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FORMANDO DISCÍPULOS COM UMA


COSMOVISÃO CRISTÃ
“indo, portanto, fazei discípulos...” (Mt 28:19-20).
“... com vistas ao aperfeiçoamento dos santos” (Ef 4:12).

por

Rev. Ewerton Barcelos Tokashiki

Primeira Igreja Presbiteriana de Porto Velho


Revisão 15/04/2016
2

INDICE

Introdução

Parte I
1. O que é discipulado
a. Discípulo formando discípulos
2. Discipulado é evangelização
a. Todos pecaram e carecem da glória de Deus
b. A diferença entre discipulado e evangelização
3. Discipulado é maturação
a. O que é um cristão maduro?
b. Somos cristãos confessionais
c. Vivendo relacionamentos saudáveis
4. Discipulado é cosmovisão
a. O que é cosmovisão?
b. A construção da cosmovisão cristã
c. Treinando para defender a fé cristã

Parte II
1. O motivo do discipulado
2. O objetivo do discipulado
3. Os princípios para discipuladores
4. Quem será discipulado
d. O discipulado básico
e. O discipulado avançado
5. Quanto ao material de estudo
a. Material para discipulado básico
b. Material para discipulado avançado
6. O método do discipulado
7. O discipulado e a igreja local
8. Preservando o ministério de discipulado
9. Compromisso permanente do discipulador
10. Conclusão
Apêndice 1 – Um resumo da doutrina da Escritura Sagrada
Apêndice 2 – Princípios básicos para a interpretação bíblica
Apêndice 3 – Cremos e confessamos: resumo da fé reformada
Apêndice 4 – Algumas sugestões para a prática da visitação
Bibliografia
3

Introdução

O que é discipulado? Há com certeza uma diversidade de opiniões


quanto ao propósito e modo de realizá-lo. Qual o tempo apropriado para
realização de um CURSO DE DISCIPULADO e qual o número de lições é
ideal? Ou ainda, quais as discussões se darão geralmente em torno do
conteúdo das lições e métodos de aplicação. O discipulado é apenas o
aprendizado básico ou ele exige um treinamento avançado? Ele se limita a
doutrinas cristãs ou deve abranger todas as esferas da vida? Todavia, A
principal preocupação que devemos ter quanto ao discipulado, se é que
estamos sendo bíblicos ou não na nossa concepção prática de como deve ser
realizado.
Precisamos partir do modelo apresentado por Jesus (embora não seja
o primeiro modelo apresentado na Bíblia) que é o mestre dos mestres. Jesus
teve um ministério onde ensinou multidões, mas concentrou a sua
mensagem no treinamento dos discípulos, formando a base para a
continuidade do seu ministério a partir do discipulado. Antes de sua
ascensão a sua principal ordem foi a formação de novos discípulos (Mateus
28.18-20; Mc 3.14). E inicialmente os discípulos viveram coerentemente
este mandato testemunhando que “não podemos deixar de falar das coisas
que temos visto e ouvido” (At 4:20).
O discipulado em seu sentido bíblico precisa ser resgatado. Tanto um
conceito, como uma prática orientada por princípios bíblicos de discipulado
evidenciará a saúde espiritual da igreja. Creio que sem um discipulado
intencional, organizado e direcionado a igreja local estará sujeita a diversas
enfermidades. Quando as pessoas não são levadas a pensar conforme as
Escrituras, elas pensam como o mundo. O pastor luterano Dietrich
Bonhoeffer com tristeza notou que
em tudo que segue, queremos falar em nome de todos aqueles que
estão perturbados e para os quais a palavra da graça se tornou
assustadoramente vazia. Por amor a verdade, essa palavra tem que
ser pronunciada em nome daqueles de entre nós que reconhecem
que, devido à graça barata, perderam o discipulado de Cristo, e,
com o discipulado de Cristo, a compreensão da graça preciosa.
Simplesmente por não querermos negar que já não estamos no
verdadeiro discipulado de Cristo, que somos, é certo, membros de
uma igreja ortodoxamente crente na doutrina da graça pura, mas
não membros de uma graça do discipulado, há que se fazer a
tentativa de compreender de novo a graça e o discipulado em sua
verdadeira relação mútua. Já não ousamos mais fugir ao problema.
Cada vez se torna mais evidente que o problema da Igreja se cifra
nisso: como viver hoje uma vida cristã.1

1
Dietrich Bonhoeffer, Discipulado (São Leopoldo, Ed. Sinodal, 1995), p. 18. Bonhoeffer (1906-1945) foi um jovem
pastor luterano que durante a 2a Guerra Mundial protestou contra o regime Nazista. Ele foi morto aos 39 anos num
campo de concentração alemão. Durante o período de sua prisão escreveu várias cartas e livros na área de Teologia
Pastoral que foram preservados, alguns se encontram traduzidos para o português.
4

A nossa sociedade é cristianizada sem a graça do evangelho. A herança


papista se faz presente, em maior ou menor influência, inclusive na
mentalidade protestante brasileira. Os grupos neopentecostais crescem com
métodos e mensagem analógica ao catolicismo romano. Há uma crescente
onda de cristãos nominais, num cristianismo cada vez menos sem a graça e
distanciando do antigo evangelho de Cristo. O conceito de discipulado está
se perdendo, inclusive entre alguns grupos que falam de discipulado, mas
se preocupam com o método, enquanto abraçam desvios doutrinários.
O modelo bíblico propõe desenvolver o caráter de Cristo. Conhecer a
Deus por meio de Jesus, e glorifica-lo num relacionamento construtivo como
Igreja. A minha proposta de discipulado é preparar cristãos maduros para
se comprometerem segundo os seus dons com a igreja, proporcionando um
fortalecimento qualitativo na prática da comunhão, construindo uma
coerente mentalidade bíblica, treinando-os para o testemunho cristão em
todas as esferas da sociedade, que resultará na multiplicação de outros
discípulos.

PARTE I

Capítulo 1 - O que é discipulado?

O que é ser discípulo de Jesus Cristo? Ser discípulo é muito


mais do que ser um mero aprendiz temporário. M. Bernouilli
observa que “o discípulo tem em comum com o aluno o fato de
receber um ensino, mas o primeiro compromete-se com a
doutrina do mestre”.2 Por isso, o discipulado não se resume ao
exercício conceitual, mas, “é importante reconhecer que a
chamada para ser discípulo sempre inclui a chamada para o
serviço”.3 Não somos chamados para uma mera reflexão, ou,
contemplação, mas sim para vivermos a vontade de Deus.
O problema com a maioria dos livros sobre discipulado é
que eles propõem um conceito básico de vida cristã e de
evangelização.4 É vero que alguns também oferecem a ideia de
maturação e treinamento de liderança. Mas, se o discipulado
envolve todo preparo para a vida cristã, então, ele deve abranger
níveis e áreas além.

Conceitos distorcidos
Creio que antes de dizer o que é discipulado, é necessário
negar as ideias errôneas. O discipulado não é um mero
2
J.J. Von Allmen, ed., Vocabulário Bíblico (São Paulo, ASTE, 1972), pp. 108-109.
3
Colin Brown, ed., Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento (São Paulo, Ed. Vida Nova, 1981),
vol. 1, p. 666.
4
Desde livros mais antigos como LeRoy Eims, A arte perdida de fazer discípulos (Belo Horizonte, Editora Atos,
2010, publicado originalmente em inglês - em 1978) ao de Francis Chan & Mark Beuving, Multiplique – discípulos
que fazem discípulos (São Paulo, Editora Mundo Cristão, 2015) se limitam ao conceito de evangelizar e oferecer
introdução básica da fé e vida cristã.
5

programa. Nem mesmo deveria ser confundido com uma série de


estudo de lições bíblicas.
Não é um curso de iniciação doutrinária que ocorre em
encontros semanais. Como também não é um novo sistema de
culto nos lares. Embora o discipulado recorra a organização de
um programa, o estudo sequenciado de lições doutrinárias, e
aconteça em encontros semanais ele é um princípio de formação.
Atualmente a proposta mais perigosa sobre discipulado é a
da mentoria manipuladora. Algumas características deste
método:
1. Crer que é um método divinamente inspirado.5
2. O discipulador detém completa autoridade sobre o
discípulo. A ideia é que o discipulador se torna um líder
espiritual que tem poderes sobre toda a vida espiritual e
social do aprendiz. Esta é uma prática comum nas seitas
heréticas.6
3. O modelo de mentoria manipuladora nega na prática o
sacerdócio universal de todos os crentes. A premissa
orientadora é que o discipulador possuí uma cobertura
espiritual sobre o discípulo a ponto de se tornar um
mediador. Assim, a sua opinião tem autoridade final nas
decisões dos discípulos. A Bíblia nos ensina que temos livre
acesso ao trono da graça, por meio de Cristo, não
dependemos mais de mediadores ou líderes espirituais que
nos representem diante de Deus, nem nos revelem a
vontade de Deus. Instruímos, aconselhamos, exortamos uns
aos outros, para que pelo mútuo auxílio cresçamos na graça
de Cristo. Não nos esqueçamos que só Jesus merece ter
discípulos.
4. A prática da prestação de contas é uma exigência que não
pode ser questionada.
5. O discipulado não é estimulado para a maturidade cristã.
6. O discípulo não pode exercer senso crítico.
7. O método não pressupõe que o discípulo poderá se tornar
mais maduro que o discipulador.

