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Infecções sexualmente transmissíveis (IST) são causadas por (OMS)-incidência estimada da sífilis + 6 milhões de casos anualmente.

patógenos que podem ser adquiridos ou transmitidos por via sexual. No sexo masculino as taxas de incidência são maiores.
Representam problema de saúde pública em países em
desenvolvimento e já desenvolvidos. Além disso, a inflamação Pode-se classificar a sífilis de acordo com a sua manifestação clínica e o
decorrente de IST facilita a infecção pelo vírus da imunodeficiência tempo de evolução:
humana (HIV). Portanto, o tratamento precoce dos pacientes, por vezes •Recente (<1 ano de evolução): primária, secundária e latente recente
em fase subclínica da doença, minimiza os danos, elimina a cadeia de •Tardia (>1 ano de evolução): latente tardia e terciária.
transmissão e dificulta a transmissão do HIV.
Primária
O Ministério da Saúde tem se esforçado em implantar a abordagem -Caracteriza-se por cancro duro, exulceração ou ulceração não
sindrômica das IST, dividindo-as em úlceras genitais, corrimentos dolorosa, geralmente única, com borda regular, elevada e bem
vaginais, corrimentos uretrais e infecção pelo papilomavírus humano delimitada, de fundo limpo, que ocorre de 10 a 90 dias (média de 21
(HPV). Tratando-se todos os agentes possíveis em cada síndrome, atinge- dias) após o contato infectante.
se o tratamento correto mais rapidamente e se quebra a cadeia de -O quadro é acompanhado por adenomegalia regional não supurativa.
transmissão. Essa abordagem é útil em áreas sem recursos diagnósticos -Se não tratada, a sífilis involui espontaneamente em 3 a 6 semanas. É
e auxilia no raciocínio diagnóstico a partir das síndromes clínicas. altamente infectante e rica em treponemas, que podem ser
Neste capítulo, abordaremos a diagnose e o tratamento etiológico das visualizados por meio de pesquisa direta em campo escuro. Vinte e
IST clássicas: sífilis, cancro mole, donovanose, linfogranuloma venéreo, cinco por cento dos casos não apresentam cancro (sífilis decapitada).
herpes genital, condiloma acuminado, corrimentos vaginais e uretrites. A
infecção pelo HIV será abordada em seção específica. Secundária
Importante ressaltar que, segundo o PCDT – Protocolo Clínico e -6 a 8 semanas (42- 56 dias) após o surgimento da lesão primária
Diretrizes Terapêuticas para Atenção Integral às Pessoas com Infecções •Micropoliadenopatia generalizada: *linfonodos epitrocleares*
Sexualmente Transmissíveis (IST), do Ministério da Saúde (disponível •Roséola sifilítica: lesões eritemato-róseas, disseminadas pelo
gratuitamente na internet), todo paciente portador ou suspeito de IST tegumento, em geral não pruriginosas e levemente descamativas; é
deve: comum o acometimento palmoplantar de lesões de roséola na sífilis
•Lesões mucosas brancas: placas brancas de superfície lisa nas
•Ter o(a) parceiro(a) também examinado(a) mucosas
•Ser avaliado e aconselhado quanto à adoção de práticas mais seguras •Alopecia em clareira: com perda linear de fios, conferindo aspecto
para a redução do risco de contrair IST rarefeito aos cabelos e sobrancelhas
•Ter oferecida a realização de teste para infecção pelo HIV (com •Condiloma plano: placas de 1 ou 2 cm, brancas e úmidas (maceradas),
aconselhamento pré e pós-teste) e, se possível, para hepatites B e C nas áreas de dobras, principalmente perianais e vulvares, mas também
•Ter oferecidas as imunizações pertinentes para hepatites e HPV, de axilas.
acordo com as diretrizes vigentes
•Ter oferecidas as terapias de pré-exposição e pós-exposição ao HIV,
de acordo com as diretrizes vigentes..

ÚLCERAS GENITAIS

Frente ao paciente que se apresenta com quadro de úlcera genital,


anal ou perianal, deve-se implementar tratamento empírico, antes
mesmo de testes confirmatórios, de acordo com quadro clínico e
história.

