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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA 2ª VARA

FEDERAL DA SUBSEÇÃO DE PELOTAS – ESTADO DO RIO GRANDE DO


SUL.

Autos de Ação Penal nº

EMPRESA, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob n°.


00.000.000/0000-00, com sede localizada na Avenida Governador Parigot de Souza,
000, Zona 0, CEP 000000-000, na cidade de Umuarama, Estado do Paraná, neste ato
representada por seu sócio administrador, NOME COMPLETO, brasileiro, casado,
empresário, portador da cédula de identidade RG sob nº. 00000000-0 SESP-PR, inscrito
no do CPF/MF sob nº. 00000000-00, residente na Rua Francisco Pontes, nº 0000,
Jardim Santa Clara, CEP 000000-000, na cidade de Umuarama, Estado do Paraná, vem
respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, com fulcro nos artigos 119 e 120,
ambos do Código de Processo Penal, interpor:

PEDIDO DE RESTITUIÇÃO DE COISA APREENDIDA, BEM COMO O


DESBLOQUEIO DO VEÍCULO JUNTO À RECEITA FEDERAL DO BRASIL,

Conforme os motivos de fato e de direito a seguir aduzidos:

DOS FATOS

No dia 08/02/2013, o motorista, NOME, foi preso em flagrante por transportar 320.500
(trezentos e vinte mil e quinhentos) maços de cigarro, cuja origem supostamente seria
internacional e que tal importação não estaria autorizada.

A carga foi descoberta após o atendimento de uma diligência, realizada em função de


uma “notitia criminis” feita por telefone, na qual a Polícia Rodoviária Federal,
acompanhada de agentes da Receita Federal Brasileira, abordou o caminhão Mercedes-
Benz, cor amarela, placas GKU-0000, cuja propriedade é da empresa, NOME DA
EMPRESA, identificando no interior desse veículo caixas de cigarro, ilegalmente,
introduzidas no país, escondida atrás de estofados manufaturados pela empresa, NOME
DA EMPRESA, a qual também emitiu nota fiscal eletrônica dos produtos transportados.

O auto de infração aduaneira ainda afirmou que o proprietário do veículo, acima


mencionado, não indicou a ocorrência de furto, ou comunicação de venda em relação ao
caminhão, bem como não reportou o mau uso ou desvio de finalidade junto a qualquer
repartição pública.

O Requerente, isto é, o proprietário do referido veículo não se manifestou ainda, em


virtude de continuar recebendo os aluguéis do Locatário a época, e desconhecer até o
presente momento a real situação do seu veículo.
Logo, não se manifestou e nem propôs recurso contra as alegações que lhe foram feitas.
As afirmações em relação à responsabilidade da empresa, NOME DA EMPRESA, não
merecem prosperar, pelos seguintes termos de fato e de direito, a seguir expostos:

DO DIREITO

PRELIMINARMENTE

DA ILEGITIMIDADE PASSIVA “AD CAUSA”

Computando-se o presente feito, o contrato de locação do veículo feito pela empresa


Requerida aos seus Locatários, contém cláusula expressa de proibição de transporte de
produtos ilícitos, o qual permite apenas o transporte de móveis e artesanatos, isto é,
nada ilícito e contra a lei, conforme contratos anexos.

Dessa forma, a empresa Requerida é parte ilegítima para figurar no polo passivo, nos
termos do art. 267, VI, do CPC, visto que não houve nexo causal entre a conduta do
agente e o resultado danoso à Administração pública, ou seja, a falta de pagamento do
imposto e a autorização para importação, o que afasta de forma unânime qualquer tipo
de responsabilidade, inclusive, a objetiva.

Portanto, requer-se que seja acatada a preliminar de ilegitimidade passiva “ad causa”,
reconhecendo não ser parte legitima a empresa acima mencionada, bem como exclui-la
da responsabilidade do pagamento da multa aplicada no valor de R$ 641.000,00
(seiscentos e quarenta e um mil reais), restituindo-se o veículo MERCEDES-BENZ, cor
amarela, placas GKU-0000, por ausência das condições fáticas ao lançamento do
crédito tributário (multa) contra a referida empresa.

