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I.

Epistemologia
3. René Descartes, a resposta racionalista
Do cogito à
existência de
Deus

I. Epistemologia
3. René Descartes, a resposta racionalista
3. René Descartes, a resposta racionalista

Aprendizagens Essenciais
 Clarificar os conceitos nucleares, as
teses e os argumentos da teoria
racionalista (Descartes) enquanto
resposta ao problema da
possibilidade e da origem o
conhecimento.

Pormenor do mural de Ernest Zacharevic, Boy


on a chair, Leboh Cannon, Malásia, 2015.
3. René Descartes, a resposta racionalista

Do cogito à existência de Deus


Depois disso, considerei em geral o que é indispensável a uma
proposição para ser verdadeira e certa; porque, como
acabava de achar uma que conhecia como tal, pensei que
devia saber também em que consiste essa natureza. E tendo
notado que no eu penso; logo, existo, não há nada que me
garanta que digo a verdade a não ser que vejo muito
claramente que, para pensar, é preciso existir, julguei que
podia tomar como regra geral que as coisas que concebemos
muito clara e distintamente são todas verdadeiras (…).
René Descartes (1991). Discurso do método. Edições 70, pp. 73-74.
3. René Descartes, a resposta racionalista

Do cogito à existência de Deus

Por que razão está Descartes tão seguro da


certeza do cogito? O que faz com que o
cogito seja invulnerável à dúvida? Qual é a
chave da indubitabilidade do sujeito que
pensa? O filósofo responde: o facto de o
cogito ser percebido com clareza e distinção.
3. René Descartes, a resposta racionalista

Do cogito à existência de Deus


Um critério de verdade – Clareza e distinção

• A descoberta da existência do sujeito que pensa, do cogito,


acontece não por inferência a partir de outras crenças ou
conhecimentos, mas por intuição racional ou intelectual, isto é,
por conhecimento direto e imediato, sem qualquer raciocínio e
sem qualquer dúvida.
3. René Descartes, a resposta racionalista

Do cogito à existência de Deus


Um critério de verdade – Clareza e distinção

• O cogito é uma evidência, algo que é presente e manifesto a


qualquer espírito atento e que, à luz da razão, percebemos de
modo preciso, nítido, com toda a clareza e distinção.
• Daqui, Descartes extrai o seu critério de verdade:

• É verdade tudo aquilo que concebemos muito clara e


distintamente.
3. René Descartes, a resposta racionalista

Do cogito à existência de Deus


Um critério de verdade – Clareza e distinção

• O cogito é uma verdade clara e distinta (evidente).


• O cogito é uma verdade absolutamente primeira.
• O cogito é uma verdade exclusivamente racional.
• O cogito é uma verdade autojustificada a priori.
• O cogito é uma crença básica ou fundacional.
• O cogito resiste aos argumentos céticos.
• O ceticismo global foi refutado.
3. René Descartes, a resposta racionalista

Do cogito à existência de Deus


Dualismo cartesiano

• O que sou eu? Sou apenas uma coisa pensante (res cogitans),
uma substância mental, cuja essência é pensar.
• Por oposição ao cogito, cuja existência é absolutamente inegável,
o seu corpo, a coisa extensa (res extensa), o mundo físico ou
substância material continua a ser dubitável.
3. René Descartes, a resposta racionalista

Do cogito à existência de Deus


Res cogitans (coisa pensante)
Mente Substância mental (imaterial)
Dualismo de Indubitável
substâncias ou
dualismo cartesiano Res extensa (coisa extensa)
Corpo Substância física (material)
Dubitável
3. René Descartes, a resposta racionalista

Do cogito à existência de Deus


Três tipos de ideias

• Ao examinar a sua mente (ou


pensamento), Descartes
encontra três tipos distintos de
ideias.
3. René Descartes, a resposta racionalista

Do cogito à existência de Deus


Parecem fazer parte desde sempre da sua
Inatas própria natureza (ideias de pensamento ou de
verdade).

Aparentam ter sido adquiridas através dos


Ideias Adventícias
sentidos (ideias de sol ou de calor).

