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PREVENÇÃO ÀÀ LAVAGEM
PREVENÇÃO LAVAGEM DE DE DINHEIRO
DINHEIRO E
AOFINANCIAMENTO
AO FINANCIAMENTO DO DO TERRORISMO
TERRORISMO
PLD/FTI -- ASPECTOS
(PLD/FT) - MÓDULO ASPECTOS GERAIS
Sumário
Capítulo 1 - Conhecendo o tema PLD/FT........................................................................3
1 Conhecendo o tema PLD/FT....................................................................................4
1.1 O que é lavagem de dinheiro?...............................................................................5
1.2 O processo de lavagem de dinheiro e suas etapas.............................................6
1.2.1 – Colocação.................................................................................................6
1.2.2 – Ocultação..................................................................................................7
1.2.3 – Integração.................................................................................................7
1.3 Setores mais suscetíveis de serem utilizados na lavagem de dinheiro.............7
1.4 Origem dos recursos envolvidos na lavagem de dinheiro................................11
Encerramento..................................................................................................................47
Glossário..........................................................................................................................48
Referências......................................................................................................................50
Capítulo 1 - Conhecendo o tema PLD/FT
Objetivos
3
1 Conhecendo o tema PLD/FT
De acordo com dados1 divulgados pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e
Crime (UNODC), estima-se que 2% a 5% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial, algo
entre US$ 800 bilhões e US$ 2 trilhões, são “lavados” anualmente em todo o mundo.
Fique Ligado
Para ter uma melhor ideia do que este montante representa, compare-o com o total
de riqueza produzida pela economia brasileira (PIB) em 2016: US$ 1,796 trilhão2.
Muito dinheiro, não? E observe que esses números são somente estimados, afinal,
essas transações com dinheiro sujo ocorrem juntamente a transações regulares e
nem sempre é possível identificá-las ou dimensionar seus valores.
Você ficará ainda mais surpreso ao saber que estes recursos retroalimentam a
indústria do crime no mundo, pois a lavagem de dinheiro é amplamente utilizada para
acobertar a origem de recursos obtidos por meio de atividades ilegais, tais como
tráfico de drogas, tráfico de pessoas, desvio de recursos públicos, sonegação fiscal,
entre outras, tornando o dinheiro disponível para financiar novos delitos.
Já deve ter ficado claro que a lavagem de dinheiro é um problema mundial, e uma
séria ameaça à sociedade em geral!
1
Referência 2013.
2
Dados do Banco Mundial.
4
O combate às atividades criminosas passa, necessariamente, pelo
impedimento de uso do dinheiro obtido por meio dos delitos. É
necessário “secar a fonte” dos recursos que sustentam as atividades
das organizações criminosas, e isso só é possível se reprimirmos
a transformação do dinheiro “sujo” em “limpo”. O que quebra uma
empresa, seja ela criminosa ou não, é a falta de dinheiro.
Para entender melhor o assunto, vamos guiá-lo em uma jornada que mostrará como
tudo começou, o que se tem feito para prevenir e desestimular a lavagem de dinheiro
e como você pode fazer a diferença nesta história.
Mas antes, vamos entender melhor o que é essa tal “lavagem de dinheiro”...
Quando uma atividade criminosa gera ganhos expressivos, é necessário achar uma
forma para justificar tanto dinheiro, sem atrair atenção para o crime praticado. E como
os criminosos fazem isso? Disfarçam a origem do dinheiro, mudam sua forma, usam
o nome de outras pessoas, adquirem bens, movimentam-no para algum lugar em que
eles chamariam menos atenção.
3
Disponível em: <http://www.fatf-gafi.org/faq/moneylaundering/#d.en.11223>. Acesso em: 10 jul. 2015.
5
1.2 O processo de lavagem de dinheiro e suas etapas
Para disfarçar a origem ilícita dos recursos sem comprometer os envolvidos, os
criminosos utilizam-se, basicamente, de mecanismos que envolvem três etapas
independentes, mas que podem ocorrer de forma simultânea, buscando:
Fase 3: Integração
1.2.1 – Colocação
A primeira etapa do processo é a colocação do dinheiro no sistema econômico. Para
ocultar sua origem, o criminoso procura movimentar o dinheiro em países com regras
mais permissivas ou naqueles que possuem um sistema financeiro com controles
menos rígidos.
