SUMÁRIO

1. Definição........................................................................ 3
2. Epidemiologia............................................................... 3
3. Fisiopatogenia.............................................................. 4
4. Quadro clínico............................................................... 9
5. Diagnóstico.................................................................13
6. Tratamento..................................................................13
7. Acne da mulher adulta...........................................21
8. Erupções acneiformes.............................................23
Referências bibliográficas .........................................27
ACNE E ERUPÇÕES ACNEIFORMES
1. DEFINIÇÃO
A acne (ou acne vulgar) é uma doen-
ça multifatorial, inflamatória, imuno-
mediada e crônica que afeta a unida-
de pilossebácea, composta por uma
glândula sebácea bem desenvolvi-
da, com um grande ducto e um pelo
rudimentar.
Suas principais lesões são comedões,
pápulas, pústulas e lesões nodulo-
císticas, que podem surgir durante a
evolução e que, dependendo da in-
tensidade do processo inflamatório,
progridem estágios onde há o apare-
cimento de abscessos e cistos inter-
comunicantes, que frequentemente
deixam cicatrizes na pele.
2. EPIDEMIOLOGIA
As lesões surgem geralmente na pu-
berdade, quando se inicia a produção
dos hormônios sexuais, com pico de
prevalência entre 11 e 24 anos de
idade. A doença acomete quase to-
dos os jovens, de ambos os sexos.
Em alguns, as lesões são mínimas,
quase imperceptíveis, e assim per-
manecem durante toda a adolescên-
cia. Em outros, as lesões tornam-se
mais evidentes e polimorfas, de in-
tensidade variável, comprometendo a
qualidade de vida durante a adoles-
cência e desencadeando ou agravan-
do problemas emocionais que podem
se tornar extremamente graves. Na
ausência de tratamento adequado, a
3 ACNE E ERUPÇÕES ACNEIFORMES
acne persiste, em geral, até o final da
adolescência e, eventualmente, com
lesões isoladas, pode se manter du-
rante muitos anos.
As formas mais intensas de acne são
mais comuns no sexo masculino, po-
rém são mais persistentes no sexo
feminino, o que é explicado pela alta
frequência de distúrbios endócrinos,
sobretudo a síndrome do ovário po-
licístico (SOP). A fase de maior gra-
vidade costuma ocorrer por volta dos
17 ou 18 anos no sexo feminino e dos
19 a 21 anos de idade no sexo mas-
culino. Em relação ao caráter genético,
pode-se evidenciar maior índice de
acne em determinadas famílias, além
disso, estudos em gêmeos mostram
a concomitância de acne nos univite-
linos, o que não ocorre nos gêmeos
bivitelinos.
Estima-se que, no Brasil, a acne atin-
ja cerca de 11 milhões de pessoas.
Apesar de ser uma dermatose típica
da adolescência, indivíduos de ambos
os sexos e de todas as idades podem
apresentar algum grau de acne, inclu-
sive recém-nascidos (acne neonatal),
crianças (acne infantil ou pré-puberal)
e adultos (principalmente mulheres
jovens).
Aspecto relevante que tem sido des-
tacado na literatura é o impacto psi-
cossocial da doença em todas as
faixas etárias, e que pode ou não ser
diferente entre os gêneros. Por afe-
tar a aparência, influencia de forma
4
significativa nas relações pessoais e estreitamento e retenção de sebo
profissionais levando à baixa autoes- (comedogênese). O terceiro evento é
tima, frustação, raiva, vergonha, senti- identificado por colonização do duc-
mento de inutilidade, baixa satisfação to sebáceo pelo Propionibacterium
com o corpo, ansiedade, depressão e acnes. Por fim, é instaurado um pro-
até maior taxa de desemprego. cesso inflamatório.
3. FISIOPATOGENIA CONCEITO! Ceratose consiste no cres-
cimento anormal dos queratinócitos,
A instalação de lesões acneicas nos promovendo espessamento moderado
folículos pilossebáceos é marcada por ou excessivo da camada córnea
quatro eventos patogênicos funda-
mentais. O primeiro é caracterizado
A acne afeta preferencialmente as
pelo aumento da secreção sebácea
unidades pilossebáceas constituídas
(seborreia) decorrente da hiperpla-
por glândula sebácea grande, multi-
sia das glândulas sebáceas. O se-
lobulada com pelo rudimentar e fra-
gundo é determinado por ceratose
co que se localiza principalmente na
do canal folicular com consequente
face, no tórax e no dorso.
Pelo
Glândula
sebácea
Folículo
piloso
FOTOMICROGRAFIA DE
GLÂNDULA SEBÁCEA
Figura 1. Unidade Pilossebácea
ACNE E ERUPÇÕES ACNEIFORMES
O processo se inicia com a hiperse-
creção de sebo (seborreia) por efeito
hormonal. Ocorre uma resposta hi-
persecretória da glândula sebácea
ao estímulo de hormônio androgê-
nio circulante, por fatores genéticos
e constitucionais. Essas glândulas
apresentam várias enzimas, como
a 5α-redutase, 3β e 17β-hidroxies-
teroide desidrogenases, capazes de
metabolizar androgênios. Nas áreas
da pele suscetíveis a acne, as glân-
dulas sebáceas possuem níveis au-
mentados de α-redutase. Dessa for-
ma, transformam a testosterona em
di-hidrotestosterona (OHT), que é o
hormônio ativo, em maior intensida-
de, promovendo, assim, a seborreia.
É importante destacar que na maioria
das vezes não há um excesso de an-
drogênios circulantes. Em outras pa-
lavras, na maioria dos pacientes com
acne não existem endocrinopatias
subjacentes.
Pouco frequente, a seborreia está as-
sociada a síndromes marcadas por
aumento dos androgênios circulan-
tes, como ocorre na síndrome SAHA
(acrônimo de seborreia, alopecia, hir-
sutismo, acne), em síndromes virili-
zantes, na síndrome de Cushing e
como manifestação iatrogênica na
5 ACNE E ERUPÇÕES ACNEIFORMES
terapia com hormônios androgêni-
cos. Essas endocrinopatias somente
devem ser investigadas em situações
especiais como acne de início súbito
e grave, acne resistente à terapêuti-
ca, recidivas rápidas após tratamen-
tos adequados, sinais clínicos de hi-
perandrogenismo (irregularidades
menstruais, hirsutismo e hipersecre-
ção sebácea) e diante de apresenta-
ções clínicas incomuns, quantidade
anormalmente elevada de comedões,
intensa hipersecreção sebácea e acne
de início tardio e localização perioral.
A comedogênese tem início com a
retenção do sebo produzido pela
glândula, em função da obliteração
acroinfundibular por ceratose focal,
formando-se assim o comedão. No
início ocorre o microcomedão, invisí-
vel clinicamente, constituído por cor-
neócitos (células queratinizadas) acu-
mulados no infundíbulo. O aumento
contínuo dos corneócitos determina
a formação do comedão fechado ou
cravo branco, lesão esférica, similar
ao milium, com um orifício central di-
ficilmente visível. O acúmulo de cor-
neócitos e sebo, por hipersecreção,
ocasiona a formação do comedão
aberto ou cravo preto, com cor es-
cura na extremidade.
Poro selado por
pele
Comedo
Bactéria
Glândula
sebácea
Normal Cravo branco
Figura 2. Formação da Acne
CONCEITO! Milium são pequeninas
protuberâncias (cistos) em forma de cú-
pulas brancas ou amareladas encontra-
das sob a pele, geralmente de 1 a 2 mm
de tamanho. Aparece com mais frequ-
ência no rosto, ao redor das pálpebras e
bochechas. Pode ocorrer em pessoas de
todas etnias ou idades. Porém são mais
comuns em recém-nascidos.
Com a retenção de sebo, há multipli-
cação de microrganismos da superfí-
cie da pele. Sem dúvida, o principal é
o difteroide anaeróbio gram-positivo
Propionibacterium acnes, que com-
põe metade do microbioma da pele.
No entanto, outros microrganismos,
como Staphylococcus epidermidis e
6
Pus
Células Células brancas (células brancas e produtos
mortas invadindo a da reprodução bacteriana)
infecção
aberto Inflamação
Cravo preto Pápula Pústula
Malassezia spp., tem sua proliferação
aumentada.
O P. acnes produz lipases que atu-
am sobre os triglicerídeos que consti-
tuem o sebo produzido pelas glându-
las sebáceas. Esse processo resulta
na liberação de ácidos graxos livres,
que possuem capacidade irritativa à
parede folicular. A pressão do sebo
acumulado pode romper o epitélio fo-
licular, enquanto os ácidos graxos e a
proliferação dos microrganismos atu-
am na derme circunjacente. Assim, se
inicia o processo inflamatório, com
participação de linfócitos, neutrófilos,
macrófagos e linfocinas. O P. acnes,
na presença de linfócitos T CD4+, ati-
va os receptores Toll-like 2 dos mo-
nócitos e neutrófilos, provocando a
ACNE E ERUPÇÕES ACNEIFORMES 7