O movimento G12, MDA e o Movimento Igreja em Células


geralmente adotam este modelo de discipulado. Infelizmente,
pessoas despreparadas, sem maturidade e doutrinariamente
confusas são designadas para serem discipuladoras, 7 e o
resultado é desastroso, quando não danoso aos que estão sob a
5
Abe Huber, fundador do MDA, declara explicitamente que “o modelo” foi dado inspirado pelo Espírito Santo.
Acesse https://www.youtube.com/watch?v=zVSv3wJ7DME veja o seu testemunho da origem do MDA.
6
Dave Breese, Conheça as marcas das seitas (São José dos Campos, Editora Fiel, 1998), pp. 32-40.
6

sua liderança. O discípulo pode se tornar mais maduro, mais


piedoso e melhor preparado para servir do que seu discipulador.
Cremos que o Espírito Santo concede dons, habilitando a quem
ele quiser, e usá-lo como ele quiser no reino de Deus. Nenhum
método de discipulado pode limitar o discípulo de crescer e se
tornar um instrumento nas mãos do nosso redentor.

Pensando biblicamente sobre discipulado


John Sittema nos lembra que discipular é “reproduzir a si
mesmo e sua fé na vida de outros”.8 Evidentemente não podemos
confundir algo simples, mas essencial: o Senhor Jesus exige que
façamos discípulos dele e não nossos. Novamente podemos citar
Sittema observando que “esse processo requer o
desenvolvimento de um relacionamento de confiança, de
exemplo, de revelação do nosso coração e da nossa fé ao
discípulo que, por sua vez deve imitar o padrão de fé do seu
mestre”.9 Mas a limitação desta definição é sugerir um
discipulado que visa a maturidade da vida cristã.
A definição usada por David Kornfield também é limitada. Ele
afirma que “discipulado é uma relação comprometida e pessoal,
onde um discípulo mais maduro ajuda outros discípulos de Jesus
Cristo a aproximarem-se mais dEle e assim reproduzirem”. 10
Embora ela seja proveitosa para nos lembrar da relação de
compromisso que se estabelece entre as pessoas envolvidas no
discipulado, coloca a multiplicação como a sua finalidade. A
motivação e finalidade do discipulado é a glória de Deus, e é por
causa dele, para que o seu Nome seja conhecido é que
discipulamos.
O discipulador não é simplesmente um professor. Ele é
alguém que além de informar também coopera na formação
espiritual do seu aprendiz, tornando-se referência para o
discípulo. Mas, devemos sempre lembrar que nenhum
discipulador é modelo de perfeição, mas sim, um modelo de
transformação, mostrando que assim como o discípulo, ele
também está num processo, que a cada dia subirá um degrau na
assimilação do caráter de Cristo (Rm 8:28-29). Com este sincero
objetivo ele poderá identificar-se com o discípulo, seguindo o
7
Joel Comiskey diz “eu encorajo os líderes de célula a verem todos os membros da célula como ‘líderes de célula
em potencial’ e a acompanha-los todos para que se tornem líderes”. Joel Comiskey, Multiplicando a liderança
(Curitiba, Ministério Igreja em Células, 2002), p. 34. Nos modelos apresentados no Apêndice B – há igrejas que
formam seus líderes de célula, ou discipuladores, num período de 3 meses a 1 ano (pp. 195-203). E isso sem indicar
qualquer critério indicado para a idade. Neste modelo o líder de célular é o discipulador do grupo. Comiskey declara
“o discipulado flui naturalmente do evangelismo em uma célula” (p. 78).
8
John Sittema, Coração de Pastor (São Paulo, Editora Cultura Cristã, 2004), p. 173.
9
John Sittema, Coração de Pastor, p. 173.
10
David Kornfield, Série Grupos de Discipulado (São Paulo, Editora SEPAL, 1994), vol. 1, p. 6.
7

exemplo de Paulo: “...não que o tenha já recebido, ou tenha


obtido a perfeição; mas prossigo para conquistar aquilo para o
que também fui conquistado por Cristo Jesus” (Fp 3.12, ARA).
O fiel discípulo de Jesus forma outros discípulos. Este
princípio acontece em consequência da obediência ao claro
ensino da Escritura quanto ao crescimento do Corpo de Cristo e
proclamação do Reino de Deus. Luis Aranguren comenta que a
relação entre o discipulador e o aprendiz está “baseada no
modelo de Cristo e seus discípulos, na qual o mestre reproduz no
discípulo a plenitude de vida que ele próprio tem em Cristo, de
tal forma que o discípulo se capacita para ensinar a outros”. 11
Analisaremos alguns exemplos deste princípio bíblico:

1. Jesus e o treinamento dos doze


O Senhor Jesus constantemente pregou às multidões, mas o
seu ensino foi direcionado aos seus discípulos. A Escritura relata
que “Jesus subiu a um monte e chamou a si aqueles que ele quis,
os quais vieram para junto dele. Escolheu doze, designando-os
apóstolos, para que estivessem com ele, os enviasse a pregar”
(Mc 3:13-14, NIV).

2. Barnabé e Saulo – Atos 9.26-27; 13.1-3.


No primeiro texto vemos Barnabé tomando Paulo consigo e
o apoiando em um momento que enfrentava a oposição dos
irmãos que não acreditavam em Paulo. Vemos aqui que apesar de
todo conhecimento bíblico que Paulo possuía (Atos 22.3) ele
agora precisava de alguém que o apoiasse e que o colocasse em
condições de servir a igreja. Nesse direcionamento Barnabé foi
peça fundamental. No capítulo 13 vemos Lucas mostrando uma
lista de profetas e mestres, onde Barnabé está encabeçando esta
lista e Saulo é o último da lista, não sabemos exatamente se há
implicações quanto a esta ordem na lista, mas no versículo 3
vemos ambos sendo separados pelo Espírito Santo e pelos irmãos
e mandados juntos para sua primeira missão. Vemos aqui, que o
período de discipulado já dava seus primeiros frutos.

3. Barnabé e João Marcos – Atos 13.13; 15.37-39; 2 Tm 4.11.


Aqui vemos num primeiro momento João Marcos sendo
objeto de contenda entre Paulo e Barnabé, em virtude de ter
abandonado uma missão recém-iniciada. Depois lemos Barnabé
tomando João Marcos e fazendo o mesmo que fizera
anteriormente com Paulo, ou seja, tomando alguém nascido de
11
Luis Aranguren, Discipulado Transformador (São Paulo, LifeWay, 2002), p. 16.
8

novo em Cristo, mas que necessitava de ajustes em seu caráter


cristão. Por fim vemos Paulo já no final do seu ministério
recomendando a Timóteo que lhe enviasse João Marcos, pois lhe
seria útil para o ministério do apóstolo.