6
A colocação é efetuada por meio de depósitos, compra de instrumentos negociáveis
ou compra de bens. Para dificultar a identificação da procedência, os criminosos
aplicam técnicas sofisticadas e cada vez mais dinâmicas, tais como o fracionamento
dos valores que transitam pelo sistema financeiro e a utilização de estabelecimentos
comerciais que usualmente trabalham com dinheiro em espécie.
1.2.2 – Ocultação
A segunda etapa do processo consiste em dificultar o rastreamento contábil dos
recursos ilícitos. O objetivo é quebrar a cadeia de evidências ante a possibilidade da
realização de investigações sobre a origem do dinheiro.
1.2.3 – Integração
Nesta última etapa, os ativos são incorporados formalmente ao sistema econômico.
As organizações criminosas buscam investir em empreendimentos que facilitem
suas atividades, podendo tais sociedades prestar serviços entre si. Uma vez formado
o elo, torna-se cada vez mais fácil legitimar o dinheiro ilegal.
7
Assim, dentre os setores favoritos dos infratores, podemos destacar:
8
Offshore (Centros Financeiros) Outros setores
vulneráveis
Jurisdições em que grande parte
das transações do sistema
Além dos setores, atividades e
financeiro envolve pessoas físicas ou
localidades mencionados nos itens
jurídicas não residentes na jurisdição e
anteriores, o comércio de obras de arte,
em que a maioria das instituições
antiguidades, joias, pedras e metais
financeiras envolvidas é controlada por não residentes.
preciosos, bens de luxo ou de alto valor, entre outros,
Os centros offshore também se caracterizam por serem
também requer atenção constante do Estado, da
jurisdições que oferecem tributação baixa ou zero,
sociedade e dos próprios setores envolvidos, pois tem
regulamentação frouxa do setor financeiro, regras mais
se apresentado como suscetível de ser utilizado
severas de segredo bancário e anonimato4.
por criminosos. Como principais atrativos,
destacam-se os valores envolvidos e a relativa
facilidade de comercialização desses objetos.
Acrescente-se, ainda, certa subjetividade na valoração
dos bens e a possibilidade de utilização de inúmeros
instrumentos financeiros nas transações, os quais, em
muitos casos, viabilizam o anonimato.
É comum vermos nos noticiários que a polícia encontrou carros de luxo e joias nas
casas de pessoas suspeitas de cometer o crime de lavagem de dinheiro. Certamente,
você já viu imagens como essas:
4
Definição do Banco Central do Brasil (Bacen). Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/glossario.
asp?Definicao=1441&idioma=P&idpai=GLOSSARIO>. Acesso em: 10 jul. 2015.
9
Joias confiscadas. Relógios apreendidos em operação policial.
Fonte: Komonews. Acesso em: 18 fev. 2016. Fonte: hispanicallyspeakingnews. Acesso em:
18 fev. 2016.
Um pouco menos comum, porém tão grave quanto, são as notícias envolvendo a
lavagem de dinheiro por meio de obras de arte. A mídia noticiou exaustivamente, há
alguns anos, situações em que foram envolvidas obras de arte em suposto processo
de lavagem de dinheiro.
Como já foi dito, a criatividade dos criminosos não tem fim. Da mesma forma, há
que se ter em mente que essa relação de setores vulneráveis à lavagem de dinheiro
também não é exaustiva. Deve-se estar atento ao oferecer novos produtos e serviços
ao mercado, pois, por vezes, a indústria do crime torna-se o seu maior cliente.
10
1.4 Origem dos recursos envolvidos na lavagem de dinheiro
Como já vimos, o dinheiro é “lavado” para esconder sua origem criminosa. A lavagem
de dinheiro, portanto, decorre de uma infração penal antecedente. A criminalização da
lavagem de dinheiro, no entanto, depende da legislação adotada por cada país.
