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i. filosofía e religiao
IL DOGMÁTICA
IV. MORAL
V. HISTORIA DO CRISTIANISMO
I. FILOSOFÍA E RELIGIAO
V. T. (Cruz Alta) :
1. Capital e Capitalismo
— 223 —
Examinemos de perto cada urna dessas notas.
1) Toda a atividade económica, no regime capitalista,
tem em mira a conquista ilimitada..de_lucros, em particular,
de lucro monetario ~ou de dinheiro. Nisso o capitalismo difere
da simples procura de sustentar a vida, simples procura que
marcava os sistemas antigos e medievais e, de modo especial,
a economia feudal.
Nos regimes anteriores ao capitalismo moderno, as ati-
vidades económicas eram norteadas pelo ser humano e suas
respectivas necessidades; a produgáo tinha por objetivo satis-
fazer á indigencia dos consumidores e assegurar o melhor
nivel de vida tanto a estes como aos produtores ; as ambigóes
de uns e outros ficavam naturalmente coibidas pela ordem
de coisas vigente.
Ora o mesmo nao se dá no sistema capitalista: a procura
ilimitada de lucros faz que o objetivo das atividades econó
micas seja nao a pessoa humana, mas a quantidade de artigos
produzidos e o proveito financeiro que por meio" déstes se
obtém. Em outros termos: o capitalismo (nisso, alias, ele nao
difere do socialismo) tende a ver no homem um individuo, e
nao urna personalidade;... um individuo, isto é, um animal
aperfeigoado ou a última expressáo da evolucáo dos seres
vivos, cujo valor é aquilatado segundo a sua capacidade de
lutar pela vida material (nisto se reflete a influencia do
d.arwinismo) ; os direitos e as aspiragóes ao Bem invisível,
que constituem a personalidade humana indevassável, sao
práticamente ignorados pelo regime capitalista. Já se tem
dito que, segundo éste, «toda a vida social vem a ser vida
) económica e, conseqüentemente, os conceitps e sentimentos do
homem sao equiparados a mercadorias» (O. Ruehle, Karl
'Marx 375).
' «A felicidade dos homens consiste principalmente na riqueza»,
íafirmava Montchrétien (citado por Rene Gonnard, Histoire des doctn-
'nes économiques. Paris 192S I 95).
Foi éste principio, de resto, que inspirou também as íeicóes
particulares do Estado moderno, como insinuam as seguintes palavras
de Colbert (tl683), íamoso ministro do rei Luis XIV da Franga:
«Creio que fácilmente concordaremos em admitir que sómente
a abundancia de dinheiro em um Estado caracteriza a grandeza e o
poder~naó~mésmo»tcitaao por W. Sombart, Der moderne Kapita-
lismus I 366).
Ainda outro testemunho muito expressivo da mentalidade capi
talista é o de Artur Young (í 1820):
«A populagáo é objeto secundario. Deve-se cultivar o solo de
modo a fazé-lo produzir o mais possível, sem que nos inquietemos
com o resto. De que. utilidade seria, no Estado moderno, a existencia
de urna provincia cujo solo fósse cultivado, como a primitiva Roma,
— 224 —
por urna populacio de camponeses proprietários? Para que servirla
isso se nao para produzir homens? O que é, em si, de inutilidade
absoluta* (cf. R. GoññafcT, obrdtni 153).
Como se depreende dessas palavras, o homem em si, por seus
valores característicamente humanos (que o tornam aqui na térra
um peregrino em demanda do Absoluto), nao interessa a mentalidade
capitalista. Com outras palavras: o capitalismo estima empresas-e
organizacoes impessoais, nao, porém, pessoaspnSprlanieríte ditas.
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especie de mercado, íicando a capacidade de trabalho do operarlo
sujeita as leis da mercadoria.
2. Notas históricas
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lismo. A mentalidade liberal que se apossou dos povos se
estendeu também á economía, sugerihdo o liberalismo e o
individualismo económicos.
