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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DO JUIZADO ESPECIAL DA

SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE DIAMANTINO-MT.

Processo nº 421-18.2016.4.01.3604
Requerente:

Requerido: INSS –Instituto Nacional do Seguro Social

xxxxxxxxxxxx, brasileira, solteira, estudante, nascida aos


05/09/1992, portadora de RG nº. xxxxxxxxxxxxx, inscrita no CPF sob o nº.
xxxxxxxxxxxxxxxxx residente e domiciliada à Rua xxxxxxxxxxxxxxx, nº xxxxx, Bairro
xxxxxxx, Nortelândia/MT, CEP: xxxxxx, por intermédio de sua procuradora constituída,
que esta subscreve, com escritório profissional à Avenida Prefeito João Macaúba, nº
22, Centro, Nortelândia, CEP: 78.430-00 onde recebe notificações e intimações de
praxe, vem, mui respeitosamente, ante a presença de Vossa Excelência, inconformada
com a r. sentença que julgou improcedente o pedido inicial, interpor o presente
RECURSO INOMINADO para a Egrégia Turma Recursal deste juizado.

Em face do exposto, requer seja deferida a juntada das


razões acostadas e, após os trâmites legais, sejam os autos remetidos à EGRÉGIA
TURMA RECURSAL, onde espera seja dado provimento ao mesmo.

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Para tanto, pugna-se pela concessão do benefício da
justiça gratuita, neste momento processual, tendo em vista de que são pobres na
acepção jurídica do termo, não dispondo de condições econômicas para custear as
despesas judiciais, sem sacrifício do sustento de sua família.

Nestes termos, pede deferimento.

Nortelândia/MT, 06 de outubro de 2016.

BRUNNA PORTELA ALVES


OAB/MT – 15.418

EGRÉGIA TURMA RECURSAL DO JUIZADO ESPECIAL FEDERAL CÍVEL DE


MATO GROSSO

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Processo nº xxxxxxxxxxx

Recorrente: xxxxxxxxxx
Recorrido : INSS –Instituto Nacional do Seguro Social

JUIZO DE ORIGEM: JUIZADO ESPECIAL FEDERAL CÍVEL DE DIAMANTINO- MT.

RAZÕES DE RECURSO

COLENDA TURMA

ÍNCLITOS JULGADORES

Em que pese o conhecimento jurídico do Juiz “a quo” no


presente caso, não agiu com o costumeiro acerto, necessitando a sentença proferida
pelo mesmo ser reformada em sua íntegra, pois a matéria foi examinada, estando a
sentença em afronta com as provas constantes dos autos e fundamentos jurídicos
aplicáveis, bem como com o entendimento uniformizado desta Turma Recursal como
ficará demonstrado.

I. COMO INTROITO

CUMPRIMENTO DOS PRESSUPOSTOS RECURSAIS

O presente recurso é tempestivo, uma vez que interposto


no décimo dia estabelecido legalmente.

Observa-se que a Requerente-Recorrente fora notificada


da sentença prolatada em 26/09/2016 (segunda-feira), conforme extrai-se de certidão
de fl. 56 verso. Assim, o prazo para a interposição do presente recurso findar-se-á em
06/10/2016 (quinta-feira). Interposto nesta data, o recurso é inquestionavelmente
tempestivo.

II. BREVE RELATO DOS FATOS

A recorrente interpôs a presente ação, tendo em vista o


indeferimento do pleito administrativo, objetivando a condenação do INSS na

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concessão de Benefício de Prestação Continuada a Pessoa com Deficiência, no valor
de 01 (um) salário mínimo por mês, bem como os valores correspondentes às
parcelas retroativas do benefício devidas desde o requerimento administrativo, em que
pese ser a recorrente portadora de cegueira dos dois olhos – CID: H 54.0 e nistagmo
congênito – CID: H. 55.

Todavia, e eis o âmago deste recurso, o Nobre Julgador


a quo, julgou improcedentes os pedidos formulados pela recorrente, entendendo que
embora a autora seja portadora de cegueira dos dois olhos – CID: H 54.0 e nistagmo
congênito – CID: H. 55, não apresenta lesão/deficiência que atinja grau de
incapacidade, tendo por base o laudo pericial de fls.26/29 em que afirma que há
possibilidade de reabilitação profissional, onde a recorrente poderá exercer atividade
como telefonista ou atividade administrativas em ambiente adaptado para deficientes
visuais.

Não foram analisado os requisitos econômicos.

