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O TRADICIONAL E O MODERNO QUANTO À

DIDÁTICA NO ENSINO SUPERIOR

Leude Pereira Rodrigues


(Pós-Graduada em Metodologia do Ensino Superior pela FAHESA/ITPAC)
Lucilene Silva Moura
(Pós-Graduada em Metodologia do Ensino Superior pela FAHESA/ITPAC)
Edimárcio Testa
(Orientador, Docente da FAHESA)
Email: leudeemilly@yahoo.com.br, bglene@hotmail.com, edimarciotesta@yahoo.com.br

Este trabalho aborda o tema da didática no ensino superior à luz de duas perspectivas
históricas distintas: a tradicional e a moderna. De ambas, pretende identificar as suas
principais diferenças a partir da comparação de alguns componentes didáticos básicos, a
saber: professor, aluno, método, conteúdo e objetivo.
Palavras-Chave: Didática Tradicional. Didática Moderna.

This work approaches the subject of the didactics in superior education to the light of
two distinct historical perspectives: traditional and the modern. Of both, it intends to
identify its main differences from the comparison of some basic didactic components,
namely: professor, pupil, method, content and objective.
Key Words: Traditional Didactics. Didactic Modern.

1. INTRODUÇÃO educação, antes mesmo da existência da ciência da


didática”. (OTÃO et al, 1965).
Didática é “a ciência e a arte do ensino”. Todavia, na medida em que consegue
(HAYDT, 2000). estabelecer uma “série de princípios certos,
Como arte, a didática não objetiva apenas sistemáticos e universais”, a didática adquire
o conhecimento pelo conhecimento, mas procura status científico. Como ciência, ela é recente. Seus
aplicar os seus próprios princípios à finalidade primeiros passos datam do século XVII, com
concreta que é a instrução educativa. Enquanto Ratke e Comênio. Nos séculos seguintes - XVIII e
arte de ensinar, a didática é tão antiga como o XIX - a didática evoluiu, lentamente, alcançando,
próprio ensino. Pode-se dizer ainda mais: ela é tão no século XX, estrutura sólida e valor definitivo.
antiga como o próprio homem, pois, em todos os Desde, então, apresenta-se como “um conjunto
tempos houve “exímios educadores e exímios apreciável de verdades, de experiências, de fatos e
mestres, que, guiados por uma fina observação e de técnicas, que impõem o seu estudo a todos
por um grande talento inato, conseguiram os quantos pretendem dedicar-se ao nobre trabalho
melhores resultados no domínio do ensino e da da educação e do ensino”. (OTÃO et. al, 1965).
L. P. Rodrigues et. al. ISSN 1983-6708