No séc. XIX, o cojiceitó darwinista de luta pela vida^luta
em conseqüéncia da qüal só subsistem asjispécjes mais lortes,
serviu para acentuar nos homens o afá de se fortalecerem
económicamente, acumulando bens materiais, com detrimento
mesmo para os seus semelhantes mais fracos; a eliminagáo
déstes na contenda económica parecía estar dentro mesmo
das leis que regem a vida individual e social.
O racionalismo_do.séc._XK fez também que os sistemas
de economía se Übertassem de todos os vínculos moráis e de
todo freio religioso. As ciencias económicas forana ganhando
autonomía cada vez maior ; os interésses materiais comegaram
a ter suas leis próprias, de sorte que a vida económica foi
sendo considerada como um_mundp__á. parte da..moral..g^da
reUgiáo,... um mundo cada vez" mais absorvente : o homem
daera" capitalista é um ser cortado de suas raízes sobrena-
turais; é essencialmente racionalista, naturalista, antropo-
céntrico...
4) Acresce que nos séc. XVÜI/XIX a descoberta e o
vasto ejmprégo da .máquina acarretaram mais ampia explo-
ragáo das fpntes naturais de energía e extraordinario aumento
da producáo. A máquina passou a reger, por assim dizer, a
vida do homem e da sociedade, abrindo distancia cada vez
maior entre os proprietárips (no caso, capitalistas) e os náo-
-proprietários (no caso, trabalhadores bracais e proletarios) ;
nessas circunstancias, a tendencia dos proprietários foi sendo
a de escravizar e tiranizar; os mesmos contudo nao puderam
deixar de sofrer o jugo da máquina ou da engrenagem capi
talista (que, para poder subsistir, é muitas vézes obrigada a
tomar proporcóes cada vez mais ampias e absorventes). Em
urna palavra : o homem (seja operario, seja empreiteiro) tem
sido, nos últimos séculos, vítima da máquina, que nao raro
tem concorrido para a desvalorizacáo da personalidade
humana.
Procuremos tomar posigáo diante do fenómeno capita
lista que acaba de ser esbogado.
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<| aumentou o rendimento do trabalho, aliviou a fadiga do homem,
'diminuiu o custo e elevou a quantidade da producáo, íavoreceu a
economia e desenvolveu a riqueza geral do mundo, possibilitando
assim o necessário reabastecimento da populagao do globo, que se
acha em vertiginosa ascensao numérica.
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Atentando contra a dignidade humana, o capitalismo,
em suas últimas conseqüéncias, atenta contra a consciéncia
crista. Verdade é que tal sistema nao professa explícitamente
o ateísmo ; talvez mesmo alguns de seus protagonistas pas-
sados tenham intencionado guardar os principios da doutrina
crista; o fato, porém, é que o apreco unilateral concedido aos
bens materiais tende a criar u'a mentalidade. alheia .ao¿ va
lores transcendentes e eternqs,._oui>_seja,_a Deus_e_SMreügiap.
Esta, numa ordém de coisas estritamente capitalista, seria
naturalmente expulsa da vida pública e banida para o foro
meramente interno das consciéncias; o espirito capitalista
sufoca toda a influencia social da religiáo.
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escravos de quem quer que de algum modo lhes prometa pao e
tranquilidades..
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H. DOGMÁTICA
1. VisSo retrospectiva
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tiva, para viver exclusivamente da reflexáo e da contemplagáo
intelectivas.
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c) Ao lado de manifestagóes pessimistas, a literatura
helénica apresenta outrossim afirmagóes positivas referentes
á natureza humana.
Sócrates (t 399 a.C.) e Platáo (t 347 a.C), por exem-
plo, davam a crer que a virtude coincide com o saber, pois
parece que todo aquéle que conhece a virtude, naturalmente
a pratica ; o vicio ou o defeito moral seriam meros produtos
da ignorancia humana. Tal tese supóe equilibrio e harmonía
na natureza, de sorte que a vontade esteja plenamente á al
tura de realizar as aspirac.5es mais nobres do seu sujeito.
Outros pensadores gregos apregoavam, de certo modo,
o culto do corpo ; a beleza do fisico juvenil era tema caro á
literatura helénica ; a figura do atleta, do triunfador dos jogos
olimpicos, era grandemente exaltada pela opiniáo pública.
