Inteligência - Várias Concepções

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Definição e Concepções de inteligência

Toda a gente concorda quanto à necessidade que as pessoas têm de agir inteligentemente na
grande maioria das situações e, consequentemente, quanto a considerar a inteligência como uma
capacidade fundamental nas suas vidas.

Porém, é mais difícil encontrar acordo quanto ao que se considera ser a inteligência, havendo
por isso grande dificuldade em a definir. Mesmo quando se consultam especialistas nesta
matéria, acaba sempre por concluir-se que há diferentes modos de conceber a inteligência,
tantos quantos os pontos de vista específicos e as teorias perfilhadas pelos investigadores. Dado
tratar-se de processos mentais, interiores, complexos e não susceptíveis de observação directa, o
conceito de inteligência permanece longe de possuir um sentido unívoco.

Os psicólogos estão de acordo, contudo, quanto a considerar a inteligência como um conceito e


não uma coisa. Enquanto conceito, é algo de abstracto e imaterial. Dar um nome à inteligência e
defini-la é correr o risco de a coisificar e de convencer as pessoas que ela existe como coisa no
mundo. Por exemplo, quando se diz que alguém tem um QI de 120 pode fazer crer que existe
algo de fixo e material nesse alguém quando, afinal de contas, o 120 não passa de um Índice
classificativo obtido num teste particular.

Em virtude do elevado grau de generalidade que apresenta, uma definição amplamente aceite e
que tem sido usada por muitos psicólogos, desde os mais antigos aos mais recentes, é a
seguinte:

INTELIGÊNCIA

Capacidade que os indivíduos possuem para se adaptarem às circunstâncias em que vivem.

Este modo geral de conceber a inteligência põe em destaque, desde logo, o carácter dinâmico
da inteligência como processo adaptativo às situações do meio. Mas, para além desta, muitas
outras capacidades ou aptidões são frequentemente referidas por psicólogos de várias teorias,
como integrando o conceito de inteligência.

Agrupando o que há de comum na maioria das definições, é possível apresentar como


consensual um conceito de inteligência que integra os seguintes aspectos:

1. Capacidade de enfrentar situações novas e de resolver problemas de forma rápida e


eficaz.

2. Capacidade de utilizar eficientemente símbolos e conceitos abstractos.

3. Capacidade de aprender rapidamente com a experiência e de adquirir conceitos novos.

Portanto, iremos desde já assumir o ponto de vista de que a inteligência se refere a um processo
cognitivo complexo que engloba várias capacidades. Entre elas, fixemos as seguintes:

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• Capacidade de adaptação.
• Capacidade de resolver problemas.
• Capacidade de raciocinar ou pensar abstractamente.
• Capacidade de aprender.

Nenhuma destas capacidades actua de modo isolado. Qualquer que seja a que consideremos, ela
só opera e se manifesta mediante o concurso das outras. Estas capacidades podem ser vistas
como aspectos diversificados mas complementares de uma mesma realidade que é a actividade
mental.

Várias concepções de inteligência


É com a inteligência que as pessoas têm de resolver os mais diferentes problemas com que
deparam na vida. Viver implica, afinal, ultrapassar obstáculos, isto é, solucionar problemas de
natureza diversa.

Os problemas que podemos ser obrigados a resolver são, com efeito, de natureza muito variada.
Dizem respeito às nossas relações directas com os objectos que manipulamos, com o meio físico
em que evoluímos, com as relações com os homens e com o meio social, com as nossas relações
com os conceitos que adquirimos e cuja utilização lógica nos compete assegurar, com as nossas
relações com o mundo das imagens que armazenamos e que podemos reconstruir.

O mecânico que deve reunir correctamente as peças de uma máquina, o guia que se deve
orientar em regiões mal conhecidas, o chefe que deve resolver todas as dificuldades trazidas
pela gestão de um pessoal heterogéneo, o político que deve convencer uma assembleia, o
matemático que leva a efeito uma dedução simbólica, o físico que procura a causa de um
fenómeno, o filósofo que especula sobre concepções abstractas, o arquitecto que constrói um
projecto sujeito a certos fins e a certas condições, o músico que constrói uma sinfonia ou o
escultor que realiza uma estátua, todos dão prova de inteligência (...).

Henri Pieron, Psicologia experimental

Animais, crianças e adultos têm que resolver problemas, isto é, têm que descobrir ou inventar
meios de atingir os objectivos que se propõem, ultrapassando os obstáculos com que deparam.
Porém, são diferentes as situações que para eles constituem problema, bem como os modos que
utilizam para os resolver.

Para ilustrar que há diferentes modos de resolver problemas, Sprinthall apresenta-nos a


seguinte história:

Dois jovens dão um passeio pelo campo. Um é estudante de pós-graduação em Matemática, o


outro abandonou o ensino secundário e é conhecido pela sua "esperteza de rua". Entram num
túnel abandonado e, quando vão a meio do caminho, vêem, subitamente, entrar no túnel um urso
grande e feroz atrás deles. O matemático puxa da sua calculadora, calcula valores como as
distâncias envolvidas e as velocidades a que eles e o urso podem correr, fazendo rapidamente
diversas operações. Enquanto isso, o que abandonou a escola descalça as botas e rapidamente
calça uns sapatos de ténis.

