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QUEBRANDO A BANCA FGV

HANSENÍASE

Prof. Victor Roberto


@profvictorroberto
HANSENÍASE
• Doença infectocontagiosa de caráter crônico, com manifestações
dermatoneurológicas e potencial incapacitante, que pode acometer pessoas de
ambos os sexos e de todas as faixas etárias.
• A hanseníase é uma doença transmissível, de notificação compulsória e
investigação obrigatória em todo o território nacional
• Está inserida no grupo de doenças tropicais negligenciadas e prevalece em áreas em
que a população vive em situações de vulnerabilidade socioeconômica, com
dificuldades de acesso aos serviços de saúde.
• Embora persistam o estigma e a discriminação, fatores marcantes da exclusão social ao
longo da história, a hanseníase tem cura, e o tratamento está disponível no Sistema
Único de Saúde (SUS).
• A doença acomete principalmente os nervos superficiais da pele e troncos
nervosos periféricos (localizados na face, pescoço, terço médio do braço e abaixo do
cotovelo e dos joelhos), mas também pode afetar os olhos e órgãos internos (mucosas,
testículos, ossos, baço, fígado, etc.).
HANSENÍASE – AGENTE ETIOLÓGICO

• Mycobacterium leprae, identificado apenas em 1873 pelo cientista norueguês Armauer


Hansen.
• Esse bacilo pode infectar grande número de indivíduos (alta infectividade), embora
poucos adoeçam (baixa patogenicidade).
• O M. leprae tem predileção pela pele e pelos nervos periféricos, especificamente as
células de Schwann.
• Pertencente à categoria de parasita intracelular álcool-ácido resistente, fracamente gram-
positivo, esse bacilo não cresce em meios de cultura artificiais, ou seja, não é cultivável
in vitro.
HANSENÍASE - RESERVATÓRIO

O ser humano é reconhecido como a única fonte de


transmissão.
HANSENÍASE – MODO DE
TRANSMISSÃO
• A transmissão ocorre quando uma pessoa com hanseníase, na forma infectante da
doença e sem tratamento, elimina o bacilo para o meio exterior, presente em gotículas
emitidas pelas vias áreas superiores, infectando outras pessoas quando há um contato mais
próximo e prolongado.
• A bactéria é transmitida pelas vias respiratórias (pelo ar), e não pelos objetos utilizados pelo
paciente.
• O M. Leprae é um bacilo microaerófilo, ou seja, cresce em ambientes com quantidades
pequenas de oxigênio.
• Ambientes fechados e com maior número de pessoas aumentam as chances de
transmissão da doença. Desse modo, o domicílio configura-se como um importante espaço
de transmissão da doença.
• Se não tratada na forma inicial, a doença quase sempre evolui, torna-se transmissível
e pode atingir pessoas de qualquer sexo ou idade, inclusive crianças e idosos. Essa evolução
ocorre, em geral, de forma lenta e progressiva, podendo levar a incapacidades físicas.
HANSENÍASE – SUSCETIBILIDADE E
IMUNIDADE
• Estima-se que a maioria da população possua defesa natural (imunidade) contra o M.
leprae. Portanto, a maior parte das pessoas que entrarem em contato com o bacilo não
adoecerão.
• É sabido que a susceptibilidade ao M. leprae possui influência genética. Assim, familiares
de pessoas com hanseníase possuem maior chance de adoecer.

• Os pacientes diagnosticados com hanseníase têm direito a tratamento gratuito


com a poliquimioterapia (PQT-OMS), disponível em qualquer unidade de saúde. O
tratamento interrompe a transmissão em poucos dias e cura a doença.
• Acredita-se que essa também seja a porta de entrada do bacilo no organismo, e que a
via hematogênica seja o seu principal mecanismo de disseminação para a pele,
mucosas, nervos e outros tecidos.
HANSENÍASE – PERÍODO DE
INCUBAÇÃO

Dura em média de dois a sete anos, embora haja referências a


períodos inferiores a dois e superiores a dez anos.
(2022 / IBADE / Prefeitura de Colíder – MT)
A Hanseníase Paucibacilar caracteriza-se:
A) pela presença de mais de cinco lesões de pele e/ou baciloscopia positiva.
B) pela presença de mais de cinco lesões de pele com baciloscopia indeterminada.
C) pela presença de até 5 lesões cutâneas e baciloscopia obrigatoriamente positiva.
D) pela presença de 1 a 5 lesões cutâneas e baciloscopia obrigatoriamente negativa.
E) pela presença de mais de cinco lesões de pele e baciloscopia obrigatoriamente
negativa.

D
HANSENÍASE – CLASSIFICAÇÃO
OPERACIONAL
• Após a conclusão diagnóstica a partir do exame clínico e/ou baciloscópico, os casos de
hanseníase devem ser classificados para fins de tratamento, de acordo com os critérios
definidos pela OMS.

Hanseníase paucibacilar (PB)


• Caracteriza-se pela presença de uma a cinco lesões cutâneas e baciloscopia
obrigatoriamente negativa.
Hanseníase multibacilar (MB)
• Caracteriza-se pela presença de mais de cinco lesões de pele e/ou baciloscopia positiva.
HANSENÍASE – FORMAS CLÍNICAS
• A Classificação de Madri (1953), que se baseia nos achados do exame
físico e dos exames complementares, mas considera que o critério básico
deve ser clínico, abrangendo a morfologia das lesões cutâneas e as
manifestações neurológicas.

• Essa classificação considera que existem dois polos estáveis e opostos


da doença (formas tuberculoide e virchowiana), formas clínicas
interpolares e instáveis (hanseníase dimorfa) e uma forma inicial que
apresenta discretas manifestações clínicas da doença (forma
indeterminada).
HANSENÍASE
INDETERMINADA
HANSENÍASE PAUCIBACILAR
( ≤ 5 LESÕES)
TUBERCULÓIDE

