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FICHA DE AVALIAÇÃO 8

GRUPO I
A. Lê o seguinte texto.

Na Mão de Deus
Na mão de Deus, na sua mão direita,
Descansou afinal meu coração.
Do palácio encantado da Ilusão
Desci a passo e passo a escada estreita.
5
Como as flores mortais, com que se enfeita
A ignorância infantil, despojo vão,
Depus do Ideal e da Paixão
A forma transitória e imperfeita.
10
Como criança, em lôbrega1 jornada,
Que a mãe leva ao colo agasalhada
E atravessa, sorrindo vagamente,

Selvas, mares, areias do deserto…


Dorme o teu sono, coração liberto,
Dorme na mão de Deus eternamente!
Antero de Quental, Sonetos, Lisboa: IN-CM, 2002, p. 159.

1
triste.

Educação Literária
1. Atenta na primeira estrofe e explicita a materialização da Ilusão.
2. Explicita o valor das comparações presentes no poema.
3. Indica o tipo de relação que se pode estabelecer entre os dois primeiros versos e os dois últimos.
4. Analisa formalmente o poema.

B. Lê o seguinte texto.
Per que guisa estava a cidade corregida pera se defender, quando el-Rei de Castela pôs
cerco sobr’ela

Onde sabee que como o Meestre e os da cidade souberom a viinda del-Rei de Castela, e
5
esperarom seu grande e poderoso cerco, logo foi ordenado de recolherem pera a cidade os mais
mantiimentos que haver podessem, assi de pam e carnes, come quaes quer outras cousas. E iam-
se muitos aas liziras em barcas e batees, depois que Santarem esteve por Castela, e dali tragiam
muitos gaados mortos que salgavom em tinas, e outras cousas de que fezerom grande
açalmamento, e colherom-se dentro aa cidade muitos lavradores com as molheres e filhos, e
10
cousas que tiinham; e doutras pessoas da comarca d’arredor, aqueles a que prougue de o fazer; e
deles passarom o Tejo com seus gaados e bestas e o que levar poderom, e se forom contra
Setuval, e pera Palmela; outros ficarom na cidade e nom quiserom dali partir; e taes i houve que
poserom todo o seu, e ficarom nas vilas que por Castela tomarom voz.
Os muros todos da cidade nom haviam mingua de boom repairamento; e em seteenta e sete
torres que ela teem a redor de si, forom feitos fortes caramanchões de madeira, os quaes eram
15 bem fornecidos d’escudos e lanças e dardos e beestas de tomo, e doutras maneiras com grande
avondança de muitos viratões.
Havia mais em estas torres muitas lanças d’armas e bacinetes, e doutras armaduras que
reluziam tantas que bem mostrava cada ũa torre per si que abastante era pera se defender. Em
muitas delas estavom troõs bem acompanhados de pedras, e bandeiras de Sam Jorge, e das
armas do reino e da cidade, e doutros alguũs senhores e capitães que as poinham nas torres que
lhes eram encomendadas.
Crónica de D. João I de Fernão Lopes (ed. Teresa Amado), Lisboa, Ed. Seara Nova/Comunicação, 1980.

