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COORDENAÇÃO

ANABEL GUILLÉN
PSICÓLOGA, PSICOPEDAGOGA, PSICANALISTA
BREVE HISTÓRICO

1887 – Ricci (Bolonha) – estudou os vários estágios da


evolução do desenho da figura humana, feito por crianças,
concentrando-se nos aspectos estéticos e na evolução da cor
e suas relações com a arte primitiva.

1893 – Barnés (Califórnia) – procurou analisar a psicologia


da criança através do desenho, estudando mais de 6.000
crianças de 6 a 15 anos.
1925 – Florence Goodenough – organizou o Teste do
Boneco, que através da apuração de 51 itens no desenho,
permite a avaliação do nível mental infantil. Pede-se a
criança que desenhe um homem, munindo-a de uma folha
de papel e lápis preto. Baseia-se na hipótese de que a
representação gráfica tende a acompanhar o processo de
maturação psíquica. Quanto mais detalhes mais
inteligente.

Aos poucos o desenho foi sendo considerado como a


expressão do modo como o sujeito percebe e compreende o
mundo, como projeção da dinâmica da personalidade.
1948 – Jonh Buck, em Virginia (EUA) – organizou a técnica
projetiva htp (casa – árvore – pessoa) e Karen Machover
(1949) em Nova York – organizou o teste da Figura
Humana, ambos tendo como premissas básicas a projeção
da imagem do próprio corpo no desenho, ou seja, a
concepção que o sujeito tem de seu próprio corpo e suas
funções no mundo físico e social.

1952 – Lauretta Bender – verificou que certas crianças


tidas pelos professores como “portadoras de traços
psicopatológicos”, apresentavam desenhos com
características não encontradas entre as demais crianças e
que as crianças “emocionalmente perturbadas” não
desenham a figura humana na proporção de suas aptidões
intelectuais.
“O desenho fala do
sujeito, da sua
subjetividade, da sua
posição frente ao
mundo”
PROJEÇÃO EM FREUD

Segundo Freud a projeção consiste em uma operação


pela qual o sujeito expulsa de si e localiza no outro
(pessoa ou coisa) qualidades, sentimentos, desejos e
mesmo objetos, que ele desdenha ou recusa em si.
Esse mesmo processo é o que rege os sonhos, o
animismo, o pensamento mágico, bem como a
produção artística, através do mecanismo de
deslocamento.
(LAPLANCHE, p. 478)
O que torna o ato de desenhar
propício para a projeção

•O sujeito é “Livre” para dizer ou fazer o que quiser, o


que o “condena” a revelar o seu desejo

•Liberdade de tempo

•Não há bons ou maus desenhos

•É possível ao sujeito falar sobre sua produção


O que pode ser projetado através do desenho

•A percepção consciente e inconsciente do sujeito em relação a si


mesmo e as pessoas significativas do seu ambiente.
•Sua forma de agir, atuar, se posicionar frente ao mundo.
•Conflitos e sentimentos inconscientes.
•Coisas que o sujeito não seria capaz de expressar em palavras,
mesmo que conscientes.
•A realização de desejos.
•Auto-imagem idealizada ou realista de si mesmo.
•A sexualidade.
•“Stress” situacional.
O que pode ser observado durante
a atividade

Observar qual é a sua postura frente a essa atividade:


•Ele se entrega confiante e confortavelmente a tarefa?
•Expressa dúvidas sobre sua habilidade e, nesse caso,
expressa essas dúvidas direta ou indiretamente,
verbalmente, ou através de atividade motora?
•Realiza movimentos, ou exibe expressões verbais que
revelam insegurança, ansiedade, autocrítica etc.
Limites a serem considerados na
análise do desenho

•Os aspectos a serem analisados não devem ser vistos


isoladamente, e sim em conjunto, e não devem seguir uma
“receita, o que nos faria correr o risco de uma interpretação
equivocada”.
•Importantíssimo destacar que a análise de um desenho deve
ser feita por meio de outros desenhos, da história do sujeito e
principalmente do que o sujeito fala acerca do mesmo.
•Interpretações são hipóteses e não certezas e não devem se
basear em dados isolados ou no imaginário do profissional que
o analisa.
•O profissional deve ter o cuidado de não projetar no
desenho analisado seus conteúdos.

•O desenho deve ser analisado dentro de um contexto


cultural e refere-se a um dado momento.

•É necessário evitar generalizações, pois cada produção é


única.
Aspectos estudados no desenho
•Fases do desenvolvimento:
Cognitivo
Psicomotor
Sócio-afetivo
•Percepção visual
•Oralidade
•Expressão
•Reprodução
•Criatividade
•Traços da Subjetividade
•Psicopatologia
Nos aspectos expressivos devemos analisar:
Seqüência
• Esta análise pode nos indicar a quantidade de energia do
sujeito e o controle do sujeito sobre a mesma.
• Nos estados depressivos, por exemplo, os desenhos se
caracterizam por uma acentuada pobreza de detalhes ou uma
incapacidade de completar todos os desenhos, por mais
pobres que sejam.
• A maioria das pessoas desenha com uma certa seqüência
esquemática a figura humana (cabeça, pescoço, tronco,
braços e pernas, dedos e pés colocados por último) denotando
organização de pensamento; os que denotam excessiva
impulsividade, excitabilidade, trabalham confusamente.
Tamanho
•Este aspecto nos oferece pistas sobre à auto-estima realista
do sujeito ou uma imagem idealizada de si mesmo.

•A relação entre o tamanho do desenho e o espaço disponível


na folha de papel pode estabelecer também um paralelo com
a relação dinâmica entre o sujeito e o seu ambiente, ou entre
o sujeito e as figuras parentais.

•O tamanho sugere a forma pela qual o sujeito esta reagindo


à pressão ambiental.
•Tamanho normal
Inteligência, com capacidade de abstração espacial e de
equilíbrio emocional.

