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OS IMPACTOS CAUSADOS PELO ALCOOLISMO NAS

CONCESSÕES DO BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO DE AUXÍLIO


DOENÇA - INSS

Patrícia Gomes Soares


Advogada
Mestranda em Direito de Saúde: Dimensões Individuais e Coletivas
UNISANTA – Universidade Santa Cecília
E-mail: patriciagomes@gsoadvocacia.com.br

Renata Salgado Leme


Advogada, Docente do Curso de Graduação em Direito e Mestrado em Direito de Saúde: Dimensões
Individuais e Coletivas – UNISANTA
UNISANTA – Universidade Santa Cecília
E-mail: renataleme@aasp.org.br

Manuela Marcatti Ventura de Camargo Millen


Advogada
Mestranda em Direito de Saúde: Dimensões Individuais e Coletivas
UNISANTA – Universidade Santa Cecília
E-mail: manuelamillen@uol.com.br

Augusto Bruno Mandelli


Juiz de Direito
Mestrando em Direito de Saúde: Dimensões Individuais e Coletivas
UNISANTA – Universidade Santa Cecília
E-mail: abmandelli@gmail.com

Resumo: O presente artigo analisará de que modo a dependência alcoólica, entre


os anos de 2011 a 2017, refletiu nas concessões de benefícios previdenciários de
auxílio doença pelo Instituto Nacional do Seguro Social – INSS, haja vista que os
reflexos sociais, políticos e econômicos ainda são mitigados e difusos, razão pela
qual serão investigadas as causas sociais e culturais que originam o aumento do
consumo de bebidas alcóolicas. Para tanto, optou-se pelo desenvolvimento de
pesquisa de revisão bibliográfica, analisando publicações em periódicos, livros,
planilhas e dados estatísticos fornecidos pelo Anuário Estatístico da Previdência
Social (AEPS - INFOLOGO)1, pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e Centro
de Informações Sobre Saúde e Álcool (CISA), haja vista que o referido diagnóstico é
inclusive considerado o principal motivador de concessão de benefícios por
incapacidade por distúrbio mental.
Palavras Chaves: Alcoolismo. Auxílio doença. INSS
Área de conhecimento: Humanas

1
O Anuário Estatístico da Previdência Social (AEPS) é um sistema de organização e consolidação
das estatísticas da Previdência Social, criado em 1992, com o intuito de amplificar a transparência
dos dados básicos sobre os benefícios concedidos e mantidos pelo INSS, bem como sobre a
arrecadação de contribuições previdenciárias. Destaca-se que esses dados se encontram disponíveis
na internet através do sistema AEPS – INFOLOGO.
1
1. INTRODUÇÃO
Historicamente, o álcool etílico (etanol) é a droga lícita mais incorporada no
contexto social humano, havendo relatos de seu consumo desde 6.000 anos a.C.
Ocorre que, até os dias atuais, as bebidas alcoólicas encontram ampla
aceitação sociocultural e política, sendo seu consumo associado a valores como
status, virilidade e sociabilidade e, inclusive é incentivado culturalmente através de
filmes, publicidades, literaturas, músicas e demais meios de comunicação em
massa.
Em que pese os inúmeros incentivos existentes ao consumo de bebidas
alcoólicas, o alcoolismo é uma doença, devidamente catalogada, na Classificação
Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-10) e pelo
Manual de Diagnósticos e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V), sendo
definido pela Sociedade Americana de Dependências como “uma doença crônica
primária que tem seu desenvolvimento e manifestações influenciadas pelos fatores
genéticos, psicossociais e ambientais, frequentemente progressiva e fatal” (MS,
2001).
A Organização Mundial de Saúde (OMS), acredita que cerca de 60 doenças
estão relacionadas ao consumo do álcool, sendo observada maior incidência dos
diagnósticos relacionados a estas morbidades nos países que estão em
desenvolvimento.
Ainda, de acordo com a OMS o consumo excessivo de álcool é a terceira
causa de mortes no mundo, restando atrás apenas do câncer e cardiopatias, razão
pela qual é se tornou um grave problema de saúde pública.
Ademais, não é temerário afirmar que o consumo imoderado de bebidas
alcóolicas implica na dependência psicológica, física, química e comportamental, e
gera inadequação social do indivíduo, destituição social, afetiva e profissional,
inclusive, durante períodos de recesso ou cessação do consumo, ou seja, em
período conhecido como “abstinência”. Assim, em linhas gerais, o abuso de
substância etílica a longo prazo resulta em um quadro biopsicossocial catastrófico e
de difícil controle ou reversão.
Ocorre que o consumo de bebidas alcoólicas tem sobressaído entre os jovens,
adolescentes e mulheres e, em contrapartida, nota-se um redução significativa nas
concessões do benefício de auxilio doença em decorrência de incapacidade
laborativa atreladas ao alcoolismo e, foi justamente, em busca de uma resposta que
pudesse justificar a redução dos afastamentos dos segurados que o presente
trabalho foi desenvolvido.
Quais são as principais causas do alcoolismo no Brasil?
Quais são as principais doenças geradas pelo alcoolismo?
Qual é o impacto e a repercussão do alcoolismo na previdência social e na
concessão de auxílio doença?
As políticas públicas e os programas de reabilitação profissional do alcoólatra
são eficazes no combate e na mitigação deste problema?
Todas as perguntas serão certamente respondidas no decorrer deste artigo.
2
2. O ALCOOLISMO
2.1 CONCEITO
A síndrome da dependência alcoólica, também conhecida como alcoolismo é
uma doença caracterizada pela vontade incontrolável de beber, falta de controle ao
tentar parar a ingestão, tolerância ao álcool (doses cada vez maiores para sentir os
efeitos da bebida) e dependência física, que se manifesta com sintomas físicos e
psíquicos nas situações de abstinência alcoólica.2
O alcoolista ou dependente alcoólico não bebe por prazer, mas por uma
necessidade orgânica, seja para experimentar dos efeitos psíquicos causados, seja
para evitar o desconforto de sua falta. Logo, o dependente não escolhe se quer ou
não beber.
A doutrina médica classifica o alcoolismo como uma doença, e a caracteriza
como um transtorno mental e comportamental, de natureza crônica, catalogada pela
Classificação Internacional de Doenças (CID 10) como “Transtornos mentais e
comportamentais devido ao uso de álcool (CID 10 – F10)”, tendo em vista que
ocasiona dependência física, comportamental e psicológica.
O caminho percorrido para se chegar à conclusão de um diagnóstico de
alcoolismo é algo complexo, e não está relacionado com a quantidade de bebida
etílica consumida, mas sim ao autocontrole da pessoa que a ingere. O Centro de
Informações sobre Saúde e Álcool (CISA), de forma clara e abrangente, a respeito
do alcoolismo, explica que:
“Ela é definida pela 10ª edição da Classificação
Internacional de Doenças (CID-10), da Organização
Mundial da Saúde (OMS), como um conjunto de
fenômenos comportamentais, cognitivos e
fisiológicos que se desenvolvem após o uso repetido
de álcool, tipicamente associado aos seguintes
sintomas: forte desejo de beber, dificuldade de
controlar o consumo (não conseguir parar de beber
depois de ter começado), uso continuado apesar das
consequências negativas, maior prioridade dada ao
uso da substância em detrimento de outras
atividades e obrigações, aumento da tolerância
(necessidade de doses maiores de álcool para
atingir o mesmo efeito obtido com doses
anteriormente inferiores ou efeito cada vez menor
com uma mesma dose da substância) e por vezes
um estado de abstinência física (sintomas como
sudorese, tremores e ansiedade quando a pessoa
está sem o álcool).”3