Com efeito, estas são as razões que levam o Recorrente


a interpor o presente recurso, quais sejam, o enquadramento da requerente no
conceito de pessoa portadora de deficiente prevista no artigo 20, §2º, da Lei 8.742/93.

III – DAS RAZÕES RECURSAIS

O Juízo “a quo” indeferiu a concessão do


recebimento de benefício de assistência continuada ao deficiente
a recorrente sustentando o entendimento de que embora seja portadora de
cegueira dos dois olhos – CID: H 54.0 e nistagmo congênito – CID: H. 55.
Entretanto, merece reforma o decisum, como se passa a demonstrar.

DO LAUDO PERICIAL MÉDICO fls. 26/29

 Informações Profissionais:

Conforme infere-se do laudo pericial a recorrente não possui qualificação


profissional, nunca exerceu qualquer atividade remunerada e possui apenas o
ensino médio completo.

 Quesitos médicos unificados do Juízo e INSS:

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Constatou-se que a requerente é portadora de cegueira dos dois olhos – CID:
H 54.0 e nistagmo congênito – CID: H. 55, que acomete desde a infância,
considerando-a incapaz permanente e parcialmente.

Constatou-se que a patologia que acomete a recorrente encontra-se em fase


de evolutiva, havendo a progressão, agravamento ou desdobramento ao longo
do tempo.

O perito atestou a possibilidade de reabilitação profissional recorrente,


sustentando que a mesma pode exercer atividades como telefonista ou
atividades administrativas em ambiente adaptado para deficiente visuais.

 Quesitos específicos ao benefício assistencial ao deficiente (LOAS deficiente):

Contatou-se a mudança fisiológica e/ou anatômicas (deficiência) na recorrente,


no que tange ao domínio funções e estruturas do corpo.

Contatou-se a deficiência grave de Função e Estrutura do Corpo.

Constatou-se também que o impedimento apresentado é de longa duração,


impedindo o exercício de atividade econômica viáveis pelo prazo de mínimo de
02 anos.

Constatou-se a dificuldade da recorrente na execução de tarefas, sendo de


grave a total em domínios como observações, lidar com stress e exigência
psicológicas como situações de perigo, cozinhar, comunicar-se com linguagem
não verbal, desviar de objetos móveis, conduzir veículos, risco de limpar ou
cuidar dos objetos da casa.

DA INCAPACIDADE

A recorrente tem comprovada a deficiência descrita como


cegueira dos dois olhos – CID: H 54.0 e nistagmo congênito – CID: H. 55, conforme se
extrai dos laudos médicos entrelaçados no processo de benefício.

Em que pese à boa técnica processual desenvolvida, foi


atestado equivocadamente incapacidade acometida pela recorrente ser permanente e
parcial, sendo possível a reabilitação profissional, podendo a recorrente exercer
atividades como telefonista e atividades administrativas em ambiente adaptado para
deficiente visuais.
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Ocorre que, próprio especialista fez constar que a
recorrente não possui nenhuma qualificação profissional, bem como a mesma nunca
exerceu qualquer atividade remunerada, razão pela qual, sendo de consequência
lógica, NÃO SER CABÍVEL A REABILITAÇÃO PROFISSIONAL.

Ademias, o especialista ainda concluiu pela presença de


patologia permanente, grave, em fase evolutiva, de longa duração, que impede o
exercício de atividade economicamente viáveis pelo prazo mínimo de 02 anos,
possuindo dificuldades para execução de tarefas.

Nesse sentido, a r. sentença merece reforma, visto que a


recorrente se enquadra no conceito de pessoa portadora de deficiente prevista no
artigo 20, §2º, da Lei 8.742/93.

Efetivando o estudo pelo critério da interpretação


sistemática, conclui-se que a incapacidade não pode ser avaliada exclusivamente à
luz da metodologia científica. Fatores pessoais e sociais devem ser levados em
consideração, outrossim. Há que se perscrutar, considerando que a incapacidade
laborativa impossibilita, impreterivelmente, a mantença de uma vida independente, se
há a possibilidade real de inserção do trabalhador no mercado de trabalho, no caso
concreto. Deve ser balizada, para tanto, a ocupação efetivamente disponível para o
autor, levando-se em conta, além da doença que lhe acometeu, a idade, o grau de
instrução, bem como, a época e local em que vive.

A recorrente não possui qualificação profissional, nunca


desempenhou qualquer atividade remunerada, em razão da patologia que acomete
desde a infância, possui baixo nível de escolaridade, tem dificuldade para
desempenhar atividades e necessita sempre do auxílio de pessoa, fatos que
impossibilitam-na de ser inserida no mercado de trabalho, o qual, na verdade, já não
absorve pessoas em boas condições físicas e bem preparadas, quiçá uma pessoa que
demanda uma série de delimitações. A melhor jurisprudência segue no mesmo sentido
ora esposado. Senão, vejamos:

PREVIDENCIÁRIO. BENEFÍCIO DE AMPARO SOCIAL.


