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EXMO. SR. DR.

JUIZ DE DIREITO DA VARA CÍVEL DA COMARCA DE


SÃO PAULO – SP

......................., brasileiro, médico, portador da Cédula de


Identidade RG n.º ........ e inscrito no CPF/MF sob n.º .........., casado com ..........,
brasileira, médica, portadora da Cédula de Identidade RG n.º .... e inscrita no CPF/MF
sob n.º .........., ambos residentes e domiciliados nesta Capital, Estado de São Paulo, na
Rua .............., vêm, por seu advogado que esta subscreve (doc. 01), com fundamento
nos artigos 1.046 e seguintes do Código de Processo Civil, com fundamento no artigo
475 1 do Novo Código Civil (Lei de 10.406 nº 10/01/2002) e 920 e seguintes do Código
de Processo Civil, propor

AÇÃO DE RESCISÃO CONTRATUAL, CUMULADA COM PERDAS E DANOS


MATERIAIS E MORAIS

em face de .........., brasileira, professora secundária, portadora da Cédula de Identidade


RG ........, inscrita no CPF/MF sob nº .......... e ........., brasileiro, engenheiro civil,
portador da Cédula de Identidade RG. nº ......., inscrito no CPF/MF sob n.º ...............,
ambos residentes e domiciliados na Rua ..............., Estado de São Paulo, pelos motivos
de fato e de direito que passam a expor.

I – DOS FATOS E DO DIREITO

1
Art. 475. A parte lesada pelo inadimplemento pode pedir a resolução do contrato, se não preferir
exigir-lhe o cumprimento, cabendo, em qualquer dos casos, indenização por perdas e danos.
Os Autores adquiriram dos Réus 60 (sessenta) lotes de
terrenos, em loteamento denominado ................, localizado no quilômetro 247,5 da
Rodovia Mal. Rondon, neste Município e Comarca de ................ e registrado na
matrícula 27.084, do 2º Cartório de Registro de Imóveis da Comarca de ................,
Estado de São Paulo.

Os lotes foram adquiridos através do Instrumento Particular de


Promessa de Compra e Venda de Imóveis, datado de 25/03/2002 (doc. 02) a saber:

Quadra 02 – Lotes de nºs 13 e 14 (02) Quadra 02 – Lotes de nºs 16 a 24 (09)


Quadra 05 – Lotes de nºs 01 a 24 (24) Quadra 06 – Lotes de nºs 01 a 24 (24)
Quadra 07 – Lotes de nºs 24 (01)

Pela compra de referidos imóveis foi ajustado o preço de


R$ 240.000,00 (duzentos e quarenta mil reais), a serem pagos nas seguintes datas,
conforme cláusula segunda do Instrumento Particular:

a) R$ 120.000,00 (cento e vinte mil reais) no ato da assinatura do Instrumento;

b) R$ 30.000,00 (trinta mil reais) a serem pagos em 25/04/2002;

c) R$ 30.000,00 (trinta mil reais) a serem pagos em 25/05/2002;

d) R$ 30.000,00 (trinta mil reais) a serem pagos em 25/06/2002;

e) R$ 30.000,00 (trinta mil reais) a serem pagos em 25/07/2002;

Além da importância de R$ 120.000,00 (cento e vinte mil reais),


pagos na data de assinatura do Instrumento (25/03/2002), os Autores efetuaram os
seguintes pagamentos (doc. 03):

a) Em 10/04/2002, a importância de R$ 15.000,00 (quinze mil reais), antecipando parte


da parcela a vencer em 25/05/2002;

b) Em 25/04/2002, a importância de R$ 30.000,00 (trinta mil reais), relativa a parcela


com vencimento da mesma data;

c) Em 10/05/2002, a importância de R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais), antecipando


parte da parcela a vencer em 25/06/2002.

Equivale a dizer, do total de R$ 240.000,00 (duzentos e quarenta


mil reais), os Autores pagaram a importância de R$ 190.000,00 (cento e noventa mil
reais).

Para o caso de inadimplência, por parte dos Réus, foi estipulada


a multa de 20% (vinte por cento) sobre o valor total do preço (R$ 240.000,00),
conforme previsto na cláusula 7.5 do Instrumento Particular.
Foi eleito o Foro Central da Comarca de São Paulo para dirimir
as questões oriundas destes contratos, conforme cláusula 11.2.