4. Paulo e Timóteo – Atos 16.1-2; 2 Tm 2.2


No texto de Atos verificamos que Paulo tomou esse jovem
discípulo e o fez acompanhá-lo. Certamente seguiu-se a partir daí
um período de discipulado, pois Paulo já no final do seu
ministério se dirige a Timóteo com essas palavras “e o que de
minha parte ouviste, através de muitas testemunhas, isso
mesmo, transmite a homens fiéis e também idôneos para que
instrua a outros”.
O discipulado é muito mais do que simplesmente passagem
de informação, antes de tudo é formação. O que temos visto em
muitas igrejas é apenas uma transmissão de lições que não
chega a ser um verdadeiro discipulado, pois não forma, apenas
informa. O discipulado não pode ser apenas uma etapa antes do
curso de preparação para batismo. Cremos que um discípulo de
Jesus não pode ser formado, em apenas seis meses, contudo, não
há problema algum que em seis meses de ensino e treinamento o
discípulo ingresse numa classe de catecúmenos, e até que seja
recebido como membro, mas, o discipulado deve continuar.
Há um perigo que paira quando o processo de integrar o
membro é algo apenas institucional. A experiência mostra que
muitos dos que são recebidos como membros de uma igreja local,
após o curso de catecúmenos, passam a não ter mais a mesma
disposição de aprender, ou seja, de se submeterem a um
discipulado continuado, de modo, que mesmo depois de anos de
vínculo com a igreja local, ainda têm dúvidas doutrinárias em
questões básicas, ou comportamentos biblicamente inaceitáveis
para um membro antigo. Em muitos casos a formação de um
caráter cristão, e o seu crescimento espiritual que até então era
notável, infelizmente sofre uma desaceleração.
A proposta de discipulado exposta neste texto se baseia
num tríplice conceito: evangelização, maturação e cosmovisão.

Capítulo 2 – Discipulado é evangelização

O conceito básico de discipulado é ensinar o evangelho para


que cristãos sejam formados. O Senhor Jesus ordenou que indo,
portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os...
9

ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado


(Mt 28:19-20, ARA).
O evangelista Lucas constatou que os primeiros cristãos
todos os dias, no templo e de casa em casa, não cessavam de
ensinar e de pregar Jesus, o Cristo (At 5:42, ARA). Eles tinham
em sua conversação o que lhes enchia o coração: o evangelho!
Eles estavam satisfeitos com uma verdadeira comunhão com o
redentor, e esta ininterrupta experiência produzia um incessante
testemunho.
Mas, a pergunta é: por que pregar o evangelho? Por que
fazer discípulos? A resposta inicialmente é bem simples: o
pecado estragou tudo. A queda de Adão trouxe morte, perda da
verdadeira liberdade, a corrupção da imagem de Deus, a
distorção de significado e a incapacidade de perfeitamente
obedecer ao pacto de Deus nos mandatos espiritual, cultural e
social.

Todos pecaram e carecem da glória de Deus


A pedagogia cristã pressupõe uma deficiência moral a ser
corrigida em todos os seres humanos. A Escritura declara que a
nossa situação sem a graça de Deus é desesperadora. Paulo nos
revela que
vocês estavam mortos em suas transgressões e pecados, nos quais
costumavam viver, quando seguiam a presente ordem deste mundo
e o príncipe do poder do ar, o espírito que agora está atuando nos
que vivem na desobediência. Anteriormente, todos nós também
vivíamos entre eles, satisfazendo as vontades da nossa carne,
seguindo os seus desejos e pensamentos. Como os outros, éramos
por natureza, merecedores da ira (Ef 2:-13, NVI).

Em resumo, concluímos que todas as pessoas estando destituídas


da graça de Deus são escravas de seus impulsos e desejos
pecaminosos, da estrutura corrompida do mundo e do poder dos
demônios. Os efeitos do pecado no ser humano são extensiva e
intensivamente devastadores.
O discipulado pressupõe a necessidade de que as pessoas
sejam reeducadas pelo evangelho para a vida cristã sob o
senhorio de Jesus Cristo. O apóstolo ainda nos declara que a
salvação pela graça e a transformação do entendimento
produzem um comportamento que glorificará a Deus.

Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor


com que nos amou, estando nós ainda mortos em nossas ofensas,
nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos), e nos
ressuscitou juntamente com ele e nos fez assentar nos lugares
10

celestiais, em Cristo Jesus; para mostrar nos séculos vindouros as


abundantes riquezas da sua graça pela sua benignidade para
conosco em Cristo Jesus. Porque pela graça sois salvos, por meio
da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras,
para que ninguém se glorie; porque somos feitura sua, criados em
Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que
andássemos nelas. (Ef 2:4-10, NVI).

Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a


todos os homens, ensinando-nos que, renunciando à impiedade e
às concupiscências mundanas, vivamos neste presente século
sóbria, e justa, e piamente, aguardando a bem-aventurada
esperança e o aparecimento da glória do grande Deus e nosso
Salvador Jesus Cristo; o qual se deu a si mesmo por nós para nos
remir de toda a iniquidade, e purificar para si um povo seu
especial, zeloso de boas obras. (Tt 2:11-14, NVI).

A sua intenção não era apenas dizer que todos os eventos são
conduzidos por Deus para nos fazer bem, mas que cooperam
entre si cumprindo a finalidade do sumo bem, que é nos tornar
semelhantes à Cristo.
O discipulado apresenta o evangelho e treina os novos
convertidos para que tenham a mente do nosso Redentor. Paulo
nos esclarece que
nós, porém, não recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito
procedente de Deus, para que entendamos as coisas que Deus nos
tem dado gratuitamente. Delas também falamos, não com palavras
ensinadas pela sabedoria humana, mas com palavras ensinadas
pelo Espírito, interpretando verdades espirituais para os que são
espirituais. Quem não tem o Espírito não aceita as coisas que vêm
do Espírito de Deus, pois lhe são loucura; e não é capaz de
entendê-las, porque elas são discernidas espiritualmente. Mas
quem é espiritual discerne todas as coisas, e ele mesmo por
ninguém é discernido; pois ‘quem conheceu a mente do Senhor
para que possa instruí-lo?’ Nós, porém, temos a mente de
Cristo. (1 Co 2:12-16, NVI)

A aceitação e o entendimento do evangelho produzirão a


sua prática de santidade. O apóstolo Pedro ordena que “estejam
com a mente preparada, prontos para a ação; sejam sóbrios e
coloquem toda a esperança na graça que lhes será dada quando
Jesus Cristo for revelado. Como filhos obedientes, não se deixem
amoldar pelos maus desejos de outrora, quando viviam na
ignorância. Mas, assim como é santo aquele que os chamou,
sejam santos vocês também em tudo o que fizerem, pois está
escrito: ‘sejam santos, porque eu sou santo’” (1 Pe 1:13-16, NVI).
11

Capítulo 3 – Discipulado é maturação

Há uma pergunta que raramente é feita por soar agressiva


ao nosso comodismo. Quantas pessoas foram transformadas por
Deus em crentes maduros e multiplicadores, graças ao fato de
você, um dia, ter se apegado às suas vidas, e investido tempo
com elas, de modo que Deus usou você para treiná-las com
entendimento bíblico na vida cristã? Se não nos comprometemos
com o discipulado a situação é simples: estamos pecando por
omissão.
O apóstolo Paulo lamenta que cristãos da igreja de Corinto
assim se encontrassem vivendo o básico da fé. Em tom de
decepção ele declara que “eu, porém, irmãos, não vos pude falar
como a espirituais, e sim como a carnais, como a crianças em
Cristo. Leite vos dei de beber, não vos dei alimento sólido;
porque ainda não podíeis suportá-lo. Nem ainda agora podeis,
porque ainda sois carnais” (1 Co 3:1-2, ARA).
Havia judeus cristãos da região da Judeia estavam
retardando a sua maturação. Era esperado que eles fossem
avançados em seu conhecimento do evangelho. Todavia, o seu
apego ao cerimonialismo, sem entendimento, limitava o seu
discernimento do cumprimento das promessas da antiga, e a
transição para a nova aliança. O autor aos Hebreus os reprova
dizendo que
a esse respeito temos muitas coisas que dizer e difíceis de explicar,
porquanto vos tendes tornado tardios em ouvir. Pois, com efeito,
quando devíeis ser mestres, atendendo ao tempo decorrido,
tendes, novamente, necessidade de alguém que vos ensine, de
novo, quais são os princípios elementares dos oráculos de Deus;
assim, vos tornastes como necessitados de leite e não de alimento
sólido. Ora, todo aquele que se alimenta de leite é inexperiente na
palavra da justiça, porque é criança. Mas o alimento sólido é para
os adultos, para aqueles que, pela prática, têm as suas faculdades
exercidas para discernir não somente o bem, mas também o mal
(Hb 5:11-14, ARA).