Não se almeja aqui, a transferência e nem a inibição da responsabilidade dos


verdadeiros causadores do ilícito, mas o objetivo de não cometer injustiças.

DO JULGAMENTO ANTECIPADO

Se fazem presentes os requisitos que autorizam a concessão de antecipação de tutela


para determinar a imediata liberação do veículo apreendido.

Note-se que a fumaça do direito se faz nitidamente presente quando a empresa


Requerida demonstra que o dano causado ao erário público não é de sua autoria, sendo
terceiro de boa fé.

Quanto ao perigo da demora, este se evidencia com a impossibilidade de utilizar-se de


seu veículo, bem como da deterioração do caminhão pelo mal acondicionamento,
sujeito a degradação e ferrugem ao tempo.

Portanto, pelos motivos acima, autorizam-se a concessão da tutela antecipada.


Conforme o art. 273 do CPC:

“Art. 273. O juiz poderá, a requerimento da parte antecipar, total ou parcialmente, os


efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde que existindo prova inequívoca, se
convença da verossimilhança da alegação e:
I – haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação; ou

II – fique caracterizado o abuso de direito de defesa ou manifesto propósito protelatório


do réu.”

E segundo o Doutor Luiz Guilherme Marinoni (2008, pág. 199):

“A tutela antecipatória pode ser concedida no curso do processo de conhecimento,


constituindo verdadeira arma contra os males que podem ser acarretados pelo tempo do
processo, sendo viável não apenas para evitar um dano irreparável ou de difícil
reparação (art. 273, I, do CPC), mas também para que o tempo do processo seja
distribuído entre as partes litigantes na proporção da evidência do direito do autor e da
fragilidade da defesa do réu (art. 273, II e § 6º, do CPC).
Em última análise, é correto dizer que a técnica antecipatória visa apenas a distribuir o
ônus do tempo do processo. É preciso que os operadores do direito compreendam a
importância do novo instituto e o usem de forma adequada. Não há motivos par a
timidez no seu uso, pois o remédio surgiu para eliminar um mal que já está instalado,
uma vez que o tempo do processo sempre prejudicou o autor que tem razão”
MARINONI, Luiz Guilherme, Processo de Conhecimento – 7 ed. São Paulo: RT,
2008.”

A empresa Requerente requer seja concedida a antecipação de tutela, pois como se


comprova pelos contratos de locação, em anexo, ser terceiro de boa fé, nada tendo a
haver com prática do delito de contrabando e descaminho, e que o mal
acondicionamento de veículo possa a vir a deteriorá-lo.

Ainda, diante do exposto, pela fundamentação e prova documental já juntada, e por não
depreender de prova testemunhal, requer a Vossa Excelência seja julgada de forma
antecipada pela exclusão da responsabilidade da multa e imediata restituição do bem
móvel, também, pelo motivo de o bem não estar em posse da empresa Requerida, a
longa data.

Na remota possibilidade de a Vossa Excelência não acolher a preliminar acima descrita,


em face ao princípio da eventualidade, passa a contestar o mérito nos seguintes termos:

DO MÉRITO

A empresa Requerida manteve vários contratos de locação do veículo MERCEDES-


BENZ, cor amarela, placas GKU-0000, com diversos o locatários, tais como, o Sr.
NOME COMPLETO, desde a data 01/01/2010 à 01/072010, ao qual rescindiu o
contrato unilateralmente entregando o veículo um mês antes do término do prazo
contratado.

Na sequência, o veículo foi locado para o locatório, Sr. NOME COMPLETO, na data
05/06/2010 à 05/06/2011, o qual também não adimpliu o contrato de locação em sua
integralidade, entregando o veículo, sem completar o contrato.

Depois, o veículo foi locado para o locatário, Sr. NOME COMPLETO, desde a data de
20/02/2011 até 20/08/2011, que ao término devolveu o veículo nas exatas condições do
início do contrato, apesar deste contrato não estar assinado, foi exercido em sua
totalidade.

