Você está na página 1de 40

Ergonomia

NR 17

Iremar Alves Bezerra - TST


Histórico

No final dos anos 80 milhares de casos


de LER foram constatados em digitadores
de empresas de processamento de
dados.

As Associações de Processamento de
Dados do país se reúnem com a
Fundacentro e pedem a criação de uma
norma que regulamente este tipo de
trabalho.
Seminário de 1989

Em 1989 acontece o Seminário Nacional de


Delegacias do Trabalho em SP.

Nele é discutida a NR 17 e se percebe que seria


inaceitável uma norma voltada só para
digitadores, pois outras funções sofriam com
LER.

No seminário foram mostradas sugestões para o


texto da NR 17. Em 23/11/90 foi publicada a
Portaria 3.751 do MTE, criando a NR 17.
NR 17 - Psicofisiologia
17.1. Esta NR visa estabelecer parâmetros que
permitam a adaptação das condições de
trabalho às características psicofisiológicas
dos trabalhadores, de modo a proporcionar um
máximo de conforto, segurança e desempenho
eficiente.
As características psicofisiológicas citadas dizem
respeito ao fato do trabalhador:

 preferir escolher livremente suas posturas de


trabalho e seus ritmos de trabalho;
 gostar de usar todo o corpo em seu trabalho e
não apenas alguns pontos isolados;
 não tolerar tarefas repetitivas e fragmentadas.
NR 17 - Psicofisiologia

As características psicofisiológicas citadas dizem


respeito ao fato do trabalhador (continuação):

 seguir ordens e obedecer cadências de trabalho,


mesmo que não as suporte;
 ter capacidades sensitivas e motoras limitadas;
 sentir fadiga e seu ritmo de trabalho cair ao longo
da jornada;
 gostar de ser chamado para opinar a respeito de
como o trabalho pode ser executado;
 Gostar muito mais da cooperação do que da
competição.
NR 17 - Conforto
Houve um tempo em que os trabalhadores não
eram consultados sobre a qualidade das
ferramentas, do mobiliário, sobre as dimensões
do seu posto de trabalho, ou o tempo
determinado à realização da tarefa.

A ergonomia surge para colocar o trabalhador


novamente como o agente central do trabalho, a
partir do momento em que propõe que o trabalho
deve ser executado com conforto.

Em função do conforto, uma análise ergonômica só


pode ter sucesso se os trabalhadores opinarem
sobre a forma de trabalhar.
NR 17 - Eficiência

Quando a NR 17 fala em desempenho


eficiente não está falando de uma maior
produtividade. O desempenho aqui é para que o
trabalhador não sofra, não sinta dor, não
fique perturbado ao trabalhar.
A forma de organizar o trabalho, assim, não
pode ser Taylorista, que é a forma que gera
DORT, demência, neuroses, invalidez,
traumas, etc., mas que era considerada a mais
produtiva por Taylor.
Abrangência da NR 17

17.1.1. As condições de trabalho incluem


aspectos relacionados ao levantamento,
transporte e descarga de materiais, ao
mobiliário, aos equipamentos e às condições
ambientais do posto de trabalho e à própria
organização do trabalho.

Até a publicação da NR 17, as empresas


decidiam como organizar o trabalho de seus
setores e era difícil que os trabalhadores
dessem opinião quanto a este aspecto.
Análise Ergonômica do Trabalho

17.1.2. Para avaliar a adaptação das condições de


trabalho às características psicofisiológicas dos
trabalhadores, cabe ao empregador realizar a
análise ergonômica do trabalho, devendo a
mesma abordar, no mínimo, as condições de
trabalho conforme estabelecido nesta NR.

