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JUÍZOS DE FACTO E JUÍZOS DE VALOR

TEMA IV | AXIOLOGIA E ÉTICA - TURMAS E/F - PROFESSORA INÊS CAMPOS

Yazidis em fuga de Sinjar, Iraque, 2014. Rodi Said / Reuters


JUÍZOS DE FACTO E JUÍZOS DE VALOR
SUMÁRIO
Continuação da aula anterior
JUÍZOS DE FACTO E JUÍZOS DE VALOR

A comunidade yazidi é uma minoria étnico-religiosa curda que, ao


longo da história, tem sido perseguida e vítima de massacres por parte
de cristãos e muçulmanos. A perseguição à comunidade yazidi
atravessa o tempo e é parte da tradição de povos do Médio Oriente.
Quando em 2014, o Estado Islâmico (Daesh) ocupou a cidade de
Mossul, no norte do Iraque, milhares de pessoas foram mortas e
estima-se que mais de 6000 raparigas e mulheres das aldeias yazidi dos
Montes Sinjar foram raptadas, violadas, torturadas, vendidas e
submetidas a escravatura sexual. Em fuga e cercada, a comunidade
yazidi enfrentou a fome e a sede. A ONU classificou o massacre da
comunidade yazidi como genocídio.
JUÍZOS DE FACTO E JUÍZOS DE VALOR

É IMPROVÁVEL QUE CONSIGAS LER ESTES TEXTOS OU VER ESTES


FILMES/VÍDEOS SEM EMITIR APROVAÇÃO OU DESAPROVAÇÃO.
ESTAMOS CONSTANTEMENTE A AVALIAR O MUNDO QUE NOS
RODEIA.

ATRIBUÍMOS CONSTANTEMENTE VALOR :


- AOS ACONTECIMENTOS;
- AOS SERES QUE NOS RODEIAM E COM QUEM INTERAGIMOS;
- E A NOSSA PRÓPRIA AÇÃO.

- E POR ISSO, ANTES DE MAIS, É IMPORTANTE A DISTINÇÃO ENTRE


JUÍZOS DE FACTO E JUÍZOS DE VALOR e responder à pergunta O
QUE SÃO VALORES?
JUÍZOS DE FACTO E JUÍZOS DE VALOR
O QUE SÃO VALORES?
os valores são critérios segundo os quais valorizamos ou
desvalorizamos as coisas; SÃO PRINCÍPIOS QUE
ORIENTAM A NOSSA AÇÃO
JUÍZOS DE FACTO E JUÍZOS DE VALOR
COMO SE DISTINGUEM OS JUÍZOS DE FACTO DOS JUÍZOS
DE VALOR?

De facto Estéticos
Juízos
De valor Religiosos

Morais
JUÍZOS DE FACTO E JUÍZOS DE VALOR

Um juízo de facto é uma tentativa de descrição da


realidade.
Trata-se, portanto, de um juízo neutro, imparcial –
descritivo ou informativo.

Exemplos:
➔ A primeira aula começa às 8:30.
➔ A Terra está fixa no centro do universo.
➔ Há vida inteligente fora do planeta Terra.
JUÍZOS DE FACTO E JUÍZOS DE VALOR

JUÍZOS DE FACTO
→ Ao longo da história, a
comunidade yazidi tem
sido perseguida e vítima
de massacres.
→ A ONU acusou o Estado
Islâmico de crimes contra a
humanidade e de levar a
cabo um genocídio contra
a comunidade yazidi.
JUÍZOS DE FACTO E JUÍZOS DE VALOR

Um juízo de valor é uma apreciação.


Implica a atribuição de um maior ou menor valor –
bom ou mau, belo ou feio, sagrado ou profano – a um
determinado aspeto da realidade.

Exemplos:
➔ A palavra de Deus é sagrada.
➔ É errado infligir dor aos animais.
➔ As estátuas renascentistas são sublimes.
JUÍZOS DE FACTO E JUÍZOS DE VALOR
O QUE SÃO JUÍZOS MORAIS?

Valores Morais Valores Estéticos Valores Religiosos


- Bom/Mau; - Belo/feio; - Sagrado/profano;
- Justo/injusto; - Sublime/grotesco; - Puro/impuro;
- Certo/errado; - Original/banal; - Piedoso/impiedoso;
- Leal/desleal - Elegante/deselegante. - Perfeição/pecado.
JUÍZOS DE FACTO E JUÍZOS DE VALOR

JUÍZOS MORAIS
→A deslocação forçada, o
assassínio, a tortura, a
escravatura e o abuso sexual
de que é vítima a
comunidade yazidi são um
mal.
→ Os danos mentais e físicos
infligidos aos yazidis devem
ser condenados e punidos.
JUÍZOS DE FACTO E JUÍZOS DE VALOR

JUÍZOS MORAIS
São juízos de valor,
normativos, sobre o
que consideramos
certo ou errado, sobre
o bem e o mal, sobre o
que devemos ou não
devemos fazer.
JUÍZOS DE FACTO E JUÍZOS DE VALOR

A deslocação forçada, o assassínio,


a tortura, a escravatura e o abuso
sexual de que são vítimas os yazidi
são um mal.
JUÍZOS DE FACTO E JUÍZOS DE VALOR
CLARIFICAÇÃO DO PROBLEMA:
PERGUNTAR PELA NATUREZA DOS JUÍZOS MORAIS É PROCURAR
RESPONDER A DUAS QUESTÕES:

- OS JUÍZOS MORAIS TÊM VALOR DE VERDADE?