•Tamanho diminuto
Pode ser caso de inteligência elevada, mas com problemas
emocionais.
Pode indicar inibição da personalidade, desajuste ao meio.
Repressão à agressividade.
Timidez e sentimento de inferioridade.
•Tamanho grande
Se estiver bem centrada, pode ser ambições que serão
alcançadas.

•Tamanho exageradamente grande (atingindo quase os


limites da pagina)
Sentimento de constrição do ambiente, com concomitante
ação supercompensatória, ou fantasia (uma pessoa pequena
que se desenha grande, por exemplo)
Debilidade mental, não tem noção de tamanho.
Tendências narcisistas, ou exibicionistas.
Também revela forte agressividade.
Pressão no Desenhar

Oferece indicações sobre o nível de energia sujeito.

1- Pouca pressão, traço leve.

•Baixo nível de energia, repressão e restrições.


•Indivíduos deprimidos, medrosos, e com sentimentos de
inadequação preferem traços muitos leves, quase
apagados.
Detalhes no Desenho

•Falta de detalhes adequados


Sentimento de vazio e energia reduzida, característica de
indivíduos que empregam defesas pelo retraimento e, às
vezes, depressão.

•Detalhe excessivo
Sentimento de rigidez
Atitude basicamente defensiva.
Movimento nos Desenhos

•O movimento está associado à inteligência e ao tônus vital.


•Quase todos os desenhos sugerem alguma forma de tensão
sinestésica, desde a rigidez até a extrema mobilidade.
•Figura sem movimento indica repressão e inibição.
•Pessoas jovens mostram mais movimentos funcionais,
produtos de suas fantasias.
•Movimento excessivo – Indica excitação. Também pode ser
necessidade de comunicação. O individuo inquieto, o homem
de ação, produz desenhos que contêm considerável
movimento.
Uso da Borracha

•Uso normal – autocrítica.


•Ausência total, quando a borracha se acha presente – falta
de critica.
•Uso exagerado da borracha – incerteza, indecisão e
insatisfação consigo mesmo.

Riscar o papel
•Indica dificuldade de adaptação.
Transparências
•Característica de certas etapas da evolução do grafismo. Em
adulto, é sintoma de ausência de senso de realidade (desde
quando não generalizada, não representa psicopatologia).
•Desenho da anatomia interna – início quase seguro de
esquizofrenia.

Correção e retoques
•As correções podem expressar natureza adaptável e flexível.
•Se em grande número, expressam incerteza, indecisão,
insatisfação pessoal, dificuldades projetivas em certas áreas e
perfeccionismo.
Sombreamento ou borradura
•O sombreamento pode indicar inteligência.
•São consideradas expressões de ansiedade, indicando conflito.
•Se muito acentuados, pode se pensar em angustia e depressão.

Estereotipias
•Consiste em repetição mecânica do mesmo esquema, quase
sempre sem conteúdo e realizado com regularidade.
•Em sujeitos com mais de doze anos expressam deficiências de
expressão, falta de independência no julgar, primitivismo,
realismo estreito, limitado horizonte psicológico (junto a outros
indícios, pensa-se em atraso no desenvolvimento mental).
Localização

•No meio da página: Indica pessoa ajustada: Crianças que


desenham no centro da página mostram-se mais
autodirigidas, autocentradas.

•Desenhos fora do centro da página: Pessoas menos centradas


mais dependentes.

•Desenho em um dos cantos: Pessoas fugindo ao meio. Pode


indicar fuga ou desajuste do indivíduo ao ambiente.
•No eixo horizontal, desenho mais para a direita:
Comportamento controlado, desejando satisfazer suas
necessidades e impulsos, prefere satisfações intelectuais a
as emocionais.

•No eixo horizontal, mais para a esquerda:


Comportamento impulsivo procura satisfação imediata de
suas necessidades e impulsos.

•Na linha vertical, acima do ponto médio: Desajuste com


possibilidade de reagir ao mesmo. Acha que está lutando
muito, seu “ideal” é inatingível; tende a procurar satisfação
na fantasia, em vez de na realidade; tende a manter-se
alheio e inacessível; espiritualidade.
•Abaixo do ponto médio da página: O individuo sente-se
inseguro e inadequado, em depressão; preso a realidade e ao
concreto, firme e sólido; materialismo.

•Figuras dependuradas nas margens do papel (como janelas


dependuradas das bordas das paredes): Refletem necessidade
de suporte; medo de ação independente; falta de auto-
afirmação do sujeito.
Aspectos de conteúdo do Desenho

DESENHO DA FIGURA HUMANA


(Machover)

Técnica através da qual podemos analisar a


percepção que o sujeito tem de si mesmo, sua
auto-imagem e como ele se posiciona em relação
ao meio. É mais obviamente carregado de
experiências emocionais associadas ao processo
de subjetivação.
ANÁLISE DO DESENHO

a) Seqüência das figuras


•A maioria das pessoas desenha a figura do próprio sexo
primeiro.

b) Proporção entre os desenhos feitos


•Baseia-se na idade de cada um ou indica o valor que o
sujeito atribui a figura desenhada.
c) Posição da figura desenhada

•Figura de frente – Quando a figura é do próprio sexo do


propósito, significa aceitação de seu próprio sexo. Resolução
da fase edipiana. Aceita o mundo de frente.

•Desenho de perfil – Pode ser uma dissimulação, ou um


desajuste, ou incapacidade de enfrentar o meio. Indiferença
ao meio.

•Desenho de costas – Dissimulação de impulsos culposos e


inconfessáveis. Pode ser caso de ambivalência sexual.
•Figura de pé – Significa força, energia, adaptação.
•Figura sentada ou agachada – Inibição, submissão,
debilidade física, fraca energia para responder aos
estímulos externos.

