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A TEORIA DE PIAGET A RESPEITO DO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO

Jean Piaget nasceu na Suíça, em 1886.


Inicialmente desenvolveu estudos e pesquisas na área de biologia. Apenas mais
tarde começou a se interessar por Filosofia, principalmente os estudos da epistemologia,
área preocupada com as questões da origem do conhecimento.
Foi justamente tal curiosidade – a origem do conhecimento - que encaminhou
Piaget para indagações psicológicas.
Ao contrário do que possa parecer incialmente, Piaget nunca atuou no campo da
Pedagogia, mas suas ideias a respeito do desenvolvimento cognitivo humano exerceram e
exercem, até hoje, forte influencia no campo da Educação.
Largamente interessado em desenvolver estudos experimentais na área de
epistemologia, Piaget começou a ser “sensibilizado” por trabalhos de Freud e Jung, tendo
em 1920 publicado um artigo sobre a relação entre a psicanálise e a psicologia infantil.

Nesse mesmo ano começou a trabalhar no laboratório Binet, em Paris, logo


desconfiando dos chamados testes de inteligência utilizados na época. Na aplicação de tais
testes ele começou a observar que as respostas erradas que as crianças davam eram mais
interessantes e reveladoras a respeito de formas de pensar do que as respostas
consideradas corretas. Observou, ainda, que certas respostas erradas ocorriam em crianças
da mesma idade, e que havia diferentes tipos dessas respostas em diferentes idades. A
partir daí, Piaget concluiu que as crianças mais novas eram qualitativamente diferentes das
crianças mais velhas.

Para Piaget a inteligência é entendida como a capacidade de adaptação do


organismos às demandas do meio, possuindo uma visão interacionista de construção da
inteligência.

Ele conceitua como esquema as estruturas cognitivas de adaptação. Em outras


palavras, esquema seria toda sequência bem definida de ações físicas ou mentais
coordenadas com objetivo bem definido. O esquema é móvel no sentido de que pode
funcionar em várias situações e com relação a diferentes objetos.

Para ele nossa estrutura cognitiva se adapta a novas situações a partir dos
mecanismos de assimilação e acomodação.
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Na assimilação novos objetos e novas experiências são incorporados aos esquemas


já existentes e na acomodação há modificação de esquemas como resultado de novas
experiências.

À capacidade do organismo de adaptar-se a novos problemas, Piaget chama de


equilibração.

Outro conceito central da teoria cognitiva de Piaget é o que seu autor chama de
operação.

Uma operação é uma forma especial de rotina mental cuja característica principal é
sua reversibilidade;

Piaget descreve o desenvolvimento cognitivo do ser humano através de quatro


estágios que serão descritos a seguir. Estes períodos são sequenciados, não podendo
haver saltos em relação a qualquer deles. Além disso, cada período é preparatório para o
outro.

1) O Período semório-motor (do nascimentos aos 2 anos): Há várias fases


desse período, conforme o tipo de aprendizagem e adaptação a criança realiza. Durante o
primeiro mês de vida, por exemplo, não há diferenciação entre o eu e o mundo externo e a
criança se limita a atividades reflexas. A esses reflexos como sugar, agarrar objetos, Piaget
chama de esquemas inatos.

Além disso, a criança tem inteligência, mas ainda não pensa: esta presa no aqui e
no agora. Vai construindo esquemas sensórios-motores a partir de reflexos inatos que vão
se modificando com a experiência.

É um momento pré-Iógico, no qual funciona a causalidade mágica.

A noção de permanência do objeto só é adquirida por volta dos 9 meses.

A criança estabelece relações entre fatos, tais como, bolsa e mamãe, sirene e
polícia e vai desenvolvendo concepções sobre espaço, tempo e causalidade.

De sons produzidos a partir de movimentos com a língua vai evoluindo para a


aprendizagem da linguagem e no início utiliza uma palavra para significar uma frase inteira.
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Brinca sozinha e seus desenhos vão caracterizar-se por riscos, sem coordenar
seus movimentos (rabiscação), dando diferentes significações ao mesmo rabisco.

Não empresta objetos, por não serem capazes de compreender que serão
devolvidos e necessita da presença dos objetos para imitá-los.

2. O período pré-operacional (dos 2 aos 7 anos de idade):

O desenvolvimento da linguagem desempenha importante papel no alcance de um


novo estágio.

Podemos subdividir este período em duas fases: uma simbólica e uma intuitiva,
cujas características veremos a seguir.

2.1. Características da Fase Simbólica (em média dos 2 aos 4):

A criança torna-se capaz de evocar os objetos na sua ausência graças à


representação mental do mesmo. Além disso, usa um objeto como se fosse outro (faz de
conta), uma situação por outra, um objeto ou pessoa por outra (simbolismo).

É normal conversar sozinha.

Fala o que lhe interessa, sem se importar com a resposta do outro. Começa
também a andar em pares que se dissolvem e se refazem conforme a atividade, não
significando compromisso perpétuo e sendo frequentes os conflitos entre crianças.