I-A) DA NOTIFICAÇÃO E CONSTITUIÇÃO EM MORA

Todavia, os Réus não cumpriram com as obrigações assumidas,


principalmente aquelas contidas nas cláusulas sexta e sétima, consistente da realização
de benfeitorias e das obras de infra-estrutura do loteamento.

Equivale a dizer, os Réus não concluíram as obras necessárias


para que o loteamento fosse concretizado.

Diante disso, os Autores notificaram extrajudicialmente os


Vendedores, o que se concretizou, após várias diligências, em data de 10/05/2003 (doc.
04).

Desta feita, mesmo notificados, nos termos do contrato, os


Vendedores não cumpriram suas obrigações, previstas na cláusula sétima, do
Instrumento Particular de Promessa de Compra e Venda, relativas à realização e
instalação da infra-estrutura do loteamento, principalmente com relação às benfeitorias.

I-B) DA INDISPONIBILIDADE E DO ARRESTO DOS BENS DOS


VENDEDORES

Outrossim, pretendiam os Autores, de modo a minimizar seus


prejuízos, devido à inadimplência dos Réus, alienar a terceiros, os lotes adquiridos e
pagos, mesmo porque a cláusula 4.2 do Instrumento assim o permitia.

E tanto assim é que, os Vendedores outorgaram ao primeiro


Autor instrumento público de procuração para que alienasse lotes daquele
financiamento, segundo sua conveniência (doc. 05).

No entanto, ao tentarem averbar tal Instrumento de Promessa de


Compra e Venda, na matrícula dos imóveis, mais especificamente na matrícula de nº ....,
do 2º Cartório de Registro de Imóveis da Comarca de ................, na qual se acha
registrado o loteamento ................, foram surpreendidos com a recusa do Sr. Oficial
daquele registro imobiliário, pois, os bens dos Vendedores estavam indisponíveis a
mando do Judiciário (doc. 06).

Diante disso, levando em conta que os Réus já não haviam


cumprido para com suas obrigações, mesmo depois de notificados, além de estarem
com seus bens indisponíveis, os Autores, com fundamento no artigo 476 2 do Código
2
Art. 476. Nos contratos bilaterais, nenhum dos contratantes, antes de cumprida a sua obrigação,
pode exigir o implemento da do outro.
Civil, suspenderam os pagamentos das parcelas (doc. 07) com o que concordaram os
Réus (doc. 08) reconhecendo, explícita e claramente que não haviam cumprido suas
obrigações assumidas no Instrumento Particular de Compra e Venda.

Em razão da inadimplência por parte dos Réus em realizar as


obras de infra-estrutura aliada a indisponibilidade dos seus bens, ainda que os Autores
efetuassem o pagamento do saldo da dívida, a lavratura de escritura pública para
transmissão da propriedade de revelou impossível, por isso e via de conseqüência, não
resta aos Autores alternativa senão a de propor a presente ação de rescisão, cumulada
perdas e danos 3 .

I-C) DAS PERDAS E DANOS E RESTITUIÇÕES DEVIDAS PELOS RÉUS

Conforme já foi dito, os Réus não cumpriram para com suas


obrigações, fato este por si só a ensejar a presente ação de rescisão contratual, cumulada
com perdas e danos.

Ademais, consoante cláusula 7.5, do Instrumento Particular de


Promessa de Compra e Venda, há previsão de multa, por inadimplemento, de 20%
(vinte por cento) sobre o preço total dos lotes, multa esta de R$ 48.000,00 (quarenta e
oito mil reais).

Portanto, nos termos do artigo 389 4 do Código Civil, os Réus


devem restituir aos Autores as quantias por estes desembolsadas, devidamente
atualizadas, desde as datas dos pagamentos, acrescidas da penalidade prevista no
Instrumento Particular de Promessa de Compra e Venda.

Ora, além dos Autores terem desembolsado quantias


relativamente vultosas, com a não concretização do loteamento, por culpa dos Réus,
deixaram de lucrar com as vendas dos lotes adquiridos.

Bem por isso, inaplicável o parágrafo único do art. 944 5 do


Código Civil, eis que os Autores haviam pago 90% (noventa por cento) do preço dos

 RESP 471344 / DF ; RECURSO ESPECIAL 2002/0125829-8 Relator Ministro RUY


ROSADO DE AGUIAR (1102) Órgão Julgador - QUARTA TURMA Data do Julgamento
26/05/2003 Data da Publicação / Fonte DJ 04.08.2003 p. 315
Ementa: RESOLUÇÃO. Direito do promissário comprador. O promissário comprador
tem o direito de promover ação de resolução de contrato fundado no descumprimento da
vendedora, que estava impossibilitada de fornecer escritura de compra e venda. Recurso não
conhecido.
4
Art. 389. Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e
atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado.
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 Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano.


imóveis, quantia vultosa, diga-se, quando foram surpreendidos pela inadimplência dos
Réus.