A preocupação científica com a Este predomínio do ensino sobre a


constituição, organização e estruturação da aprendizagem constitui a essência da chamada
didática deu-se, inicialmente, no âmbito do ensino didática tradicional. Com ela, o ensino torna-se
primário, estendendo-se, em seguida, para o um paradigma, em todos os seus níveis.
campo do ensino médio. É somente na segunda Especificamente, no ensino superior, tal
metade do século XX, que esta preocupação atinge paradigma é descrito, em sua manifestação
o ensino superior. Até, então, como declararam os efetiva, da seguinte forma.
participantes do congresso sobre didática, A grande preocupação no ensino superior
realizado em Gand, na Bélgica, em 1954, “não é com o próprio ensino, no seu sentido
existiu nenhuma preocupação de formar o mais comum: o professor entra em aula
professor do ensino superior”. Isso se deve ao para transmitir aos alunos informações e
experiências consolidadas para ele por
fato, segundo eles, do prevalecimento do espírito
meio de seus estudos e atividades
e da convicção de que “quem sabe, sabe ensinar”. profissionais, esperando que o aprendiz as
A problematização deste pré-juízo retenha, absorva e reproduza por ocasião
contribuiu enormemente para o desenvolvimento dos exames e das provas avaliativas
de uma didática específica do ensino superior. (MASETTO, 2003).
Desde então, a comunidade acadêmica vem Se nesta concepção de didática, a ênfase é
tomando consciência de que somente domínio do posta no ensino, então, deve-se perguntar: Quem
conteúdo ministrado em aula, não é suficiente ensina? O professor. Fator predominante, não se
para ensinar. É preciso, também, no ensino preocupa com problemas e características do
superior, aprender a ensinar. aluno. É ele o responsável por transmitir,
Numa perspectiva histórica e em qualquer comunicar, orientar, instruir, mostrar. É ele quem
um dos níveis de ensino supracitados, pode-se avalia e dá a última palavra. Ocupando lugar
falar de uma didática tradicional e uma didática central, na sala de aula, assume, na maioria das
moderna. Com uma atenção específica para o vezes, uma postura autoritária em relação a seus
ensino superior, pergunta-se: Em que, educandos.
fundamentalmente, elas se diferenciam? Envoltos O professor ainda é um ser superior que
nessa problemática, comparar-se-á, nas linhas que ensina a ignorantes. Isto forma uma
seguem, com o intuito de identificar as suas consciência bancária. O educando recebe
diferenças, os dois modelos didáticos, a partir dos passivamente os conhecimentos, tornando-
seus componentes fundamentais: professor, aluno, se um depósito do educador. Educa-se
para arquivar o que se deposita (FREIRE,
objetivo, matéria e método. Tal empresa será
1979).
desenvolvida em dois momentos distintos, mas
A centralidade do professor, no processo
essencialmente interligados: primeiro, a didática
de ensino-aprendizagem, evidencia-se, também,
tradicional; segundo, a didática moderna.
na organização física da sala de aula. Nesta,
encontramos as carteiras dos alunos dispostas em
2. A DIDÁTICA TRADICIONAL colunas e, bem ao centro, encontramos a mesa do
professor. A partir desse ponto, ele consegue ter
Houve momentos, na história da didática,
uma visão ampla de todo o corpo estudantil,
“em que a importância do ensinar predominou
impondo, assim, sua disciplina e autoridade.
sobre o aprender”. (PIMENTA, 2005).
Conforme Freire, (1983): esta é uma das
Assim ocorreu com a didática comeniana,
razões que leva o aluno a ver o professor como
enquanto arte de ensinar tudo a todos, com a
uma figura detentora de poder e conhecimento.
didática herbartiana, que precisou de passos
Nesta perspectiva, a quem se ensina? Ao
formais tendo em vista uma prescrição
aluno. Elemento passivo, cabe a ele ouvir, decorar
metodológica, e, mais recentemente, com a
e obedecer. Além disso, é visto como receptor,
didática tecnicista, fundada sobre a crença no
assimilador, repetidor. Ele reage somente em
poder de transmissão eficaz de informações
resposta a alguma pergunta do professor. Procura
através das tecnologias e das mídias.
ouvir tudo em silêncio. Ainda que, por vezes,

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responda o interrogatório do professor e faça os No seio da didática tradicional, o método