2
https://www.einstein.br/doencas-sintomas/alcoolismo
3
http://www.cisa.org.br/artigo/4010/-que-alcoolismo.php
3
Segundo a 5ª edição do Manual Diagnóstico Estatístico de Transtornos Mentais
(Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, DSM-5), da Associação
Americana de Psiquiatria (APA, na sigla em inglês), os transtornos relacionados ao
uso de álcool são definidos como a repetição de problemas decorrentes do uso do
álcool que levam a prejuízos e/ou sofrimento clinicamente significativo, cuja
gravidade varia de acordo com o número de sintomas apresentados, conforme
quadro 1.4

Fonte: http://www.cisa.org.br/artigo/4010/-que-alcoolismo.php

4
http://www.cisa.org.br/artigo/4010/-que-alcoolismo.php
4
O alcoolismo não deve e nem pode ser confundido com o abuso de álcool, pois
este denota uma vontade de ingerir grandes quantidades de bebidas com teor
alcoólico, enquanto aquele é literalmente caracterizado pelo sentimento de
necessidade de consumir bebidas alcoólicas, em quantidade cada vez maiores, sem
conseguir parar após iniciar a beber e com eventual incidência de crise de
abstinência durante a recessão entre os períodos de ingestão de bebidas alcóolicas,
sendo o episódio caracterizado por simultaneidade de três ou mais dos seguintes
sintomas: tremor; palpitações; sudorese; agressividade; fala distorcida; intoxicação;
demência; perda da concentração; ansiedade; desanimo; perda da concentração,
raciocínio, memória e realidade, etc.

2.2 CAUSAS DO ALCOOLISMO


A Organização Mundial de Saúde (OMS) afirma que o crescimento do uso
abusivo de drogas lícitas, em especial o álcool, está associado a fatores genéticos,
psicossociais e ambientais.
Ademais, historicamente, o consumo é incentivado como forma de socialização
e integração ou aceitação em determinados contextos sociais, como locais e grupos
de interação.
Contudo, em decorrência do processo dinâmico da vida contemporânea e da
necessidade em buscar imediatismo de resultados ante ao amplo desenvolvimento
tecnológico, o que gera ansiedade excessiva do indivíduo por aquisição de sucesso,
status e os demais rótulos sociais que são associados ao consumo de álcool e cujo
estereótipo é impulsionado culturalmente pelas grandes mídias através de criações
artísticas e de propaganda publicitária. Paralelamente, a busca pelo consumo de
álcool se dá pelos seus efeitos depressivos no sistema nervoso central, causando
relaxamento e entorpecimento, não somente do corpo quanto das preocupações
diárias.
Assim, observa-se que o consumo indevido e abusivo de bebidas alcoólicas é
impulsionado como forma de automedicação de estressores psicológicos que se
demonstram presentes no cotidiano diário do indivíduo, como: estresse profissional
e busca por incessante produtividade; frustrações de cunho interpessoais e
introspectivas, como problemas em relacionamentos afetivos e familiares, problemas
de autoimagem e valoração pessoal, o aumento crescente de divórcios, etc;
problemas financeiros; exclusão e/ou inadequação social em decorrência de portar
característica discriminatória em sua comunidade; ou, ainda, situação de
desemprego ante às exigências de um mercado de trabalho em crise de
supersaturação.

