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CASO CLÍNICO
Criança do sexo masculino, doze
anos de idade, sem antecedentes pesso-
ais de relevo, com antecedentes familia-
res maternos de enxaqueca. Recorre ao
Serviço de Urgência (SU) por cefaleias
__________ Figura 1 - Radiografia de crânio evidenciando Figura 2A - TC-CE com evidência de sinusite
1
Serviço de Pediatria do Hospital do Divino sinusite frontal esquerda. etmoidal.
Espírito Santo, Ponta Delgada
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aeróbios, estando presentes em exame mo mortais2. Como tal é importante que plicações supurativas intra-cranianas;
directo bacilos Gram+ e Gram-. o Pediatra esteja alerta para a clínica e igualmente provada a predominância no
Por agravamento do quadro neu- imagem associadas ao empiema intra- sexo masculino e na adolescência(9).
rológico realiza nova TC-CE, agora com craneano sinogénico de forma a permitir Neste caso a sinusite surge num
maior edema cerebral e colecção falcifor- diagnóstico e terapêutica atempadas. adolescente cujo surto de crescimento
me infradjacente à calote em relação com Envolvem mais frequentemente a favorece a disseminação hematogénea
provável osteomielite, edema palpebral órbita e/ou o Sistema Nervoso Central, dos êmbolos sépticos.
pré-septal e sinusite etmoidal esquerda. manifestando-se em graus tão variados Os agentes mais frequentes in-
Transferido para Unidade de Cuida- que se estendem desde a celulite peri-or- cluem bactérias anaeróbias e aeróbias,
dos Intensivos (UCI) por bradicárdia, hi- bitária até à trombose do seio cavernoso, com predomínio ao Streptococcus, Sta-
pertensão e instabilidade neurológica. empiema subdural e abcesso cerebral(2). phylococcus, Enterococcus e Bacterioi-
Ao oitavo dia de doença realiza “Pott’s Puffy tumor” é uma entidade des sp(2).
nova TC-CE que evidencia maior hernia- inicialmente descrita por sir Percival Pott, O diagnóstico exige elevada suspei-
ção sub-falciana e nesse mesmo dia ini- definida como tumefacção mole frontal(3) ção clínica e o auxílio de meios comple-
cia quadro convulsivo, do hemicorpo drtº que traduz irritação meníngea. Trata-se mentares de diagnóstico como a TC-CE e
e midríase à esquerda, com hemiplegia de uma colecção abcedada supradjacen- Ressonância Magnética Nuclear (RMN).
direita pós ictal. te a osteomielite(4). As causas são várias A cintigrafia poderá ser útil na detecção e
É realizada trepanação coronal es- sendo a mais comum a sinusite frontal, diagnóstico de osteomielite(2).
querda com drenagem do empiema sub- mas também a etmoidal, o traumatismo A terapêutica passa por craniecto-
dural e lavagem. de crânio, a radioterapia e transplante mia urgente com remoção do abcesso
Inicia vancomicina em perfusão e capilar(5). e do osso lesado o mais precocemente
fenitoína. A maior frequência de infecção possível; excepção feita ao doente com
Ao quarto dia pós-operatório man- intra-craneana na adolescência deve-se pequeno abcesso subperiósteo, no qual
tém parésia membro superior direito e segundo Kaplan a uma maior irrigação se deve iniciar terapêutica mantendo
afasia de emissão. sanguínea e fluxo pelo sistema diplóico vigilância apertada da sua acuidade vi-
À data de alta completa 19 dias de avalvular e crescimento dos seios fron- sual e estado de consciência(1,2). A anti-
Ceftriaxone, 19 dias de metronidazol, 11 tais que tornam a parede mais fina. A es- bioterapia, segundo as recomendações
dias de vancomicina e está em desmame tes factores de risco associam-se ainda para terapêutica da sinusite aguda e
gradual de fenitoína, ainda com parésia possíveis defeitos ósseos (congénitos ou suas complicações da Academia Ame-
do membro superior direito. adquiridos) que permitem a penetração ricana de Pediatria, inclui cefotaxime
da infecção através do crânio(2). ou ceftriaxone e vancomicina endo-
DISCUSSÃO venosos, ajustada segundo resultados
As complicações supurativas da Em alguns estudos o seio frontal culturais e prolongada, em média, por 6
sinusite embora raras, podem ter seque- foi mesmo definido como o principal ca- a 8 semanas(4, 7).
