Você está na página 1de 57

MICROBIOLOGIA

ORAL
Doenças infecciosas bucais e sistêmicas

Profª Isabela Defilipo Vieira


Mestre em Clínica Odontológica- UFJF
Periodontista- OCEX
Implantodontista- UFF
Relação Doença Sistêmica-Doença Bucal
Últimos 25 anos - Artigos e Relatos de Pesquisas

Atenção de médicos e da população em geral

Doença das artérias coronárias


Acidente Vascular Encefálico
Resultados adversos da gravidez
Doença Periodontal Diabetes
Pneumonia bacteriana
Doença renal crônica
Relação Doença Sistêmica-Doença Bucal
TEORIA DA INFECÇÃO FOCAL

“The Human Mouth as a Focus of Infection”


(Miller, 1891)

Papel dos microrganismos orais ou seus


produtos no desenvolvimento de várias doenças
em sítios extra-bucais, incluindo abscessos
cerebrais, doenças pulmonares, problemas
gástricos e várias doenças infecciosas
sistêmicas.
Relação Doença Sistêmica-Doença Bucal
UMA ABORDAGEM MAIS CIENTÍFICA

1930

Abordagem mais científica

Existência de situações nas quais as


bactérias orais podem afetar estruturas
distantes – Endocardite Bacteriana
Relação Doença Sistêmica-Doença Bucal
UMA ABORDAGEM MAIS CIENTÍFICA

Final dos anos 80


Publicações sobre a associação entre
Periodontite e algumas Condições
Sistêmicas (Doença das artérias
coronárias, Derrame e Parto
prematuro/Baixo peso ao nascimento)
Relação Doença Sistêmica-Doença Bucal
UMA ABORDAGEM MAIS CIENTÍFICA

Maior compreensão da etiologia


e patogênese das doenças
periodontais e doenças
sistêmicas associadas

Serviços odontológicos e Saúde


bucal: papel fundamental para
assegurar a boa saúde geral dos
pacientes
Fatores de risco para Periodontite:

Fator de risco LOCAL:


Bactérias específicas, fatores que facilitem a retenção de placa bacteriana,
Características anatômicas dentais, trauma de oclusão, infecções pulpares.

Fator de risco SISTÊMICO:


Fumo, diabetes...

Indicadores de risco:
Estresse, AIDS, Alterações Neutrofílicas primárias( Neutropenia), Dieta,
Fatores genéticos, osteoporose, medicamentos.
Fatores Modificadores Sistêmicos

Fatores que podem modificar a suscetibilidade do hospedeiro para a


doença periodontal e o fenótipo clínico da doença, incluindo sua extensão,
gravidade, progressão e resposta á terapia.
Ex: diabetes e tabagismo
DIABETES MELLITUS
20 milhões de americanos (> 9% da
população adulta), 35% sem diagnóstico

Prevalência e incidência: aumentam a cada


ano
Tipos principais

Tipo 1 Tipo 2
5 a 10% 85 a 90%
Consumo de
comida

Quebra dos carboidratos no trato gastrointestinal –


absorção de açúcares simples na corrente sangüínea

Níveis sangüíneos de
glicose aumentados

Secreção de insulina das Diabetes tipo I destrói


células beta do pâncreas células beta

Insulina liga-se aos receptores Diabetes tipo II causa


da célula-alvo e permite resistência da insulina
entrada de glicose na célula no nível do receptor

Níveis sangüíneos de glicose diminuídos


DIABETES – FATOR DE RISCO DOENÇA PERIODONTAL

Diabéticos tipo 2 tiveram maior suscetibilidade à


Periodontite.
(Preshaw et al., 2012))

Inflamação periodontal gera maior produção de


citocinas(IL4, IL10, IL17 e INFʏ).
Resposta gengival hiperinflamatória em
diabéticos.
(Franco et al.,2017))
DIABETES – FATOR DE RISCO PARA DOENÇA PERIODONTAL

Diabéticos apresentam funções de neutrófilos e


macrófagos sensivelmente diminuídas( Periodontite
com maior gravidade )
(Figueiredo et al., 2017)

Relação entre DP e DM pode ser influenciada por


duração da doença,cuidados com a higiene bucal e
controle da glicemia.
(IZU et al., 2010)
Doença Periodontal

Estado
Metabólico
DOENÇA PERIODONTAL => ESTADO METABÓLICO

Risco aumentado de piorar o controle


glicêmico em diabéticos tipo 2 com
Periodontite severa do que diabéticos
tipo 2 sem Periodontite (saúde
periodontal diminui risco de
desenvolvimento e progressão de
DM).
Oliveira et al., 2017
VARIABILIDADE ENTRE PACIENTES