Entende-se, pois, que a moral grega tenha incluido entre os
seus preceitos o cuidado do corpo, de maneira que a higiene
hoje em dia é tida como expressáo característica do pensa-
mento helénico. Éste, de resto, se traduzia muito bem na
seguinte máxima ática do séc. V a.C:
— 233 —
crista, se implantou ñas escolas antigás e medievais de espi-
ritualidade.
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Nos séc. XVH/XVIII o Jansenismo acentuou ésse pessi-
mismo, apresentando, entre outras coisas, a humilde compun-
gáo do genuino cristáo como um temor doentio e sufocador.
2. A solucáo crista
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romper essa uniao. Nao; tal ruptura seria diretamente a marte; nao
seria virtude. A virtude é virtude do homem todo: a alma do homem
virtuoso nao está sólta do corpo, mas ela o domina e déle faz seu
instrumento para o bem> (R. Biot, Le corps et l'áme 125).
— 236 —
O cristáo, portanto, é chamado a praticar o combate á natureza,
nao para chegar a um estado de apatía total ou de extincao de
todos os afetos (alegría, tristeza, médo, audacia...) da natureza
(tal era o ideal do estoico pagáo, ideal que nao levava em conta a
colaborac&o que o corpo deve prestar á alma humana),
mas para chegar ao que se chama a metriopaüa, ou seja, a
disciplina dos afetos e paixdes tal que permita ao espirito usufruir,
sem detrimento algum para si, dos servigos do corpo. Éste terá que
dar tudo que tem de bom, sem jamáis tomar a dianteira sobre o
espirito.
Os autores de espiritualidade costumam atribuir papel muito
importante na vida sobrenatural as paixdes ou aos afetos devida-
mente controlados.- O ideal do cristáo nao é um ideal linfático (aguado
ou fácilmente acomodaticio); ao contrario, para realizar as obras de
Deus, requerem-se paixoes fortes, oportunamente suscitadas e con
troladas pelo su jeito, (por «paixóes> entendem-se aqui os movimentos
em que corpo e alma se empenham na conquista de um bem).
Verifica-se mesmo que todos os santos foram profundamente
apaixonados ou os grandes «apaixonados» do seu século. Nao há
dúvida, éles nunca teriam realizado as grandes obras que despertam
a admiracao dos pósteros, se nao tivessem sido movidos por dose
de amor e entusiasmo pouco comum. A realizacáo da vida crista
exige adesáo decidida e enérgica aos bens invisiveis, adesáo que, em
meio aos obstáculos suscitados pelo mundo visivel, nao pode ser
sustentada senao mediante a mobilizacSo de todas as qualidades
que o corpo e a alma oferecam para tal.íim.
Em resumo, pols: a sabedoria crista consiste em excitar os afetos
da natureza (coragem, temor, alegría, tristeza, audacia...) na ocasiáo
oportuna e dentro dos limites convenientes, de modo que cada um
désses afetos preencha devidamente o seu .papel sem excesso nem
desvio.
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da graga ou aspiragóes sobrenaturais. Quem dissesse «Sim» a
tudo que a natureza sugere e apetece, destruirla a graga
recebida no batismo e nunca chegaria á parfeigáo crista. A
razáo de tais conflitos já foi indicada : a natureza humana,
na realidade histórica, nao se conservou tal como no plano
especulativo foi concebida pelo seu Autor; nao nos é possível,
por conseguirte, transpor para a ordem existente concreta
todo o otimismo que concebemos ao considerar o homem em
si mesmo ou abstratamente.
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dade total, que significa desabrochar em todos os sentidos. Os homens
praticam, sem dúvida, a renuncia imposta pela necessidade, como
seria a perda da saúde ou de um noivo. Mas a luta do individuo
contra si mesmo, a procura da mortificagáo contam poucos adeptos;
sao coisas que quase escandalizariam. Por que nao gozarmos de tudo
que Deus coloca á nossa disposicáo? Procurar a cruz para nos asse-
melharmos a Nosso Senhor... nao entra ñas perspectivas da espiri-
tualidade contemporánea. Nao sao compreendidas, sao, antes, seve
ramente julgadas, certas renuncias excepcionais, como a de deixarmos
que nos atribuam injustamente alguma falha sem que nos desculpemos,
a fim de sermos mais semelhantes a Cristo crucificado» (ibd. 233).