CONCESSÃO. LAUDO PERICIAL QUE ATESTA A
INCAPACIDADE PARCIAL PARA O TRABALHO.
ARTROSE MEMBRO INFERIOR. COMPROVAÇÃO DA
INCAPACIDADE PARA O EXERCÍCIO DE ATIVIDADE
HABITUAL, NÃO PASSÍVEL DE REABILITAÇÃO
_____________________________________________________________________________________
PROFISSIONAL. AVERIGUAÇÃO DA MISERABILIDADE.
PAGAMENTO DAS PARCELAS ATRASADAS A PARTIR
DO REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO. JUROS DE
MORA. CORREÇÃO MONETÁRIA. HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS. SÚMULA 111 DO STJ. 1. O benefício
de amparo social tem por escopo de prover a
subsistência dos cidadãos hipossuficientes, ou seja,
daqueles maiores de 65 anos ou dos portadores de
deficiência física ou mental que os impossibilite de munir-
se de meios para o próprio sustento ou que viriam,
ocasionalmente, a fenecer ou sobreviver em condições
desumanas, caso lhe fosse negado o recebimento
mensal do referido benefício. 2. Quanto ao requisito
definido do art. 20, parág. 3o. da Lei 8.742/93, restou
sobejamente demonstrado, conforme ressai do conjunto
probatório inserto aos autos, em especial do depoimento
testemunhal colhido em juízo (fls. 203/205), onde afirmam
que o autor mora sozinho em um quarto, pagando R$
50,00 de aluguel, e vive de biscates, especialmente
vendendo e trocando objetos na feira de troca-troca em
Cavaleiro-PE, fazendo pinturas em parede e cumprindo
mandados, tais como pagamentos e carregamento de
compras. 3. No que se refere ao requisito incapacidade
para o trabalho, restou comprovado, através de Laudo
Pericial (fls. 96 e 124), que o demandante é portador de
artrose pós traumática no tornozelo direito, em
decorrência de acidente de trânsito, com seqüelas de
rigidez e pé em posição viciosa em eqüino, o que dificulta
demasiadamente a marcha; ainda segundo o mesmo
laudo, tratase de doença de caráter irreversível,
permanente e progressivo, que limita o periciando
consideravelmente para atividades laboriais,
especialmente as atividades que requeiram o uso
permanente dos membros inferiores. 4. Apesar de
constar no próprio Laudo Médico que a incapacidade
para o trabalho é parcial, posto que a limitação é
apenas para as atividades que necessitem dos

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membros inferiores, o que levou o Juízo a quo a
concluir que o autor teria condições de exercer outra
atividade capaz de lhe proporcionar a sobrevivência,
deve-se considerar, ainda, que trata-se de pessoa
semi-analfabeta, com 44 anos de idade, inserida em
comunidade e entidade familiar carentes; ou seja,
associando-se sua limitação física às condições de
instrução, cultura e formação profissional, além da
idade, não teria o autor como ser reaproveitado à vida
laboral no futuro. Ademais, não sendo segurado da
Previdência Social, não teria como submeter-se a
processo de reabilitação profissional para o exercício
de outra atividade compatível com sua nova condição
física. 5. Assim, diante da situação de desemprego
corrente no país e a limitação ainda maior às pessoas
deficientes e semi-analfabetas, não há como
considerar o apelante capaz de prover sua própria
subsistência. O demandante é, então, hipossuficiente,
logo é protegido pela lei com um benefício assistencial
que garanta sua manutenção. 6. Em se tratando de
débitos previdenciários, cuja natureza é alimentar, devem
incidir, sobre as parcelas vencidas e não-pagas, juros de
mora de 1% ao mês, a contar da citação (Súmula 204 do
STJ) e correção monetária, desde a data do requerimento
administrativo.

Com efeito, não podendo exercer atividades que não


exponham sua vida em risco, conforme atesta o especialista, pouquíssimas são as
atividades que podem garantir a subsistência de pessoa compatível com as exigências
do mercado de trabalho.

Desta forma, a "cegueira" tanto a moléstia que


importa em perda da visão em ambos os olhos quanto em apenas um deles, é
portador de moléstia que dificulta o exercício de qualquer atividade da vida civil,
ou seja, é portador de deficiência: "cegueira". Mesmo o sentido gramatical ou
lexicológico da palavra "cegueira", entendido como "estado de cego", é aquele
"privado da vista", seja em relação a um dos olhos ou a ambos.

