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GRÁFICAS E O DESENHO
INFANTIL
Os desenhos são de grande utilidade na prática clínica.
Ocampo (2003) recomenda que o processo de investigação clínica comece pelas técnicas
projetivas gráficas, a menos que o paciente apresente dificuldades de cunho não psicológico para
a realização dos desenho.
Justificativa:
provocam menos ansiedade, pois a tarefa é simples e familiar.
baixo custo e exige pouco tempo.
podem contribuir para desfazer as fantasias com que o paciente chegou ao exame psicológico
e contribuir para o estabelecimento de um bom rapport com o psicólogo.
Ocampo (2003) sugere começar pelas técnicas menos “fechadas”, como o desenho livre, e aos
poucos propor técnicas mais direcionadas como o HTP.
As técnicas gráficas também detectam com maior precisão os níveis de integração e dissociação da
personalidade, da qual refletem aspectos mais estáveis e mais difíceis de serem modificados.
Do ponto de vista clínico é importante incluir na bateria outros instrumentos para confirmação dos
achados de patologias.
A habilidade artística não contradiz a hipótese projetiva. Ex: Pablo Picasso, Vincent Van Gogh, Frida
Kallo.
Além da qualificação do profissional é importante enfatizar a importância do contexto em
que os desenhos são obtidos. É fundamental um setting que possibilite a relação direta
psicólogo-examinando e que favoreça o indivíduo a se dar a conhecer.
Trinca (1999) enfatiza o papel dos atributos pessoais do profissional, uma vez que para
compreender a dinâmica emocional inconsciente de outra pessoa é necessário usar a
própria sensibilidade e intuição. Não deve, também, perder de vista a compreensão
psicológica globalizada do indivíduo e a subordinação do processo diagnóstico ao
pensamento clínico.
A CRIANÇA E O DESENHO
A criança pequena sente prazer em desenhar, pintar e rabiscar. Quando está envolvida nesse
tipo de atividade, todo o seu corpo participa: ela se deita sobre a folha de papel, sorri, faz caretas,
mexe os pés, às vezes agita as mãos, olha para cima pensativa, etc.
A expressão gráfica tem sua origem no registro de um gesto e sua origem é casual. Ao passar o
dedo na janela embaçada, na papinha que derrubou sobre a mesa ou na areia percebe que um
gesto deixa uma marca. Começa a repetir o gesto, a experimentar novas possibilidades de registro
e a observar a marca que produz.
Não existe intenção de representar algo do mundo, mas apenas de observar os efeitos do
movimento. Portanto, não se pode ainda falar de desenho.
Aos poucos a criança passa a experimentar o lápis, o giz de cera, a tinta. Não conseguem lidar
os limites na experimentação. Ultrapassam a folha de papel, continuam na mesa; usam as
paredes, etc.
Aos poucos, a criança se dá conta do limite do papel, das relações figura-fundo, parte-todo, e ao
prazer motor associa-se o prazer visual.
O desenvolvimento motor modifica o comando dos movimentos. A mão deixa de guiar
os olhos e os olhos passam a comandar o movimento da mão possibilitando: traços
longos, curtos, movimentos amplos, contínuos, descontínuos, etc.
Aos nove ou dez anos de idade, a criança está muito mais atenta aos detalhes e procura
realizar desenhos realistas. A sensação de que seus desenhos não estão corretos se
acentua.
Aos 11-12 anos, o pré-adolescente já reluta em mostrar o que fez, pois acha seu desenho
feio. Julga as produções em boas e ruins; bonitas e feias. Conclui que não sabe desenhar.
Para a maioria das pessoas encerram-se, nessa fase, as experimentações com o desenho.
Quando solicitadas a desenhar, anos depois, nada resta do prazer inicial que essa
atividade proporcionava.
Pelo fato de a criança estar integralmente em tudo o que faz é que seus desenhos refletem
Di Leo (1991) defende que a mensagem transmitida pelo que foi produzido será captada mais
adequadamente se o desenho for considerado como um todo. A apreciação global é o
indicador mais válido, uma vez que o significado simbólico dos detalhes aparecerá mais
claramente apenas na adolescência e na idade adulta.
Atenção especial aos detalhes deverá ser dada quando muitos deles apontarem em uma
mesma direção, o que nem sempre é claramente perceptível em um único desenho.
Além da impressão geral provocada pela produção, no desenho da figura humana merecem
atenção a cabeça, os olhos, as mãos e os pés, ou seja, as partes do corpo que têm um papel
relevante no que tange a inserção da crianças nos relacionamentos.
Para conhecer a criança por meio de seus desenhos é preciso interpretá-los individualmente,
no que têm de singular: a atmosfera do desenho, a harmonia dos elementos, o tom emocional
da produção e das personagens representadas.
Informações de várias fontes, inclusive da observação permitirão uma visão mais abrangente
da criança, do mundo em que ela vive e do modo como ela se relaciona com o ambiente e
como se posiciona frente a ele.
Referências:
Augras, Monique. A dimensão simbólica: o simbolismo nos testes psicológicos. Petrópolis: Vozes, 1980.
Di Leo, Joseph H. A interpretação do desenho infantil. Porto Alegre: Artes Médicas, 1991.
Hammer, Emmanuel. Aplicações clínicas dos desenhos projetivos. São Paulo: Casa do psicólogo, 1991.
Ocampo, Maria Luisa Siquier e colaboradores. O processo psicodiagnóstico e as técnicas projetivas. São Paulo:
Martins Fontes, 2003.
Trinca, Walter. Psicanálise e expansão da consciência: apontamentos para o novo milênio. São Paulo; Vetor: 1999.