Concluindo, de acordo com o demonstrativo ora juntado (doc.


09), os Réus devem restituir e ressarcir os Autores, por danos e prejuízos materiais, em
razão de não cumprimento de contratos, a quantia de R$ 301.666,00 (trezentos e um
mil, seiscentos e sessenta e seis reais centavos).

Importante consignar que neste montante não estão incluídos os


danos morais pelos dissabores e angústias suportados pelos Autores em razão da
situação constrangedora e prejuízos pelos quais foram obrigados a passar.

I-D) DO FORO COMPETENTE

Conforme já asseverado, as partes, em ambos os Instrumentos


Particular de Promessa de Compra e Venda elegeram o Foro Central da Comarca de São
Paulo para dirimir as questões oriundas dos supramencionados contratos.

Ademais, o C. Superior Tribunal de Justiça já pacificou


entendimento de que em se tratando de pedido de rescisão de compromisso de compra e
venda, cumulado com reintegração de posse, prevalece o foro de eleição. Confira-se.

“RESP 56603 / SP ; RECURSO ESPECIAL 1994/0034089-3 Relator Ministro


NILSON NAVES (361) Órgão Julgador - TERCEIRA TURMA Data do Julgamento
15/04/1997 Data da Publicação / Fonte DJ 30.06.1997 p. 31021 RCJ vol. 81 p. 63
RSTJ vol. 99 p. 187
Ementa
PEDIDO DE RESCISÃO DE COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA C.C.
PEDIDO DE REINTEGRAÇÃO NA POSSE. ELEIÇÃO DE FORO.
COMPETENCIA. SENDO O PEDIDO POSSESSORIO SIMPLES
CONSEQUENCIA DO PEDIDO RESCISORIO (O PRINCIPAL), NÃO SE LHES
APLICA, EM TERMOS DE DEFINIÇÃO DA COMPETENCIA, O DISPOSTO
NO ART. 95 DO CPC. ADMITE-SE O FORO DE ELEIÇÃO. PRECEDENTE DA
4A. TURMA DO STJ: RESP 13.125. RECURSO ESPECIAL CONHECIDO E
PROVIDO”.

““RESP 402762/SP; RECURSO ESPECIAL 2002/0001316-3 Relator Ministro


CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO (1108) Órgão Julgador - TERCEIRA
TURMA Data do Julgamento 27/08/2002 Data da Publicação / Fonte DJ 04.11.2002
p. 201 RNDJ vol. 37 p. 133
Ementa
Ação de anulação de compromisso de compra e venda cumulada com reintegração
de posse. Foro de eleição. Precedentes da Corte.
1. Na panóplia de precedentes da Corte há convergência para afirmar que a ação de
anulação de compromisso de compra e venda é pessoal e que o pedido de
reintegração, como conseqüência, não acarreta a incidência do art. 95 do Código de

Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o


dano, poderá o juiz reduzir, eqüitativamente, a indenização.
Processo Civil, que estabelece a competência absoluta, prevalecendo o foro de
eleição, se existente.
2. Recurso especial não conhecido”.

Diante dos fatos anteriormente aduzidos, justifica-se a rescisão e


desconstituição do negócio jurídico firmado entre as partes, por motivo do
inadimplemento da obrigação, por parte dos Réus, nos termos da legislação em vigor.

I-E) DO INGRESSO DO CÔNJUGE DO AUTOR NO POLO ATIVO DA AÇÃO

Entendem os Autores, salvo melhor juízo, que considerando a


natureza da presente demanda, ou seja, pedido de rescisão contratual cumulada com
reintegração de posse, a participação da cônjuge – ......... é necessária, por força do art.
10 6 do Código de Processo Civil, muito embora não tenha figurado nos Instrumentos
Particulares de Promessa de Compra e Venda dos Imóveis.

Neste sentido, decisão do C. Superior Tribunal de Justiça, em


Acórdão que guarda semelhança ao presente caso.