Assim referidas as leis antilavagem que consideram apenas o tráfico de drogas como
crime antecedente, ou seja, apenas a dissimulação da origem e do destino de recursos
oriundos de tráfico de drogas é considerada lavagem de dinheiro.
Trazem um rol de crimes antecedentes, considerados crimes graves, aos quais estão
associados o dinheiro sujo. Apesar de serem menos restritivas que as leis de primeira
geração, ainda limitam a punição dos lavadores, pois se o dinheiro tiver origem/
destino em um crime não contemplado na lei, sua colocação, sua ocultação e sua
integração ao sistema econômico não são consideradas lavagem de dinheiro.
O dinheiro sujo está associado a qualquer infração penal antecedente. Assim, não há
um rol restritivo de crimes para caracterizar a lavagem de dinheiro. Qualquer recurso
obtido por meio de ilícito penal pode tipificá-la.
Apenas como forma de ilustrar possíveis origens dos ativos criminosos, vamos listar
a seguir, muito objetivamente, alguns exemplos de crimes que movimentam muito
dinheiro para os criminosos:
11
Perceba que todos esses crimes têm em comum o dinheiro como produto – o objetivo
deles é obter dinheiro. E os criminosos precisam encontrar alguma forma de usar
esse dinheiro, sem chamar a atenção para o crime cometido.
12
Capítulo 2 – A evolução histórica do tema PLD/FT
Objetivos
13
2 A evolução histórica
O contexto atual leva-nos a pensar no crime de lavagem de dinheiro como um problema
característico do Brasil. Mas uma simples pesquisa bibliográfica demonstra que sua
origem é remota, tanto no tempo quanto no espaço. Alguns autores relatam rumores
de sua existência já nos tempos bíblicos, com base na história de Ananias e Safira,
que teriam acobertado o valor real da venda de um imóvel, que deveria ser entregue
aos apóstolos, retendo parte do valor em benefício próprio. Outros autores atribuem
aos mercadores chineses a sua criação, há mais de 3.000 anos, para proteger seus
lucros do insaciável apetite tributário dos governantes.
14
Fonte: Wikipedia.
Al Capone
Após anos tentando combater o crime organizado, que, com a queda da Lei Seca,
voltou-se para os jogos e o tráfico de entorpecentes, em 1970 os legisladores
americanos determinaram, por meio da Bank Secrecy Act (BSA) – Lei de Sigilo
Bancário –, que as instituições financeiras deveriam comunicar ao governo5 americano
todas as transações financeiras superiores a US$ 10 mil. A medida visava permitir o
acompanhamento da circulação do dinheiro e, consequentemente, o rastreamento de
sua origem.
5
Atualmente, estas comunicações são enviadas ao Financial Crimes Enforcement Network (FinCEN), órgão do
Departamento do Tesouro norte-americano contra Crimes Financeiros.
6
Disponível em: <https://nacoesunidas.org/convencao-da-onu-contra-trafico-de-entorpecentes-e-
substancias-psicotropicas-faz-25-anos/>. Acesso em: 10 jul. 2015.
15
Apesar do objetivo inicial da Convenção de Viena ter sido a repressão ao tráfico
de drogas, foi desta reunião que surgiu o primeiro instrumento jurídico a definir a
obrigatoriedade da criminalização da lavagem de dinheiro pelos Estados-membros.
16
a ser alvo de uma intensa campanha internacional. Dessa maneira, passou-se a incluir
o financiamento do terrorismo entre os alvos do aparato institucional já existente de
combate à lavagem de dinheiro, instituindo o termo prevenção à lavagem de dinheiro
e ao financiamento do terrorismo (PLD/FT).
Convenção de Viena
1988 (Austria)
Atentados 11 de setembro
2001 (EUA)
Após os atentados de 2001, o GAFI teve seu mandato expandido para poder tratar
também da questão do financiamento dos atos e das organizações terroristas,
bem como das questões referentes ao financiamento da proliferação de armas de
destruição em massa. Assim, foram criadas recomendações específicas para combate
ao financiamento do terrorismo. Atualmente, essas recomendações fazem parte das
40 Recomendações do GAFI e são apresentadas na seção “C – Financiamento do
Terrorismo e Financiamento da Proliferação” da referida publicação.
