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Dermatite atópica Ocorre:

A dermatite atópica (DA) é uma dermatose 1- Uma complexa interdependência entre


inflamatória de curso crônico e redicivantes, de anormalidades das funções da barreira
etiologia desconhecida e início precoce, caracterizada cutânea;
por prurido, xerose e lesões eczematosas. Também 2- Mecanismo de resposta imunológica;
conhecida por eczema atópico, é a dermatose mais 3- Alterações genéticas
frequente na infância. No que leva a uma resposta de hipersensibilidade
elementos encontrados no meio ambiente,
Ocorre predominantemente em famílias com
predominantemente do tipo Th2, com resposta a Th1
outras manifestações atópicas (asma e/ou na fase crônica da doença.
rinoconjuntivite alérgica.
Th1 deficiência de filagrina que leva a inflamação e
Os indivíduos atópicos apresentam infiltração de células T; colonização ou infecção por
predisposição hereditária para desenvolver resposta aureus danifica a barreira da pele e induz a uma
de hipersensibilidade imediata mediada por resposta inflamatória e resposta imune Th2 locais
anticorpos da classe imunoglobulina E (IgE). Nesse posteriormente diminuem a função da barreira,
contexto, a presença de eczemas em topografia aumentam o prurido e promovem a disbiose
característica, prurido, história pessoal ou familiar de (desequilíbrio na flora), favorecendo a proliferação de
asma, rinite alérgica e conjuntivite e/ou DA e o caráter staphylococcus aureus.
recidivante das lesões durante a infância são os
critérios maiores para o diagnóstico. Fatores ambientais também estão envolvidos.

Epidemiologia A fisiopatologia da DA inclui:

No Brasil tem uma prevalência de 8,20% crianças • Deficiência na função de barreira cutânea em
entre 6 e 7 meses e 5% dos adolescentes. decorrência do metabolismo anormal de lipídios,
o que determina a pele seca.
Pode iniciar em qualquer idade, mas normalmente • Disfunção da imunidade cutânea inata
inicia na infância, tipicamente entre 3 e 6 meses de (queratinócitos e células de Langerhans), com
idade. Cerca de 60% dos casos de DA ocorrem no geração de sinais de ativação linfocitária para um
primeiro ano de vida. desvio Th2 e consequente produção de IgE.
A DA e a primeira manifestação alérgica do indivíduo • Alteração na microbiota cutânea: colonização por
atópico, seguida de outras manifestações (conceito da Staphylococcus aureus ou Malassezia furfur.
“marcha atópica”), como alergia alimentar, • Influência psicossomática que resulta na
rinoconjuntivite ou mesmo asma, podendo exercer alteração do sistema nervoso autônomo, com
considerável impacto psicossocial. O conceito de aumento de diversas células inflamatórias, como
marcha atópica refere-se à história natural das eosinófilos e leucócitos.
doenças alérgicas. Diagnostico
Fisiopatologia Clinico – prurido principal sintomas. Os surtos iniciam
História familiar principal fator de risco. com prurido, mesmo sem lesões visíveis, e, na
sequência, surgem eritema, pápulas e infiltração.
Um relevante componente genético, com evidencias
de múltiplos mecanismos envolvidos. Mutações de A morfologia do eczema e sua localização variam
perda de função do gene que codifica a filagrina (FLG) conforme a faixa etária:
são os mais fortemente e consistentes relatados, Lactente: as lesões localizam-se na face, poupando o
sendo a filagrina uma proteína estrutural importante triângulo nasolabial, no couro cabeludo, no tronco e
na epiderme, ocorre disfunção na barreira cutânea. na região extensora dos membros. As lesões de
A fisiopatologia da DA envolve uma interação eczema caracterizam-se pela presença de pápulas ou
complexa entre uma barreira epidérmica disfuncional, placas eritematosas pruriginosas, com exsudato e
anormalidades do microbioma cutâneo e, crosta hemática.
predominantemente, desregulação imunológica do
tipo Th21. Ocorre uma complexa interdependência
entre anormalidades das funções da barreira cutânea,
mecanismos de resposta imunológica e alterações
genéticas.
Critérios clínicos para diagnostico de DA:
Deve haver prurido nos últimos 12 meses associado a
pelo menos três dos seguintes critérios:

• Pele seca ou história de xerose no último ano.