É por isto que nao se pode dar razáo aos que interrogan!: «Que
mal há em usuíruir dos bens que Deus criou?» — Suposto (como
se entende) que ésses bens nao sejam em si pecaminosos, o gozo
irrestrito dos mesmos debilita a resistencia da personalidade, que,
vulnerada pelo pecado original, tende nao sómente a usar, mas também
a abusar... Por conseguinte, para conquistar firmeza na virtude,
o cristáo tem inevitávelmente que se abster em certo grau até mesmo
dos bens licitos (ésse; grau será mais ou menos intenso, conforme as
tendencias próprias da natureza de cada um). Qualquer que seja a
época em que viva o cristao (mesmo em meló ao libertinismo do
séc. XX), ele jamáis se poderá adaptar á mentalidade contemporánea,
de sorte a esquecer o pecado original e as tristes conseqüéncias que
acarretou para a natureza humana.
Está claro, isto nao quer dizer que o cristáo se deva tornar
um tipo desambientado ou um quisto na comunidade ; nao.
«Um santo triste é um triste santo», reza a máxima tradi
cional. O justo, portante, saberá utilizar, em toda a medida
do possível, os valores tanto da familia como da sociedade;
saberá dar-lhes sentido sobrenatural, sem, porém, esquecer
que em tudo é necessário observar uma certa cautela ou
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«virgindade», a fim de que a natureza nao tome a dianteira
sobre a graca:
1. Saútle c higiene
— 240 —
Entende-se bem tal proposigáo : sendo o corpo o instru
mento natural da alma, é de desejar que ele tenha o vigor
necessário para preencher as suas fungóes e destarte beneficiar
o espirito da respectiva pessoa. Torna-se mesmo ilícito ao
homem contradizer a essa disposigáo do Criador, descuidán
dose voluntariamente do corpo, e sujeitando-o a contrair mo
lestia ou prematura morte ; nem mesmo a penitencia de que
falávamos na qu. 2 déste fascículo, poderá ser exercida a
ponto de equivaler a um suicidio direto.
2. A doenga
— 241 —
atinge diretamente), mas também para a alma do paciente
(que assim se vé privada da colaboragáo que o corpo nor
malmente lhe deveria prestar). Atendendo-se a éste aspecto
da doenga, nem mesmo sob o pretexto de mortificar a carne,
será lícito ao cristáo provocá-la voluntariamente. O homem,
dotado de natureza psico-somática, nao pode pretender que
Deus supre diretamente o que Ele décretou dar á alma, em
condicdes ordinarias, mediante as faculdades do corpo.
Contudo a consideragáo meramente natural da doenga
tem de ser completada pela visáo sobrenatural da realidade.
Embora ao homem nao seja permitido provocar a moles
tia em seu corpo, o Criador pode fazer que esta o acometa,
sem representar desastre na vida do paciente. Ao contrario,
permitida pelo Criador, a doenga poderá e deverá ser tida
como precioso dom de Deus. Com efeito ; Cristo quis remir-nos
do pecado e das suas conseqüéncias, tirando as miserias hu
manas o caráter de mera sangáo, para torná-las fonte de puri
ficado e uniáo com Deus ; a própria doenga, por conseguinte,
desde que aceita pelo cristáo em espirito de fé, vem a ser
participagáo da cruz de Cristo e canal de Redengáo. Deve-se
mesmo dizer com os mestres da vida espiritual: nao costuma
haver progresso na vida interior que nao esteja ligado de
perto a achaques do corpo.
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menos egocéntrica da realldade) que de outro modo difícilmente ou
nunca poderia ser atingido pela criatura; Deus, nao permitindo ao
cristáo a realizaeao de grandes obras de penitencia e apostolado,
dá-Ihe, nao obstante, as grabas correspondentes para que faga da
molestia o instrumento de sua mortificacao, de sua purifieacSo e, por
conseguinte, de fecundo apostolado (através do Corpo Místico de
Cristo ou da Comunháo dos Santos).