17
O Grupo de Ação Financeira possui três objetivos principais:
Com relação ao cenário internacional de PLD/FT, não se pode deixar de citar o Grupo
de Egmont. Em reconhecimento aos benefícios adquiridos com o desenvolvimento
da rede de Unidades de Inteligência Financeira (UIFs, do inglês Financial Intelligence
Units – FIUs), um conjunto de UIFs reuniu-se em 1995 no Palácio de Egmont Arenberg
em Bruxelas, Bélgica, e decidiu formar um grupo informal visando estimular a
cooperação internacional. Hoje conhecido como “Grupo de Egmont”, esse organismo
reúne estas UIFs que se encontram regularmente para buscar formas de cooperar
entre si, especialmente nas áreas de intercâmbio de informações, treinamento e troca
18
de experiências. Atualmente, há 1567 UIFs membros do Grupo de Egmont, além de
várias outras em fase de implantação. Confira a lista de países que integram o Grupo
de Egmont.
Ainda no contexto internacional, faz-se necessário registrar que o Brasil faz parte
do Grupo de Ação Financeira da América Latina (GAFILAT). Primeiramente nomeado
como Grupo de Ação Financeira da América do Sul (GAFISUD), o grupo surgiu em
2000, a partir de acordo entre os governos de nove países sul-americanos, entre eles
o próprio Brasil. Em 2006, o grupo começou a incorporar países da América Latina,
atingindo, em 2013, 16 membros, e modificando seu nome para GAFILAT.
7
Dados de 04/09/2017.
19
Capítulo 3 – O sistema brasileiro de PLD/FT
Objetivos
20
3 O sistema brasileiro de PLD/FT
Como já vimos, desde 1988, quando assinou a Convenção de Viena, e em 1991, ao
ratificá-la por meio do Decreto nº 154, o Brasil vem atuando firmemente na prevenção
e no combate à lavagem de dinheiro e ao financiamento do terrorismo.
Tal atuação foi reafirmada em 1998, por meio da publicação da Lei nº 9.613, dispondo
sobre crimes de lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores, bem como sobre a
prevenção da utilização do sistema financeiro para os ilícitos nela previstos.
21
No Brasil, a questão do terrorismo foi tratada pela Lei nº 13.260, de
2016, que tipifica o terrorismo, trata de disposições investigatórias e
processuais e reformula o conceito de organização terrorista.
O fluxo da informação também foi ampliado pelo sistema, já que inicialmente tinha
por foco as investigações de tráfico de drogas, mas se mostrou igualmente eficiente
para investigação de outros crimes.
Contudo, a adaptação ao sistema não foi simples. O setor produtivo tinha dúvida
de como implementar medidas para comunicar operações suspeitas às autoridades,
visto que, para tanto, seria necessário fazer uma denúncia baseada em situações
ilícitas e não apenas em desconfianças.
8
Lei norte-americana contra a lavagem de dinheiro, já mencionada no capítulo 2.
22
Percebeu a dificuldade? Foi então que surgiu a ideia de criar uma instituição
com poderes para receber as comunicações dos setores obrigados, analisar
suas informações e encaminhar os possíveis indícios de crimes às
autoridades competentes: a Unidade de Inteligência Financeira (UIF).
23
Em linhas gerais, o papel do COAF é o de receber comunicações
de operações suspeitas, analisar e disseminar as informações
para as autoridades competentes. Estas são suas atribuições de
UIF. Além destas, desempenha também o papel de regulador dos
setores econômicos listados na lei e cuja atividade não possui órgão
regulador ou fiscalizador próprio. Nesses casos, cabe ao Conselho
definir regras e procedimentos para esses setores, além da aplicação
de sanções previstas no Art. 12 da lei.