exercícios pedidos, ele tem uma atividade muito de ensino é concebido a partir do seu aspecto
limitada e pouco participa da elaboração dos material. Isso significa que ele acentua a
conhecimentos que serão adquiridos. Sua tarefa transmissão de conhecimentos, ou seja, a
principal é memorizá-los sem nenhuma estratégia transmissão do saber historicamente acumulado.
de aprendizagem. Ademais, o método de ensino é pensado a partir
O aluno registra palavras ou fórmulas sem de uma perspectiva abstrata, formal e
compreendê-las. Repete-as simplesmente universalista.
para conseguir boas classificações ou para Consoante TITONE Apud CANDAU,
agradar ao professor (...) habitua-se a crer (2008):
que existe uma ‘língua do professor’, que A supervalorização do método, que foi
tem de aceitar sem a compreender, um peculiar na Teoria do Método Único,
pouco como a missa em latim. (...) O
abstrato e formal, estava baseada em uma
verbalismo estende-se até às matemáticas; psicologia tipicamente racionalista.
pode-se passar a vida inteira sem saber
Comênio, Pestalozzi e Herbart tratavam de
porque é que se faz um transporte numa formular um método que, dotado de valor
operação; aprendeu-se mas não se
universal, fosse capaz de imprimir ordem e
compreendeu; contenta-se em saber aplicar unidade em todos os graus do saber.
uma fórmula mágica. (REBOUL Apud
PIMENTA, ANASTASIOU, 2005).
O método de ensino jesuítico, elaborado no
final do século XVI e exposto no Ratio Studiorum,
Este aspecto repetitivo da aprendizagem
foi utilizado para catequizar, no Novo Mundo,
era um elemento central do programa jesuítico de
servindo aos interesses da empresa da colonização
educação. Durante as lições, os alunos realizavam
e da Igreja contra-reformista.
anotações em um caderno para serem,
No Ratio Studiorum, o ensino foi
posteriormente, memorizadas na forma de
organizado, gradativamente, através de várias
exercícios – organizados por ordem, assuntos,
metodologias. O primeiro recurso metodológico
frases significativas, palavras e pensamentos.
utilizado para auxiliar a educação nos
Além disso, tais anotações eram completadas com
aldeamentos foi a música. Através dela, os jesuítas
citações transpostas, imitando os clássicos. Nas
conseguiam despertar a atenção e a simpatia dos
escolas jesuíticas, as aulas ocorriam em período
nativos, utilizando seus próprios instrumentos e
integral e, todo final de manhã e tarde, os
elaborando um repertório no estilo indígena, cujas
estudantes, sob a responsabilidade de um aluno
letras falavam do Deus cristão. Outro recurso
comandante, faziam as repetições dos conteúdos
pedagógico, empregado pelos Jesuítas, foi o
ministrados naquele dia.
teatro.
Tal prática antecipa, de certo modo, a
Além do “como ensinar”, faz-se necessário,
próxima questão: como se deve ensinar? Emerge,
também, abordar a questão daquilo que se deve
então, o problema do método. Procedimento,
ensinar. Surge, então, a temática do conteúdo. No
técnica, meio de se fazer alguma coisa,
enfoque tradicional, o mesmo já vem
especialmente de acordo com um plano;
predeterminado pelo programa da escola, sem
conjunto de regras e princípios normativos que
que se questione a sua natureza e o seu sentido.
regulam o ensino ou a prática de uma arte, o
Segundo TURRA Apud LOPES, VEIGA,
método tem a finalidade de alcançar um
(2000):
propósito, aquele que leva de forma mais segura
O professor, tradicionalmente, era
à consecução de uma meta estabelecida. A idéia obrigado a ministrar os conteúdos que o
de organização, nele contida, implica também programa escolar determinava. O mestre
no planejamento e no replanejamento de de alguns anos atrás, encontrava nos
procedimentos coerentes e coesos para o seu programas oficiais o rol completo de
desenvolvimento integral. informações a ser estudado por seus
alunos. (...) Era exigido que o professor o

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esgotasse apesar da qualidade do 2.1 A Didática Moderna


