Analysis the use Gluten Free and Casein Free diet in children with autistic
spectrum disorder
Artigo
Original
Danielle Ricardo de Araújo1
Alden dos Santos Neves² Original
Paper
Palavras-chave: Resumo:
O autismo é um transtorno do desenvolvimento com ação gravemente im-
Glúten pactante no desenvolvimento cognitivo infantil, apresentando uma etiologia
desconhecida com hipóteses multifacetadas. A freqüente presença de sinto-
Caseína mas gastrintestinais, alergia alimentar e peptídeos urinários têm sido relacio-
nados a tratamentos alternativos incluindo a intervenção dietética. A grande
Dieta popularização da dieta GFCF (gluten free - casein free) entre pais e cuida-
dores é vista atualmente com relatos positivos de melhora no comportamen-
Autismo to e sintomas gastrointestinais. Esse tipo de intervenção exclui o glúten e a
caseína da alimentação a fim de identificar se essas proteínas desempenham
algum potencial alérgeno. A maioria dos pais e cuidadores não procuram o
nutricionista para esse tipo de intervenção, o que pode acarretar em riscos
de deficiências nutricionais. Estudos direcionados ao uso da dieta GFCF em
crianças autistas têm obtido resultados controversos, não fundamentando de
forma significativa o uso destas intervenções. Desta maneira o objetivo deste
estudo é analisar o emprego dessas dietas de restrição como alternativa tera-
pêutica em crianças portadoras do espectro autista, por meio de uma revisão
da literatura disponível. Conclui-se que existe a necessidade de desenvolvi-
mento de novos estudos com resultados melhor embasados tanto em número
da amostra, quanto a testes e avaliações que não sejam subjetivos.
1
Discente do curso de Nutrição do UniFOA
2
Nutricionista, Mestre em Ciências da Saúde e do Meio Ambiente, Docente do UniFOA
1. Introdução cos, de desenvolvimento, sociais, nutricionais
24 e ambientais, sendo improvável até hoje que
O autismo é um transtorno do desenvol- apenas uma única causa seja a resposta para
vimento no qual há um prejuízo severo na in- o transtorno invasivo do desenvolvimento
teração social e comunicação, comportamen- (CURTIS e PATEL, 2008).
tos estereotipados apresentando atividades e De acordo com a atualização dos crité-
interesses limitados evidentes até os 3 anos rios diagnósticos na Organização Mundial de
de idade. Concomitante com o comportamen- Saúde (OMS) que estabeleceu a Classificação
to isolante as crianças com transtornos autis- Internacional de Doenças (CID-10) e a
tas freqüentemente manifestam significativa Associação Americana de Psiquiatria que esta-
agressividade, com tendências a irritabilidade, beleceu o Manual de Diagnóstico e Estatística
auto agressão e hiperatividade (GENUIS e das Perturbações Mentais (DSM-IV), há uma
BOUCHARD, 2010). grande divergência nos estudos publicados
O diagnóstico é feito por meio de uma quanto á prevalência do autismo (TEIXEIRA
série de diferentes medidas e instrumentos et al.,2010).
de triagem, sendo a escala CARS (Childhood Um possível aumento da prevalência é
Autism Rating Scale ou “Escala de Pontuação justificado por um melhor diagnóstico no mun-
para Autismo na Infância”) de Schopler a mais do, demonstrando que a incidência é quatro
utilizada e eficaz, sendo traduzida em vários vezes maior em homens que mulheres. Como
idiomas. (RAPIN e GOLDMAN, 2008). a maioria das publicações são originadas de
A permeabilidade intestinal e alergia ali- países desenvolvidos é necessário um levan-
mentar em crianças portadoras do espectro au- tamento epidemiológico atual dos países em
tista são questões avaliadas devido a presença desenvolvimento considerando as variações
constante de sintomas gastrointestinais como: genéticas e ambientais entre as populações
diarréia, constipação, distensão e dor abdomi- (BRESSAN et al.,2005).