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A perda da visão caracteriza deficiência visual e acarreta
incapacidade que resulta numa redução efetiva e acentuada da capacidade de
integração social, com necessidade de equipamentos, adaptações, meios ou recursos
especiais para que a pessoa portadora de deficiência possa receber ou transmitir
informações necessárias ao seu bem-estar pessoal e ao desempenho de função ou
atividade a ser exercida, nesse sentido segue jurisprudência:

DIREITO TRIBUTÁRIO. MANDADO DE


SEGURANÇA. CONCESSÃO DE ISENÇÃO DE
IMPOSTO DE RENDA PESSOA FÍSICA.
PORTADORA DE CEGUEIRA MONOCULAR.
MOLÉSTIA QUE SE ENQUADRA NO ART. 6º,
INCISO VIX, DA LEI 7.713/88, COM REDAÇÃO
DADA PELO ART. 1º DA LEI 11.052/2004.
ENTENDIMENTO PACÍFICO DOS TRIBUNAIS.
PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE PASSIVA.
REJEIÇÃO. SEGURANÇA CONCEDIDA. 1. Ao ter
em mente a tese de que a autoridade coatora é
aquela que pratica ou deixa de praticar o ato
atacado como ilegal ou abusivo, poder-se-ia
questionar a legitimidade do Secretário, porém, é
cediço que, ao menos em teoria, a autoridade
indicada na inicial detém competência funcional
sobre a concessão ou não de isenção de Imposto de
Renda à Servidor Público Estadual, podendo, assim,
figurar no pólo passivo do presente feito. 2. A teor do
que dispõe o art. 6º, inciso VIX da Lei 7.713/88, com
redação dada pelo art. 1º da Lei nº 11.052/2004,
ficam isentos do imposto de renda os proventos de
aposentadoria percebidos por pessoa portadora de
cegueira, cumprindo ao intérprete, entretanto,
examinar se ao portador de perda visual de um dos
olhos aplica-se a isenção em análise. 3. Inegável
que a Lei nº 7713/88, ao dispor que a cegueira
isenta os proventos de seus portadores do imposto
de renda, não identifica qual a espécie da moléstia
"cegueira" confere o benefício ao seu portador. A
Classificação Estatística Internacional de
Doenças e Problemas Relacionados à Saúde
(CID-10), ao classificar as doenças, denomina
"cegueira" tanto a moléstia que importa em
perda da visão em ambos os olhos quanto em
apenas um deles, o que conduz ao entendimento
de que o indivíduo que tem visão monocular,
embora não seja incapaz, é portador de moléstia
que dificulta o exercício de qualquer atividade da
vida civil (advogado, funcionário público,
engenheiro, arquiteto, pedreiro, sapateiro,
comerciário, mecânico, médico, etc.), ou seja, é
_____________________________________________________________________________________
portador de deficiência: "cegueira". 4. Mesmo o
sentido gramatical ou lexicológico da palavra
"cegueira", entendido como "estado de cego",
não permite excluir o portador de "cegueira
monocular" de seu conceito, como fez a médica
perita do ISSEC à fl. 21, uma vez que "cego" é
aquele "privado da vista", seja em relação a um
dos olhos ou a ambos. 5. Resta claro que os
proventos percebidos pelo portador de "cegueira
monocular" estão isentos do imposto de renda, a
teor do inciso XIV do art. 6º da Lei nº 7713/88. 6.
Preliminar rejeitada, liminar ratificada e segurança
concedida. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e
discutidos os presentes autos de Mandado de
Segurança, ACORDAM os Desembargadores do
Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, em sessão
do Órgão Especial, por unanimidade de votos, em
rejeitar a preliminar, ratificar a liminar anteriormente
deferida e conceder a segurança pleiteada, nos
termos do voto do Relator. Fortaleza, 18 de fevereiro
de 2016. PRESIDENTE TJCE Presidente do Órgão
Julgador DESEMBARGADOR HAROLDO CORREIA
DE OLIVEIRA MAXIMO Relator.
(TJ-CE - MS: 06259292220158060000 CE 0625929-
22.2015.8.06.0000, Relator: HAROLDO CORREIA
DE OLIVEIRA MAXIMO, Órgão Especial, Data de
Publicação: 18/02/2016) (g.n)

Ademais, necessário referir que a incapacidade


parcial não constitui óbice à concessão do benefício assistencial. Isso ocorre
porque é necessário cotejar a lei com a realidade social, não dissociando do sentido
que baliza a regra.