A composição do COAF também foi definida pela Lei nº 9.613, de 1998, e prevê sua
estruturação com servidores públicos de reputação ilibada e reconhecida competên-
cia, designados em ato do Ministro de Estado da Fazenda, dentre os integrantes do
quadro de pessoal efetivo dos órgãos:
24
Capítulo 4 – As pessoas obrigadas e o que
se espera delas
Objetivos
25
4 As pessoas obrigadas e o que se espera delas
Antes de adentrar nas obrigações decorrentes da lei, é interessante ressaltar quem
possui essas obrigações e por quê. As chamadas pessoas obrigadas estão listadas
no Art. 9º da Lei nº 9.613, de 1998, e trata-se de um rol bem extenso. Vejamos:
Art. 9º Sujeitam-se às obrigações referidas nos arts. 10 e 11 as pessoas físicas e jurídicas que
tenham, em caráter permanente ou eventual, como atividade principal ou acessória, cumulati-
vamente ou não:
VII – as filiais ou representações de entes estrangeiros que exerçam no Brasil qualquer das
atividades listadas neste artigo, ainda que de forma eventual;
IX – as pessoas físicas ou jurídicas, nacionais ou estrangeiras, que operem no Brasil como agen- 26
tes, dirigentes, procuradoras, comissionárias ou por qualquer forma representem interesses de
mercadorias, serviços, ou, ainda, concedam descontos na sua aquisição, mediante sorteio ou
método assemelhado;
VII – as filiais ou representações de entes estrangeiros que exerçam no Brasil qualquer das
atividades listadas neste artigo, ainda que de forma eventual;
IX – as pessoas físicas ou jurídicas, nacionais ou estrangeiras, que operem no Brasil como agen-
tes, dirigentes, procuradoras, comissionárias ou por qualquer forma representem interesses de
ente estrangeiro que exerça qualquer das atividades referidas neste artigo;
XI – as pessoas físicas ou jurídicas que comercializem joias, pedras e metais preciosos, objetos
de arte e antiguidade;
XII – as pessoas físicas ou jurídicas que comercializem bens de luxo ou de alto valor, interme-
deiem a sua comercialização ou exerçam atividades que envolvam grande volume de recursos
em espécie;
XIV – as pessoas físicas ou jurídicas que prestem, mesmo que eventualmente, serviços de
assessoria, consultoria, contadoria, auditoria, aconselhamento ou assistência, de qualquer
natureza, em operações:
XVII – as pessoas físicas ou jurídicas que comercializem bens de alto valor de origem rural ou
animal ou intermedeiem a sua comercialização; e
XVIII – as dependências no exterior das entidades mencionadas neste artigo, por meio de sua
27
matriz no Brasil, relativamente a residentes no País.
XV – pessoas físicas ou jurídicas que atuem na promoção, intermediação, comercialização,
agenciamento ou negociação de direitos de transferência de atletas, artistas ou feiras, exposi-
ções ou eventos similares;
XVII – as pessoas físicas ou jurídicas que comercializem bens de alto valor de origem rural ou
animal ou intermedeiem a sua comercialização; e
XVIII – as dependências no exterior das entidades mencionadas neste artigo, por meio de sua
matriz no Brasil, relativamente a residentes no País.
Logo, todos os mencionados no Art. 9º, pelo risco a que estão sujeitos, devem possuir
estruturas e procedimentos diferenciados para prevenir sua utilização para a prática
do crime. E o que se espera deles? A lei trouxe algumas obrigações para esses setores,
e, para assegurar que todas as obrigações sejam efetivamente cumpridas, deu ao
Estado a competência de fiscalizar e punir aqueles que não as cumprirem.
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a habilitação junto ao sistema é necessária para fins de comunicação das operações
financeiras previstas no Art. 11 da referida lei.
Importante
O cadastro deve ser atualizado periodicamente, de modo que os
dados nele presentes reflitam a real situação da pessoa obrigada.
Além disso, o COAF utiliza prioritariamente o SISCOAF para
efetuar contato com seus regulados.
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4.3 Manutenção de cadastro de clientes
Uma base de dados só é útil se estiver atualizada. Assim, a lei determina que o cadastro
de clientes seja atualizado, nos termos de instruções emanadas das autoridades
competentes, de modo a permitir sua identificação e seu acompanhamento.
Ao analisar os dados dos clientes e das operações realizadas por eles, é possível
estabelecer se guardam compatibilidade entre si. Assim, quanto mais informação
você tiver do seu cliente e de suas operações, maior será sua capacidade de monitorar
a existência de situações suspeitas e, consequentemente, de comunicá-las ao COAF.
