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Faculdade Multivix – Cachoeiro de

Itapemirim
Graduação em Medicina: P3 – M2

Componente Temático:
Atenção Primária à Saúde

Francisco Senna de Oliveira Neto


Médico de Família e Comunidade e Médico do Trabalho
Mestre em Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente
Doutor em Ciências Biomédicas
Prevenção do sobrediagnóstico: como parar de causar
danos às pessoas saudáveis?
Com qual nível de prevenção encontra-se relacionada a
temática do sobrediagnóstico?

a) Prevenção primária
b) Prevenção secundária
c) Prevenção terciária
d) Prevenção quaternária
Com qual nível de prevenção encontra-se relacionada a
temática do sobrediagnóstico?

a) Prevenção primária
b) Prevenção secundária
c) Prevenção terciária
d) Prevenção quaternária
É uma condição relacionada à prevenção quaternária:

a) Promover o diagnóstico precoce.


b) Reabilitação do paciente
c) Excesso de intervencionismo médico
d) Tratamento imediato
É uma condição relacionada à prevenção quaternária:

a) Promover o diagnóstico precoce.


b) Reabilitação do paciente
c) Excesso de intervencionismo médico
d) Tratamento imediato
É situação que pode incorrer em um sobrediagnóstico:

a) Fazer o diagnóstico de uma doença


b) Encaminhar o paciente a um especialista
c) Seguir o protocolo clínico para Diabetes mellitus
d) Realizar programas amplos de rastreamento
É situação que pode incorrer em um sobrediagnóstico:

a) Fazer o diagnóstico de uma doença


b) Encaminhar o paciente a um especialista
c) Seguir o protocolo clínico para Diabetes mellitus
d) Realizar programas amplos de rastreamento
Sobrediagnóstico

O sobrediagnóstico é uma das muitas faces da medicalização da


sociedade.

Está intrinsecamente relacionado às atividades médicas preventivas,


particularmente as envolvidas no rastreamento.
Diagnóstico X Sobrediagnóstico

O diagnóstico pode ser definido como a classificação dada por um médico


a uma enfermidade ou estado fisiológico, com base na anamnese e na
observação de sintomas e de exames diversos. O sobrediagnóstico ocorre
quando pessoas sem sintomas são diagnosticadas por meio de um
simples achado de imagem ou de laboratório que a princípio não
acarretaria sintomas ou danos.

Um erro diagnóstico implica algum tipo de engano ao nível do médico. O


sobrediagnóstico ocorre quando os médicos aplicam regras
amplamente aceitas de definições de doenças e diagnósticos – e as
pessoas terminam com um “rótulo de doença” que não irá ajudá-las.
Condições
-Avanços em tecnologias biomédicas,
-testes e imagens cada vez mais sensíveis,
-programas de rastreamentos amplos,
-a cultura de testes excessivos e desnecessários,
-a própria definição de doença.....
são apenas alguns potenciais culpados.

“Médicos e ‘consumidores’ estão ficando


presos em uma fantasia de que “todas as
pessoas têm algo de errado e de que todo
mundo pode ser curado”.
Conceituando Sobrediagnóstico
Condição que nunca teria sido conhecida ou nunca causaria prejuízos ao
paciente se não tivesse sido encontrada.

Uma condição que nunca prejudicaria o paciente se permanecesse não


diagnosticada, mas seu diagnóstico poderá causar prejuízos na forma de
tratamentos desnecessários, rotulação, sofrimento psíquico e perda de
tempo e dinheiro.

Diagnóstico de uma “doença” que nunca causaria sintomas ou morte


durante a vida de um paciente

“Doença” por sua definição fisiopatológica, mas que não se tornaria


clinicamente aparente e, portanto, não causaria nenhum sintoma ou
dano.

Tende a perpetuar as atividades que os engendraram, pois o


prognóstico das pessoas detectadas com sobrediagnóstico é, por
definição, excelente (viés de tempo ganho e viés de tempo de
duração) o que produz uma sensação de eficácia e necessidade.
Conceituando
Sobrediagnóstico

Pseudo-doença, uma condição cujo diagnóstico só produz prejuízos.

Transforma as pessoas em pacientes desnecessariamente, produzindo


ansiedade e outras consequências negativas da rotulação

Também resulta em desperdício de recursos e efeitos colaterais devido a


uma cascata de testes confirmatórios adicionais e tratamentos
desnecessários
Conceituando
Sobrediagnóstico
O sobrediagnóstico é diferente de um resultado de teste falso positivo e,
na maioria das vezes, ocorre no contexto de rastreamento de pessoas
assintomáticas, mas também pode ocorrer em pessoas sintomáticas, seja
em virtude da medicalização de experiências de vida cotidiana
(mercantilização de doenças) ou como consequência de achados
incidentais durante a investigação de alguma outra condição de saúde.

