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Resumo:
O presente trabalho teve como objetivos sintetizar o difenilacetileno a partir de
duas reações sucessivas de eliminação em estereoisómeros de dibromoestilbeno
correspondentes à estrutura meso e comparar os resultados obtidos pela turma. Os
dados foram obtidos pela medição da massa de dibromoestilbeno utilizada, pela
medição da massa de difenilacetileno sintetizada, pela medição dos pontos de fusão e
pela realização dos espetros de infravermelho do reagente e do produto de reação.
Concluiu-se que um dos métodos mais úteis para a formação de alcinos é através da
eliminação de dois moles de haleto de hidrogénio (di-desidrohalogenação) de um alcano
di-halogenado, que a reação de di-desidrohalogenação é composta por duas reações
de eliminação E2 que são facilitadas pela presença de grupos se substituintes H e Br
em posição anti e também se concluiu que a utilização de enantiómeros oticamente
ativos possibilita uma reação de di-desidrohalogenação mais rápida e energeticamente
mais baixa que a reação de di-desidrohalogenação que se inicia com uma estrutura
meso.
Introdução:
Um dos métodos mais úteis para a formação de alcinos é através da eliminação
de dois moles de haleto de hidrogénio (di-desidrohalogenação) de um alcano di-
halogenado. Sendo que a reação é executada sobre o dibromoestilbeno, que constitui
um composto dibromado.
Para que a reação de eliminação ocorra de forma mais rápida e fácil, os átomos
H e Br devem apresentar-se na configuração anti para formar o alceno e posteriormente
o alcino (Figuras 1. e 6.). Para esta reação, usa-se o hidróxido de potássio como base
e o etilenoglicol (1,2-dihidroxietano) como solvente de alto ponto de ebulição. Na
presença de uma base forte e na temperatura de aproximadamente 200ºC o
dibromoestilbeno sofre uma eliminação do tipo E2 para formar de uma ligação tripla [1].
O solvente de alto ponto de ebulição é necessário porque a segunda reação de
eliminação de H-Br a partir do alceno requer mais energia. Como é possível observar
que nesta segunda eliminação, o H e o Br já não estão em posição anti, o que torna a
reação mais difícil devido à maior repulsão eletrónica entre o grupo Br e o OH- [2].
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Figura 1- Mecanismo de di-desidrohalogenação do dibromoestilbeno.
É denominada eliminação tipo E2, pois "E" significa eliminação enquanto "2"
indica que essa é uma reação bimolecular, ou seja, sua velocidade depende das duas
moléculas que participam da reação, depende da concentração do substrato
(geralmente um haleto de alquilo), que neste caso é o dibromoestilbeno e depende
também da concentração de base utilizada (KOH). Após remover o grupo substituinte H
os eletrões que o hidrogênio compartilhava com o carbono se rearranjam, movendo-se
na direção do carbono alfa. Ao fazerem esse rearranjo o grupo substituinte Br é
eliminado, como se demonstra na Figura 1. [3]
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Enantiómeros de dibromoestilbeno:
Montagens:
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Figura 7. Montagem de refluxo.
Materiais e Reagentes:
• 2 caixas de Petri; • 2 Erlenmeyers de 250 mL;
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• 2 Erlenmeyers de 50 mL; • Estufa;
• 2 garras; • FTIR;
• 2 gobelés de 250 mL • Funil de vidro;
• 2 gobelés de 50 mL; • Garrafa de esguicho.
• 2 mangueiras; • Gelo/Água;
• 2 suportes universais; • Hidróxido de potássio;
• 2 Tinas de vidro; • Manta de aquecimento e
• 3 funis de Buchner; agitação;
• 3 Guckos; • Medidor de pontos de fusão;
• 3 Kitasatos; • Papel de filtro;
• 4 espátulas; • Pastilhador.