A NR 17 coloca como obrigatória a análise


ergonômica, sendo prevista penalidade para a
empresa. Um Termo de Notificação deve ser
emitido pelo Fiscal da DRT quando a empresa não
tiver o Laudo de Análise Ergonômica.
Análise Ergonômica do Trabalho

A Análise Ergonômica deve conter no mínimo:

 Dimensão – os postos de trabalho devem ser


avaliados quanto à dimensão e sua relação
antropométrica, a fim de se detectar posturas
inadequadas e dificuldade de alcances, ou seja:
 Postura sentada/em pé – deve-se avaliar se o trabalho
é feito mais em pé do que sentado;
 Rotação do tronco – se há rotação, os riscos para a
coluna aumentam;
 Levantamento de cargas – análise pelo NIOSH;
 Ângulo-limite – verificar a angulação das articulações.
Análise Ergonômica do Trabalho

Análise de angulação da coluna (em C)


Análise Ergonômica do Trabalho

A Análise Ergonômica deve conter no mínimo:


 Risco de DORT – os postos de trabalho devem ser
avaliados quanto aos quatro fatores de risco de
DORT e um diagnóstico deve indicar quais são os
postos com maior risco;
 Ritmo de trabalho – as linhas de produção devem
ser avaliadas quanto aos riscos de fadiga derivada
do ritmo excessivo de trabalho;
 Avaliação ambiental – os parâmetros de umidade,
temperatura, iluminamento e ruído devem obedecer
os padrões estabelecidos na NR 17.
Risco de DORT

ANTES DEPOIS
Análise Ergonômica do Trabalho

Exigências da tarefa – é importante saber


como a máquina, ferramenta ou a linha de
produção afetam o trabalhador. Esta avaliação
engloba:
 esforços dinâmicos: deslocamentos a pé,
transporte de cargas, uso de escadas ou
rampas. Devem ser levadas em conta a freqüência,
a duração, a amplitude e a força exigida;
 esforços estáticos: postura exigida por uma
determinada atividade com segmento corporal
sem apoio, estimativa de duração da atividade e
freqüência (carga hemodinâmica e contração
estática).
Esforços estáticos
Análise Ergonômica do Trabalho

Exigências sensório-motoras - uma avaliação


que abrange:

 Sinais sonoros (alarmes);


 Sinais visuais (luz pisca);
 Campo visual e alcance visual;
 Acomodação visual (exigência de foco);
 Ofuscamento;
 Capacidade à comunicação verbal em ambientes
ruidosos.
Exigências sensório-motoras

Painel de sala de controle de indústria


Análise Ergonômica do Trabalho

Dispositivos de comando e sinalização:

 Número e variedade;
 Posição e relação associativa;
 Intervalo entre a emissão de sinal e a ação;
 Complexidade de movimentos induzidos pelos
comandos;
 Grau de precisão exigida pelo operador ao usar
os comandos;
 Seqüencial de uso e freqüência de uso.
Análise Ergonômica do Trabalho

Doenças – a Análise Ergonômica deve levantar


quais são as doenças existentes na empresa,
pois hérnias de disco, bicos-de-papagaio,
tendinites, bursites, epicondilites (e outras)
são indicativos de condições anti-ergonômicas
do trabalho.

Não esquecer que o relato de dores já é


suficiente para detectar que há algo de errado,
bem como de sinais mal definidos (peso no
braço, formigamento nos dedos, pontadas no
cotovelo, etc.).
Análise Ergonômica do Trabalho

Coluna Vertebral - Infelizmente um item no


qual os patrões venceram os empregados.
A omissão do governo é evidente ao
aceitar o que está previsto na CLT em seu
artigo 198 – o peso máximo a ser levantado
de forma individual e manual é de 60 Kg.
A proposta original da NR 17 trazia uma
tabela com pesos máximos por idade e
gênero bem inferiores, mas foi recusada,
pois entrava em conflito com a CLT.
Coluna vertebral
Art. 198 (CLT) – É de 60 kg o peso máximo que um
empregado pode remover individualmente, ressalvadas as
disposições especiais relativas ao trabalho do menor e da
mulher.
A OIT publicou nos anos 80 (antes da NR 17) uma tabela
de recomendação para pesos, separando os limites para
Adultos e Jovens e separada por gêneros:

Adulto Jovem
Homem Mulher Homem Mulher
Ocasional 50 20 20 15
Freqüente 18 12 11-16 7-11
Coluna vertebral
Couto (1987) já alertava para o fato de que o
levantamento freqüente de cargas consideradas “leves”
(com 10% do peso corporal do indivíduo) oferecem alto
risco de doenças da coluna.