2.3 EFEITOS DO ALCOOLISMO


O alcoolismo tem se tornado um grande problema social e de saúde pública e é
definido pela OMS como um estado psíquico e/ou físico, resultante da interação do
organismo vivo e a substância, caracterizado por alterações que compelem à
pessoa à ingestão da droga, de forma sucessiva ou periódica, com a finalidade de
5
experimentar seus efeitos psíquicos e, às vezes, para evitar o desconforto de sua
abstinência5.
A Organização Mundial de Saúde afirma que não existe volume seguro de
álcool a ser consumido, porque ele é tóxico para o organismo humano e pode
provocar doenças mentais, diversos cânceres, problemas hepáticos, como a cirrose,
alterações cardiovasculares, com risco de infarto e acidente vascular cerebral e a
diminuição de imunidade. Além de ser responsável por episódios de violência física
contra si ou contra outras pessoas.6
Independentemente da etiologia associada, o alcoolismo constitui uma
patologia que pode ser considerada uma das mais graves para a humanidade, visto
que afeta não apenas o usuário, mas todos os que convivem direta ou indiretamente
com ele, acarretando graves consequências para o desenvolvimento das pessoas e
para a qualidade de vida e de saúde daqueles que convivem com o problema.
Também, está associado a acidentes, mortes no trânsito, delinquência, violência,
ruptura e desorganização das relações interpessoais, além de desentendimentos
familiares e afetivos.7
Além dos diversos problemas que o álcool pode ocasionar na saúde de uma
pessoa, ele traz, em regra, um efeito devastador na vida social do alcoolista como:
desinteresse nas realizações de seus compromisso, desemprego, fragilidade nos
relacionamentos, exclusão social, crise financeira, episódios de agressividade,
sentimento de impotência, dentre outros.

2.4 TRATAMENTO DO ALCOOLISMO


O tratamento destinado ao alcoolista, assim como a conclusão do seu
diagnóstico é algo complexo, e que demanda muita cautela, pois além de derivar do
grau de dependência e dos recursos disponíveis, deve ser ponderada as
circunstancias biológicas, psicossociais, familiar, profissional e social do paciente.
Todavia, o tratamento pode ser realizado através da: desintoxicação que
consiste na retirada do álcool de forma gradativa e segura; utilização de
medicamentos destinados a inibir ou erradicar a vontade de consumo; psicoterapia
onde o alcoolista identificará às causas que o levaram a doença, bem como a
melhor forma de superá-las.
Os tratamentos podem ser feitos em hospitais, em casa ou em consultas
ambulatoriais, porém, os Centros de Atenção Psicossocial - Álcool e Drogas
(CAPSads), desenvolveram o tratamento destinado aos alcoolistas, onde o paciente

5
SENA, Lago da Silva; BOERY, Rita Narrimam Silva de Oliveira; CARVALHO, Patrícia Anjos Lima de; REIS, Helca,
Franciolli Teixeira; MARQUES, Ana Maria Nunes. Alcoolismo no contexto familiar: um olhar fenomenológico.
(Artigo). Texto Contexto Enferm, Florianópolis, 2011 Abr-Jun; 20(2): 310-8. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/tce/v20n2/a13v20n2> Acessado em: 02/12/2019
6
http://saude.gov.br/noticias/agencia-saude/45613-consumo-abusivo-de-alcool-aumenta-42-9-entre-as-
mulheres
7
Elsen I, Marcon SS, Silva MRS, organizadores. O viver em família e sua interface com a saúde e a doença.
Maringá (PR): EDUEM; 2002. Disponível em: https://pesquisa.bvsalud.org/
6
é acompanhado por uma equipe interdisciplinar que realiza atividades ocupacionais,
recreativas e educacionais, visando a reinserção do alcoolista no seu meio social.
Os CAPS também devem oferecer suporte às famílias, desenvolvendo
atividades como terapias individuais, grupais, atividades educacionais e de lazer. No
entanto, essas famílias ainda não são vistas como uma das principais entidades
afetadas pelo alcoolismo, como núcleo que precisa de tratamento contínuo e
integral, a fim de terem condições dignas de saúde e poderem colaborar com o
tratamento do membro alcoolista.
A presença da família no tratamento do alcoolista é fundamental para um
resultado eficaz, pois além do paciente se sentir mais amparado, o familiar também
aprende a conviver, compreender e auxiliar o alcoolista da melhor maneira.
Neste contexto, está posto que o cuidado deve estar voltado não somente para
o alcoolista, mas para toda sua família e para terceiros inseridos no contexto
cotidiano da pessoa. Porém, o que se observa hoje é que a família é vista apenas
como coadjuvante no tratamento do membro alcoolista e não como entidade que
necessita de cuidados, tanto quanto ele.8
Há de se ressaltar que, portanto, o consumo de álcool incorre em despesas de
cunho social e de saúde.

