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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA


DISCIPLINA: ECONOMIA BRASILEIRA

Economia Brasileira
Contemporânea
Da redemocratização aos desafios do
novo-desenvolvimentismo
1 - Transformações Econômicas e Estruturais
na transição dos anos 70, 80 e 90
• Recurso ao capital externo na história
econômica brasileira;
• O Brasil e o Fluxo de Capitais:
– Anos 60 e 70: endividamento externo no período
militar
– Dívida Externa, sua Crise e Reinserção nos anos
90.

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Recurso ao capital externo
• O capital estrangeiro, de uma forma ou outra,
historicamente se fez presente em todas as fases de
nossa economia.
• Na República Velha, o mercado de capitais
internacional era uma fonte importante de recursos.
• O PSI só seria possível com o recurso ao capital
estrangeiro, para poder financiar os déficits
recorrentes em transações correntes.
• A partir do governo JK a industrialização se vale de
recursos externo por meio da entrada das
multinacionais.
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DÍVIDA EXTERNA BRASILEIRA
Evolução da Dívida Externa Brasileira 1900 - 1999
(bilhões de dolares - escala logarítmica)
1000

100

10

0,1
1900 1910 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990
Fonte: IBGE e Conjuntura Econômica

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Endividamento externo no período militar
• O processo recente de endividamento externo brasileiro
inicia-se principalmente em 1968,
• Justificativa para o endividamento era a necessidade de
poupança externa para viabilizar as altas taxas de
crescimento do milagre,
• Cenário internacional: liquidez e euromercado,
• inicialmente captação privada: Res. 63 e lei 4131,
• Depois do choque do petróleo – recursos externos
necessários para contornar problemas no BP,
• Década de 70: estatização da dívida externa brasileira.
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Crise da dívida externa
• Fim dos anos 70: alteração da política dos EUA
– Aperto monetário e elevação dos juros
– Encarece dívida anteriormente contratada pelo Brasil com taxas de
juros repactuadas (flutuantes)
– EUA passam a a atrair os recursos, diminuindo possibilidade do Brasil
angariar fundos
– Situação se complica com insolvência da Polônia e Argentina e
moratória do México – não entra mais recursos no Brasil;
• Brasil: transferência de recursos ao exterior para
pagamento da dívida externa anteriormente contraída
– Recessão e desvalorização para a geração de mega superávits
comerciais.

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A Crise dos anos 80 e as políticas de combate
à inflação
• Crise dos anos 80: déficit público, divida
externa, inflação e baixo crescimento
econômico;
• Diagnóstico da Inflação Inercial;
• Plano Cruzado, Bresser e Verão;
• Moratória da Divida em 1987;
• Política do feijão com arroz e o gradualismo;
Transformações no Cenário Internacional
• Globalização Financeira:
– Ressurgimento do mercado de capitais – até então
essencialmente bancário
– Crescente interligação dos sistemas financeiros
internacionais
• Desregulamentações e liberalizações das balanças de
capitais
• Inovações informacionais
– Inovações financeiras: securitização das dívidas

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A Reinserção Brasileira
• A partir destas transformações que, em fins dos anos
80, vários países voltam a receber recursos externos,
sendo que no Brasil este processo iniciou-se em 1991.
• Importante: securitização e renegociação da dívida
externa brasileira.
• As principais formas de captação são:
– o lançamento de títulos no exterior – commercial papers, floating
rates notes, asset backed securities, eurobonds etc.
– o lançamento de ações de empresas nacionais no exterior – ADR
(American Depository Receipt)
– investimento direto e dos fundos de investimento no mercado
nacional (Bolsa).
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Abertura e estabilização dos anos 90
• Anos 90 – Abertura Comercial e Financeira
• Anos 90 - Estabilização
– redução significativa das taxas de inflação
• Mas problemas e vulnerabilidades persistem:
– Crescimento econômico comprometido
– Aumento das taxas de desemprego
– Vulnerabilidade externa
– Dívida pública com trajetória ascendente

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Abertura Financeira

• Início: fim década 80, acelera nos anos


90
– liberalização cambial – ampliação da
conversibilidade da moeda nacional –
fim do mercado negro;
– Flexibilização do ingresso/saída de
recursos externos na economia
brasileira;

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Abertura Financeira
• Mecanismos
– Unificação mercado cambial – regime flutuação
– Ampliação dos limites de aquisição de divisas e
permissão para manter divisas e ativos denominados
em moeda externa
– Possibilidade de efetuar transferências e
investimentos no exterior
– Resolução 1832 - Anexo IV: permissão para
investidores estrangeiros acessarem mercado de
ações e de renda fixa brasileiros