•Deitado – Patológico. Pode revelar uma situação de fato,


como, por exemplo, o propósito tem uma pessoa doente na
família.

•Figura inclinada – Solta no espaço. Instabilidade


psíquica ou somática. Desvio de controle visomotor.
d) Transparência na Figuras
•É natural até 6-7 anos, além dessa idade a figura é
desenhada sem transparência. Quando aparecem elementos
sexuais através da roupa, irá demonstrar curiosidade
sexual.
e) Figuras Cabalísticas
•Onde aparece geometrismo, estereotipia, trata-se de
personalidade esquizóide. Nesses casos, a figura humana é
desenhada de forma que não existe na realidade.
f) Figuras Grotescas
•Insensibilidade, baixo nível mental.
g) Figura não inteira

• Só a cabeça – Censura ao seu próprio corpo. Problema de


grande censura sexual.
•Desenho só do busto – Censura à área genital.
•Cabeça exagerada – Debilidade mental.
Pode ser narcisismo ou valorização exagerada da própria
inteligência.
•Tamanho reduzido – sentimento de inferioridade. Pouca
inteligência.
•Partes omissas – Faltando um braço ou uma perna, etc.,
aparece em deficientes mentais, problema somático, pode ser
censura relacionada à parte omitida.
h) Sucessão das partes desenhadas

•Começo pela cabeça – É o mais comum. Indica a


aceitação do desenvolvimento humano.
INTERPRETAÇÃO ESPECÍFICA DE CADA
PARTE DA FIGURA HUMANA DESENHADA
1.Cabeça
É a parte do corpo onde se localiza o Eu. Há, portanto, ênfase
no desenho da cabeça.. A maior parte do auto-conceito do
indivíduo está focalizado na cabeça.
A cabeça é considerada o centro do poder intelectual, social e
do controle dos impulsos corporais.

2. Rosto
Representa a capacidade de inter-relação social.
3. Olhos
Representam como o sujeito encara o mundo, a vida.

4. Cabelos
Tem um significado psicosexual.

5. Bigode e Barba
Raramente aparece em desenhos de adolescentes e adultos.

6. Nariz
Essencialmente possuidor do simbolismo sexual.
7. Orelhas
Seu aparecimento, no desenho, indica passividade.
•Omissão – É comum.

8. Boca
Refere-se às tendências captativas, como nutrição, satisfação da
libido oral, relações sociais (dar e receber afeições) e, mesmo,
relações sexuais.
•Língua – Dificilmente aparece, só em esquizóides,
esquizofrênicos, ou desvio de conduta sexual; pode ser um
problema de fato.
•Dentes – A partir dos 7 anos, raramente aparece. Comumente
aparece em pessoas imaturas afetivamente. Situação de fato, ou
problema somático. Pode ser uma forte agressividade.
9. Queixo
É um símbolo sexual.
•Queixo quadrado – Afirmação social, teimosia, firmeza,
decisão.
•Queixo redondo – Traço de feminilidade.

10. Pescoço
Elemento de ligação entre as forças afetivas e os impulsos
controladores do corpo.
11. Ombros
Indica poder físico; força do ego.

12. Braços e mãos


Relacionam-se ao desenvolvimento do Eu e à sua adaptação
social, ou inter-relação com o ambiente. A extensão, direção e
influência das linhas dos braços, relacionam-se com o grau de
espontaneidade da pessoa no ambiente.

13. Pernas
Representam o contato com a realidade. A possibilidade de
realização de desejos, auto-afirmação.
14. Pés
Indicam a segurança geral do indivíduo em caminhar no
meio ambiente.

15. Tronco
Representação da força Egóica

16. Costelas
Sua representação no desenho é rara. Dá-se no caso de
esquizofrenia e indica problema grave.

17. Cintura
Controladora dos impulsos sexuais e corporais.
18. Roupas
A roupa teria surgido por necessidade de proteção, pudor e
socialização. A indumentária nasceu da harmonia desses três
aspectos e tem seu aspecto social.

19. Elementos acessórios


•Óculos – Dissimulação da dificuldade em enfrentar o mundo.
Aspecto de ambição.
•Meias e luvas – Símbolo com resposta de cobertura sexual.
Sentimento de culpa. Menos-valia, dissimulação, fantasia de
realização sexual ou prática sexual.
•Chapéu – Proteção.
•Jóias e pinturas – Desejo de afirmação social, afirmação
econômica e sexual.
•Cigarro ou cachimbo na boca – Ênfase erótico-oral.
•Pastas, bolsas muito retocadas – Pode ser um simbolismo
sexual.
Análise da figura humana (observação geral)

•Figuras como palhaços, caricaturas ou ridículas indicam


desprezo e hostilidade em relação a si mesmo; rejeição;
inadequação.

•Figuras “palitos” ou representações abstratas são


indicadores de “evasão”, insegurança.
DESENHO DA CASA
(John Buck)