• História pessoal de rinite ou asma ou história
familiar de rinite, asma ou dermatite em crianças
Pré-puberal (2 a 10 anos): predomina o eczema menores de 4 anos.
subagudo e crônico. A pele é seca e áspera e as lesões • Idade de início precoce, em geral antes do
localizam-se nas pregas ante cubitais e poplíteas, segundo ano de vida;
resultando na liquenificação (espessamento das linhas • Presença de eczema localizado nas flexuras
naturais cutâneas) e no aparecimento de placas cubital e poplítea e região anterior dos
circunscritas. A exsudação resulta na formação de tornozelos, e nos menores de 4 anos região malar
crostas hemáticas e a infecção secundária por e frontal e face extensora de membros.
Staphylococcus é frequente; as lesões se tronam Outros sinais que podem estar associados a DA:
úmidas, com crostas amareladas denominadas xerose, palidez centro-facial, fissura infralobular,
melicéricas. prega infrapalpebral dupla ou prega de Dennie-
Morgan, hiperpigmentação periorbitária,
dermografismo branco, ceratose pilar, eczema de
mamilo, infecções cutâneas recorrentes, influência
emocional, IgE sérica aumentada e reação ao teste
cutâneo de leitura imediata.
A associação de ictiose vulgar e hiperlineridade
palmar é um indicador da presença da mutação no
gene da filagrina.
Fatores desencadeantes
- Aeroalérgenos – principal acaro
- Clima – extremos de temperatura, pouca tolerância
a calor e o clima frio piora a xerose, EXPOSICAO
SOLAR TENDE A MELHORAR AS LESOES.
- Antígenos alimentares - aproximadamente 30% dos
Puberal (adolescente): as lesões tornam-se
pacientes com DA grave apresentam exacerbação da
liquenificadas em decorrência da coçadura crônica e
doença desencadeadas por alérgenos alimentares. Os
localizam-se nas flexuras dos membros e do pescoço.
principais responsáveis pela agudização das lesões
Pode haver acometimento isolado da face (periocular
cutâneas são ovo, leite de vaca, trigo, soja e
e perioral), do dorso das mãos e dos pés, punhos e
amendoim.
tornozelos.
- Fatores psicológicos -
Complicações
- Infecção secundaria por Staphylococcus aureus que
causa piora no eczema.
- Infecções virais é mais frequente nos pacientes com
DA, devido alterações na imunidade inata com
defeitos na produção de peptídeos anitimicrobianos.
Pode ocorrer a erupção variceliforme de Kaposi
(eczema herpético), que é a infecção generalizada
pelo herpes simplex vírus, geralmente como infecção
primária, mas que pode ser recorrente.
- Alérgenos alimentares - averiguar se há sinais
clínicos de exacerbação da DA desencadeada por
alérgenos alimentares.
A restrição alimentar está indicada apenas quando
existe história clínica compatível e confirmada por
teste alimentar e/ou exames laboratoriais realizados
por especialistas.
Tratamento das crises
Primeira escolha CTC.
Segunda inibidores tópicos de calcineurina ITC, como
pimecrolimus e tacrolimus, na face e nas pregas os ITC
Tratamento são preferíveis.

- Educação terapêutica do paciente – multidisciplinar, O pimecrolimus creme a 1% é indicado a partir do


alergologista, dermatologista, pediatra, nutricionista e terceiro mês de vida e é efetivo para os casos de
psicólogo, proporciona maior controle da doença e dermatite leve.
adesão ao tratamento e melhora qualidade de vida do
O tacrolimus pomada a 0,03% está indicado para
paciente.
crianças acima de 2 anos e para os casos de dermatite
Medidas de controle moderada e grave.