Merece referência, sobre o assunto, o seguinte


precedentes colhidos inclusive ao Tribunal Regional Federal da 1ª Região, nos quais,
a subsunção dos fatos se amolda:

PREVIDENCIÁRIO. CONCESSÃO BENEFÍCIO POR


INCAPACIDADE. REQUISITOS: QUALIDADE DE
SEGURADO. CARÊNCIA E INCAPACIDADE PARA O
TRABALHO. VISÃO MONOCULAR. DECRETO 3.048/99.
ANEXO III. CORREÇÃO MONETÁRIA. JUROS.
HONORÁRIOS. CUSTAS. 1. Requerimento administrativo
em 09.04.2002 - fl. 07. 2. Os requisitos indispensáveis
para a concessão do benefício previdenciário de auxílio-
doença ou aposentadoria por invalidez são: a) a
qualidade de segurado; b) a carência de 12 (doze)
contribuições mensais; c) a incapacidade parcial ou total
e temporária (auxílio-doença) ou total e permanente
_____________________________________________________________________________________
(aposentadoria por invalidez) para atividade laboral. 3.
Cumpridos o requisito da carência e qualidade de
segurado: CTPS fls. 13/14. 4. Laudo pericial no sentido
de que a parte é portadora de cegueira total e irreversível
de um olho, o que não acarreta incapacidade para sua
atividade laboral. 5. A visão monocular é lesão passível
de enquadramento nas situações que dão direito ao
auxílio-acidente, conforme estabelecido na alínea 'a' do
quadro I anexo III do Dec. 3.048/99. 6. A visão
monocular caracteriza deficiência visual e acarreta
incapacidade que resulta numa "redução efetiva e
acentuada da capacidade de integração social, com
necessidade de equipamentos, adaptações, meios ou
recursos especiais para que a pessoa portadora de
deficiência possa receber ou transmitir informações
necessárias ao seu bem-estar pessoal e ao
desempenho de função ou atividade a ser exercida"
(art. 3º do Dec. 3.298/99). 7. Diante da incapacidade
parcial e permanente, determino a concessão de
auxílio-doença com termo inicial na data do
requerimento administrativo, descontados eventuais
valores percebidos administrativamente em razão de
deferimento de benefícios por incapacidade, sob pena de
enriquecimento ilícito do requerente, até possível
reabilitação e conversão em auxílio-acidente ou
conversão em aposentadoria por invalidez, caso não seja
reabilitado. 8. Consectários legais: a) correção monetária
e juros de mora pelo MCJF; b honorários 10% sobre o
valor da condenação, correspondente às parcelas
vencidas até o momento da prolação do acórdão, de
acordo com a Súmula n. 111 do Superior Tribunal de
Justiça e artigo 20, § 3º, do CPC, sucumbência mínima
da autora; c) nas causas ajuizadas perante a Justiça
Estadual, no exercício da jurisdição federal (§ 3º do art.
109 da CF/88), o INSS está isento das custas somente
quando lei estadual específica prevê a isenção, o que
ocorre nos estados de Minas Gerais, Goiás, Rondônia e
Mato Grosso. 9. Implantação imediata do benefício, nos
termos do art. 461 do CPC - obrigação de fazer. 10.
Apelação a que se dá parcial provimento para julgar
parcialmente procedente o pedido, nos termos dos itens 7
e 8. (TRF-1 - AC: 680894120124019199, Relator: JUIZ
FEDERAL CLEBERSON JOSÉ ROCHA (CONV.), Data
de Julgamento: 26/11/2014, SEGUNDA TURMA, Data de
Publicação: 10/12/2014)

PREVIDENCIÁRIO - PROCESSUAL CIVIL - BENEFÍCIO


ASSISTENCIAL - DEFICIÊNTE FÍSICA - PORTADORA
DE CEGUEIRA LEGAL, LOMBALGIA, ESOTROPIA E
POLIARTROSE - ART. 203, V DA CF/88 C/C ART. 20 E
SEGS. DA LEI Nº 8.742/93 - RESTABELACIMENTO DE
BENEFÍCIO - INCAPACIDADE LABORATIVA
COMPROVADA - REQUISITOS PRESENTES. 1. A Lei
8.742/93, que regulamentou o artigo 203, V da CF/88,
assegura à pessoa portadora de deficiência e ao idoso