Pode-se dizer que a casa desenhada assume, na maioria das


vezes, duas significações:
a) Constitui um auto-retrato, expressando as fantasias, o ego, a
realidade, os contactos e a acessibilidade.
b) Expressa a percepção da situação no lar-residência,
passada, presente, desejada para o futuro, ou uma combinação
de todas as três formas.
Teto
As observações indicaram que o teto pode ser empregado, pelo
indivíduo, para simbolizar a área ocupada na sua vida pela
fantasia.
Paredes
Verifica-se que a força e a adequação das paredes da Casa
desenhada estão diretamente relacionadas com o grau de força
do ego, na personalidade.
Porta
A porta é o detalhe da casa através do qual é feito o contacto
direto com o ambiente.
Fechaduras ou dobradiças
Ênfase em fechaduras ou dobradiças demonstra sensibilidade
defensiva.
Janelas
As janelas representam um meio secundário de interação com
o ambiente.
Chaminé
É um símbolo fálico.
Em indivíduos bem ajustados, a chaminé indica apenas um detalhe
necessário na representação de uma casa. Entretanto, se o
propósito sofre de conflitos psicossexuais, a chaminé – em virtude
de seu papel estrutural e sua saliência em relação ao corpo da casa
– é suscetível de receber a projeção dos sentimentos latentes do
sujeito, acerca de seu próprio falo.
Linha Representativa do Solo
A relação entre a Casa, Árvore ou Pessoa desenhada e a linha do
solo reflete o grau de contatos do sujeito com a realidade.
A mesma ligação simbólica entre o solo e a realidade prática
evidencia-se, também, através da linguagem coloquial: “Ele tem os
pés na terra”.
Indica necessidade de apoio ou ajuda.
Acessórios do Desenho da Casa
•Casa com árvores, vegetais e outros detalhes – Falta de
segurança, tendo de cercar e proteger sua casa.
•Muito jardim – Expressão sexual feminina.
•Florzinha, patinho – Imaturidade afetiva.
•Caminho bem feito e proporcionado, conduzindo à porta –
Controle e tato no seu contato com os outros.
•Caminho longo e sinuoso – Ocorre entre aqueles que,
inicialmente, se retraem, mas eventualmente se tornam cordiais e
estabelecem uma relação emocional com os outros. Demoram e
se mostram cautelosos em fazer amizades, mas, quando a relação
se desenvolve, tende a ser profunda.
•Cercas desenhadas em torno da casa – Representam um
comportamento defensivo
DESENHO DA ÁRVORE
(Koch)

A árvore, ser que vive em função de elementos ambientais


(chuvas, vento, calor etc.) é dos desenhos o que mais revela a
auto-imagem da pessoa no contexto de seu relacionamento
com o ambiente, além de como se sente em relação ao seu
equilíbrio intrapessoal.
TRONCO
O tronco representa o sentimento de poder básico e força
interior do sujeito, o que significa, em terminologia
psicanalítica, a “Força do ego”. Koch também comenta que o
tronco, freqüentemente, representa a área básica do
autoconceito.
Superfície do tronco

É a zona de contato entre o interior e o exterior – o meu e o


teu, o eu e o meio ambiente. A qualidade do envoltório
sugere diferenças existentes entre a atitude interior e a
conduta exterior. Como um véu, tanto pode cobrir, proteger
e inclusive disfarçar o verdadeiro ser

RAIZ
A raiz corresponde à parte inconsciente do eu, às forças
impulsivas, instintivas e não elaboradas – ao Id da teoria
freudiana.
COPA
Suas extremidades formam a zona de contato com o
ambiente, zona de relacionamento entre o que é interior
(estrutura) e o que é exterior.

GALHOS OU RAMOS
Representam os recursos do indivíduo para buscar
satisfação no ambiente, para aproximar-se dos outros, para
se expandir e, deste modo, realizar-se. Representam os
membros da árvore, que equivalem, no autoconceito do
indivíduo, aos braços no desenho da pessoa.
FLORES
Representam a energia vital; imaturidade emocional.

FOLHAS
Representam vivacidade e produtividade.

FRUTOS
Indicam o desejo de maturação; de mostrar capacidade.
USO DA COR

O uso da cor refere-se à vida emocional e


afetiva (empatia, tensão, conflito,
harmonia) do sujeito; sujeitos
psicologicamente mais equilibrados
atiram-se com menos resistência e mais
profundidade no emprego das cores.
SIGNIFICAÇÃO DAS CORES
I – Quanto à variação
Preto e branco – Ansiedade, depressão, grandes temores.

Cinza – Tristeza, insatisfação.

Azul – Tranqüilidade, racionalidade.

Vermelho - É a cor mais emocional. O interesse pelo


vermelho decresce, à medida que a criança supera a fase
impulsiva e ingressa na fase da razão e de maior controle
emocional.
Verde – Criação, reprodução

Amarelo sol - Força, energia, estabilidade, euforia.

Alaranjado - Desejo de contato, repressão da agressividade,


desejo de simpatia; mais fantasia que ação.

Roxo - Paixão, depressão; Lilás – Paz, espiritualidade e


realização.

Marrom (preferência) - Caráter mais regressivo; contato


com a realidade.
II - Quanto à intensidade e freqüência no uso das cores

Azul - Controle dos impulsos emocionais: predomínio da


razão.

Vermelho - Impulsividade.

Amarelo - Bom tônus vital, alegria.

Recusa total da cor - Afetividade coartada.


DESENHO DA FAMÍLIA
Segundo C.W. Hulse:

I - Objetivos
Conhecer a situação do sujeito dentro
de seu meio familiar. O que vê nesse
meio. Como se vê; sua percepção da
sua relação com as figuras parentais.
Dados para interpretação do Desenho da Família

•Análise de cada figura - A primeira pessoa desenhada:


verificar traços, negrito, transparência, riscados, localização,
proporção etc., da pessoa desenhada. Verificar a segunda, a
terceira pessoas desenhadas e, assim, sucessivamente. De
acordo com a colocação das figuras, descobre-se a valência
dessas pessoas, para o sujeito.

•Omissão do sujeito - Não sente que participa, realmente, na


família. Não recebe a afetividade que necessita. Rejeita, ou se
sente rejeitado (ou desejo de se afastar).
•Omissão de elementos da família (por ex. irmãos).

•O tamanho das diferentes figuras (por ex. figura materna


grande e o pai representado como pequeno e insignificante).

•Expressão facial dos genitores.

•Família real ou idealizada.