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feralmente nao tém a coragem de efetuar. — Em todo e qualquer
caso, seja por efeito de doenca. seja por efeito de suas iniciativas
pessoals (fomentadas pela graga), o cristao tem que se purificar das
tendencias desregradas da natureza.
S. T. P. (Piracicaba) :
— 244 —
a eternidade, como nao a há do finito para o infinito. O tempo
indefinidamente prolongado seria o cúmulo da instabilidade,
ao passo que a eternidade é presenca e estabilidade por ex
celencia.
— 245 —
Por isto se deve dizer que a agáo criadora considerada em
si ou em Deus é eterna; considerada, porém, na produgáo de
seus efeitos, é temporal.
É importante acentuar que, cada vez que um efeito de
Deus se produz no tempo, algo de novo se dá, nao, porém,
em Deus, mas fora de Deus, no conjunto das criaturas; a
produgáo désses efeitos temporais nao implica alguma mu-
danga real em Deus. Tenha-se em vista urna coluna de pedra
á direita da qual esteja colocado um observador; caso tal
homem se transfira para o outro lado da coluna, esta passa
a ser dita «a coluna da direita» em vez de ser «da esquerda»,
sem que contudo a coluna tenha sofrido alguma alteragáo em
si mesma. A mudanga acarretada para a coluna, no caso, é
apenas mudanga extrínseca ou de nome. Assim também, de-
pois que as criaturas intencionadas desde toda a eternidade
comegam a existir no tempo, Deus adquire novo nome ou
novo titulo — o titulo de Criador—, que em absoluto nao
supóe mudanga real no Altíssimo, pois toda a perfeigáo pro-
dutora das criaturas já existia em Deus desde todo o sempre.
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2. A locugao de Dcus eterno ao homem temporal
1. O problema
2. A solugao
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pelos sentidos externos (visáo, audicáo,
tato...)
sensitivo
pelos sentidos internos: fantasia, estima*
Conhecimento tiva, memoria
sensitiva
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vézes, o vidente está arrebatado ou em éxtase), suscita na
fantasía ou na imaginagáo dos homens agraciados imagens tais
que representem u'a mensagem ou um oráculo do Senhor.
Tais figuras podem ser diretamente infundidas pelo Altíssimo,
como também podem ser o produto da assodagáo de impres-
sóes anteriormente colhidas pelo conhecimento natural sen
sitivo, associagáo, porém, que o Senhor provoca em vista de
u'a mensagem a comunicar.
— 249 —
significaría, no caso, o conhecimento intelectual mais puro
(ou desembaragado de imagens concretas e grosseiras) de
que o homem seja capaz.
Váo seria pretender definir quais os casos em que esta
forma de revelagóes se terá verificado na historia sagrada.
A prudencia aconselha que nos detenhamos aqui na ex-
planagáo do assunto, a fim de nao nos arriscarmos a fazer
afirmagóes ousadas ou mesmo erróneas.
IV. MORAL
JURANDYR (Salvador) :
— 250 —
de principios genulnamente cristáos, o que melhox se patenteará após
a consideracáo das tres notas características da mortiíicagáo crista:
1) renuncia por amor; 2) meio, e nao fim; 3) otimismo relativo,,
baseado na graca de Deus.
— 251 —
nheiros do Divino Esposo) nao se podiam entregar a alguma
manifestagáo de luto (como seria o jejum). Após a Ascensáo
do Senhor, porém, a Igreja se vería na térra á semelhanga
de urna esposa cujo marido tivesse partido para a patria ce
leste, isto é, á semelhanga de urna viúva. Neste caso, entáo, o
jejum teria (e tem) cabimento como expressáo das saudades
que a esposa, privada da presenta visível do esposo, experi
menta para com éste. É por isto que as geragóes de cristáos
após a Ascensáo de Jesús jejuam: visam purificar-se ou re
mover todo obstáculo que possa retardar a uniáo com o
Senhor Jesús, Divino Esposo da Igreja e de cada alma crista;
é um amor comparável ao veemente amor de esposa saudosa,
que leva os cristáos a jejuar; desejam que em sua natureza
"humana nada fique que na hora da morte impega a uniáo
consumada com o Senhor; desejam enfim que, ao compare-
•cerem diante de Cristo no fim déste exilio, nenhuma escoria
se encontré néles, tornando-se entrave para possuirem plena
mente o Cristo. Com outras palavras : jejuando, os cristáos,
cheios de amor a Deus, aspiram a coibir o seu dssregrado
egocentrismo e assim fazer o purgatorio aqui na térra, em
vez de o fazer na vida postuma, entre a morte e a entrada
no céu. Toda a ascese crista, por conseguinte, é movida pelo
amor; por isto também está sempre marcada por urna nota
de alegría.