Assim, o veículo ficou sem alugar por alguns meses quando o locatário, Sr. NOME
COMPLETO, voltou a locar o veículo na data de 25/03/2012 à 25/03/2013, conforme
cópias dos contratos em anexo.

Ocorre que o locatário, NOME COMPLETO, sempre cumpriu com os pagamentos dos
aluguéis em dia, honrando assim o acordo firmado, criando uma relação de confiança e
boa fé entre as partes contratantes.

A empresa em tela foi surpreendida com a notificação da Receita Federal de Pelotas do


Estado do Rio Grande do Sul, informando-a que o veículo de sua propriedade está
detido sob pena de perdimento e que há uma multa no valor de R$ 641.000,00
(seiscentos e quarenta e um mil reais).

Isto posto, a empresa Requerida não contribuiu em nenhum momento para consecução
da prática delituosa de contrabando e descaminho de cigarro e, muito menos, tirou
algum proveito econômico de tal infração, e, ainda, no sentido de evitar o envolvimento
de seu veículo em ilícitos, firmou de forma expressa cláusula proibitiva de transporte de
produtos ilícitos, conforme a CLÁUSULA TERCEIRA do contrato, in verbis:

“CLÁSULA TERCEIRA – O referido veículo ficará aa disposição do LOCATÁRIO


para que este o use durante o período contratual, não podendo carregar nem um produto
que seja ilícito segundo a lei, a finalidade desta locação se resume em transporte de
móveis e artesanatos, não podendo o LOCADOR vender, sem que para isso, substitua-o
por outo nas mesmas condições e sem interrupção do uso do LOCATÁRIO.”

Em momento algum a empresa Requerida contribuiu para a prática da infração e nem se


beneficiou em momento algum do crime de contrabando e descaminho praticado.

Assim, a legislação aduaneira é clara no sentido que apenas quem contribua para o
cometimento da infração punível com multa e perdimento será responsabilizado, uma
vez provada a boa fé da empresa em tela e que o contrato de locação é lícito, na forma
da lei, fica evidente que a empresa Requerida não contribuiu em nada para efetivação da
infração, e ainda, buscou com a cláusula proibitiva de transporte de produtos ilícitos
coibir a prática delituosa, firmando-se o princípio constitucional da função social da
propriedade e do contrato ora avençado.
Nos termos do art. 104, inciso V, do Decreto-Lei n° 37/66, in verbis:

“Art.104 – Aplica-se a pena de perda do veículo nos seguintes casos:

(…)

V – quando o veículo conduzir mercadoria sujeita à pena de perda, se pertencente ao


responsável por infração punível com aquela sanção;”

Bem como, pelo REGULAMENTO ADUANEIRO, editado pelo Decreto n° 6.759, de


05/02/2009, também, in verbis:
“Art. 688. Aplica-se a pena de perdimento do veículo nas seguintes hipóteses, por
configurarem dano ao Erário (Decreto-Lei n o 37, de 1966, art. 104; Decreto-Lei n º
1.455, de 1976, art. 24; e Lei n o 10.833, de 2003, art. 75, § 4 o ):

(…)

V – quando o veículo conduzir mercadoria sujeita a perdimento, se pertencente ao


responsável por infração punível com essa penalidade;”
Do mesmo modo, nos termos do artigo 119 do Código de Processo Penal, com o escopo
de proteger a parte lesada e terceiros de boa fé, determina a restituição do bem, in
verbis:

Art. 119. As coisas a que se referem os arts. 74 e 100 do Código Penal não poderão ser
restituídas, mesmo depois de transitar em julgado a sentença final, salvo se pertencerem
ao lesado ou a terceiro de boa-fé.

Neste mesmo sentido, aduz o artigo 120 do mesmo preceito legal, vejamos:

Art. 120 – A restituição, quando cabível, poderá ser ordenada pela autoridade policial
ou juiz, mediante termo nos autos, desde que não exista dúvida quanto ao direito do
reclamante.

§ 1º – Se duvidoso esse direito, o pedido de restituição autuar-se-á em apartado,


assinando-se ao requerente o prazo de 5 (cinco) dias para a prova. Em tal caso, só o juiz
criminal poderá decidir o incidente.