rendimento do aluno. Na história da didática, também ocorreram
Neste sentido, a tarefa do professor era momentos em que a importância do aprender
bastante simplificada. O conteúdo tinha que ser predominou sobre o ensinar. O momento inicial
transmitido aos alunos. Se estes apresentavam deste predomínio dá-se com Rousseau, no século
dificuldades, eram escoltados a “estudar mais”. E XVIII, para, em seguida, ser amplamente
caso as dificuldades permanecessem, não haveria desenvolvido pelo movimento da Escola Nova, no
outra solução além da reprovação ou da século XX. A ênfase no “ser que aprende”, como
dependência. paradigma para o ensino superior, altera o papel
Em 1630, nos vinte aldeamentos existentes, dos participantes do processo: “ao aprendiz cabe o
abrigando por volta de 70.000 indígenas, os papel central de sujeito que exerce as ações
conteúdos ministrados, pelos jesuítas, eram necessárias para que aconteça sua aprendizagem”.
basicamente os incluídos no ensino elementar – ou (MASETTO, 2003).
seja, rudimentos de leitura, escrita e aritmética – A partir desta perspectiva, pergunta-se:
além de conteúdos de artes, oratória, ciências e Com quem se aprende? Com o professor. Este,
aqueles ligados à doutrina cristã. Nas artes, porém, deixa de ser sujeito do processo de ensino-
especificamente, eram desenvolvidos trabalhos no aprendizagem.
âmbito da música, pintura, escultura e Torna-se “apenas um orientador e
arquitetura. organizador das situações de ensino”.
Para que se ensina? É a questão dos (PIMENTA; ANASTASIOU, 2005).
objetivos. Convém ressaltar que o objetivo, na O professor, hoje, é aquele que ensina o
Didática Tradicional, é visto como teórico e aluno a aprender e a ensinar a outrem o que
remoto, não influindo no trabalho escolar. Tal aprendeu. · Elemento incentivador, orientador e
visão se torna mais compreensível se a situarmos controlador da aprendizagem. Porém, não se trata
no contexto de uma pedagogia essencialista. aqui de um ensinar passivo, mas de um ensinar
Segundo esta concepção pedagógica, o objetivo ativo, no qual o aluno é sujeito da ação, e não
didático se apresenta de modo intemporal, sujeito-paciente. Em última instância, fica evidente
universalista, desligado do mundo da vida, que o professor, agora, é o formador e, como tal,
afastado dos homens concretos e de sua precisa ser autodidata, integrador, comunicador,
historicidade. Sua natureza é, sem sombra de questionador, criativo, colaborador, eficiente,
dúvida, metafísica. flexível, gerador de conhecimento, difusor de
Um exemplo, disso, é a própria pedagogia informação e comprometido com as mudanças
jesuítica, sobretudo àquela desenvolvida nos desta nova era.
primeiros séculos do Brasil. Nela, vê-se Segundo Vasconcelos (2000), para o
claramente que a prática pedagógica volta-se, em professor tornar efetiva:
última instância, para a formação do cristão. A sua atuação profissional enquanto
Desse modo, se a pedagogia está a serviço docente, não há como ignorar o fato de que
do desenvolvimento da fé e da espiritualidade do o centro de toda e qualquer ação didático-
ser humano, o objetivo fundamental da educação pedagógica está sempre no aluno e, mais
consiste no aprimoramento constante da essência precisamente, na aprendizagem que esse
humana para levar o homem à perfeição e, assim, aluno venha a realizar.
aproximá-lo de Deus.
Têm-se, nesta ótica, “uma educação No desempenho adequado do papel do
integralmente voltada para o aprimoramento professor, o que não se pode deixar de cumprir
religioso e espiritual do homem, sem nenhuma são as funções inerentes ao exercício de uma
finalidade material, política ou social” docência produtiva. O professor, agora, tem o
(SEVERINO, 2009). papel de coordenar as atividades, perceber como
cada aluno se desenvolve e propor situações de
aprendizagens significativas. Torna-se um

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orientador que remove obstáculos à constrói o texto da matéria trabalhada,


