Você está na página 1de 48

Aula nº 15 - A Ordem do Hospital na Idade Média

Universidade Sénior de Esmoriz


O CONTEXTO DA FUNDAÇÃO

• Compreendida entre 1096 e 1099, a Primeira Cruzada lançada pelo Papa Urbano II
conquista aos muçulmanos os lugares sagrados.

• As forças cristãs lideradas por Godofredo de Bulhão, Raimundo de Toulouse,


Boemundo e Roberto da Flandres tomaram Jerusalém aos muçulmanos em 1099.
Pelo caminho, vencem os turcos e os fatímidas do Egipto.

• Outras regiões como Antioquia, Edessa e Tripoli foram igualmente capturadas


pelos cruzados.
A conquista de Jerusalém pelos
cruzados em 1099
A FUNDAÇÃO DA ORDEM DO HOSPITAL

• Em 1048, alguns ricos mercadores de Amalfi compraram a permissão de construir em Jerusalém, perto
do Santo Sepulcro, um mosteiro do rito latino e um hospital para acolher os peregrinos pobres e
doentes. A eles ajuntaram uma igreja sob o nome de Santa Maria, a Latina.

• Gerard Tum (1040-1120), considerado como o grande impulsionador da Ordem, viveu o sucesso da
Primeira Cruzada e impulsionou, ainda mais, o apoio aos doentes na recém-conquistada Jerusalém entre
1099 e 1113.

• O Papa Pascoal II aprovou a fundação e os estatutos da Ordem do Hospital com a Bula de 15 de


Fevereiro de 1113 e colocou-a sob a égide da Igreja, concedendo-lhe o direito de eleger livremente os
seus superiores sem interferência de outras autoridades seculares ou religiosas,
O Papa Pascoal II aprovou os estatutos
da Nova Ordem em 1113

Gerard de Tum,
considerado por
muitos como o
fundador da Ordem
FUNÇÕES DA ORDEM DO HOSPITAL

• A Ordem do Hospital, também conhecida como Ordem de São João de Jerusalém, e mais
tarde como Ordem de Malta, contemplava o cumprimento das seguintes missões:

- Prestar assistência aos peregrinos doentes que se deslocavam até à Terra Santa. Velar pelos
pobres e doentes (esta primeira missão era a vocacional).
- Praticar a fé cristã, estando sujeitos a três votos monásticos: pobreza, castidade e obediência
- Assegurar a defesa militar dos peregrinos e cristãos, vigiando centros médicos e estradas
principais. Ganhará, com tempo, uma vocação militar, juntando-se aos templários na defesa
dos territórios cristãos.
A EXPANSÃO DA ORDEM DO HOSPITAL

• Nos tempos posteriores à sua fundação, a atuação da Ordem do Hospital não se confinaria
apenas à Terra Santa, expandindo-se também na Europa, onde recebeu a doação de
propriedades e privilégios que fomentaram a sua instalação nesses reinos.

• A Ordem do Hospital surge em Portugal, ainda nos inícios do século XII. Os hospitalários
terão, no nosso país, importantes comendas em Leça do Bailio, Belver, Crato, Proença-a-
Nova, Amieira, etc.
Mosteiro da Flor da Rosa –
Crato, propriedade histórica dos
hospitalários
As Comendas da Ordem do
Hospital na Europa por volta do
ano de 1300
Propriedades da Ordem
do Hospital na Terra
Santa/Palestina em 1146
1- CARÁCTER ASSISTENCIAL

• A Ordem do Hospital prestava acompanhamento médico dos doentes e dos pobres,


definia o regime alimentar adequado, cuidava do corpo e da alma (recebiam os
sacramentos cristãos) daqueles que necessitavam de auxílio, asseguravam vestimentas aos
que mais necessitavam, distribuíam pão pelos bairros mais carenciados.

• A Ordem do Hospital contava com médicos (falta saber se pertenceriam ou não à Ordem,
ou se eram requisitados), enfermeiros/protetores dos doentes (prestavam cuidados
contínuos) e despenseiros (responsáveis pela divisão da comida).
I. CARÁCTER ASSISTENCIAL

• As suas casas parecem evoluir de locais apenas de descanso destinados a peregrinos para
verdadeiros locais de cura de doentes, sempre seguindo a sua missão original assistencial.

• Havia todo um conjunto de procedimentos que norteavam os freires desde o momento da receção
dos pobres, dos carenciados e dos peregrinos até aquele que poderemos considerar o último reduto
da assistência, consubstanciado no sepultamento.

