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Oftalmologia 2020.

1 Vanessa Monteiro / Emmanuel Vinícius 1

DOENÇAS DA CONJUNTIVA Reação de hipeplasia do tecido linfoide na


conjuntiva. Formam folículos (como se fossem
grãos) na região tarsal, podendo ser vista tanto
Conjuntivite: inflamação de conjuntiva  inferior como superior. São múltiplas e rodeadas
membrana transparente e vascularizada, que por vasos finos.
reveste a parte anterior do globo ocular, a esclera,
na região bulbar, que se projeta pelas regiões do A reação é melhor visualizada na conjuntiva tarsal
tarso inferior e tarso superior. superior (paciente olha para baixo e everte-

É uma região bastante comum de ocorrer injúria, Causas principais a se pensar: viral (mais
tendo em vista sua exposição ao meio externo. Na frequente), conjuntivite por clamídia (muito raro),
maioria das vezes, refere-se a algo contagioso hipersensibilidade à medicação tópica.
(bactéria, vírus, etc), corpo estranho, substância
química, alergia, etc. 3. REAÇÃO PAPILAR:

 Conjuntivite não é SEMPRE infecciosa ou


contagiosa. Várias situações podem
causar a inflamação da conjuntiva.
 A característica principal da conjuntivite é
a hiperemia de conjuntiva (vasodilatação).

AVALIAÇÃO CLÍNICA

Várias etapas de avaliação, para montar o quebra-


cabeças do diagnóstico do tipo de conjuntivite e
Também ocorre por hiperprasia do tecido
tratar da forma mais adequada:
conjuntival, formando papilas (grânulos que são
mais duros do que os folículos) com vaso central
1. TIPO DE SECREÇÃO:
(diferente do folículo) associado com infiltrado
difuso de células inflamatórias.
Consistência e coloração:
Mais característico de aparecer na conjuntiva
Aquosa (semelhante à lágrima): podendo tarsal superior.
ser infecções virais ou tóxicas;
Causa mais provável: bacteriana (blefarite),
Mucoide (semelhante ao muco, mais alérgica (doença primaveril, lentes de contato) ou
viscosa do que aquosa), com coloração auto-imune (ceratoconjuntivite límbica).
transparente ou esbranquiçada, podendo
ser conjuntivites alérgicas (conjuntivite
4. MEMBRANAS E PSEUDOMEMBRANAS:
primaveril) ou em olho seco
(cerotoconjuntivite seca)

Purulentas (amareladas, semelhantes ao


pus), sugestiva de infecção bacteriana grave

Mucopurulenta: bacteriana, mas não tão


grave
Membranas: quando tenta remover, causa
OBS: se no momento do exame não estiver com sangramento, porque ela é aderida à mucosa. Já a
secreção, o paciente geralmente relata. Importante pseudomembrana pode ser removida sem causar
pedir também para que o paciente não limpe a injúria (e são mais comuns que a membrana).
secreção.
Pseudomembrana: sugestivo de conjuntivite viral,
2. REAÇÃO FOLICULAR: mas também podem estar presente nas
conjuntivites auto-imune e gonocócica.

Membrana: sugestivos de streptococo beta-


hemolítico ou difteria (mais raro).

OBS: devemos unir as características das


inflamações para se chegar a um melhor
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diagnóstico. Por exemplo, se temos uma secreção Tratamento: não precisa fazer cultura. Iniciar ATB
mucosa e papilas, tende mais para que seja de amplo espectro:
alérgica, mas temos secreção purulenta e papilas,
já tende mais para que seja bacteriana.  Ciprofloxacina (biamotil, ciloxan)
 Ofloxacina (oflox)
5. LINFADENOPATIA:  Moxifloxacina (vigamox)
 Gatifloxacino (zymar)
Pré-auricular e submandibular  geralmente não  1 gota de 6/6horas, por 10-14 dias.
são palpáveis, mas frente a uma infecção/ Importante informar ao paciente que
inflamação podem aumentar. mesmo com a melhora do quadro em 24-
48h do início do tratamento, ele deve
concluir o tratamento!
Causas prováveis: viral, clamídia, gonocócica
grave. OBS: Pode fazer a associação com corticoide de
baixa dosagem, como o Biomotil D (cloridrato de
TIPOS DE CONJUNTIVITE ciprofloxacino + dexametasona) e Sylladex* para
ter efeito anti-inflamatório.
CONJUNTIVITE BACTERIANA
CONJUNTIVITE VIRAL

Principal patógeno: estafilococos. Mas também Principal patógeno é o adenovírus.