- SE OS JUÍZOS MORAIS TÊM VALOR DE VERDADE, ESSE VALOR É


OBJETIVO OU SUBJETIVO?

- PARA RESPONDER A ESTA PERGUNTA, TEMOS AS TEORIAS


COGNITIVISTAS E NÃO COGNITIVISTAS.

- Dentro das teorias cognitivistas temos o subjetivismo, o objetivismo e


o relativismo cultural. (Para o cognitivismo os juízos morais podem ser
conhecidos, são crenças e tem valor de verdade)
JUÍZOS DE FACTO E JUÍZOS DE VALOR

O subjetivismo moral defende que a verdade dos


juízos morais depende dos nossos estados mentais.

TESE 2
→ A verdade dos juízos morais é subjetiva, depende do
sujeito que avalia.
JUÍZOS DE FACTO E JUÍZOS DE VALOR
Ex: A deslocação forçada, o assassínio, a tortura, a
escravatura e o abuso sexual de que são vítimas os yazidi
são um mal.

Esta afirmação significa apenas, para o subjetivismo, Eu (a


pessoa que emite o juízo) desaprovo a deslocação forçada, o
assassínio, a tortura, a escravatura e o abuso sexual de que
são vítimas os yazidi. E é só. Alguém que afirme o contrário
está igualmente correto. Ainda que seja um facto que
algumas pessoas aprovam estas ações de que são alvo os
yazidis e que outras as desaprovam, não é um facto que, em
si mesmas, elas sejam um bem ou um mal.
JUÍZOS DE FACTO E JUÍZOS DE VALOR

Subjetivismo Desacordo
Argumentos
Ausência de
prova
JUÍZOS DE FACTO E JUÍZOS DE VALOR
ARGUMENTO DO DESACORDO

Se há desacordo em questões éticas fundamentais – e é


um facto que há –, então não existem verdades objetivas
e universais em ética. Tudo o que há são opiniões
diversas.
JUÍZOS DE FACTO E JUÍZOS DE VALOR
ARGUMENTO DA AUSÊNCIA DE PROVA

Retira-se a mesma conclusão – não existem verdades


universais em ética –, a partir de duas premissas, neste
caso, a impossibilidade de provar que um juízo moral é
verdadeiro e a ideia de que, se houvesse verdades
objetivas em ética, seria possível provar a verdade das
opiniões morais.
JUÍZOS DE FACTO E JUÍZOS DE VALOR
OBJEÇÕES

1.O facto de pessoas diferentes terem convicções distintas sobre um


mesmo problema moral e de a prova ser difícil de alcançar em assuntos
éticos NÃO SÃO, SÓ POR SI, EVIDÊNCIAS CONTRA A VERDADE
UNIVERSAL E OBJETIVA.

2. ESTA TEORIA IMPEDE A CENSURA DE AÇÕES ERRADAS, se tudo


aquilo que achamos individualmente está moralmente correto. Não há
ações erradas.
JUÍZOS DE FACTO E JUÍZOS DE VALOR

A deslocação forçada, o assassínio,


a tortura, a escravatura e o abuso
sexual de que são vítimas os yazidi
são um mal.
JUÍZOS DE FACTO E JUÍZOS DE VALOR

O relativismo moral é uma teoria cognitivista.


O relativismo moral é uma forma de subjetivismo.

→ Tese 1
→ A verdade dos juízos morais é relativa, depende de
códigos ou padrões culturais.

→ A verdade ou falsidade dos juízos morais baseia-se na


aceitação do ponto de vista da maioria.
JUÍZOS DE FACTO E JUÍZOS DE VALOR

A deslocação forçada, o assassínio, a tortura, a escravatura


e o abuso sexual de que são vítimas os yazidi são um mal.

Esta afirmação significa apenas, para o subjetivismo, Eu


(a pessoa que emite o juízo) desaprovo a deslocação
forçada, o assassínio, a tortura, a escravatura e o abuso
sexual de que são vítimas os yazidi. E é só. Alguém que
afirme o contrário está igualmente correto. Ainda que
seja um facto que algumas pessoas aprovam estas ações
de que são alvo os yazidis e que outras as desaprovam,
não é um facto que, em si mesmas, elas sejam um bem
ou um mal.
JUÍZOS DE FACTO E JUÍZOS DE VALOR

Diversidade
Relativismo cultural
Argumentos
Tolerância
JUÍZOS DE FACTO E JUÍZOS DE VALOR
ARGUMENTO DA DIVERSIDADE CULTURAL

