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Interpretação do contrato - em especial, a interpretação jurisdicional

Rui Pinto Duarte


Junho 2016 1
1. Notas preliminares sobre o teor da intervenção

- Adoção de uma perspetiva panorâmica;

- Inserção da interpretação pelo tribunal na perspetiva panorâmica,


nomeadamente por força da imbricação entre jurisprudência e doutrina;

- Interpretação dos contratos e não da dos atos que os formam.

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2. Duas notas liminares sobre o tema

- A complexidade da tarefa, em razão dos elementos interpretativos a ter em


conta;

- A insuficiência da formação jurídica para o bom desempenho da tarefa.

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3. Existência e antiguidade das normas sobre interpretação dos
contratos

- Preceitos sobre interpretação dos contratos existem desde há muito…

- A natureza desses preceitos foi discutida, mas hoje parece pouco discutida;

- A relevância especial do Code Civil como repositório de normas pré-


existentes (na versão de Pothier) – qualificadas como axiomas no «exposé
des motives» respetiva.

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4. O juiz como destinatário principal das normas sobre interpretação dos contratos

- Favard de Langlade (tribuno), Danz e Cunha Gonçalves como exemplos;

- Questão «ínsipida» (Sacco)?

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5. Localização da interpretação do contrato na oposição entre
questões de facto e de direito

- A doutrina: José Tavares, Cunha Gonçalves, discussão havida durante a


preparação do CPC de 1939, anotações de Vaz Serra e Antunes Varela a
acórdãos posteriores a 1966;

- Evolução da jurisprudência do STJ; síntese de Rodrigues Bastos em 1968;


exemplos de acórdãos marcantes.

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6.1. As regras (clássicas) do código civil francês e as regras (parcimoniosas) do código civil alemão
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- Razões para dar relevância central às mesmas: inserção em códigos de


sistemas «cabeças de estirpe», com influência à escala mundial, muito
presentes na nossa doutrina e determinantes dos nossos códigos.

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6.2. As regras (clássicas) do código civil francês e as regras
(parcimoniosas) do código civil alemão

Código civil francês (1804)

Section V. – De l’interprétation des conventions


Art. 1156 – On doit dans les conventions rechercher quelle a été la commune intention des
parties contractantes, plutôt que de s’arrêter au sens littéral des termes.
Art. 1157 – Lorsqu’une clause est susceptible de deux sens, on doit plutôt l’entendre dans celui
avec lequel elle peut avoir quelque effet, que dans le sens avec lequel elle n’en pourrait
produire aucun.
Art. 1158 – Les termes susceptibles de deux sens doivent être pris dans le sens qui convient le
plus à la matière du contrat.
Art. 1159 – Ce qui est ambigu s’interprète par ce qui est d’usage dans le pays où le contrat est
passé.

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6.3. As regras (clássicas) do código civil francês e as regras
(parcimoniosas) do código civil alemão

Código civil francês (1804) – cont.

Art. 1160 – On doit suppléer dans le contrat les clauses qui y sont d’usage, quoiqu’ elles n’y
soient pas exprimées.
Art. 1161 – Toutes les clauses des conventions s’interprètent les unes par les autres, en donnant
à chacune le sens qui résulte de l’acte entier.
Art. 1162 – Dans le doute, la convention s’interprète contre celui qui a stipulé et en faveur de
celui qui a contracté l’obligation.
Art. 1163 – Quelque généraux que soient les termes dans lesquels une convention est conçue,
elle ne comprend que les choses sur lesquelles il paraît que les parties se sont proposé de
contracter.
Art. 1164 – Lorsque dans un contrat on a exprimé un cas pour l’explication de l’obligation, on
n’est pas censé avoir voulu par là restreindre l’étendue que l’engagement reçoit de droit aux
cas non exprimés.

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6.4. As regras (clássicas) do código civil francês e as regras
(parcimoniosas) do código civil alemão

Código civil alemão (1896)

§133 Auslegung einer Willensklärung. Bei der Auslegung einer Willensklärung ist der
wirkliche Wille zu erforschen und nicht an dem buchstäblichen Sinne des Ausdrucks zu
haften.