Outra forma de entender o sobrediagnóstico é considerá-lo um


“diagnóstico injustificado” ou “ rotular uma pessoa desnecessariamente
com uma doença”.
O que pode causar?
Fatores culturais:

Uma causa importante é a crença disseminada em relação aos cuidados de saúde


de que “quanto mais, melhor”, de que o novo é melhor, junto com uma
profunda crença nos benefícios do diagnóstico precoce – o que não se modificou,
apesar da conscientização de que a detecção precoce funciona como uma “faca
de dois gumes”.

A experiência da celebridade Angelina Jolie, com sua mastectomia preventiva,


reforçou a fé profunda no poder da detecção precoce. Combinada com essa fé
está a intolerância em relação às incertezas, o que pode levar a buscar um
excesso de informações que algumas vezes pode ser desnecessário e prejudicial.

Outro fator importante é a mudança cultural mais ampla na direção da


medicalização cada vez maior da vida diária, assim como os relatos distorcidos da
mídia, os quais tendem, muitas vezes, a exagerar os benefícios das intervenções
médicas e a minimizar seus danos.
O que pode causar?
Fatores relacionados ao sistema de saúde:

Os incentivos financeiros dentro dos sistemas de saúde costumam levar a


cuidados desnecessários quando médicos ou hospitais são remunerados
financeiramente para atender mais pacientes, realizar mais exames e/ou indicar
mais tratamentos.

Além disso, algumas medidas de qualidade também têm sido criticadas por
levarem a cuidados desnecessários.

Outros aspectos do sistema de saúde que podem desencadear o problema


incluem alguns programas de rastreamento, alguns aspectos das diretrizes
clínicas e a complexidade e fragmentação dos cuidados.

Uma das causas mais importantes é a expansão nas definições de doenças – o


que tem cada vez mais colocado rótulos de doença em pessoas previamente
saudáveis, com os exemplos incluindo a criação de “pré-doenças”, como a pré-
hipertensão, o pré-diabetes, a pré-osteoporose e a pré-demência.
O que pode causar?
Fatores relacionados à indústria e à tecnologia:
É provável que o principal fator causador do sobrediagnóstico seja a maneira
como os novos testes diagnósticos ficaram tão sensíveis a ponto de detectarem
“anormalidades” que parecem patologias genuínas, mas que, na verdade, são
benignas.
O desejo da indústria de promover novas tecnologias diagnósticas e de expandir
os mercados de pessoas rotuladas como doentes também é visto por alguns
autores como sendo muito relevante.

Fatores profissionais:
O medo de litígio que os médicos têm costuma ser citado na literatura como uma
das causas para “fazer demais”, para fazer diagnósticos ou prescrever
tratamentos que podem ser desnecessários. Relacionado com isso está o
profundo medo – compartilhado por médicos e pacientes – de deixar de fazer um
diagnóstico que pode vir a ser grave ou até fatal.
Outras causas são as falhas na educação e no treinamento dos médicos, a falta
de confiança ou de conhecimento em relação aos danos causados pelo
sobrediagnóstico e uma consequente dependência exagerada dos testes
diagnósticos.
O que pode causar?

Fatores relacionados aos pacientes e ao público:

Como no domínio profissional, a literatura sugere que muitos pacientes confiam


demais nos exames e não têm confiança ou conhecimento em relação aos danos
potenciais do sobrediagnóstico.

Outro fator que leva a ele é a expectativa percebida de que os médicos irão “fazer
alguma coisa”, em vez de “não fazerem nada”.
Resumindo...
Resumindo...
Câncer de próstata:

Em 2012, a influente organização United States Preventive Services Task Force


(USPTSF) publicou seu relato basedo em evidências acumuladas em relação ao
rastreamento para câncer de próstata, recomendando que não se faça o
rastreamento e concluindo que o sobrediagnóstico é um dano potencial
importante do rastreamento. Essa força-tarefa financiada por recursos públicos
concluiu que havia “evidências convincentes de que o rastreamento com base no
antígeno prostático específico (PSA) leva ao sobrediagnóstico substancial de
tumores de próstata”, com as estimativas variando de 17 a 50%.