Diabéticos Respostas à
Terapia
Periodontal

Impacto no controle
glicêmico
MECANISMOS DE INTERAÇÃO ENTRE
DIABETES E DOENÇAS PERIODONTAIS
FUNÇÕES ALTERADAS DAS CÉLULAS ENVOLVIDAS NA
RESPOSTA IMUNOINFLAMATÓRIA

Neutrófilos Monócitos

Macrófagos
MECANISMOS DE INTERAÇÃO ENTRE
DIABETES E DOENÇAS PERIODONTAIS
CICATRIZAÇÃO ALTERADA DA FERIDA
Alteração na integridade microvascular: danos de órgãos
Acúmulo de níveis altos de produtos finais da glicosilação
avançada (AGEs) nos tecidos, incluindo o periodonto

Alterações celulares e nos


AGEs componentes da matriz IL-1β,
extracelular TNF-α

Função anormal da célula Monócitos e macrófagos:


endotelial, crescimento capilar produção aumentada de
e proliferação de vasos citocinas pró-inflamatórias

Prevalência e severidade das doenças periodontais


MECANISMOS DE INTERAÇÃO ENTRE
DIABETES E DOENÇAS PERIODONTAIS
CICATRIZAÇÃO ALTERADA DA FERIDA

FIBROBLASTOS: Não funciona apropriadamente em


meios com níveis elevados de glicose
COLÁGENO: Susceptível à rápida degradação por
enzimas MMP (produção elevada na diabetes)

Hiperglicemia
Respostas alteradas
Aumento da Perda
da Cicatrização
Óssea e de Inserção
Periodontal ao insulto
microbiano crônico
MECANISMOS DE INTERAÇÃO ENTRE
DIABETES E DOENÇAS PERIODONTAIS

NEUTRÓFILOS MONÓCITOS E MACRÓFAGOS

Aderência, Quimiotaxia Produção de citocinas e


e Fagocitose mediadores pró-inflamatórios
prejudicadas (TNF-alfa – no sangue e
Fluido gengival sulcular)

Previne a destruição de Hiper-resposta sistêmica e


bactérias na Bolsa local desta linha de células
Periodontal imune
CONTROLE GLICÊMICO
Periodontite associada a Diabetes
MECANISMOS DE INTERAÇÃO ENTRE
DIABETES E DOENÇAS PERIODONTAIS
DOENÇA PERIODONTAL AFETANDO O ESTADO
DIABÉTICO

Doença Periodontal e Diabetes: Importantes componentes


inflamatórios

Infecções Bacterianas Doenças


sistêmicas Periodontais
Crônicas

Aumento da
Inflamação Resistência à
sistêmica insulina – Pior
aumentada controle glicêmico
Conclus
ões
Cirurgiões-dentistas deveriam conversar com seus
pacientes sobre as relações entre diabetes e saúde
periodontal

Diabetes está associada ao risco aumentado de


desenvolver doenças periodontais inflamatórias –
O controle glicêmico é um importante determinante
nesta relação.
Conclus
ões
Sobre o impacto das doenças periodontais no
estado diabético Evidências sugerem que
pacientes com periodontite apresentam risco maior
de aparecimento de Diabetes ou de pobre controle
glicêmico

Relação Doença Periodontal e Diabetes é


bidirecional.
PNEUMONIA
Relação entre Pobre saúde bucal, Microflora
bucal e Pneumonia Bacteriana –
EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS

PNEUMONIA
Duas categorias gerais:

Adquirida na comunidade
Nosocomial
PNEUMONIA ADQUIRIDA NA COMUNIDADE

Pessoas não institucionalizadas


Causada por organismos considerados residentes
comuns das vias aéreas superiores
Streptococcus pneumoniae, Haemophilus influenzae, Mycoplasma
pneumoniae, Candida albicans e bactérias anaeróbias
(freqüentemente aquelas associadas com doença periodontal)

PNEUMONIA NOSOCOMIAL

Pacientes – 48 horas após admissão em uma instituição


Causada por bactérias entéricas gram-negativas

Escherichia coli, Klebsiella pneumoniae e outras espécies entéricas,


Pseudomonas aeruginosa, Staphylococcus aureus
PNEUMONIA POR ASPIRAÇÃO

Pacientes institucionalizados e não-institucionalizados

Freqüente em pacientes de risco de


aspiração dos conteúdos orais para o
pulmão: depressão da consciência

Causada por organismos anaeróbios,


tipicamente derivados do sulco gengival
e com facilidade de colonizar vias aéreas
superiores.
(Prasanna et al., 2011)
SAÚDE ORAL E PNEUMONIA ASSOCIADA À
VENTILAÇÃO (PAV)
PATÓGENOS RESPIRATÓRIOS
Pacientes tratados em UTI apresentavam
níveis maiores de placa dental do que
controles
Superfícies bucais, especialmente placa
dental, podem ser um reservatório importante
de infecção por patógenos respiratórios em
pacientes tratados em UTI
(Shi et al., 2018)
HIGIENE BUCAL
Indivíduos institucionalizados tendem a
apresentar pior higiene bucal do que indivíduos
da comunidade. Biofilmes orais servem como
reservatórios de patógenos respiratórios que
subseqüentemente infectam os pulmões