— 252 —
Era ésse pequeño paradoxo que S. Francisco de Assis (tl226)
exprimía quando, referindo-se ao corpo, falava ora do «Irmáo asno»,
ora do «Irmáo corpo». Asno, sim, é o carpo, enquanto deve servir
disciplinadamente á alma, sem jamáis lhe tomar a dianteira; irmao,
porém, também é o corpo, pois por si ele é urna criatura boa de
Deus bom.
S. Francisco de Sales (tl622) incutia a mesma concepcáo nos
seguintes termos:
«Corno diz o grande S. Agostinho, a caridade nos ohriga a amar
nossos corpos de maneira conveniente, isto é, na medida em que
sao necessários as obras boas, na medida em que constituem parte
da nossa personalidade e seráo participantes da felicidade eterna»
(Tratado do amor de Deus 1. 3, c. 8).
A éste propósito, convém frisar que, mesmo nos casos nos quais
por debilidade de saúde nao seja possivel realizar grandes violencias
externas, resta sempre margem para a prática de fecunda austeridade
interior.
«Nada é mais simples do que colocar mortificacao em nossa
conduta de vida. Todos temos ocasiáo para isso cem vézes ao dia,
sem que alguém o observe. Se gosto de sal, nao o tomarei; se nao
gosto, tomá-lo-ei. Caso deseje sentar-me num ónibus, procurarei ficar
em pé; se, ao contrario, prefiro ficar em pé, sentar-me-ei... Num
encontró de sociedade, em vez de me precipitar sobre as pessoas
mais simpáticas, irei logo trocar algumas palavras com a senhora
idosa ou com o anciSo lunático. A todo momento, em nossos pensa-
mentos, palavras, agoes e omissóes, temos ocasiáo de praticar a
mortificacao; basta que tomemos consciéncia disto para verificar
como a vontade, aos poucos, exercendo constantemente essas pequeñas
violencias, pode acabar dominando a nossa atividade» (J. Leclercq,
Ascesi Cristiana II. 1955, 87).
«Aceitar de bom gdsto a tribulagüo que se apresenta de improviso
■é muitas vézes mais arduo do que fazer algo de desagradável que
— 253 —
tenhamos nos mosmos decidido íazer. Tomar com sorriso urna sopa
mal cosida é mais difícil do que ingerir, de caso pensado, um alimento
de que nao gostemos. De resto, nada é mais mortificante do que a
obediencia, que nos obriga a dobrar-nos á vontade de outrem» (ibd.
132).
3. Otimismo relativo
V. HISTORIA DO CRISTIANISMO
— 254 —
Com efeito, a fé católica ensina que a natureza humana
foi debilitada pela culpa original, de sorte que ninguém se
pode salvar sem especial auxilio de Deus, auxilio que é cha
mado «a graga». Esta, embora supra a incapacidade da cria-'
tura, nao extingue o livre arbitrio do homem, o qual, sem
dúvida, está obrigado a colaborar na sua salvagáo eterna.
Déstes principios surge a questáo teológica : como conciliar
entre si a graga e o livre arbitrio ? Quem muito exalta o
papel da graca de Deus, arrisca-se a deprimir a liberdade
humana, assim como, vice-versa, quem muito acentúa o livre
arbitrio corre o perigo de menosprezar a graga de Deus.
Foi éste dilema que, no decorrer dos sáculos, ocasionou
desvios doutrinários numa ou noutra diregáo.