pode ser causado por estreptococo pneumoniae,
haemophilus influenzae e moraxella. É autolimitada, em torno de 8 dias se resolve.
Um dado importante da evolução da história: É altamente contagiosa.
geralmente um olho é afetado, e cerca de 24h
após o outro olho é afetado. Isso ocorre Clínica: acometimento bilateral desde o início da
diferentemente da viral, que acomete os olhos doença; presença de folículos e pseudo-
bilateral e simultaneamente. membranas e a secreção é aquosa. Pode ter
linfadenopatia pré-auricular. Aparentemente é um
 Se o paciente vem no primeiro dia de quadro mais ameno, o edema palpebral é menos
acometimento, apenas com um olho intenso do que a bacteriana.
afetado, é importante avisar que no dia
seguinte o outro olho também será  Pode ter comprometimento corneano
acometido! Para que não ache que o (ceratite corneana – curso mais arrastado)
tratamento estabelecido não funcionou ou em que o paciente relata baixa de visão.
piorou. Isso pode atrasar o tratamento por meses.
 É bastante contagiosa  orientar a evitar
colocar as mãos nos olhos, lavar muito as Tratamento: vírus não tem tratamento específico
mãos, não usar lenços de pano, pois  dificulta tratamento que destrua o adenovírus.
aumenta o contágio. Devemos esperar o curso natural da doença,
fazendo apenas métodos paliativos (colírio
Clínica: o olho se torna grosseiro de se ver, a lubrificante para amenizar a ceratite corneada
secreção amarelada (purulenta) + edema de caso esteja presente; colírios com AINES para
pálpebras são intensos. A hiperemia também é reduzir o processo inflamatório, dando mais
intensa. Presença de papilas, rodeadas de conforto ao paciente).
secreção purulenta.
 Na presença do acometimento corneano,
 Não atinge a córnea (epitélio íntegro), o tratamento se estende por meses,
portanto, não interfere na acuidade visual. podendo ser necessário o uso de
Se paciente se queixa que não enxerga corticoides.
bem, pode ser por causa da secreção ou
até o edema da pálpebra que dificulta a CONJUNTIVITE NEONATAL
abertura do olho.
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Causada em pessoas que tem hipersensibilidade


do tipo I (IgE mediada). A pessoa tem contato com
partículas do ar suspensas, pólen, que são
comuns na primavera e verão.
Clínica: está associada com rinite alérgica 
sintomas nasais + prurido intenso ocular +
hiperemia + lacrimejamento. Teremos a reação do
Principal patógeno: clamídia. tipo papilar. Pode aparecer quemose e também
edema de pálpebra.
Se desenvolve por volta do 5-14 dia pós-parto.
Parto normal vai ter contato com secreções da  Acomete de forma bilateral
mãe portadora da clamídia.  Não acomete a córnea, portanto não tem
baixa de acuidade visual.
 Importância do acompanhamento pré-
natal!!!
2. CERATOCONJUNTIVITE PRIMAVERIL
Clínica: secreção mucopurulenta, com reação OU VERNAL:
papilar (diferentemente da clamídia do adulto, que
faz reação folicular intensa, que podem evoluir
com cicatrizes permanentes e repercussões
clínicas).
 A reação papilar é uma hiperplasia do
tecido linfoide da conjuntiva, e o neonato
ainda não teve capacidade de formá-lo.
Tratamento: tetraciclina 1% tópico + eritromicina
oral. É bastante agressivo, acometendo mais crianças e
adultos jovens (geralmente ameniza/cura na
OBS: a conjuntivite neonatal também pode
puberdade no caso das crianças), porém mais raro
acontecer pelo gonococo, sendo mais rara. Clínica
de se encontrar.
começa com 1-3 dias de vida, sendo bem mais
intensa e agressiva do que a causada por Acomete de forma bilateral, também mediada por
clamídia, com secreção purulenta + quemose. O IgE.
tratamento é feito com ceftriaxona, mas podemos
fazer profilaxia assim que o bebê nasce com Está muito associado em casos de atopia graves
nitrato de prata tóico ou iodopovidona 2,5%. (50% - asma, eczema atópico – de difícil controle).