São invenções forjadas pela imaginação (ideias


Factícias
de sereia e de hipogrifo).
3. René Descartes, a resposta racionalista

Do cogito à existência de Deus

Ainda que perceba de forma evidente que


possui um corpo e que o mundo físico é real,
que há um sol e que este é fonte de calor,
que garantia tem de que o que concebe
como claro e distinto é de facto
absolutamente verdadeiro?
3. René Descartes, a resposta racionalista

Do cogito à existência de Deus


Três tipos de ideias

• Para poder prosseguir,


Descartes terá de afastar a
possibilidade de um deus
enganador e provar que aquilo
que conhece com clareza e
distinção é absolutamente
verdadeiro.
3. René Descartes, a resposta racionalista

Do cogito à existência de Deus


Decidido a encontrar algo ou alguém exterior
à sua mente que possa cumprir o papel de
garante da possibilidade de verdades
indubitáveis, Descartes vai procurar
comprovar a existência de um Deus
omnipotente, omnisciente e inteiramente
bom.
3. René Descartes, a resposta racionalista

Do cogito à existência de Deus


Provas da existência de Deus

• As duas provas que se seguem


são baseadas exclusivamente na
razão (a priori, portanto).
Ambas têm como ponto de
partida uma mesma premissa:
ter em si uma ideia de perfeição
ou a ideia de um ser perfeito.
3. René Descartes, a resposta racionalista

Do cogito à existência de Deus

Argumento da marca impressa


Este é um argumento a priori que se apoia
na ideia de causalidade.
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Do cogito à existência de Deus


Argumento da marca impressa

• Enquanto coisa pensante, Descartes sabe que duvida. Se duvida,


não é um ser perfeito. Contudo, encontra em si a ideia de
perfeição. Esta ideia implicará uma causa, e a causa não pode ser
o próprio sujeito pensante. De onde lhe terá, então, surgido a
ideia de perfeição? A resposta, acredita Descartes, só pode estar
num ser cuja natureza e realidade objetivas sejam tão perfeitas
quanto a própria ideia de perfeição – a coisa perfeita e infinita,
Deus.
3. René Descartes, a resposta racionalista

Do cogito à existência de Deus

Argumento da marca impressa


Deus é ou existe e imprimiu na mente do
filósofo a ideia de perfeição como uma marca
inata da ação do artista na sua obra.
3. René Descartes, a resposta racionalista

Do cogito à existência de Deus

Argumento ontológico
Este é um argumento a priori que se apoia
na definição de Deus – ser perfeito.
3. René Descartes, a resposta racionalista

Do cogito à existência de Deus


Argumento ontológico

• Deus define-se como o ser mais perfeito que é possível imaginar,


um ser que possui todas as perfeições. A existência é,
forçosamente, um dos aspetos desta perfeição. Um ser perfeito
não seria perfeito caso não existisse, pois faltar-lhe-ia uma das
condições necessárias da perfeição. Por conseguinte, se Deus é
perfeito, Deus tem de existir na realidade, Deus é ou existe.
3. René Descartes, a resposta racionalista

Do cogito à existência de Deus

Argumento ontológico
Deus é ou existe.
3. René Descartes, a resposta racionalista

Do cogito à existência de Deus

Deus não é enganador


O que nos autoriza a afirmar que este ser
perfeito – Deus – não é enganador? A infinita
bondade divina, incluída na sua perfeição,
afirma Descartes.
3. René Descartes, a resposta racionalista

Do cogito à existência de Deus


Deus não é enganador
(P1) Um ser sumamente perfeito tem todas
as perfeições.
(P2) A bondade é uma perfeição.
(C) Logo, Deus que é perfeito não pode ser
enganador.
3. René Descartes, a resposta racionalista

Do cogito à existência de Deus


Deus como garante epistemológico

• Deus – ideia inata impressa no cogito como uma marca do


criador na criatura e, simultaneamente, entidade exterior à sua
mente, cuja justificação se encontra na clareza e distinção com
que é descoberto – garante que aquilo que é concebido como
evidente, como claro e distinto, é necessariamente verdadeiro.
3. René Descartes, a resposta racionalista

Do cogito à existência de Deus


O mundo físico existe

O cogito O mundo
Deus existe
existe físico existe
3. René Descartes, a resposta racionalista

Do cogito à existência de Deus


Deus como garante epistemológico

• Deus suporta todo o sistema cartesiano e garante a possibilidade


de construir conhecimento substancial (crenças verdadeiras
justificadas) sobre o mundo (refutação do ceticismo).

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