DESENHO DE UM ANIMAL
Segundo Levy

I. Objetivo
Animais são símbolos e personificações projetados de
impulsos e sentimentos inconscientes.

II. Dados para Interpretação do Desenho do Animal


1- Aspectos expressivos (abordados anteriormente).
2- Análise de animais específicos:

•Pássaros - simbolizam fuga; orientação para a ação.

•Animais exóticos (ex. Corvo) - sujeito incomum.

•Gato - feminilidade; maternidade; frieza; afastamento;


vida noturna; autocentrismo.

•Serpente - fonte de vida; fonte da morte; fonte do


conhecimento proibido (inconsciente).
•Cavalo - trabalho; ajuda; medo de castração; estrutura
integrada.

•Elefante - grandeza; falta de coordenação.

•Coelho - timidez; fertilidade.

•Borboleta - espiritualidade.

•Cachorro – Fidelidade, defesa.

3- A narrativa do sujeito sobre o animal.


EVOLUÇÃO DO DESENHO

•Processo que tem ligação direta com o amadurecimento


perceptivo-motor, neurológico, mental e emocional da criança,
bem como com sua construção enquanto sujeito.

•O desenho é a manifestação de uma necessidade vital da


criança: agir sobre o mundo que a cerca, intercambiar,
comunicar e trazer à tona desejos, impulsos, emoções e
sentimentos.

•Como o adulto, a criança projeta no papel sua imagem e exibe


uma atividade profunda do inconsciente.
I – FASE DO RABISCO
1- VEGETATIVO-MOTOR (18 MESES)
A – Corresponde ao período sensório-motor em que a
criança está buscando assimilar o real ao eu, dominar os
objetos.

B – As crianças descobrem o prazer em rabiscar não apenas


pelo movimento rítmico do braço, mas também pelos traços
que vão surgindo.

C – Não há preocupação com a preservação dos traços;


freqüentemente os cobrem rabiscando sobre eles.
D – Trata-se de uma atividade motora em que o corpo
inteiro funciona.

E – Há um prazer em se sujar e responde a uma descarga


agressiva (fase sádico-anal).

F – Os rabiscos geralmente são ondulados; não são


intencionais; o lápis não sai da folha e os movimentos
correspondem a uma excitação motora (traço contínuo).
Ian, 25 meses

Alexandre (2 anos e meio)


II – REPRESENTATIVO (2/3 ANOS)

A – Aparecem formas isoladas, tornadas possíveis pelo


levantamento do lápis (traçado descontínuo).

B – O ritmo se torna mais lento.

C – Inicia-se a tentativa de reproduzir o objeto e os


comentários verbais acerca do mesmo.

D – Produção ganha valor de permanência (passa a ser dado).


III – COMUNICATIVO (3/4 ANOS)

A – A imitação do aluno torna-se mais manifesta e se traduz


por uma vontade de comunicar-se com o outro

B – Aparece a escrita fictícia que procura reproduzir as


letras dos adultos.
Não há um pulo de um estágio a outro. Ela precisa exercitar
os tipos de linhas e formas que anteriormente tenham
produzido com sucesso uma semelhança e desenvolverão
um repertório de linhas e formas que possam ser usadas
para desenhar novos objetos.
IV – EVOLUÇÃO DAS LINHAS

A – Por volta dos 20 meses a criança começa a fazer traços


para apresentar um objeto inteiro ou uma pessoa.

B – Alguns nomeiam seus rabiscos, antes ou depois que o


executam, sem nenhuma semelhança com o objeto real, a fim
de torná-los reconhecíveis.

C – Às vezes notam em seus rabiscos espontâneos uma


semelhança com algo que elas conhecem e, então
intencionalmente, acrescentam-lhe outras partes.
Aidan, de dois anos e sete
meses, anunciou: “Estou Mamãe e Papai, de
desenhando um homem. Simon, três anos e
Essa é a mamãe. Esse é o dois meses.
papai. Essa é Ângela.”
D – A forma que a criança desenha não é somente um símbolo
arbitrário que representa um objeto do mesmo modo que uma
palavra representa um objeto: deve haver alguma semelhança
entre o desenho e o que representa. O problema que estão
empenhados em resolver é como fazer os traços no papel de
modo que possamos reconhecer seu significado, atrelado ao
prazer de manejar formas, cores, materiais.

E – Mesmo com a evolução das linhas a criança não abandona


necessariamente os rabiscos, pois rabiscar permite
experimentar e desenvolver novas maneiras de usar linhas que
podem ser incorporadas ao esquema figurativo.
V – EVOLUÇÃO DAS FORMAS
GEOMÉTRICAS
A – As crianças conseguem perceber a diferença entre
formas geométricas simples (círculo, triângulo) muito antes
de saber desenhá-las (domínio gestual).
B – Nos rabiscos aos poucos os gestos vão naturalmente se
arredondando. Surgem espirais e corações (dentro para
fora; fora para dentro). Há vários ensaios até o
aparecimento do 1º círculo fechado.
C – O aparecimento do círculo fechado é o aparecimento da
forma fechada. É o objeto, é o corpo. Algo permanente que
distingue do todo. Inaugura-se a diferenciação entre mundo
exterior/interior; dentro/fora; aberto/fechado; eu/outro.
D – As formas circulares amadurecem, associam-se entre si
e relacionam-se com outros elementos gráficos. Surgem
radiais, os sóis, as mandalas.
E – A gênese do círculo, do quadrado e do triângulo apesar
de constituírem formas fechadas, elas elaboram em níveis e
operações mentais diferentes.
O círculo nasce de movimentos contínuos (pulsional). O
quadrado nasce de movimentos descontínuos e coincide com
a aquisição do duplo controle do ponto de partida e do ponto
de chegada. Exige maior controle visual numa comunhão
total entre olho, cérebro e mão.
F – As formas geométricas elementares (círculo, quadrado,
triângulo) permitem à criança conjugar novos espaços,
novas figuras.
G – O domínio gestual e conseqüentemente as formas vão
evoluindo de uma atividade sem objetivo para uma
finalizada.