COUTO esclarece ainda: “o processo de herniação do


disco não é, por si só, um fenômeno agudo, que
ocorreu totalmente no instante em que o indivíduo fez o
esforço. Na verdade, o processo já estava sendo
favorecido por uma degeneração anterior . E
assusta-nos que uma herniação aguda ocorre diante de
esforços para vencer uma inércia de cargas
relativamente leves, como 10 a 20 Kg.”
Coluna vertebral

Na análise não se pode cair em ilusão que


cargas de 4 ou 5 kg são “leves”, pois a
freqüência também deve ser apurada.
Sem comentários...
Coluna vertebral

17.2.5. Quando mulheres e trabalhadores


jovens forem designados para o transporte
manual de cargas, o peso máximo destas
cargas deverá ser nitidamente inferior
àquele admitido para os homens, para não
comprometer a sua saúde ou a sua
segurança.

Repare que o texto da NR 17 em momento


algum se refere à Tabela da OIT!
Fatores ambientais

A NR 17 prevê que os fatores ambientais devem


ser avaliados na análise ergonômica.
Ruído – deve ser avaliado por dosímetro e o critério
de referência deve ser de 65 dB (A). Aqui não se
trata de PAIRO, mas do incômodo que o ruído de
fundo causa na concentração;
Climatização – usam-se o termo-higrômetro e o
anemômetro para avaliações de umidade e
velocidade do ar e de árvore de termômetros
eletrônica para avaliação de temperatura efetiva
(combinação da temperatura do ar com a de bulbo
úmido).
Fatores ambientais

Iluminamento – não apenas deve-se apurar o nível


de cada posto, mas considerar que em diversos
postos de trabalho, as janelas ficam dentro do
campo visual e há ofuscamento pelo sol. Em vários
outros, há reflexos das janelas na superfície das
telas dos micros e o trabalhador adota posturas
fatigantes tentando evitar o ofuscamento (desvios da
cervical).

O sistema de iluminação geral deve ser uniforme,


mas pode ser necessária uma fonte individual: uma
costureira pode precisar de uma luminária para sua
máquina, pois o sistema geral é insuficiente.
Dica de iluminação

A iluminação de computadores deve se dar pelas laterais,


nunca pela frente ou por trás da mesa (ofuscamento e
reflexos).
Mobiliário dos postos

17.3.1. Sempre que o trabalho puder ser


executado na posição sentada, o posto de
trabalho deve ser planejado ou adaptado
para esta posição.

17.3.5. Para as atividades em que os


trabalhos devam ser realizados de pé,
devem ser colocados assentos para
descanso em locais em que possam ser
utilizados por todos os trabalhadores
durante as pausas.
Mobiliário dos postos
17.3.2. Para trabalho manual sentado ou que
tenha de ser feito em pé, as bancadas, mesas,
escrivaninhas e os painéis devem proporcionar
ao trabalhador condições de boa postura,
visualização e operação e devem atender aos
seguintes requisitos mínimos:

a) ter altura e características da superfície de


trabalho compatíveis com o tipo de atividade,
com a distância requerida dos olhos ao campo
de trabalho e com a altura do assento;
Mobiliário dos postos
b) ter área de trabalho de fácil alcance e
visualização pelo trabalhador;

c) ter características dimensionais que


possibilitem posicionamento e movimentação
adequados dos segmentos corporais.