2.5 O ALCOOLISMO NO BRASIL


O álcool é a droga licita que apresenta o maior número de consumo e
dependência no Brasil. Inclusive, o alcoolismo considerado um dos principais
problemas da saúde pública no Brasil, pois estima-se que, em 2017, 40% da
população brasileira fez o uso de bebidas etílicas em 2017.
O biocientista Gabriel Andreuccetti9 , da Faculdade de Medicina da USP, afirma
que: "O consumo de álcool é um dos maiores problemas de saúde pública no
mundo, principalmente na América Latina. No Brasil, o uso abusivo da substância
tem proporções epidêmicas".
Andreuccetti, ainda, explana que embora a conotação de epidemia seja mais
utilizada para se referir a doenças infecciosas que tragam risco à comunidade, o uso
abusivo do álcool pode ser considerado como tal por ser um componente
importantíssimo no desencadeamento da desestruturação social, com inúmeras
consequências negativas para a sociedade10.
O CISA após ter realizado um profundo estudo sobre o consumo de bebidas
alcoólicas no Brasil, no interregno de 2010 a 2017, que teve como supedâneo
pesquisas elaboradas pelo Ministério da Saúde e Organização Mundial de Saúde

8
Silva AL, Gonçalves LHT, Alvarez AM, Cartana MH. Protocolo de pesquisa colaborativa e participativa: o
processo de viver humano contemporâneo no contexto da grande Florianópolis. Florianópolis (SC):
Universidade Federal de Santa Catarina; 2003
9
https://www.dw.com/pt-br/os-danos-sociais-causados-pelo-consumo-de-%C3%A1lcool-no-brasil/a-47564127
10
https://www.dw.com/pt-br/os-danos-sociais-causados-pelo-consumo-de-%C3%A1lcool-no-brasil/a-
47564127
7
(OMS), concluiu que houve uma redução per capita no tocante a ingestão de álcool,
haja vista que em 2016 a consumação per capita de substancias alcoólicas foi
de 7,8l. Ao passo que, no ano de 2010 o consumo estimado foi de 8,8l de álcool per
capita. Diante de tais dados, o Brasil está abaixo da região das Américas que gira
em torno de 8L, porém, acima da média mundial que é 6,4 L.
A diminuição do consumo de bebidas alcoólicas no Brasil refletiu
automaticamente na redução do número de pessoas portadoras de transtornos
psiquiátricos relacionados ao uso de bebidas.
Em contraponto, entre os anos de 2006 a 2017, houve o aumento de
diagnósticos de alcoolismo, sendo observado que entre os homens subiu de 24,8%
para 26%, enquanto para as mulheres passou de 7,7% para 11%, conforme
constatado pelo Ministério da Saúde.11
Observa-se que a dependência química por alcoolismo é um distúrbio mental
presente na sociedade como um todo; paralelamente, dados epidemiológicos
nacionais fornecidos pelo Ministério da Saúde demonstram que há o consumo cada
vez mais precoce e que cerca de 13% da população apresenta um quadro de
dependência alcoólica.
A OMS afirma que o Brasil tem caminhado na contramão, pois situações como
o Beber Pesado Episódico (BPE) que é caracterizado pelo conhecido “porre
ocasional” saltou de 12,7% para 19,4. Ao passo que nos demais países do mundo
houve uma queda de 20,5% para 18,2%. E de acordo com alguns dados estatísticos
República Federativa do Brasil ganhou destaque, de forma negativa, devido ao
aumento substancial do consumo de bebidas etílicas entre idosos, mulheres, jovens
e adolescentes, sendo que o álcool já é considerada a droga lícita mais utilizada
entre estes dois últimos grupos (jovens e adolescentes), seja em razão da
vulnerabilidade caracterizada pela faixa etária destes indivíduos, seja em
decorrência da facilidade no que tange ao quesito acessibilidade de tais bebidas.
O CISA apresentou um relatório de onde é possível extrair que: os jovens
experimentam pela primeira vez algum tipo de bebida alcoólica por volta dos 12
anos de idade, sendo que esse dado tem se tornado cada vez mais recorrente,
sendo apurado que de 2013 a 2016 aumentou de 50% para 55,5% o número de
jovens que com até 15 anos de idade ingerem habitualmente bebidas alcoólicas, e
na região sul do país o crescimento foi ainda maior e atingiu o patamar de 68% de
jovens.
Outro ponto que merece destaque é o crescimento do número de pessoas do
sexo feminino, que estão consumindo álcool regularmente, dentre a adolescência e
o início da fase adulta, tendo sido apontado como fator preponderante para esse
aumento o espaço conquistado pelas mulheres na sociedade, que traz consigo o
enfrentamento de diversos preconceitos, seja no âmbito social como psicológico.
Os movimentos feministas que ao logo dos anos asseguram e fortaleceram o
empoderamento feminino, ainda não tiveram o condão de absolver as mulheres de
algumas discriminações sociais, pois em um contexto geral, são muito mais

