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LÍNGUA PORTUGUESA II
PROFESSOR DR. RAPHAEL DE MORAIS TRAJANO
Quem nunca ouviu aquela expressão "concordo com você em GÊNERO, NÚMERO e GRAU!"? Pois é, essa frase
surgiu provavelmente das Gramáticas Tradicionais, em que se verifica que a flexão se dá nessas três categorias. Exemplo:
quando estudamos a classe do ADJETIVO, as GTs trazem seu estudo dividido em TEORIA (o conceito de Adjetivo), TIPOS
DE ADJETIVO (uniforme, biforme, simples e composto) e VARIAÇÕES DO ADJETIVO (isto é, flexão em Gênero,
Número e Grau). Não vamos muito longe. Em Nossa Gramática Teoria e Prática, de Luiz Antonio SACONNI, encontramos:
"O adjetivo pode variar em gênero, em número e em grau" (p. 143).
Porém, é mesmo GRAU um processo de FLEXÃO?
Primeiro, quando estudamos MORFOLOGIA, sabemos que existem palavras variáveis e invariáveis. Isto é, palavras
que se flexionam em gênero e número, outras não. Logo, GRAU fica de fora. Percebeu? Lembra-se de DESINÊNCIA?
Exemplo: GAT + A + S => o A é a marca de gênero, portanto desinência nominal de gênero, e o S é a marca de plural,
portanto desinência nominal de número. A GT não traz "desinência nominal de GRAU".
Vamos expor uma frase e, em seguida, atentar para alguns detalhes.
frase 1: Garota ESPERTA.
Por que no lugar da palavra ESPERTA não poderia ser ESPERTO? Simplesmente porque a palavra "Garota" é
palavra feminina singular, então a palavra seguinte, o adjetivo, tem de concordar em gênero e número com ela.
frase1: Garota esperta. (OK)
frase 2: Garota esperto (?)
frase 3: Garota espertos (?)
frase 4: Garota espertas (?)
A única aceitável desse rol é a frase 1, sem dúvida. Isso porque está havendo aí um processo natural de
concordância. Se "garota" estivesse no plural, automaticamente o adjetivo iria concordar com ela em outra categoria: a de
número. Exemplo: GarotaS espertaS. "ESPERTAS" está no FEMININO PLURAL, porque "GAROTAS" se encontra nessa
circunstância. Então, em ESPERTAS temos uma palavra FLEXIONADA em gênero e número, visto que GAROTAS também
apresenta essa FLEXÃO. Mas, se colocássemos a palavra no grau diminutivo GarotINHA, o adjetivo "esperto" também teria
que aparecer "flexionado" em grau? Não. Garotinha espertíssima?
Ou seja, as duas palavras têm a marca de grau. Porém, é OBRIGATÓRIO colocarmos o -ÍSSIMA em "esperto"?
Não. O -A, sim, porque é a marca de GÊNERO. Então tanto faz Garotinha ESPERTA ou ESPERTÍSSIMA ou simplesmente
Garota ESPERTÍSSIMA.
Conclusão: GRAU NÃO é flexão, porque não é um processo OBRIGATÓRIO. "A superlativação do adjetivo não
obedece a qualquer vínculo de concordância com o substantivo. Ou seja, o grau acontece para o adjetivo sem que
necessariamente ocorra para o substantivo. Em Rapaz ESTUDIOSÍSSIMO, o substantivo se mantém sem marcação de grau.
O aumentativo ou diminutivo também não determina qualquer processo de concordância. A não ser assim, em vez de
criancinha linda, teríamos que dizer criancinha lindinha" (MOTEIRO, 66).
"A expressão do grau não é um processo gramatical em português, porque não é um mecanismo obrigatório e
coerente, e não estabelece paradigmas exaustivos e de termos exclusivos em si" (Mattoso Câmara Jr., 1971:50).
A flexão é sistemática, isto é, atinge de maneira geral todo e qualquer vocábulo. O que acontece com GRAU, na verdade, é
DERIVAÇÃO e não FLEXÃO. "A derivação, ao contrário, é assistemática. Se de NEGRO se deriva NEGRUME, não se
deve concluir que de VERDE deva necessariamente derivar-se VERDUME. Não é possível qualquer previsão. Ao verbo
ALEGRAR, de ALEGRE, contrapõe-se ENTRISTECER, de TRISTE, não porém TRISTAR, que seria o normal, se a pauta
derivacional fosse tão regular como a pauta flexional; entretanto, não existe o verbo TRISTAR. É que "uma derivação pode
aparecer para um dado vocábulo e faltar para um vocábulo congênere" (Mattoso Câmara Jr). A ocorrência da forma derivada
é de certo modo fortuito e casual: há, mas seria possível deixar de haver; ou não há hoje, mas é possível que haja amanhã.
Tratando-se de flexão, a coisa é diferente: houve, há e haverá obrigatoriamente.
A derivação é optativa, DERIVATIO VOLUNTARIA, no dizer de VARRÃO, porque depende da vontade do falante.
Se quisermos, nunca empregaremos o sufixo -ÍSSIMO, diremos, por exemplo, É MUITO LINDO em lugar de É
LINDÍSSIMO; nem o substantivo LINDEZA: É UMA COISA LINDA substitui perfeitamente É UMA LINDEZA. O
singular ou o plural, o masculino ou feminino, estes não podem ser evitados. É impossível empregar um nome sem a marca
do gênero e do número.
A flexão é obrigatória, DERIVATIO NATURALIS, no dizer de VARRÃO, por ser imposta pela natureza da língua.
Não podemos utilizar um substantivo português sem obrigatoriamente usá-lo sob certa forma numérica: o número
acompanha infalivelmente qualquer substantivo português.
Em chinês é diferente, e o substantivo pode ser usado sem estar ajoujado à idéia de número. É que normalmente o
substantivo português se apresenta com dupla forma, ou em parelha, de tal modo que, dada uma, se pode facilmente
encontrar a outra: LIVRO - LIVROS - CASA - CASAS, ou vice-versa. É um paralelismo rígido que molda toda a categoria
nominal do português.
Por ser optativa, a derivação abre perspectativa estilística; por ser obrigatória, nada tem a flexão com o estilo".
(JOSÉ REBOUÇAS MACAMBIRA, 1974). GRAU é um mecanismo de DERIVAÇÃO, não de FLEXÃO. Então, em se
tratanto de palavras variáveis, temos, portanto, aquelas que variam em GÊNERO e NÚMERO, somente.