2 anos – traços verticais ou circulares


Mão guia o olho 2 anos e ½ - traços horizontais
3 anos - círculo

4 anos – cruz
4 anos e ½ - quadrado
Olho guia a mão
5 anos – triângulo
7 anos - losango
H – Inicialmente há apenas uma distinção topológica
(figuras abertas e fechadas). As propriedades euclidianas
(beiradas, ângulos, distâncias) surgirão posteriormente.
VI – EVOLUÇÃO DA FIGURA HUMANA
(BONECO)

A – O primeiro desenho manifestamente figurativo que as


crianças desenham é a figura humana (origem de toda
figuração infantil) e esta permanece como um dos temas
mais escolhidos até mais ou menos os dez anos.

B – Com o desenho do boneco a criança passa do traço para


o signo que supõe a distinção e a aproximação entre um
significado e um significante (da ação á representação).
C – Ele é o resultado do círculo irradiado (pré-figuração do
boneco girino) e constitui-se como signo egocêntrico.

D – Mais ou menos aos 3 anos de idade surgem os


“homenzinhos cabeçudos” (cefalópodes, girinos)
representados geralmente por um único círculo, que pode
conter traços faciais, posto sobre o que parecem ser duas
pernas. Os braços podem estar presentes ou não e quando
estão ficam ligados ao que parece ser a cabeça.

E – A maioria das crianças passa por uma fase girino


podendo durar dias ou muitos meses.
Aparecimento da
irradiação
(2 ou 3 anos).

Celine
(4 anos)
1 – TRANSFORMAÇÃO DO GIRINO EM
BONECO ESQUEMÁTICO

A – Inicialmente localizam o tronco no mesmo círculo da


cabeça.
B – Numa fase de transição da figura girino, a criança
desenhará as pernas mais longas do que a cabeça e colocará
a barriga entre as pernas e os braços, são colocados também
nas pernas deixando o círculo representar apenas a cabeça.
C – Elas não tem dificuldade de conceber a figura humana,
mas é difícil desenhar uma parte de cada vez e na seqüência
(uma parte em relação às demais). Até os 5 anos por
exemplo é comum esquecerem os braços.
D – Por volta dos 5 anos seus desenhos do boneco tornam-se
mais diferenciados (tronco distinto da cabeça) e desenham
mais partes do corpo (mãos/pés) como acrescentam-se mais
detalhes (sobrancelhas, bolsos, botões). Meninas tendem a
acrescentar mais detalhes que os meninos.

E – Por volta dos 6 anos começam a desenhar pares de


linhas para limitar uma região (pernas e braços).

F – Certas partes do corpo como a cabeça, as pernas ou as


mãos podem ser desproporcionalmente grandes em
comparação com o resto da figura, em conseqüência da
importância que a parte tem para ela (grandeza afetiva) ou
porque esperam incluir mais detalhes à mesma.
Stephen, de cinco anos e cinco meses, usou círculos A cabeça e o corpo da figura de Simon
separados para a cabeça e para o corpo de sua figura e têm um limite compartilhado no
linhas únicas para os braços e pernas. “pescoço”.

A fase de girino de Amy durou três dias e logo ela passou


a desenhar figuras convencionais.

Aidan apresentou uma mistura de figuras de “girino”, transitórias e


convencionais, durante vários meses até desenhar apenas formas
convencionais.
Christophe (4 anos)
Exemplo de proporções afetivas: boneco maior que a casa.

Exemplo daquela transformação


analógica tão freqüente na criança: as
pupilas do boneco transformaram-se
em duas cabeças.
(Josette, 5 anos)
G – Por volta dos 8/9 anos introduzem ombros, sendo que
pescoço e ombros são fundidos e os braços também se
fundem ao segmento do corpo o que denota um avanço
intelectual, pois já dominam mentalmente as partes a serem
desenhadas bem como a sua inter-relação.

H – A criança que inicialmente se interessava em colocar o


boneco perpendicularmente ao solo, se torna mais
interessada em desenhá-la participando de alguma
atividade. Aos 7 anos, utilizam recursos como dobrar o
joelho ou cintura da figura; coloca o objeto lateralmente à
figura; linhas tracejadas indicam movimento.
b c d
a
e

Diferenças segundo as idades na capacidade das crianças em modificar suas figuras de modo a mostrá-las
se curvando para apanhar uma bola: por volta dos quatro anos a figura e a bola estão simplesmente lado
a lado (a), um dos braços é alongado (b) ou a posição da bola é elevada (c); aos seis ou sete anos a figura
ainda é rígida, mas os braços são colocados lateralmente (d); após os seis ou sete anos a figura é flexionada
nos joelhos ou na cintura (e).

a
b
As crianças às vezes colocam linhas de movimento em suas figuras (a) ou indicam o
movimento com uma linha tracejada (b).

Os jogadores de Futebol, de um menino de onze anos e sete meses. A posição inicial da bola,
à direita, e sua posição final, à esquerda, estão ligadas por uma linha.
a
c
b
8 anos e 5 meses 4 anos 8 anos e 5 meses
(idade mental: 4 anos e 10 meses) (idade mental: 5 anos e 6 meses) (idade mental: 7 anos e 7 meses)
O desenho de figura humana feito por uma criança com graves dificuldades de aprendizagem
(a) é semelhante a um feito por uma criança mais jovem na creche (b) e muito maduro que o
de uma criança normal.

Criança “psicótica” (13 anos): tesoura

Claudine (13 anos): distúrbios na


apreensão do esquema corporal:
relações topológicas inacabadas.
2 – TRANSFORMAÇÃO DO BONECO
EM OUTRAS FORMAS

A – As formas de animais parecem inicialmente com as de


seres humanos. São colocados verticalmente e só com o
tempo irão colocá-las na horizontal e acrescentar detalhes
como orelhas pontudas e caudas.