DIMORFA (BUDERLAINE)
MULTIBACILAR
( > 5 LESÕES)
VIRCHOWIANA
(2022 / UNIOESTE / Prefeitura de Ramilândia – PR)
A Hanseníase é uma doença infectocontagiosa de caráter crônico, com manifestações dermatoneurológicas e
potencial incapacitante (BRASIL, 2021). Sobre a classificação operacional da Hanseníase, é CORRETO afirmar:
Alternativas
A) Hanseníase paucibacilar tuberculoide é caracterizada por áreas de hipo ou anestesia, parestesias, manchas
hipocrômicas e/ou eritemo-hipocrômicas, com ou sem diminuição da sudorese e rarefação de pelos.
B) Hanseníase paucibacilar indeterminada é caracterizada por placas eritematosas, eritêmato-hipocrômicas, até 5
lesões de pele bem delimitadas, hipo ou anestésicas, podendo ocorrer comprometimento de nervos.
C) Hanseníase multibacilar dimorfa é caracterizada por lesões pré-foveolares (eritematosas planas com o centro
claro). Lesões foveolares (eritematopigmentares de tonalidade ferruginosa ou pardacenta), apresentando
alterações de sensibilidade.
D) Hanseníase paucibacilar indeterminada é caracterizada por lesões pré-foveolares (eritematosas planas com o
centro claro). Lesões foveolares (eritematopigmentares de tonalidade ferruginosa ou pardacenta), apresentando
alterações de sensibilidade.
E) Hanseníase multibacilar dimorfa é caracterizada por áreas de hipo ou anestesia, parestesias, manchas
hipocrômicas e/ou eritemo-hipocrômicas, com ou sem diminuição da sudorese e rarefação de pelos.

C
HANSENÍASE INDETERMINADA (PB)
• É a forma inicial da doença, surgindo com manifestações discretas e menos perceptíveis. Todos os
pacientes passam por essa fase no início da doença.
• Suas manifestações clínicas não se relacionam à resposta imune específica, caracterizando-se por
manchas na pele (geralmente única), em pequeno número, mais claras que a pele ao redor
(hipocrômicas), sem qualquer alteração do relevo nem da textura da pele. Apresenta bordas mal
delimitadas, e é seca (“não pega poeira” – uma vez que não ocorre sudorese na respectiva área).
• O comprometimento sensitivo é discreto, geralmente com hipoestesia térmica apenas; mais raramente,
há diminuição da sensibilidade dolorosa, enquanto a sensibilidade tátil é preservada.
• Pode ou não haver diminuição da sudorese (anidrose / hipoidrose) e rarefação de pelos nas lesões,
indicando comprometimento da inervação autonômica. Podendo ser acompanhadas de alopecia
• Essa forma clínica pode inicialmente manifestar-se por distúrbios da sensibilidade, sem alteração da cor
da pele.
• Por ser uma forma inicial, não há comprometimento de nervos periféricos e, portanto, não se observam
repercussões neurológicas nas mãos, pés e olhos.
• A quantidade de bacilos é muito pequena, indetectável pelos métodos usuais, e via de regra a
baciloscopia é negativa.
HANSENÍASE INDETERMINADA (PB)