11
http://saude.gov.br/noticias/agencia-saude/45613-consumo-abusivo-de-alcool-aumenta-42-9-entre-as-
mulheres
8
alvejadas e rotuladas pela sociedade do que os homens, a exemplo disso imaginem
se um homem e uma mulher ficarem bêbados juntos num bar com amigos.
Certamente a pessoa do sexo feminino terá a sua conduta reprovada e será vítima
de chacotas, ao passo que a embriaguez do homem será considerada um evento
natural.
Os indivíduos do sexo masculino, independente da faixa etária, ainda se
sobressaem às mulheres no que tange ao consumo esporádico habitual de bebidas
alcoólicas; porém, tal diferença numérica tem se tornado cada vez mais estreita ao
longo do tempo.
O Ministério da Saúde defende que a necessidade de ações de promoção da
saúde, compreendidas como estratégias de articulação transversal com enfoque nos
determinantes do processo destinado ao cuidado da saúde da população e nas
diferenças entre necessidades, territórios e culturas presentes no Brasil, a fim de
construir mecanismos que diminuam as situações de vulnerabilidade, promovam a
equidade e insiram a participação da comunidade e o controle social na gestão das
políticas públicas, com o escopo de otimizar todos os serviços destinados ao
fornecimento de um sistema de saúde.
Nesse sentido, se tem como importante a existência de políticas públicas
abrangentes, a efetiva articulação intersetorial do poder público e privado e
participação popular, incrementando a qualidade de vida e reduzindo os riscos à
saúde, porém, o seu grande obstáculo reside justamente em questões políticas e
econômicas, pois a indústria do álcool brasileira é a mais lucrativa do mundo.

3. A PREVIDÊNCIA SOCIAL E O BENEFÍCIO DE AUXÍLIO DOENÇA


Antes de adentrar no âmbito da previdência social é imprescindível que seja
abordado, ainda que de forma sucinta, a seguridade social, a fim de que seja
possível garantir uma melhor compreensão sobre o instituto da previdência.
A Constituição de 1988, vigente, foi a primeira a tratar e destinar um título
próprio para a seguridade social: Da Ordem Social, que tem como tem como base o
primado do trabalho, e como objetivo o bem-estar e a justiça sociais. Ainda sendo
possível afirmar que o sistema de seguridade social, em âmbito nacional, é o melhor
instrumento de proteção que a população pode ter diante das necessidades e
intercorrências sociais.
Dada sua importância e complexidade, ilustre jurista Marcus Orione Gonçalves
Correia12, entende que a seguridade social pode ser abarcada, sob o viés de suas
perspectivas:
Perspectiva política - sob essa perspectiva a seguridade social tem em primeiro
plano e como finalidade a proteção da necessidade social, ou seja, estende-se a
toda a sociedade e tem como principal prestador o Estado, em missão fundamental;
Perspectiva jurídica – sob este prisma, esta se refere ao meio ou instrumento
com que se pretende almejar a finalidade de proteção às necessidades sociais, por
12
CORREIA, Marcus Orione Gonçalves; CORREIA, Érica Paula Bacha. Curso de Direito da Seguridade Social. 6ª
Ed. São Paulo: Saraiva, 2012.
9
meio de uma organização normativa instrumental e de relações jurídicas
decorrentes;
Já José Manuel Almansa Pastor13 explica a respeito da seguridade social que:
Dessarte, pode-se, hoje, afirmar que o conceito de
seguridade social equivale a Previdência Social
(destinada, apenas, à prestação dos chamados
seguros sociais) está ultrapassado, cedendo lugar a
uma noção assistencial, que supera todas as
deficiências contidas na estrutura da previdência
Social, inclusive o mecanismo clássico dos seguros
privados. Portanto a seguridade social passa a ser
concebida como “um instrumento protetor,
garantindo o bem-estar material, moral e espiritual
de todos os indivíduos da população, abolindo todos
o estado de necessidade social em que possam se
encontrar.
A Previdência Social, por seu turno, constitui um dos pilares da seguridade
social que é composta por um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes
Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à
previdência e à assistência social, consoante dispõe o art. 194 da CF/88, ou seja, a
previdência social tem como objetivo promover a proteção dos seus segurados14 que
é composto pela maioria dos trabalhadores brasileiros, bem como garantir o amparo
aos seus dependentes em algumas fatalidades da vida, como no caso de
falecimento de um segurado é dado ao seu dependente o direito de poder requerer o
benefício de pensão por morte.
Por conseguinte, extrai-se do art. 201 da Constituição Federal que:
“A previdência social será organizada sob a forma
do Regime Geral de Previdência Social, de caráter
contributivo e de filiação obrigatória, observados
critérios que preservem o equilíbrio financeiro e
atuarial, e atenderá, na forma da lei, a:
I - cobertura dos eventos de incapacidade
temporária ou permanente para o trabalho e idade
avançada;
II - proteção à maternidade, especialmente à
gestante;
III - proteção ao trabalhador em situação de
desemprego involuntário;

13
PASTOR, José Manuel Almansa. Derecho de la seguridade social. 7ª ed. Madrid: Tecnos, 1991.
14
Os segurados do Regime Geral de Previdência – INSS podem ser conceituado como sendo toda pessoa física
que realiza o recolhimento de suas contribuições para o sistema, seja ela obrigatória quando o indivíduo exerce
atividade laborativa, seja facultativa quando a pessoa não exerce atividade remunerada.
10
IV - salário-família e auxílio-reclusão para os
dependentes dos segurados de baixa renda;
V - pensão por morte do segurado, homem ou
mulher, ao cônjuge ou companheiro e dependentes,
observado o disposto no § 2º.”