Verificando o mandamento de Cristo sobre fazermos


discípulos, podemos apenas mencionar os seguintes textos
bíblicos:

E o que da minha parte ouviste através de muitas testemunhas


isso mesmo transmite a homens fiéis e também idôneos para
instruir a outros (2 Tm 2:2, ARA).
12

Ora, é necessário que o servo do Senhor não viva a contender e


sim deve ser brando para com todos, apto para instruir (2 Tm 2:24,
ARA).

Tu, porém, fala o que convém à sã doutrina (Tt 2:1, ARA).

Aprendendo a manejar bem a Bíblia


A leitura da Bíblia exige um conhecimento básico das regras
de hermenêutica.
A história da salvação que se desenvolve de Gênesis a
Apocalipse.
A estrutura literária da Bíblia.
Os gráficos e cronologias ajudam no entendimento
panorâmico da Bíblia.

Comprometendo-se com a ética cristã


A maturidade cristã não consiste simplesmente de
memorizarmos versículos e usá-los para afirmar a nossa
moralidade. A Bíblia não é uma caixinha de “pode” e “não pode”.
Obviamente ela possui proibições muito claras, mas há situações
que a aplicação do princípio da lei, e não a mera declaração da
letra da lei, é a forma mais completa de se cumprir a lei. Herman
Bavinck acertadamente disse que
pela lei que age por meio do amor, portanto, nascem as boas obras
que têm seu padrão na vontade de Deus, como é concisamente
expressa nos Dez Mandamentos. No entanto, esses Dez
Mandamentos devem ser bem entendidos. [...] Novamente, faz
diferença se entendermos os Dez Mandamentos em seu sentido
literal ou se os interpretarmos no rico sentido que Deus lhe deu no
curso de sua revelação por meio de profetas e salmistas, de Cristo
e dos apóstolos. É nesse segundo sentido que eles têm sido
entendidos na igreja cristã e se tornaram o fundamento de sua
instrução catequética e de sua ética.12

A maioria dos cristãos em nossos dias são confusos em questões


éticas. É possível que isto seja consequência de considerarem
irrelevante os Dez Mandamentos. O decálogo é para hoje, e, por
meio do discipulado integral, os cristãos precisam redescobrir
essa vital verdade. Jesus não negou o uso da ética do decálogo,
pelo contrário, ele vigorosamente reafirmou a sua importância.
A tendência percebida em muitos grupos evangélicos é a
bipolaridade: legalismo ou antinomismo. O legalismo enfatiza “a
responsabilidade cristã a tal ponto que a obediência se torna
mais do que um fruto ou evidência da fé. Passa, ao contrário, a
12
Herman Bavinck, Dogmática Reformada – Espírito Santo, igreja e nova criação (São Paulo, Editora Cultura
Cristã, 2012), vol. 4, p 261.
13

ser vista como um elemento constituinte da fé que justifica”. 13


Enquanto o antinomismo “enfatiza de tal modo a liberdade cristã
de condenação pela lei que deixa de salientar a necessidade de o
crente confessar constantemente seus pecados e buscar de modo
sincero a santificação. Isso o leva a deixar de ensinar que, à
justificação, segue-se inevitavelmente a santificação”. 14Ambas
perspectivas são desvios do correto entendimento da lei moral,
evangelho e da liberdade cristã. A liberdade de consciência não é
livre da verdade absoluta.
É impossível ser um cristão maduro sem uma ética da lei
moral. Urgentemente carecemos dum correto entendimento do
uso dos Dez Mandamentos para uma conduta santa. A santidade
não é promovida apenas pela sincera intenção de evitar o
pecado. Deus revelou a sua santa vontade no padrão ético nos
Dez Mandamentos.
Segue uma lista sugestiva para o estudo dos Dez
Mandamentos:
1. Catecismo de Heidelberg – perguntas 34-115.
2. Catecismo Maior de Westminster – perguntas 93-151.
3. Johannes G. Vos, Catecismo Maior de Westminster Comentado (Editora
Os Puritanos), pp. 273-488.
4. João Calvino, Institutas – Edição Clássica, (Editora Cultura Cristã), vol. 2,
pp. 112-180.
5. François Turretini, Compêndio de Teologia Apologética (Editora Cultura
Cristã), vol. 2, pp. 17-187.
6. Wilhelmus à Brakel, The Christian’s Reasonable Service (Reformation
Heritage Books), vol. 3, pp. 35-242.
7. Charles Hodge, Teologia Sistemática (Editora Hagnos), pp. 1216-1366.
8. John M. Frame, A doutrina da vida cristã (Editora Cultura Cristã), pp.
373-810.
9. Thomas Watson, The Ten Commandments (The Banner of Truth).
10. R. Albert Mohler, Jr., Palavras do Fogo – Como ouvir a voz de Deus nos
Dez Mandamentos (Editora Cultura Cristã).
11. Michael Horton, A lei da perfeita liberdade – A ética bíblica a partir dos
Dez Mandamentos (Editora Cultura Cristã).
12. Hans U. Reifler, A ética dos Dez Mandamentos – um modelo de ética
para os nossos dias (Edições Vida Nova).
13. Brian H. Edwards, Los Diez Mandamientos para hoy (Editorial
Peregrino).
14. Jochem Douma, Los Diez Mandamientos (Libros Desafío).
15. Lewis B. Smedes, Moralidad y nada más (Editorial Nueva Creación).
16. John Murray, Principles of Conduct – aspects of biblical ethics (Wm. B.
Eerdmans Publishers).

Vivendo relacionamentos saudáveis


13
W.R. Godfrey, “Lei e Evangelho” in: Sinclair B. Ferguson, org., Novo Dicionário de Teologia, p. 606.
14
W.R. Godfrey, “Lei e Evangelho” in: Sinclair B. Ferguson, org., Novo Dicionário de Teologia, p. 606.
14

O resumo de toda a lei moral é: amar a Deus acima de tudo


e ao próximo como a ti mesmo. O discipulado envolve
relacionamentos saudáveis como evidência de uma vida cristã
madura. A maturidade nos leva a mentalizar uma escala de
valores para os nossos relacionamentos, que segue de maior a
menor importância das pessoas que se vinculam conosco.
Em nosso relacionamento necessitamos que você tenha um
comportamento aprovado pelo Mestre. Se você quer liderar ou
ensinar, então deve ser exemplo. Paulo fez a ousada declaração
aos crentes da igreja de Corinto “sede meus imitadores, como
também eu sou de Cristo” (1 Co 11:1, ARA). Assim, a medida que
a imagem de Cristo é restaurada em nós, outros podem nos ver
como modelos de maturidade. Escrevendo aos cristãos filipenses
o apóstolo exige que “o que também aprendestes, e recebestes, e
ouvistes, e vistes em mim, isso praticai; e o Deus da paz será
convosco” (Fp 4:9, ARA).
Podemos classificar algumas sugestões, que você como
servo do Senhor, deve viver para influenciar positivamente a vida
do novo discípulo. Eis algumas delas:
1. Obedeça sempre a Palavra de Deus.
2. Cuide bem da sua família. Quando necessário busque
auxílio pastoral para aconselhamento.
3. Não perca a ternura. A amargura mata o vigor espiritual
e nos torna indiferentes com a santidade.
4. Nunca seja orgulhoso. A soberba é essencialmente
competitiva e ofensiva.
5. Não seja uma oposição rebelde à liderança da igreja,
pelo contrário, contribua com críticas construtivas.
6. Exercite uma vida de oração contínua. A intimidade com
Deus é o exercício do relacionamento que Ele exige.
7. Cultive uma vida de santificação pessoal.
8. Anseie ardorosamente andar dentro da vontade de Deus
para que você esteja na Sua presença aprovado.
9. Aprenda na Palavra de Deus acerca do sentido e
propósito da sua vida.
10. Humilhe-se diante de Deus naqueles momentos de
crise e desespero.
11. Seja sincero em desabafar os desafetos e problemas
nos aconselhamentos, buscando respostas na sabedoria
da Palavra de Deus.
12. Chore lágrimas de quebrantamento e não de amargura.
13. Não desista do seu compromisso com o Senhor, pois
Ele é fiel à Sua Aliança contigo.
15

14. Permita-se ser pastoreado.


15. Esteja atento aquilo que a Palavra de Deus tem a dizer.
16. Com temor aceite a repreensão dos seus pecados,
buscando o arrependimento sincero.
17. Seja humilde em pedir perdão e disposto em perdoar.
18. Deseje crescer e servir com eficácia e aceitação diante
de Deus.
19. Identifique os dons que o Espírito Santo lhe deu e use-
os no serviço e edificação dos irmãos.
20. Seja produtivo, para que não caia na futilidade e não
perca o seu propósito de glorificar a Deus.
Estas atribuições serão para você contínuos desafios como
um discipulador. Todavia, para que consiga viver efetivamente
você necessita praticar a mutualidade da comunhão (uns aos
outros) no Corpo de Cristo. Não existe rebanho de uma ovelha
só.