• Pode evoluir espontaneamente para a cura ou para as formas polarizadas em


aproximadamente 25% dos casos, o que costuma ocorrer no prazo de três a cinco anos.
• Todos os pacientes passam por essa fase no início da doença.
• Geralmente afeta crianças abaixo de 10 anos, ou mais raramente adolescentes e adultos
que foram contatos de pacientes com hanseníase.
• A fonte de infecção, normalmente um paciente com hanseníase multibacilar não
diagnosticado, ainda convive com o doente, devido ao pouco tempo de doença.
• Os exames laboratoriais negativos não afastam o diagnóstico clínico.
• Tendo em vista o caráter discreto e assintomático dessas lesões, é mais raro que os
pacientes busquem o serviço de saúde espontaneamente nessa fase da doença, por isso
as ações de busca ativa de casos na população, como campanhas de diagnóstico e
especialmente o exame de contatos, são essenciais para a detecção precoce de casos.
HANSENÍASE INDETERMINADA (PB)
HANSENÍASE INDETERMINADA (PB)
HANSENÍASE TUBERCULOIDE (PB)
• A forma clínica que aparece em pessoas com maior resistência imune, com limitação de
lesões e formação de granuloma bem definido.
• As lesões são poucas (ou única), de limites bem definidos e pouco elevadas, e com
ausência de sensibilidade (dormência), com distribuição assimétrica. O centro das
lesões pode ser hipocrômico ou não, por vezes apresentando certo grau de atrofia
que reflete a agressão da camada basal da epiderme pelo infiltrado inflamatório
granulomatoso
• Ocorre comprometimento de um tronco nervoso, o que pode causar dor, fraqueza e
atrofia muscular.
• Próximos às lesões em placa, podem ser encontrados filetes nervosos espessados.
• Nas lesões e/ou nos trajetos de nervos, tende a haver perda total da sensibilidade
térmica, tátil e dolorosa, ausência de sudorese e/ou alopecia.
• A forma nodular infantil pode acometer crianças de 1 a 4 anos, quando há um foco
multibacilar no domicílio.
• A clínica é caracterizada por lesões papulosas ou nodulares, únicas ou em pequeno
número, principalmente na face.
HANSENÍASE TUBERCULOIDE (PB)
• Assim como na hanseníase indeterminada, a doença também pode acometer crianças
(o que não descarta a possibilidade de se encontrar adultos doentes)
• Tem um tempo de incubação de cerca de cinco anos, e pode se manifestar até em
crianças de colo, onde a lesão de pele é um nódulo totalmente anestésico na face ou
tronco (hanseníase nodular da infância).
• Nesses casos, a baciloscopia é negativa e a biópsia de pele quase sempre não
demonstra bacilos, e nem confirma sozinha o diagnóstico.
• O diagnóstico clínico geralmente pode ser estabelecido com base no primeiro sinal
cardinal da doença – lesões da pele com diminuição ou perda de sensibilidade térmica
e/ou dolorosa e/ou tátil.
• Os exames subsidiários raramente são necessários para o diagnóstico, pois sempre há
perda total de sensibilidade, associada ou não à alteração de função motora, porém de
forma localizada.
HANSENÍASE TUBERCULOIDE (PB)
HANSENÍASE TUBERCULOIDE (PB)
HANSENÍASE DIMORFA
(BODERLAINE) (MB)
• Forma clínica caracterizada por imunidade intermediária e instável da doença, com
características clínicas e laboratoriais que podem se aproximar do polo tuberculoide ou
virchowiano.
• A variedade de lesões cutâneas é maior e estas se apresentam como placas,
nódulos eritêmato-acastanhados, em grande número, com tendência à simetria. Há
perda parcial a total da sensibilidade, com diminuição de funções autonômicas (sudorese
e vasorreflexia à histamina).
• As lesões mais características dessa forma clínica são denominadas lesões pré-
foveolares (eritematosas planas com o centroclaro) ou foveolares (eritematopigmentares
de tonalidadeferruginosa ou pardacenta), sobrelevadas ou não, com áreas centrais
deprimidas e aspecto de pele normal, com limites internos nítidos e externos difusos.
• Quando a resposta humoral é predominante, as lesões surgem em grande número,
podendo haver hansenomas e infiltração assimétrica dos pavilhões auriculares,
destacando-se as lesões infiltradas de limites imprecisos.
HANSENÍASE DIMORFA
(BODERLAINE) (MB)
• O acometimento dos nervos é mais extenso, podendo ocorrer neurites agudas de
grave prognóstico. O comprometimento dos nervos periféricos geralmente é
múltiplo e assimétrico, muitas vezes com espessamento, dor e choque à palpação,
associado à diminuição de força muscular e hipoestesia no território correspondente.
• O M. leprae geralmente é encontrado em número moderado, tanto na baciloscopia do
esfregaço intradérmico como em fragmentos de biópsia das lesões.
• É a forma mais comum de apresentação da doença (mais de 70% dos casos).
• Ocorre, normalmente, após um longo período de incubação (cerca de 10 anos ou mais),
devido à lenta multiplicação do bacilo (que ocorre a cada 14 dias, em média).
HANSENÍASE DIMORFA (BODERLAINE) (MB)
HANSENÍASE DIMORFA (BODERLAINE) (MB)
HANSENÍASE DIMORFA (BODERLAINE) (MB)
HANSENÍASE VIRCHOWIANA (MB)
• A imunidade celular é nula, com exacerbação e especificidade da resposta humoral,
favorecendo a excessiva multiplicação de bacilos e levando a uma maior gravidade
da doença, com anestesia dos pés e das mãos.
• Favorece o surgimento de lesões traumáticas como complicação, que por sua vez podem
causar deformidades, atrofia muscular, inchaço das pernas e surgimento de lesões
nodulares (hansenomas) na pele.
• As lesões cutâneas caracterizam-se por placas infiltradas e nódulos, de coloração
eritêmato-acastanhada ou ferruginosa, passíveis de se instalar também na mucosa oral.
• Costumam ocorrer infiltração facial com madarose superciliar e ciliar, hansenomas nos
pavilhões auriculares, e espessamento e acentuação dos sulcos cutâneos.
• Pode, ainda, ocorrer acometimento da laringe, com quadro de rouquidão, e de
órgãos internos (fígado, baço, suprarrenais e testículos), bem como a hanseníase
histoide, com predominância de hansenomas com aspecto de queloides ou fibromas,
com grande número de bacilos.
• Observa- -se o comprometimento de maior número de troncos nervosos.
HANSENÍASE VIRCHOWIANA (MB)
• É a forma mais contagiosa da doença
• A face costuma ser lisa (sem rugas) devido a infiltração, o nariz é congesto, os pés e
mãos arroxeados e edemaciados, a pele e os olhos secos.
• O suor está diminuído ou ausente de forma generalizada, porém é mais intenso nas
áreas ainda poupadas pela doença, como o couro cabeludo e as axilas.
• Ocorre em indivíduos que não ativam adequadamente a imunidade celular específica
contra o M. leprae, evoluindo com intensa multiplicação dos bacilos, que são
facilmente detectáveis tanto na baciloscopia como na biópsia cutânea.
• São comuns as queixas de câimbras e formigamentos nas mãos e pés, que
entretanto apresentam-se aparentemente normais.
• “Dor nas juntas” (articulações) também são comuns e, frequentemente, o paciente
tem o diagnóstico clínico e laboratorial equivocado de “reumatismo” (artralgias ou
artrites), “problemas de circulação ou de coluna”.
HANSENÍASE VIRCHOWIANA (MB)
• Os exames reumatológicos frequentemente resultam positivos, como FAN, FR,
assim como exame para sífilis (VDRL).
• É importante ter atenção aos casos de pacientes jovens com hanseníase virchowiana
que manifestam dor testicular devido a orquites.
• Em idosos do sexo masculino, é comum haver comprometimento dos testículos,
levando à azospermia (infertilidade), ginecomastia (crescimento das mamas) e
impotência.
• Na hanseníase virchowiana o diagnóstico pode ser confirmado facilmente pela
baciloscopia dos lóbulos das orelhas e cotovelos.
HANSENÍASE VIRCHOWIANA (MB)
HANSENÍASE VIRCHOWIANA (MB)
HANSENÍASE VIRCHOWIANA (MB)
HANSENÍASE NEURAL PURA (OU NEURÍTICA
PRIMÁRIA)
• Constitui-se numa apresentação clínica exclusivamente neural, sem lesões
cutâneas e com baciloscopia negativa, o que representa um desafio diagnóstico.
• Alguns exames complementares como o eletroneuromiograma, a biópsia de nervo, a
sorologia e biologia molecular podem auxiliar na definição etiológica, embora não
estejam facilmente disponíveis na Rede de Atenção à Saúde (RAS).
• A prevalência dessa forma clínica entre os casos de hanseníase é controversa, e embora
a maioria dos estudos estime que corresponda, em média, a 10% dos casos, esse
percentual pode estar subestimado em decorrência da sintomatologia inicial mais
discreta e inespecífica, além das dificuldades diagnósticas.
• Do ponto de vista clínico, o diagnóstico é confirmado pelo achado do segundo sinal
cardinal da hanseníase (espessamento de nervo periférico, associado a alterações
sensitivas e/ou motoras e/ou autonômicas no território do nervo).
HANSENÍASE NEURAL PURA (OU NEURÍTICA
PRIMÁRIA)