Intervenção na cavidade bucal para reduzir


ou controlar a quantidade de placa dental:
Método simples e custo-efetivo de reduzir a
colonização por patógenos respiratórios em
populações de alto risco.
Leite, Pinto e Pilatti, 2016
INTERVENÇÕES NA CAVIDADE BUCAL
Importância de promover assistência odontológica
para prevenir progressão de patologia pulmonar e
melhorar qualidade de vida do paciente (Zhou et
al., 2011).

Escovação
Dental

Clorexidina
Conclus
ões
Evidências consideráveis existem para sustentar a
relação entre pobre higiene bucal e pneumonia
bacteriana em populações que necessitam de
cuidados especiais (hospital e lares de
assistência), bem como outras patologias
pulmonares

Poucas evidências existem que pobre higiene


bucal e doença periodontal podem aumentar o
risco de pneumonia adquirida na comunidade
Conclus
ões
Cirurgiões-dentistas precisam estar conscientes
dos riscos da pobre higiene bucal em pacientes
institucionalizados (UTIs, lares de assistência)

Cirurgiões-dentistas precisam envolver-se mais


nos cuidados de populações hospitalizadas e em
lares de assistência.

Cuidados preventivos
odontológicos –Prevenção de
infecções pulmonares sérias
GRAVIDEZ
RESULTADOS ADVERSOS DA GRAVIDEZ
Grande problema de saúde pública em todo o
mundo
Bebês prematuros são imaturos e pequenos
Baixo peso ao nascimento (BPN): < 2,5kg,
pequeno para a idade gestacional (PIG): peso
ao nascimento menor do que 10% do peso
normal para a idade gestacional
Aborto e pré-eclâmpsia
RESULTADOS ADVERSOS DA GRAVIDEZ

1/3 de todos os nascimentos prematuros: trabalho


de parto prematuro (contração uterina)
1/3 de todos os nascimentos prematuros: outras
complicações, incluindo trabalho de parto induzido (pré-
eclâmpsia é a principal indicação)

Bebês muito prematuros


(nascidos com menos de 32
semanas de gestação): UTI
neonatal – risco aumentado de
mortalidade perinatal
RESULTADOS ADVERSOS DA GRAVIDEZ
Prematuros e bebês BPN - risco maior de
desenvolver:
Problemas de desenvolvimento neurológico
(paralisia cerebral, cegueira, surdez)
Problemas respiratórios (asma, infecção das vias
aéreas inferiores displasia bronco-pulmonar,
DPOC)
Problemas de comportamento (hiper-atividade e
déficit de atenção)
Doenças cardiovasculares e anormalidades
metábolicas( obesidade e DM)
RESULTADOS ADVERSOS DA GRAVIDEZ

Complicações obstétricas: significativos


gastos em cuidados de saúde – afetam o
bem-estar dos bebês durante toda a vida
Pesquisas sobre etiologia e mecanismos das
complicações obstétricas que levam à
prematuridade e restrição do crescimento
Fatores contribuintes: nem todos
identificados - > 25% de todas as
gestações complicadas – sem razão
conhecida
RESULTADOS ADVERSOS DA GRAVIDEZ

Fatores de risco para parto prematuro


Infecções Genito-urinárias
Fumo e consumo de álcool
Raça e nutrição deficiente
Número de nascimentos
Comprimento cervical curto e baixo peso
maternal
Baixo nível sócio-econômico e idade maternal
(maior do que 34 anos e menor do que 17)
Alto nível de stress
RESULTADOS ADVERSOS DA GRAVIDEZ

Infecções
genito-urinárias

Mediadores Trabalho de parto


inflamatórios prematuro, ruptura
(IL-1, TNF-α, PGE2) prematura da
membrana, BPN

Pereira et al., 2016


DOENÇA PERIODONTAL: RESPOSTA INFLAMATÓRIA

DOENÇA PERIODONTAL

Resposta
Biofilme Bacteriano –
Fatores de virulência inflamatória local
(LPS)

Corrente sangüínea
Resposta inflamatória Destruição dos
sistêmica/infecções tecidos
ectópicas(TNF e periodontais
PGE2)
Pereira et al., 2016
DOENÇA PERIODONTAL E RESULTADOS ADVERSOS DA
GRAVIDEZ

Doença Periodontal: Períodos de


exacerbação e Remissão
Mulheres com Doença Periodontal
progressiva durante a gravidez são
mais susceptíveis a partos
prematuros comparadas aquelas que
apresentam doença não progressiva