Não vale a pena - diz o matemático. As minhas equações mostram que não podemos correr mais
do que o urso.

O outro replica: - Talvez, mas da maneira como vejo a questão, não precisamos de correr mais
do que o urso. O que é preciso é que eu consiga correr mais depressa do que tu.

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Psicologia educacional

Atendendo às diferentes formas de resolver inteligentemente as situações problemáticas, há


quem faça a distinção entre inteligência prática e inteligência conceptual.

 Inteligência conceptual

Esta forma de inteligência, presente na forma de


raciocinar do homem adulto, pode definir-se como
a capacidade de resolver problemas por intermédio
de conceitos e noções abstractas que podem ser
verbalmente expressos.

Lidar mentalmente com abstracções,


nomeadamente com palavras, conceitos e outros
símbolos é o que, genericamente, se designa por
pensar. Ora, os problemas cuja resolução implica a
intervenção do pensamento obrigam a uma
actividade mediatizada, isto é, entre a situação problemática e a resposta que há-de solucioná-la
há o espaço do problema em que os conceitos desempenham papel fundamental: por eles se
representa a situação posta; recordam-se outros relativos a experiências passadas; com eles se
projectam hipóteses de solução; com eles se avaliam essas hipóteses, prevendo o que acontecerá
se forem postas em prática.

Aos conceitos se associam palavras, pelo que a inteligência conceptual é uma inteligência
verbal. As palavras não são mais que uma espécie de rótulos dos conceitos. As pessoas, quando
pensam, pensam verbalmente e de acordo com regras de gramática aprendidas.

A inteligência conceptual é aquela a que se refere o termo inteligência quando usado pela
generalidade das pessoas da civilização ocidental. De facto, a tradição ocidental desenvolveu
um conceito de inteligência, valorizado pela classe média das sociedades industrializadas, que
muito tem a ver com a instrução e as aprendizagens escolares: incidência nos aspectos verbais,
no raciocínio, designadamente no cálculo matemático. Noutras circunstâncias culturais e
históricas, provavelmente considerar-se-ia fundamental outro tipo de inteligência.

 Inteligência prática

O conceito de comportamento inteligente varia com a situação e os contextos culturais.

Binet e Terman consideravam que a criança inteligente era a que revelava capacidades
adequadas à obtenção de sucesso escolar.

Porém, nas ilhas do Pacífico Sul talvez o padrão de inteligência consista, por exemplo, na
aptidão para pescar e navegar. Para um vendedor da nossa sociedade talvez seja a sua
capacidade de relacionamento social e para um citadino talvez seja a sua "esperteza de rua". Se

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um grupo de geólogos se perder no deserto, certamente que o beduíno que os acompanhou para
cuidar dos camelos dará provas de superioridade intelectual, ao conduzi-los a lugar certo.

François Jacob afirma, a propósito da relatividade do conceito de inteligência:

Não há uma, mas várias inteligências. Imaginem Einstein no meio da floresta virgem: não teria
sido ele o melhor! (...) A inteligência é a capacidade de responder às situações mais difíceis e de
prever os efeitos que daí decorrem.

Considerando a inteligência como a capacidade de o homem resolver os problemas com que


depara na sua adaptação ao meio, várias formas de inteligência se manifestam, que, para as
distinguir da inteligência conceptual, incluiremos na inteligência prática. Esta é assim a
capacidade de resolver problemas por intermédio de percepções, acções e movimentos que
se expressam no fabrico e utilização de instrumentos.

A inteligência prática, desenvolvida fora da escola com a experiência do dia-a-dia, é usada por
todos os homens nas mais diversas ocasiões.

Antes do aparecimento das modernas tecnologias, a inteligência prática manifestava-se no modo


simples de fabricar e usar utensílios. Muitos homens tinham que fabricar os seus próprios
objectos e ferramentas, experimentando as formas que melhor se prestavam ao seu
manuseamento e melhor se ajustavam aos fins que pretendiam alcançar. Mesmo com o
aparecimento da tecnologia, ela continua a ser imprescindível ao homem para saber usar e tirar
partido dos equipamentos de que dispõe. Grande parte das tarefas implicadas no exercício das
profissões são executadas com a intervenção deste tipo de inteligência.

Em esquema, apresentamos alguns termos que andam associados aos conceitos de inteligência
prática e inteligência conceptual:

Todavia, ao deixarmos o domínio dos conceitos e entrarmos na inteligência enquanto


capacidade de o homem se adaptar às circunstâncias, tal distinção deixa de ter sentido. É que
mesmo os problemas práticos do quotidiano requerem soluções em que o universo
conceptual acaba por interferir.

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