Interpretação de uma declaração de vontade. Na interpretação de uma declaração de


vontade há que procurar a vontade real e não ater-se ao significado literal da
expressão.

§157 Auslegung von Verträgen. Verträge sind so auszulegen, wie Treu und Glauben mit
Rücksicht auf die Verkehrssite es erfordern.

Interpretação dos contratos. Os contratos são para interpretar como exige a boa fé, tendo
em consideração os usos.

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7.1. Das regras dos códigos de Ferreira Borges e de Seabra às
regras gerais do CC vigente

- Razões para fazer o percurso;

- Quase no mesmo tempo do Código de Ferreira Borges: J. H.


Corrêa Telles (adoção das regras tradicionais, na formulação
do Code Civil);

- Originalidade dos códigos de Ferreira Borges e de Seabra

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7.2. Das regras dos códigos de Ferreira Borges e de Seabra às
regras gerais do CC vigente

Código Comercial Português de 1833

256. As palavras dos contratos e convenções mercantis devem inteiramente entender-se segundo
o estilo e uso recebido no comércio, e no mesmo modo e sentido por que os negociantes se
costumam explicar posto que de outra sorte entendidas pudessem significar outra coisa.
257. A boa fé, a simples e justa interpretação deduzida da vontade dos contraentes deve
prevalecer sempre na interpretação das convenções mercantis, ao rigoroso e estrito
significado das palavras, sem se admitirem inteligências cavilosas e contrárias ao verdadeiro
espírito do contrato.
258. Sendo necessário interpretar as cláusulas do contrato, e não se acordando as partes na
resolução da dúvida, a interpretação terá por base: - 1.º as cláusulas do mesmo contrato
ajustadas e consentidas que possam explicar as duvidosas; - 2.º os factos dos contraentes
posteriores ao contrato, que tenham relação com a questão; - 3.º o uso comum e prática
geralmente observada nos casos da mesma natureza e especialmente o costume do lugar; -
4.º o juízo de pessoas práticas no ramo de comércio relativo à dúvida.

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7.3. Das regras dos códigos de Ferreira Borges e de Seabra às
regras gerais do CC vigente

Código Civil de 1867

Capítulo VI
Da interpretação dos contratos

Art. 684. É nulo contrato, sempre que dos seus termos, natureza e circunstâncias, ou do uso,
costume ou lei, se não possa depender qual fosse a intenção ou vontade dos contraentes sobre
o objeto principal do mesmo contrato.

Art. 685. Se a dúvida recair sobre os acessórios do contrato, e não se puder resolver pela regra
estabelecida no artigo antecedente, observar-se-ão as seguintes regras:
1.º Se o contrato for gratuito, resolver-se-á a dúvida pela menor transmissão de direitos e interesses;
2.º Se o contrato for oneroso, resolver-se-á a dúvida pela maior reciprocidade de interesses.

Art. 704. Os contratos obrigam tanto ao que é neles expresso, como às suas consequências usuais e
legais.

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7.4. Das regras dos códigos de Ferreira Borges e de Seabra às
regras gerais do CC vigente

- O estado da doutrina portuguesa antes da sua germanização: José


Tavares e Cunha Gonçalves como exemplos.

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7.5. Das regras dos códigos de Ferreira Borges e de Seabra às
regras gerais do CC vigente

- Nota crítica sobre o «nível de regulação» das regras gerais do CC vigente


sobre interpretação dos contratos:

a) A escolha do nível do negócio jurídico para a regulação da interpretação


dos atos não foi feliz;

b) Melhor andou o código civil italiano…

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7.6. Das regras dos códigos de Ferreira Borges e de Seabra às regras gerais do CC vigente

- Como a doutrina gerou as regras gerais do CC vigente sobre


interpretação dos contratos: Cabral de Moncada, Ferrer Correia, Manuel
de Andrade, Rui de Alarcão, Antunes Varela e I. Galvão Telles.

