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INTRODUÇÃO: PSICOLOGIA
CIENTÍFICA E SENSO COMUM
ANA MERCÊS BAHIA BOCK
ODAIR FURTADO
MARIA DE LOURDES TRASSI TEIXEIRA
Para compreender isso melhor, pense na nós e que, para fazer um aparelho
abstração (no distanciamento e trabalho eletrodoméstico funcionar, precisamos de
mental) que Newton teve de fazer para, eletricidade.
partindo da fruta que caía da árvore (fato do
O senso comum, na produção desse tipo
cotidiano), formular a lei da gravidade (fato
de conhecimento, percorre um caminho que
científico).
vai do hábito à tradição, a qual, quando
Ocorre que, mesmo o mais especializado estabelecida, passa de geração para geração.
dos cientistas, quando sai de seu laboratório, Assim, aprendemos com nossos pais a
está submetido à dinâmica do cotidiano, que atravessar uma rua, a fazer o liquidificador
cria suas próprias “teorias” a partir das teorias funcionar, a plantar alimentos na época e de
científicas, seja como forma de “simplificá-las” maneira correta, a conquistar a pessoa que
para o uso no dia a dia, ou como sua maneira desejamos e assim por diante.
peculiar de interpretar fatos, a despeito das
E é nessa tentativa de facilitar o dia a dia
considerações feitas pela ciência. Todos nós —
que o senso comum produz suas próprias
estudantes, psicólogos, físicos, artistas,
“teorias”; na realidade, um conhecimento que,
operários, teólogos — vivemos a maior parte do
numa interpretação livre, poderíamos chamar
tempo esse cotidiano e as suas teorias, isto é,
de teorias médicas, físicas, psicológicas etc.
aceitamos as regras do seu jogo.
O fato é que a dona de casa, quando usa a
garrafa térmica para manter o café quente, Senso Comum: uma visão de mundo
sabe por quanto tempo ele permanecerá
razoavelmente quente, sem fazer nenhum Esse conhecimento do senso comum,
cálculo complicado e, muitas vezes, além de sua produção característica, acaba por
desconhecendo completamente as leis da se apropriar, de uma maneira muito singular,
termodinâmica. de conhecimentos produzidos pelos outros
setores da produção do saber humano. O senso
Quando alguém em casa reclama de
comum mistura e recicla esses outros saberes,
dores no fígado, ela faz um chá de boldo, que é
muito mais especializados, e os reduz a um tipo
uma planta medicinal já usada pelos avós de
de teoria simplificada, produzindo uma
nossos avós, sem, no entanto, conhecer o
determinada visão de mundo.
princípio ativo de suas folhas nas doenças
hepáticas e sem nenhum estudo O que estamos querendo mostrar a você é
farmacológico. E nós mesmos, quando que o senso comum integra, de um modo
precisamos atravessar uma avenida precário (mas é esse o seu modo), o
movimentada, com o tráfego de veículos em conhecimento humano. E claro que isto não
alta velocidade, sabemos perfeitamente medir ocorre muito rapidamente. Leva um certo
a distância e a velocidade do automóvel que tempo para que o conhecimento mais
vem em nossa direção. Até hoje não sofisticado e especializado seja absorvido pelo
conhecemos ninguém que usasse máquina de senso comum, e nunca o é totalmente. Quando
calcular ou fita métrica para essa tarefa. Esse utilizamos termos como “rapaz complexado”,
tipo de conhecimento que vamos acumulando “menina histérica”, “ficar neurótico”, estamos
no nosso cotidiano é chamado de senso usando termos definidos pela Psicologia
comum. Sem esse conhecimento intuitivo, científica. Não nos preocupamos em definir as
espontâneo, de tentativas e erros, a nossa vida palavras usadas e nem por isso deixamos de ser
no dia-a-dia seria muito complicada. entendidos pelo outro. Podemos até estar
muito próximos do conceito científico, mas, na
A necessidade de acumularmos esse tipo
maioria das vezes, nem o sabemos. Esses são
de conhecimento espontâneo parece-nos
exemplos da apropriação que o senso comum
óbvia. Imagine termos de descobrir
faz da ciência.
diariamente que as coisas tendem a cair, graças
ao efeito da gravidade; termos de descobrir
diariamente que algo atirado pela janela tende
a cair e não a subir; que um automóvel em
velocidade vai se aproximar rapidamente de
vezes não é possível caracterizar a atuação respostas para perguntas ainda não
daqueles que se utilizam dessas práticas de respondidas.
forma tão clara. Nestes casos, não podemos
tornar absoluto o conhecimento científico A Ciência, como uma das formas de saber
como o “conhecimento por excelência” e do homem, tem seu campo de atuação com
dogmatizá-lo a ponto de correr o risco de criar métodos e princípios próprios, mas, como
um tribunal semelhante ao da Santa forma de saber, não está pronta e nunca estará.
Inquisição. E preciso reconhecer que pessoas A Ciência é, na verdade, um processo
que acreditam em práticas adivinhatórias ou permanente de conhecimento do mundo, um
místicas têm o direito de consultar e de serem exercício de diálogo entre o pensamento
consultadas, e também temos de reconhecer, humano e a realidade, em todos os seus
nós cientistas, que não sabemos muita coisa aspectos. Nesse sentido, tudo o que ocorre com
sobre o psiquismo humano e que, muitas vezes, o homem é motivo de interesse para a Ciência,
novas descobertas seguem estranhos e que deve aplicar seus princípios e métodos para
insondáveis caminhos. O verdadeiro cientista construir respostas.
deve ter os olhos abertos para o novo.
Enfim, nosso alerta aqui vai em dois
sentidos:
• Não se deve misturar a Psicologia com
práticas adivinhatórias ou místicas que
estão baseadas em pressupostos diversos e
opostos ao da Psicologia.
• “Mente é como paraquedas: melhor
aberta.” É preciso estar aberto para o novo,
atento a novos conhecimentos que, tendo
sido estudados no âmbito da Ciência,
podem trazer novos saberes, ou seja, novas
QUESTÕES
1ª Atividade – Individual
Deve ser enviado impreterivelmente até 23/04/2021, com Capa e Folha de Rosto, Espaço 1,5,
Fonte Times New Roman ou Arial, de acordo com as Normas Técnicas da ABNT (Capa e Folha de
Rosto) – Pesquisar na internet pelo modelo.
Critérios: Cada questão vale 1,00 (TOTAL 10,0)
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