las neurológicas devastantes e até mes- talizador e denominador comum às com- A drenagem sinusal está indicada
Figura 2B - TC-CE com evidência de sinusite Figura 2C - TC-CE: fina lâmina epidural fronto Figura 2D - TC-CE: evidênciando presença
frontal. temporal esquerda em relação com colecção de bolhas na colecção suprajacente à calote
suprajacente à calote compatível com empiema
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sempre que exista complicações intracra- POTT’S PUFFY TUMOR 4. Bağdatoğlu C, et al. “A rare clinical
neana ou orbitaria de doença sinusal(8). CASE REPORT entity: Pott’s Puffy tumor – a case
Neste caso em particular a protela- report”, Pediatr Neurosurg. 2001; 34:
ção da craniectomia tendo em vista uma ABSTRACT 156.
maior estabilização do doente condicio- Osteomielitis of the frontal bone, 5. Koch S E, Wintroub B U. “A clinical
nou isquémia cerebral e convulsões tó- otherwise known as Pott’s pufft tumor, is marker for osteomyelitis of the skull”
nico-clónicas com hemiparésia sequelar. a rare complication of frontal sinusitis. It Arch Dermatol. 1985; 121: 548.
A drenagem sinusal não foi considerada affects mainly adolescents and present- 6. Bambakidis N C, Cohen A R. “In-
prioritária para a resolução do quadro ing symptoms are usually of meningeal tracranial Complications of frontal si-
uma vez que se mantinha algum areja- involvement, which may be insidious. nusitis in children: Pott’s Puffy tumor
mento dos seios perinasais. We report the case of a 12 year-old Revisited”; Pediatr Neurosurg. 2001;
Recomenda-se, sempre que pos- boy with an atypical presentation. 35: 82-3.
sível, a intervenção precoce com drena- Keywords: Pott’s Puffy Tumor; si- 7. “Clinical practice guideline: manage-
gem do empiema como forma de preve- nusitis ment of Sinusitis”, Pediatrics. 2001;
nir eventuais sequelas neurológicas ou 108 (3): 806.
agravamento clínico(2). Nascer e Crescer 2010; 19(2): 78-80 8. Lieser J D et Derkay C S. “Pediatric
A mortalidade elevada, atingindo os sinusitis: when do we operate?”, Cur-
12%(4), ocorre por aumento da pressão rent Opinion in Otolaryngology & Head
intra-craneana e herniação transtento- BIBLIOGRAFIA and Neck surgery. 2005; 13: 64.
rial, trombose, isquémia e sépsis, mas 9. El-Hakim H, Malik A C, Aronyk K, Ledi
também os défices neurológicos condi- 1. Bambakidis N C, Cohen A R. “Intra- E, Bhargava R. “The prevalence of
cionam uma considerável morbilidade a cranial Complications of frontal si- intracranial complications in pediat-
longo prazo(2). nusitis in children: Pott’s Puffy tumor ric frontal sinusitis”, Intern. Journal of
Revisited”, Pediatr Neurosurg. 2001; Pediatric Otorhinolarngology. 2006;
CONCLUSÃO 35: 82-3. 70: 1383-7.
O diagnóstico precoce é de extrema 2. Germiller J A MD, PhD et al. “Intracra-
importância na orientação terapêutica do nial complications of sinusitis in chil-
Pott’s Puffy Tumor pela alta mortalidade dren and adolescents and their out- CORRESPONDÊNCIA
e morbilidade. O tumor mole craneano comes”, Arch Otolaryngol head and Ana Raquel Ramalho
necessita como tal de despertar a sus- neck surg. 2006; 132: 969-76. R. Rodrigo Rodrigues, 36, 2º esq-sul
peita do Clínico de modo que a história, 3. Potts P. “Observations on the nature 9500-180 Ponta Delgada
exame físico e exames complementares and consequences of wounds and Tlm: (+351) 966 131 745
de diagnóstico permitam orientação e in- contusions of the head, etc.”. London, ana.raquel.ramalho@gmail.com
tervenção rápidas e adequadas. 1760; 38-58.
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