ACNE E ERUPÇÕES ACNEIFORMES 8

MAPA MENTAL FISIOPATOLOGIA DA ACNE

ADRENAIS/GÔNADAS HIPERCERATOSE
(PRODUÇÃO NORMAL) FISIOPATOLOGIA FOLICULAR

ANDROGÊNIOS MICROCOMEDÃO
CIRCULANTES
liberação de mediadores pró-inflama- imunológicos na patogenia da acne (TESTOSTERONA)
COMEDÃO FECHADO
(CRAVO BRANCO)
tórios, como IL-8, IL-12, TNF, IL-1 β, ligados a antígenos do P. acnes. Na SAHA
GLÂNDULA SEBÁCEA

prostaglandinas e leucotrienos. porção superficial do folículo, ainda (5α- REDUTASE)

COMEDÃO ABERTO
(CRAVO PRETO)
Estudos mais recentes têm demons- habitam o Staphylococcus epider- SÍND. VIRILIZANTES
SEBORREIA
trado a presença de inflamação previa midis e outros micrococos produto-
à hiperceratose folicular. Essa infla- res de lipases, que contribuem para o SÍND. CUSHING
COLONIZAÇÃO
mação é composta predominante- agravamento do quadro. BACTERIANA
IATROGENIA (TERAPIA
mente por linfócitos T CD4+ e macró- Fatores emocionais também podem C/ ADROGÊNIOS)
STAPHYLOCOCCUS
P. ACNES (PRINCIPAL
MICRORGANISMO) MALASSEZIA SPP.
fagos em torno dos folículos pilosos atuar como fatores desencadeantes EPIDERMIDIS

nas áreas da pele suscetíveis à acne. ou agravantes da acne. Isso poderia INFREQUENTE