Em 2017, a USPTSF mudou sua recomendação de contrária para todos os


homens para uma recomendação contrária em homens com mais de 70 anos,
recomendando que os homens com idade entre 55 e 69 anos sejam informados
dos riscos e dos benefícios, declarando que:
A decisão de submeter-se ao rastreamento para câncer de próstata deve ser
individualizada. O rastreamento oferece um pequeno benefício potencial para
redução das chances de morrer por câncer de próstata. Porém, muitos homens
experimentarão danos potenciais com o rastreamento, incluindo resultados
falso-positivos que necessitam de exames adicionais e de possível biópsia
prostática, sobrediagnóstico e sobretratamento, além de complicações do
tratamento, como incontinência e impotência.
Intervenções...

Uma possível ação para reduzir o uso excessivo de intervenções


médicas, o sobrediagnóstico e os excessos de tratamento é focar
no cuidado de pessoas doentes e deixar os saudáveis em paz.

Estratégias preventivas deveriam ser levadas a cabo com


estratégias populacionais (principalmente com práticas de
promoção de saúde e ações intersetoriais) e não com estratégias
de pseudo-alto risco
Uso racional de tecnologias

O uso racional das tecnologias médicas deve centrar-se na garantia de


acesso aos que realmente lograrão benefícios e na proteção dos que
não precisam ser expostos a riscos decorrentes desse uso.

Trata-se, em suma, de ofertar recursos a quem realmente será


beneficiado e de garantir o acesso a eles.

Evitar os excessos propiciará acesso aos potenciais usuários.

É necessário, portanto, dosar acesso e excesso.


Bioética e Sobrediagnóstico

No campo da bioética, o sobrediagnóstico tem claras implicações nos


princípios de justiça, beneficência e não maleficência. Os sistemas de
saúde têm a obrigação ética de ampliar ao máximo os benefícios e
reduzir ao mínimo os danos ou prejuízos. Suas ações devem basear-se
na justiça, na promoção da igualdade de oportunidades, no primado da
eficiência, na oferta de serviços de qualidade e no aumento do número de
acessos e do grau de cobertura dos serviços.

Conforme prescreve o Código de Ética Médica e outras normativas do


Conselho Federal de Medicina, na relação com os pacientes é vedado ao
médico exagerar a gravidade do diagnóstico ou do prognóstico,
complicar a terapêutica ou exceder-se no número de visitas, consultas
ou quaisquer outros procedimentos médicos.
E D U C A ÇÃ O S UPERIO R

Obrigado!
cenna@terra.com.br
ACON
"O sobrediagnóstico existe desde que há diagnóstico; portanto, não é algo
propriamente novo. Porém, o conceito, sim, é novo, porque nasce da epidemiologia,
disciplina que se consagrou ao longo da segunda metade do século XX. Além disso, os
dados ficaram mais consistentes nos últimos anos com o uso, às vezes indiscriminado,
de exames diagnósticos" (GUSSO, 2014). 

Qual a melhor definição de sobrediagnóstico?

A - Diagnóstico de problemas cujo valor preditivo positivo é baixo em virtude da


prevalência.

B - Diagnóstico de problemas que não causaram sintomas ou levaram à morte.

C - Diagnóstico de problemas que, de fato, não existem.

D - Diagnóstico de problemas que não têm risco de progredir.


"O sobrediagnóstico existe desde que há diagnóstico; portanto, não é algo
propriamente novo. Porém, o conceito, sim, é novo, porque nasce da epidemiologia,
disciplina que se consagrou ao longo da segunda metade do século XX. Além disso, os
dados ficaram mais consistentes nos últimos anos com o uso, às vezes indiscriminado,
de exames diagnósticos" (GUSSO, 2014). 

Qual a melhor definição de sobrediagnóstico?

A - Diagnóstico de problemas cujo valor preditivo positivo é baixo em virtude da


prevalência.

B - Diagnóstico de problemas que não causaram sintomas ou levariam à morte.

C - Diagnóstico de problemas que, de fato, não existem.

D - Diagnóstico de problemas que não têm risco de progredir.


Incorreta a alternativa A, porque o Valor Preditivo Positivo (VPP) é uma propriedade
dos testes diagnósticos. O VPP é a probabilidade de o indivíduo estar realmente
doente, quando o resultado do teste é positivo. Quando a prevalência da doença é
baixa, o VPP é baixo.

Correta a alternativa B, sem ressalvas.

Incorreta a alternativa C, porque seria o diagnóstico de problemas que existem, mas


que não causariam queixas clínicas nem conduziriam à morte.

Incorreta a alternativa D, porque os problemas diagnosticados não progrediriam a


ponto de causar sintomas ou causar a morte da pessoa, mas isso não quer dizer que
não possa haver qualquer progressão clinicamente irrelevante.

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