O Regime Geral de Previdência Social - RGPS, mencionado no artigo 201 da


CF/88, é administrado pelo Instituto Nacional do Seguro Social – INSS, que se trata
de uma autarquia federal vinculada ao Ministério da Economia e que tem por
funções arrecadar, fiscalizar, cobrar contribuições destinadas à manutenção do
RGPS, aplicar penalidade e, ainda, realizar o pagamento de benefícios e prestação
de serviços aos seus segurados e dependentes do RGPS.
Urge frisar que a constitucionalização do direito previdenciário foi
extremamente importante para referendá-lo como um direito fundamental, assim
como considerado pelo Paulo Bonavides15:
“... A influência da Constituição, em matéria
previdenciária, pode ser facilmente verificada na
elaboração de políticas públicas legislativas, que
devem observar não somente os preceitos
geograficamente situados no Título ordem Social,
mas todo o sistema constitucional, especialmente os
objetivos dos Estado brasileiro, essencialmente no
que diz respeito à construção e uma sociedade livre,
justa e solidária, conjugando com o objetivo de
erradicação da pobreza e desigualdades sociais,
todos em seu artigo 3°, conferindo verdadeira
unidade de sentidos e auferindo valoração normativa
do sistema constitucional.”

Dentre os benefícios de amparo ao trabalhador disponíveis à concessão pela


previdência social, encontra-se no art. 59 da Lei n° 8.213/9116, o auxílio doença, o
qual será devido a todo segurado que, havendo cumprido, quando for o caso, o
período de carência mínima que consiste no recolhimento de doze meses de
contribuições, comprovar após a realização de pericia médica administrativa ou
judicial incapacidade para o trabalho ou para o exercício de sua atividade habitual
pelo período superior a 15 dias.
Aqui se deve ressaltar que, o benefício previdenciário de auxilio doença, tem
um viés econômico e social extremamente importante na saúde do trabalhador que
contribui com o sistema previdenciário, pois além de permitir que o segurado doente

15
BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 21ª ed. São Paulo: Malheiros, 2007, p.259.
16
Art. 59. O auxílio-doença será devido ao segurado que, havendo cumprido, quando for o caso, o período de
carência exigido nesta Lei, ficar incapacitado para o seu trabalho ou para a sua atividade habitual por mais de
15 (quinze) dias consecutivos.
11
possa arcar com os custos de tratamentos médicos, que em muitos casos se torna
imprescindível para a subsistência da família do contribuinte, isso sem contar com o
fato de que, caso o segurado tenha vínculo empregatício com alguma empresa, este
é mantido, permitindo ao trabalhador retornar imediatamente ao labor após a alta
médica previdenciária.

3.1 A CONCESSÃO DE AUXÍLIO DOENÇA POR ALCOOLISMO


Os sintomas produzidos pelo alcoolismo e pela abstinência impactam
diretamente e de forma negativa na vida social e na saúde do dependente, pois além
ficar desestimulado para realizar as atividades de seu cotidiano, não cumpre com
suas responsabilidades de compromissos sociais e, consequentemente, muitos
recorrem ao Instituto Nacional do Seguro Social – INSS, com o intuito de obter a
concessão de um benefício previdenciário por incapacidade, haja vista que se
tornam totalmente incapazes para o labor e para o exercício de suas atividades
habituais.
Destaca-se que o afastamento previdenciário em decorrência da dependência
de álcool pode ser reconhecido como incapacidade laborativa de natureza
acidentária, através da caracterização do alcoolismo como sendo uma doença
ocupacional ou, ainda, ter seu quadro preexistente severamente agravado em
decorrência de estresse ocupacional, diante de políticas internas adotadas pelas
empresas e inadequação do ambiente laboral, especialmente no que tange à
periculosidade, insalubridade e riscos ergonômicos, que causam sofrimento físico e
mental, que podem servir como gatilho para o alcoolismo em caso de predisposição
genética ou psicológica do trabalhador.
Convém trazer a colação o posicionamento majoritário emanado pela Tribunal
Superior do Trabalho, in verbis:

RECURSO DE REVISTA. JUSTA CAUSA.