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Diversos parâmetros podem ser utilizados para viabilizar tal monitoramento, tais
como:
Ocupação;
Renda;
Situação patrimonial;
Qualificação como pessoa exposta politicamente (PEP);
Frequência das operações;
Pagamentos em espécie;
Identificação da origem dos recursos;
Identificação do beneficiário final;
Identificação de procuradores ou prepostos;
Resistência ao fornecimento de dados para identificação;
Informações de mídia;
Ranqueamento de risco de clientes.
31
Para fazer uma comunicação de operação suspeita, é necessário descrever na
comunicação o porquê da suspeita. Para tanto, é preciso que a pessoa obrigada
monitore suas operações e fique atenta para sinais de alerta identificados em cada
tipo de produto, que possuem características distintas em cada setor. Se presentes
os sinais de alerta, recomenda-se fazer uma análise da operação e do cliente. Após
a análise, ao se concluir pela existência de indícios dos crimes previstos na Lei nº
9.613, de 1998, a comunicação deve ser enviada ao COAF em até 24 horas.
Este é apenas um exemplo para fins didáticos. Para conhecer as normas de PLD/FT,
publicadas pelo COAF e outros reguladores, acesse o site da instituição.
Importante
O fato de o cliente utilizar “dinheiro vivo” como meio de
pagamento não deve, de modo algum, ser impeditivo para a
realização do negócio. O fato de se utilizar dinheiro em espécie
não configura, por si só, um crime/contravenção. O que ocorre é
que, caso a operação enquadre-se naquelas situações passíveis
de comunicação, ela deve ser informada ao COAF após a sua
concretização.
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As comunicações de operações em espécie e suspeitas são feitas no SISCOAF, o
Sistema do COAF, o mesmo no qual é feita a habilitação das pessoas obrigadas. O
canal de “Comunicação de Não Ocorrência”, por sua vez, é definido pelos órgãos
reguladores de cada segmento, sendo que, em alguns casos, o canal é o próprio
SISCOAF.
33
Não é assim tão complicado cumprir com as obrigações que a Lei de Lavagem
de Dinheiro impõe, não é mesmo? E o mais importante é que, além dos
objetivos social e econômico de prevenir crimes, as obrigações servem para
proteger o próprio negócio.
Muita informação? Fique tranquilo. Estes conceitos serão abordados logo abaixo, de
uma forma mais prática.
9
Os princípios “conheça seu cliente”, “conheça seu empregado”, “conheça seu fornecedor” e “conheça seu
parceiro” devem ser adotados para assegurar a existência de critérios para início do relacionamento, bem
como para seu acompanhamento, de modo a conhecer a capacidade econômica financeira, a origem de
recursos e a idoneidade desses atores, a fim de resguardar-se de envolvimentos ilícitos, notadamente aqueles
relativos à lavagem de dinheiro e ao financiamento do terrorismo.
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No intuito de ajudá-lo, vamos explorar um pouco o tema...
O COAF recomenda que seja estruturada uma política interna, mas cada um pode
montar essa política conforme o seu tamanho e capacidade. Não há uma só forma
ideal.
É exatamente isso que diz o Art. 10, inciso III, da Lei nº 9.613, de 1998. Vejamos:
III – deverão adotar políticas, procedimentos e controles internos, compatíveis com seu porte e
volume de operações, que lhes permitam atender ao disposto neste artigo e no art. 11, na
forma disciplinada pelos órgãos competentes (...)
Talvez muitos já saibam, mas não custa reforçar. Há uma boa definição no livro
“Sistemas de Informação”, de Sergio Bio e Edgard B. Cornachione Junior (2008):
“Política é o que da decisão; procedimento é o como”, ou ainda, “políticas são
orientações preestabelecidas para a tomada de decisões” e procedimento é “como
implementar a política”.