Essas células liberam citocinas que ser explicado pela participação do LIPASES

configuram resposta Th1, interfe- neuropeptídio substância P na fisio-

ron-ϒ e TNF-β. Admite-se que essa
inflamação prévia às alterações do
ducto folicular decorrem de estímulo
antigênico oriundo do P. acnes quan-
do a concentração no folículo alcan-
ça 107 bactérias. Na parede dessas
bactérias, existem carboidratos an-
tigênicos que estimulam a produção
a produção de anticorpos e que tam-
bém podem estimular a resposta imu-
ne celular. Portanto, há componentes
patologia da doença. TRIGLIGERÍDEOS AC. GRAXOS PROCESSO
(SEBO) IRRITATIVOS INFLAMATÓRIO
SE LIGA! De modo geral, a alimenta-
ção não tem influência na evolução da
acne, embora exista o conceito entre os
leigos, de que alguns alimentos agrava-
riam a acne, como chocolate e alimentos
gordurosos. Na verdade, faltam estudos
controlados e randomizados para real-
mente se demonstre se há ou não influ-
ência da dieta sobre a acne.
ACNE E ERUPÇÕES ACNEIFORMES
4. QUADRO CLÍNCO
O quadro clínico é polimorfo, caracte-
rizado por comedões, pápulas, pústu-
las, nódulos e abscessos localizados
na face (preferência por fronte, regi-
ões malares e mento), nos ombros e
na porção superior do tórax, geral-
mente associado com seborreia. De
acordo com o número e o tipo das le-
sões, definem-se as forma clínicas ou
os graus de acne.
A acne é classificada como acne não
inflamatória quando apresenta so-
mente comedões, sem sinais infla-
matórios, e como acne inflamatória,
que, conforme o número a intensi-
dade e as características das lesões,
compreende formas clínicas ou graus.
A classificação da doença serve pelo
aspecto prático, inclusive para pes-
quisa clínica. Consiste em:
ACNE NÃO INFLAMATÓRIA
Grau I: ACNE COMEDONIANA
ACNE INFLAMATÓRIA
Grau II: ACNE PAPULOPUSTULOSA
Grau III: ACNE NODULOCÍSTICA
Grau IV: ACNE CONGLOBATA
Grau V: ACNE FULMINANS
9 ACNE E ERUPÇÕES ACNEIFORMES
Acne Comedoniana – GRAU I
Caracteriza-se pela presença de co-
medões, porém a existência de algu-
mas pápulas e raras pústulas folicula-
res ainda permite considerar o quadro
como acne grau I. Há três tipos de
comedões: microcomedão, comedão
fechado e comedão aberto.
• Microcomedão: o acúmulo de cor-
neócitos no infundíbulo produz
uma dilatação folicular não visível,
mas encontrada histologicamente.
A ceratose folicular, que eventual-
mente é observada em jovens, no
início da puberdade, na fronte ou
no dorso do nariz, indica a existên-
cia de microcomedões.
• Comedão fechado (cravo bran-
co): o aumento de corneócitos no
acroinfundíbulo folicular adquire
forma esférica. O orifício folicular
é, eventualmente, visível no centro
do comedão. A lesão é esbranqui-
çada ou cor da pele e similar ao mi-
lium, sendo mais bem identificada
quando a pele é distendida.
• Comedão aberto (cravo preto):
resulta do acúmulo de corneócitos
e sebo e da colonização e da co-
lonização pelo P. acnes. A cor es-
cura da extremidade do comedão
resulta da presença de melanina, e
não pela oxidação da queratina ou
sebo.
Figura 3. Acne Grau I
SE LIGA! Alguns autores ainda descre-
vem um quarto tipo de comedão, o ma-
crocomedão, que seriam comedões de
maior tamanho.
Acne Papulopustulosa – GRAU II
Caracteriza-se pela presença de co-
medões abertos, de pápulas, com ou
sem eritema inflamatório, e de pústu-
las. O quadro tem intensidade variá-
vel, desde poucas lesões até nume-
rosas, com inflamação bem intensa. A
seborreia está sempre presente.
Figura 4. Acne Grau II
10
Acne Nodulocística – GRAU III
Apresenta comedões abertos, pápu-
las, pústulas e seborreia. Devido à rup-
tura da parede folicular, há reação in-
flamatória aos corneócitos e bactérias.
Essa reação atinge a profundidade do
folículo até o pelo, formando nódulos
furunculoides. No interior desses nó-
dulos pode ocorrer a formação de pus.
Alguns autores consideram o termo
acne nodulocística equivocado, já que
as lesões nodulares inflamatórias não
são cistos verdadeiros, pois não têm
revestimento epitelial. As lesões nodu-
locísticas são as grandes responsáveis
pelo aparecimento das cicatrizes quan-
do sofrem involução. As cicatrizes, em
geral, são pequenas e deprimidas, só
ocorrem quando se processa a destrui-
ção completa do folículo e surgem, com
mais frequência, nos casos mais exu-
berantes. Se o paciente tiver tendência,
apresentará queloide ou mesmo bridas
cicatriciais (cicatrizes em ponte), assim
como cicatrizes atróficas.
Figura 5. Acne Grau III
ACNE E ERUPÇÕES ACNEIFORMES 11

Acne conglobata – GRAU IV Acne fulminans – GRAU V

Constitui a forma grave da acne em
que, ao quadro anterior, associam-
-se nódulos purulentos, numerosos e
grandes, formando abscessos e fístu-
las que drenam pus. Há canais entre
os abscessos, formando-se bridas e
É uma forma extremamente rara de
acne na qual, em meio ao quadro da
forma nodulocística e conglobata,
surgem subitamente febre, leucocito-
se, poliartralgia e ulcero-hemorragia
em algumas lesões. Histologicamente ACNE E ERUPÇÕES ACNEIFORMES 12

lesões queloidinanas. Essa forma é ocorre vasculite leucocitoclásica. É es-

a mais frequente em homens e, em sencialmente uma doença de jovens MAPA MENTAL TIPOS DE ACNE

geral, acomete a face, o pescoço e do sexo masculino. O uso da isotre-

as faces anterior e posterior do tórax, tionina oral é, atualmente, o principal
CLASSIFICAÇÃO
podendo chegar até a região glútea. fator desencadeante e ocorre, com INFLAMATÓRIA CLÍNICA
NÃO INFLAMATÓRIA

maior frequência, em jovens que ini- ACNE PAPULOPUSTULOSA ACNE COMEDONIANA

ciam o tratamento com doses eleva- (GRAU II) (GRAU I)

das desse medicamento ou que apre- PÚSTULAS

MICROCOMEDÃO
sentam macrocomedões fechados.
PÁPULAS
COMEDÃO FECHADO
(CRAVO BRANCO)
SEBORREIA BRIDAS

COMEDÃO ABERTO
ERITEMA (CRAVO PRETO) LESÕES QUELOIDIANAS
INFLAMATÓRIO GRAU III
+
ACNE NODULOCÍSTICA ABSCESSOS
(GRAU III) NÓDULOS
PURULENTOS
NÓDULOS FURUNCULOIDES FÍSTULAS
CICATRIZES HOMENS
(“CISTOS”)
(+ COMUM)