ALCOOLISMO CRÔNICO. REINTEGRAÇÃO. A
OMS formalmente reconhece o alcoolismo crônico
como doença no Código Internacional de Doenças
(CID). Diante de tal premissa, a jurisprudência desta
C. Corte firmou-se no sentido de admitir o alcoolismo
como patologia, fazendo-se necessário, antes de
qualquer ato de punição por parte do empregador,
que o empregado seja encaminhado para tratamento
médico, de modo a reabilitá-lo. A própria
Constituição da República prima pela proteção à
saúde, além de adotar, como fundamentos, a
dignidade da pessoa humana e os valores sociais do
trabalho (arts. 6º e 1º, incisos III e IV). Repudia-se
ato do empregador que adota a dispensa por justa
causa como punição sumária ao trabalhador.
Precedentes. Recurso de revista não conhecido.
(TST- RR-130400-51.2007.5.09.0012)
12
É possível extrair do Departamento de Saúde do Trabalhador do INSS 17 que o
alcoolismo é o principal motivo de afastamento dos benefícios por incapacidade
oriundos de transtornos mentais e comportamentais pelo uso excessivo de drogas
licitas, assim como o referido departamento acredita que as políticas públicas atuais
estão direcionadas tão somente para combate das drogas ilícitas, deixando à
margem as drogas licitas como o álcool que, por sua vez, tem um efeito devastador
na saúde do alcoólatra, haja vista que o consumo abusivo do álcool está diretamente
associado ao desencadeamento de: transtornos mentais e comportamentais com ou
sem síndrome psicótica; transtornos obsessivos compulsivos; tabagismo; doenças
cardiovasculares; dependência química a drogas ilícitas; gastrite crônica; ainda,
devido ao alcoolismo apresentaram pelo menos uma das seguintes comorbidades:
transtornos mentais e comportamentais, depressão, transtornos de
personalidade/psicopatia, transtorno obsessivo compulsivo, tabagismo, doenças
cardiovasculares, dependência química a drogas ilícitas mononeurite, polineuropatia
alcoólica e outas polineuropatias, neurose, obesidade, gastrite crônica, câncer (de
boca, esôfago, estômago, fígado), hipertensão arterial, miocardiopatia, atrofia
testicular hipercolesterolemia, hepatopatia alcóolica crônica, insuficiência vascular
periférica, varizes de membros inferiores, úlceras varicosas, embolia e trombose
venosa, síndrome pósflebite, transtorno dos vasos linfáticos, embolia pulmonar,
edema agudo de pulmão, cirrose bilar; degeneração cerebral; neuropatia periférica
hipertensão arterial, etc.
O número de pessoas que são dependentes de bebidas alcoólicas e recebem
auxilio doença comum ou acidentário, considerando a redução do consumo per
capita de álcool no Brasil e o alto índice de desemprego, ainda são expressivos e
apresentam um impacto avassalador junto ao INSS, sendo considerado hoje o
principal motivo de pedidos e afastamentos dos segurados para gozarem do
benefício de auxilio doença por incapacidade mental ou comportamental, isso sem
contar com o fato de que, caso o segurado venha a óbito ou seja preso, os seus
dependentes poderão receber respectivamente pensão por morte ou do auxílio-
reclusão.
Ainda, nessa vertente, cabe elucidar que além dos gastos com o pagamento de
benefícios, o sistema deixa de arrecadar as contribuições dos segurados que estão
afastados, potencializando ainda mais os prejuízos financeiros da Seguridade
Social.
Ao analisar os dados fornecidos pela plataforma eletrônica do Ministério da
Previdência Social – Secretaria de Políticas de Previdência Social, através do AEPS-
INFOLOGO, entre os anos de 2011 a 2017, percebe-se claramente que em 2011 o
INSS contava com 62,2 milhões de contribuintes pessoas físicas, sendo que esse
número cresceu gradativamente até 2014, onde foram constados 71,2 milhões
contribuintes na referida categoria. Já a partir de 2015 o número de contribuintes
caiu para 69,5 milhões, sendo que essa redução permaneceu de forma paulatina até
2017, onde foi apurado apenas 65 milhões de contribuintes pessoa física.

17
http://www.previdencia.gov.br/saude-e-seguranca-do-trabalhador/
13
Convém destacar que o último anuário estatístico disponibilizado quando da
realização do presente trabalho foi referente ao ano de 2017.

Ano 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017


Número de
contribuintes 62,2 67,2 69,7 71,2 69,5 66,6 65
pessoas
físicas
*Planilha número de contribuintes ao INSS pessoas físicas por ano

Nota-se que, entre os anos de 2014 e 2017, houve uma redução de


aproximadamente 6 milhões pessoas físicas contribuintes para o Regime Geral de
Previdência Social (RGPS), ou seja, menos 8,8% de contribuintes, o que certamente
se deu em decorrência da recessão político-econômica enfrentada pelo Brasil que
refletiu diretamente no aumento de desempregados e de trabalhadores informais, os
quais deixaram de realizar suas contribuições previdenciárias.
Em que pese a redução do número de contribuinte ao INSS, o Brasil se
destaca nos últimos anos pelo nítido aumento do número de pessoas que fazem o
uso imoderado de bebidas etílicas, porém, esse aumento não tem impactado no
crescimento de concessões dos benefícios previdenciários de auxílios doenças, haja
vista que o número de afastamentos por incapacidade ao trabalho e/ou ao exercício
das atividades cotidianos associadas ao consumo exagerado de álcool apresentou
uma redução expressiva, conforme se extrai dos dados fornecidos pelo Ministério da
Previdência Social, o qual levou em consideração não apenas o número de
contribuintes ou o número de afastamentos, de forma genérica, sendo analisados os
afastamentos também através do Código Internacional de Doenças (CID) e,
posteriormente pela faixa etária.