5. Refere o contexto histórico em que os acontecimentos relatados estão inseridos.


6. Mostra de que forma este excerto revela a afirmação da consciência coletiva.

Grupo II

A questão do Bom senso e bom gosto


A Questão Coimbrã, nome pelo qual a polémica ficou conhecida na época, é uma das mais
renhidas batalhas do século XIX que se manteve acesa durante quase um ano numa guerra de
opúsculos, artigos, folhetins, defendendo ou atacando as duas personalidades em foco – António
Feliciano Castilho e Antero de Quental.
5 Em boa verdade, o desencontro de palavras e conceitos começara já em meados de 1865 com
as intervenções de Manuel Pinheiro Chagas, um dos protegidos de Castilho, em folhetins nos
jornais de Lisboa, ridicularizando Antero de Quental e Teófilo Braga chamando “tisanas filosóficas”
aos conceitos expressos nos prefácios dos seus livros de poesia. Estes pontos de vista não
correspondiam aos cânones defendidos por Castilho e a sua corte de jovens literatos, ansiosos por
10 agradar ao “patriarca das letras” que, de Lisboa, fustigavam os coimbrões. A poesia devia ser
entendida por todos “sem idealidades e abstrações mascaradas em literatura e poesia”.
Assim se expressava Castilho na carta enviada ao editor António Maria Pereira, felicitando-o
pela publicação do medíocre livro de Manuel Pinheiro Chagas Poema da Mocidade. Nessa
extensíssima carta, semeada de citações, principalmente latinas, aproveita para afirmar que a
15 poesia andava com o “fastio de morte à verdade e à simplicidade” e que Antero e Teófilo voam
muito alto, mas não se sabia qual seria o seu destino.
Estas opiniões provocaram a indignação de Antero que respondeu com o violento opúsculo
Bom Senso e Bom Gosto, o outro título pelo qual também é conhecida a polémica. Explica que a
atitude do “patriarca das letras” deriva do facto de jovens escritores – “hereges das letras” – se
20 revoltarem contra as autoridades literárias e ousarem seguir a sua carreira intelectual sem pedir
autorização a ninguém. Acusa ainda Castilho de se ter feito chefe de uma cruzada “tão desgraçada
e mesquinha”.
As duras palavras de Antero deram lugar a intervenções, umas indignadas outras elogiosas, em
que participaram intelectuais como Teófilo Braga, Ramalho Ortigão, Camilo Castelo Branco, Brito
Aranha, Eduardo Vidal e muitos outros. Os diferentes pontos de vista sobre a literatura ajudaram a
enterrar a poesia passadista e criaram as condições para a afirmação da que viria a denominar-se
Geração de Setenta.
Maria José Marinho, http://www.bnportugal.pt/index.php?option=com_content&view=article&id=1058%3Amostra-a-
questao-do-bom-senso-e-bom-gosto-10-ago-2-out&catid=165%3A2015&Itemid=1077&lang=pt
(consultado em 29 de agosto de 2015)
Leitura/Gramática
1. Para responderes a cada um dos itens de 1.1. a 1.5., seleciona a única opção que permite obter uma
afirmação correta.
1.1. A Questão Coimbrã foi, no século XIX,
A. uma das batalhas entre liberais e miguelistas.
B. uma forte polémica causada por divergências políticas.
C. uma acesa discussão por causa de pontos de vista literariamente divergentes.
D. um inócuo desencontro de ideias entre Castilho e Antero.
1.2. A frase “Antero e Teófilo voam muito alto, mas não se sabia qual seria o seu destino.” (ll. 15-16).
A. destaca a necessidade de mudança dos cânones literários.
B. é escrita por Castilho para menosprezar os novos ideais literários.
C. valoriza a modernidade de Antero e Teófilo.
D. escrita por Pinheiro Chagas para atacar os novos ideais literários.
1.3. O opúsculo Bom Senso e Bom Gosto
A. agita e transforma o panorama literário do século XIX.
B. sacode a cena literária do século XX.
C. prolonga a polémica iniciada pelos protegidos de Castilho.
D. é a obra-prima de Antero de Quental.
1.4. O referente do pronome pessoal presente em “felicitando-o pela publicação do medíocre livro de
Manuel Pinheiro Chagas Poema da Mocidade” (ll. 12-13) é
A. “Manuel Pinheiro Chaga”. C. “Castilho”.
B. “o editor António Maria Pereira” D. “o medíocre livro”.
1.5. As palavras/expressões “Em boa verdade” e “Assim” contribuem para
A. a coesão frásica.
B. a coerência textual.
C. a coesão lexical.
D. a coesão interfrásica.
2. Responde de forma correta aos itens apresentados.
2.1. Indica a função sintática da expressão “um dos protegidos de Castilho” (l. 6).
2.2. Identifica o sujeito da oração subordinada em “Estas opiniões provocaram a indignação de Antero que
respondeu com o violento opúsculo Bom Senso e Bom Gosto” (ll. 17-18).
2.3. Classifica a oração sublinhada em “Explica que a atitude do “patriarca das letras” deriva do facto de
jovens escritores – “hereges das letras” – se revoltarem contra as autoridades literárias e ousarem seguir a sua
carreira intelectual sem pedir autorização a ninguém” (ll. 18-21).
Grupo III
A Declaração Universal dos Direitos Humanos preconiza a liberdade de informar e o
direito de ser informado, no entanto, assistimos frequentemente à violação destes direitos.
Num texto bem estruturado, com um mínimo de 180 e um máximo de 210 palavras, apresenta
uma reflexão sobre o que é afirmado no excerto, considerando a liberdade de imprensa na
atualidade.
Para fundamentares o teu ponto de vista, recorre a dois argumentos, ilustrando cada um deles com,
pelo menos, um exemplo significativo.

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