Discipulado como aconselhamento


O discipulador é alguém que ensina, mas também sabe
ouvir com discernimento. Nem sempre os problemas confessados
são os verdadeiros núcleos da crise. É possível que o próprio
discípulo não consiga perceber a causa, ou esteja tão
comprometido com os ídolos do seu coração, que ele os
justifique, e tenha uma postura de vítima diante dos problemas,
ou simplesmente transfira a sua culpa para outras pessoas. 15
Cuidamos uns dos outros (Gl 6:1-2).
Confrontamos os nossos pecados com a Palavra de Deus.

Treinando liderança
A preservação saudável de qualquer igreja dependerá da
próxima geração de líderes.16
John R.W. Stott comenta que “‘liderança’ é uma palavra
comum a cristãos e não-cristãos, mas isso não significa que tenha
o mesmo conceito para ambos. Ao contrário, Jesus introduziu no
mundo um novo estilo de liderança servil”. 17 Segundo o modelo
de Cristo o que lidera tem que ser referencial de humildade. Se
liderarmos com arrogância, formaremos discípulos orgulhosos.
Toda ação possui uma reação, e, esta reação pode ser de repúdio,
ou de contaminação. Por isso, John R.W. Stott conclui que o líder
tem que ser “humildade diante de Cristo, de quem somos servos;
15
Recomendo os livros publicados pela Editora NUTRA.
16
Excelente livro-texto para treinamento de liderança é Roberto A. Orr, Liderança (Anápolis, Asas de Socorro, texto
não publicado, revisado 2003).
17
John R.W. Stott, O chamado para líderes cristãos, p. 9.
16

humildade diante das Escrituras, de quem somos despenseiros;


humildade diante do mundo, cuja oposição somos obrigados a
encarar e diante da congregação, cujos membros devemos amar
e servir”.18 Os líderes cristãos devem ter cuidado, respeito e
responsabilidade com as pessoas que lideram.
A liderança cristã visa uma autonomia amadurecida dos
seus liderados. Quanto mais maduros se tornam os liderados eles
adquirem autonomia em suas decisões. Eles aprendem a
discernir os seus pecados, possíveis problemas, e segundo as
Escrituras, aprendem a resolvê-los diante de Deus e em seus
relacionamentos. Uma relação contínua de prestação de contas
como uma forma de subjugar o discípulo apenas perpetuará a
imaturidade e dependência do discípulo. Além deste modelo ser
contrário ao modelo de Cristo, ele se torna a estrutura de
discipulado pesada e o aprendiz um perpétuo depende do
discipulador.

Capítulo 4 – Discipulado é cosmovisão cristã

Aqui chegamos ao nível avançado de discipulado. Não


devemos pensar que um conhecimento estrutural da Escritura é
suficiente para nos nutrir em todas as nossas necessidades, e
oferecer entendimento para todas as nossas dúvidas. Há pessoas
que são graduadas em teologia, leem assiduamente a Bíblia, e
têm longos anos como membro de uma igreja local, mas
infelizmente detém ideias que conflitam com a cosmovisão cristã.
Elas não aprenderam a pensar, discernir e sistematizar o seu
pensamento de modo que o evangelho seja vigorosamente
aplicado e praticado em todas as esferas de sua vida!
Como cristãos precisamos construir uma cosmovisão
bíblica, ou seja, responder e estruturar cada detalhe da vida a
partir da Escritura Sagrada. Se vivermos a fé cristã apenas na
esfera da religião, ou limitada a algumas esferas comuns, sem
nos preocuparmos em tornar o nosso pensamento coerente,
corremos o risco de negarmos a autoridade da Escritura Sagrada
em “tornar perfeitamente apto para toda boa obra” (2 Tm 3:16-
17). Por isso, Nancy Pearcey declara que
o Cristianismo genuíno é mais do que relacionamento
com Jesus, tanto quanto se expressa em piedade pessoal,
frequência à igreja, estudo da Bíblia e obras de caridade.
É mais do que discipulado, mais do que acreditar em um
18
John R.W. Stott, O chamado para líderes cristãos, p. 102.
17

sistema de doutrinas sobre Deus. O Cristianismo genuíno


é uma maneira de ver e compreender toda a realidade. É
uma cosmovisão, uma visão de mundo.19

A necessidade do discipulado é que nele apresentamos o


evangelho inteligentemente aplicado ao ser humano em todas as
esferas da vida.
O que significa cosmovisão? Permita-me dizer que a
fidelidade e a relevância do Cristianismo estão na aplicabilidade
de todo o evangelho ao ser humano em todas as suas
necessidades para a glória de Deus. Sabemos que “toda a
Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a
instrução e para educação na justiça” (2 Tm 3:16). Ela foi
revelada por uma mente perfeitamente santa para suprir todas
as carências que o pecado criou na sua vida. Deus nos revela que
todas as coisas cooperam para sermos transformados à imagem
de Cristo. Paulo escreveu aos cristãos de Roma que
sabemos que Deus age em todas as coisas para o bem daqueles
que o amam, dos que foram chamados de acordo com o seu
propósito. Pois aqueles que de antemão conheceu, também os
predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim
de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos” (Rm 8:28-29,
NVI).

Discipulado é construção da cosmovisão cristã20


É incompatível que cristãos sejam seguidores de Cristo e ao
mesmo tempo defendam ideias e valores ímpios. Se a dúvida é
entender o que é cosmovisão comecemos com definições do
assunto.21 A palavra em si não diz muita coisa, apenas indica que
todos têm uma concepção de mundo, ou da realidade, e que a
partir de como entendemos, ou interpretamos o que existe assim
viveremos, tomaremos decisões, escolheremos, planejaremos,
organizaremos os nossos valores éticos, nos relacionaremos com
as pessoas, e até mesmo enfrentaremos a expectativa da morte.
No entanto, cosmovisão é mais do que exercício mental de
sistematizar conceitos e valores, é submeter tudo ao domínio do
Senhor Jesus.

19
Charles Colson & Nancy Pearcey, E agora como viveremos? (Rio de Janeiro, CPAD, 2000), p. 33
20
A minha sugestão é que se crie na Escola Dominical ou se forme um grupo de estudo sobre Cosmovisão Cristã
para estudos e leituras mais avançadas, desta forma intensificando o discipulado mais maduro.
21
O conceito de cosmovisão, ou visão de mundo surgiu entre os pensadores alemães com a palavra Weltanschauung.
O teólogo e historiador escocês James Orr foi um dos primeiros a lidar com o conceito na língua inglesa. No mesmo
período Abraham Kuyper, na Holanda, desenvolvia a mesma sistematização em seu país, e fundou uma
universidade, que foi instrumento para difundir o conceito entre os protestantes e, atualmente é um conceito bem
conhecido.
18

Aos que estão iniciando no estudo do assunto, ofereço


algumas definições que somam em esclarecer o assunto:

“... cosmovisão é primeiro uma explicação e interpretação do


mundo, e em segundo lugar, uma aplicação dessa concepção à
vida.”22 W. Gary Phillips

“... é a estrutura de entendimento que usamos para que o mundo


faça sentido. A nossa cosmovisão é aquilo que pressupomos. Ela é
o modo como olhamos a vida, nossa interpretação do universo, a
orientação da nossa alma.”23 Philip G. Ryken

“... é um conjunto de pressuposições (hipóteses que podem ser


verdadeiras, parcialmente verdadeiras ou inteiramente falsas) que
sustentamos (consciente ou inconscientemente, consistente ou
inconsistentemente) sobre a formação básica do nosso mundo.” 24
James W. Sire

“A visão de mundo enxerga e compreende a Deus, o Criador, e a


Sua criação – ou seja, o homem e o mundo – primeiramente
através das lentes da revelação especial de Deus, as Santas
Escrituras, e depois, por intermédio da revelação natural de Deus
na criação, interpretada pela razão humana e reconciliada pela e
com a Escritura, para que creiamos e vivamos de acordo com a
vontade de Deus, glorificando-O, dessa forma, de mente e coração,
desde agora e por toda a eternidade.”25 John MacArthur Jr.

