As premissas
As premissas são
oferecem apoio à
verdadeiras?
conclusão?

A verdade e a
falsidade dizem O apoio dedutivo é
apenas respeito à diferente do apoio
matéria ou conteúdo não-dedutivo.
das proposições.

Responder a estas questões é condição necessária (embora


não suficiente) para saber se o argumento é bom ou mau.
Tipos de argumentos

Argumentos dedutivos Argumentos não-dedutivos

Argumentos em que se pretende Argumentos em que se pretende


que as premissas forneçam um que as premissas forneçam um
apoio decisivo ou uma garantia apoio provável – mas não
para a conclusão. Podem ser decisivo – para a conclusão.
válidos ou inválidos. Podem ser fortes ou fracos.

A validade ou invalidade depende A força ou fraqueza depende de


essencialmente da forma lógica aspetos que ultrapassam a
dos argumentos. forma lógica dos argumentos.

Exemplo:
Exemplo:
Todos os cães que observámos
Todos os animais respiram.
até hoje ladravam.
Os cães são animais.
Logo, o próximo cão que
Logo, os cães respiram.
observarmos ladrará.
Argumentos dedutivos

Argumento válido Argumento inválido

Argumento em que as premissas


Argumento em que as premissas
fornecem um apoio decisivo ou
não apoiam a conclusão, no sentido
uma garantia para a conclusão,
em que a não garantem, sendo
sendo impossível que as
possível que as premissas sejam
premissas sejam verdadeiras e a
verdadeiras e a conclusão falsa.
conclusão falsa.

Exemplo:
Exemplo:
Todos os jovens são estudantes.
Todos os jovens são estudantes.
Todos os escuteiros são jovens.
Todos os escuteiros são estudantes.
Logo, todos os escuteiros são
Logo, todos os escuteiros são jovens.
estudantes.

Forma Todos os F são G. Todos os F são G.


Forma
válida Todos os H são F. Todos os H são G. inválida
Logo, todos os H são G. Logo, todos os H são F.
Argumentos não-dedutivos

Argumento forte Argumento fraco

Argumento em que as
Argumento cujas premissas não
premissas, não sendo razões
têm força suficiente para apoiar a
conclusivas, oferecem apoio à
conclusão, sendo improvável
conclusão, sendo improvável,
que a conclusão seja verdadeira
mas não impossível, haver
mesmo que as premissas sejam
premissas verdadeiras e
verdadeiras.
conclusão falsa.

Exemplo: Exemplo:
Até agora, a Terra girou sempre em Algumas pessoas gostam de ler
redor do seu próprio eixo. Camões e Eça de Queirós.
Logo, também amanhã a Terra Logo, todas as pessoas gostam de ler
girará em redor do seu próprio eixo. Camões e Eça de Queirós.
Argumentos bons

Argumento não-dedutivo bom


Argumento dedutivo bom
(argumento cogente)

Argumento válido constituído por


Argumento forte constituído por
premissas verdadeiras (sólido) e
premissas verdadeiras e
mais plausíveis do que a
mais plausíveis do que a conclusão.
conclusão.

Exemplo:
Exemplo:
Todos os seres humanos observados
Todos os lisboetas são europeus.
até hoje eram mamíferos.
Fernando Pessoa é lisboeta.
Logo, todos os seres humanos são
Logo, Fernando Pessoa é europeu.
mamíferos.
Argumentos maus

Argumento (dedutivo ou não-dedutivo) que não cumpre algum


dos requisitos que caracterizam os argumentos bons.

Muitos maus argumentos são considerados falácias.

Formais Falácia Informais

Argumento que parece Resultam de


Resultam correto ou adequado, do aspetos
apenas da ponto de vista formal ou informais,
forma lógica, informal, mas que na sendo
sendo realidade não é correto nem cometidas ao
cometidas ao adequado. nível dos
nível dos
argumentos
argumentos
dedutivos e
dedutivos.
não-dedutivos.

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