§ 2º – O incidente autuar-se-á também em apartado e só a autoridade judicial o


resolverá, se as coisas forem apreendidas em poder de terceiro de boa-fé, que será
intimado para alegar e provar o seu direito, em prazo igual e sucessivo ao do
reclamante, tendo um e outro 2 (dois) dias para arrazoar.

§ 3º – Sobre o pedido de restituição será sempre ouvido o Ministério Público.

§ 4º – Em caso de dúvida sobre quem seja o verdadeiro dono, o juiz remeterá as partes
para o juízo cível, ordenando o depósito das coisas em mãos de depositário ou do
próprio terceiro que as detinha, se for pessoa idônea.

§ 5º – Tratando-se de coisas facilmente deterioráveis, serão avaliadas e levadas a leilão


público, depositando-se o dinheiro apurado, ou entregues ao terceiro que as detinha, se
este for pessoa idônea e assinar termo de responsabilidade.

Nesse sentido aduz a jurisprudência do Tribunal Regional Federal do Estado do Mato


Grosso:
EMENTA: PENAL E PROCESSUAL PENAL – PEDIDO DE RESTITUIÇÃO DE
COISA APREENDIDA – PROVA DA PROPRIEDADE DO BEM, PELA
REQUERENTE, NÃO INVESTIGADA NOS AUTOS – TERCEIRA DE BOA-FÉ –
ART. 91, II, INFINE, DO CÓDIGO PENAL E ARTS. 118 E 119 DO CPP –
AUSÊNCIA DE INTERESSE AO PROCESSO – CABIMENTO DA RESTITUIÇÃO
DOS BENS – APELAÇÃO PROVIDA.
I – Comprovada a propriedade, não mais interessando ao processo, pode a coisa
apreendida ser restituída ao requerente, quando não exista dúvida quanto ao direito do
reclamante, na forma dos arts. 118 e 120 do CPP.
II – No caso dos autos, diante da comprovação da propriedade do veículo e da ausência
de indícios do envolvimento da requerente na conduta criminosa ora em investigação,
impõe-se a restituição do bem apreendido à sua proprietária, diante da comprovação da
propriedade do veículo e da ausência de indícios de seu envolvimento na conduta
criminosa ora em investigação, nos termos do art. 91,II, in fine, do Código Penal, por
ser a requerente terceira de boa-fé.III – Apelação provida.(ACR 3324 MT 0003324-
11.2011.4.01.3601, Julgamento 28/05/2012, 3ª Turma, DJF1 p. 143 de 06/07/2012)

Por ser a empresa Requerente alheia aos fatos investigados e não restar dúvida quanto a
sua propriedade, é necessário que se faça o devido desbloqueio, para que possa, assim,
voltar a usufruir e gozar de sua propriedade, o veículo objeto da presente ação, não é
fruto do crime, e nem era sabido que era mal utilizado, a sua restituição e desbloqueio
não afetará o livre desenvolvimento da justiça.

Pelos fatos demonstrados e documentos apresentados é evidente que a empresa


Requerida, bem como o erário público são vítimas da ação fraudulenta do agente, Sr.
NOME COMPLETO, que agiu em conluio com o Sr. NOME DO MOTORISTA e a
empresa, NOME DA EMPRESA, um aderindo a vontade do outro, praticaram o delito
de contrabando e descaminho dos 320.500 (trezentos e vinte mil e quinhentos) maços de
cigarros introduzidos no país de forma ilegal.

Existe grande possibilidade de a empresa, NOME DA EMPRESA, ter sido criada para
maquilar tais operações fraudulentas, visto que a inscrição de seus atos constitutivos é
datado no dia 27/06/2012, relativamente, recente para um empresa estar envolvida com
ilícitos de tamanha monta, enquanto que a empresa Requerida teve seus atos
constitutivos datados do dia 17/12/1999, ou seja, está no mercado a quase 15 (quinze)
anos, não é esperado que uma empresa com vários anos no ramo moveleiro, venha
desempenhar práticas ilegais como a de contrabando e descaminho.