“... é a estrutura compreensiva de crenças básicas de uma pessoa


acerca das coisas.”26 Albert Wolters

“... cosmovisão é um modelo conceitual por meio do qual,


consciente ou inconscientemente, afirmamos ou adaptamos tudo o
que cremos, e através do qual podemos interpretar e avaliar a
realidade.”27 Ronald H. Nash

“...uma série de crenças sobre os assuntos mais importantes da


vida.”28 Ronald H. Nash

Assim, entendendo que fazer discípulos não é apenas levar


pessoas para a igreja. Não basta conduzir indivíduos ao
evangelho, mas é necessário ensinar como todo o evangelho é
22
W. Gary Phillips & William E. Brown, Making Sense of Your World from a Biblical Viewpoint, p. 29
23
Philip G. Ryken, What is Christian Worldview (Phillipsburg, P&R Publishing, 2006) p. 7
24
James W. Sire, O Universo ao Lado – A Vida Examinada – Um Catálogo Elementar de Cosmovisões (São Paulo,
Editora Hagnos, 2004), p. 21
25
John MacArthur Jr., Pense Biblicamente – recuperando a visão cristã de mundo (São Paulo, Editora Hagnos,
2004), p. 16-17
26
Albert M. Wolters, A Criação Restaurada – Base Bíblica para uma Cosmovisão Reformada (São Paulo, Editora
Cultura Cristã, 2007), p. 12
27
Ronald H. Nash, Faith and Reason, p. 24
28
Ronald H. Nash, Worldviews in Conflit, p. 16
19

necessário para aplicação em todas as esferas da vida. A


profundidade de uma verdade não esta na elaborada e complexa
maneira como ela é apresentada, nem mesmo na intensidade
como ela afeta a nossa percepção, ou na relevância de sua
aplicação, mas sim, o modo inteligente como conseguimos viver
com fidelidade toda a Escritura.
É com este paradigma que Paulo exorta os cristãos de Roma
que “pelas misericórdias de Deus que se ofereçam em sacrifício
vivo, santo e agradável a Deus; este é o culto racional de vocês.
Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se
pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de
experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de
Deus” (Rm 12:1-2, NVI). A santificação é um compromisso
intelectual com a obediência da verdade revelada do evangelho.
Discipular é ensinar um discípulo a viver com uma mente
cristã. Por isso, não basta apenas ensiná-lo a pensar como um
cristão, mas, é necessário também treiná-lo a decidir, interpretar,
entreter, construir, agir, relacionar, produzir a partir de
princípios bíblicos para a glória de Deus. Certa vez, num sermão
John MacArthur Jr. resumiu o propósito da vida neste esboço:
Afinal de contas, pra que estou neste mundo? Por que estou aqui?
1º- você foi planejado para o prazer de Deus [adoração].
2º- você foi formado para a família de Deus [comunhão].
3º- você foi criado para se tornar como Cristo [crescimento
espiritual].
4º- você foi moldado para servir a Deus [serviço espiritual].
5º- você foi criado para uma missão [evangelismo]

Para um estudo continuado sobre cosmovisão cristã


recomendo:
1. Abraham Kuyper, Calvinismo (São Paulo, Editora Cultura Cristã,
2003).
2. Albert M. Wolters, A Criação Restaurada – Base Bíblica para uma
Cosmovisão Reformada (São Paulo, Editora Cultura Cristã, 2007).
3. Brian J. Walsh & J. Richard Middleton, A visão transformadora –
moldando uma cosmovisão cristã (São Paulo, Editora Cultura Cristã,
2010).
4. Charles Colson & Nancy Pearcey, E agora como viveremos? (Rio de
Janeiro, CPAD, 2000).
5. James W. Sire, O Universo ao Lado – A Vida Examinada – Um Catálogo
Elementar de Cosmovisões (São Paulo, Editora Hagnos, 2004).
6. James W. Sire, Dando nome ao elefante – cosmovisão como um
conceito (Brasília, Editora Monergismo, 2012).
7. John MacArthur Jr., Pense Biblicamente – recuperando a visão cristã
de mundo (São Paulo, Editora Hagnos, 2004).
8. Michael D. Palmer, Panorama do pensamento cristão (Rio de Janeiro,
CPAD, 1998).
20

Treinando mentes para defender a fé cristã


A Escritura descreve o cristão como um soldado em batalha
(Ef 6:10-20). Judas instruí que “amados, quando empregava toda
a diligência em escrever-vos acerca da nossa comum salvação,
foi que me senti obrigado a corresponder-me convosco,
exortando-vos a batalhardes, diligentemente, pela fé que uma
vez por todas foi entregue aos santos” (Jd 3).
1. Joseph R. Farinaccio, Fé com razão – por que o Cristianismo é
verdadeiro (Brasília, Editora Monergismo, 2009).
2. Nancy Pearcey, Verdade Absoluta (Rio de Janeiro, CPAD).

Formando cristãos confessionais


As premissas de nossa cosmovisão estão em nossos
documentos confessionais.
1. A nossa identidade presbiteriana
2. A nossa identidade calvinista
3. A nossa identidade confessional

PARTE II

Capítulo 1 - O motivo do discipulado

O propósito do discipulado é somente um. Embora falemos


neste curso de obediência ao mandato de Cristo, convicção da
verdade bíblica, multiplicação de novos convertidos, saúde
espiritual da igreja local, e outros fatores que envolvem o
discipulado, o fato é que há somente um motivo, entretanto, ele é
como uma corda trançada de vários fios. Podemos mencionar os
elementos que somam ao principal motivo:29
1. Ao aplicar o discipulado apresentamos o evangelho da
salvação aos eleitos de Deus proporcionando a
oportunidade para que o Espírito Santo aplique a graça
irresistível. Evangelizar é compartilhar Jesus, no poder do
Espírito, deixando os resultados para Deus, visando a
reeducação para uma vida transformada à imagem Cristo
Jesus. Paulo afirma que “Sabemos que Deus age em todas
as coisas para o bem daqueles que o amam, dos que foram
chamados de acordo com o seu propósito. Pois aqueles que
de antemão conheceu, também os predestinou para serem
29
R.B. Kuiper, El Cuerpo Glorioso de Cristo (Grand Rapids, T.E.L.L., 1985), p. 225.
21

conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o


primogênito entre muitos irmãos” (Rm 8:28-29).
2. Através do discipulado preciosas vidas são libertas das
trevas e do poder de Satanás para luz do reino do Filho de
Deus (Cl 1:13-17).
3. Com o discipulado a igreja cresce espiritual e
numericamente.
4. No discipulado treinamos novos líderes em potencial.
5. Pelo discipulado ensinamos as pessoas a reconhecer a
soberania de Cristo sobre todas as esferas da vida humana,
inclusive na ciência, na arte, na educação, na economia, na
política e na recreação.
6. O propósito essencial que envolve todos os demais é a glória
de Deus. O profeta Oséias disse “conheçamos e
prossigamos em conhecer ao SENHOR; como a alva, a sua
vinda é certa; e ele descerá sobre nós como a chuva serôdia
que rega a terra” (Os 6:3, ARA).