“RESP 34197 / SP ; RECURSO ESPECIAL 1993/0010542-6 Relator Ministro


SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA (1088) Órgão Julgador - QUARTA
TURMA Data do Julgamento 25/06/1996 Data da Publicação / Fonte DJ 26.08.1996
p. 29686 Ementa: PROCESSUAL CIVIL. RESOLUÇÃO DE COMPROMISSO DE
COMPRA E VENDA CUMULADA COM REINTEGRAÇÃO NA POSSE.
PRESCINDIBILIDADE DE CONVOCAÇÃO DE AMBOS OS CONJUGES. CPC,
ART. 10. LEI 8.952/94. DISCUSSÃO SUPERADA. RECURSO DESPROVIDO. I
- EM AÇÃO DE RESOLUÇÃO DE COMPROMISSO DE COMPRA-E-VENDA
CUMULADA COM REINTEGRAÇÃO NA POSSE, BASTA A CITAÇÃO DO
CONJUGE QUE FIRMOU O COMPROMISSO; PRIMEIRO, PORQUE A
POSSESSORIA E MERA DECORRENCIA DO PEDIDO DE RESOLUÇÃO, DE
ORDEM PESSOAL; SEGUNDO, PORQUE JÁ FIXADO O ENTENDIMENTO
SEGUNDO O QUAL SOMENTE SE FAZ IMPRESCINDIVEL A CITAÇÃO DOS
CONJUGES NAS AÇÕES POSSESSORIAS QUANDO SE TRATA DE
COMPOSSE OU ATO POR AMBOS PRATICADOS. II - A DISCUSSÃO VIU-SE
SUPERADA EM RAZÃO DA MODIFICAÇÃO DO ART. 10 DO CODIGO DE
PROCESSO CIVIL PELA LEI 8.952/94 QUE NORMATIZOU A POSIÇÃO
MAJORITARIAMENTE CONSTRUIDA POR DOUTRINA E
JURISPRUDENCIA”.

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Art. 10. O cônjuge somente necessitará do consentimento do outro para propor ações que
versem sobre direitos reais imobiliários.
§ 1o Ambos os cônjuges serão necessariamente citados para as ações:
I - que versem sobre direitos reais imobiliários;
II - resultantes de fatos que digam respeito a ambos os cônjuges ou de atos praticados por eles;
III - fundadas em dívidas contraídas pelo marido a bem da família, mas cuja execução tenha de
recair sobre o produto do trabalho da mulher ou os seus bens reservados;
IV - que tenham por objeto o reconhecimento, a constituição ou a extinção de ônus sobre
imóveis de um ou de ambos os cônjuges.
II - DOS DANOS MORAIS

Inquestionavelmente, os Autores suportaram e passam por


dissabores, angústias e desonra moral ao verem seus projetos de investimentos, onde
idealizaram vultosas quantias, irem por água abaixo com a conduta dos Réus.

Bem por isso, são devidos danos morais atualmente consagrados


no artigo 186 7 do Código Civil, dispositivo este decorrente do pacífico entendimento
doutrinário e jurisprudencial sobre o assunto.

A propósito da reparação dos danos morais sofridos pelos


Autores, vale transcrever, ainda que parcialmente, elucidativo ensinamento da ilustre
jurista Maria Helena

"Impossibilidade jurídica de se admitir tal reparação. Tal objeção não tem


nenhum fundamento, pois os bens morais também são jurídicos, logo sua
violação deverá ser reparada. Se o interesse moral justifica a ação para
defendê-lo ou restaurá-lo, é evidente que esse interesse é indenizável,
mesmo que o bem moral não se exprima em dinheiro. Se a ordem jurídica
sanciona o dever moral de não prejudicar ninguém, como poderia ela ficar
indiferente ao ato que prejudique a alma, se defende a integridade corporal,
intelectual e física? Ante a inconsistência destas objeções, somos levados a
admitir a ressarcibilidade do dano moral, mesmo quando não tiver
repercussão econômica." (Curso de Direito Civil Brasileiro - 7º Volume, 5ª
ed. - p. 78).

Equivale a dizer, os Autores têm interesse processual, por dano


moral, em razão do inadimplemento de obrigações por parte dos Réus, com o gravame
da impossibilidade total de se reintegrarem na posse dos imóveis, devido a
indisponibilidade de bens decretada pelo Banco Central e arresto determinado pelo MM.
Juiz de ................, aliados ao fato de que desembolsaram quantia vultosa, com o
objetivo de realizarem investimentos, daí porque incide o dano moral indenizável.