Agentes causadores de úlceras genitais:

Sífilis
-Doença sistêmica de evolução crônica sujeita a surtos de agudização e
períodos de latência quando não tratada.
-Causada pelo Treponema pallidum, espiroqueta de transmissão
sexual e vertical.
-O risco de infecção em intercurso sexual é de 60% nas lesões de cancro
duro e condiloma plano. Indicava-se notificação compulsória nos casos
de sífilis congênita e sífilis em gestante, e, em 2010, a sífilis adquirida foi
incluída nos agravos de notificação compulsória (portaria no 2.472, 31 de
agosto de 2010), em razão da piora no cenário epidemiológico da sífilis.
alopecia do couro cabeludo, da barba e das sobrancelhas. A alopecia
pode ocorrer em áreas localizadas do couro cabeludo, levando ao
aspecto clínico conhecido como “alopecia em clareira” ou difusa – os
cabelos caem e são facilmente removidos com pequena tração. Essas
manifestações são encontradas em 3 a 7% dos pacientes e podem
consistir nos únicos sinais do estágio secundário

-Superfície palmoplantar →frequentemente afetada, sugestivas de


sífilis secundária; lesões papuloceratósicas.
- Superfícies mucosas → lesões são extremamente contagiosas:
1-Condilomata lata, ou condiloma plano ➔ região anogenital, pápulas
íntegras ou erosadas, isoladas ou confluentes (confundidas com
verrugas
2-placas mucosas
3-faringite.

-Alterações ungueais - onicólise e distrofia, paroníquia e ulceração da


base ungueal.
-Manifestações oftalmológicas
auditivas,
musculoesqueléticas,
renais,
hepáticas,
gástricas e
cardiopulmonares
-Pode haver envolvimento do SNC.
-Cefaleia → meningite → paralisia de um ou mais nervos cranianos.
-meningomielite com paraplegia é rara.

Mesmo sem tratamento, as lesões cutâneas e manifestações


sistêmicas desaparecem de modo espontâneo e, a partir desse
momento, o paciente entra no estágio latente.

Latente
Sífilis adquirida que não apresenta sinais e sintomas clínicos.
-Sífilis latente recente (até 1 ano de infecção)
-Sífilis latente tardia (mais de 1 ano de infecção).
➔ sorologia é positiva – os títulos são variáveis, dependendo do tempo
de evolução.

Terciária
-3 a 12 anos após a fase de latência, podendo apresentar sintomas
neurológicos (tabes dorsalis e demência), cardiovasculares (aneurisma
de aorta) e cutâneos (gomas).

Os pacientes com sífilis secundária podem apresentar


-1/3 da Sífilis não tratada, os outros 2/3 = latente toda a vida sinovite indolor, afetando a articulação dos joelhos. O principal achado
radiológico é o aumento do espaço intra-articular.
-Lesões nodulares e gomosas e envolvimento das mucosas → -Envolvimento ósseo: verifica-se periostite dos ossos longos,
Agrupam-se → placas com aspecto circinado, qualquer parte do corpo, principalmente da tíbia, que se torna aumentada de tamanho e
mas predominam na superfície extensora dos braços, no dorso e na apresenta curvatura anteroposterior (“tíbia em lâmina de sabre”).
face. -Surdez, por lesão do oitavo par craniano: achado
-Gomas = amolecimento, fistulização e ulceração dos nódulos = frequente na maioria dos casos; o acometimento é bilateral. O
indolor = tecidos subcutâneo, ósseo e/ou muscular. Essas lesões podem processo inicia-se com tinitus, vertigem e déficit auditivo que evolui
simular tuberculose cutânea, leishmaniose, cromomicose, gradualmente para a surdez.
sarcoidose, esporotricose e tumores. - Neurossífilis: a principal manifestação é a paralisia geral juvenil, que
Nas mucosas podem ocorrer lesões infiltrativas e gomosas, se inicia entre os seis e 21 anos de idade. Entre os estigmas da sífilis
principalmente no palato, mucosa nasal, língua, tonsilas e faringe. congênita observam-se:
Entre as manifestações cardiovasculares mais importantes estão -fronte olímpica; mandíbula curva; arco palatino elevado; cicatrizes
-Aortite, lineares, radiadas, perilabiais e perianais; nariz em sela; e dentes de
-Aneurisma aórtico, Hutchinson – deformidade dos dentes incisivos, com entalhes em suas
-Estenose coronariana, bordas cortantes. A tríade de Hutchinson consiste na presença de dentes
-Insuficiência da válvula aórtica e de Hutchinson, ceratite intersticial e surdez por lesão do oitavo par
-Miocardite craniano.