Possui pensamento egocêntrico (que não significa a mesma coisa que egoísmo), o
que quer dizer que atribui às demais pessoas seus próprios sentimentos, pensamentos e
desejos.

Seu julgamento depende da percepção imediata.

No desenho, a criança não consegue colocar todos os detalhes e começa a


representar a figura humana através de um circulo dotado de braços e pernas (badamecos
girinos).

Adquire a capacidade de representar pessoas e objetos sem estarem por perto,


imitando sons, gestos.
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Existe uma tendência lúdica do pensamento (mistura realidade e fantasia), onde se


observa o antropomorfismo (atribuição de uma forma humana a objetos e animais) e o
animismo (dá vida a seres inanimados).

Em seu pensar observa-se também a transdedutividade (parte do particular para o


particular).

Não tem noção de conservação (mudando a aparência, muda também o volume, a


quantidade, a massa e o peso) e há a ausência de noção de reversibilidade.

2.2. Fase Intuitiva (em media dos 4 aos 7 anos):

Adultos costumam saber por experiência prática que esta é a fase dos "porquês".

Neste momento, a criança é lógica e coerente na ação, mas á incapaz de manter


uma conversação longa: muda de tema a partir de uma palavra, pensamento, som ou
imagem que desperte seu interesse.

-Torna-se capaz de trocar, presentear e emprestar objetos.

Há enriquecimento dos desenhos. Neles desenha o que sabe que existe, e não o
que pode ser visto de um objeto nesta ou naquela posição, existindo, ainda, a transparência.

Através da fantasia transforma o mundo para realizar seus desejos.

3. O período das operações concretas (dos 7 aos 12 anos de idade): dito


concreto porque a criança só consegue pensar corretamente se os exemplos ou materiais
que ela utiliza para apoiar seu pensamento existirem e puderem ser observados. Não
consegue pensar abstratamente com base em proposições e enunciados.

É um momento de grandes aquisições intelectuais, havendo a presença da noção


do conservação e invariância e o declínio do egocentrismo.

O julgamento moral passa a levar em conta as intenções do sujeito.

Aumenta a capacidade de concentração e a linguagem verbal toma-se cada vez


mais importante: pode conversar longamente com os amigos, agrupando-se em bandos,
neste sentido, gostam de chefiar e de serem chefiadas;
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Agora já compreendem as regras e são capazes de estabelecer alguns


compromissos e serem fiéis a eles, denunciando um colega que não os respeita.

Superam as transparências no desenho, além de coordenar proporções métricas e


coordenar partes;

Torna-se capaz de reproduzir textos e representar a partir de situações vividas,


bem como de criar histórias com emoções e enredo, em geral, a partir de situações vividas.

4. O período das operações formais (aproximadamente dos 12 anos de idade


em diante):

Neste estágio o adolescente forma esquemas conceituais abstratos, adquirindo


maior flexibilidade e riqueza do pensar.

A critica aos sistemas sociais e aos códigos de conduta se torna uma constante,
tornando-se capaz de construir sistemas de valores próprios.

É um momento de evolução sexual e psíquica.

O egocentrismo ocorre também na adolescência, onde assume a forma de um


idealismo ingênuo carregado de objetivos imoderados, de reforma e remodelação da
realidade (onipotência do pensamento). Há uma valorização total do pensamento e uma
desconsideração dos obstáculos práticos.

O adolescente passa a considerar hipóteses, diferentes possibilidades, havendo


grande interesse pelas transformações sociais e teorias voltadas para o futuro.

Torna-se capaz de manter um diálogo por horas a fio, discutindo um tema sob
diferentes pontos de vista e chegando a uma conclusão. Além disso, passa a interagir com
grupos com outros adolescentes e é capaz de estabelecer relações de reciprocidade e de
cooperação.

Por fim, quebrar regras pode ser sentido como prazeroso.


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BIBLIOGRAFIA

BARROS, Célia Silva Guimarães. Pontos de Psicologia do desenvolvimento. 12. ed.


São Paulo: Ática, 2004.

BERGER, Kathleen Stassen. Desenvolvimento da pessoa da infância à terceira idade.


5.ed. São Paulo: Rio de Janeiro, 2003.

BOCK, Ana M.B. FURTADO, Odair, TEIXEIRA, Maria de L.T. Psicologias: uma introdução
ao estudo de Psicologia. 7.ed.São Paulo:Saraiva. 1995.

CUNHA, Maria Tereza da, MOREIRA, Mércia. Psicologia da Educação: um estudo dos
processos psicológicos de desenvolvimento e aprendizagem humanos voltados para a
educação: ênfase nas abordagens interacionista do psiquismo humano. 10ed. Belo
Horizonte, Fomato, 2004.

MOREIRA, Marco Antônio. Teorias de Aprendizagem. São Paulo: EPU, 1999.

PIAGET, Jean. Seis Estudos de Psicologia. 22.ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária,
1997.

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