Deste modo, frisa-se a empresa Requerida não é responsável nem proporcionou meios
para prática da infração punível, nem nunca soube da prática infamante destes agentes,
pois que seu contrato de locação era de aplicação em objetos lícitos.
Promover os meios de devolução do veículo de propriedade empresa Requerente
representa o mais cristalino mandamento constitucional do devido processo legal, que
providência os meios de defesa proporcionais ao agravo, o qual está plasmado no art. 5º,
inciso LIV da Constituição Federal de 1988, in verbis:

“LIV – ninguém será privado de sua liberdade ou de seus bens sem o devido processo
legal;”
Diante disso, a empresa Requerida, por agora conhecer dos fatos ocorridos com veículo,
vem perante Vossa Excelência providenciar de pronto o pedido de restituição judicial do
bem apreendido, juntamente com a impugnação administrativa, que corre em seu curso.
Além disso, busca-se através deste procedimento demonstrar que a empresa Requerida
não incorreu em dolo, culpa e nem existiu nexo causalidade de sua parte no evento
danoso, havendo, desta feita, a necessidade de se demonstrar que não houve
responsabilidade do proprietário veículo nesta prática delituosa.

Assim, na hipótese em exame, não há de se descurar a Súmula 138 do TRF:


“A pena de perdimento de veículo, utilizado em contrabando ou descaminho, somente
se justifica se demonstrada, em procedimento regular, a responsabilidade de seu
proprietário na prática do ilícito.”

Não se pode olvidar, também, que a sanção, mesmo administrativa, não pode alcançar
senão o contribuinte infrator e, em matéria tributária, os responsáveis, assim, delineados
em lei, inexistindo liame justificador a possibilitar à aplicação da lei ao proprietário sem
perquirir da sua participação no ilícito tributário.

No mesmo sentido o julgado do próprio TRF, ipsis verbis:

“AGRAVO DE INSTRUMENTO – AÇÃO ANULATÓRIA – LEGITIMIDADE


PASSIVA – ANTECIPAÇÃO DA TUTELA – ART. 273, CPC –
VEROSSIMILHANÇA DO ALEGADO – PERIGO DA DEMORA – EXISTÊNCIA –
VEÍCULO APREENDIDO – ART. 513, V, REGULAMENTO ADUANEIRO –
DECRETO 91.030/85 – SÚMULA 138/TFR – AGRAVO PROVIDO. 1.
Preliminarmente, cumpre ressaltar a legitimidade recursal da agravante, possuidora
direta do bem, adquirido através de alienação bancária, tendo em vista que deverá
responder pela perda ou deterioração do bem perante o credor. 2. Para a antecipação da
tutela, prevista no art. 273 , CPC, exige-se prova inequívoca e verossimilhança do
alegado, havendo fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação e ou que
fique caracterizado o abuso do direito de defesa ou manifesto propósito protelatório. 3.
A intenção do artigo 514, inciso IX, do Regulamento Aduaneiro (Decreto n.º
91.030/85)é o de evitar que as mercadorias de procedência estrangeiras sejam
admitidas, sem o regular processo, penalizando a tentativa de introdução clandestina,
caracterizada pela não observância do controle alfandegário, fugindo ao controle
administrativo. Na hipótese vertente, há sempre um responsável pela introdução
clandestina ou pela posse do produto objeto do descaminho fiscal que deve comprovar a
regularidade da posse, de acordo com o RIPI. 4. Aplica-se a pena de perdimento de
mercadoria estrangeira, quando exposta à venda ou em circulação comercial no país, se
não for feita prova de sua importação regular (Art. 105, inciso X, do Decreto-lei 37/66).
5. No que pertine ao veículo, objeto de apreensão pela autoridade administrativa, dispõe
o artigo 513, inciso V, do Regulamento Aduaneiro (Decreto n.º 91.030/85) que aplica-se
pena de perdimento do veículo quando o veículo conduzir mercadoria sujeita a pena de
perdimento , se pertencente ao responsável por infração punível com aquela sanção. O
dispositivo visa apenar aquele que prestou os meios necessários à consumação de um
delito de introdução clandestina de mercadorias. 6. A pena administrativa de
perdimento, prevista no art. 5º, XLVI, alínea b, CF, tem, portanto, a natureza jurídica de
ressarcimento ao Erário. 7. Consta do documento de fl. 46, o Certificado de Registro de
Veículo, de 28/4/2006, em nome da agravante, embora conste a restrição mencionada.
Segundo o Auto de Infração e Termo de Apreensão e Guarda Fiscal (fl. 51), os fatos se
deram em 16/11/2006. 8. A Súmula 138 do TFR prescreve que: “A pena de perdimento
de veiculo, utilizado em contrabando ou descaminho, somente se justifica se
demonstrada, em procedimento regular, a responsabilidade do seu proprietário na
prática do ilícito”. 9. A ora recorrente e logrou provar ser possuidora direta do veículo
apreendido, alegando que teria alugado à Sra. Selma Regina de Oliveira para fins
particulares, conforme contrato avençado entre as partes (fl. 47), ou seja, lícitos, sem
envolvimento com as práticas delituosas descritas alhures. 10. Desta forma, de acordo
com a Súmula supra descrita, somente devidamente comprovada a responsabilidade do
proprietário/possuidor do bem na prática delitiva se poderia aplicar a pena de
perdimento perseguida pela agravada. 11. Não se vislumbra, pois, comportamento hábil
a delinear qualquer comportamento da autora capaz de sujeitá-la à pena severa. 12. A
empresa, ora agravante, tem como objeto social (fl. 39) a locação de veículos
rodoviários de passageiros, sendo que a apreensão do bem em questão poderá ensejar
prejuízos à sua atividade laborativa. 13. Presente a verossimilhança do alegado, bem
como o perigo na demora, cabível a antecipação dos efeitos da tutela, nos termos do art.
273, CPC, restando a agravante como depositária do veículo a ser liberado. 14. Agravo
de instrumento provido.
(TRF-3 – AI: 34901 SP 0034901-28.2007.4.03.0000, Relator: DESEMBARGADOR
FEDERAL NERY JUNIOR, Data de Julgamento: 08/11/2012, TERCEIRA TURMA).”