• De modo geral, há certa concordância entre os estudos de que os nervos ulnares


sejam os mais frequentemente acometidos na hanseníase, embora qualquer nervo
periférico possa ser afetado, especialmente os medianos, radiais, fibulares e os seus
ramos superficiais como o nervo ulnar superficial, radial cutâneo, fibular superficial, além
do nervo sural (tornozelo a partir do nervo fibular e tibial).
• Os pacientes com suspeita dessa forma clínica da hanseníase devem ser encaminhados
para investigação em unidades de atenção especializada, principalmente para o
diagnóstico diferencial em relação a outras neuropatias periféricas, tendo em vista que
diversas doenças podem afetar os nervos periféricos
HANSENÍASE – COMPLICAÇÕES
DIRETAS
• A rinite hansênica é causada pela intensa infiltração da mucosa do trato respiratório
superior.
• A ulceração da mucosa septal leva à exposição da cartilagem, seguida de necrose e
perfuração, ou mesmo perda completa desse suporte da pirâmide nasal. Se houver
comprometimento dos ossos próprios nasais, o colapso nasal é completo, com o
surgimento do característico nariz desabado ou “em sela”.
• Na mucosa oral, os principais sinais podem ser observados na gengiva, na porção
anterior da maxila, palato duro e mole, úvula e língua, com nódulos que ulceram e
necrosam.
• Na área ocular, a triquíase (mal alinhamento dos cílios) decorre de processo inflamatório
do próprio bulbo piloso ou por atrofia dos tecidos que apoiam os folículos, com
posicionamento anômalo dos cílios, podendo atingir córnea e conjuntiva. O expressivo
comprometimento dos bulbos, com perdas tanto ciliares como supraciliares, pode levar à
madarose ciliar e supraciliar.
• Os frequentes infiltrados inflamatórios de pálpebras e pele da região frontal permitem o
surgimento de rugas precoces e pele redundante palpebral, resultando em
blefarocalase.
HANSENÍASE - COMPLICAÇÕES DECORRENTES DE LESÃO
NEURAL

• Podem ser divididas em primárias, decorrentes do comprometimento sensitivo e


motor após reações hansênicas, e secundárias.
• As complicações secundárias são consequentes às alterações geradas pelas
complicações primárias, como o mal perfurante plantar em paciente com perda de
sensibilidade.
• Os troncos nervosos mais acometidos, no membro superior, são o nervo ulnar, o nervo
mediano e o nervo radial.
• A lesão do nervo ulnar acarreta a paralisia da musculatura intrínseca da mão, que leva
à hiperextensão das articulações metacarpo-falangianas do segundo ao quinto dedo,
com flexão das interfalangianas, ocasionando a garra ulnar. O nervo mediano, acometido
na região do punho, leva à paralisia dos músculos tenares, com perda da oposição do
polegar.
• A lesão do nervo radial, menos acometido entre eles, conduz à perda da extensão de
dedos e punho, causando deformidade em “mão caída”.
HANSENÍASE - COMPLICAÇÕES DECORRENTES DE LESÃO
NEURAL

• No membro inferior, a lesão do tronco tibial posterior acarreta a garra dos artelhos e
importante perda de sensibilidade da região plantar, com graves consequências
secundárias (úlceras plantares).
• A lesão do nervo fibular comum pode provocar a paralisia da musculatura dorsiflexora e
eversora do pé. O resultado é a impossibilidade de elevar o pé, com marcada alteração
da dinâmica normal da marcha (“pé caído”).
• Na face, a lesão do nervo facial causa paralisia da musculatura orbicular, com
consequente impossibilidade de oclusão das pálpebras, levando ao lagoftalmo
(dificuldade de oclusão das palpebras).
HANSENÍASE - COMPLICAÇÕES DECORRENTES DE LESÃO
NEURAL

• As complicações secundárias são devidas, em geral, ao comprometimento neural,


embora requeiram um segundo componente causador. As mais comuns são as úlceras
em mãos e pés, as quais, devido à perda de sensibilidade protetora, fazem com
que a pessoa se exponha a traumas (queimadura, pressão exacerbada em
determinados pontos, fricção ou perfuração com corpo estranho), causando lesões
ulceradas na pele. Da mesma forma, a perda da sensibilidade autonômica, que inerva
as glândulas sebáceas sudoríparas, leva à perda da lubrificação natural da pele,
deixando-a seca e frágil ao trauma.
(2018 / IBADE / Prefeitura de Ji-Paraná – RO)
Com base nas características e manifestações das reações hansênicas (tipos 1 e 2), estabeleça a
correspondência correta entre a primeira e a segunda coluna.
Coluna I
1. Reação Tipo 1
2. Reação Tipo 2

Coluna II
( ) Eritema nodoso hansênico
( ) Alterações de core edema nas lesões antigas
( ) Glomerulonefrite.
( ) Aparecimento de novas lesões dermatológicas
( ) Lesões oculares reacionais.
A sequência correta é:

Alternativas
A
A) 2,1,2 ,1 ,2 . B) 1,2,1,2,1. C) 2,2,1 ,1 ,2 . D) 1,1,2,2,1. E) 2,1,1 ,2 ,2 .
REAÇÕES HANSENÍCAS
• Os estados reacionais ou reações hansênicas são alterações do sistema imunológico,
que se exteriorizam como manifestações inflamatórias agudas e subagudas.
• Enquanto a reação hansênica tipo 1 são reações de hipersensibilidade celular e geram
sinais e sintomas mais restritos, associados à localização dos antígenos bacilares, a
reação hansênica tipo 2 é uma síndrome mediada por imunocomplexos, resultando em
um quadro sistêmico e acometendo potencialmente diversos órgãos e tecidos.

Essas reações podem ocorrer antes do diagnóstico de hanseníase (oportunizando


esse diagnóstico da doença), durante ou depois do tratamento com uma associação
de antibióticos e quimioterápicos, a Poliquimioterapia Única (PQT-U).
REAÇÕES HANSENÍCAS

• Reação tipo 1 ou reação reversa: aparecimento agudo de novas lesões dermatológicas


(manchas ou placas), infiltração, alterações de cor e edema nas lesões antigas, com ou
sem espessamento e neurite.
• Reação tipo 2: o eritema nodoso hansênico é a expressão clínica mais frequente, cujo
quadro inclui nódulos subcutâneos dolorosos, acompanhados ou não de febre, dores
articulares e mal-estar generalizado, com ou sem espessamento e neurite.
• Reação crônica ou subintrante: a reação subintrante é a reação intermitente cujos
surtos são tão frequentes que, antes de terminado um, surge outro. Os doentes
respondem ao tratamento com os medicamentos utilizados para a reação, mas, tão logo
a dose seja reduzida ou retirada, a fase aguda recrudesce. Isso pode acontecer mesmo
na ausência de doença ativa e perdurar por muitos anos após o tratamento.
Reação hansênica tipo 1 Reação hansênica tipo 2
(reação reversa) (eritema nodoso hansênico)

Acomete especialmente pacientes com formas Acomete exclusivamente pacientes multibacilares,


dimorfas da hanseníase e, portanto, pode surgir especialmente aqueles com forma virchowiana e
tanto em casos classificados como paucibacilares dimorfos com altas cargas bacilares.
como nos multibacilares.
Os sintomas gerais são febre, artralgias, mialgias,
Ocorre abruptamente, com piora das lesões de dor óssea, edema periférico e linfadenomegalia,
pele preexistentes e aparecimento de novas além do comprometimento inflamatório dos
lesões, muitas vezes acompanhada por intensa nervos periféricos (neurite), olhos (irite,
inflamação de nervos periféricos. episclerite), testículos (orquite) e rins (nefrite).