• Água destilada; • Pipeta de Pasteur;
• Anel de cortiça; • Placa de aquecimento;
• Argola de metal; • Proveta de 10 mL;
• Balão de fundo redondo de 100 • Proveta de 30 mL;
mL; • Recipiente para filtração a
• Barra de agitação de 2 cm; quente;
• Brometo de potássio; • Solução de etanol;
• Condensador de refluxo; • Solução de Etileno glicol;
• Elevador; • Vareta;
Procedimento:
Colocou-se aproximadamente 3 g de hidróxido de potássio num balão de fundo
redondo de 100 mL e adicionou-se 30 mL de etilenoglicol e uma barra de agitação
magnética. Agitou-se a mistura em aquecimento até que dissolvesse a maioria do
hidróxido de potássio. Adicionou-se 2,0029 g de dibromoestilbeno no balão e conectou-
se um condensador de refluxo refrigerado no balão.
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Quando a cristalização se apresentou completa realizou-se a filtração a vácuo
para recolher os cristais e deixou-se secar ao ar (caixa de Petri, tapada) até à aula
seguinte. Também foram recolhidos os líquidos filtrados a vácuo que se encontravam
nos dois kitasatos e deixou-se efetuar a cristalização em ambos para que os cristais
contidos nestes fossem recolhidos. Em aulas seguintes procedeu-se à filtração a vácuo
de apenas o líquido filtrado na segunda filtração a vácuo guardado, a determinação da
massa de cristais de difenilacetileno, do rendimento de reação, do ponto de fusão e dos
espectros de infravermelho.
Observações:
Após a adição de 3 gramas de hidróxido de hidróxido de potássio na solução de
30 mL de etilenoglicol em aquecimento e agitação, a mistura tornou-se turva com uma
coloração alaranjada. Ocorreram perdas de massa na transferência dos 2,0029 gramas
de dibromoestilbeno (2,0029 g dos quais cerca de 1,200 g foram obtidos pelo nosso
grupo no trabalho anterior e a restante massa pelos grupos dos anos anteriores) devido
à utilização de um funil estreito e de um vidro de relógio, em vez de um gobelé.
Medições:
Massa de dibromoestilbeno: 2,0029 g
Ponto de fusão do dibromoestilbeno: 235 ºC
Massa de difenilacetileno + caixa de Petri + papel de filtro = 85,6969 g
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Massa de caixa de Petri + papel de filtro = 85,5781 g
Massa de difenilacetileno = 85,6969 - 85,5781 = 0,1188 g
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Resultados:
Rendimento de reação:
𝑀𝑎𝑠𝑠𝑎 𝑑𝑒 𝑑𝑖𝑓𝑒𝑛𝑖𝑙𝑎𝑐𝑒𝑡𝑖𝑙𝑒𝑛𝑜 𝑜𝑏𝑡𝑖𝑑𝑎
𝜂= × 100
𝑀𝑎𝑠𝑠𝑎 𝑑𝑒 𝑑𝑖𝑓𝑒𝑛𝑖𝑙𝑎𝑐𝑒𝑡𝑖𝑙𝑒𝑛𝑜 𝑡𝑒ó𝑟𝑖𝑐𝑎
Dibromoestilbeno Difenilacetileno
Massa molar (g/mol) 340,059 178,24
Massa (g) 2,0029 X
Massa de
0,4148 1,2384* 0,2397 0,3205 0,3924 0,2003
produto (g)
Rendimento
39,51 117,96* 22,87 29,72 37,18 18,95
(%)
Ponto de fusão 60,0- 60,5- 60,6- 59,0-
64,0 62,5
(ºC) 63,0 62,3 62,8 59,5
*Cristais não secos.
Discussão de Resultados:
Analisando os dados obtidos na Tabela 1., conclui-se que a reação de di-
desidrohalogenação do dibromoestilbeno possui um rendimento baixo para todos os
grupos, exceto para o grupo 2 do turno 1 que não realizou a pesagem dos cristais
obtidos secos, possuindo assim um rendimento acima dos 100%. O grupo 4 do turno 1
não obteve cristais de difenilacetileno pelo facto de terem realizado sucessivas filtrações
com vácuo muito intenso que provocou a rotura do papel de filtro e a contaminação dos
cristais com papel no fluido do Kitasato.