Ano 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017


Número de
segurados 14.007 13.769 14.420 16.015 12.226 11.297 10.525
afastados com CID
relacionado ao
consumo de álcool
*Número de segurados que foram afastados por doenças associadas diretamente ao
consumo de bebidas alcoólicas.

O Coordenador de Atuária da CGEDA, Alexandre


Zioli Fernandes entende que:
“Uma alternativa a esse problema financeiro gerado
pelo consumo de álcool à Previdência seria
promover uma discussão envolvendo a sociedade
14
como um todo visando a possibilidade de realizar o
repasse de uma parte ou até mesmo a totalidade do
valor desses benefícios para a indústria de bebidas
alcóolicas ou para aqueles que consomem, por meio
de introdução de uma parcela destinada ao RGPS
na alíquota de imposto desses produtos”
A psiquiatra Dra. Magda Vaissma, em sua obra doutrinaria: Alcoolismo no
trabalho, defende o alcoolismo deve ser tratado como “síndrome multivariada” a ser
compreendida numa perspectiva interdisciplinar e no contexto de uma nova
conjuntura epidemiológica, assim como entende que o trabalhador não pode ser
alijado do seu ambiente laboral, devendo as empresas investirem em programas de
saúde mental de prevenção ao alcoolismo e reabilitação dos dependentes químicos,
a fim de que os trabalhadores reconheçam a importância do ocupa em suas vidas:
quando aviltado, torna-se um fator de risco capaz de conduzi-los ao sofrimento
devido ao uso excessivo de álcool, e ao ser ressignificado pode se tornar um
alicerce importante para que o trabalhador volte a exercer o seu direito de cidadania.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Embora o consumo per capita de bebidas etílicas pelos brasileiros tenha
reduzido nos últimos anos, também houve um aumento expressivo e preocupante de
sua ingestão por mulheres e jovens. Assim, as substancias alcoólicas, em que pese
todo o seu poder destrutivo aos seus dependentes e à família destes, permanece
sendo a droga licita mais consumida no Brasil.
Em contrapartida, o governo Brasileiro já ciente de que o alcoolismo é
considerado um dos principais problemas na área da saúde pública, não pode
permitir que as indústrias de bebidas – em especial, as cervejarias – por se tratar do
segmento mais lucrativo do mundo, possam se sobrepujar aos direitos à saúde e à
vida do ser humano, consagrados como fundamentais pela Constituição Federal,
apenas por questões de cunho econômico e de lobby político.
Portanto, para que se garanta o bem-estar social e a dignidade humana, sob o
âmbito coletivo e individual, é necessário que haja o investimento na implantação de
políticas públicas de combate ao consumo de bebidas alcoólicas, assim como
buscando a otimização das políticas já existentes, com enfoque especial nos jovens
que, conforme declarou o Papa Emérito Bento XVI18, eles são o futuro da
humanidade e esperança de todas as nações. Logo, não se pode admitir que a
juventude se enverede por um caminho que muitas vezes se torna irreversível.
Através da presente pesquisa, restou notório que houve uma redução do
número de contribuintes do RGPS e que ocorreram impactos do alcoolismo na
concessão do benefício previdenciário de auxilio doença pelo INSS.
Isso se dá pelo fato de que houve uma queda do consumo de álcool per capita
na população adulta, onde se concentra o maior número de trabalhadores que
prestam serviços formais e que, por sua vez, são contribuintes da autarquia
18
http://w2.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/speeches/2005/august/documents/hf_ben-
xvi_spe_20050820_meeting-muslims.html
15
previdenciária; bem como ao aumento do índice de desemprego e trabalhos
informais, que refletem na ausência de recolhimentos para o sistema previdenciário.
Em que pese tais reduções, o impacto financeiro e social sofrido devido a
concessão do referido benefício é avassalador, pois, na maioria dos casos, afastar o
trabalhador dependente de álcool de seu labor ou do seu meio social traz resultados
refratários ao tratamento do alcoolista e certamente para os cofres públicos, que
correm o risco de pagar o benefício de auxilio doença por um longo período.
Portanto, em vista ao alcance de um bem individual e coletivo chama-se a
atenção para que o INSS se dedique à celebração de parcerias com empresas,
entidades públicas e privadas, destinadas desenvolver um programa de reabilitação
profissional eficaz, que possa reverter na efetiva reinserção do dependente químico
na sociedade.
Por derradeiro, conclui-se o quão importante é não apenas a implementação de
políticas públicas, mas também a realização de exames periódicos de avaliação da
saúde do trabalhador, assim como investir em ações que possam refletir na melhoria
da qualidade de vida e, consequentemente, evitar o desencadeamento de outras
patologias e assim reduzir os afastamentos previdenciários associados ao uso do
álcool.

5. REFERÊNCIAS

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http://www.neyaraujo.blog.br/blog/alcoolismo-e-beneficio-previdenciario/>. Acesso
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