Se os juízos sobre o certo e o errado partem dos códigos


morais de uma determinada cultura e se culturas
diferentes têm conceções distintas de bem e mal, então
não existem verdades universais ou códigos morais mais
justificados do que outros. Todos os sistemas culturais são
intrinsecamente iguais em valor, não existindo nenhum
código moral que possa ser considerado mais verdadeiro
ou mais justificado do que outro.
JUÍZOS DE FACTO E JUÍZOS DE VALOR
OBJEÇÕES

O facto de culturas diferentes terem convicções distintas


sobre um mesmo problema moral não prova a inexistência
de verdades universais e objetivas. É perfeitamente
possível, a propósito de muitos problemas éticos, que
algumas delas, incluindo a nossa, estejam enganadas.
JUÍZOS DE FACTO E JUÍZOS DE VALOR
ARGUMENTO DA TOLERÂNCIA

O ARGUMENTO DA TOLERÂNCIA POSTULA QUE DEVEMOS


ADOTAR UMA ATITUDE DE TOLERÂNCIA PERANTE AS
PRÁTICAS DAS OUTRAS CULTURAS, NÃO EMITINDO JUÍZOS
SOBRE ELAS, SOB PENA DE AS ESTARMOS A CONDENAR OU
INFERIORIZAR. (Etnocentrismo) Este argumento tem por
base a inexistência de padrões culturalmente neutros – todos
os padrões são relativos a uma dada cultura.
JUÍZOS DE FACTO E JUÍZOS DE VALOR
OBJEÇÕES

A defesa do valor da tolerância pressupõe a existência de


pelo menos um valor absoluto – a tolerância. Num sistema
em que todos os valores são relativos, não resta espaço
para um valor absoluto.
JUÍZOS DE FACTO E JUÍZOS DE VALOR
COMO SERIA SE O RELATIVISMO MORAL FOSSE VERDADEIRO?

→ Ficaríamos impedidos de avaliar criticamente os


costumes de outras comunidades.

→ Ficaríamos impedidos de avaliar criticamente os


costumes da nossa própria sociedade.

→ Deixaríamos de poder falar em progresso civilizacional.

→ Levaria ao conformismo moral


JUÍZOS DE FACTO E JUÍZOS DE VALOR
PADRÃO CULTURALMENTE NEUTRO DE CERTO E DE ERRADO

Grande parte da fundamentação relativista assenta no


pressuposto da inexistência de um padrão culturalmente
neutro de certo e de errado a que possamos apelar para
comparar práticas. Contudo, filósofos como James Rachels
(1941-2003) discordam.
JUÍZOS DE FACTO E JUÍZOS DE VALOR
JUÍZOS DE FACTO E JUÍZOS DE VALOR

A deslocação forçada, o
assassínio, a tortura, a
escravatura e o abuso sexual
de que são vítimas os yazidi
são um mal.
JUÍZOS DE FACTO E JUÍZOS DE VALOR

O objetivismo moral é uma teoria cognitivista.


JUÍZOS DE FACTO E JUÍZOS DE VALOR

O objetivismo moral defende que a verdade dos


juízos morais, pelo menos a de alguns, é
independente dos sujeitos, dos seus estados
mentais.

TESE 2
→ A verdade dos juízos morais é objetiva, independente
dos sujeitos que avaliam.
→ Alguns juízos morais são universais
JUÍZOS DE FACTO E JUÍZOS DE VALOR

A deslocação forçada, o assassínio, a tortura, a


escravatura e o abuso sexual de que são vítimas
os yazidi são um mal.

Seremos objetivistas se defendermos que a deslocação forçada, o


assassínio, a tortura, a escravatura e o abuso sexual de que são
vítimas os yazidis são, em si mesmos, um bem ou um mal, e que
isso depende apenas da natureza destas práticas e não do que as
pessoas ou comunidades possam pensar acerca deles. Não se
trata apenas de defender que há soluções melhores ou piores,
mas antes de declarar que existem respostas objetivamente
certas e erradas, factos morais.
JUÍZOS DE FACTO E JUÍZOS DE VALOR
JUÍZOS DE FACTO E JUÍZOS DE VALOR

Argumento da
Objetivismo imparcialidade
Argumentos
Tolerância
JUÍZOS DE FACTO E JUÍZOS DE VALOR
ARGUMENTO DA IMPARCIALIDADE

Se os nossos juízos morais não fossem verdades objetivas,


ser-nos-ia impossível justificá-los de um ponto de vista
imparcial. Mas a verdade, dizem objetivistas morais como
James Rachels, é que podemos fazê-lo, recorrendo a boas
razões e a um critério neutro. Assim sendo, ainda que a
verdade dos juízos morais possa ser, muitas vezes, mais
difícil de provar do que a dos juízos de facto sobre estrelas
e planetas, não deixa de ser objetiva.
JUÍZOS DE FACTO E JUÍZOS DE VALOR
ARGUMENTO DA IMPARCIALIDADE

Padrão plausível e imparcial, neutro, proposto por James


Rachels:

«a prática é benéfica ou prejudicial para as pessoas que


são afetadas por ela»?
JUÍZOS DE FACTO E JUÍZOS DE VALOR
TEMA IV | AXIOLOGIA E ÉTICA

Yazidis em fuga de Sinjar, Iraque, 2014. Rodi Said / Reuters

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