Na prática isso quer dizer que, dentre as diferentes políticas que uma empresa
possui (política de pessoal, política de qualidade etc.), ela deve ter também uma
política de prevenção à lavagem de dinheiro e ao financiamento do terrorismo. Já
os procedimentos, ou seja, como cada empresa vai desenvolver sua política, é uma
decisão interna. Há vários meios de fazê-la, porém não se deve esquecer que as
obrigações devem ser contempladas nos procedimentos.
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Para não esquecer as obrigações que devem estar contidas nos procedimentos,
vamos esquematizar a seguir.
36
Por Exemplo
Suponhamos que uma concessionária receba um cliente em sua loja que queira
comprar um veículo no valor de R$ 125.000,00, com pagamento em espécie. Con-
tudo, na hora em que o cliente fornece o endereço, o vendedor percebe que se trata
de um local simples, um bairro reconhecidamente de baixa renda. Essa situação
poderia ser suspeita, não? E aí? O vendedor vai deixar de vender o veículo? Não; ele
vende o veículo e depois decide com seus superiores se comunica ao COAF essa
situação.
Vale ressaltar que o cadastro do cliente não é apenas uma obrigação burocrática,
voltada à prevenção da lavagem de dinheiro. Tais registros podem municiar a empresa
de dados importantes para o próprio negócio, como mala direta, ações promocionais,
convites para eventos e até gestão de relacionamento com o cliente.
Tanto o GAFI quanto a ONU definem PEP como aquele indivíduo que desempenha ou
desempenhou função pública relevante. O COAF, para ajustar essa definição ao direito
interno, conceitua PEP na Resolução nº 29, de 07/12/2017.
O conceito ficou muito claro com a publicação da Resolução, mas veja quanta gente
é considerada PEP (governadores, ministros de Estado, senadores, deputados etc.).
37
Você seria capaz de guardar todos os nomes dos ocupantes desses cargos? E
ainda tem mais, você tem ideia de qual a frequência com que os ocupantes
desses cargos são trocados? Imagine todas as vezes que você vir na televisão
que trocou um ministro! E diretores de estatais, cujas substituições sequer são
noticiadas?
Por isso, o COAF disponibilizou, desde 25 de março de 2014, uma lista de PEP. É
um cadastro consolidado pela Controladoria-Geral da União (CGU). No momento, o
cadastro contempla somente PEP no âmbito federal, mas o objetivo é disponibilizar,
em breve, a relação completa.
A lista de PEP pode ser acessada pelas pessoas cadastradas no SISCOAF, por meio
da funcionalidade Consultas > Relação de PEP, conforme figura a seguir.
38
SISCOAF - funcionalidade de consulta à Relação de PEP.
Importante
A identificação de PEP é uma medida preventiva; ninguém deve
ser estigmatizado por ser PEP. Toda PEP pode comprar o que
quiser e você tem todo o direito de vender para ela. O risco deve
ser sempre avaliado em função da operação que ela está fazendo,
e não apenas por sua condição como PEP.
39
4.7.3 Procedimentos para registro de operações
Também é obrigatório que seja estruturado um registro com todos os dados das
operações. Assim como a identificação de clientes, a definição do que deve ser
contemplado no registro é definida pelo regulador. Abaixo segue um exemplo simples
de formulário para registro de operações, mas lembre-se sempre de observar o que o
regulador determina como registro mínimo para seu setor.
Com base nestes dados, é possível observar alguns “sinais de alerta” de lavagem de
dinheiro, tais como pagamento de grandes valores em dinheiro vivo, recebimento ou
pagamento em nome de terceiros, fracionamento de valores para burlar os controles
de PLD etc.
40
4.7.4 Procedimentos para monitoramento de operações
Como vimos antes, o monitoramento, além de ajudar a mitigar o risco das operações,
constitui-se em verdadeira ferramenta para a tomada de decisões, tanto em relação
à manutenção da relação negocial quanto às comunicações ao COAF.
Tome Nota
Não se esqueça: o monitoramento não é o fator determinante na decisão pela
comunicação de operações ao COAF, e sim subsídio para sua tomada de deci-
são.
Antes de tudo, é bom saber que orientações para registro de comunicações, o passo
a passo mesmo, está disponível no site do COAF, consultando os itens G, H e I das
Perguntas Frequentes.
