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• Hanseníase dimorfa (ou borderline): forma A hanseníase pode cursar com períodos de
clínica caracterizada por imunidade intermediária agudização da doença e das alterações
e instável da doença, com características clínicas inflamatórias, agudas, consequentes a
e laboratoriais que podem se aproximar do polo mecanismos imunológicos, os chamados estados
tuberculoide ou virchowiano. A variedade de reacionais. Na forma dimorfa e na forma
lesões cutâneas é maior e estas se apresentam virchowiana, as lesões tornam-se avermelhadas;
como placas, nódulos eritêmato-acastanhados, e os nervos, inflamados e doloridos. Na forma
em grande número, com tendência à simetria. As virchowiana, pode surgir o eritema nodoso
lesões mais características dessa forma clínica são hansênico (estado reacional): lesões nodulares,
denominadas lesões pré-foveolares ou endurecidas e dolorosas nas pernas, nos braços e
foveolares, sobrelevadas ou não, com áreas na face, acompanhadas de febre, mal-estar, piora
centrais deprimidas e aspecto de pele normal, do estado geral e inflamação de órgãos internos
com limites internos nítidos e externos difusos. O
COMPLICAÇÕES DIRETAS
acometimento dos nervos é mais extenso,
podendo ocorrer neurites agudas de grave Decorrem da presença do bacilo na pele e em
prognóstico. outros tecidos, principalmente em quantidades
maciças, como é o caso dos pacientes
• Hanseníase virchowiana: nesse caso, a multibacilares (MB). A rinite hansênica é causada
imunidade celular é nula, com exacerbação e pela intensa infiltração da mucosa do trato
especificidade da resposta humoral, favorecendo respiratório superior. A ulceração da mucosa
a excessiva multiplicação de bacilos e levando a septal leva à exposição da cartilagem, seguida de
uma maior gravidade da doença, com anestesia necrose e perfuração, ou mesmo perda completa
dos pés e das mãos. Esse quadro favorece o desse suporte da pirâmide nasal. Se houver
surgimento de lesões traumáticas como comprometimento dos ossos próprios nasais, o
complicação, que por sua vez podem causar colapso nasal é completo, com o surgimento do
deformidades, atrofia muscular, inchaço das característico nariz desabado ou “em sela”. Na
pernas e surgimento de lesões nodulares mucosa oral, os principais sinais podem ser
(hansenomas) na pele. As lesões cutâneas observados na gengiva, na porção anterior da
caracterizam-se por placas infiltradas e nódulos, maxila, palato duro e mole, úvula e língua, com
de coloração eritêmato-acastanhada ou nódulos que ulceram e necrosam. Na área ocular,
ferruginosa, passíveis de se instalar também na a triquíase decorre de processo inflamatório do
próprio bulbo piloso ou por atrofia dos tecidos com consequente impossibilidade de oclusão das
que apoiam os folículos, com posicionamento pálpebras, levando ao lagoftalmo. As
anômalo dos cílios, podendo atingir córnea e complicações secundárias são devidas, em geral,
conjuntiva. O expressivo comprometimento dos ao comprometimento neural, embora requeiram
bulbos, com perdas tanto ciliares como um segundo componente causador. As mais
supraciliares, pode levar à madarose ciliar e comuns são as úlceras em mãos e pés, as quais,
supraciliar. Por fim, os frequentes infiltrados devido à perda de sensibilidade protetora, fazem
inflamatórios de pálpebras e pele da região com que a pessoa se exponha a traumas
frontal permitem o surgimento de rugas precoces (queimadura, pressão exacerbada em
e pele redundante palpebral, resultando em determinados pontos, fricção ou perfuração com
blefarocalase. corpo estranho), causando lesões ulceradas na
pele. Da mesma forma, a perda da sensibilidade
COMPLICAÇÕES DECORRENTES DE LESÃO autonômica, que inerva as glândulas sebáceas
NEURAL sudoríparas, leva à perda da lubrificação natural
Podem ser divididas em primárias, decorrentes da pele, deixando-a seca e frágil ao trauma.