nal (BUIE et al., 2010). No Brasil em 2007, o Ministério da
As hipóteses giram em torno da ocorrên- Saúde elaborou um grupo de trabalho com
cia de respostas imunes a proteínas alimenta- atuação voltada para o Transtorno do Espectro
res e a presença de uma permeabilidade in- Autista no Sistema Único de Saúde (SUS),
testinal anormal que possivelmente resultaria com discussões voltadas para a disseminação
na absorção de peptídeos incompletamente do conhecimento científico com o objetivo de
quebrados, seguindo de uma atuação opióde formular propostas de assistência populacio-
no Sistema Nervoso Central (SNC) através da nal (TEIXEIRA et al.,2010).
barreira hematoencefálica (GALIATSATOS, Ainda não foram utilizados no país pro-
GOLOGAN e LAMOUREUX, 2009). tocolos sistematizados para diagnóstico no
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Após as 3 semanas de intervenção é pre- dendo estar relacionada com o tempo de expo-
ciso fazer uma análise do surgimento ou não sição ao alérgeno na alimentação.
de efeitos benéficos, avaliando as alterações Podem ser notadas mudanças em 3 a 4 se-
bioquímicas, comportamentais e gastrintesti- manas de dieta restrita, mas a recomendação é
nais. Sendo a remoção da caseína através da remover o glúten por pelo menos 3 meses para
restrição de leite e derivados de realização obter um resultado melhor para a averiguação do
mais simples e de resultados mais rápidos, progresso. Após esse período é possível inves-
preparando assim os pais e cuidadores para a tigar outros possíveis alérgenos através de tes-
remoção do glúten. tes de alergias com resultados mais fidedignos
Atualmente é obrigatória na rotulagem de já que os grandes gatilhos foram eliminados. A
produtos alimentícios conter a informação so- criação de um diário alimentar é de imensa im-
bre a presença ou não do glúten, ficando mais portância para o registro do consumo de alimen-
fácil a identificação. Para a remoção do glúten tos e possíveis alterações de comportamentos
é necessário excluir um número considerável e sintomas, sendo possível assim uma melhor
de produtos que contenham os ingredientes: investigação ao longo da história alimentar da
trigo, centeio, cevada, aveia e malte em sua criança ( SHATTOCK e WHITELEY, 2000).
composição. MULLOY et al (2009) em sua revisão da lite-
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A eliminação do glúten no organismo ratura selecionou alguns estudos com o uso da dieta
acontece de forma mais lenta e gradual, po- GFCF em crianças, como mostra o Quadro 2.
Quadro 2 – Estudos com o uso da dieta GFCF em crianças
27
Citação Participantes Intervenção Resultados
Dieta baseada no
10 meninos/ 5 perfil de peptídeo
Positivo, diminuição significativa
Reichelt et meninas urinário
nos níveis de peptídeo urinário, de
al.(1990) 3 -17 anos Variações da dieta:
anticorpos e comportamento.
Autismo GFCF, GF,CF
Duração:12 meses
Artigo
15 meninos, 3
Original
meninas
Média de idade Mistos, melhora significativa
Original
Whiteley et al. = 5,5 anos Dieta GF comportamental, sem redução
Paper
(1999) 14 com TEA Duração : 5 meses estatística nos níveis de peptídeo
e 4 com urinário
Síndrome de
Asperger Recebido em
03/2011
Positivo, melhoras no contato
visual, hiperatividade, estereotipias, Aprovado em
28 meninos, 22 08/2011
agressividade e fala.
Cade et meninas Dieta GFCF
Níveis de peptídeo urinário e
al.(2000) 3,5-16 anos Duração:12 meses
anticorpos a glúten e caseína
Autismo
superiores encontrados no grupo com
TEA comparados ao grupo controle.
Positivo, melhoras significativas
8 meninos/ 7 na fala, habilidades motoras,
Knisvsberg et Dieta GFCF
meninas criatividade, e diminuição
al.(1990,1995) Duração:48 meses
6-14 anos significativa nos níveis de peptídeo
urinário.
12 meninos
Elder et al. Dieta GFCF Negativo, sem resultados
3 meninas
(2006) Duração:6 semanas significativos
2-16 anos
10 meninos, 3
Seung et al. Dieta GFCF Negativo, sem resultados
meninas
(2007) Duração: 3 meses significativos
2-16 anos
Legenda: GFCF- Gluten free e Casein free, GF- Gluten free, CF- Casein free, TEA – Transtorno do Espectro Autista.
Fonte: MULLOY et al., 2009.
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