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Resumo 1 - História Econômica e Financeira

“Why the industrial revolution was British: commerce, induced invention, and the scientific
revolution”, de R. C. Allen

Como o título do artigo sugere, R. C. Allen tenta mostrar o que teria causado a primazia britânica na
revolução do industrial do século XVIII. A parte central de seu argumento está na estrutura inglesa de
preços e salários herdada do comércio mercantilista e imperialista, que seria única quando comparada
com o continente Europeu e a Ásia. Salários altos e energia barata induziam a substituição da mão-de-
obra assalariada por capital e energia. Ou seja, apenas na Grã-Bretanha, com sua particular estrutura de
preços e salários, havia incentivos a pesquisa e desenvolvimento de novas e lucrativas tecnologias de
produção intensiva em capital.
Em uma breve revisão histórica, retoma-se a antiga discussão nas ciências sociais sobre os porquês de
ser a revolução industrial inglesa. Muitas pesquisas recentes têm enfatizado o papel de fatores não-
econômicos, como instituições legais (Constituição) e cultura. No entanto, ainda que esses fatores
tenham contribuído de alguma forma, Allen defende e enfatiza a importância de incentivos econômicos
como causas da revolução. Inicialmente, para embasar o argumento, os dados sobre a estrutura inglesa
de preços e salários são colocados em perspectiva mundial nos anos anteriores à revolução. Observamos
que: (i) na taxa de câmbio, os salários britânicos eram superiores; (ii) os maiores salários em prata eram
traduzidos em melhor padrão de vida na Inglaterra; (iii) os salários ingleses eram altos em relação aos
preços do capital; e (iv) os salários em algumas regiões britânicas eram excepcionalmente altos em
relação ao preço da energia. Portanto, ter-se-ia aqui uma particularidade britânica.
Mas por quê? Por que a estrutura de salários e preços na Inglaterra era diferente? Allen se apoia em dois
fatores: o sucesso do país na economia global, como resultado, em parte, da política estatal, e a geografia,
que dava aos britânicos vastas e acessíveis reservas de carvão mineral. Desenvolvendo o primeiro fator,
observa-se que, além da Inglaterra, os Países Baixos também possuíam altos salário real e padrão de
vida, em relação aos demais países europeus e asiáticos. Essa performance superior se daria em razão
do boom de comércio internacional. Começando no século XVI, esses países sofreram intensas
transformação estruturais em suas economias e sociedades, principalmente com a redução da proporção
de mão-de-obra utilizada na agricultura – ou seja, começava o processo de urbanização. Mesmo com a
aumento da população no período, graças ao grande volume de comércio internacional, Inglaterra e
Países Baixos conseguiram manter (e até mesmo aumentar) o nível dos salários.
Já com o outro fator, as reservas britânicas de carvão mineral, podemos entender por que os Países
Baixos ficaram para trás no século XVIII. Além de abundante, o carvão mineral era uma fonte de energia
barata em relação aos salários britânicos, o que contribuía para o aumento da demanda por tecnologias
de produção que utilizasse a energia como força motriz. A energia barata também contribuiu para a
queda dos preços dos serviços de capital, já que barateava a produção de metais e tijolos. No entanto,
ainda que uma fonte “natural” de energia barata, a indústria do carvão não foi um fenômeno “natural”.
Desde a Idade Média já se minerava carvão na Inglaterra. Quando começou a expansão das cidades
inglesas no século XVI, como Londres, com o comércio internacional, a oferta de carvão era quase que
ilimitada quando comparada à de outras fontes de energia, como madeira e carvão vegetal, que
implicavam grandes custos de transporte. Essa oferta abundante foi ao encontro da demanda de insumos
da crescente indústria urbana, impulsionando seu desenvolvimento. No continente, e em especial, nos
Países Baixos, o carvão vegetal esteve quase que completamente ignorado até o século XIX. Ou seja,
apesar dos salários mais altos, não havia energia mais barata para incentivar a demanda por novas
tecnologias de produção. Allen chega a sugerir que se a indústria de carvão no continente fosse tão
desenvolvida como a britânica no século XVI, com as explorações das reservas em Ruhr, talvez pudesse
ter ocorrido a primazia holandesa-germânica na revolução industrial.
Por fim, argumenta-se que a economia britânica de altos salários e energia barata foi determinante no
desenvolvimento e caráter das mudanças tecnológicas. Se uma nova invenção só existe com um
momento de “inspiração”, de um “eureka”, o fator que a impulsiona e garante sua concretização é a
garantia de sua utilidade. Assim, ainda que a “inspiração” possa não ser economicamente condicionada,
pesquisa e desenvolvimento, que garantem a utilidade, o são: a decisão de incorrer em custos para
operacionalizar uma ideia técnica é de origem econômica. Allen defende que a relação de preços e
salários na Inglaterra impulsionou o a pesquisa e o desenvolvimento de tecnologias de produção. Como
salários eram altos e energia, barata, era lucrativo investir em novas tecnologias para a substituição da
mão-de-obra. Além do incentivo ao investimento, uma vez desenvolvida, a adoção de uma nova
tecnologia também implica em custos. E esses custos, mais uma vez, era compensados apenas na
Inglaterra, com sua particular estrutura de preços e salários. Somente no fim do século XIX, com a
redução dos custos das novas tecnologias (graças a pesquisa e desenvolvimento na Inglaterra ao longo
dos anos) e a modificação dos salários e preços nos demais países, que a “revolução industrial” tornar-
se-á rentável no resto da Europa, em países como França e Alemanha.

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