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Sete mandamentos da acessibilidade

http://techne17.pini.com.br/engenharia-civil/151/capa-sete-mandamentos-da-acessibilidade-286642-1.aspx

Por Silvana Maria Rosso, Edição 151 - Outubro/2009.

Devagar e de forma pontual, o Desenho Universal vem sendo introduzido em novos


empreendimentos - e começa a derrubar os padrões do homem médio, transformando as regras
da arquitetura.

Vila Dignidade, primeiro projeto da CDHU, idealizado a partir das


diretrizes do Desenho Universal.

Graças à instituição da lei federal 10.098, desde 2004 todo e qualquer projeto arquitetônico ou
urbanístico no Brasil deve seguir a NBR 9050 e atender aos princípios do Desenho Universal, que
prega a democratização dos usos dos espaços e objetos. Cinco anos depois, assistimos a várias
mudanças nas áreas públicas, que foram obrigadas a se adaptar às novas regras. No âmbito
privado, o mercado imobiliário ainda se limita às exigências da lei, mas ações pontuais mostram
que há um movimento em prol da diversidade.
De acordo com a arquiteta Sandra Perito, presidente do Instituto Brasil Acessível, "o Desenho
Universal ainda é desconhecido, e as empresas ficam apenas na intenção de se adequar às
normas". A arquiteta Silvana Cambiaghi, que é cadeirante, é mais cética e vê mais erros que
acertos nos empreendimentos residenciais e comerciais atuais. Nas áreas privadas e mesmo
comuns dos empreendimentos, pode-se encontrar verdadeiras gafes. Vãos de portas minúsculos
que mal permitem o acesso de um obeso; rampas inacessíveis por causa de entradas exíguas ou
com algum tipo de obstáculo; além dos inseguros pisos escorregadios que revestem halls de
entrada e corredores de edifícios são alguns dos exemplos.

Os pioneiros
Empresas da iniciativa privada, como a construtora J. Bianchi de Mogi das Cruzes, uma das
pioneiras em projetar segundo os sete conceitos do Desenho Universal, começam a empreitada
como uma estratégia de marketing. Ela criou a linha Lifetime Home, que oferece imóveis mais
flexíveis e adaptáveis, numa tentativa de inovar e dar um plus no empreendimento, e não de
iniciar um novo modo de projetar.
"Com a grande aceitação do primeiro empreendimento da linha, o Olímpia, em Suzano (SP),
percebemos que os novos conceitos traziam benefícios que a maioria das pessoas valorizam, e não
uma minoria como imaginávamos", explica a arquiteta Juliana Tartaglia, gerente de projetos da
empresa. O segundo condomínio da linha, o Odeon, está ainda em construção em Mogi das Cruzes
(SP) e já vem com novas adaptações. De acordo com a arquiteta, a J. Bianchi está aprimorando a
introdução do Design Universal em seus projetos e não tem previsão de quando os implantará de
vez em todos os produtos da empresa.
Já a Tecnisa, que constatou a inversão da pirâmide populacional e a necessidade de imóveis
voltados para pessoas com mais de 50 anos, depois de muitos estudos para desenvolver o novo
produto, segundo o conceito da Consciência Gerentológica, esbarrou no desenho universal,
concluindo que as adaptações eram bem mais simples que imaginavam e atenderiam uma gama
bem maior de usuários. "Esse projeto é um protótipo. As adequações ocorrerão em todos os novos
empreendimentos, independente do bairro e do padrão", afirma a arquiteta Patrícia Campos de
Valadares, gerente de projetos da incorporadora.
A partir de 2010, as áreas comuns dos novos projetos da Tecnisa terão menos escadas, mais
rampas, escadas submersas para facilitar o acesso às piscinas, pisos sem brilho e antiderrapantes,
corredores e portas mais largos, em um total de mais de 30 itens. "Muitas coisas estão nos
detalhes e estamos trabalhando para criar uma arquitetura que inclua a preocupação em atender
às necessidades do maior número de pessoas, da criança ao idoso", explica a arquiteta.
No Estado de São Paulo, a Secretaria de Habitação e a CDHU (Companhia de Desenvolvimento
Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo) lançaram em abril as diretrizes para a implantação
do Desenho Universal em todos os novos empreendimentos de interesse social. O projeto Vila
Dignidade, voltado para a terceira idade já é baseado no conceito. Já no município de São Paulo, a
Cohab (Companhia Metropolitana de Habitação) também tem planos de projetar os imóveis à luz
dos princípios.
Infelizmente, apesar da lei federal, muitos municípios e Estados ainda não se deram conta da
importância da introdução do Desenho Universal na arquitetura. Outras incorporadoras,
questionadas sobre os itens que garantem a acessibilidade em seus empreendimentos, enxergam
os princípios como ferramenta de marketing em vez de um conjunto de regras que atendem
pessoas com mobilidade reduzida, deficientes e idosos, ao contrário do que realmente eles ditam.