O dano moral, devido a dificuldade de avaliação de sua


dimensão e valor, deve o magistrado considerá-lo com eqüidade.

Resta ver, portanto, o valor a ser arbitrado em condenação,


sendo valiosos os ensinamentos ministrados pelo Desembargador Professor José Osório
de Azevedo Júnior, na palestra "O Dano Moral e sua Avaliação", transformada em
monografia, divulgada no volume 49 da Revista do Advogado publicada pela
prestigiosa Associação dos Advogados de São Paulo, realçando-se na página 12:

"Esses critérios das leis especiais são ricos e extremamente úteis para o juiz.
Podem e devem ser utilizados nos casos comuns. Entretanto, os limites de
valor das indenizações aí previstos (100 a 200 salários mínimos) não

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Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito
e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
precisam nem devem ser observados. Servem como orientação. Esses limites
até sugerem indenização superior. Isto porque, nos casos dessas leis
especiais, existe um outro e relevante valor jurídico-social que o legislador
quer salvaguardar, isto é, a liberdade de informação. Nesse sentido, já
decidiu a 4ª Câmara de Direito Privado do TJ, Ap. nº 253.73-1, r. Olavo
Silveria como voto de José Osório, declarado, e Barbosa Pereira..." (sic).

Ante a natural dificuldade de se arbitrar o dano moral, entende-


se por trazer à colação o precedente do seguinte teor:

"DANO MORAL - É admissível a liquidação da correspondente indenização


por prudente estimativa do juiz, independentemente de arbitramento por
experto, até por não se tratar de matéria técnica pertinente à determinada
especialização.
VALOR DO DANO - Não há cogitar de maior ou menor atividade negocial
da pessoa lesada, nem da eventual perda de oportunidades comerciais, eis que
não há dano material a indenizar. A reparação é apenas a do prejuízo à
'exestimatio' pessoal e do constrangimento a que se viu submetida a pessoa
prejudicada. Razoável, nas circunstâncias, estimar-se em vinte salários
mínimos o montante da indenização por indevida “negativação” em sistema de
proteção ao crédito." (TJRS - 6ª Câm. Cível; Ap. nº 592.072.607-PA; rel. Des.
Adroaldo Furtado Fabrício; j. 25.08.1992, v.u.) AASP nº 1783, p. 84.

Entretanto, entendem os Autores que, levando em consideração


as quantias envolvidas na compra e venda dos imóveis, a negligência, imprudência,
omissão, para não dizer má-fé dos Réus em não adimplir para com as obrigações
assumidas, cuja atitude configura crime previsto na Lei 6.766/79, além do fato de, com
parte do pagamento os Autores terem cedido a posse de imóvel em Ubatuba, onde há
uma pousada instalada, pedem, a título de dano moral, a quantia correspondente a 500
(quinhentos) salários mínimos, ou seja, a importância de R$ 130.000,00 (cento e trinta
mil reais).

III - DAS CUSTAS INICIAIS DE DISTRIBUIÇÃO

De acordo com a tabela atual de custas judiciais, os Autores


devem recolher a importância de R$ 4.316,66 (quatro mil, trezentos e dezesseis reais e
sessenta e seis centavos), calculada sobre o valor da causa.

Ocorre Excelência, que os Autores desembolsaram vultosas


quantias neste empreendimento e não tiveram nenhum retorno, por conta da
inadimplência dos Réus aliada a indisponibilidade e do arresto dos bens dos mesmos.

A rigor, praticamente se descapitalizaram com as aquisições dos


lotes, passando a enfrentar sérias dificuldades financeiras em outros empreendimentos.
A bem da verdade, para pagamento das custas iniciais os
Autores se vêem na necessidade de se desfazerem de outro bem para poderem suportar
tal despesa, o que não se coaduna com o direito ao acesso a Justiça.

Diante disso, requerem, a teor do art. 4º, da Lei 4.952/1985, seja


diferido, para o final da ação, o recolhimento das custas iniciais, pois tal quantia, no
atual momento e conjuntura tem um impacto econômico e financeiro significativo no
dia a dia dos Autores.