O nosso grupo (PL1 G1) obteve o maior valor de rendimento, apesar das perdas
de massa de dibromoestilbeno durante a transferência deste para o balão de destilação,
porque permitimos a cristalização lenta por uma semana do difenilacetileno contido nos
fluídos filtrados da primeira e da segunda filtração a vácuo e procedemos à recolha dos
mesmos a partir da filtração a vácuo do fluído que continha uma quantidade de cristais
satisfatória (fluído resultante da segunda filtração).
O rendimento poderia ter sido superior se ocorressem apenas perdas mínimas
de reagente nos processos de transferência e se tivéssemos utilizado o cis-estilbeno na
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experiência de síntese do dibromoestilbeno, uma vez que esta resultaria na síntese de
isómeros oticamente ativos. Na Figura 6. verifica-se que a utilização de isómeros
oticamente ativos de dibromoestilbeno resultaria numa reação de desidrohalogenação
mais rápida, pois estes possuem dois grupos substituintes H em posição anti com dois
grupos substituintes Br.
A estrutura meso (Figuras 2. e 3.) possui apenas um grupo substituinte H em
posição anti com um grupo substituinte Br, que resulta numa primeira eliminação E2
rápida e numa segunda eliminação E2 lenta, pois nesta segunda eliminação forma-se
um composto com os grupos substituintes H e Br voltados para o mesmo lado da
molécula. Ao estarem voltados para o mesmo lado da molécula, de forma a eliminar o
grupo substituinte Br a molécula de OH- terá de remover o grupo H pelo lado com maior
repulsão eletrónica resultante dos eletrões não ligantes de Br.
Apesar de ser mais vantajoso ao nível do rendimento reacional começar a reação
com os isómeros oticamente ativos de dibromoestilbeno (RR e SS), resultantes da
bromação do cis-estilbeno, utilizou-se os isómeros correspondentes à estrutura meso
(RS e SR), pois estes resultam apenas da bromação de trans-estilbeno. Não utilizamos
o cis-estilbeno porque este isomerizaria em trans-estilbeno, que é a estrutura mais
estável entre os dois, formar-se-ia uma mistura dos pares de enantiómeros de
dibromoestilbeno (RS e SR, SS e RR) na reação de bromação (anterior à analisada
neste trabalho) e obter-se-ia um ponto de fusão e um espectro com caraterísticas
intermédias dos componentes desta mistura, visto que os pares de diastereoisómeros
possuem propriedades físicas diferentes.
Em resumo não utilizamos os isómeros oticamente ativos de dibromoestilbeno
como reagentes na reação de desidrohalogenação, pois isso requereria que tivéssemos
realizado a bromação do cis-estilbeno na experiência anterior, que formaria uma mistura
de todos os enantiómeros que invalidaria a medição de pontos de fusão e de espetros
de infravermelho requeridos nesta experiência anterior à nossa.
Os pontos de fusão obtidos na Tabela 1. variam em torno do valor teórico de
62,5 ºC. O nosso grupo PL1 G1 e o grupo PL2 G3 possuem os valores de pontos de
fusão mais afastados do valor teórico que indicam a presença de impurezas nos cristais
obtidos.
Analisando os espetros de infravermelho do dibromoestilbeno e do
difenilacetileno (Figuras 10. é 11.) é possível observar uma curvatura de bandas de
comprimento caraterísticas da ligação OH, resultantes da presença de impurezas nos
cristais com ligações OH, como o etilenoglicol utilizado como solvente de elevado ponto
de ebulição que não evaporou na estufa durante o intervalo de tempo de obtenção de
cristais de difenilacetileno e de obtenção do espetro. Outro composto que poderia estar
a contaminar a solução seria o etanol de limpeza do pastilhador. O dibromoestilbeno
utilizado resultou de uma mistura do composto sintetizado pelo nosso grupo e pelos
grupos dos anos anteriores que poderia ter absorvido humidade e possuírem impurezas.