• Além de prestar assistência primordial a peregrinos, pobres, irá alargar os seus procedimentos
assistenciais a órfãos, viúvas e outros doentes.
“Em 1170, Raimundo de Baux deixa à Ordem o castelo de Lage; entre outros bens que doa,
deixa um moinho e um forno aos freires Piedro e Raimundo Berenguer para que o seu
rendimento fosse para entre outras coisas vestir 50 pobres”.

(Leia-se: HENRIQUES, Tatiana - A Assistência da Ordem do Hospital: práticas,


intervenientes e destinatários (sécs. XII-XIV)
“Em 1189, Ricardo Coração de Leão, rei de Inglaterra, confirma uma doação feita por
Henrique bispo de Winchester, na qual havia sido doada uma série de possessões aos,
hospitalários de Santa Cruz por estes fazerem serviços de caridade a treze, pobres e doentes,
fornecendo-lhes pão, três vezes ao, dia, ou mais, mediante a necessidade da sua doença”

(Leia-se: HENRIQUES, Tatiana - A Assistência da Ordem do Hospital: práticas,


intervenientes e destinatários (sécs. XII-XIV)
“Os hospitalários, como depois ficariam conhecidos, geriam boa parte dos hospitais na
Terra Santa e começaram inclusive a construir outros na Europa, sendo um dos primeiros
em Utrecht (Utreque) em 1122. O hospital em Jerusalém era, é claro, o mais famoso, já que
o seu edifício de 75 por 40 metros (250 por 130 pés) poderia acomodar mais de 1.000
pacientes” (worldhistory.org)
A proteção dos peregrinos até à
Terra Santa era uma missão dos
hospitalários
Ruínas do Grande Hospital da
Ordem em Jerusalém
II. A PRÁTICA DA FÉ CRISTÃ

• Como qualquer ordem monástica, os freires hospitalários tinham que prestar um culto
cristão diário nos seus aposentos.

• Estavam sujeitos aos votos de pobreza, castidade e obediência.

• Ouviam eucaristias, cumpriam os sacramentos e os procedimentos religiosos, sempre


assumindo uma disciplina rigorosa.
Um freire hospitalário
reza em Rhodes
III- A FUNÇÃO MILITAR

• Apesar de não se encontrarem inicialmente vocacionados para as funções militares, dada a


necessidade de recursos para os exércitos cristãos do Oriente, os hospitalários viriam a assumir
também funções militares.

• Começaram a realizar treinos militares, de forma a prepararem-se para o campo da batalha.

• Chegaram a controlar algo em torno de 25 castelos no Médio Oriente (o mais importante foi o Krak
des Chevaliers), muitos dos quais guarneciam importantes áreas costeiras e rotas terrestres.
Também viriam a fazê-lo na Europa.
III- A FUNÇÃO MILITAR

• Os hospitalários participaram em diversas batalhas das cruzadas e no Médio Oriente,


nomeadamente na batalha de Hattin (1187, onde perdem quase toda a sua força diante de
Saladino), no cerco de Acre e no enfrentamento campal de Arsuf (ao lado de Ricardo
Coração de Leão, rei de Inglaterra, no âmbito da Terceira Cruzada, 1189-1192) e na
defesa “inglória” diante do avanço implacável dos mamelucos egípcios na segunda
metade do século XIII.
Muitos combatentes templários e
hospitalários perderam a vida na batalha de Hospitalários a
Hattin (1187) defender uma
fortaleza
Krak des Chevaliers, o castelo
quase “inexpugnável” que os
hospitalários possuíram. Hoje
fica na Síria.
OUTRAS CURIOSIDADES

• A Ordem do Hospital que era liderada por um Grão-Mestre e contemplava uma hierarquia
interna, onde se encontravam igualmente condestáveis, almirantes, mestres escudeiros,
cavaleiros, porta-estandarte, monges, priores, tesoureiros e aqueles que prestavam as
funções assistenciais.

• A Ordem cresceu financeiramente graças a doações e privilégios que receberam da parte


de reis, nobres e da própria igreja.
O ABANDONO DA TERRA SANTA (1291)

• Se a Primeira Cruzada foi um sucesso, a verdade é que a resistência dos muçulmanos


intensificou-se no final do século XII, e durante o século XIII.

• Em 1244, os cruzados perdem definitivamente Jerusalém que tinha sido recuperada por
um acordo diplomático na Sexta Cruzada.

• Com a perda total dos territórios cristãos na Terra Santa em 1291, devido ao avanço
terrível dos mamelucos do Egipto, a Ordem do Hospital teve que procurar uma nova sede
até porque Jerusalém e São João de Acre, outrora grandes cidades e capitais dos estados
cruzados, estavam agora novamente nas mãos dos muçulmanos.
Os Mamelucos do Egipto
conquistarão a Terra
Santa, vencendo os
cruzados
A INSTALAÇÃO DA SEDE EM RODES

• Entre1306 e 1310, os Hospitalários fixarão a sua sede na Ilha de Rodes, um espaço


estratégico do Mediterrâneo. Assim sendo, a Ordem do Hospital instalou aqui as suas
fortalezas, contrariando o domínio bizantino que ali predominava até então.