Novamente é de se reparar que a NR 17 não


traz qualquer tipo de ilustração ou figura com
o que seria “fácil alcance” ou o que seria
“posição adequada” dos segmentos corporais.
Mobiliário dos postos

17.3.2.1. Para trabalho que necessite também da


utilização dos pés, além dos requisitos
estabelecidos no subitem 17.3.2, os pedais e
demais comandos para acionamento pelos pés
devem ter:
posicionamento e dimensões que possibilitem
fácil alcance, bem como
ângulos adequados entre as diversas partes do
corpo do trabalhador, em função das
características e peculiaridades do trabalho a ser
executado.
Equipamentos dos postos

17.4.1.Todos os equipamentos que compõem


um posto de trabalho devem estar adequados
às características psicofisiológicas dos
trabalhadores e à natureza do trabalho a ser
executado.
Como se vê, a NR 17 achou mais fácil dar uma
instrução geral, sem especificar tipos de
equipamentos e suas características. Na
França há mais de 200 normas de Ergonomia
que procuram definir características por áreas
de atuação.
Equipamentos dos postos

Os únicos equipamentos que a NR 17 detalhou


bem foram os de digitação de dados
(informática), pois a pressão que se fazia na
época era por parte dos sindicatos dos
digitadores:

17.4.3. Os equipamentos utilizados no


processamento eletrônico de dados com
terminais de vídeo devem observar o seguinte:
Equipamentos dos postos
a) condições de mobilidade suficientes para permitir
o ajuste da tela do equipamento à iluminação do
ambiente, protegendo-a contra reflexos, e
proporcionar corretos ângulos de visibilidade ao
trabalhador;
b) o teclado deve ser independente e ter mobilidade,
permitindo ao trabalhador ajustá-lo de acordo com
as tarefas a serem executadas;
c) a tela, o teclado e o suporte para documentos
devem ser colocados de maneira que as distâncias
olho-tela, olho-teclado e olho-documento sejam
aproximadamente iguais;
d) serem posicionados em superfícies de trabalho
com altura ajustável.
Organização do Trabalho

A organização do trabalho é um conjunto de


processos que permite a realização de uma série
de tarefas com um objetivo: a produção. Segundo
a Ergonomia, a organização do trabalho é assim
dividida:
• Definir e repartir as funções, as tarefas e os
postos de trabalho;
• Decidir, escolher e implantar os meios materiais e
humanos;
• Assegurar a produção e acompanhar as
atividades.
Organização do Trabalho

Modelo de Organização Taylorista/Fordista:


• O trabalho deve ser individual;
• Deve-se estimular a competição entre os
operários;
• Deve-se implantar o prêmio para aqueles que
produzem mais;
• O trabalhador não raciocina (lembre-se da frase
de Taylor: “o operário é como o chipanzé:
basta adestrá-lo”).
Organização do Trabalho

Modelo de Organização Taylorista/Fordista:


• O operário é reduzido a gestos repetitivos;
• O operário pode ser “programado”;
• É a linha de montagem que determina o ritmo
de trabalho e a produtividade;
• Se o operário não suportar o ritmo, deve ser
substituído por um que o suporte;
• O trabalho deve ser controlado de forma
permanente.
Organização do Trabalho

Modelo de Organização Ergonômica do Trabalho:


• Programar pausas;
• Criar áreas para descanso;
• Permitir a colaboração entre os trabalhadores;
• Incentivar a cooperação e formação de equipes;
• Não permitir o pagamento de prêmios de
produtividade;
• Permitir horários flexíveis;
• Ritmo deve ser estudado de forma a não causar
fadiga e/ou doenças nos trabalhadores.
Bibliografia

COUTO, Hudson de Araújo. Temas de


Saúde Ocupacional, Belo Horizonte: 1987,
Editora Ergo Ltda., 427 p.

BRASIL. Portaria nº 3.751, de 23.11.1990.


Estabelece os princípios da Ergonomia e
publica a NR – 17.

Você também pode gostar