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TÉCNICAS PROJETIVAS

GRÁFICAS E O DESENHO
INFANTIL
Os desenhos são de grande utilidade na prática clínica.

Produção gráfica - útil tanto na investigação da personalidade quanto na prática terapêutica.

No campo do psicodiagnóstico os desenhos fornecem dados importantes. O que a linguagem


dos desenhos transmite nem sempre é reconhecido pelo sujeito, e por isso escapa a vigilância da
mente. Reflete a personalidade de modo mais fidedigno, porém seu valor diagnóstico depende da
capacidade do clínico e também da quantidade de informações objetivas disponíveis. Depende da
compreensão, experiência e habilidades do psicólogo.

Ocampo (2003) recomenda que o processo de investigação clínica comece pelas técnicas
projetivas gráficas, a menos que o paciente apresente dificuldades de cunho não psicológico para
a realização dos desenho.

Justificativa:
 provocam menos ansiedade, pois a tarefa é simples e familiar.
 baixo custo e exige pouco tempo.
 podem contribuir para desfazer as fantasias com que o paciente chegou ao exame psicológico
e contribuir para o estabelecimento de um bom rapport com o psicólogo.
 Ocampo (2003) sugere começar pelas técnicas menos “fechadas”, como o desenho livre, e aos
poucos propor técnicas mais direcionadas como o HTP.

 A análise da sequência de execução de cada desenho específico ou da qualidade global dos


desenhos em relação aos que os antecedem ou sucedem permite analisar os aspectos estruturais do
conflito e da defesa (Hammer, 1991)

 Desenhos de figuras esquemáticas ou estereotipadas revelam tentativas de controle intelectual e


consciente sobre a produção. O psicólogo pode pedir outro desenho.

 As técnicas gráficas também detectam com maior precisão os níveis de integração e dissociação da
personalidade, da qual refletem aspectos mais estáveis e mais difíceis de serem modificados.

 Do ponto de vista clínico é importante incluir na bateria outros instrumentos para confirmação dos
achados de patologias.

 O bom desempenho nas técnicas gráficas sugere bom prognóstico.

 A habilidade artística não contradiz a hipótese projetiva. Ex: Pablo Picasso, Vincent Van Gogh, Frida
Kallo.
 Além da qualificação do profissional é importante enfatizar a importância do contexto em
que os desenhos são obtidos. É fundamental um setting que possibilite a relação direta
psicólogo-examinando e que favoreça o indivíduo a se dar a conhecer.

 Para Augras (1980) o profissional deve conhecer as informações clássicas de interpretação


dos desenhos, ter uma base filosófica e um bom conhecimento do material fornecido pelos
“sistemas intuitivos” (folclore, mitos e religião).

 Trinca (1999) enfatiza o papel dos atributos pessoais do profissional, uma vez que para
compreender a dinâmica emocional inconsciente de outra pessoa é necessário usar a
própria sensibilidade e intuição. Não deve, também, perder de vista a compreensão
psicológica globalizada do indivíduo e a subordinação do processo diagnóstico ao
pensamento clínico.
A CRIANÇA E O DESENHO

A criança pequena sente prazer em desenhar, pintar e rabiscar. Quando está envolvida nesse
tipo de atividade, todo o seu corpo participa: ela se deita sobre a folha de papel, sorri, faz caretas,
mexe os pés, às vezes agita as mãos, olha para cima pensativa, etc.

A expressão gráfica tem sua origem no registro de um gesto e sua origem é casual. Ao passar o
dedo na janela embaçada, na papinha que derrubou sobre a mesa ou na areia percebe que um
gesto deixa uma marca. Começa a repetir o gesto, a experimentar novas possibilidades de registro
e a observar a marca que produz.

Não existe intenção de representar algo do mundo, mas apenas de observar os efeitos do
movimento. Portanto, não se pode ainda falar de desenho.

 Aos poucos a criança passa a experimentar o lápis, o giz de cera, a tinta. Não conseguem lidar
os limites na experimentação. Ultrapassam a folha de papel, continuam na mesa; usam as
paredes, etc.