“EMENTA: TRIBUTÁRIO. PENA DE PERDIMENTO. VEÍCULO LOCADO NO


EXTERIOR. CONTRATO DE LOCAÇÃO VÁLIDO. BOA-FÉ. CIRCUNSTÂNCIAS
FÁTICAS RELEVANTES. LIBERAÇÃO DO BEM.
1. Aplica-se a pena de perdimento ao veículo que conduzir mercadoria sujeita a
perdimento, se pertencente ao responsável por infração punível com essa penalidade. 2.
Para efeitos de aplicação do perdimento do veículo deverá ser demonstrada, em
procedimento regular, a responsabilidade do proprietário do veículo quanto à prática do
ilícito. 3. Situação em que a imposição da pena de perdimento se dissocia do elemento
subjetivo que lhe é pressuposto, pois demonstrado que a empresa locadora do veículo
não tinha conhecimento do transporte ilícito, não tem registros anteriores de infração da
mesma natureza, e não agiu de má- fé.

(TRF4, AMS 2004.71.09.000144-6, Primeira Turma, Relatora Taís Schilling Ferraz,


D.E. 15⁄01⁄2008).”
A empresa Requerida não é responsável pelo ilícito cometido e busca o mais lidime
sentimento de justiça, o qual se pretende alcançar com este pedido de restituição, bem
como com a anulação do crédito fiscal.

Outrossim, é inegável que a empresa Requerida não agiu com dolo, pois que não obteve
vantagem nenhuma, muito menos, econômica, também, não há que se falar em culpa in
elegendo ou in vigilando, visto que a empresa mantinha contratos não superiores a um
ano, existindo vigilância, e que o bem móvel vinha sendo locado a longa data para o
locatário, Sr. NOME COMPLETO, que nunca demonstrou nenhuma suspeita de estar
utilizando de forma indevida o veículo.

Nem mesmo houve nexo causal entre a conduta delituosa dos agentes infratores e o
evento danoso, relacionados com a empresa, Requerida, sendo assim, não estão
presentes os elementos essenciais para configuração da responsabilidade civil no
sistema pátrio brasileiro.

