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http://techne17.pini.com.br/engenharia-civil/151/capa-sete-mandamentos-da-acessibilidade-286642-1.aspx
Graças à instituição da lei federal 10.098, desde 2004 todo e qualquer projeto arquitetônico ou
urbanístico no Brasil deve seguir a NBR 9050 e atender aos princípios do Desenho Universal, que
prega a democratização dos usos dos espaços e objetos. Cinco anos depois, assistimos a várias
mudanças nas áreas públicas, que foram obrigadas a se adaptar às novas regras. No âmbito
privado, o mercado imobiliário ainda se limita às exigências da lei, mas ações pontuais mostram
que há um movimento em prol da diversidade.
De acordo com a arquiteta Sandra Perito, presidente do Instituto Brasil Acessível, "o Desenho
Universal ainda é desconhecido, e as empresas ficam apenas na intenção de se adequar às
normas". A arquiteta Silvana Cambiaghi, que é cadeirante, é mais cética e vê mais erros que
acertos nos empreendimentos residenciais e comerciais atuais. Nas áreas privadas e mesmo
comuns dos empreendimentos, pode-se encontrar verdadeiras gafes. Vãos de portas minúsculos
que mal permitem o acesso de um obeso; rampas inacessíveis por causa de entradas exíguas ou
com algum tipo de obstáculo; além dos inseguros pisos escorregadios que revestem halls de
entrada e corredores de edifícios são alguns dos exemplos.
Os pioneiros
Empresas da iniciativa privada, como a construtora J. Bianchi de Mogi das Cruzes, uma das
pioneiras em projetar segundo os sete conceitos do Desenho Universal, começam a empreitada
como uma estratégia de marketing. Ela criou a linha Lifetime Home, que oferece imóveis mais
flexíveis e adaptáveis, numa tentativa de inovar e dar um plus no empreendimento, e não de
iniciar um novo modo de projetar.
"Com a grande aceitação do primeiro empreendimento da linha, o Olímpia, em Suzano (SP),
percebemos que os novos conceitos traziam benefícios que a maioria das pessoas valorizam, e não
uma minoria como imaginávamos", explica a arquiteta Juliana Tartaglia, gerente de projetos da
empresa. O segundo condomínio da linha, o Odeon, está ainda em construção em Mogi das Cruzes
(SP) e já vem com novas adaptações. De acordo com a arquiteta, a J. Bianchi está aprimorando a
introdução do Design Universal em seus projetos e não tem previsão de quando os implantará de
vez em todos os produtos da empresa.
Já a Tecnisa, que constatou a inversão da pirâmide populacional e a necessidade de imóveis
voltados para pessoas com mais de 50 anos, depois de muitos estudos para desenvolver o novo
produto, segundo o conceito da Consciência Gerentológica, esbarrou no desenho universal,
concluindo que as adaptações eram bem mais simples que imaginavam e atenderiam uma gama
bem maior de usuários. "Esse projeto é um protótipo. As adequações ocorrerão em todos os novos
empreendimentos, independente do bairro e do padrão", afirma a arquiteta Patrícia Campos de
Valadares, gerente de projetos da incorporadora.
A partir de 2010, as áreas comuns dos novos projetos da Tecnisa terão menos escadas, mais
rampas, escadas submersas para facilitar o acesso às piscinas, pisos sem brilho e antiderrapantes,
corredores e portas mais largos, em um total de mais de 30 itens. "Muitas coisas estão nos
detalhes e estamos trabalhando para criar uma arquitetura que inclua a preocupação em atender
às necessidades do maior número de pessoas, da criança ao idoso", explica a arquiteta.
No Estado de São Paulo, a Secretaria de Habitação e a CDHU (Companhia de Desenvolvimento
Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo) lançaram em abril as diretrizes para a implantação
do Desenho Universal em todos os novos empreendimentos de interesse social. O projeto Vila
Dignidade, voltado para a terceira idade já é baseado no conceito. Já no município de São Paulo, a
Cohab (Companhia Metropolitana de Habitação) também tem planos de projetar os imóveis à luz
dos princípios.