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Abertura financeira: consequências

• Abertura financeira + elevação da taxa de juros


no Brasil = entrada de recursos externos no país
= ampliação da dívida externa nacional;
• Brasil se aproveita deste fluxo para financiar
balança de transações correntes;
• Poupança externa = crédito relativamente
barato

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Abertura financeira: consequências
• Problemas:
– Vulnerabilidade aos fluxos e Instabilidade dos
fluxos
– Efeitos contágios e transmissão das crises entre
os países
– Perda de liberdade na condução da política
interna.

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Conta Capital e Dívida Externa
Conta Capital e Dívida externa Brasil (1978 - 1999)

40 250

35
200
30

25

Divida externa
Conta Capital

150
20

15 100

10
50
5

0
0
1978 1983 1988 1993 1998
-5

-10 -50

Conta Capital Divida externa

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Pressupostos do Plano Real
• Inflação: caráter inercial – aproxima-se da
proposta Larida (reforma monetária)
• Cuidado com erros anteriores:
– Adoção gradualista ; não congelamento mas
substituição natural da moeda
– Problemas com déficit público, explosão do
crescimento, crises externas
• Contexto diferente:
– Existência de reservas, ambiente competitivo (abertura
comercial), possibilidade de financiamento externo

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O Plano Real
• Plano Real: 3 fases:
a) Ajuste fiscal prévio
• Corte de despesas (PAI), aumento de impostos (IPMF),
diminuição de transferências (FSE)
b) Indexação completa da economia URV
• URV – unidade de conta com paridade fixa com o dólar
• conversão dos preços e rendimentos
• Sistema bi-monetário, tentativa de simular efeitos de
uma hiperinflação em um moeda sem prejudicar a
outra e alcançar sincronia de preços
c) Reforma monetária – Real
• Quando preços “urvizados” troca URV por Real

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Plano Real: aspectos ortodoxos
• Plano Real em si – preocupação com aspectos
tendenciais da inflação.
• Necessário impedir que novos choques se
transformem em processos inflacionários:
– Sinalização de preocupação com controle de DA
– Metas (ancoras) monetárias
– Manutenção de juros elevados e entrada de recursos
– Ancora cambial e abertura comercial
• Na verdade existe um super ancora cambial – pois entrada
de recursos externos fez com houvesse uma valorização
cambial – principal aspecto na estabilização pós Real

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Impactos do Plano Real
• Queda rápida da inflação
– Mais lento que Cruzado
– Valorização cambial (real e nominal), entrada de recursos
externos e abertura comercial – camisa de força para preços

• Crescimento da demanda: Consumo e Investimento


– Aumento do poder aquisitivo – fim do imposto inflacionário
– Recomposição dos mecanismos de crédito
– Demanda reprimida
– Aumento do horizonte de previsão

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Inflação Mensal (%)
100,00
C
Collor 1
80,00

60,00
Real
Verão
40,00
Bresser Color 2
Cruzado
20,00

0,00

-20,00
1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997

IGP-DI mensal de Jan/85 à Abril/97

20
R$/US$

0,700
0,900
1,100
1,300
1,500
1,700
1,900
2,100
Jul/94
Out/94
Jan/95
Abr /95

Câmbio Nominal
Jul/95
Out/95
Jan/96
Abr/96
Jul/96
Out/96
Jan/97
Abr /97

Deflacionado IGP
Jul/97
Out/97
Jan/98
Abr/98
Jul/98
Out/98
Jan/99
Deflacionado IPA
Taxa de Câmbio Nominal e Deflacionada, Jul/94 a Fev/00.

Abr /99
Jul/99
Out/99
21

Jan/00
Taxa de crescimento real do PIB (1980 - 1995)

10

-2

-4

-6
1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995

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Problemas com o Plano Real: a questão externa
• Combinação apreciação cambial, abertura e
demanda aquecida - aparecimento de déficits
comerciais
• Financiamento com queima de reservas e/ou
entrada de recursos (endividamento externo)
• Brasil dois problemas:
– Pauta de importação: excesso de bens de consumo
– dificuldade com capacidade futura de pagamento
da dívida
– Entrada de capital de curto prazo