A jurisprudência dos Tribunais pátrios se coadunam com tal


pretensão. Confira-se:

“CUSTAS - alteração ex officio - Pagamento da diferença ao final -


Possibilidade - Recurso provido em parte. Ainda que seja a parte proprietária
de imóvel e tenha outros bens, o espírito da norma contida no inciso do artigo
4º, § 4º da Lei n. 4.952/85 afirma que não pode ser ela obrigada a se desfazer
de bens imóveis ou de aplicações mobiliárias para ter acesso à Justiça que a
ela é assegurado constitucionalmente, se de grande vulto o valor das custas
que deve recolher”. (Agravo de Instrumento n. 67.570-4 - Ribeirão Preto - 4ª
Câmara de Direito Privado - Relator: Barbosa Pereira - 23.10.97 - V.U.)

“AGRAVO DE INSTRUMENTO - Decisão que cassa o benefício da justiça


gratuita, deixando, todavia, para o final da lide, o recolhimento das custas -
Admissibilidade - Agravante que contratou patrono para defender-se,
confirmando o pagamento de honorários ao final da demanda - Se é verdade
que o agravante pode custear os honorários de seu patrono ao final da
demanda, não menos verdade, também poder recolher as custas ao final da
lide - Arts. 7º, caput, e 8º, da Lei Federal nº 1.060/50 - Decisão mantida -
Agravo improvido”. (Agravo de Instrumento n. 316.460-5/6 - São Paulo - 9ª
Câmara de Direito Público - Relator: Antonio Rulli - 12.03.03 - V.U.)

“CUSTAS DIFERIDAS. Apelação. Recolhimento nos termos do § 5º do


artigo 4º da Lei Estadual nº 4.952/85. O diferimento das custas iniciais não
dispensa o seu pagamento, que deverá ser feito com a interposição do apelo,
juntamente com o preparo deste. Deserção. Decisão confirmada. Agravo
improvido. FALTA DE PREPARO - Apelo julgado deserto. Preceitos legal
(artigo 29 do CPC) e constitucional (artigo 5º, inciso XXXIV, da CF)
inaplicáveis no caso, porque o juiz não praticou ilegalidade de nem abuso de
poder. Decisão confirmada. Agravo improvido”. (TJSP - 1ª Câm. de Direito
Privado; Ag. de Instr. nº 85.118-4/5-São Paulo; Rel. Des. Alexandre Germano;
j. 30.06.1998; v.u.).BAASP, 2080/770-j, de 09.11.1998).

“ANULATÓRIA DE CONTRATO E INDENIZATÓRIA POR DANOS


MORAIS - SÃO PAULO - INDEFERIDO PEDIDO DE PAGAMENTO DAS
CUSTAS NO FINAL, FACE AO ESTADO DE NECESSIDADE –
INADMISSIBILIDADE - A impossibilidade, ainda que passageira, do
pagamento de custas processuais de valor elevado, viabiliza o seu diferimento
para o final da ação. Exegese do inciso V do parágrafo 4º do artigo 4º da Lei
Estadual nº 4.952/85. Provido.” (1º TACIVIL - 7ª Câm.; AI nº 852.334-0-SP;
Rel. Juiz Carlos Renato de Azevedo Ferreira; j. 4/5/1999; v.u. BAASP,
2190/343-e, de 18.12.2000)”.
IV - DO PEDIDO

Pelo exposto, REQUEREM:

a) A citação, por carta (AR) dos Réus para oferecerem defesa, se o quiserem, sob pena
de revelia;

b) A procedência da presente ação, desconstituindo-se o negócio jurídico e condenando


os Réus a restituírem as quantias pagas pelos Autores, devidamente atualizadas e
acrescidas da multa prevista no Instrumento Particular de Promessa de Compra e Venda
e das perdas e danos suportados pelos Autores, no montante de R$ 301.666,00
(trezentos e um mil, seiscentos e sessenta e seis reais) acrescida de juros legais, nos
termos do art. 406 do Código Civil (taxa Selic) e correção monetária desde a data em
que se efetivaram os pagamentos;

d) A condenação dos Réus em indenização pelos danos morais suportados pelos


Autores correspondentes a 500 (quinhentos) salários mínimos, ou seja, R$ 130.000,00
(cento e trinta mil reais).

e) A condenação dos Réus ao pagamento das causas e honorários de advogado.

Pretendem provar o alegado através de todos os meios de prova


em direito admitidos, especialmente documental, testemunhal, pericial e depoimento
pessoal dos Réus.

Dá-se a causa o valor de R$.431.666,00 (quatrocentos e trinta e


um mil, seiscentos e sessenta e seis reais).

N. Termos.
P. E. Deferimento.
São Paulo, 24 de fevereiro de 2005.

JOÃO BATISTA CHIACHIO


OAB/SP 35.082

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