aprendizagem, localiza e trabalha as dificuldades observando os caminhos que essa interação
do aluno. Elabora aulas a partir das necessidades traçou. Como mediador do conhecimento, o
geradas e da interação acadêmico-professor, em professor tem a difícil missão de canalizar as
sala de aula. informações necessárias para que os educandos
Cabe a ele, como mediador dos saberes, possam apreender os conteúdos interdisciplinares
dominar a estrutura dos conteúdos, construir a que o ensino os oferece. Logo, o professor precisa
sua estrutura do saber e do saber fazer, de forma se adaptar a realidade de seus educandos
organizada, clara e significativa, e ver seus alunos instigando o interesse de seus alunos pelas aulas.
sob outra perspectiva, bem como o trabalho DIAZ BORDENAVE (2008), afirma:
conjunto entre colegas, que favorece também a O professor moderno, responsável por sua
ação do outro. Além de pensar na elaboração de função, solícito, inteligente, que todos
aulas diferentes, o professor deve contextualizá- queremos ter em nossas universidades, é
las incluindo-as em um planejamento de curso aquele que cada dia está ensinando a seus
alunos o caminho da biblioteca.
mais dinâmico e completo, fornecendo informação
O papel do professor será, então, o de
coerente e de forma clara e progressiva.
desafiar, estimular, ajudar os alunos na construção
De acordo com Gil, (2005): a preparação do
de uma relação com o objeto de aprendizagem
professor universitário, no Brasil, é ainda bastante
que, em algum nível, atenda a necessidade dos
precária. A maioria dos professores brasileiros,
mesmos, auxiliando-os a tomar consciência das
que lecionam em estabelecimentos de ensino
necessidades socialmente existentes numa
superior, não passou por qualquer processo
formação universitária. Ser professor hoje
sistemático de formação pedagógica.
(Gadotti, 2004) é viver intensamente o seu tempo,
Porém, esse cenário vem, aos poucos,
com consciência e sensibilidade. Não se pode
sendo mudado. Há estabelecimentos de ensino
imaginar um futuro para a humanidade sem
superior isolados oferecendo cada vez mais cursos
professor. Eles não só transformam a informação
de Metodologia do Ensino Superior, em nível de
em conhecimento e em consciência crítica, mas
especialização, para que o professor seja o elo
também formam pessoas. Eles fazem fluir o saber,
entre o aprender e ensinar.
O professor tem que se adaptar ao meio e
porque constroem sentido para a vida dos seres
tentar transmitir sua didática, partindo de humanos e para a humanidade, e buscam, numa
um princípio onde o meio em que o aluno visão emancipadora, um mundo mais
vive deve ser levado em conta, assim humanizado, mais produtivo e mais saudável
buscando sua cultura e sua realidade. Daí para a coletividade. Por isso eles são
então o professor começa a apresentar para imprescindíveis. Nesta descrição do que deva ser
o aluno o mundo que ele não conhece o professor do século XXI, não tem mais espaço
(CANDAU, 1999). para professores donos de um saber, mas sós
Na escola de hoje, o professor é um aqueles que tenham a humildade de ser também
facilitador. Está mais próximo de seus alunos e eles aprendizes e a única diferença que os separa
aberto ao diálogo. Ele é o organizador do espaço de seus alunos é que eles professores são
da sala de aula, o conhecedor dos objetivos e dos profissionais do ensino e por isso
conteúdos da disciplina. É o responsável pela comprometidos com o aprender e o ensinar.
escolha das técnicas mais adequadas para o Na escola de hoje, o foco muda de direção
correto desenvolvimento dos trabalhos didáticos. e o aluno passa a ser considerado o centro do
É o planejador das atividades discentes em sala. É processo de ensino-aprendizagem. De acordo com
o avaliador constante de todo esse processo. esse posicionamento, pode-se levantar a seguinte
O professor, ao lançar um conhecimento questão? Quem aprende? O aluno. Colaborador,
novo, é aquele que, no início da aula, conversa participativo, ele, ao dominar solidamente os
com seus alunos, contextualiza o conteúdo a ser conteúdos que lhe são apresentados, percebe-se
ensinado, dá muitos exemplos, questiona, instiga, determinado e capaz de operar conscientemente
enfim, seduz. Só então, juntamente com o aluno

