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diversidade cultural em Lévi-Strauss explica por que alguns povos possuem uma


história estacionária; e outros, cumulativa. No texto “Raça e História”, escrito para a
UNESCO, Lévi-Strauss dirige seu pensamento à diversidade cultural, elaborando
sua teoria a partir de uma crítica ao evolucionismo.

A diversidade cultural em Lévi-Strauss


FILOSOFIA
A diversidade cultural em Lévi-Strauss explica por que alguns povos possuem
uma história estacionária; e outros, cumulativa.

No texto “Raça e História”, escrito para a UNESCO, Lévi-Strauss


dirige seu pensamento à diversidade cultural, elaborando sua teoria a
partir de uma crítica ao evolucionismo. Para o autor, o evolucionismo
ocorre porque o Ocidente vê a si mesmo como finalidade do
desenvolvimento humano. Isso gera o etnocentrismo, ou seja, o
Ocidente vê e analisa as outras culturas a partir de suas próprias
categorias. É necessário que haja um esforço de relativização para não
julgar as outras culturas através de nossa própria cultura. É preciso vê-
las sem os pressupostos da nossa.
O etnocentrismo é comum a todas as culturas. Todas as sociedades
veem as outras a partir de si mesmas. Mas o evolucionismo é produto
ocidental, não só o biológico, mas também aquele que o precedeu, isto
é, o evolucionismo social. Quando Darwin formula a sua teoria, o
evolucionismo social já existia.

Assim, o evolucionismo torna-se a primeira arma com a qual o


Ocidente resolve investigar as diferenças culturais e tentar explicar o
porquê de alguns povos terem uma história cumulativa e outros uma
história estacionária. Segundo as teorias evolucionistas, a diversidade
é explicada pelo fato da humanidade apresentar diferentes estágios de
civilização. Os selvagens representariam, assim, a infância da
sociedade ocidental.

Para combater o evolucionismo, Lévi-Strauss refuta as bases nas quais


este se apoia. Conforme o autor, há uma grande tentação em comparar
sociedades que compartilham o tempo, mesmo estando em partes
diferentes do espaço, como acontece com as sociedades “arcaicas” e a
Ocidental. Essa é a primazia do evolucionismo, já que os objetos
utilizados nessas sociedades são os mesmos utilizados na Europa no
período neolítico. As pinturas rupestres seriam ritos de caça que as
aproximaria das sociedades arcaicas; a América estaria, na época da
descoberta, no mesmo estágio no qual a Europa se encontrava no
período neolítico.

O autor se vale do seguinte argumento: os objetos são utilizados de


maneira diversificada pelas diferentes civilizações. Para Lévi-Strauss,
o progresso é um jogo e a história humana é o resultado das apostas
dos vários jogadores (que são as diversas culturas). Esse jogo somente
ocorre se houver a diversificação. As grandes revoluções da
humanidade, a neolítica e a industrial, por exemplo, foram resultado
desta parceria entre os vários jogadores, ou melhor, entre as várias
culturas.

Dessa forma, compreende-se que a diversidade é dinâmica e a própria


homogeneização produz, novamente, a diversidade. Por exemplo, a
revolução industrial produz uma homogeneização da economia, na
produção, mas produz uma diversidade interna na sociedade, criando
classes sociais como o proletariado e a burguesia. Esta é uma maneira
de se produzir diversidade, introduzindo a desigualdade social. Outra
maneira utilizada foi o imperialismo, que introduz outras sociedades
como parceria para o jogo.

Sendo assim, a diversidade sempre retorna e, novamente, é


homogeneizada. Tomemos o capitalismo como exemplo: ele produz a
homogeneização econômica do globo. Mas cria uma diversidade com
a desigualdade social. Assim, temos dois polos que se digladiam
constantemente. O proletário está em luta contra a burguesia através
dos sindicatos, dos direitos trabalhistas adquiridos; é instaurada a
sociedade do bem-estar social. Ocorre, assim, um aburguesamento do
proletário e isto novamente acaba com a diversidade. Depois ocorre
o neoliberalismo, que destrói o estado de bem-estar social, produzindo
novamente a diversidade social.
Conclui-se, então, que a diversidade sempre irá existir e não há porque
considerá-la uma anomalia. O que se torna necessário é vermos a
diversidade como necessária e única possibilidade para a construção
de uma história cumulativa. A evolução tecnológica que presenciamos
na obra do Ocidente, somente foi possível com a colaboração de todas
as civilizações envolvidas. A diversidade é a dimensão ontológica e
dinâmica da condição humana.

Por João Francisco P. Cabral


Colaborador Brasil Escola
Graduado em Filosofia pela Universidade Federal de Uberlândia -
UFU
Mestrando em Filosofia pela Universidade Estadual de Campinas -
UNICAMP

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