Comparando os dois espectros verifica-se que ainda existem resíduos de
dibromoestilbeno e de compostos intermédios resultantes da primeira reação de
desidrohalogenação de dibromoestilbeno (Figura 6.), que explicam em parte a diferença
do ponto de fusão obtido com o teórico. No espectro do difenilacetileno (Figura 11.)
observa-se um pico de absorvância no comprimento de onda de 650 cm-1 característico
da ligação C-Br, ainda que este pico seja menor que o observado no dibromoestilbeno.
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Conclusões:
• Um dos métodos mais úteis para a formação de alcinos é através da eliminação
de dois moles de haleto de hidrogénio (di-desidrohalogenação) de um alcano di-
halogenado.
• A reação de di-desidrohalogenação é composta por duas reações de eliminação
E2 que são facilitadas pela presença de grupos se substituintes H e Br em
posição anti.
• A utilização de enantiómeros oticamente ativos possibilita uma reação de di-
desidrohalogenação mais rápida e energeticamente mais baixa que a reação de
di-desidrohalogenação que se inicia com uma estrutura meso.
Bibliografia:
[1] Dana W. Mayo, Ronald M. Pike, David C. Forbes. Microscale Organic
Laboratory: with Multistep and Multiscale Syntheses. Pp 450-453.
[2] Double Elimination Reaction – Synthesis of Diphenylacetylene)
https://chemistry.sites.clemson.edu/organic/Labs/2270Docs/Stilbene2.pdf
Acedido a: 9 de dezembro de 2018.
[3] BRUICE, Paula Yurkanis. Química Orgânica. 4. ed. São Paulo: Pearson Prentice
Hall, 2006.
[4] Lide, CA; Smith, DS; Cotter, RJ "Difenilacetileno". Síntese Orgânica.; Volume
Coletivo, 4, p. 377.
[5] Chirality and Stereoisomers, 2016.
https://chem.libretexts.org/Textbook_Maps/Organic_Chemistry/Supplemental_
Modules_(Organic_Chemistry)/Chirality/Chirality_and_Stereoisomers. Acedido
a: 9 de dezembro de 2018.
[6] Fernandes, R.F., (2014) Estereoisómeros, Rev. Ciência Elem., V2(4): pp.311.
[7] Diastereomers, 2016. Acedido a: 9 de dezembro de 2018.
https://chem.libretexts.org/Textbook_Maps/Organic_Chemistry/Supplemental_
Modules_(Organic_Chemistry)/Chirality/Diastereomers
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Anexo:
Hidróxido de potássio – KOH:
✓ Massa Molar: 56,105 g/mol;
✓ Densidade: 2,04 g/cm3;
✓ Solubilidade: Solúvel em álcool, glicerol; insolúvel em éter e amónio;
✓ Ponto de fusão: 360 °C;
✓ Ponto de ebulição: 1320 °C;
✓ H302, H314;
✓ P280, P305+351+338, P310.
Etanol – C2H5OH:
✓ Massa Molar: 46,06 g/mol;
✓ Densidade: 0,789 g/cm3;
✓ Solubilidade em água: miscível;
✓ Ponto de fusão: - 114,3 °C;
✓ Ponto de ebulição: 78,35 °C;
✓ S2, S7, S16;
✓ R11.
(R,S)-1,2-dibromo-1,2-difeniletano – C14H12Br2:
✓ Massa Molar: 340,058 g/mol;
✓ Ponto de fusão: 237 – 241 °C;
✓ Ponto de ebulição: 324 °C;
✓ Densidade: 1,613 g/cm3;
✓ H302, H314, H315, H314;
✓ P260, P264, P270, P280, P301+P312+P301+P330+P331, P302+P352, P303,
P361, P353, P304+P340, P305+P351+P338, P310, P321, P330, P332+P313,
P337+P313, P313, P362, P363, P405 e P501.
Difenilacetileno C14H10:
✓ Massa Molar: 178,24 g/mol;
✓ Densidade: 0,990 g/cm3;
✓ Ponto de fusão: 62,5 °C;
✓ Ponto de ebulição: 170 °C;
✓ Solubilidade: Insolúvel.
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