Offenbacher et al, 2010


DOENÇA PERIODONTAL E RESULTADOS ADVERSOS DA
GRAVIDEZ

ESTUDOS DE INTERVENÇÃO

PERIODONTITE CRÔNICA
O tratamento periodontal resultou em uma
redução significativa de partos prematuros e
um aumento no peso ao nascimento.
Jeffcoat, et al. 2013
GENGIVITE ASSOCIADA À GRAVIDEZ
O tratamento periodontal antes de 28
semanas de gestação resultou em uma
redução significativa do índice de
partos prematuros e baixo peso ao
nascimento. Lopez et al., 2015
MODELO HIPOTÉTICO DA ASSOCIAÇÃO ENTRE INFLAMAÇÃO
PERIODONTAL MATERNA E DESENVOLVIMENTO FETAL
Resposta Imune fetal: níveis elevados de
IgM aos patógenos periodontais

Resposta Imune-inflamatória
(produção de citocinas
inflamatórias e anticorpos)

Cordão Umbilical
Proteína C-reativa, IL-1-β,
IL-6, TNF-α, PGE2
Bactérias e fatores de virulência: respostas
inflamatórias em vários tecidos – danos
Periodontopatógenos

estruturais aos tecidos e órgãos


Conclus
ões
Responsabilidade do cirurgião-dentista
informar pacientes sobre plausibilidade
biológica de que a doença periodontal não-
tratada pode aumentar o risco não
somente de resultados adversos da
gravidez, mas também de desenvolver
condições que podem afetar o bem estar
do bebê.
Doença Cardiovascular
Nos paises desenvolvidos, as DCV são
responsáveis por 50% dos óbitos entre
aqueles com mais de 30 anos de idade
(BRANDI et al; 2017)
Associação entre Doença Periodontal e Doença
Cardiovascular (DCV

Natureza e
relevância desta
associação?
REVISÃO DOS ESTUDOS RECENTES

PROTEÍNA-C REATIVA

Doença periodontal pode causar uma resposta


inflamatória sistêmica – aumento da Proteína-C reativa.

Proteína C-reativa (PCR) não está elevada em


todos os pacientes com periodontite ou outras
infecções de baixa intensidade associadas com
DCV. O risco de DCV parece ser mais alto entre
aqueles que mostram evidência de ambos,
alguma infecção crônica de baixa intensidade e
PCR elevada
Almeida et al., 2013, Dhotre et al., 2017, Im et al., 2018
REVISÃO DOS ESTUDOS RECENTES

Presença de bactérias periodontopatogênicas nas


placas ateroscleróticas por meio de bacteremias
(Ateroma de carótida)(Sen et al.,2013).

Doença Periodontal inflamatória ocasionaria


presença aumentada da proteina C reativa(risco
maior de eventos cardiovasculares), assim como IL6
e Fibrinogênio(Schenkein e Loos, 2013).
Conclus
ões
Recomendação do tratamento periodontal:
valor dos seus benefícios para a saúde bucal
dos pacientes – pacientes não são saudáveis
sem uma boa saúde bucal

Infecções periodontais como um possível fator


de risco para DCV: liberação de altos niveis de
citocinas inflamatórias podem gerar
espessamento da parede arterial e formação
de placa ateromatosa.
DOENÇA RENAL CRÔNICA(DRC)
DOENÇA RENAL CRÔNICA(DRC)

Relação entre Pobre saúde bucal, Microflora


bucal e Doença Renal – EVIDÊNCIAS
CIENTÍFICAS
Periodontite eleva níveis de PCR e
Albumina
Manifestações bucais da DRC: DP,
xerostomia, crescimento gengival e
calcificações pulpares.
(Almeida et al., 2013., Wahid et al., 2013, Kim et al., 2017)
DOENÇA RENAL CRÔNICA(DRC)

Processo inflamatório e infeccioso crônico


como a DP pode influenciar a progressão da
DRC( Kim et al., 2017)

Promoção da saúde bucal pode ser útil em


períodos anteriores à hemodiálise (alta
prevalência e severidade de DP em pacientes
dialisados).
(Cholewa, Madziarsky e Radwan., 2017)
Conclus
ões
Recomendação do tratamento
efeito positivo no curso da DRC.
periodontal:

Infecções periodontais como um possível fator


de risco para DRC: liberação de altos niveis de
citocinas inflamatórias podem gerar formação
de placa ateromatosa.
Tratamento periodontal pode melhorar QV do
paciente.
• Periodontite e Obesidade

• Periodontite e Doença de Crohn

• Periodontite e Alhzeimer

• Periodontite e Hipotireoidismo

• Periodontite e Câncer

• Periodontite e Estresse

• Periodontite e Lúpus
OBRIGADA...

Você também pode gostar