- Hidratação e higienização da pele – limpar bem a A presença de infecções virais é contraindicação


pele, com suavidade, para não irritar, banhos curtos. relativa para o uso dessas medicações. Sua vantagem
sobre os CTC é o fato de não provocarem atrofia da
Sabonetes hipoalergênicos, preferência sabonetes pele, telangiectasias e pilificação. Por esse motivo são
sintéticos e aqueles com pH levemente acido e preferidos para áreas de pele fina, como pálpebras,
semelhante ao da pele (entre 5 - 5,5). região perioral, axila e região inguinal.
O hidratante deve ser aplicado na pele úmida nos Os medicamentos tópicos são utilizados de forma
primeiros 3 minutos após o banho. reativa ou proativa.
Banho de imersão e secar a pele deixando-a O tratamento reativo é indicado aos pacientes que
ligeiramente úmida, com aplicação de grande apresentam DA leve, e o proativo é necessário
quantidade de emoliente em seguida, é uma técnica naquelas com forma moderada e grave, pode ser
conhecida “embeber e selar”, ou soak-and-seal, e mantido por ate 3 meses com corticosteroides e até
demonstrou efetividade em diminuir o ressecamento um ano com imunomoduladores.
cutâneo.
CTC 1x ao dia nas lesões com sinais de inflamação
A pele ficará hidratada com no mínimo duas (eritema, pápulas e escoriações).
aplicações diárias de hidratantes com base hidrofílica.
Usar precocemente nos surtos associados a
- Evitar fatores desencadeantes – detergente, hidratantes.
alvejante, sabões, amaciantes, fumaça de cigarro,
poluentes, sabonetes inadequados... CTC baixa potência (HIDROCORTISONA) - estão
indicados nas lesões de face e períneo se DA leve.
- Alergenos ambientais - Dermatophagoides
pteronyssinus e D. farinae, são desencadeantes de CTC de media potência (MOMETASONA) – indicado
surtos de DA, principalmente nas crianças com teste nas lesões no corpo e pacientes com DA moderada.
cutâneo alérgico positivo.
Não usar CTC em locais cobertos por fraldas.
Medidas antiácaros no quarto de dormir do paciente,
FASES:
utilizando colchões, edredons e travesseiros de
espuma e com capas impermeáveis. Eczema agudo - Aplicar em creme ou loção.
Contato com animais de estimação, é aconselhável Crônico com liquenificação – preferível pomada.
evitar gatos, mas não cães. Caso haja alergia a animais
detectada, a exclusão é necessária. Lactente – CTC menor potencia
Lesões agudas e exsudativas podem não tolerar o
tratamento tópico, nesses casos indica a técnica, wet
wrap therapy – aplica compressas úmidas com CTC A escolha é prednisolona na dose de 0,5 mg/kg/dia
diluído em hidratante. Exemplo: 1:3 classe II /1:5 por 5 a 15 dias com diminuição gradativa na segunda
classe III de 3-14 dias. Aplicar após o banho, seguido semana. Na retirada o rebote é frequente.
de uma bandagem úmida e outra seca, pode deixar
sobre a pele por 2 a 10 horas. Em pacientes com formas graves e não controladas
com medicamentos tópicos, podem ser utilizados
ciclosporina e metotrexato. A ciclosporina têm um
rápido início de ação e é usada para tratar surtos de
DA ou para diminuir o tempo até o início da ação de
imunossupressores sistêmicos de ação lenta, como o
metotrexate.
A fototerapia deve ser considerada principalmente
para adolescentes, em razão dos riscos decorrentes
das doses cumulativas de radiação em crianças.
Os imunobiológicos têm sido utilizados em estudos
clínicos com segurança e eficácia. Entre eles, o
dupilumabe é um anticorpo monoclonal humano
contra IL-4Ra que bloqueia a sinalização de IL-4 e IL-
13, sendo indicado para uso em DA moderada a grave
em maiores de 12 anos.

Anti-histamínicos – de primeira geração por efeito de


indução a sonolência.
Corticoide sistêmico – deve ser evitado devido a
possibilidade de efeito rebote após a suspensão e os
efeitos colaterais.
Utilizar apenas nas nas exacerbações nas lesões
disseminadas e por curto período.

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