Aos poucos, a criança se dá conta do limite do papel, das relações figura-fundo, parte-todo, e ao
prazer motor associa-se o prazer visual.
 O desenvolvimento motor modifica o comando dos movimentos. A mão deixa de guiar
os olhos e os olhos passam a comandar o movimento da mão possibilitando: traços
longos, curtos, movimentos amplos, contínuos, descontínuos, etc.

 A criança observa seus registros e os modifica ou combina. Aos poucos o desenho se


transforma em instrumento de conhecimento, pois a criança passa a desenhar o que
sabe do objeto e não o que vê dele.

 A percepção constitui a base da representação, da criação do conceito e o intercâmbio


entre percepção e representação permanece. À medida que a criança descobre novos
detalhes naquilo que vê, incorpora-os à representação, que aos poucos se enriquece.

 Memória, percepção, conceituação se entrelaçam em um processo criativo que gera um


conhecimento assimilado pelo corpo em sua totalidade.

 Ao chegar jardim de infância a maioria das crianças já dispõe de um repertório


relativamente amplo para desenhar vários objetos; costumam experimentar muito e
usar cores.
 Por volta dos seis ou sete anos, ou um pouco antes, inicia-se o processo de alfabetização.
Mais consciente de si, a criança assume uma postura crítica em relação a sua produção.

 Aos nove ou dez anos de idade, a criança está muito mais atenta aos detalhes e procura
realizar desenhos realistas. A sensação de que seus desenhos não estão corretos se
acentua.

 Aos 11-12 anos, o pré-adolescente já reluta em mostrar o que fez, pois acha seu desenho
feio. Julga as produções em boas e ruins; bonitas e feias. Conclui que não sabe desenhar.

 Para a maioria das pessoas encerram-se, nessa fase, as experimentações com o desenho.
Quando solicitadas a desenhar, anos depois, nada resta do prazer inicial que essa
atividade proporcionava.

 O progressivo empobrecimento da expressão gráfica a partir da alfabetização se deve em


grande parte a escola, visto que apresenta dados prontos aos alunos, pouco favorecendo
que a criança aprenda o mundo por si mesma. Porém, não se pode considerar o sistema
educacional a parte do sistema social.

 Pelo fato de a criança estar integralmente em tudo o que faz é que seus desenhos refletem
 Di Leo (1991) defende que a mensagem transmitida pelo que foi produzido será captada mais
adequadamente se o desenho for considerado como um todo. A apreciação global é o
indicador mais válido, uma vez que o significado simbólico dos detalhes aparecerá mais
claramente apenas na adolescência e na idade adulta.

 Atenção especial aos detalhes deverá ser dada quando muitos deles apontarem em uma
mesma direção, o que nem sempre é claramente perceptível em um único desenho.

 Além da impressão geral provocada pela produção, no desenho da figura humana merecem
atenção a cabeça, os olhos, as mãos e os pés, ou seja, as partes do corpo que têm um papel
relevante no que tange a inserção da crianças nos relacionamentos.

 Para conhecer a criança por meio de seus desenhos é preciso interpretá-los individualmente,
no que têm de singular: a atmosfera do desenho, a harmonia dos elementos, o tom emocional
da produção e das personagens representadas.

 Informações de várias fontes, inclusive da observação permitirão uma visão mais abrangente
da criança, do mundo em que ela vive e do modo como ela se relaciona com o ambiente e
como se posiciona frente a ele.
Referências:

Augras, Monique. A dimensão simbólica: o simbolismo nos testes psicológicos. Petrópolis: Vozes, 1980.

Di Leo, Joseph H. A interpretação do desenho infantil. Porto Alegre: Artes Médicas, 1991.

Hammer, Emmanuel. Aplicações clínicas dos desenhos projetivos. São Paulo: Casa do psicólogo, 1991.

Ocampo, Maria Luisa Siquier e colaboradores. O processo psicodiagnóstico e as técnicas projetivas. São Paulo:
Martins Fontes, 2003.

Trinca, Walter. Psicanálise e expansão da consciência: apontamentos para o novo milênio. São Paulo; Vetor: 1999.

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