-Antes da penicilina, 23 a 87% dos casos de sífilis → doença


neurológica.
■■ Meningite sifilítica aguda: primeiro ano
após a infecção.
■■ Neurossífilis parenquimatosa: caracterizada por
tabes dorsalis, paralisia geral e atrofia óptica.
■■ Paralisia geral: caracterizada por sintomas psiquiátricos e/ou
neurológicos. Os exames neurorradiológicos não são específicos
para o diagnóstico da neurossífilis, sendo frequente a ausência de
alterações à ressonância magnética ou tomografia
computadorizada. O exame sorológico do LCR é o melhor método
para diagnóstico e resposta ao tratamento.

SÍFILIS CONGÊNITA
ausência de tratamento → grávidas transmissão da doença para o feto
(via transplacentária ou durante o parto).
Quanto mais avançado for o estágio da gravidez, menor será a
possibilidade de transmissão transplacentária.

A infecção pelo T. pallidum durante a gravidez → parto prematuro,


morte intrauterina, morte neonatal ou sífilis congênita (precoce e
tardia).
DIAGNÓSTICO LABORATORIAL E DIAGNÓSTICO
-sífilis congênita precoce manifestações clínicas →dois primeiros DIFERENCIAL SÍFILIS
anos de vida, lesões cutâneas são similares às observadas em adultos
durante a fase secundária, diferindo somente pelo fato de serem mais
infiltradas, com ou sem escamas, localizadas principalmente nas Pesquisa em campo escuro Visualização direta das espiroquetas no
superfícies palmoplantares. material coletado da secreção da lesão do cancro duro ou nas placas e
- Neurossifilis - 40 a 60% das crianças nessa fase lesões cutâneas da fase secundária, ao microscópio com luz
-Ocasionalmente, as lesões podem ser bolhosas (quadro denominado polarizada (campo escuro).
“pênfigo sifilítico”) ou ulceradas. *****Resultado negativo não exclui sífilis.
-Baixo peso ao nascer, -Essa técnica não é recomendada para materiais de cavidade oral,
-Dificuldade respiratória, em virtude da colonização por outros espiroquetas que podem interferir
-Irritabilidade, no diagnóstico de sífilis.
-Choro débil,
-Rinorreia sanguinolenta, Exames treponêmicos São as provas sorológicas mais específicas
-Linfadenopatia, (anticorpos contra antígenos treponêmicos),
-osteocondrite, -Dizer se o paciente teve contato algum dia com o treponema.
-hepatoesplenomegalia, - (+) 15 dias após a infecção. Não se prestam ao seguimento de
-anemia, tratamento, e na maioria dos casos permanecem positivos por toda a
-icterícia, vida.
-trombocitopenia e -FTA-ABS - ***teste de referência ou padrão ouro
-pseudoparalisia de Parrot -ELISA (enzyme-linked immunosorbent assay – ensaio de
imunoabsorção enzimática) e
- sífilis congênita tardia >2 anos, corresponde a sífilis adquirida -testes de hemaglutinação TPHA, do inglês T. Pallidum
tardiamente do adulto, apresentando lesões similares às dessa fase, Haemagglutination Test). Seu resultado é expresso em positivo ou
como sifílides nodulares, goma e periostite. negativo.
-Ceratite intersticial: manifestação mais comum e mais grave desse - Testes Rápidos – TR - Não necessitam de estrutura laboratorial para
estágio. Acomete, geralmente, os dois olhos → fotofobia, dor ocular e serem executados. Podem ser feitos em amostras de sangue total, soro
diminuição da acuidade visual. O tratamento antissifilítico não influencia ou plasma. Entre a coleta da amostra e a emissão do resultado decorrem
na evolução desse quadro. ■■ Articulação de Clutton: caracteriza-se por cerca de 30 minutos.
1/8 –, recomendam-se as reações específicas. Como regra geral, deve-
se lembrar que
-↑estágio clínico da doença, ↓título sorológico.
-Em casos suspeitos de neurossífilis, o exame do liquor deve ser
realizado.

reação de fta-abs

teste de reagina plasmática rápida (RPR)


ensaio de hemaglutinação de Treponema pallidum (TPHA)
teste enzimaimunoensaio (ELISA)