O que diz a norma


Revisada em 2004, a NBR 9050 traz várias novas definições que esclarecem as medidas a serem
tomadas em projeto, de acordo com o Desenho Universal.
 Área de transferência;
 Área de manobra;
 Área de aproximação;
 Medidas para alcance manual e visual;
 Comunicação e sinalização;
 Tamanho de letras e distâncias, bem como contrastes de cores;
 Pisos táteis de alerta e de orientação;
 Declividade das rampas;
 Áreas de transferência para a bacia sanitária, boxe, banheira;
 Localização de barras de apoio;
 Medidas mínimas para um boxe comum;
 Medidas mínimas para vaso sanitário;

Consciência gerontológica
Antenada com a demanda que surge relacionada à aquisição de imóveis por pessoas mais velhas,
preocupadas não somente com seu conforto, mas também com sua segurança, a Tecnisa lançou o
"Projetando com consciência gerontológica", desenvolvido por meio de estudos realizados por
uma equipe multidisciplinar, para a criação de ambientes inteligentes que proporcionem conforto,
qualidade de vida e inclusão social para todas as pessoas. Um dos principais objetivos do projeto é
ampliar a acessibilidade do idoso, que em geral é excluído dos empreendimentos imobiliários, à
estrutura dos empreendimentos, proporcionando maior integração e qualidade de vida. E o
conforto e a segurança dos usuários por medidas que facilitam a utilização, ou eliminam ou
alertam sobre possíveis obstáculos.

Erros mais comuns


 Inexistência de banheiros acessíveis em áreas comuns como salão de festas, piscinas,
playground;
 Obstáculos nas áreas externas (escadas, degraus isolados, canaletas de águas pluviais sem
grelhas);
 Acesso dificultado em piscina (foto 1);
 Maçanetas tipo bola ou difíceis de serem usadas (foto 2);
 Sanitários e lavabos com portas de 0,60 m, dificultando a entrada de obesos e cadeirantes;
 Sanitários sem possibilidade de aproximação e transferência da bacia, pia e chuveiro;
 Ausência de barras principalmente nos boxes do chuveiro (foto 3);
 Bancada e pias altas demais para crianças;
 Vaso sanitário alto demais para crianças;
 Tomadas baixas para pessoas idosas;
 Largura de portas e circulação interna exíguas, dificultando a locomoção de pessoas em
cadeira de rodas ou obesos;
 Obstáculos dentro das unidades;
 Janelas da sala com área de visibilidade muito alta (ideal no mínimo 0,60 m);
 Falta de sinalização em relevo e braile nas áreas comuns;
 Elevadores com mensagens de voz, mas não indicam a rota;
 Falta de mapa tátil, a sinalização acaba confundindo o usuário;
 Inexistência de uma rota acessível até o elevador. Em geral colocam um patamar e degrau
para acesso ao elevador social;
 Ausência de rotas acessíveis externas em terrenos com declividade acentuada, grelhas ou
grelhas inadequadas;
 Campainha e interfone sem informação visual para pessoas com deficiência auditiva e
visual;
 Pisos derrapantes, como mármores polidos e cerâmicas esmaltadas e brilhantes; e
 Inexistência de vagas reservadas para pessoas com deficiência nas garagens.

Banheiro universal

1) Espelho colado na parede ou com inclinação = 10o


2) Trinco sobre maçaneta do tipo alavanca: produto e instalação com conceito universal;
3) Metal monocomando;
4) Lavatório de semi-encaixe proporcionando maior aproximação;
5) Acionamento da descarga - altura máxima = 1,00 m;
6) Barras de apoio;
7) Bacia especial com altura = 0,44 m;
8) Barra de apoio em "L";
9) Baguete chanfrado (em rampa);
10) Barra de apoio vertical; e
11) Banco basculante com cantos arredondados (0,45 m x 0,90 m).
Novos empreendimentos

Equiparação nas possibilidades de uso.