Clinicamente, a reação reversa caracteriza-se por Pode-se observar leucocitose elevada com
um processo inflamatório agudo. As lesões neutrofilia, às vezes com desvio à esquerda,
cutâneas tornam-se mais visíveis, com coloração plaquetose, elevação da velocidade de
eritemato-vinhosa, edemaciadas, algumas vezes hemossedimentação e proteína C reativa,
dolorosas. proteinúria e hematúria.
Reação hansênica tipo 1 Reação hansênica tipo 2
(reação reversa) (eritema nodoso hansênico)

Frequentemente, essas alterações aparecem Na pele, a manifestação clássica da reação


também em áreas da pele onde a infecção era hansênica do tipo 2 é o eritema nodoso hansênico
imperceptível, dando origem a lesões (ENH), que são nódulos subcutâneos, dolorosos,
aparentemente novas. geralmente múltiplos e caracterizados
histopatologicamente por paniculite
Em pacientes com intensa resposta inflamatória, Assim como na reação tipo 1, o processo
pode ocorrer ulceração das lesões cutâneas e inflamatório desencadeado pela reação tipo 2
formação de abscessos em nervos periféricos pode causar comprometimento importante dos
nervos periféricos, associado a dano neural e
incapacidades.
Em vista do risco de dano neural, o tratamento da A reação tipo 2 é tratada com
reação tipo 1 deve ser instituído imediatamente, talidomida ou pentoxifilina, de acordo com os
por meio de corticosteroides sistêmicos em doses esquemas descritos neste PCDT.
altas.
Reação hansênica tipo 1 Reação hansênica tipo 2
(reação reversa) (eritema nodoso hansênico)

A prednisona é o medicamento de escolha (após ingerida O tratamento é feito preferencialmente com talidomida,
e absorvida, sofre metabolização hepática, sendo administrada por via oral
convertida em prednisolona, que é sua forma na dose de 100 a 400mg/dia,
farmacologicamente ativa);
Prednisona 1 mg/kg/dia via oral (pela manhã, no café da Nos pacientes que apresentam quadros associados a
manhã) orquite, episclerite e/ou neurite aguda (definida pela
palpação dos nervos periféricos e pela avaliação da função
Dexametasona 0,15 mg/kg/dia em casos de doentes neural), o tratamento deverá
hipertensos ou cardiopatas ser feito com corticosteroides, como descrito para a
reação tipo 1.
Para a “dor nos nervos”, associar antidepressivo tricíclico Na associação de talidomida e corticoide, deve-se
em dose baixa (amitriptilina 25 mg por dia), associado a prescrever ácido acetilsalicílico 100mg/dia como profilaxia
clorpromazina 5 gotas (5 mg) duas vezes ao dia, ou a para tromboembolismo.
carbamazepina 200 a 400 mg por dia.
Não trate “dor nos nervos” com prednisona nem A pentoxifilina pode ser uma opção terapêutica
com talidomida. A dose de amitriptilina pode chegar a 75 para os casos de contraindicação da talidomida e quando
mg por dia e a de clorpromazina não houver indicação para o
até 50 mg por dia, em aumentos graduais. uso de corticoterapia, como em mulheres com potencial
reprodutivo e sem neurite.
FATORES ASSOCIADOS OU
PRECIPITANTES DAS REAÇÕES HANSÊNICAS

• gravidez (especialmente o período pós-parto)


• alterações hormonais da adolescência
• coinfecções
• parasitoses intestinais
• focos de infecção dentária
• uso de vacinas
• estresse físico e psicológico
• pacientes com saúde oral comprometida, especialmente na presença de cáries,
periodontite, sangramento gengival, cálculo dentário e bolsa periodontal
HANSENÍASE - DIAGNÓSTICO
• O diagnóstico se dá por meio do exame clínico e epidemiológico.
• É realizado por meio do exame da pele e dos nervos para identificar lesões ou áreas
de pele com alteração de sensibilidade e/ou comprometimento de nervos periféricos, com
alterações sensitivas e/ ou motoras e/ou autonômicas.
• Também se faz necessária a investigação do histórico familiar de casos de
hanseníase e da rede social de convívio, como forma de analisar o contexto
socioepidemiológico no qual o indivíduo está inserido.
• Alguns pacientes não apresentam lesões visíveis na pele, e podem ter lesões apenas
nos nervos (hanseníase neural pura). Esses casos necessitam de avaliação
especializada e exames de apoio diagnóstico, além de exame clínico mais criterioso.
• Ressalta-se que o diagnóstico precoce é a ferramenta mais importante para o
tratamento oportuno, favorecendo a quebra da cadeia de transmissão do M. leprae e
prevenindo o desenvolvimento das incapacidades físicas.
HANSENÍASE - DIAGNÓSTICO
DIAGNÓSTICO DAS REAÇÕES
• O diagnóstico dos estados reacionais é realizado pelo exame físico geral do
doente. Além disso, recomenda-se a realização da avaliação neurológica simplificada
(ANS), imprescindível para o monitoramento do comprometimento de nervos periféricos e
para a avaliação da terapêutica antirreacional. A identificação das reações não
contraindica o início do tratamento com a PQT-U.
• Essas ocorrências deverão ser consideradas como situações de urgência e
encaminhadas às unidades de maior complexidade para tratamento nas primeiras 24
horas.
• Mesmo que os estados reacionais apareçam durante esse período, o tratamento
não deve ser interrompido, inclusive porque ele reduz a frequência e a gravidade
das reações.
• Se os estados reacionais forem observados após o tratamento específico para a
hanseníase, não é necessário reiniciar o tratamento, e sim iniciar a terapêutica
antirreacional.
HANSENÍASE - DIAGNÓSTICO
DIAGNÓSTICO LABORATORIAL
• Exame baciloscópico: a baciloscopia (esfregaço intradérmico raspado de pele) deve
ser utilizada como exame complementar para a classificação dos casos como PB ou
MB. A baciloscopia positiva classifica o caso como MB, independentemente do número
de lesões. O resultado negativo da baciloscopia não exclui o diagnóstico da
hanseníase, também não classifica obrigatoriamente o doente como PB. A baciloscopia
direta para BAAR da hanseníase deve ser disponibilizada na APS e, alternativamente,
nos demais níveis de atenção, conforme a necessidade e organização da RAS local.