ACNE CONGLOBATA LESÕES

(GRAU IV) ULCERO-HEMORRÁGICAS
HOMENS JOVENS
ACNE FULMINANS (+ COMUM) POLIARTRALGIA
(GRAU V)
Figura 6. Acne Grau IV GRAU III/IV
LEUCOCITOSE
+
ALTERAÇÕES
FEBRE
SISTÊMICAS
Figura 7. Acne Grau V
ACNE E ERUPÇÕES ACNEIFORMES
5. DIAGNÓSTICO
O diagnóstico é clínico e com base na
idade do paciente, no polimorfismo
das lesões e em suas localizações ha-
bituais. Com frequência, não é neces-
sário fazer diagnóstico diferencial. No
entanto, erupções acneiformes, foli-
culites bacterianas por cândida e foli-
culites pitirospórica podem ser consi-
deradas como diagnóstico diferencial.
6. TRATAMENTO
O objetivo primário é sempre tratar a
acne, independentemente da idade
e da gravidade, o mais precocemen-
te possível, para evitar as cicatrizes
e os distúrbios psicossociais que po-
dem trazer consequências perma-
nentes. Os princípios do tratamento
baseiam-se em correção do defeito
da ceratinização folicular, diminuição
da atividade das glândulas sebáceas,
diminuição da população de P. acnes
no folículo, e diminuição do processo
inflamatório.
Há vários recursos terapêuticos que
controlam a doença e apenas um que
permite remissão prolongada ou cura
(isotretinoína oral). O tratamento é
sempre prolongado e requer a ade-
são do paciente, que depende de um
bom relacionamento com o médico.
13
Tratamento Tópico
• Agentes de limpeza: para remo-
ver o excesso de sebo da super-
fície da pele há grande variedade
de solventes lípides e surfactan-
tes (sabões em barra ou líquidos),
bem como loções, soluções e pa-
péis. Vale ressaltar que a higiene
das áreas seborreicas não deve
ser exagerada, pois a seborreia
poderá ser exacerbada por cuida-
dos intempestivos. A higiene deve
ser feita 2 a 3 vezes por dia. Essa
limpeza deve ser com desengor-
durantes leves e não alcoólicos e
com água, preferencialmente, fria
ou morna. Os sabões mais comu-
mente indicados e empregados
contêm enxofre e ácido salicílico.
Esse último apresenta proprieda-
de comedolítica e anti-inflamató-
ria. Também são úteis agentes de
limpeza com peróxido de benzoí-
la, que podem ser suficientes para
o controle da acne leve com sebor-
reia, particularmente para o tronco.
• Retinoides tópicos: são muito
utilizados por atuar em vários fa-
tores etiopatogênico, pois inibem
a formação e reduzem o número
de microcomedões, normalizam
a descamação do epitélio folicu-
lar do infundíbulo e melhoram a
penetração de outras drogas. São
considerados drogas de primei-
ra linha em qualquer regime tera-
pêutico, úteis em qualquer forma
ACNE E ERUPÇÕES ACNEIFORMES 14
de acne. Possuem atividade anti-
-inflamatória leve, via redução do SE LIGA! A Tretinoína deixa a pele mais
receptor Toll-like 2 e da IL-10, e sensível, por isso deve se evitar exposi-
ção ao sol durante o tratamento. Reco-
aumento da expressão da prote-
menda-se aplicar à noite, após limpeza,
ína CD1d. Podem ser utilizados e retirada pela manhã. A isotretinoína
como monoterapia, porém a asso- e o adapaleno possuem menor ação
irritativa.
ciação com peróxido de benzoíla
antibióticos tópicos ou sistêmicos
produz melhores resultados. Os
• Peróxido de benzoíla: é um agen-
efeitos indesejáveis, como eritema,
te antimicrobiano que diminui a
descamação, sensação de ardor e
população do P. acnes nos folícu-
prurido, são inevitáveis no início do
los por sua ação bacteriostática.
tratamento e devem ser controla-
Além disso, reduz a formação de
dos em associação com hidratan-
comedões e possui atividade an-
tes adequados. Após minimizar o
ti-inflamatória. Quando associado
componente inflamatório e o nú-
aos antibióticos tópicos (eritromi-
mero de comedões, seu uso deve
cina ou clindamicina) e ao adapa-
ser continuado durante a fase de
leno em um único produto, é mais
manutenção com o objetivo de
eficaz do que usado isoladamen-
evitar recorrência. Veja na tabela
te. O peróxido de benzoíla pode
abaixo os principais retinoides tó-
ter diversas apresentações, com
picos utilizados.
géis, loções, cremes e sabões líqui-
dos em concentrações que variam
RETINOIDE TÓPICO APRESENTAÇÃO de 1 a 10%. As vantagens dessa
-Cremes a 0,025%, substância são o baixo custo, a
0,05% e 0,1% ausência de relatos de resistên-
-Géis a 0,01% e
Tretinoína (ácido retinoico): cia bacteriana e a sua utilidade na
0,025%
primeiro retinoide introduzi-
-Formulações micro- prevenção da resistência bacte-
do no tratamento da acne.
nizadas em gel a 0,1% riana relacionada ao mau uso dos
e 0,4% (menor poten- antibióticos tópicos ou sistêmicos.
cial irritativo)
Quando presentes, os efeitos ad-
Isotretinoína: possui efeitos
versos se restringem a eritema,
bastante diferentes da iso-
-Gel a 0,05%
tretinoína oral, ou seja, não ardor, prurido e descamação, que
diminui a secreção de sebo. costumam desaparecer à medida
Adapaleno: é a 3ª geração de que se mantém o seu uso. A quei-
retinoides. Costuma ser mais
xa mais comum é o clareamento
bem tolerado que o ácido -Gel e Creme a 0,1%
retinoico, porém possui re- de roupas e cabelos quando en-
sultados mais lentos. tram em contato com o produto.
ACNE E ERUPÇÕES ACNEIFORMES
• Antibióticos tópicos: os mais po-
pulares são a eritromicina a 2% e
4% e a clindamicina a 1% e 2%,
ambas em solução e gel. Agem
nas lesões inflamatórias, mas são
menos eficazes que os antibióticos
sistêmicos. O tratamento mono-
terápico deve ser evitado devido
à demora no efeito e o potencial
de desenvolvimento da resis-
tência bacteriana, principalmente
pelo uso incorreto ou quando apli-
cado apenas sobre as lesões infla-
matórias. A duração recomendada
é, em média, seis a oito semanas.
Os efeitos adversos são mínimos.
Nas últimas décadas, a ocorrência
crescente e preocupante da resis-
tência bacteriana do P. acnes tor-
nou obrigatória a necessidade de
otimizar os esquemas terapêuti-
cos, dando-se preferência ao uso
combinado de antibióticos tópicos
com peróxido de benzoíla ou re-
tinoide. Jamais deve-se utilizar
antibióticos tópicos e sistêmicos
simultaneamente, assim como
antibióticos tópicos no trata-
mento de manutenção a longo
prazo.
• Ácido azelaico: está indicado em
casos de acne papulopustulosa
leve a moderada. Seu mecanismo
de ação não está completamente
elucidado, mas estudos sugerem
que esse fármaco produz redução
discreta da população bacteriana
e têm atividade comedolítica. Está
15
disponível em gel a 15% e creme
a 20% e deve ser usado duas ve-
zes ao dia. O ácido azelaico é útil
quando existem lesões hiperpg-
mentadas, pois têm ação clare-
adora. Além disso é utilizado nos
tratamentos de manutenção.
Tratamento Sistêmico
Antibióticos orais
A indicação clássica de antibióticos
orais se concentra nos casos de acne
inflamatória, de moderada a grave.
Os mais usados são as tetracicli-
nas e seus derivados ou ciclinas de
2ª geração (minociclina, doxicicli-
na, e limeciclina). A eritromicina e
outros macrolídeos, principalmente a
azitromicina, e o sulfametoxazol-tri-
metoprim constituem opções alter-
nativas. Os antibióticos sistêmicos
diminuem a população de P. acnes e
Staphylococus epidermidis na pele,
mas atuam muito mais como anti-in-
flamatórios por inibir a quimiotaxia de
neutrófilos, a produção de citocinas e
a atividade dos macrófagos.
As tetraciclinas possuem longa his-
tória de eficácia e perfil de segurança
que as colocam como primeira opção
para o tratamento da acne, com ex-
ceção dos períodos de gestação, lac-
tação e infância, nos quais é indica-
da a eritromicina. O tratamento deve
ser feito por 8 a 12 semanas. Se não
houver controle da acne, o antibiótico
ACNE E ERUPÇÕES ACNEIFORMES
deve ser suspenso, nunca mantido
por períodos prolongados e outras
alternativas devem consideradas. Se
por outro lado, houver controle, tam-