Infelizmente, apesar da lei federal, muitos municípios e Estados ainda não se deram conta da
importância da introdução do Desenho Universal na arquitetura. Outras incorporadoras,
questionadas sobre os itens que garantem a acessibilidade em seus empreendimentos, enxergam
os princípios como ferramenta de marketing em vez de um conjunto de regras que atendem
pessoas com mobilidade reduzida, deficientes e idosos, ao contrário do que realmente eles ditam.
Consciência gerontológica
Antenada com a demanda que surge relacionada à aquisição de imóveis por pessoas mais velhas,
preocupadas não somente com seu conforto, mas também com sua segurança, a Tecnisa lançou o
"Projetando com consciência gerontológica", desenvolvido por meio de estudos realizados por
uma equipe multidisciplinar, para a criação de ambientes inteligentes que proporcionem conforto,
qualidade de vida e inclusão social para todas as pessoas. Um dos principais objetivos do projeto é
ampliar a acessibilidade do idoso, que em geral é excluído dos empreendimentos imobiliários, à
estrutura dos empreendimentos, proporcionando maior integração e qualidade de vida. E o
conforto e a segurança dos usuários por medidas que facilitam a utilização, ou eliminam ou
alertam sobre possíveis obstáculos.
Banheiro universal
Idealizado para incluir os idosos, o projeto da Tecnisa, na Água Rasa, em São Paulo, com
lançamento previsto até o fim do ano, acabou se transformando em um projeto piloto para a
introdução dos princípios do Desenho Universal em todos os seus empreendimentos a partir de
2010. E tudo começa já no material publicitário que, em vez de ser estrelado por casais jovens e
seus filhos pequenos, agora é protagonizado pelos netinhos e seus vovôs. No projeto, estão
previstos entre os equipamentos de lazer um clube de convivência, escada submersa na piscina,
portas mais largas e banheiros adaptados nas áreas comuns, bem como pisos opacos no hall. "São
medidas que beneficiam todas as faixas etárias", ressalta a arquiteta Patrícia Campos de Valadares,
gerente de projetos da Tecnisa. A empresa está preparada para prestar uma consultoria na
customização dos apartamentos da porta para dentro. E também está desenvolvendo kits com
diferentes adaptações que o cliente poderá escolher na hora da compra.
Flexibilidade de uso
A J. Bianchi lançou a linha Lifetime Home, que oferece uma construção flexível e adaptável a
diversas condições da vida. "Os empreendimentos são grandes caixas, com apenas um elemento
estrutural, fechado nas bordas e dividido no miolo. As áreas comuns são contempladas com
rampas para minimizar os desníveis, os banheiros são adaptados e os pisos são antiderrapantes.
Nas unidades, as portas internas têm largura mínima de 82 cm, os pontos de tomada e interruptor
estão em altura mais cômoda, e os pisos das áreas molháveis são antiderrapantes.
Esse princípio dita que o design deve comunicar eficazmente ao usuário as informações
necessárias. E um exemplo, que também vem sendo adotado pelas incorporadoras, como a
Brookfield, é a sinalização universal nas áreas comuns dos edifícios. Outra seria o piso tátil, que
sinaliza as rotas e obstáculos para pessoas com deficiência visual, aplicado apenas em alguns
empreendimentos comerciais.
Tolerância ao erro
Nesse conceito, o design deve minimizar os riscos e as consequências adversas de ações
involuntárias ou imprevistas. Aqui, entram os pisos antiderrapantes, rampas com declividade
correta e corrimãos. Nas áreas comuns, tanto nos projetos da J. Bianchi, da Tecnisa e da CDHU, os
pisos são antiderrapantes. As rampas, que devem seguir a declividade determinada pela NBR
9050, têm sido adotadas em muitos empreendimentos novos em São Paulo, inclusive para levar às
áreas de lazer. No projeto piloto da Tecnisa, a piscina tem degraus submersos, para facilitar a
entrada de idosos e crianças. E o corrimão em alturas diferenciadas, que apoia o usuário em
escadas e rampas, passou a ser item em alguns imóveis novos, como o Aimberê, da Ideia Zarvos.