— 255 —
-Cirano (nome pelo qual éste varáo é comumente designado),
julgaram poder apresentar ao mundo cristáo a solucáo do
problema. Devia inspirar-se, diziam, de S. Agostínho, cujas
obras todas Jansénio leu mais de dez vézes ; enquanto éste
doutor ia redigindo a sua síntese doutrinária, mantinha con
tato epistolar com Sáo-Cirano, seu amigo distante, observando,
porém, a máxima discrigáo a fim de nao provocar intervengáo
da autoridade eclesiástica.
— 257 —
moral, resolvendo os casos de consciéncia da maneira mais
"branda que lhes parecesse lícita (probabilismo). Os jansenistas
recomendavam que os sacerdotes, no tribunal da confissáo,
diferissem a absolvicáo e experimentassem o penitente por
meio de mortificagóes prolongadas e até mesmo públicas.
Para a S. Comunháo, exigiam disposicóes extraordinarias, tais
como um amor puro de Deus, amor destituido de qualquer in-
terésse pessoal do sujeito ; a S. Eucaristía seria únicamente
premio para as almas santas, nao, porém, remedio para os
penitentes contritos e humildes.
— 258 —
esíorcem por consegui-lo. A ésses justos íalta também a Braga, que
tornarla possiveis tais preceitos.
No estado da natureza decaída, o homem nunca pode resistir k
graca interior.
Para merecer e desmerecer no estado da natureza decaída, nao
se requer liberdade que exclua necessidade (interior); basta a liberdade
que exclua coacao (exterior).
Os Pelagianos admitiam a necessidade da graca interior preven
tiva para cada ato particular, mesmo para o inicio da fé; eram
herejes por asseverarem que essa graca era tal que a vontade podia
ou resistir-lhe ou obedecer-lhe.
É semi-pelagiano dizer que Cristo morreu ou derramou o seu
sangue por todos as homens sem excecao» (Denzinger, Enchiridion
1092-1096).
— 259 —
fato»). Por conseguirte, sempre que se trate de «questóes
de direito», os fiéis estáo obrigados a prestar verdadeiro assen-
timento interior as decisóes da Sta. Igreja ; no tocante, po-
rém, a «questóes de fato», basta que lhes tributem um silencio
respeitoso («silentium obsequiosum»).
Estas concepgóes de Arnauld nao foram aceitas pela
Faculdade Teológica da Sorbona (París) nem pelas autori
dades religiosas e civis da época, pois, na verdade, o Papa,
ao decidir a respeito de fatos que se prendem de algum modo
ao dogma ou á moral, goza da infalibilidade necessária para
que se mantenha a pureza da fé e dos costumes. Era isto jus
tamente o que se dava no caso das cinco proposicóes do
«Augustinus».
— 260 —
mais urna comunidade religiosa, mas um partido político, subdividido
em faccóes por apaixonadas rixas internas; ésse partido, aliado á
corrente galicana da época, defendia um nacionalismo náo-cristáo.
«Tudo comeca com mística, e tudo acaba em política», dizia muito
bem Péguy, tendo em vista a tendencia dos homens a desvirtuar os
mais elevados valores, até mesmo os da Religiáo, caso esta nao
seja praticada com humildade e renuncia ao próprio «eu».
— 261 —
Eis, porém, que no inicio do século presente a Providencia
Divina quis suscitar na pessoa do Papa Sao Pió X o Pastor
de almas que, langando o brado de «Volta as Fontes», prin
cipalmente de volta á S. Eucaristía, deu inicio em 1905 ao
revigoraniento atual da piedade crista, a qual se deve basear
nao no terror sufocante, mas no amor e na confianca gene
rosa. Deus nao é fonte de tristeza e morte, mas causa de ale
gría e vida!
CORRESPONDENCIA MIÜDA
— 262 —
piadas. Se alguém nao tem dinheiro para mandar celebrar a S. Missa,
assista a esta com a fé e a devofio de que é capaz, oferecendo-se com Cris
to ao Pai em beneficio de tal alma do purgatorio ou de tal e tal outra in-
tengáo... E nao será frustrado em sua esperanza; as boas disposi?6es do
erante que pede em nome de Cristo, nunca sao inúteis (cf. Jo 15,16).