A diferença entre evangelizar e discipular


Há uma tendência de se pensar em evangelização e
discipulado como sendo sinônimos. Embora o evangelho sempre
seja o conteúdo do discipulado, há uma diferença que deve ficar
clara. Joel Beeke escreve que
evangelização vem de uma palavra grega que significa ‘boas
novas’. Assim, poderíamos definir a evangelização como sendo a
proclamação das boas novas, a proclamação do evangelho. Nele
buscamos, pela graça de Deus, a conversão de pecadores. Num
sentido mais amplo podemos dizer que inclui a edificação dos
filhos de Deus. Inicialmente, a evangelização procura a conversão
de pecadores e no sentido mais amplo, procura o discipulado
daqueles que já nasceram de novo.30

John R.W. Stott comenta que existe uma legítima diferença entre
evangelismo e discipulado, pois
no evangelismo proclamamos a loucura do Cristo crucificado, a
qual é a sabedoria de Deus. Decidimos não saber mais nada e,
mediante a insensatez dessa mensagem, Deus salva aqueles que
nele creem. No discipulado cristão, entretanto, ao levar pessoas à
maturidade, não deixamos a cruz para trás. Longe disso. Antes,
ensinamos a completa implicação da cruz, incluindo nossa
suprema glorificação.31

A Escritura nos ensina que devemos pregar o evangelho a todas


as pessoas. Pois, a Escritura revela que “todos pecaram e estão
30
Joel R. Beeke, A tocha dos puritanos – evangelização bíblica (São Paulo, PES, 1996), pp. 13-14.
31
John R.W. Stott, O chamado para líderes cristãos (São Paulo, Editora Cultura Cristã, 2005), p. 53.
22

destituídos da glória de Deus” (Rm 3:23, NVI), e que “Deus tanto


amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o
que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna.” (Jo 3:16).
Deste modo, “quem crê no Filho tem a vida eterna; já quem
rejeita o Filho não verá a vida, mas a ira de Deus permanece
sobre ele” (Jo 3:36). Este é o resumo das boas novas para os
eleitos que ainda não foram alcançados pela graça salvadora.
É nossa responsabilidade chamá-los ao genuíno
arrependimento dos seus pecados. É dever de todo ser humano
se arrepender dos seus pecados, porque Deus é santo e perfeito,
e nos criou manifestarmos a Sua glória. Por isso, devemos
anunciar o senhorio de Cristo Jesus sobre todos, e ordená-los que
se voltem para Ele, se sinceramente arrependam-se dos seus
pecados, confiem na suficiência de Cristo, e façam uma aliança
com Deus, recebendo ao Senhor Jesus como seu salvador.

Prego o evangelho por alguns motivos:


1. Por amor à glória de Deus. Anunciar a sua majestade,
soberania, os seus feitos como Criador, Provedor e
Redentor.
2. Porque Cristo é o mediador da nova aliança. E sob a
administração do Seu senhorio, Ele exige que o Seu reino
seja anunciado como inaugurado entre as nações.
3. Creio segundo as Escrituras que é o meio ordinário que
Deus usa para eficazmente chamar os eleitos aplicando a
graça salvadora por obra do Espírito Santo.
4. Porque o Espírito Santo implanta em mim um amor de
treinar pelo discipulado os eleitos que são transformados
pela sua maravilhosa graça. O Senhor Jesus ordena que
devo ser testemunha da Sua misericórdia, e que Ele é o
único mediador entre Deus e os homens.

Por isso em minha prática de evangelização:


1. Ordeno ao pecador, sob a autoridade do evangelho de
Cristo, que ele se arrependa e despreze os seus pecados
porque são infinitamente ofensivos à santidade de Deus, e a
justiça divina sentencia o pecado com condenação eterna!
2. Apresento Cristo que é a única, suficiente e perfeita
satisfação substitutiva que Deus proveu para Si mesmo, que
ofereceu a Si mesmo como sacrifício ao Pai, e sobre Si
recebeu a ira, sofrendo as agonias do inferno sobre a cruz, a
nossa condenação.
23

3. Exorto ao ouvinte que creia, receba e submeta-se a Cristo


como o seu Senhor, encontrando nEle o perdão dos seus
pecados, a reconciliação com o Pai, a satisfação e o
propósito de sua vida que é glorificá-Lo.

A minha pregação ou testemunho do evangelho deve ser feito


sem criar falsa esperança em quem nunca se converterá. A
promessa de perdão é aos que crerem em Cristo Jesus, e
somente eles experimentarão o amor de Deus (Jo 3:36).

Acerca da evangelização indico a leitura dos seguintes


livros:
1. Greg Gilbert, O que é o evangelho? (São José dos Campos, Editora
Fiel, 2010).
2. Hermisten M.P. Costa, Breve teologia da evangelização (São Paulo,
PES, 1996).
3. Joel R. Beeke, A tocha dos puritanos – evangelização bíblica (São
Paulo, PES, 1996).
4. John MacArthur Jr., O evangelho segundo Jesus (São José dos Campos,
Editora Fiel, 2ªed., 1994).
5. John Piper, Deus é o evangelho (São José dos Campos, Editora Fiel,
2011).
6. Mark Dever, O evangelho e a evangelização (São José dos Campos,
Editora Fiel, 2011).

Capítulo 2 - O objetivo do discipulado

Cremos que o objetivo geral do discipulado de certa forma


foi mostrado na introdução e definição, todavia, seremos um
pouco mais específicos.

1. Instruir para evangelizar


Haverá casos de discipulado que será necessário pré-
evangelizar. Isto significa que a instrução de doutrinas básicas da
fé cristã antecederá à apresentação da salvação em Cristo. O
pré-evangelismo é ao mesmo tempo didático e apologético. É
didático porque se propõe a estabelecer as doutrinas
fundamentais sobre a Trindade, o que é a Bíblia, pecado, graça,
perdão, expiação, céu, inferno, e tantas outras palavras chaves
que preparam o evangelizado para receber a verdade integral
para a sua vida. O chamado missionário de Ashbel G. Simonton
ocorreu no Seminário Teológico Princeton (14/10/1855), quando
num sermão o Dr. Charles Hodge
24

falou da necessidade absoluta de instruir os pagãos antes de poder


esperar qualquer sucesso na propagação do Evangelho e mostrou
que qualquer esperança de conversões baseada em obra
extraordinária do Espírito Santo comunicando a verdade
diretamente não é bíblica.”32

Em seu aspecto apologético o pré-evangelismo é a defesa


das crenças básicas do Cristianismo. Não apenas defesa, mas
também a desconstrução de argumentos anticristãos. Vivemos
numa sociedade pós-moderna onde, às vezes, não basta apenas
dizer: arrependa-se e creia em Cristo. É possível que no decorrer
dos estudos se descubra que o discípulo carrega consigo uma
carga enorme de conceitos distorcidos e, talvez, anticristãos, que
recebeu em sua formação. É necessário apresentar o evangelho
para que ele salve a mente de conceitos ímpios do mesmo modo
que redentoramente agirá na alma.

2. Formação de valores cristãos


Como vimos na definição este aspecto do objetivo será o de
implantar no discípulo um caráter que mais se aproxime da
imagem de Jesus Cristo (Rm 8:29). Paulo orienta ao jovem
Timóteo que “meu filho, fortifique-se na graça que há em Cristo
Jesus. E as coisas que me ouviu dizer na presença de muitas
testemunhas, confie a homens fiéis que sejam também capazes
de ensinar a outros” (2 Tm 2:1-2, NVI).
Devemos nos perguntar que mudanças Deus têm feito na
vida de outras pessoas através de nós. Portanto, o discipulado
não é algo a ser aplicado apenas a um cristão menos experiente;
ou com pouca idade, ou com pouco ou muito tempo de igreja,
pouca ou muita experiência de vida. Mas sim, cristãos
comprometidos e humildes o suficiente para reconhecer que
ainda necessitam de transformação.
A santificação é uma experiência progressiva. Entendemos
que vivemos numa relação dentro do reino de Cristo, em que ele
sendo inaugurado não está consumado. Deste modo, como
súditos deste reino, vivemos a tensão do já-ainda-não, ou seja,
“ele já experimenta a presença do Espírito Santo em si, mas
ainda espera por seu corpo ressurreto. Ele vive nos últimos dias,
mas o último dia ainda não chegou.” 33 Paulo constantemente
menciona esta tensão que afeta em aspectos práticos a vida
cristã:

32
A.G. Simonton, Diário (Casa Editora Presbiteriana, 1982), p. 106.
33
A.A. Hoekema, A Bíblia e o Futuro (São Paulo, Editora Cultura Cristã, 1989), p. 94.
25

O próprio Espírito testemunha ao nosso espírito que somos filhos


de Deus. Se somos filhos, então somos herdeiros; herdeiros de
Deus e co-herdeiros com Cristo, se de fato participamos dos seus
sofrimentos, para que também participemos da sua glória. [...] E
não só isso, mas nós mesmos, que temos os primeiros frutos do
Espírito, gememos interiormente, esperando ansiosamente nossa
adoção como filhos, a redenção do nosso corpo (Rm 8:16-17, 23,
NVI).