bém deve ser suspenso e mantido o
tratamento com tópicos. Se houver
recaída, o mesmo antibiótico oral que
foi eficaz deve ser reintroduzido.
A associação dos antibióticos orais
com tratamento tópico (exceto com
antibióticos tópicos) é necessária para
diminuir o risco de resistência bacte-
riana. Portanto antibióticos orais nun-
ca devem ser utilizados em monote-
rapia. Já foi relatada a ocorrência de
infecções do trato respiratório alto por
bactérias resistentes aos antibióticos
usuais pelo seu uso incorreto no tra-
tamento da acne.
É preciso lembrar que fatores, como
solubilidade, permeabilidade gastrin-
testinal, absorção sistêmica, distri-
buição e penetração do tecido alvo,
influem na eficácia e segurança dos
antibióticos orais. As tetraciclinas, por
exemplo, são mais bem absorvidas
se administradas longe das refeições.
A dieta e o peso do paciente também
alteram a absorção e distribuição. É
necessário que o médico esteja aten-
to para as recomendações de uso
baseadas na farmacocinética desses
medicamentos.
Os efeitos adversos, em geral, são
bem tolerados e se resume em sin-
tomas gastrointestinais. As tetraci-
clinas são contraindicadas durante
16
a gestação, lactação e infância, pois
inibem o crescimento ósseo e po-
dem gerar coloração amarelada nos
dentes de crianças menores de dez
anos. A minociclina, mais do que ou-
tras ciclinas, pode causar reações de
fotossensibilidade, pigmentação de
cicatrizes e das áreas fotoexpostas.
A doxiciclina também pode causar
reações de hipersensibilidade. A li-
meciclina tem eficácia comparável à
minociclina com melhor perfil de se-
gurança, embora exista relato de caso
de síndrome de Stevens-Johnson por
limeciclina. Veja na tabela abaixo as
doses dos antibióticos usuais.
ANTIBIÓTICOS ORAIS
Tetraciclina 500 mg a cada 12 horas
Doxiciclina 50-100 mg a cada 12 horas
Limeciclina 150-300 mg 1 vez ao dia
Minociclina 50-100 mg 1 a 2 vezes ao dia
Eritromicina 500 mg 2 vezes ao dia
Azitromicina 250-500 mg 3 vezes por semana
Sulfametoxazol-trimetoprim 1 comprimido de
400-80 mg 2 vezes ao dia
Retinoide Oral
A isotretinoína oral é o 13-cis áci-
do retinoico, derivado do retinol ou
vitamina A. Seu principal mecanismo
de ação ocorre na glândula sebácea,
através da ligação a receptores para
retinoides, reduzindo a atividade da
glândula, seu tamanho, e a quanti-
dade de sebo produzida, em 75%
após quatro semanas de tratamento.
ACNE E ERUPÇÕES ACNEIFORMES
Também normaliza a ceratinização
folicular, evitando a formação de mi-
crocomedões. Dessa forma, as con-
dições para a proliferação bacteria-
nas cessam. Na maioria das vezes, a
normalização do folículo pilossebáceo
mantém-se após o decurso do trata-
mento. A isotretinoína oral é empre-
gada, no Brasil, para acne grau II re-
sistente ao tratamento tópico, grau III
e grau IV e grau V.
As doses utilizadas variam entre 0,5
a 1,0 mg/Kg de peso, com dose to-
tal de 100 a 150 mg/Kg e média de
120 mg/Kg. O período mínimo de
tratamento é de 5 meses, e a dosa-
gem deve alcançar 120 mg/Kg. Al-
guns pacientes podem necessitar de
manutenção da medição por um pe-
ríodo de 6 até 10 meses devido al-
gumas formas mais graves de acne
que podem ser mais resistentes a
terapêutica. As cápsulas devem ser
administradas durante ou após as
refeições. As recorrências da acne
após tratamento oral com isotretino-
ína são frequentes, variando na lite-
ratura de 10 a 60%. As recidivas são
muito mais frequentes nos pacientes
que recebem doses totais inferiores a
120 mg/Kg. Quando, após a cura da
acne, ocorrer recidiva, pode-se admi-
nistrar novamente a isotretionina na
mesma dosagem, por período menor,
por várias vezes, sem qualquer incon-
veniente. Em acne de adultos acime
de 30 anos é preferível administrar
17
dosagem menor (inferior a 0,5 mg/Kg/
dia) por tempo mais prolongado.
Efeitos colaterais
Os efeitos colaterais mais comuns e
facilmente controláveis com medidas
precocemente adotadas são: secu-
ra labial ou quelite, ressecamento
da mucosa nasal, podendo causar
epistaxes, xeroftalmia, com risco de
conjuntivite se não controlada, prin-
cipalmente nas pessoas que usam
lentes de contato, secura da pele
com descamação e prurido que
pode ser mais intenso nos indivíduos
atópicos, aumentando a sensibilidade
ao sol e discreta alopecia.
O paciente deve ser alertado e orien-
tado precocemente em relação às
medidas para minimiza os efeitos co-
laterais. O uso de emolientes labiais,
hidratantes, filtros solares, colírios,
solução salina nasal são as medidas
mais importantes. A elevação do co-
lesterol e triglicerídeos e alterações
na função hepática, com elevação
das transaminases podem ocorrer e
necessitam de monitoramento. Ou-
tras reações adversas já descritas,
mas raramente observadas são: ce-
faleia, artralgias, dores muscula-
res, principalmente em atletas, ner-
vosismo e insônia. Alguns eventos
adversos relatados e ainda mais ratos
são: pseudotumor cerebral, pelo uso
concomitante de tetraciclinas, leuco-
penia, diminuição da visão noturna,
ACNE E ERUPÇÕES ACNEIFORMES
opacidade da córnea e hiperostose.
Considera-se que os eventos adver-
sos mais raros possam ser idiossin-
crásicos e dependentes de predispo-
sição individual.
Diante das possíveis alterações pelo
uso de isotretinoína oral, é impres-
cindível a avaliação laboratorial antes
do início do tratamento. Hemograma,
função hepática, colesterol e frações,
triglicerídeos, glicemia de jejum de-
vem ser solicitados. Para mulheres
em idade fértil a gonadotrofina co-
riônica sérica precisa ser pedida. Os
níveis de transaminases, colesterol e
triglicerídeos, quando se elevam du-
rante o tratamento, retornam aos va-
lores normais após redução da dose
ou, eventualmente, na suspenção do
tratamento. Os exames devem ser re-
petidos após um a dois meses e, pos-
teriormente, de acordo com a evolu-
ção e critério do médico.
SE LIGA! Quando se inicia o tratamento
com isotretinoína oral, pode haver exa-
cerbação das lesões (flare-up) que me-
lhoram subsequentemente. Ocorre em
7% dos casos, geralmente, no final do
1ª mês de tratamento. O flare-up deve
ser tratado com corticoterapia sistêmica
em doses anti-inflamatórias, redução da
dose da isotretionina oral ou, eventual-
mente sua suspenção. Está indicado o
uso de prednisona na dose de 20 a 40
mg/dia.
18
A contraindicação absoluta para a
prescrição da isotretinoína oral é a pre-
sença ou possibilidade de gravidez, já
que o maior problema relacionado a
essa droga é a teratogenicidade. O
efeito teratogênico ocorre durante a
embriogênese e, consequentemente,
podem ocorrer malformações fetais.
Portanto, a gravidez sempre deve
ser excluída antes de iniciar o trata-
mento. É obrigatória a contracepção
para mulheres em idade fértil, com
dois métodos iniciados em um mês
antes do início do tratamento, man-
tidos durante todo o tratamento,
até um mês após o término, quando
a droga estará completamente me-
tabolizada e eliminada. É importante
aguardar a menstruação para iniciar o
tratamento e enfatizar que não exis-
tem riscos para gestações futuras.
Uso de Corticoides
Nas formas muito inflamatórias da
acne nodulocística e conglobata, é in-
dicada, também, a administração de
prednisolona em uma dose única diá-
ria de 20 mg, posteriormente reduzi-
da até a melhora do quadro. Na acne
fulminante (fulminans), a adminis-
tração de prednisolona é indispensá-
vel, na dose de 40 a 20 mg/dia, asso-
ciada à isotretinoína e ao antibiótico.
Com a melhora do quadro, diminui-se
a dosagem do corticoide, mantendo
o antibiótico até o desaparecimento
dos sinais inflamatórios, e se continua
com a isotretinoína até a regressão
total da acne.
ACNE E ERUPÇÕES ACNEIFORMES 19