do comprometimento sensitivo e motor após
REAÇÕES HANSÊNICAS
reações hansênicas, e secundárias. As
complicações secundárias são consequentes às Os estados reacionais ou reações hansênicas são
alterações geradas pelas complicações primárias, alterações do sistema imunológico, que se
como o mal perfurante plantar em paciente com exteriorizam como manifestações inflamatórias
perda de sensibilidade. agudas e subagudas. Essas reações podem
ocorrer antes do diagnóstico de hanseníase
Os troncos nervosos mais acometidos, no
(oportunizando esse diagnóstico da doença),
membro superior, são o nervo ulnar, o nervo
durante ou depois do tratamento com uma
mediano e o nervo radial. A lesão do nervo ulnar
associação de antibióticos e quimioterápicos, a
acarreta a paralisia da musculatura intrínseca da
Poliquimioterapia Única (PQT-U), e caracterizam-
mão, que leva à hiperextensão das articulações
se por:
metacarpo-falangianas do segundo ao quinto
dedo, com flexão das interfalangianas, • Reação tipo 1 ou reação reversa: aparecimento
ocasionando a garra ulnar. O nervo mediano, agudo de novas lesões dermatológicas (manchas
acometido na região do punho, leva à paralisia ou placas), infiltração, alterações de cor e edema
dos músculos tenares, com perda da oposição do nas lesões antigas, com ou sem espessamento e
polegar. A lesão do nervo radial, menos neurite.
acometido entre eles, conduz à perda da
• Reação tipo 2: o eritema nodoso hansênico é a
extensão de dedos e punho, causando
expressão clínica mais frequente, cujo quadro
deformidade em “mão caída”. No membro
inclui nódulos subcutâneos dolorosos,
inferior, a lesão do tronco tibial posterior acarreta
acompanhados ou não de febre, dores articulares
a garra dos artelhos e importante perda de
e mal- -estar generalizado, com ou sem
sensibilidade da região plantar, com graves
espessamento e neurite.
consequências secundárias (úlceras plantares). A
lesão do nervo fibular comum pode provocar a • Reação crônica ou subintrante: a reação
paralisia da musculatura dorsiflexora e eversora subintrante é a reação intermitente cujos surtos
do pé. O resultado é a impossibilidade de elevar o são tão frequentes que, antes de terminado um,
pé, com marcada alteração da dinâmica normal surge outro. Os doentes respondem ao
da marcha (“pé caído”). Na face, a lesão do nervo tratamento com os medicamentos utilizados para
facial causa paralisia da musculatura orbicular,
a reação, mas, tão logo a dose seja reduzida ou baciloscopia não exclui o diagnóstico da
retirada, a fase aguda recrudesce. Isso pode hanseníase, também não classifica
acontecer mesmo na ausência de doença ativa e obrigatoriamente o doente como PB.
perdurar por muitos anos após o tratamento.
• Exame histopatológico: indicado como apoio na
DIAGNÓSTICO CLÍNICO elucidação diagnóstica em casos mais
complicados e principalmente para diagnóstico
O diagnóstico se dá por meio do exame clínico e diferencial. Na ausência de bacilos visíveis, esse
epidemiológico. É realizado por meio do exame exame não deve ser utilizado isoladamente para
da pele e dos nervos para identificar lesões ou classificação como PB ou MB. Quando
áreas de pele com alteração de sensibilidade disponíveis, os exames laboratoriais
e/ou comprometimento de nervos periféricos, complementares, como hemograma, TGO, TGP e
com alterações sensitivas e/ ou motoras e/ou creatinina, devem ser solicitados no início do
autonômicas. Também se faz necessária a tratamento, em casos de episódios reacionais e
investigação do histórico familiar de casos de efeitos adversos a medicamentos no seguimento
hanseníase e da rede social de convívio, como dos doentes. A análise dos resultados desses
forma de analisar o contexto socioepidemiológico exames não deve retardar o início da PQT-U,
no qual o indivíduo está inserido exceto nos casos em que a avaliação clínica
A classificação operacional (Quadro 1) do caso de sugerir doenças que contraindiquem o início do
hanseníase é baseada no número de lesões tratamento.
cutâneas, de acordo com os seguintes critérios,
ELETROFISIOLÓGICO
conforme recomendações da Organização
Mundial da Saúde (OMS): • Eletroneuromiograma (eletroneuromiografia):
quando disponível, é indicada como apoio na
Paucibacilar (PB): casos com até cinco
elucidação diagnóstica em casos mais
lesões de pele.
complicados e principalmente para diagnóstico
Multibacilar (MB): casos com mais de
diferencial.
cinco lesões de pele.
TRATAMENTO
FLUXOGRAMA