• Durante este período, a Ordem desenvolve uma nova vocação. Se antes, a sua atividade
militar enquadrava-se nas batalhas terrestres, agora os hospitalários começam a apostar
no desenvolvimento de uma frota naval até porque, em breve, a guerra contra os “infiéis”
seria travada, não na Palestina, mas sim no Mar Mediterrâneo.
A INSTALAÇÃO DA SEDE EM RODES

• Rodes prosperou sob o domínio hospitalário e, embora o Império Otomano se estivesse a expandir
cada vez mais, a ilha subsistiu como um dos últimos postos avançados cristãos no Mar Egeu.

• Em meados do século XV, os hospitalários poderiam contar com algo em torno de 450 cavaleiros e
2000 soldados na ilha.

• Os turcos otomanos atacaram Rodes em 1455 e novamente em 1480, mas fracassaram. No entanto,
à terceira foi de vez. Em 1522, após seis meses de cerco e combate feroz contra a frota e exército do
sultão Suleiman, o Magnífico, os hospitalários tiveram que abandonar a ilha e procurar um novo
sítio para a sua sede.
O Palácio do Grão-Mestre da
Ordem do Hospital na ilha de
Rodes ou Rhodes
A MUDANÇA DA SEDE PARA MALTA

• Após algumas breves paragens na Sicília e na Itália continental, em 1530, a ordem escolheu dessa
vez Malta como o seu novo lar, que lhe foi dado pelo rei Carlos V da Espanha (reinou entre1516-
1556).

• A partir daqui, a organização começa a ser conhecida como Ordem de Malta e os seus cavaleiros
como “cavaleiros de Malta”,

• Malta não tinha muitas terras férteis para a agricultura, sendo apenas o algodão e o cominho
fontes significativas de receitas, mas a ilha de facto tinha um dos melhores portos no
Mediterrâneo.
A MUDANÇA DA SEDE PARA MALTA

• Mesmo assim, a Ordem não escapou a novas ameaças perante o Império Otomano que
ameaçava dominar a Europa.

• Em 1565, trava-se uma batalha determinante, em que os hospitalários têm de defender a


Ilha de Malta perante uma poderosa frota naval otomana. O Grande Cerco de Malta irá
durar quase 4 meses.

• Apesar da superioridade numérica das forças turcas, a resistência heróica dos


hospitalários nas fortalezas e castelos da ilha de Malta obrigará os otomanos a retirarem-
se para as embarcações, após sofrerem mais de 25 mil baixas.
A Resistência Heroica dos
Hospitalários na Ilha de
Malta contra os turcos
otomanos em 1565
A Ordem do Hospital evitou que Malta fosse
tomada pelos turcos em 1565
Os Turcos falharam assaltos contra as
principais fortalezas hospitalárias de
Malta
O Forte Manoel na Ilha de
Malta foi construído entre
1723 e 1733 pela Ordem do
Hospital
OS ÚLTIMOS TEMPOS

• A Ordem do Hospital persistiu em Malta até a ilha ser capturada por Napoleão em 1798.

• Ainda hoje a organização perdura, de várias formas e em vários países, não só atuando
como ordem de cavalaria na atribuição de medalhas, como também prestando serviços de
ambulância voluntários, sendo este último, é claro, uma continuação do objetivo original
dos hospitalários de dar assistência médica gratuita àqueles que mais precisam.
A Ordem de Malta nos dias de hoje
CURIOSIDADE

• Ao longo da história da organização, Portugal teve, ao todo, quatro grão-mestres à frente


da Ordem do Hospital: Fernando Afonso ou Afonso de Portugal (1203-1206), Luís
Mendes de Vasconcelos (1622-1623), António Manuel de Vilhena (1722-1736) e Manuel
Pinto de Fonseca (1741-1773)

• Destaque especial para Fernando Afonso (Afonso de Portugal) que viveu no período
concreto das cruzadas e que era filho bastardo de D. Afonso Henriques.
Fernando Luís Mendes Vasconcelos
Afonso ou
Afonso de
Portugal
António Manuel de Manuel Pinto da Fonseca
Vilhena
A Ordem de Malta atua
hoje em 120 países,
prestando funções
assistenciais
VÍDEO SOBRE A ORDEM DO HOSPITAL OU DE
MALTA
• https://www.youtube.com/watch?v=950Q7ci13z0,

Você também pode gostar