Procedimentos Cirúrgicos tretinoína ou isotretinoína e, quando

indicado, o peeling superficial com
A drenagem das pústulas, dos cistos
ácido salicílico ou tretinoína pode ser
e abscessos em todas as formas de
utilizado. Restando cicatrizes mais
acne é indispensável para o sucesso
evidentes, peelings médios e dermo-
do tratamento. As pústulas podem ser
abrasão podem ser indicados. A der-
abertas e drenadas sem necessidade
moabrasão pode ser feita 2 a 3 meses
de anestesia. Nos cistos e abscessos,
após o término do tratamento, possi- ACNE E ERUPÇÕES ACNEIFORMES 20

deve-se aplicar anestesia intradérmi-

ca e fazer pequena incisão com ponta
de bisturi. Após esvaziar o conteúdo
por espremedura, deve-se realizar a
curetagem e aplicar o ácido tricloro-
acético (50-70%). Curativo adesivo
compressivo pode ser necessário.
A dermoesfoliação-dermoabrasão
bilitando uma melhora em torno de
MAPA MENTAL TRATAMENTO DA ACNE
50% das cicatrizes. Pode ser repetida
1 ou 2 vezes, atingindo uma melhora
de até 80%. É um procedimento do-
TÓPICO TRATAMENTO SISTÊMICO
loroso que deve ser efetuado em cen-
tro cirúrgico, com anestesia local em ACNE GRAU II
ACNE GRAU II RETINOIDE ORAL
(RESISTENTE A TÓPICOS)
paciente sedado ou com anestesia
geral. O pós-operatório, para a recu- ACNE GRAU I ACNE GRAU III ISOTRETINOÍNA ORAL

pode ser necessária após o termino peração da pele, é de 3 a 4 semanas, ENXOFRE

do tratamento. Quando há cicatri- e deve ser evitada a exposição sola AC. SALICÍLICO
AG. DE LIMPEZA ACNE GRAU IV FORMAS MUITO
INFLAMATÓRIAS
zes mínimas pode ser usado gel de por 3 a 4 meses. TRETINOÍNA
CORTICOIDE SISTÊMICO
GRAU III/IV

ACNE FULMINANS
ADAPALENO RETINOIDES TÓPICOS (GRAU V)
ACNE INFLAMATÓRIA
ISOTRETINOÍNA
PERÓXIDO DE
ANTIBIÓTICOS ORAIS
BENZOÍLA