Exames não treponêmicos -O VRDL e o RPR


-Não são específicos para a sífilis. Eles funcionam detectando a
presença de anticorpos não específicos que o organismo produz em
resposta à infecção pela bactéria.
O procedimento básico para ambos os testes é o mesmo: uma pequena
quantidade de sangue do paciente é coletada e misturada com uma
substância contendo antígenos cardiolipina-colesterol-lecitina. Se o TRATAMENTO
sangue contiver anticorpos contra o Treponema pallidum, ocorrerá uma SÍFILIS ADQUIRIDA
aglutinação visível, que é interpretada como um resultado positivo. Sífilis primária
FALSO (+) → -gestação,
-Penicilina G benzatina, 2.400.000 UI, via intramuscular, em dose única
-doenças autoimunes,
– faz-se 1.200.000 UI em cada glúteo. (Se o paciente for alérgico a
-usuários de substâncias intravenosas,
penicilina, recomenda-se tetraciclina ou eritromicina, 500 mg por via
-doenças de ativação policlonal,
oral, de 6 em 6 horas, durante 15 dias. Outra alternativa importante para
-HIV,
os doentes alérgicos a penicilina é a Ceftriaxona, na dose de 250 mg ou
1 g diário, a cada 2 dias, durante 10 dias. A azitromicina também pode
FALSO (-) → -Exame precoce (20 a 30% dos pacientes com
ser utilizada nos casos de alergia a penicilina. Porém, são comumente
cancro duro podem ter sorologia negativa);
relatados casos de sífilis resistentes a essa última droga.
-Fenômeno prozona (o excesso de anticorpos
dificulta a aglutinação do complexo Ag-Ac, embora
o paciente tenha anticorpos antitreponema)
Sífilis secundária
-Imunossupressão avançada (HIV). -Penicilina G benzatina, 2.400.000 UI, por via intramuscular, uma vez
devendo, portanto, ser confirmados por um teste por semana, durante duas semanas, na dose total de 4.800.000 UI. (A
treponêmico. tetraciclina ou a eritromicina, durante 30 dias, é recomendada para
pacientes que tenham alergia à penicilina.)
PRIMÁRIA OU CANCRO SIFILÍTICO*
-Pesquisa de treponema em campo escuro Sífilis terciária
-Exame histopatológico. -Penicilina G benzatina 2.400.000 UI, por via intramuscular, uma vez por
Infelizmente, esses exames não estão disponíveis na maioria dos semana, durante três semanas, na dose total de 7.200.000 UI.
serviços de saúde. Por essa razão, muitos pacientes são tratados de
acordo com o quadro clínico. Neurossífilis
-O (VDRL) torna-se positivo quatro a cinco semanas após a infecção - tratamento hospitalar, com penicilina cristalina, 4
-O (FTA-Abs) na terceira semana após a infecção milhões de unidades, por via endovenosa, de 4 em 4 horas, durante 15
dias.
SÍFILIS SECUNDÁRIA, LATENTE E TERCIÁRIA - neurossífilis assintomática → tratamento ambulatorial com penicilina
-triagem → VDRL e teste RPR. G procaína – 600.000 UI, por via intramuscular, em dose única, diária,
-VDRL e o RPR são testes úteis e baratos, mas não durante 20 dias. alergia à penicilina utilizam-se:
são específicos, podendo apresentar reação cruzada com ■■ Cloranfenicol
hanseníase virchowiana, doença de Lyme, HTLV-1, malária, ■■ Doxiciclina: 100 mg
tuberculose e outras doenças.
-FTA-Abs, TPHA e MHA-TP = exames específicos e confirmatórios.
-ELISA → ↑ sensibilidade (100%) na detecção da sífilis congênita.
Mulheres grávidas
O tratamento é o mesmo recomendado para as não grávidas, exceto
-Em pacientes com quadro clínico suspeito de sífilis e testes as tetraciclinas.
inespecíficos com títulos baixos, deverão ser feitos testes treponêmicos,
com alta especificidade, como Crianças Apresentando sífilis adquirida em:
-FTA-Abs, ■■ Fase recente: penicilina G benzatina, 50.000 UI/kg,
-TPHA, por via intramuscular, em dose única.
-MHA-TP ou outros. ■■ Fase tardia: 50.000 UI/kg de peso, por via intramuscular. Repete-se a
-Caso não haja disponibilidade de um desses testes, é aconselhável que mesma dose depois de três semanas. (Se houver alergia à penicilina,
o paciente seja tratado como portador de sífilis. Sempre que um paciente administra-se eritromicina, na dose de 50 a 100 mg/kg de peso, durante
tenha resultado de VDRL com títulos baixos – iguais ou menores que 15 a 30 dias, se for recente ou tardia.)
1- Diferenciar as principais IST’s quanto a agente etiológico, manifestações clínicas e tratamento. (Corrimento, úlcera, dip e verruga)

→ Corrimento:

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