Deve-se acentuar bem que nao é o dinheiro, materialmente tomado, que
nos recomenda a Deus, mas é o ánimo interior ou a caridade, caridade
que a esmola monetaria simboliza adequadamente, mas nao necessária-
mente. Quem tem o amor a Deus e O procura sinceramente, embora nada
ou quase nada possa oferecer para o culto divino, é aceito e agraciado
pelo Pai do Céu (haja vista o óbulo da viúva, em Le 21,1-4).
UM LEITOR (Belo Horizonte): Enquanto nao se sabe exatamente
em que consiste a vida, pode-se admitir que a vida vegetativa e a sensi
tiva (cujas funcoes sao todas orgánicas ou limitadas pela materia)
sejam oriundas da própria materia em evolugáo (dizemos isto nao a
título de afirmacáo, mas á guisa de mera hipótese de trabalho). A vida
intelectiva ou humana, porém, ultrapassando os limites da materia pela
sua capacidade de formular conceitos abstratos ou universais, é que
.nao pode, em caso algum, ser proveniente da materia, mas se deve a
um ato direto do Criador. Por conseguinte, prevalece a tese proposta
em "P.R." 7/1958, qu. 1 (veja também "Ciencia e Fé na historia dos
primordios", 3' edieáo, AGIR, apéndice III). A razáo pela qual esta
tese é defendida, é que até hoje nao se pode precisar com certeza em
que consiste o "segrédo" da vida vegetativa e sensitiva.
FERNANDA F.: A questáo parece resumir-se nos termos seguin-
tes t dado que a circuncisáo no Antigo Testamento era reservada aos
meninos, qual o rito que se aplicava ás meninas para lhes apagar o
pecado original ?
A dúvida supóe que a circuncisáo tenha sido o sacramento da
Antiga Leí destinado a cancelar o pecado original. Ora tal nao se dava:
a circuncisáo era mero sinal da pertinencia de um varáo ao povo_de
Deus ou ao povo com o qual o Senhor fizera alianca por meio de Abraáo:
tinha significado legal ou jurídico ,(de foro externo), nao significado
moral ou de foro interno (cf. Gen 17,11,). Quando os autores bíblicos
parecem afirmar equivalencia entre "náo-circuncidado" e "impuro", tém
em vista a impureza legal, ou seja, a incapacidade de se aproximar de
Deus no foro externo que alguém possa contrair por nao estar de acordó
com as leis de culto vigentes (cf. Ez 28,10 ; 31,18 ; 32,19s).
Verdade é que a circuncisáo, incorporando oficialmente o menino
ao povo de Deus, simbolizava consagra$áo a Deus e fidelidade á Lei
do Senhor ; simbolizava também, de certo modo, o batismo cristáo ;
tal simbolismo, porém, está longe de poder ser identificado com
cancelamento do pecado original. Éste era apagado, ñas criangas des
tituidas do uso da razáo, pela fé dos país que oferecessem seus filhos
a Deus ; após o uso da razáo, pela adesáo aos preceitos do Antigo Tes
tamento. — O profeta Jeremías bem inculcava que a circuncisáo^ da
carne de nada adiantava para a salvacáo eterna, caso o varáo fósse
"incircuncidado em seu cora?áo", isto é, caso tivesse a alma manchada
interiormente pelo pecado (cf. Jer 9,24s ; Ez 44,7).
Note-se outrossim que a circuncisáo era ■ um rito observado pelos
povos pagaos já anteriormente a Abraáo ; o Senhor Deus quis torná-lo
sinal de auténtica religiáo. Acontece, porém, que a circuncisáo nao
■ costumava ser aplicada ás mulheres ; é o que explica, também nao
tenha sido praticadá entre as filhas de Israel.
Mais ampios esclarecimentos sobre o assunto se encontram em
"P.R." 12/1958, qu. 5.
— 263 —
C G. S. (Joño Pes.ioa): A explicado Jo texto, aparentemente divoi-
cista, de Mt 19,9 se acha em "P.R." 7/1957, qu. 6.
D. ESTÉVAO BETTENCOURT O. S. B.
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