Outros de tipos de conjuntivite neonatal são: Clínica: criança sente um incomodo muito grande,
que pode interferir no seu rendimento escolar, pelo
 Conjuntivite química: o uso do nitrato de prurido ser muito intenso. Ficar coçando faz com
prata pode causar reação, causando que apareçam lesões corneanas, que pode
hiperemia. Autolimitada (24h). influenciar na capacidade visual da criança.
 Conjuntivite bacteriana simples: causada
pelo s. aureus, acontece por contágio com Ocorre durante todo o ano (principalmente na
alguém que estava infectado. primavera e verão).
 Conjuntivite causada pelo herpes: mais
raro, podendo acontecer entre o 5-7º dia  Maior incidência de ceratocone 
de vida. deformidade na córnea em que a sua
parte inferior tem uma forma cônica e isso
CONJUNTIVITES ALÉRGICAS causa altos graus de miopia e
astigmatismo e, às vezes, são tão altas
que não corrigem mais com óculos,
necessitando de transplante de córnea.
 Esses pacientes também sentem um
prurido intenso, o que pode causar lesão
na córnea. Podendo também evoluir com
infecções secundárias.
Paciente apresenta:
1. CONJUNTIVITE SAZONAL (febre do
feno): 30 min - Epiteliopatia puntata (várioas manchas na córnea
 causa BAV)
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Sinais que observamos: presença de papilas


gigantes (>0,3mm), dermatite de contato, crostas e
blefarite.

- Limbo gelatinoso
- Papilas gigantes
- Nódulos Horner-Trantas (o paciente tem tantas
papilas, que acaba também formando no limbo).

MEDIDAS GERAIS PARA O TRATAMENTO DE


CONJUNTIVITE ALÉRGICA:
Falar para a família que estas, como qualquer
quadro alérgico, não têm tratamento definitivo. Nós
vamos aliviar os sintomas do paciente, prevenir
sequelas. Orientar a família para evitar exposição
- Úlcera em escudo (papila é grande e acaba a alérgenos (encaminhar para tto com
arrancando a córnea, a secreção mucoide reveste alergologista).
o epitélio e fica evidente  também causa BAV). Evitar ao máximo coçar (o que é difícil em
Também pode ser chamada de placa corneana. crianças)
Compressa gelada: causa vasoconstricção,
diminui a liberação de histamina, aliviando o
prurido.
Tratamento: vai depender se o paciente está na
fase aguda ou no período de manutenção
(controle).
 Colírios:
- Pseudogerontocso “cicatriz limbar” (parece um o Lágrimas artificiais (lacrifilm, lacribel,
halo senil – parte esbranquiçada dentro da íris  é lagrimaplus, cystane...)  usamos
uma cicatriz que se forma no lugar das papilas). principalmente quando tem alterações
corneanas (fechamento de úlceras).
o Estabilizadores de mastócitos (colírio
antialérgico) – cromoglicato dissódico 2
ou 4%.
o Anti-histamínicos – levocabastina e
emedastina 0,05%
o Anti-histamínicos + estabilizadores de
mastócitos – olopatadina (patanol)
 Corticoides: droga muito eficaz, podendo
ser a melhor droga no tto das alergias
3. CONJUNTIVITE PAPILAR GIGANTE gerais. Mas devemos ter muito cuidado ao
prescrever (crianças!)
Principais sintomas são: prurido, fotofobia e o Uso crônico em crianças pode
lacrimejamento. desencadear glaucoma, que pode ser
irreversível; pode provocar catarata (BAV
A principal causa da conjuntivite papilar gigante é
intensa).
a presença de corpo estranho no olho, em
o Favorece infecção corneana
especial lentes de contato gelatinosas, além de
o Dexametasona, prednisolona,
próteses ocular e fios de sutura  provocam essa
rimexolona
reação alérgica.
o Usar no máximo por 5 dias
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 AINES: podem ser usados, mas não é bom


indicar.
o Cetorolac, indometacina, ibuprofeno
 Tratamento com alergologista
o Dependendo da situação pode usar
imunomoduladores, ciclosporinas, etc
CONJUNTIVITE QUÍMICA
São triviais, mas potencialmente graves
Emergência oftalmológica!!
Qualquer substância que cause injúria ao olho 
reação com as proteínas do olho  causa lesões
na córnea, cristalino, no músculo ciliar, na retina,
no vítreo, podendo até causar hipóxia corneana
com necrose (ela diz que já viu caso de cegueira).
Quando isso acontece, o paciente vai lacrimejar
porque é um mecanismo de defesa, ajudando a
eliminar a lesão.
 Quando causada por ácidos serão menos
graves do que causadas por álcalis 
porque o pH do nosso olho é básico e ele
reage mais rápido com as proteínas do e
entra mais rápido no nosso olho.
o Ácido: precipitam proteínas
teciduais e os danos se restringem
a córnea e conjuntiva
o Álcali: saponificam lipídeos da
córnea, penetrando no olho e
podendo causar atrofia ocular. 52
min
Tratamento: primeiro de tudo pingar colírio
anestésico, para poder lavar abundantemente com
solução salina estéril. Depois, encaminha para
oftalmologista + prescrever lágrima artificial.
IMPORTANTE FAZER ISSO NA HORA!! Não
pode ser ocluído para transferir o paciente!!

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