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Instituto de Tecnologia

Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo


Disciplina: Paradigmas do Pensamento Arquitetônico
Docente: Profª Drª Ana Kláudia Perdigão
Aluno: João Bosco Silveira da Silva
Abril de 2015

Tema transversal: ORDEM

Textos escolhidos:

01. “Princípios de ordem projetual na obra de Vitrúvio” - Leandro Manenti

02. “Caos e ordem: origens, desenvolvimentos e sentidos do conceito de tipologia


arquitetônica” - Milton Vitis Feferman

03. “Sistemas arquitetónicos contemporâneos – Las formas del caos: fractales, pliegues y
rizomas” - Josep Maria Montaner

Abordagem da ordem nos três textos escolhidos.

01. “Princípios de ordem projetual na obra de Vitrúvio” - Leandro Manenti


Com o objetivo de investigar os princípios da ordem projetual, o autor inicia com as
definições de dicionários para encontrar em Aristóteles a influência em Vitrúvio: a busca das
causas das coisas, seus princípios e relação entre as partes.
A ordem é essência, princípio de todas as coisas, e o artista (sábio) é mais do que o
artesão (homem de experiência).
Eis a grande influência na obra de Vitrúvio: o arquiteto deve, antes de tudo, baser sua
formação na educação Greco-Helenídtica para as artes liberais. Os princípios de Arquitetura
são uma reinterpretação ou adaptação dos conceitos clássicos (influência de Aristóteles).
Definiu seis princípios (causas da coisa arquitetônica): ordenamento (táxis), disposição
(diathesis), simetria, decoro e economia.
Da operacionalidade desses princípios, chega-se ao PARTIDO ARQUITETÔNICO que tem
na ORDEM um sistema de relação entre as partes (seleção de módulos para se construir o
todo).

“Caos e ordem: origens, desenvolvimentos e sentidos do conceito de tipologia arquitetônica” -


Milton Vitis Feferman
Num período de análise posterior ao texto anterior, o autor realça a importância da
“semelhança” na construção do saber: ele tornava inteligível o conhecimento das coisas
invisíveis e visíveis. Era somente assim que, no Renascimento, havia apenas duas fontes de
sabedoria: as escrituras sagradas e o conhecimento acumulado e preservado nas obras
clássicas.
Chega-se ao período do iluminismo com um novo saber: a experiência substitui a
semelhança, onde o controle do fazer, do experimentar, conduz ao conhecimento. É o
sensibilismo fazendo surgir o que se denominou de “nomenclatura”, criação de uma “tipologia”,
compreendendo o progresso das transformações dinâmicas de um determinado tipo funcional
(do mais simples ao mais complexo).
Assim, sequências de desenhos de exemplos arquitetônicos levaram a concluir que os
escritos clássicos de Vitrúvio não estavam corretos por não incorporarem ideais universais e
por seguirem aspectos práticos de acordo com os problemas enfrentados na hora da execução.
Essas sequências, gravadas pelos melhores artistas da época, podem ser consideradas como
as primeiras construções definidoras de uma dinâmica tipológica arquitetônica moderna.
O uso da geometria analítica e descritiva, levando à compreensão dos elementos não visíveis
como constituidores das características fundamentais de uma tipologia.
A “semelhança” vitruviana dava lugar a uma invenção tipológica.
“Sistemas arquitetónicos contemporâneos – Las formas del caos: fractales, pliegues y rizomas”
- Josep Maria Montaner
O imprevisível abarcando nossa existência é o que define o cerne do pensamento do autor,
levando-o ao conceito de caos, onde tudo flutua e põe em crise o desejo racional e moderno e
em dúvida todos os sistemas.
A tipologia caótica das grandes cidades (arranhas céus isolados e autônomos de um lado e, de
outro, favelas sem infraestrutura) revela algo sempre inacabado. É o caos contemporâneo
onde desaparecem todos os sistemas estabelecidos.
Surge o conceito da antirrepresentação: a lógica da desordem, da imprevisão, da
invidualidade, da transitoriedade, tudo indo de encontro à vontade da perfeição, do legal, da
representação e controle da esfera pública.
O pensamento geometrizante do passado dá lugar ao orgânico, onde os fractais são uma das
referências que servem de inspirações para exprimir o caos e são adotados pelas disciplinas
artísticas.

Pontos que convergem e pontos que divergem entre os autores.

A convergir, uma implícita necessidade de identificar um ponto de referência, uma base, para o
fazer arquitetônico (PARTIDO, TIPOLOGIA, HOMOTETIA).

A divergir, a concepção da ordem a partir da relação entre as partes classicamente definidas


em contraposição com a experiência que gera uma nova nomenclatura e as transformações
geométrica caóticas dos fractais.

A síntese interpretada pelos autores.


Para Vitrúvio, o conceito de PARTIDO toma junto os princípios ordinatio (ordem → táxis) e
dispositio (disposição → diathesis) como os seus geradores e introduz o conceito de matrizes a
partir de um espectro de combinações possíveis que, apresentados graficamente, possibilita a
tomada de decisão do fazer projetual.

A tipologia arquitetônica, tema de Feferman, é um sistema de apoio ao projeto e pode ser


trabalhado como um instrumento de composição livre de influências e definições culturais (o
estilo é um elemento externo e quase supérfluo). O binômio forma/funçao consagra-se como
sendo a primeira derivada da segunda.

A repetição infinita de um mesmo processo, no texto de Montaner, “homotetia interna” na


denominação de Mandelbrot, são maneiras de geometrizar o caos como os fractais (em suas
raízes científicas, um novo paradigma científico) ou as dobraduras (raízes estéticas e
filosóficas, sintonia entre a máquina e o organismo).

Conclusão

Lembrei-me durante a redação da atividade de uma entrevista do poeta Ferreira Gullar em que
ele fala do fazer diferente quando é feito depois, mesmo que seja a mesma coisa. Vale a pena
lê-lo em sua singeleza de exemplo e na literalidade de suas palavras:
“Não, ele pode ser o mesmo caminho, mas só que a forma dele não tem que ser exatamente
igual por que aquilo ali é um jogo de probabilidades. Eu costumo dizer, “A Divina comédia”
poderia não ter sido escrita, bastava o Dante ter morrido com quinze anos e não haveria
“Divina Comédia”. Tá certo? Segundo: podia ter sido escrita um pouco diferente do que está
ali, devido às circunstâncias da vida porque é assim que as coisas acontecem. Não há um Deus
que determine o que tem que ser feito, que é fatal…não existe isso. Eu tenho uma experiência
de um poema que eu escrevi pouco antes de eu ir pro exílio, eu escrevi o poema e quando eu
cheguei em Moscou, terminada a viagem, onde eu ia ficar, eu procurei o poema na maleta e
tinha perdido. Aí eu falei: Bom, eu vou escrever de novo, que eu não vou perder esse poema.
Aí eu escrevi poema de novo. Quando eu voltei do exílio, anos depois, eu achei o poema, o
primeiro. Era diferente do segundo.”.

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