•Exame histopatológico: O exame histopatológico é empregado nos casos em que o


diagnóstico persiste indefinido mesmo após a avaliação clínica e baciloscópica. É
utilizado especialmente no diagnóstico diferencial da hanseníase em relação a outras
doenças dermatológicas e nos casos de acometimento neural sem lesões cutâneas,
quando os fragmentos são obtidos do tecido nervoso. Na ausência de bacilos visíveis,
esse exame não deve ser utilizado isoladamente para classificação como PB ou MB.
HANSENÍASE - DIAGNÓSTICO
Quando disponíveis, os exames laboratoriais complementares, como hemograma, TGO,
TGP e creatinina, devem ser solicitados no início do tratamento, em casos de episódios
reacionais e efeitos adversos a medicamentos no seguimento dos doentes. A análise dos
resultados desses exames não deve retardar o início da PQT-U, exceto nos casos em que
a avaliação clínica sugerir doenças que contraindiquem o início do tratamento.

Teste rápido imunocromatográfico para detecção de anticorpos IgM contra o M.


leprae: O Brasil é o primeiro país do mundo a incorporar, no âmbito do SUS, um teste
rápido para detecção de anticorpos anti-M. leprae como método auxiliar as ações de
controle da hanseníase. O teste rápido deve ser utilizado como ferramenta de apoio na
avaliação de contatos, a fim de indicar o grupo a ser monitorado mais de perto quanto ao
surgimento de sinais e sintomas da hanseníase e direcionar o encaminhamento à Atenção
Especializada, para avaliação por especialista em caso de alterações suspeitas
inconclusivas.
HANSENÍASE - DIAGNÓSTICO
ELETROFISIOLÓGICO
• Eletroneuromiograma (eletroneuromiografia): quando disponível, é indicada como
apoio na elucidação diagnóstica em casos mais complicados e principalmente para
diagnóstico diferencial.

DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
As seguintes dermatoses podem se assemelhar a algumas formas e reações de
hanseníase e exigem segura diferenciação: eczemátides, nervo acrômico, pitiríase
versicolor, vitiligo, pitiríase rósea de Gilbert, eritema solar, eritrodermias e eritemas difusos
vários, psoríase, eritema polimorfo, eritema nodoso, eritemas anulares, granuloma anular,
lúpus eritematoso, farmacodermias, fotodermatites polimorfas, pelagra, sífilis, alopecia
areata (pelada), sarcoidose, tuberculose, xantomas, esclerodermias e neurofibromatose de
von Recklinghausen. A principal forma de diferenciação reside na presença de redução de
sensibilidade (dormência) da lesão de pele, presente na hanseníase e ausente nas
doenças citadas anteriormente.
HANSENÍASE - DIAGNÓSTICO
ULTRASSOM DE NERVOS PERIFÉRICOS
A ultrassonografia de nervos periféricos contribui diretamente para a avaliação do dano
neural, pela demonstração de espessamentos focais, edema intraneural, microabscessos e
perda da arquitetura fascicular normal dos nervos periféricos. Alterações da textura podem
ser verificadas pelo aumento ou diminuição nos padrões ecogênicos normais, enquanto o
doppler colorido é muito útil para analisar a vascularização, às vezes aumentada pelo
processo inflamatório. Além disso, o exame permite analisar nervos em áreas anatômicas
em que a palpação é mais difícil ou inacessíve
(2022 / IBADE / INOVA Capixaba – ES)
A investigação epidemiológica de contatos do portador de hanseníase é uma das
estratégias para identificação de novos casos. Neste contexto, o contato de hanseníase é:
A) toda e qualquer pessoa da família, que resida e conviva com o doente de hanseníase,
no último ano que antecedeu ao diagnóstico da doença.
B) toda e qualquer pessoa, da família ou não, que tenha convivido com o doente de
hanseníase, nos dois anos anteriores ao diagnóstico da doença.
C) toda e qualquer pessoa, da família ou não, que resida ou tenha residido, conviva ou
tenha convivido, com o doente de hanseníase, nos seis meses anteriores ao diagnóstico da
doença.
D) toda e qualquer pessoa, da família, que resida ou tenha residido, conviva ou tenha
convivido, com o doente de hanseníase, nos sessenta dias anteriores ao diagnóstico da
doença.
E) toda e qualquer pessoa, da família ou não, que resida ou tenha residido, conviva ou
tenha convivido, com o doente de hanseníase, nos cinco anos anteriores ao diagnóstico da
doença.

E
INVESTIGAÇÃO DE CONTATOS
• Contato domiciliar: toda e qualquer pessoa que resida ou tenha residido, conviva ou
tenha convivido com o doente de hanseníase, no âmbito domiciliar, nos últimos cinco (5)
anos anteriores ao diagnóstico da doença, podendo ser familiar ou não. Atenção especial
deve ser dada aos familiares do caso notificado, por apresentarem maior risco de
adoecimento, mesmo não residindo no domicílio do caso. Devem ser incluídas, também,
as pessoas que mantenham convívio mais próximo, mesmo sem vínculo familiar,
sobretudo, àqueles que frequentem o domicílio do doente ou tenham seus domicílios
frequentados por ele.