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mudanças na realidade. Busca informações, alunos tenham a oportunidade de elaborarem


aprende a localizá-las, analisá-las. Relaciona estas trabalhados possivelmente sugeridos. Para isso, é
novas informações com os conhecimentos possível utilizar e usufruir das ferramentas
anteriores, dando-lhes significado próprio. oferecidas pela tecnologia, tais como PowerPoint,
Redefine conclusões. Observa situações de campo internet, data-show e retroprojetor. Desse modo, as
e as registra. Trabalha com esses dados e procura salas de aula podem tornar-se laboratórios de
solucionar certos problemas. O aluno assume, experimentação, onde professores e alunos
agora, um papel explicitamente ativo. possam aprender. Recursos como estes
A aplicação da didática moderna tem diversificam a prática pedagógica, promovendo
possibilitado a formação de alunos que uma efetiva interação dentro do contexto escolar,
ultrapassam as barreiras da mera assimilação de contribuindo, portanto, para a eficácia dos
conteúdos. São sujeitos mais críticos, opinativos, resultados pretendidos.
investigativos. A inserção do diálogo, em sala de Outro conjunto de atividades pedagógicas,
aula, contribuiu em muito para a constituição de que hoje já começa a fazer parte do cotidiano da
tal situação, visto que, nele, dá-se prioridade à sala de aula universitária, é a Mídia eletrônica
forma como o aluno aprende, enfatizando a que, no dizer de Moran, (2000):
construção do conhecimento a partir das relações É prazeroso.[...] educa enquanto estamos
com a realidade. entretidos. Imagem, palavra e música
Ademais, para Teixeira, (2002): integram-se dentro de um contexto
O papel do aluno, o aprendente, o sujeito comunicacional de forte impacto
construtor do conhecimento, é de relevante emocional, que predispõe a aceitar mais
importância na construção de sua facilmente as mensagens
autonomia, pois deve mostrar-se co-
responsável pela construção de resultados Nesse sentido, a mídia eletrônica,
em todos os momentos de seu percurso envolvendo o computador, a telemática, a internet,
acadêmico. o bate-papo on-line (chat), o correio eletrônico (e-
Como se deve aprender? Através do método. mail), a lista de discussão, a teleconferência, pode
Este traz, dentro de si, a idéia de uma direção com colaborar significativamente para tornar a
a finalidade de alcançar um propósito, não se aprendizagem eficaz, mais motivadora e
tratando, porém, de uma direção qualquer, mas envolvente.
daquela que leva de forma mais segura à O que se deve aprender? Trata-se do
consecução de um propósito estabelecido. O problema do conteúdo. Este, por sua vez, precisa
método é entendido como um conjunto de regras ter coerência e ser ministrado de acordo com a
e normas prescritas visando à orientação do vivência e realidade dos alunos. Neste horizonte
ensino e do estudo. didático, a abordagem dos conteúdos é vista como
Como afirma PAIVA, (1981): à ação recíproca entre a matéria, o ensino e o
Método é “um conjunto de normas estudo dos alunos. Está em função das
metodológicas referentes à aula, seja na necessidades e da capacidade real do aluno.
ordem das questões, no ritmo do Através do ensino, criam-se as condições para a
desenvolvimento e seja, ainda, no próprio
assimilação consciente e sólida de conhecimentos,
processo de ensino”.
habilidades e atitudes. Isso possibilita aos alunos
No meio acadêmico, os métodos de ensino
formar suas capacidades intelectuais para se
são determinados pela relação objetivo-conteúdo,
tornar sujeitos da própria aprendizagem.
e referem-se aos meios para alcançar os objetivos
Propõe-se que o conteúdo específico da
gerais e específicos do ensino, englobando as
didática seja discutido e analisado pelos
ações a serem realizadas pelo professor e pelos
professores, a partir do exame de suas próprias
alunos para atingir os objetivos e conteúdos.
condições de trabalho e formação, levando em
Enquanto conjunto de técnicas e teorias, o
conta a realidade sociocultural dos alunos. O
método pode colaborar na formação docente e de
conteúdo é importante, mas o processo, pelo qual
pesquisa, proporcionando momentos em que os
o aluno chega até ele, é prioritário.