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7.7. Das regras dos códigos de Ferreira Borges e de Seabra às regras gerais do CC vigente pelo CC vigente

- A «orientação prudente e parcimoniosa» do anteprojeto do CC vigente (Rui


de Alarcão) e a orientação ainda mais «prudente e parcimoniosa»
adotada:
a) A orientação do anteprojeto do CC vigente (Rui de Alarcão);

b) Comparação entre o anteprojeto e o texto do CC.

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8.1. O que de essencial se pode retirar dos arts. 236 a 238 para a interpretação dos contratos

- Deve ser procurada a vontade real dos contraentes (o que alguns


chamam «interpretação subjetiva») e só se nada se apurar quanto à
mesma é que se aplicam as restantes regras (o que alguns chamam
«interpretação objetiva»);
- Para a interpretação subjetiva, é lícito recorrer a elementos de todo o
tipo, quer documentais (projetos de acordos, atas de reuniões,
correspondência, etc.), quer testemunhais (nomeadamente
depoimentos de quem participou nas negociações);

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8.2. O que de essencial se pode retirar dos arts. 236 a 238 para a
interpretação dos contratos – conclusão

- Nos contratos formais a procura da vontade real dos contraentes está


limitada pela regra de que o sentido a atribuir-lhe tem de ter um mínimo de
correspondência no texto (art. 238, n.º 1), só não se aplicando tal exigência se
as razões determinantes da forma do negócio não se opuserem a tal validade
(art. 238, n.º 2).

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9. Algumas ênfases com recurso à jurisprudência do STJ

- O chamado «cânone holístico», resultante de um princípio hermenêutico


comummente aceite (acórdãos do STJ de 5.7.2012 e 16.4.2013)

- O equilíbrio contratual: a regra sobre a prevalência do sentido que conduzir


ao maior equilíbrio das prestações no caso de dúvidas sobre o sentido de
um contrato oneroso é isso mesmo: uma regra sobre a superação de
dúvidas – e não uma regra que permita ao tribunal equilibrar contratos
que tenha por desequilibrados (acórdão do STJ de 21.6.2012).

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10. A relevância da conduta das partes posterior ao contrato

- Base legal (arts. 762, n.º 2, e 334);

- Exemplos em decisões do STJ: acórdãos de 11.10.2001 e 16.4.2013.

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11. A interpretação para efeitos de redução e conversão dos contratos (arts. 292 e 293) e a preferência pelo
sentido que evite ou minore a invalidade do contrato

- Exemplo na jurisprudência do STJ: acórdão de 9.5.2006:

- Convergência dos arts. 9.º, n.º 1, e 13, n.º 1, da LCCG:


Artigo 9.º
Subsistência dos contratos singulares
1 - Nos casos previstos no artigo anterior os contratos singulares mantêm-se, vigorando na parte afetada as
normas supletivas aplicáveis, com recurso, se necessário, às regras de integração dos negócios jurídicos.
Artigo 13
Subsistência dos contratos singulares
1 - O aderente que subscreva ou aceite cláusulas contratuais gerais pode optar pela manutenção dos contratos
singulares, quando algumas dessas cláusulas sejam nulas.

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12. Outros níveis de regulação da interpretação dos contratos no CC vigente
(outros lugares da Parte Geral do CC, obrigações em geral, contratos em
especial, e até contratos constitutivos de direitos reais)

- Existência de outros níveis de regulação da interpretação dos contratos no


CC
- Um exemplo (sem prejuízo de referências posteriores): o art. 210, n.º 2

Artigo 210.º
Coisas acessórias
1. São coisas acessórias, ou pertenças, as coisas móveis que, não constituindo partes integrantes, estão
afetadas por forma duradoura ao serviço ou ornamentação de uma outra.
2. Os negócios jurídicos que têm por objeto a coisa principal não abrangem, salvo declaração em contrário, as
coisas acessórias

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13.1 A especialidade dos contratos de adesão e dos contratos celebrados com recurso a cláusulas gerais

- O problema não é novo…


- Preceitos da Lei das CCG:

CAPÍTULO III
Interpretação e integração das cláusulas contratuais gerais
Artigo 10º
Princípio geral
As cláusulas contratuais gerais são interpretadas e integradas de harmonia com as regras relativas à
interpretação e integração dos negócios jurídicos, mas sempre dentro do contexto de cada contrato
singular em que se incluam.