• Contato social: toda e qualquer pessoa que conviva ou tenha convivido em relações
sociais (familiares ou não), de forma próxima e prolongada com o caso notificado. Os
contatos sociais que incluem vizinhos, colegas de trabalho e de escola, entre outros,
devem ser investigados de acordo com o grau e tipo de convivência, ou seja, aqueles
que tiveram contato muito próximo e prolongado com o paciente não tratado.
INVESTIGAÇÃO DE CONTATOS:
NOTAS
• Atenção especial deve ser dada aos familiares do doente (pais, irmãos, avós,
netos, tios, etc.), por estarem inclusos no grupo de maior risco de adoecimento, mesmo
que não residam no mesmo domicílio.
• Tanto os contatos domiciliares quanto os sociais deverão ser identificados a partir do
consentimento do caso notificado, buscando-se estabelecer estratégias de acolhimento e
aconselha mento que permitam abordagem qualificada e ética, prevenindo situações que
potencializem diagnóstico tardio, estigma e preconceito.
• Recomenda-se a avaliação dermatoneurológica pelo menos uma vez ao ano, por
pelo menos (5) anos, de todos os contatos domiciliares e sociais que não foram
identificados como casos de hanseníase na avaliação inicial, independentemente da
classificação operacional do caso notificado – paucibacilar (PB) ou multibacilar (MB).
Após esse período esses contatos deverão ser esclarecidos quanto à possibilidade de
surgimento, no futuro, de sinais e sintomas sugestivos de hanseníase.
(2023 / Quadrix / IIER – SP)
A hanseníase é uma doença crônica, causada pela bactéria Mycobacterium leprae
e transmitida por gotículas, que pode afetar qualquer pessoa. Entre seus sinais e
sintomas, estão a alteração, a diminuição ou a perda da sensibilidade térmica,
dolorosa, tátil e de força muscular, principalmente em mãos, braços, pés, pernas e
olhos, que podem gerar incapacidades permanentes. No SUS, o tratamento
farmacológico da hanseníase é feito com poliquimioterapia única (PQT-U), que
associa três fármacos. A partir dessas informações, assinale a alternativa que
apresenta corretamente os três fármacos utilizados no tratamento da hanseníase.
A) rifampicina, isoniazida e clofazimina
B) rifampicina, dapsona e etambuto
C) rifampicina, isoniazida e pirazinamida
D) rifampicina, isoniazida e etambutol
E) rifampicina, dapsona e clofazimina

E
HANSENÍASE - TRATAMENTO
• O tratamento da hanseníase é realizado no âmbito do SUS, em regime ambulatorial,
por meio de PQT-U, padronizada pela OMS. Está disponível em unidades públicas de
saúde, básicas e de referência.
• Os medicamentos são disponibilizados via Componente Estratégico da Assistência
Farmacêutica (Cesaf) e estão alocados no Anexo II da Relação Nacional de
Medicamentos Essenciais – Rename.
• A PQT-U é eficaz e diminui a resistência medicamentosa do bacilo, provocando a sua
morte e evitando a evolução da doença. Ou seja, se o tratamento é realizado de forma
completa e correta, a transmissão da doença é interrompida, o que impede que outras
pessoas sejam infectadas, e o paciente é curado.
• O paciente deve tomar as doses mensais supervisionadas pelo profissional de
saúde. As demais são autoadministradas.
• A alta por cura é dada após a administração do número de doses preconizado, dentro do
prazo recomendado.
HANSENÍASE - TRATAMENTO
• A regressão das lesões dermatológicas da hanseníase, durante e após o uso da
poliquimioterapia, é bastante variável, podendo levar meses ou anos para ocorrer.
• Essa resposta pode ser ainda mais lenta nos MB, especialmente em pacientes com
hansenomas, lesões infiltradas e índice baciloscópico (IB) elevado.
• Nos casos de doentes com intolerância grave ou contraindicação a algum dos
medicamentos do esquema-padrão da PQT-U, são indicados esquemas substitutivos,
que devem ser conduzidos sob orientação de serviços de saúde de referência.
• Nos casos de hanseníase neural pura, o tratamento com PQT-U dependerá da
classificação, conforme avaliação do centro de referência; além disso, faz-se o
tratamento adequado do dano neural.
• Os pacientes deverão ser orientados para retorno imediato à unidade de saúde, em caso
de aparecimento de lesões de pele e/ou de dores nos trajetos dos nervos periféricos,
e/ou de piora da função sensitiva e/ou motora, mesmo após o fim do tratamento.
HANSENIASE – SEGMENTO DOS
CASOS
Os pacientes devem ser agendados para retorno a cada 28 dias. Nessas consultas,
eles tomam a dose supervisionada no serviço de saúde e recebem a cartela com os
medicamentos nas doses a serem auto administradas em domicílio.
Essa oportunidade deve ser aproveitada para avaliação do doente, em caso de:
• Comprometimento neural.
• Surgimento de reações hansênicas.
• Efeitos adversos.
• Orientações sobre higiene e autocuidado.
• Também devem-se convocar e agendar contatos faltosos para serem examinados,
esclarecer dúvidas e fornecer orientações.
CRITERIO DE ALTA POR CURA
• O encerramento da PQT-U deve acontecer segundo os critérios de regularidade no
tratamento: número de doses registradas e tempo de tratamento recomendado, sempre
com avaliação neurológica simplificada, avaliação do grau de incapacidade física e
orientação para os cuidados após a alta.
• Para pacientes PB, o tratamento estará concluído com seis doses supervisionadas em
até nove meses. Na sexta dose supervisionada, os pacientes deverão ser submetidos ao
exame dermatológico, à avaliação neurológica simplificada e à avaliação do grau de
incapacidade física, e receber alta por cura.
• Para pacientes MB, o tratamento estará concluído com 12 doses supervisionadas em
até 18 meses. Na 12ª dose supervisionada, os pacientes deverão ser submetidos ao
exame dermatológico, à avaliação neurológica simplificada e à avaliação do grau de
incapacidade física, e receber alta por cura.
CRITERIO DE ALTA POR CURA

A alta por cura representa a saída do paciente do registro ativo da doença no Sistema de
Informação de Agravos de Notificação (Sinan), mas não impede que o usuário continue a
ser acompanhado na atenção primária por equipe multidisciplinar, que pode continuar a
prestar apoio social, apoio psicológico, vigilância/controle das reações hansênicas,
tratamento da dor neuropática, reabilitação e tratamento de comorbidades (hipertensão
arterial, diabetes mellitus, entre outros).
REICIDIVA

• Definem-se como recidiva todos os casos de hanseníase tratados regularmente,


com os esquemas padronizados e corretamente indicados, que receberam alta por
cura, isto é, saíram do registro ativo da doença no Sinan, e que voltaram a
apresentar novos sinais e sintomas clínicos de doença infecciosa ativa.
• Os casos de recidiva em hanseníase geralmente ocorrem em período superior a cinco
anos após a cura.
• Após a confirmação da recidiva, esses casos devem ser notificados no modo de entrada
“recidiva”.
• O diagnóstico diferencial entre reação e recidiva deverá ser baseado na associação de
exames clínicos e laboratoriais, especialmente a baciloscopia de raspado intradérmico
RESISTENCIA MEDICAMENTOSA
Situação rara, da qual se deve suspeitar quando pacientes que realizaram tratamento
adequado presentam evolução desfavorável sem sinais de melhora clínica, mesmo após a
extensão do tempo de tratamento, resultando em falência terapêutica.