B – Devido ao antropomorfismo da mentalidade infantil a


criança anima personagens e objetos. Por exemplo, desenha
a casa com cabeça humana, ela desenha sempre ela mesma.
A menina, que fez estas figuras, aos quatro
anos e um mês, desenhou o cão (à esquerda)
na mesma posição vertical que o homem (à
direita)

Tentativas de Amy em direcionar os detalhes da


cara e as pernas de suas figuras de animais.
A estrada com seus pontos centrais e suas
árvores deitadas (resíduos dos quatro membros
do boneco).

A pré-casa com suas duas chaminé (resíduo dos dois


braços do boneco)
V – EVOLUÇÃO DO ESPAÇO

Antes mesmo de desenhar no papel a criança desenha com o


corpo através de jogos e brincadeiras, dos gestos. A forma
como ela expressa sua percepção espacial no papel espelha a
percepção corporal que ela tem de si própria.

A – Espaço Postural-Bucal
Inicialmente não há noção de espaço. O mundo está em torno.
O que impera é o espaço emocional ligado às primeiras
sensações de prazer/desprazer, espera/desejo a partir do trazer
para perto ou levar para longe os objetos dotados de afeto.
B – Espaço Sensório-Motor
Ligado aos movimentos da criança (espernear, engatinhar,
andar). Constitui-se pela experiência espacial por ela vivida.
C – Espaço Gráfico (do Gesto)
A folha de papel constitui espaço de traço. Pela ocupação do
papel a criança vai amadurecendo intelectualmente passando a
perceber as diferenças e semelhanças (percepção topológica do
mundo: parte/todo; dentro/fora; pequeno/grande). O espaço não
mais se confunde com o objeto e se torna meio. (até 8/9 anos).
D – Espaço Representativo
•Dá origem ao desenho figurativo
•Há uma preocupação em imitar o real
•Nessa imitação há criação e interpretação
VI – EVOLUÇÃO NA FORMA DE
REPRESENTAÇÃO DOS OBJETOS

A – Até mais ou menos os 8 anos as crianças produzem


composições nas quais parte de uma cena, normalmente fora
de vista, parecem estar torcidas de modo que possamos vê-las.
Estão mais preocupadas em que os objetos que desenham
sejam claramente reconhecíveis do que estejam corretamente
desenhados sob determinado ponto de vista.

B – Elas desenham o que elas conhecem e não aquilo que elas


vêem. Baseiam-se em sua idéia ou conceito sobre o objeto
(modelo interno mental). Essa concepção causa o efeito de
transparência (+/- 8 anos).
a b c

a b c
Desenhos de transparências de uma mulher usando saia longa (linha superior) e de
um homem usando paletó (linha superior). Há três tipos de transparências:
rabiscos (a), linha-sobre-linha (b) e contorno (c).

Nestes desenhos de transparências podemos ver as


pernas e o corpo dos homens no barco (a) e ambas
as pernas do homem a cavalo (b).

a b
Ao se pedir que desenhem um alfinete de chapéu
atravessando uma maçã, as crianças mais jovens
desenham o alfinete inteiro (a), quando têm mais
idade, omitem o segmento central do alfinete (b); as
crianças mais velhas, porém, desenham o modelo
a b c
conforme vêem (c).
Os lados dessas casas parecem ter sido
desdobrados e achatados sobre o papel.

Cavalo e carroça desenhados por Simonne, de


sete anos e sete meses. Temos uma vista
lateral do cavalo, mas uma vista aérea da
carroça; os ocupantes parecem estar deitados.

Jogando Damas, de um menino de sete anos.


C – Inicialmente a criança vira o papel para continuar
desenhando, pois não consideram tudo que desenham como
parte de uma cena. Conseguir levar em conta tanto as
referências internas à figura quanto as externas da folha é
um procedimento avançado.

D – Suas primeiras tentativas em planejar um desenho


começam com a colocação de linhas do chão e do céu, com a
ação acontecendo entre elas.

E – Até os 7/8 anos uma região pode ser usada para


representar todo o volume do objeto e só mais tarde para
representar parte da superfície do objeto, a que pode ser vista
de acordo com o ângulo de observação.
Thirry, 4 anos: plano deitado irradiante.
Plano deitado. Multiplicidade de pontos de vista.

Os trilhos são
apresentados
deitados.
F – É comum desenharem perpendicularmente em relação à
linha de base (8/9 anos), e não em relação à base do papel.

G – Quando preocupadas em preservar as formas em pelo


menos dois planos perpendiculares fazem configurações com
rebatimento (8/9 anos).

H – Por volta dessa faixa etária (8/9 anos) querem que seus
desenhos não sejam apenas identificáveis, mas também
visualmente realistas (efeito fotográfico).
Uma casa, de Amy, de cinco anos. A chaminé parece estar caindo do
telhado.
Em Estou Subindo o Morro, feito por uma
criança de sete anos, a figura humana e as
flores foram desenhadas sobre a encosta em
ângulo reto e não verticalmente.

As crianças desenham as árvores perpendiculares às


margens da estrada se estão não parecem convergir.