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13.2. A especialidade dos contratos de adesão e dos contratos celebrados com recurso a cláusulas gerais – conclusão

Artigo 11º
Cláusulas ambíguas
1. As cláusulas contratuais gerais ambíguas têm o sentido que lhes daria o contratante
indeterminado normal que se limitasse a subscrevê-las ou a aceitá-las, quando colocado na
posição de aderente real.
2. Na dúvida, prevalece o sentido mais favorável ao aderente.
3. O disposto no número anterior não se aplica no âmbito das ações inibitórias.

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14.1. A interpretação do contrato e o recurso à equidade na determinação das prestações (arts. 400,
883, 993 e 1211)

- Relação entre a interpretação do contrato e a determinação das


prestações: a determinação da prestação segundo juízos de equidade
possibilita, se é que não obriga, a ir além da interpretação, autorizando o
recurso a critérios que estão para além dos critérios legais de
interpretação e mesmo de integração (caso da situação económica das
partes).

Artigo 400.º
Determinação da prestação
1. A determinação da prestação pode ser confiada a uma ou outra das partes ou a terceiro; em
qualquer dos casos deve ser feita segundo juízos de equidade, se outros critérios não tiverem
sido estipulados.
2. Se a determinação não puder ser feita ou não tiver sido feita no tempo devido, sê-lo-á pelo
tribunal, sem prejuízo do disposto acerca das obrigações genéricas e alternativas.
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14.2. A interpretação do contrato e o recurso à equidade na determinação das prestações (arts. 400, 883,
993 e 1211) – cont.

Artigo 883.º
Determinação do preço [na compra e venda]
1. Se o preço não estiver fixado por entidade pública, e as partes o não determinarem nem
convencionarem o modo de ele ser determinado, vale como preço contratual o que o
vendedor normalmente praticar à data da conclusão do contrato ou, na falta dele, o do
mercado ou bolsa no momento do contrato e no lugar em que o comprador deva cumprir; na
insuficiência destas regras, o preço é determinado pelo tribunal, segundo juízos de equidade.
2. Quando as partes se tenham reportado ao justo preço, é aplicável o disposto no número
anterior.

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14.3. A interpretação do contrato e o recurso à equidade na determinação das prestações (arts. 400, 883,
993 e 1211) – conclusão

Artigo 993.º
Divisão deferida a terceiro [na sociedade]
1. Convencionando-se que a divisão dos ganhos e perdas seja feita por terceiro, deve este
fazê-la segundo juízos de equidade, sempre que não haja estipulação em contrário; se a
divisão não puder ser feita ou não tiver sido feita no tempo devido, sê-lo-á pelo tribunal,
segundo os mesmos juízos.
2. (…)
3. (…)

Artigo 1211.º
Determinação e pagamento do preço [na empreitada]
1. É aplicável à determinação do preço, com as necessárias adaptações, o disposto no artigo
883º.
2. (…)
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15. As regras processuais sobre determinação judicial das prestações (arts. 1004 e 1005 CPC)

Art. 1004 [anterior 1429]


Determinação judicial da prestação ou do preço
1 ‐ Nos casos a que se referem o n.º 2 do artigo 400.º e o artigo 883.º do Código Civil,
a parte que pretenda a determinação pelo tribunal indica no requerimento a
prestação ou o preço que julga adequado, justificando a indicação.
2 ‐ A parte contrária é citada para responder no prazo de 10 dias, podendo indicar
prestação ou preço diferente, desde que também o justifique.
3 ‐ Com resposta ou sem ela, o juiz decide, colhendo as provas necessárias.

Art. 1005 [anterior 1430]


Determinação judicial em outros casos
O disposto no artigo anterior é aplicável, com as necessárias adaptações, à divisão
judicial de ganhos e perdas nos termos do artigo 993.º do Código Civil e aos casos
análogos.

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16. A chamada integração: natureza e relação com as normas supletivas

- A integração prevista no art. 239 não é ergänzende Auslegung;

- As normas supletivas precedem a integração ou a integração precede as


normas supletivas?