_____________________________________________________________________________________
que não possuem meios de prover à própria manutenção
ou de tê-la provida por sua família, a concessão de um
salário mínimo de benefício mensal. 2. Restou
demonstrado, com base no laudo oficial, que a
demandante é portadora de cegueira legal, lombalgia,
esotropia e poliartrose, permanecendo incapacitada para
o desempenho de qualquer atividade laborativa, restando
atestada a deficiência física incapacitante. 3.
Preenchendo a autora os requisitos do artigo 20,
parágrafos 1º, 2º e 3º, da Lei 8742/93, quais sejam,
incapacidade para vida independente e para o trabalho e
incapaz de prover a própria manutenção cuja renda
mensal familiar per capita é inferior a 1/4 (um quarto) do
salário mínimo, impõe-se o restabelecimento do benefício
amparo social com pagamento dos atrasados a partir do
cancelamento indevido. 4. Apelação não provida. (TRF-5
- AC: 364616 AL 2001.80.00.004721-0, Relator:
Desembargador Federal Hélio Sílvio Ourem Campos
(Substituto), Data de Julgamento: 06/10/2005, Primeira
Turma, Data de Publicação: Fonte: Diário da Justiça -
Data: 31/10/2005 - Página: 83 - Nº: 209 - Ano: 2005)

PREVIDENCIÁRIO. REMESSA NECESSÁRIA. AUXÍLIO


DOENÇA. COMPROVAÇÃO DA MOLÉSTIA
INCAPACITANTE. REVELIA. FAZENDA PÚBLICA.
REMESSA IMPROVIDA. - Conforme relatado, ROSANE
ALVES DE ANDRADE ajuizou demanda em face do INSS
com o fito de obter o restabelecimento do pagamento do
benefício de auxílio doença, o qual foi cessado em 30 de
março de 2009. No que concerne ao mérito propriamente
dito, não se vislumbra, na situação em tela, qualquer
discussão a ser travada entre a Autora e o INSS, o qual,
inclusive, demonstrou nos autos que nada tem a
requerer. - A questão atinente à incapacidade da
requerente, apta a ensejar a concessão da benesse de
auxílio doença, foi muito bem analisada pelo Juízo
sentenciante, que, por sua vez, teve supedâneo no laudo
pericial judicial, cujas conclusões apontaram no sentido
de que a autora (...) é portadora de esclerose Peri Papilar
Moderada + Maculopatia degenerativa senil em ambos os
olhos, com presença de edema foveal. Trata-se de
patologia que não tem cura e de prognóstico sombrio.
Seu tratamento não é cirúrgico e nem a laser, sendo a
melhor terapêutica as injeções de anti VEGF.(...) De
acordo com os dados fornecidos pelos exames
oftalmológicos realizados pelo médico assistente,
entendeu a perícia tratar-se de paciente portadora de
Cegueira Legal pelo que se segue: percebe luz em um
dos olhos; no outro sua visão é de 20/400; Estes
dados revelam não ser a paciente totalmente cega,
mas, tecnicamente, não tem condições de dirigir ou
realizar atividades profissionais e da vida diária.
Trata-se de doença incapacitante e lhe confere a
condição de tecnicamente inválida.(...). -Embora tenha
a julgadora de primeiro grau decretado a revelia em

_____________________________________________________________________________________
desfavor da autarquia previdenciária, procedeu
devidamente à análise de todo o contexto probatório
existente nos autos, fundamentando sua decisão com
base nas provas acostadas, não apenas considerando
como verdadeiros os fatos narrados na inicial. Assim,
apesar de formalmente ter sido reconhecida a revelia, de
fato seus efeitos não foram aplicados ao caso, eis que a
sentença recorrida, ao julgar procedente o pedido, fê-lo
com base nos elementos fáticos jurídicos trazidos aos
autos, cujas provas, inclusive, foram devidamente
valoradas no juízo cognitivo, não havendo pois como se
entender que a tal conclusão chegou a Magistrada tão e
simplesmente em razão da revelia do INSS. - Remessa
improvida. (TRF-2 - REO: 201302010075473, Relator:
Desembargador Federal PAULO ESPIRITO SANTO, Data
de Julgamento: 25/06/2013, PRIMEIRA TURMA
ESPECIALIZADA, Data de Publicação: 10/07/2013)

A Lei 8.742/93, que regulamentou o artigo 203, V da


CF/88, assegura à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que não possuem
meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, a
concessão de um salário mínimo de benefício mensal:

Art. 20. O benefício de prestação continuada é a garantia


de um salário-mínimo mensal à pessoa com deficiência e
ao idoso com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais que
comprovem não possuir meios de prover a própria
manutenção nem de tê-la provida por sua família.