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De acordo com TURRA Apud LOPES, de lazer e de convivência social, valores,


VEIGA, (2000): convicções e atitudes. (LIBÂNEO, 1994)
O conteúdo é uma parte integrante da
matéria-prima; é o que está contido em um Portanto, é importante que os professores
campo de conhecimento. Envolve estejam sempre se qualificando para aplicar o
informações, dados, fatos, conceitos, conteúdo de acordo com as necessidades e
princípios e generalizações acumuladas interesses dos alunos. Isso garante um avanço
pela experiência do homem, em relação a
qualitativo e evita dificuldades na aprendizagem.
um âmbito ou setor da vida humana (...).
Os bens culturais, quando adaptados,
Por fim, para que se aprende? É a questão
elaborados e organizados pedagogica- dos objetivos. Eles têm grande importância no
mente, compõem os conteúdos programá- trabalho docente, pois expressam propósitos
ticos. Estes constituem a fonte de onde o definidos, explícitos quanto ao desenvolvimento
professor seleciona o conjunto de do ensino-aprendizagem. Dinamizam todo o
informações que trabalhará com seus trabalho escolar, dando-lhe sentido, valor e
alunos. direção. Em suma, pode-se dizer que não há
prática educativa sem objetivos.
Outro aspecto relevante a respeito do
conteúdo é a sua seleção. Esta tarefa, segundo os Hammonds & Lamar (1995), Apud
especialistas, é altamente complexa. SANT’ANNA, (1995) dizem que:
Para TURRA, (1975): “a seleção e A determinação dos objetivos é, talvez, o
processo mais importante de quantos então
organização de conteúdos não é tarefa rápida ou
implicados na educação. Sem eles o mestre
fácil. Exige muito conhecimento do assunto e do não pode saber o que deve ensinar nem
grupo de alunos, além do embasamento seguro pode, dia a dia, ou ao final de um período
em termos da estrutura da disciplina”. julgar seu progresso no ensino ou o dos
Além disso, o conceito de conteúdo, no estudantes na aprendizagem como
entender de Zabala (1998), é freqüentemente resultado do ensino. O ensino deve ser um
compreendido de maneira simplista e processo projetado para um objetivo; o
reducionista, sendo: mestre não pode proceder inteligentemente
O termo "conteúdo" normalmente foi se não percebe a relação entre o que faz e
utilizado para expressar aquilo que deve se seu objetivo.
aprender, mas em relação quase exclusiva
aos conhecimentos das matérias ou Há muitas designações para os objetivos.
disciplinas clássicas e, habitualmente, para Fala-se em objetivos gerais, específicos, mediatos,
aludir aqueles que se expressam no imediatos, em longo prazo, instrucionais etc.
conhecimento de nomes, conceitos, Contudo, a nomenclatura não é o fato mais
princípios, enunciados teoremas. importante. Importante, de fato, é apreender o que
Há, no entanto, uma proposta de significa um objetivo para a vida do aluno e do
superação desse conceito restrito de conteúdo, professor.
entendendo-o como tudo aquilo que se deve O objetivo é um mecanismo utilizado pelo
aprender para alcançar objetivos de professor para ensinar seu aluno a pesquisar.
desenvolvimento de todas as capacidades dos Assim, poderão eles, criarem novos
indivíduos. conhecimentos, em lugar de recebê-los prontos.
Ademais, os conteúdos retratam a Esses são usados de acordo com as necessidades
experiência social da humanidade relacionada a concretas do contexto histórico-social onde
conhecimentos e modos de ação que englobam: professor e aluno se encontram. Sendo assim, os
Conceitos, idéias, fatos, processos,
objetivos não consistem, efetivamente, em
princípios, leis científicas, regras,
transmitir conhecimento, mas ensinar o aluno a
habilidades cognoscitivas, modos de
atividade, métodos de compreensão e produzir e a formar a capacidade crítica e criativa
aplicação, hábitos de estudos, de trabalho, em relação às matérias de ensino e à aplicação dos
conhecimentos.