O Fazendeiro está no Seu Esconderijo, feito por


Deborah, de nove anos. Neste exemplo de
rebatimento, as figuras foram dispostas ao redor
de uma linha de solo circular.
I – No início da adolescência a maioria das crianças já
desenvolveu um modo de desenhar que é reproduzido
quase que automaticamente de forma mais realista, mas
não fotográfica. Passam a usar recursos que sugerem
profundidade (perspectiva linear ou convergente) ou
distância.
A lateral da casa de Amy foi
desenhada oblíqua à frente e indica
uma mudança de plano.
Michelle (11 anos): plano
deitado

Aparecimento da conduta da mira: O foguete que levanta vôo:


diminuição projetiva do objeto
Os passos que se afastam sobre a em função do afastamento.
neve ligam o personagem ao iglu.
Vários autores estudaram
essa evolução e chamaram
a atenção para diferentes
aspectos que a
caracterizam. Poderíamos
citar:
1 – LUQUET

A atividade do desenho consiste numa série de etapas que


preparam a criança para a visão do adulto.

A - Incapacidade sintética (realismo fortuito)


Existe compreensão de uma relação entre os elementos do
desenho, mas esta é representada de forma inadequada.

B – Realismo fracassado (3/4 anos)


Há tentativa de reproduzir a forma dos objetos.
C – Realismo intelectual (4/10 anos)
As relações topológicas são respeitadas. Os elementos de
uma mesma cena são encarados de diversos ângulos.

D – Realismo visual (8/9 anos)


As relações projetivas e euclidianas determinam e
conservam as posições reais das linhas umas com as outras
integrando o espaço topológico.
2 – LOWENFELD

A – A evolução do desenho é considerada como um reflexo


do desenvolvimento intelectual e emocional da criança que
se reproduz inicialmente na etapa das garatujas a figura
pré-esquemática (consciência da forma), concluindo na
esquemática (começo do realismo).

B – O mundo real, diferente de Luquet, é aquele que a


criança sente e não apenas o que ela vê. O real depende dos
seus sentimentos, por isso a representação não é do objeto
em si e sim da experiência em particular.
3 – VIGOTSKY

A – O desenho exprime o conhecimento conceitual que a


criança tem de uma realidade.

B – A capacidade de produzir imagens são formadas na


experiência concreta com os objetos reais e na interação com
o outro, mediado pela palavra.
C – Os significados dos desenhos não estão nas figuras, mas
são dados pela linguagem.

D – O objeto figurativo compreende pensamento, ação e


linguagem.

E – Desenho como estágio preliminar à escrita (escrita


pictográfica).
4 – MEREDIEU

A – Ressalta a evolução dos rabiscos à escrita


(desgestualização progressiva), ou seja, da atividade
pulsional não regulada para a canalização desta descarga
impulsiva (traços), pela escrita, em termos regulados de
significações (signo).

B – A figura do boneco é tomada como essencial nesse


processo de regulamentação dos traços.

C – Ressalta ainda a influência da cultura no


desenvolvimento gráfico.
Escritas, desenho de Nabil. (Palestino, 5 anos)

Desenho infantil: note-se


a analogia entre a escrita
pictográfica e os
brinquedos desenhados
na cesta.
VII – DESENVOLVIMENTO GRÁFICO E
CULTURA

A – A criança adota um estilo ao desenhar de acordo com


sua subjetividade e com seu contexto cultural.

B – Piaget reconhece que as diferenças físicas entre os povos


podem ser os responsáveis pela escolha de diferentes
esquemas, além da influência que a criança recebe de adultos
e outras crianças.
C – Houve uma evolução histórica na forma de
representarmos objetos. A elaboração dos princípios
matemáticos da perspectiva linear ou convergente (como
objetos e cenas se afiguram de um ponto de vista
determinado) na Renascença Italiana (Leonardo da Vinci)
e a invenção da fotografia (Realismo visual) foram marcos
nessa evolução.

D – O reconhecimento da originalidade da infância por


Rosseau (1880/1900) contribuíram para que o desenho
infantil deixasse de ser visto como tentativas fracassadas,
ao ser comparado com o do adulto.
E – A evolução gráfica também está vinculada à evolução dos
instrumentos papel, canetas hidrográficas e a criança é
tributária do adulto pois é ele que fornece a ela tais
materiais.

F – A arte sofreu uma mutação passando à se interessar mais


pelo ato criador e por suas transformações, do que pela obra
(produto).
VIII – POR QUE AS CRIANÇAS
DESENHAM?

A – Ao desenhar pela 1ª vez algo em uma folha, ela produz uma


“marca” concretizando sua existência como sujeito.

B – O que dá valor a todo desenho é que ele limita, circunscreve


o caos do mundo que cerca a criança, até mesmo sua crueldade.

C – No fim do período das garatujas (rabiscos) é a forma


circular que se torna preponderante. Este círculo faz ato de
separação, construindo para ela uma passagem ao simbólico e a
insere num diálogo.
IX – CONTRIBUIÇÕES DA
PSICANÁLISE À ANÁLISE DO
DESENHO

A – Desenho – É uma marca que tem valor de assinatura


(inscreve uma subjetividade). Em grego significa
arranhar, traçar, escrever, redigir.

B – Intérprete – Deve estar atento ao saber que é


constituído pelo próprio sujeito e que é comunicado pelo
enunciado que o sujeito associa ao seu desenho.
Não ficar mais preocupado com sua própria palavra do
que com a do seu aluno (inconvenientes projetivos
imaginários).

C – Decifração – É necessário deixar o sujeito produzir


uma série de desenhos e deixá-lo livre para associar a
respeito de sua produção.

A série de desenhos mais o enunciado descritivo deixará


aparecer o valor simbólico dos desenhos.
“A pintura busca sempre elementos de
eternidade, e por isso ela tende ao divino. O
desenho, muito mais agnóstico, é um jeito de
definir transitoriamente, se posso me exprimir
assim. Ele cria, por meio de traços
convencionais, os finitos de uma visão, de um
momento, de um gesto. Em vez de buscar as
essências misteriosas e eternas, o desenho é
uma espécie de definição, da mesma forma que
a palavra “monte” substitui a coisa “monte”
para nossa compreensão intelectual.
Mário de Andrade
Colégio Cândido Portinari

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