Idealizado para incluir os idosos, o projeto da Tecnisa, na Água Rasa, em São Paulo, com
lançamento previsto até o fim do ano, acabou se transformando em um projeto piloto para a
introdução dos princípios do Desenho Universal em todos os seus empreendimentos a partir de
2010. E tudo começa já no material publicitário que, em vez de ser estrelado por casais jovens e
seus filhos pequenos, agora é protagonizado pelos netinhos e seus vovôs. No projeto, estão
previstos entre os equipamentos de lazer um clube de convivência, escada submersa na piscina,
portas mais largas e banheiros adaptados nas áreas comuns, bem como pisos opacos no hall. "São
medidas que beneficiam todas as faixas etárias", ressalta a arquiteta Patrícia Campos de Valadares,
gerente de projetos da Tecnisa. A empresa está preparada para prestar uma consultoria na
customização dos apartamentos da porta para dentro. E também está desenvolvendo kits com
diferentes adaptações que o cliente poderá escolher na hora da compra.

Dimensão e espaço para uso e interação


O design deve oferecer espaços e dimensões apropriados para interação, alcance, manipulação e
uso. Para atender uma série de tipologias e necessidades humanas, esse conceito prioriza as
proporções das medidas. Os projetos da Vila Dignidade, da CDHU, do protótipo da Tecnisa e dos
empreendimentos da J. Bianchi, por exemplo, consideram as áreas de manobra dentro das
unidades para um cadeirante. As portas têm vão mínimo de 80 cm e abrem para fora.
Interruptores e tomadas seguem novas alturas, para facilitar o uso por cadeirantes, idosos e até
uma criança.

Flexibilidade de uso

A J. Bianchi lançou a linha Lifetime Home, que oferece uma construção flexível e adaptável a
diversas condições da vida. "Os empreendimentos são grandes caixas, com apenas um elemento
estrutural, fechado nas bordas e dividido no miolo. As áreas comuns são contempladas com
rampas para minimizar os desníveis, os banheiros são adaptados e os pisos são antiderrapantes.
Nas unidades, as portas internas têm largura mínima de 82 cm, os pontos de tomada e interruptor
estão em altura mais cômoda, e os pisos das áreas molháveis são antiderrapantes.

Uso simples e intuitivo


Segundo esse conceito, o design deve ser de fácil compreensão e uso. Detalhes pequenos como a
escolha adequada de modelos de torneiras e de maçanetas fazem a diferença. "As torneiras
recomendadas são monocomando ou misturadores com dois volantes com 1/4 de volta", indica a
arquiteta Sandra Perito, do Instituto Brasil Acessível. Já as maçanetas devem ser de alavanca, e as
fechaduras, se possível, devem ser instaladas acima delas, para facilitar a sua visualização. Os
projetos da J. Bianchi, da Tecnisa e da CDHU oferecem esses itens.
Captação da informação

Esse princípio dita que o design deve comunicar eficazmente ao usuário as informações
necessárias. E um exemplo, que também vem sendo adotado pelas incorporadoras, como a
Brookfield, é a sinalização universal nas áreas comuns dos edifícios. Outra seria o piso tátil, que
sinaliza as rotas e obstáculos para pessoas com deficiência visual, aplicado apenas em alguns
empreendimentos comerciais.

Tolerância ao erro
Nesse conceito, o design deve minimizar os riscos e as consequências adversas de ações
involuntárias ou imprevistas. Aqui, entram os pisos antiderrapantes, rampas com declividade
correta e corrimãos. Nas áreas comuns, tanto nos projetos da J. Bianchi, da Tecnisa e da CDHU, os
pisos são antiderrapantes. As rampas, que devem seguir a declividade determinada pela NBR
9050, têm sido adotadas em muitos empreendimentos novos em São Paulo, inclusive para levar às
áreas de lazer. No projeto piloto da Tecnisa, a piscina tem degraus submersos, para facilitar a
entrada de idosos e crianças. E o corrimão em alturas diferenciadas, que apoia o usuário em
escadas e rampas, passou a ser item em alguns imóveis novos, como o Aimberê, da Ideia Zarvos.

Mínimo esforço físico


O design pode ser utilizado de forma eficiente e confortável, facilitando a vida do usuário. Para
atender esse item, as tecnologias são bem-vistas. Caso das plataformas, que driblam os obstáculos
quando a rampa não funciona são previstas de forma pontual em empreendimentos residenciais.

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