42
Mas, e as comunicações suspeitas?
Bem, estas demandam uma análise detalhada da situação, pois deverão ser reali-
zadas com base em fatos que possam constituir-se em sérios indícios dos crimes
previstos nesta lei, ou com eles relacionar-se. Isso porque tais informações poderão
ser utilizadas nos Relatórios de Inteligência Financeira (RIFs) enviados pelo COAF às
autoridades competentes, ou seja, podem virar objeto de investigação. Assim, é de
grande importância que sejam bem fundamentadas, e que os fatos que levaram à
decisão de comunicar estejam registrados de forma clara na comunicação, no campo
Informações Adicionais, de modo a subsidiar as atividades de prevenção à lavagem
de dinheiro.
Por isso, é interessante que a empresa, além de treinar toda a equipe, tenha uma
pessoa (ou um grupo) responsável pelas atividades de conformidade com as regras
de prevenção de lavagem de dinheiro e de financiamento do terrorismo, treinada
para identificar e estabelecer ações para prevenção, tratamento e comunicação de
operações financeiras que apresentem risco de lavagem de dinheiro ou financiamento
ao terrorismo.
43
Tome Nota
Nas grandes empresas, esse funcionário é chamado de analista de complian-
ce (conformidade).
Com base neste conhecimento, resta à pessoa obrigada decidir como vai sistematizar
as informações: criar regras internas? Um manual? Publicar instruções?
Pois é, as pessoas obrigadas são fiscalizadas e se, por um acaso, for observado
que alguma dessas obrigações não é cumprida, elas serão responsabilizadas
administrativamente. Isto significa que poderão responder a Processo Administrativo
Punitivo.
44
Importante
No caso específico, a pessoa obrigada não vai ser submetida a
um processo judicial e responder pelo crime de lavagem de
dinheiro; isso seria um processo criminal, de competência da
Justiça. No presente caso, ela vai responder somente pelo não
atendimento às exigências da Lei de Lavagem.
Sanções
I – advertência;
b) ao dobro do lucro real obtido ou que presumivelmente seria obtido pela realização da
operação; ou
III – inabilitação temporária, pelo prazo de até dez anos, para o exercício do cargo de adminis-
trador das pessoas jurídicas referidas no art. 9º;
45
O Processo Administrativo Punitivo, assim, pode ter como conclusão uma dessas
sanções previstas acima. No caso das pessoas obrigadas supervisionadas pelo
COAF, quem toma as decisões nesse processo é o plenário do COAF (lembre-se de
que já falamos sobre os órgãos que compõem o Conselho).
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Encerramento
Chegamos ao final do curso!
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Glossário
Arranjos de pagamento: segundo definição do Banco Central do Brasil (Bacen), um
um arranjo de pagamento é o conjunto de regras e procedimentos que disciplina
a prestação de determinado serviço de pagamento ao público. Já o serviço de
pagamento disciplinado no âmbito do arranjo é o conjunto de atividades que pode
envolver aporte e saque de recursos, emissão de instrumento de pagamento, gestão
de uma conta que sirva para realizar pagamento, credenciamento para aceitação de
um instrumento de pagamento, remessa de fundos, dentre outras listadas no inciso
III do Art. 6º da Lei nº 12.865, de 9 de outubro de 2013.
O arranjo em si não executa nada, mas apenas disciplina a prestação dos serviços.
Contudo, instituições de pagamento são pessoas jurídicas não financeiras que
executam os serviços de pagamento no âmbito do arranjo e que são responsáveis
pelo relacionamento com os usuários finais do serviço de pagamento.
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Unidade de Inteligência Financeira:
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Referências
BACEN – BANCO CENTRAL DO BRASIL. Glossário completo. [s.l.]: [s.d.].
Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/glossario.asp?Definicao=1441&
idioma=P&idpai=GLOSSARIO>. Acesso em: 29 jun. 2015.
FATF/GAFI. How much money is laundered per year? Paris: FATF/GAFI, [s.d.]. Disponível
em: <http://www.fatf-gafi.org/faq/moneylaundering/#d.en.11223>. Acesso em: 24
jun. 2015.
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