Deve-se suspeitar de resistência medicamentosa quando:


• Aparecerem lesões invadindo áreas habitualmente poupadas, como linha média dorsal,
região central da coluna vertebral, axilas e oco poplíteo.
• Houver alterações enzimático-metabólicas dos doentes que implicarem diminuição da
eficácia dos medicamentos, a qual será aventada quando, na investigação molecular de
resistência medicamentosa, o bacilo não apresentar mutação de resistência a nenhum
dos principais medicamentos da PQT-U.

Casos de hanseníase com irregularidade do tratamento são os que têm maior


probabilidade de apresentar bacilo com resistência medicamentosa
HANSENIASE EM SITUAÇÕES
ESPECIAIS
HANSENÍASE E GESTAÇÃO
• Em que pese a recomendação de restringir a administração de drogas no primeiro trimestre
da gravidez, os esquemas-padrão de PQT-U para tratamento da hanseníase estão
recomendados.
• Contudo pessoas com diagnóstico de hanseníase e não gestantes devem receber
aconselhamento para planejar a gestação após a finalização do tratamento de hanseníase.
• As alterações hormonais da gravidez causam diminuição da imunidade celular, fundamental
na defesa contra o M. leprae, portanto é comum que os primeiros sinais de hanseníase, em
uma pessoa já infectada, apareçam durante a gravidez e no puerpério, quando também
podem ocorrer os estados reacionais e os episódios de recidivas.
• Os recém-nascidos, porém, podem apresentar a pele hiperpigmentada pela clofazimina,
condição que regride gradualmente após o término da exposição à PQT-U.
• Não existe contraindicação ao aleitamento materno para quem está sob tratamento adequado
da hanseníase.
HANSENIASE EM SITUAÇÕES
ESPECIAIS
HANSENÍASE E INFECÇÃO PELO HIV E/OU AIDS
Deve ser mantido o esquema de PQT-U, de acordo com a classificação operacional.
Especial atenção deve ser dada às reações hansênicas, que podem ocorrer com maior
gravidade.

HANSENÍASE E OUTRAS DOENÇAS


Em casos de associação da hanseníase com doenças hepáticas, renais ou hematológicas,
a escolha do melhor esquema terapêutico para tratar a hanseníase deverá ser discutida
com especialistas das referidas áreas.
Vacinação BCG (bacilo de Calmette-
Guérin)
• A vacina BCG deverá ser aplicada nos contatos examinados, sem presença de
sinais e de sintomas de hanseníase no momento da avaliação, tanto em contatos
de casos PB como de casos MB.
• Se o contato apresentar lesões suspeitas de hanseníase, deve-se encaminhá-lo para
consulta médica.
• Sendo descartada a hanseníase, é preciso orientar acerca da doença e dirigi-lo para
aplicação intradérmica de BCG.
• A aplicação da vacina para os contatos sadios de hanseníase depende da história
vacinal e segue os critérios estabelecidos pelo Manual de Normas e Procedimentos para
Vacinação
Vacinação BCG (bacilo de Calmette-
Guérin)
1. Todo contato de hanseníase deve receber a orientação de que a BCG não é uma vacina
específica para essa doença.
2. Os contatos de hanseníase que no passado já foram casos e tratados para essa doença
não necessitam de imunoprofilaxia com a vacina BCG.
3. Os contatos de hanseníase que estejam em tratamento para tuberculose e/ou que já
tenham sido tratados para essa doença não necessitam de imunoprofilaxia com a vacina
BCG.
4. É importante considerar a situação de risco dos contatos possivelmente expostos ao HIV
e outras situações de imunodepressão, incluindo corticoterapia e uso de drogas
imunobiológicas. Para pessoas vivendo com HIV, devem-se seguir as recomendações
específicas para imunização com agentes biológicos vivos ou atenuados. Para mais
informações, consultar o Manual de Normas e Procedimentos para vacinação
Vacinação BCG (bacilo de Calmette-
Guérin)
A revacinação com BCG é contraindicada nas seguintes situações:
• Portadores de imunodeficiência primária ou adquirida;
• Pacientes acometidos por neoplasias malignas;
• Pacientes em tratamento com corticosteroides em dose elevada (equivalente à dose de
prednisona de 2mg/kg/dia para crianças até 10kg ou de 20mg/dia ou mais, para
indivíduos acima de 10kg) por período superior a duas semanas;
• Gestantes.
INCAPACIDADE E FUNÇÃO NEURAL:
AVALIAÇÃO DA INCAPACIDADE FÍSICA

A avaliação neurológica deve ser realizada:


• No início do tratamento.
• A cada três meses durante o tratamento, se não houver queixas.
• Sempre que houver queixas, tais como: dor em trajeto de nervos, fraqueza muscular,
início ou piora de queixas parestésicas.
• No controle periódico de doentes em uso de corticoides por estados reacionais e
neurites.
• Na alta do tratamento.
• No acompanhamento pós-operatório de descompressão neural, com 15, 45, 90 e 180
dias.
PREVENÇÃO, REABILITAÇÃO E
AUTOCUIDADO
(2022 / UNIOESTE / Prefeitura de Ramilândia – PR)
A Hanseníase é uma doença infectocontagiosa de caráter crônico, com manifestações dermatoneurológicas e
potencial incapacitante (BRASIL, 2021). Sobre a classificação operacional da Hanseníase, é CORRETO afirmar:
Alternativas
A) Hanseníase paucibacilar tuberculoide é caracterizada por áreas de hipo ou anestesia, parestesias, manchas
hipocrômicas e/ou eritemo-hipocrômicas, com ou sem diminuição da sudorese e rarefação de pelos.
B) Hanseníase paucibacilar indeterminada é caracterizada por placas eritematosas, eritêmato-hipocrômicas, até 5
lesões de pele bem delimitadas, hipo ou anestésicas, podendo ocorrer comprometimento de nervos.
C) Hanseníase multibacilar dimorfa é caracterizada por lesões pré-foveolares (eritematosas planas com o centro
claro). Lesões foveolares (eritematopigmentares de tonalidade ferruginosa ou pardacenta), apresentando
alterações de sensibilidade.
D) Hanseníase paucibacilar indeterminada é caracterizada por lesões pré-foveolares (eritematosas planas com o
centro claro). Lesões foveolares (eritematopigmentares de tonalidade ferruginosa ou pardacenta), apresentando
alterações de sensibilidade.
E) Hanseníase multibacilar dimorfa é caracterizada por áreas de hipo ou anestesia, parestesias, manchas
hipocrômicas e/ou eritemo-hipocrômicas, com ou sem diminuição da sudorese e rarefação de pelos.

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