ERITROMICINA SULFAMETOXAZOL-TRIMETOPRIM
ANTIBIÓTICOS
TÓPICOS
CLINDAMICINA ERITROMICINA ALTERNATIVAS

ÁCIDO AZELAICO AZITROMICINA

MINOCLICLINA

DOXICICLINA DERIVADOS

LIMECICLINA
ACNE E ERUPÇÕES ACNEIFORMES
7. ACNE DA MULHER
ADULTA
A acne da mulher adulta é conceitu-
ada como o quadro acneico presente
em mulheres a partir dos 25 anos
de idade. Essa dermatose tende a
tornar-se crônica, com períodos de
exacerbação e melhora. Pode iniciar-
-se na adolescência e persistir até a
idade adulta ou surgir posteriormen-
te, nessa fase. Ocorre em todas as
raças, sendo mais frequente em mu-
lheres brancas e menos frequente em
orientais.
A prevalência atual dessa patologia
na idade adulta ainda não está bem
definida, embora ensaios clínicos
apontem 12% das mulheres e 3%
dos homens. Estudos epidemiológi-
cos mostram prevalência de cerca de
41% das mulheres adultas. A acne
da mulher adulta influencia negativa-
mente as relações pessoais e profis-
sionais, podendo levar à introspecção,
ao isolamento social e à depressão.
A acne da mulher adulta é classifica-
da em três subtipos de acordo com o
período de início do quadro:
• Acne persistente: inicia-se na
adolescência e persiste até a idade
adulta. É o subtipo mais comum,
correspondendo a 80% dos casos.
• Acne de início tardio ou acne tar-
dia: inicia-se após a adolescência,
entre 21 e 25 anos de idade.
21
• Acne recorrente: inicia-se na ado-
lescência, seguida por um período
de melhora do quadro e posterior
agravo após os 25 anos de idade.
Fisiopatologia
A patogênese da acne da mulher
adulta envolve os andrógenos circu-
lantes em associação a outros fato-
res. Os quatro processos etiopatogê-
nicos incluídos na formação da acne
vulgar, também estão presentes na
idade adulta (hiperceratinização fo-
licular, hipersecreção sebácea, colo-
nização bacteriana, principalmente
pelo P. acnes e inflamação dérmica
periglandular).
Vários outros fatores têm sido asso-
ciados como causais, destacando-se
dentre eles a hereditariedade, o es-
tresse, a exposição à radiação ultra-
violeta, a obesidade, a alimentação, o
tabagismo e a presença de doenças
endócrinas associadas. A síndrome
dos ovários policísticos (SOP) é a en-
docrinopatia mais comum, seguida
pela hiperplasia adrenal secundária,
de aparecimento tardio.
Certos medicamentos também são
associados ao desenvolvimento da
acne, como benzodiazepínicos, lítio,
ciclosporina, corticosteroides, rami-
pril, isoniazida, complexos vitamí-
nicos do tipo B e anticoncepcionais
progestínicos.
ACNE E ERUPÇÕES ACNEIFORMES
Clínica
Clinicamente, a acne da mulher adul-
ta caracteriza-se por lesões predomi-
nantemente inflamatórias, sobretudo
pápulas e pústulas, localizadas em
geral no mento, linha da mandíbu-
la e pescoço. As lesões ocorrem na
zona descrita como zona U, que é
também chamada de “região da bar-
ba” ou da “máscara cirúrgica”. Tende
a ser leve ou moderada e refratária ao
tratamento.
As lesões nodulares também podem
estar presentes e localizam-se no ter-
ço inferior da face. Elas podem ocor-
rer isoladamente, sem a presença de
outras lesões inflamatórias. Quando
se verifica presença de comedões,
eles são raros e fechados, com as-
pecto de microcistos. Pelo caráter
inflamatório, é comum a evolução do
quadro com cicatrizes e hipercromias.
Figura 7: Acne da Mulher Adulta
22
Avaliação laboratorial
A avaliação hormonal deve ser fei-
ta em mulheres que apresentarem
algum sinal ou sintoma de hiperan-
drogenismo, virilização, irregularida-
de menstrual, esterilidade, acne re-
sistente às terapias convencionais,
agravo súbito do quadro e recidiva
rápida após o término do tratamento
com isotretinoína oral. É importante
investigar a história de uso de contra-
ceptivo (tipo, tempo de uso, ocorrên-
cia de interrupção do uso e há quanto
tempo), pois é muito comum o apa-
recimento ou agravamento da acne
da mulher adulta após suspensão do
contraceptivo. O uso do dispositivo
intrauterino com progestínico pode
levar, em mulheres sensíveis aos an-
drógenos, a aparecimento ou agravo
da acne, principalmente no primeiro
ano de uso.
SE LIGA! A SOP é considerada a prin-
cipal causa de hiperandrogenismo no
sexo feminino.
Deve ser feita a dosagem hormonal
sérica na fase folicular do ciclo mens-
trual, com dosagens do S-DHEA (sul-
fato de deidroepiandrostendiona),
testosterona total e livre, FSH, LH,
prolactina e 17-hidroxi-progestero-
na. As mulheres devem descontinu-
ar o uso do anticoncepcional oral e
terapias hormonais durante quatro
ACNE E ERUPÇÕES ACNEIFORMES
a seis semanas antes da avaliação
laboratorial.
Na suspeita de SOP deve ser solici-
tado exame ultrassonográfico pélvico
ou transvaginal, e as pacientes devem
ser orientadas a realizar o exame en-
tre o 25º dia do ciclo atual e o terceiro
do próximo ciclo.
Tratamento
O tratamento no geral deve seguir o
algoritmo do tratamento da acne vul-
gar. Além disso, são adicionados a
terapêutica anticoncepcional oral e
espironolactona. O acetado de ci-
proterona é um potente bloqueador
de receptores androgênicos e tam-
bém inibidor da ovulação. Apresenta
ação progestínica e por isso é habi-
tualmente associado ao etinilestradiol
como contraceptivo. A espironolac-
tona é antagonista da aldosterona,
utilizada como diurético poupador de
potássio, e também age como blo-
queador de receptor de andrógenos.
Demonstra efeito inibidor da enzima
5-α-redutase assim como da 17-β-hi-
droxiesteroide desidrogenase. Sua
dose varia de 50 a 200 mg/dia, e a
melhora é notada a partir do terceiro
mês. Deve-se iniciar com doses bai-
xas e aumentar progressivamente em
intervalos de 15 a 30 dias.
Os efeitos colaterais mais comuns da
espironolactona são o efeito diurético,
irregularidade menstrual, mastalgia,
hipotensão postural e hipercalemia.
23
8. ERUPÇÕES
ACNEIFORMES
As acnes induzidas ou erupções ac-
neiformes são quadros acneicos
causados por agentes que atuam
diretamente na pele (agentes conta-
tantes) ou por absorção (agentes en-
dotantes). Em relação à patogênese,
a erupção acneiforme se inicia pela
inflamação do folículo, podendo não
ocorrer comedões. O quadro clínico é
monomorfo e de evolução aguda ou
subaguda, não existindo faixa etária
de ocorrência predominante.
Acne por contatantes
• Acne por cosméticos: é a forma
mais frequente de acne induzida
e ocorre quase exclusivamente
em mulheres pós-adolescência,
na terceira ou quarta década de
via, pelo uso de cosméticos. Nu-
merosas substâncias usadas em
cosméticos são comedogênicas, e
cerca de 50%, dos cremes faciais
têm alguma ação comedogênicas.
Lanolina, vaselina, óleos vegetais,
butilesterato, lauril álcool e ácido
oleico são alguns dos principais
componentes cosméticos come-
dogênicos. O quadro se caracteriza
por comedões e pápula, raras pús-
tulas na face, particularmente na
região perioral em mulheres que ti-
veram acne ou tem seborreia e que
usam cremes faciais. O tratamento
ACNE E ERUPÇÕES ACNEIFORMES
consiste em retirar o cosmético de-
sencadeante da acne e uso retinoi-
de tópico, peróxido de benzoíla ou
antibióticos tópicos.
• Acne por medicamentos tópicos:
O uso de pomadas e cremes me-
dicamentosos, principalmente em
áreas seborreicas, pode induzir a
formação de comedões e pápu-
las. Isso pode acontecer devido a
veículos como vaselina ou lanoli-
na que são empregados nessas
medicações.
• Acne por fricção ou acne me-
cânica: As lesões são pápulas ou
papulopústulas decorrentes da
oclusão folicular que resulta de
hiperceratinização ou hiper-hidra-
tação do folículo piloso em conse-
quência à ação irritativa pelo atri-
to, podendo haver, posteriormente
infecção secundária. Forma fre-
quente é observada no pescoço
de quem toca violino. O tratamento
é a exclusão da causa e proteção.
Eventualmente, usa-se tópicos.
• Acne estival (ou solar): O apare-
cimento de acne de verão pode ser
consequente ao edema do orifício
folicular pela sudorese excessiva,
com inflamação subsequente. En-
tretanto, o uso de cremes ou po-
madas fotoprotetoras é, talvez, o
fator mais importante na gênese
do quadro. As lesões são papulo-
pústulas, com poucos comedões,
que atingem face, dorso, ombros
24
e pescoço. Pode haver prurido dis-
creto ou moderado. O tratamento é
com sabonetes antiacneicos e lo-
ções de antibióticos.
• Acnes ocupacionais: Ocorrem em
trabalhadores por contatantes ocu-
pacionais. A acne clórica ou clo-
racne ocorre devido contato com
compostos orgânicos clorados e é
encontrada em trabalhadores da
indústria química que manipulam
estes produtos. Caracteriza-se por
comedões e lesões inflamatórias
na áreas expostas. Os compostos
orgânicos clorados são absorvidos
por via percutânea ou pulmonar,
podendo ocasionar, além das le-
sões cutâneas, manifestações sis-
têmicas que podem ser graves. A
Acne dos pesticidas é observada
em trabalhadores agrícolas que
manipulam produtos clorados or-
gânicos, usados como defensivos
na agricultura. O quadro clínico é
similar ao da cloracne, podendo,
por absorção, causar sintomas
gerais. A acne dos óleos e gra-
xas (elaiconicose) é encontrada
em trabalhadores que manuseiam
essas substâncias. O quadro é su-
gestivo com pontos negros nos
óstios foliculares, visíveis principal-
mente nos dedos das mãos, ante-
braços e coxas. Com a oclusão dos
óstios foliculares surgem pápulas e
nódulos inflamatórios.
ACNE E ERUPÇÕES ACNEIFORMES 25