§ 2º Para efeito de concessão deste benefício,


considera-se pessoa com deficiência aquela que tem
impedimentos de longo prazo de natureza física,
mental, intelectual ou sensorial, os quais, em
interação com diversas barreiras, podem obstruir sua
participação plena e efetiva na sociedade em
igualdade de condições com as demais pessoas.

§ 3º Considera-se incapaz de prover a manutenção da


pessoa com deficiência ou idosa a família cuja renda
mensal per capita seja inferior a 1/4 (um quarto) do
salário-mínimo

_____________________________________________________________________________________
A Lei n. 7.853/88, que dispõe sobre a Política Nacional
para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, foi regulamentada pelo Decreto
n. 3.298, que prescreve:

Art. 3º Para os efeitos deste Decreto, considera-se:

III - incapacidade uma redução efetiva e acentuada da


capacidade de integração social, com necessidade de
equipamentos, adaptações, meios ou recursos especiais
para que a pessoa portadora de deficiência possa
receber ou transmitir informações necessárias ao seu
bem-estar pessoal e ao desempenho de função ou
atividade a ser exercida.

Art. 4º É considerada pessoa portadora de deficiência a


que se enquadra nas seguintes categorias:

(...)

III - deficiência visual - cegueira, na qual a acuidade


visual é igual ou menor que 0,05 no melhor olho, com a
melhor correção óptica; a baixa visão, que significa
acuidade visual entre 0,3 e 0,05 no melhor olho, com a
melhor correção óptica; os casos nos quais a somatória
da medida do campo visual em ambos os olhos for igual
ou menor que 60; ou a ocorrência simultânea de
quaisquer das condições anteriores;

No que concerne à definição de incapacidade para se


fazer jus ao benefício em questão, o Decreto nº. 6.214/2007, ao regulamentá-lo, firma,
no seus artigos 4º e 16, o que é incapacidade e o grau a ser considerado, in verbis:

Art. 4º Para os fins do reconhecimento do direito ao


benefício, considera-se:

III - incapacidade: fenômeno multidimensional que


abrange limitação do desempenho de atividade e
restrição da participação, com redução efetiva e
acentuada da capacidade de inclusão social, em

_____________________________________________________________________________________
correspondência à interação entre a pessoa com
deficiência e seu ambiente físico e social; (g.n)

(....)

Art. 16. A concessão do benefício à pessoa com


deficiência ficará sujeita à avaliação da deficiência e do
grau de incapacidade, com base nos princípios da
Classificação Internacional de Funcionalidades,
Incapacidade e Saúde - CIF, estabelecida pela Resolução
da Organização Mundial da Saúde no 54.21, aprovada
pela 54ª Assembléia Mundial da Saúde, em 22 de maio
de 2001.

§ 1º A avaliação da deficiência e do grau de incapacidade


será composta de avaliação médica e social.

§ 2º A avaliação médica da deficiência e do grau de


incapacidade considerará as deficiências nas funções e
nas estruturas do corpo, e a avaliação social considerará
os fatores ambientais, sociais e pessoais, e ambas
considerarão a limitação do desempenho de atividades e
a restrição da participação social, segundo suas
especificidades;

Obviamente, uma pessoa não precisa estar em estado


vegetativo para ser contemplada com o amparo social do LOAS.

A impossibilidade física de lutar pela própria subsistência


- seja porque é muito velho, seja porque é deficiente físico -, este é o fato que reclama
a atenção do Estado, no seu papel de garantidor do bem-estar social. E o legislador
constituinte de 1988 já assumiu este compromisso, no preâmbulo da Carta, ao
estabelecer que o Estado democrático que passou a instituir se destinaria a assegurar,
entre outros valores de uma sociedade fraterna, o bem-estar. No Título I, art. 3º, caput
e inciso III, estabeleceu, entre os objetivos fundamentais da nossa República, o de
erradicar a pobreza e a marginalização. Sobre este substrato constitucional, é que se
ergueu toda a legislação reguladora das relações jurídicas entre os cidadãos em
situação de vulnerabilidade social, como as crianças, os idosos e os deficientes, e o
Estado.
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Nesse contexto, a doutrina alemã, a alguns pares de
anos, vinculou aquilo que o ser humano necessita como básico para sua
sobrevivência. Esse básico foi denominado de mínimo existencial.

O mínimo existencial é a mais clara manifestação do


exercício da Assistência Social, e tem como escopo – função social – a preservação
da vida e da dignidade da pessoa humana. Nas palavras de Ingo W. Sarlet, em seu
artigo “Reserva do possível, mínimo existencial e direito à saúde: algumas
aproximações”, remete-se à noção de que a dignidade da pessoa humana somente
estará assegurada - em termos de condições básicas a serem garantidas pelo Estado
e pela sociedade - onde a todos e a qualquer um estiver garantida nem mais nem
menos do que uma vida saudável.