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O ensino Jesuítas tinha uma característica o “ensinar”, continua predominando nas práticas
diferente, mas que é usada na didática moderna pedagógicas do ensino superior, apesar do notável
nos dias de hoje, era a emulação, ou seja, o avanço da didática moderna, centrada na
estimulo á competição, os alunos recebiam preocupação com a “aprendizagem”. Esta última,
incentivos, prêmios concedidos em solenidades porém, tem seu desenvolvimento brecado por
pomposas, nas quais participava as famílias, as diversos entraves, dentre os quais, pode-se citar a
autoridades eclesiásticas e civis, a fim de dar lhe influência de preconceitos pedagógicos
brilho especial. Esse tipo de estratégia é usado até tradicionais, a precária formação dos futuros
hoje de forma diferente, mas, com a mesma docentes e as exigências, sobretudo quantitativas,
finalidade para que o ensino aprendizagem do do sistema educacional vigente, principalmente o
aluno seja significativo. brasileiro. Apesar disso, percebe-se que muitos
Giussani, (2000) afirma que: docentes, de nível superior, preocupados com a
O objetivo da educação é o de formar um aprendizagem de seus alunos, vêm inovando suas
homem novo; portanto, os fatores ativos da práticas, tornando suas aulas diferenciadas. São
educação devem tender a fazer com que o esses profissionais que, talvez, expressem melhor
educando aja cada vez mais por si próprio, o grande desafio da educação superior atual: a
e sempre mais por si enfrente o ambiente. É
constante inovação.
preciso então, de um lado, colocá-lo
constantemente em contato com todos os
fatores do ambiente; de outro, deixar-lhe a
responsabilidade da escolha, seguindo 4. REFERÊNCIAS
uma linha evolutiva determinada pela
consciência de que o aprendente deverá
BLOOM, Benjamin S. et al. Taxonomia dos
chegar a ser capaz de, perante qualquer objetivos educacionais, vols 1 e 2, Editora Globo.
situação, "agir por si". Inc. 1956.
CANDAU, Vera Maria (Org.). Rumo a uma Nova
Um objetivo educacional é, na verdade, a
Didática. 19ª. Ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.
tradução concreta para o aqui e o agora, para uma
determinada situação, da finalidade da educação, FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes
ou seja, da promoção humana. Necessários à Prática Educativa. São Paulo: Paz e
De fato, tem-se argumentado que um Terra, 1996.
objetivo fornecerá ao professor e ao estudante
GADOTTI, M. Perspectivas atuais da educação.
“alguma direção envolvendo o conteúdo e o
Porto Alegre. Ed. Artes Médicas, 2000.
processo mental que se espera que o aluno
desenvolva” (BLOOM, 1963). GIL, Antonio Carlos. Metodologia do Ensino
Superior. 3ª. Ed. São Paulo: Atlas, 1997.

3. CONCLUSÃO GIUSSANI, Luigi. Educar é um risco: como


criação de personalidade e de história. São Paulo:
Neste artigo, explicitaram-se as diferenças Companhia Ilimitada, 2000.
fundamentais existentes entre as chamadas
HAYDT, Regina Célia Cazaux. Curso de Didática
didática tradicional e didática moderna, na esfera
Geral. São Paulo: Ática, 2000.
do ensino superior. Uma comparação entre alguns
elementos constitutivos da estrutura básica, de HOFFMANN, Jussara. Avaliação Mediadora:
ambas as didáticas, tais como o papel do professor Uma Prática em Construção da Pré-Escola à
e do aluno, o método de ensino, o conteúdo Universidade. Porto Alegre: Mediação, 1998.
ministrado e os objetivos a serem alcançados,
possibilitou a realização desse empreendimento. DIAZ, Bordenave. Juan & Martins, Pereira Adair.
Deste trabalho, é possível inferir que a Estratégias de Ensino Aprendizagem. 29ª edição,
didática tradicional, centrada na preocupação com Ed. Vozes. 2008.

Revista Científica do ITPAC, Araguaína, v.4, n.3, Pub.5, Julho 2011


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