- A solução varia consoante os contratos são típicos ou atípicos?

- Intransponibilidade direta das teses das literaturas alemã e italiana:


precedência das normas supletivas, mesmo no caso dos contratos atípicos;

- Relevância para a opinião defendida dos arts. 9.º, n.º 1, e 13, n.º 2, da LCCG.

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17. Interpretação do contrato, normas supletivas («de interpretação subsidiária») e presunções legais ilidíveis sobre o
significado de estipulações negociais

- Observação geral: as disposições legais supletivas sobre estipulações negociais


(interpretativas ou integrativas) e as presunções legais ilidíveis sobre o significado de
estipulações negociais são técnicas equivalentes ou, pelo menos, têm efeitos
equivalentes;

- Preceitos do CC com presunções e regras supletivas que fazem relevar a


interpretação do contrato: arts. 210, 279, 418, 440, 441, 451, 516, 786, 840, 867, 926,
952, 983, 984, 992, 1065, 1136, 1145, 1147, 1158, 1203, 1403 e 1421, n.º 2.

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18. A interpretação dos estatutos de origem contratual

- Maior objetivismo do que nos negócios jurídicos em geral? A convergência


da doutrina;

- Decisões do STJ: acórdãos de 12.1.1971 e de 6.6.1978, este de aparente


afirmação de «objetivismo radical» (relevante anotação de Adriano Vaz
Serra - Revista de Legislação e Jurisprudência, n.º 3.635, ano 112, 15 de
maio de 1979)

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19. A interpretação dos contratos internacionais

- A Convenção de Roma e o Regulamento Roma I: a lei aplicável ao contrato


regula, além do mais, a sua interpretação (respetivos arts. 10, n.º 1, alínea
a) e 12, n.º 1, alínea a);

- O art. 35, n.º 1, do CC (a interpretação e a integração das declarações


negociais são reguladas pela lei aplicável à substância do negócio);

- Problemas levantados pelas particularidades típicas dos contratos


internacionais associadas à contratação entre sujeitos jurídicos localizados
em países diferentes – nomeadamente quanto ao direito, aos usos e às
línguas: possibilidade de formular regras sobre alguns deles.

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20.1. Regras constantes de instrumentos de soft law

- A caminho de um Direito dos Contratos Europeu ou mesmo de um Direito Privado Europeu

- A harmonização ao nível mundial

- A influência do soft law sobre os direitos nacionais

- O direito aplicado nas arbitragens internacionais

- A convergência entre os PECL e os Princípios do Unidroit: intenção comum como base,


circunstâncias relevantes para a interpretação, regra contra proferentem, «cânone holístico»,
regra de aproveitamento, regra sobre divergências linguísticas.

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20.2. Regras constantes de instrumentos de soft law – cont.

The Principles of European Contract Law 2002 (Parts I and II revised1998, Part III 2002)

Chapter 5 - Interpretation

Article 5:101 (Ex art. 7.101/101A) - General Rules of Interpretation


(1) A contract is to be interpreted according to the common intention of the parties even if this
differs from the literal meaning of the words.
(2) If it is established that one party intended the contract to have a particular meaning, and at
the time of the conclusion of the contract the other party could not have been unaware of
the first party’s intention, the contract is to be interpreted in the way intended by the first
party.
(3) If an intention cannot be established according to (1) or (2), the contract is to be interpreted
according to the meaning that reasonable persons of the same kind as the parties would give
to it in the same circumstances.

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20.3. Regras constantes de instrumentos de soft law – cont.

The Principles of European Contract Law 2002 (Parts I and II revised1998, Part III 2002) –
cont.

Article 5:102 (ex art. 7.102) – Relevant Circumstances


In interpreting the contract, regard shall be had, in particular, to:
(a) the circumstances in which it was concluded, including the preliminary
negotiations;
(b) the conduct of the parties, even subsequent to the conclusion of the contract;
(c) the nature and purpose of the contract;
(d) the interpretation which has already been given to similar clauses by the parties
and the practices they have established between themselves;
(e) the meaning commonly given to terms and expression in the branch of activity
concerned and the interpretation similar clauses may already have received;
(f) usages; and
(g) good faith and fair dealing. 36
20.4. Regras constantes de instrumentos de soft law – cont.