Portanto, não basta mera e simplesmente garantir o


direito a vida, tem-se que ter uma vida saudável e com oportunidades. Assim, o
mínimo existencial foi subdividido em duas dimensões de objetividade: uma para
garantir o mínimo fisiológico (também denominado núcleo do mínimo existencial) e
outra para garantir o mínimo sócio-cultural.

Para que se compreenda com exatidão o sentido


teleológico da norma constitucional instituidora do benefício de amparo social ao
deficiente (art. 203, inciso V, da Constituição da República), torna-se imprescindível
abandonar o velho conceito de justiça pregado pela doutrina liberal-capitalista, de
caráter eminentemente individualista, pelo qual se concretizaria a justiça dando-se a
cada um o que lhe é devido.

O princípio constitucional da solidariedade (art. 3º, inciso


I, da Constituição da República) e até mesmo a previsão constitucional da assistência
social (art. 203 e 204 da Constituição da República), exigem a evolução para o
conceito de justiça social, pelo qual se alcançaria o ideário de justiça dando-se a todas
as pessoas não o que lhes pertencer, mas sim o que for necessário para a satisfação
de suas necessidades humanas, sob o pilar central do princípio da dignidade da
pessoa humana.

Sob esse prisma, a conclusão inarredável a que se chega


é que o requisito de incapacidade para a vida independente e para o trabalho, exigido
como condição para a concessão do benefício assistencial ao deficiente, deve ser
interpretado não como incapacidade total – aquela que incapacita o indivíduo para
todas as formas de trabalho e também para a manutenção de uma vida cotidiana
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independente – mas apenas como a incapacidade que, observadas as condições
pessoais do requerente, tais como a formação intelectual, o meio social em que vive e
os limites impostos pela deficiência, o impede de prover a sua própria subsistência.

A decisão recorrida ofende gravemente o princípio da


dignidade da pessoa humana, não havendo assim justiça e colaboração para
promover o bem estar social, amparados tais argumentos constitucionalmente.

Cumpre ressaltar que o contexto probatório trazido nos


autos do processo de benefício mostra de forma clarividente que a recorrente não tem
meios para prover à própria mantença, diante da incapacidade a que está acometida,
sendo que a continuidade do indeferimento estará complicando ainda mais sua
situação social, sendo assim o valor pecuniário mensal requerido essencial para
salvaguardar o seu direito a uma vida mais digna.

Desta feita, torna-se inegável que além da incapacidade


permanente da recorrente no moldes da legislação previdenciária, o mesmo não
possui renda para subsistência própria, sendo assim necessário o pagamento da
importância pecuniária consistente em um salário mínimo referente ao Benefício de
Prestação Continuada.

Diante desse quadro, a recorrente sofre das mazelas


oriundas da falta de amparo social, não podendo viver em condições dignas, inclusive
indispõe de condições de exercer atividade laboral para contribuir para com a
sociedade, devendo então lhe ser garantido o mínimo para que possa pagar seu
tratamento da enfermidade em que se encontra acometida, que se encontra em fase
evolutiva, de grau grave e permanente, não lhe ser tolhido um direito de viver
dignamente em sociedade.

III – DOS PEDIDOS

Ante o exposto, requer que seja conhecido o presente


recurso, diante dos inúmeros argumentos tecidos na peça inaugural, bem como por
tudo que aqui foi explanado, data venia, deve ser reformada a decisão a quo, dando
procedência à ação, conferindo a recorrente o BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO
CONTINUADA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL À PESSOA COM DEFICIÊNCIA - LOAS,
retroativo à data da incapacidade do requerimento administrativo, com pagamento dos
atrasados, sem prejuízo de juros e correção monetária, intimando-se a autarquia-ré
para que implemente de imediato o benefício, sob pena de multa diária.
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Reitera-se por fim, seja deferido os beneplácitos da
Justiça Gratuita, bem como seja a sucumbência aplicada em favor do recorrente.

Em síntese, ante ao exposto requer a Egrégia Turma

Recursal o provimento do presente Recurso Inominado e


consequente reforma da r.decisão de primeiro grau, tudo com o único propósito de se
alcançar Justiça.

Termos em que, pede deferimento.

Nortelândia/MT, 06 de outubro de 2016.

BRUNNA PORTELA ALVES


OAB/MT – 15.418

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