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Exportações e Importações, em US$ Milhões Acumulados Últimos 12 meses,
Jan/94 a Dez/99
65.000
60.000
55.000
50.000
45.000
40.000
35.000
30.000
25.000
20.000

abr/97
abr/95

abr/96

abr/98
jan/94
abr/94

jan/96

jan/98

abr/99
jan/95

jan/97

jan/99
jul/95

jul/96
out/94

out/95
jul/94

jul/97

jul/98
out/96

out/97

out/98
Exportações Importações

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A Crise do México
• Situação arriscada e insustentável no longo prazo:
depois das eleições
– primeiras tentativas de controle da DA
– Estanca-se a apreciação cambial e controle de entrada
de capitais
• Crise do México: fim da 1ª fase do Plano Real
– Desvalorização tímida e gradativa (risco inflacionário)
– Controle de demanda agregada:
• restrições monetárias e creditícias,
• Elevação da taxa de juros

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O Plano Real pós crise do México (1)
• Nova fase principal instrumento:
política monetária
– Conter DA e evitar déficits comerciais expressivos
– Administração da taxa de juros: conter atividade e
promover ingresso de capital
• Efeitos:
– retração da atividade econômica
– Inadimplência e crise financeira
– Crise financeira combatida com Proer e Proes

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O Plano Real pós crise do México (2)
• Juros altos e entrada de recurso mas com não
valorização cambial – ampliação de reservas
• Para evitar impacto monetário – esterilização:
ampliação da dívida pública interna, dado que não
se conseguia obter superávits fiscais
• A partir de então define-se uma trajetória de stop
and go em que os condicionantes externos dão o
ritmo da economia brasileira:
crise externa – aumento dos juros – contração econômica
alívio externo – diminuição dos juros - crescimento

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Taxa de Juros (Over/Selic), % a.a.

70,0

60,0

50,0

40,0

México

30,0

20,0
Ásia Rússia

10,0

0,0
Da crise asiática à desvalorização brasileira

• Crise asiática:
– Aumento dos juros e recomposição das reservas
– Pacote fiscal não cumprido
• Crise Russa:
– Também elevação juros e pacote fiscal, mas reservas
não se recuperam
• Dificuldades no Brasil
– Elevação dos spreads
– Sustentação cambial difícil – desvalorização eminente

29
0
10.000
20.000
30.000
40.000
50.000
60.000
70.000
Jan/93 80.000
Mai/93
Set/93
Jan/94
Mai/94
Set/94
Jan/95
Mai/95
Set/95 México

Jan/96
Mai/96
Set/96
Jan/97
Mai/97
Set/97
Jan/98
Ásia

Mai/98
Set/98
Jan/99
Reservas Internacionais, em US$ milhões, Jan/93 a Fev/00

Rússia

Mai/99
Set/99
30

Jan/00
A mudança cambial
• Depois da crise russa – desvalorização eminente: duas
ressalvas para ela ocorrer:
– Calendário eleitoral (reeleição FHC)
– Exposição do setor privado à desvalorização cambial (setor
privado com passivos em moeda externa)
• 2º semestre 1998 – preparação para desvalorização
– Pacote com o FMI
– Governo assume risco cambial (dá hedge para setor privado:
mercado futuro e à vista de dólar, dívida pública interna com
clausula cambial) – socialização dos prejuízos
• Janeiro 1999 – cambio flutuante e desvalorização

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Conseqüências da mudança cambial
• Desvalorização- riscos :
– volta da inflação - México
– contração econômica – Ásia
• Brasil adota sistema de metas inflacionárias.
– Inflação pequena elevação no curto prazo mas não permanente
– Não grande contração como Ásia
• não grande efeito patrimonial da desvalorização
• Existe alguma substituição de importações,
• recuperação do crescimento reprimido por manutenção de juros elevados
– Desvalorização permite queda da taxa de juros mas inferior ao
imaginado, juros mantidos altos em função das dificuldades
externas e da inflação

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Ainda as conseqüências da desvalorização cambial
– Setor comercial externo – recuperação lenta,
• maior sensibilidade no curto prazo ao crescimento econômico
• Também problemas com termos de troca
• Dificuldade em se recompor mecanismos exportadores
– Problema nas Finanças Públicas
• Efeitos patrimoniais da desvalorização suportada por Governo
– ampliação do endividamento público
• Para evitar explosão da dívida pública necessário geração de
superávits fiscais primários, também para compensar
pagamentos de juros
• expressivo aumento da carga tributária federal não
compartilhada e implementação da LRF

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