O fato de não haver nexo causal entre a conduta da empresa Requerida e a infração
penal de contrabando e descaminho, também, afasta qualquer suposta responsabilidade
objetiva de tal empresa.

Não há que se mencionar em responsabilidade objetiva, como mencionado no auto de


infração aduaneiro, ao qual imputava a responsabilidade do risco da atividade do art.
927, do Código Civil, visto que empresa Requerida desempenha atividade de produção
moveleira e não a de transportadora de mercadorias, e que a tal locação não faz parte de
seu ramo de atividade, sendo que este tipo de contrato está regido pela responsabilidade
civil, a qual é imputada todos os que realizam os negócios da vida civil.

Neste caso, responsabilização a qualquer custa geraria uma grave injustiça, ferindo,
frontalmente, os princípios constitucionais da função social das pessoas jurídicas de
direito privado, pois que a execução de tal multa provocaria a imediata falta de recursos
para que a empresa Requerida continue suas atividades, que não tem capital para
suportar as sanções impostas pelo lançamento da multa tributária, pondo seus
funcionários à porta da rua.

Aduz que as provas da presente impugnação demonstram a sua boa-fé, sendo que,
no tocante ao fato de o móvel ter sido usado com desvio de finalidade ou mau uso, sem
seu consentimento, visto que se tratava de uma relação de confiança, que vinha sendo
exercida sem máculas da parte do locatário por anos.

Assevera, ainda, que efetuou a locação do caminhão de forma regular, tendo tomado
todas as cautelas exigíveis ao contrato, sendo que, a pena de perdimento do veículo deve
ser aplicada quando este conduzir mercadoria sujeita a perdimento, se pertencente
ao responsável por infração punível com essa penalidade. Com base em tal argumento, a
empresa Requerida entende que o veículo deve ser liberado, pois é de sua propriedade e
ficou provado que ela nada tem a ver com os fatos delituosos.

Com tais cautelas exigíveis, acima mencionadas, da empresa Requerida cumpriram os


princípios constitucionais de livre inciativa, da função social da propriedade, elencados
nos dispositivos constitucionais dos artigos 1º, inciso V, 5º, inciso XXII e XXIII e 170,
inciso II e III, todos da Constituição da República Federativa Brasileira de 1988, in
verbis:

“Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados
e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e
tem como fundamentos:

(…)

IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;

(…)

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

XXII – é garantido o direito de propriedade;

XXIII – a propriedade atenderá a sua função social;

(…)
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre
iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da
justiça social, observados os seguintes princípios:

(…)

II – propriedade privada;

III – função social da propriedade;”

A empresa Requerida é pessoa jurídica de direito privado com boa reputação, que está
no mercado há muitos anos, tem um nome a zelar e, de forma alguma, busca patrocinar
quadrilhas de contrabandistas.

Requer, portanto, seja afastada a responsabilidade da empresa Requerida, pelos efeitos


decorrentes do ilícito penal de contrabando e descaminho, o qual originou a pena de
perdimento do veículo MERCEDES-BENZ, cor amarela, placas GKU-0000, bem como
da multa aplicável no valor de R$ 641.000,00 (seiscentos e quarenta e um mil reais).

DO PEDIDO

Diante dos argumentos de direito e dos fatos expostos, requer-se digne Vossa
Excelência em:

Receber a o presente pedido de restituição de coisa apreendida para determinar que seja
acatado, preliminarmente, a ilegitimidade “ad causam” por ser a parte ilegítima para
figurar no polo passivo do auto de infração aduaneiro, bem como conceder a tutela
antecipada, oficiando a Receita Federal Brasileira para que a mesma providencie a baixa
da multa no R$ 641.000,00 (seiscentos e quarenta e um mil reais) e a imediata
restituição do veículo MERCEDES-BENS, cor amarela, placas GKU-0000, cuja
propriedade é da empresa Reclamada, para o amparo da mais pura e cristalina justiça.

Dá-se o valor da causa de R$ 37.000,00 (trinta e sete mil reais).

Nestes termos,

Pede Deferimento

Umuarama, 02 de junho de 2014

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