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Conservatório Brasileiro de Música Centro Universitário

Didática da música IV – 6° Período


Professora: Jeanine Bogaerts
Aluno: Raphael Rodrigues Tavares Rodriguéz

Lauda – Edgar Willems

Sabe-se que Edgar Willems (1890 – 1978) foi profundamente influenciado por
Émile-Jaques Dalcroze, pois este fora seu professor. Reflexo disso é que a proposta de
educação musical de Willems além de elaborar um estudo científico acerca das
propriedades materiais do som, da música e da sensorialidade auditiva, tem um olhar
voltado para a humanidade daqueles que recebem essa educação. Isso se mostra na
forma como Willems compreende a audição, nela sempre estão simultaneamente
acontecendo o fenômeno físico, o processo afetivo e o processamento mental.
Fonterrada (2005, p. 142) ressalta que Willems recomendava que a prática
educacional se iniciasse pelo aspecto sensorial, pois Willems parte do princípio de que
tudo no intelecto humano parte das experiências dos sentidos, assim como proposto por
Comenius. Aqui encontramos o grande ponto de convergência das ideias dos
educadores dos métodos ativos, que é partir da experiência. Para que o aluno possa
aprender música, ele deve vivenciar música. Aprender música não se resume a códigos
e teorias, nem apenas em transformá-los em som, mas parte da experiência concreta do
som, para o entendimento a nível abstrato. Villa-Lobos diz que “Primeiramente,
procuramos distinguir entre música-papel e a música-som” (Pedagogia Musical
Brasileira no Século XX. PAZ, Ermelinda p.16).
Willems tinha uma visão à frente de seu tempo com relação ao fenômeno
sensorial auditivo, pois compreendia que se o som é a base sobre qual se forma a
música, dar a conhecer o som e suas propriedades poderia libertar a escuta do
preconceito com outros sistemas de organização musical.
Como efeito do que foi dito acima, a prática de Willems incentiva em primeiro
lugar a escuta, até mesmo anterior ao contato com o instrumento, assim como Sá Pereira
também propunha. O primeiro contato com o material sonoro vem pelo conhecer as
propriedades do som, e dentre elas, Willems prioriza trabalhar a altura. Outra
semelhança com os demais métodos ativos é que há uma preocupação com o
desenvolvimento progressivo da percepção dessas propriedades, desse modo, o trabalho
de reconhecimento auditivo parte do macro para entender o micro.
Willems como citado acima também entende que a escuta abarca um processo
afetivo, e nisso mais uma vez se evidência o valor da experiência do aluno. Ele
propunha despertar a sensibilidade do aluno, incentivando-o a apreciar e qualificar o
som, isso sem que o professor induza uma sensação relacionada àquele som, o aluno
tem voz e vez. Nisso parece bem contrário à postura de Liddy Mignone, que predefinia
sentimentos relacionados a determinados tipos de escala por exemplo, o que
absolutamente não quer dizer que o aluno não tenha voz na proposta de Liddy. No
entanto esse aspecto da afetividade auditiva não é claramente exposto nas atividades por
Willems propostas.
A sensibilidade musical procurada por Willems deveria ser
buscada na própria música, não com um apelo a uma
subjetividade ligada a valores dualistas, como o bem e o mal,
por exemplo, mas na compreensão da obra artística como plena
de qualidades estéticas... (Fonterrada, 2005, p. 147).
Nisso penso existir um ponto em comum entre Willems e Villa Lobos, pois
quando Villa Lobos traz sua proposta do canto orfeônico, sua intenção não era apenas
de formar músicos, mas de formar ouvintes e praticantes de música preparados para
apreciar a obra musical compreendendo seus valores estéticos.
Resumindo, pode-se caracterizar Willems como um educador preocupado com
um desenvolvimento progressivo do aluno a partir dele mesmo, de acordo com suas
possibilidades, tudo isso, é claro, respeitando e pensando à partir do desenvolvimento
físico, afetivo e mental do aluno.

BIBLIOGRAFIA:
FONTERRADA, Marisa Trench de Oliveira. De tramas e Fios: um ensaio sobre música
e educação. São Paulo: Editora UNESP, 2005.

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