The Principles of European Contract Law 2002 (Parts I and II revised1998, Part III 2002) – cont.

Article 5:103 (ex art. 7.103) – Contra Proferentem Rule


Where there is doubt about the meaning of a contract term not individually negotiated, an
interpretation of the term against the party who supplied it is to be preferred.

Article 5:104 (ex art. 7.104) – Preference to Negotiated Terms


Terms which have been individually negotiated take preference over those which are not.

Article 5:105 (ex art. 7.105) – Reference to Contract as a Whole


Terms are interpreted in the light of the whole contract in which they appear.

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20.5. Regras constantes de instrumentos de soft law – cont.

The Principles of European Contract Law 2002 (Parts I and II revised1998,


Part III) – conclusão

Article 5:106 (ex art. 7.106) – Terms to Be Given (Full) Effect


An interpretation which renders the terms of the contract lawful, or effective, is to be preferred to
one which would not.

Article 5:107 (ex art. 7.107) – Linguistic Discrepancies


Where a contract is drawn up in two or more language versions none of which is stated to be
authoritative, there is, in case of discrepancy between the versions, a preference for the
interpretation according to the version in which the contract was originally drawn up.

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20.6. Regras constantes de instrumentos de soft law

Unidroit Principles on International Commercial Contracts (2010)

Article 4.1 (Intention of the parties)


(1) A contract shall be interpreted according to the common intention of the parties.
(2) If such an intention cannot be established, the contract shall be interpreted according to the
meaning that reasonable persons of the same kind as the parties would give to it in the same
circumstances.
Article 4.2 (Interpretation of statements and other conduct)
1) The statements and other conduct of a party shall be interpreted according to that party's
intention if the other party knew or could not have been unaware of that intention.
(2) If the preceding paragraph is not applicable, such statements and other conduct shall be
interpreted according to the meaning that a reasonable person of the same kind as the other
party would give to it in the same circumstances.

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20.7. Regras constantes de instrumentos de soft law

Unidroit Principles on International Commercial Contracts (2010) – cont.

Article 4.3 (Relevant circumstances)


In applying Articles 4.1 and 4.2, regard shall be had to all the circumstances, including
(a) preliminary negotiations between the parties;
(b) practices which the parties have established between themselves;
(c) the conduct of the parties subsequent to the conclusion of the contract;
(d) the nature and purpose of the contract;
(e) the meaning commonly given to terms and expressions in the trade concerned;
(f) usages.

Article 4.4 (Reference to contract or statement as a whole)


Terms and expressions shall be interpreted in the light of the whole contract or statement in
which they appear.

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20.8. Regras constantes de instrumentos de soft law

Unidroit Principles on International Commercial Contracts (2010) – cont.

Article 4.5 (All terms to be given effect)


Contract terms shall be interpreted so as to give effect to all the terms rather than to deprive
some of them of effect.

Article 4.6 (Contra proferentem rule)


If contract terms supplied by one party are unclear, an interpretation against that party is
preferred.

Article 4.7 (Linguistic discrepancies)


Where a contract is drawn up in two or more language versions which are equally
authoritative there is, in case of discrepancy between the versions, a preference for the
interpretation according to a version in which the contract was originally drawn up.

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20.9. Regras constantes de instrumentos de soft law

Unidroit Principles on International Commercial Contracts (2010) – conclusão

Article 4.8 (Supplying an omitted term)


(1) Where the parties to a contract have not agreed with respect to a term which is important for a
determination of their rights and duties, a term which is appropriate in the circumstances shall be
supplied.
(2) In determining what is an appropriate term regard shall be had, among other factors, to
(a) the intention of the parties;
(b) the nature and purpose of the contract;
(c) good faith and fair dealing;
(d) reasonableness.

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21. Duas notas finais

- O pano de fundo é o princípio da liberdade contratual – cujo respeito


implica a determinação do sentido das declarações das partes;

- Nesta área, quase nada se altera, em especial a necessidade de bons


decisores!

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