Acne por endotantes a região glútea e coxas. Não há co-

• Acne por drogas e medicamen-
tos: Nas acnes induzidas por medi-
camentos, a erupção é de pápulas
pequenas ou papulovesicopústu-
las, às vezes, com crostículas he-
máticas. As lesões são, em geral,
medões, ou somente um pequeno
número, e não são encontrados no
início da erupção. Há prurido dis-
creto ou moderado. Veja na tabela
abaixo os medicamentos mais co-
mumente responsáveis por erup-
ções acneiformes. ACNE E ERUPÇÕES ACNEIFORMES 26

disseminadas, atingem face, pes-

coço, tronco, ombros, braços e até MAPA MENTAL ACNE

NÓDULOS FURUNCULOIDES ACNE NODULOCÍSTICA

PROCESSO INFLAMATÓRIO (“CISTOS”) (GRAU III)

PÁPULAS
MEDICAMENTOS RESPONSÁVEIS POR ERUPÇÕES ACNEIFORMES COLONIZAÇÃO BACTERIANA CICATRIZES PÚSTULAS
ACNE CONGLOBATA
(GRAU IV)
Corticoides ACTH Androgênios Anticoncepcionais SEBORREIA
SEBORREIA GRAU III
Vitaminas B12, B6, COMEDÃO ABERTO
ACNE PAPULOPUSTULOSA +
Isoniazida Rifampsina Etionamida (CRAVO PRETO)
(GRAU II)
B1 e D2 HIPERCERATOSE ABSCESSOS
FOLICULAR ACNE +
Fenobarbitúricos Trimetadiona Hidantoína Lítio COMEDÃO FECHADO
COMEDONIANA
(CRAVO BRANCO)
(GRAU I) FÍSTULAS
Hidrato de cloral Quinina Disulfrian Tiouracil FOLÍCULOS
PILOSSEBÁCEOS
MICROCOMEDÃO
Antineoplásicos antirreceptores do NÃO ACNE FULMINANS
Tiureia Ciclosporina Psoralênicos INFLAMATÓRIA (GRAU V)
fator de crescimento epitelial MULTIFATORIAL

GRAU III/IV
IMUNOMEDIADA +
DOENÇA ACNE INFLAMATÓRIA
ERUPÇÕES ALTERAÇÕES
ACNEIFORMES INFLAMATÓRIA SISTÊMICAS

LESÕES
ACNE ULCERO-
HEMORRÁGICAS
OCUPACIONAL GRAU I GRAU II GRAU III GRAU IV GRAU V

POLIARTRALGIA
MECÂNICA RESISTENTE

TRATAMENTO TÓPICO TRATAMENTO SISTÊMICO

POR COSMÉTICOS TÓPICOS
LEUCOCITOSE
POR MEDICAMENTOS ORAIS
ANTIBIÓTICOS ISOTRETINOÍNA CORTICOIDE
ESTIVAL PARENTERAIS ORAIS ORAL SISTÊMICO FEBRE
ACNE E ERUPÇÕES ACNEIFORMES 27 ACNE E ERUPÇÕES ACNEIFORMES 28

REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
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