Não que já a tenha alcançado, ou que seja perfeito; mas prossigo


para alcançar aquilo para o que fui também preso por Cristo Jesus.
Irmãos, quanto a mim, não julgo que o haja alcançado; mas uma
coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e
avançando para as que estão diante de mim, prossigo para o alvo,
pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus. Por
isso todos quantos já somos perfeitos, sintamos isto mesmo; e, se
sentis alguma coisa de outra maneira, também Deus vo-lo
revelará. Mas, naquilo a que já chegamos, andemos segundo a
mesma regra, e sintamos o mesmo. Sede também meus
imitadores, irmãos, e tende cuidado, segundo o exemplo que
tendes em nós, pelos que assim andam. (Fp 3:12-17, NVI).

Portanto, se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são


de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus. Pensai nas
coisas que são de cima, e não nas que são da terra; porque já
estais mortos, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus.
Quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, então também
vós vos manifestareis com ele em glória. Mortificai, pois, os vossos
membros, que estão sobre a terra: a prostituição, a impureza, a
afeição desordenada, a vil concupiscência, e a avareza, que é
idolatria; pelas quais coisas vêm a ira de Deus sobre os filhos da
desobediência; nas quais, também, em outro tempo andastes,
quando vivíeis nelas. (Cl 3:1-7, NVI).

Como Paulo deixa claro no seu ensino que enquanto o


cristão vive esta tensão é responsável de vencer
progressivamente os seus pecados. Hoekema esclarece que “a
tensão contínua entre o já e o ainda-não implica que, para o
cristão, a luta contra o pecado continua ao longo da presente
vida. Mas esta é uma luta para se engajar, não na expectativa da
derrota, mas na certeza da vitória.” 34A vida cristã se desenvolve
na comunhão dos santos de Deus e não no isolamento dos
desigrejados.

3. Evangelização pela amizade


A evangelização eficaz acontece através da amizade.
Pessoas que demonstram o amor de Cristo, que se preocupam
34
A.A. Hoekema, A Bíblia e o Futuro, p. 97.
26

umas com as outras, são pessoas que cuidam umas das outras. O
papel do discipulado é explicar o motivo desse cuidado e
comunhão. A transformação pessoal através de relacionamentos
ocorre quando o amor de Deus é manifestado através dos seus
filhos (Jo 17:20-23).
A Bíblia afirma que os cristãos sobrevivem e crescem nos
relacionamentos mútuos:

Membros uns dos outros (Rm 12:5)


1. Amando cordialmente uns aos outros (Rm 12:10).
2. Honrando uns aos outros (Rm 12:10).
3. Tendo o mesmo sentir uns para com os outros (Rm 12:16;
15:5).
4. Amando uns aos outros (Rm 13:8).
5. Edificando uns aos outros (Rm 14:19).
6. Acolhendo uns aos outros (Rm 15:7).
7. Admoestando uns aos outros (Rm 15:14).
8. Saudando uns aos outros (Rm 16:16).
9. Esperando uns pelos outros (1 Co 11:33).
10. Importando uns com os outros (1 Co 12:25).
11. Servindo uns aos outros (Gl 5:13).
12. Levando a carga uns dos outros (Gl 6:2).
13. Suportando uns aos outros (Ef 4:2; Cl 3:13).
14. Sendo benignos uns para com os outros (Ef 4:32).
15. Sujeitando-se uns aos outros (Ef 5:32).
16. Consolando uns aos outros (1 Ts 4:18; 5:11,14).
17. Confessando pecados uns aos outros (Tg 5:16).
18. Orando uns pelos outros (Tg 5:16)
19. Sendo hospitaleiros uns com os outros (1 Pe 4:9)
20. Tendo comunhão uns com os outros (1 Jo 1:7).

Sabemos que pessoas precisam de pessoas. Por isso, o


discipulado de modo legítimo por meio de um relacionamento de
confiança comunica a verdade.

4. Amadurecimento espiritual
Esta divisão se refere principalmente a formação de líderes
que estarão discipulando no futuro. Mas haverá também,
multiplicação dos discípulos de Cristo, pessoas que serão
tratadas no seu caráter e transformadas para glória de Deus, a
fim de ocuparem outros lugares na Igreja de Jesus.
É comprovado por pesquisas35 que nos primeiros meses de
conversão o potencial evangelístico do cristão é muito mais
aguçado. Se os que estão no processo inicial de discipulado

35
Lawrence O. Richards, Teologia da Educação Cristã (São Paulo, Edições Vida Nova, 1969, 3ª ed.), p. 156.
27

forem instruídos no seu dever de compartilhar o evangelho,


provavelmente aprenderão a serem multiplicadores.

5. Desenvolver discernimento contra os desvios


doutrinários
É uma característica comum das epístolas do apóstolo Paulo
instruir os cristãos contra os erros doutrinários. A sua
preocupação é latente no modo como ele intenciona criar um
senso crítico nos cristãos, para que possam exercer
discernimento diante dos estranhos ensinos que surgiam dentro
da Igreja.

Admiro-me de que vocês estejam abandonando tão rapidamente


aquele que os chamou pela graça de Cristo, para seguirem outro
evangelho que, na realidade, não é o evangelho. O que ocorre é
que algumas pessoas os estão perturbando, querendo perverter o
evangelho de Cristo. Mas ainda que nós ou um anjo do céu pregue
um evangelho diferente daquele que lhes pregamos, que seja
amaldiçoado! Como já dissemos, agora repito: Se alguém lhes
anuncia um evangelho diferente daquele que já receberam, que
seja amaldiçoado! (Gl 1:6-9, NVI).

O que receio, e quero evitar, é que assim como a serpente enganou


Eva com astúcia, a mente de vocês seja corrompida e se desvie da
sua sincera e pura devoção a Cristo. Pois, se alguém lhes vem
pregando um Jesus que não é aquele que pregamos, ou se vocês
acolhem um espírito diferente do que acolheram ou um evangelho
diferente do que aceitaram, vocês o suportam facilmente. (2 Co
11:3-4, NVI).

E ele designou alguns para apóstolos, outros para profetas, outros


para evangelistas, e outros para pastores e mestres, com o fim de
preparar os santos para a obra do ministério, para que o corpo de
Cristo seja edificado, até que todos alcancemos a unidade da fé e
do conhecimento do Filho de Deus, e cheguemos à maturidade,
atingindo a medida da plenitude de Cristo. O propósito é que não
sejamos mais como crianças, levados de um lado para outro pelas
ondas, nem jogados para cá e para lá por todo vento de doutrina e
pela astúcia e esperteza de homens que induzem ao erro. (Ef 4:11-
14, NVI).

Na presença de Deus e de Cristo Jesus, que há de julgar os vivos e


os mortos por sua manifestação e por seu Reino, eu o exorto
solenemente: pregue a palavra, esteja preparado a tempo e fora de
tempo, repreenda, corrija, exorte com toda a paciência e doutrina.
Pois virá o tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo
contrário, sentindo coceira nos ouvidos, segundo os seus próprios
desejos juntarão mestres para si mesmos. Eles se recusarão a dar
ouvidos à verdade, voltando-se para os mitos. Você, porém, seja
28

sóbrio em tudo, suporte os sofrimentos, faça a obra de um


evangelista, cumpra plenamente o seu ministério. (2 Tm 4:1-5,
NVI)

6. Preparo para os ministérios no corpo de Cristo


Os ministérios na igreja local são diferentes e também
diversos os dons para o serviço. Teremos como um resultado
natural um número maior de membros envolvidos na
evangelização, evitando a ociosidade e outros problemas
consequentes. A mente desocupada é produtiva oficina do diabo!
Nenhum ministério (serviço) é superior ao outro. Um
serviço depende do outro e todos cooperam entre si. O apóstolo
Paulo instruiu aos cristãos de Éfeso que
Aquele que desceu é também o mesmo que subiu acima de todos
os céus, para cumprir todas as coisas. E ele mesmo deu uns para
apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e
outros para pastores e doutores, querendo o aperfeiçoamento dos
santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de
Cristo; até que todos cheguemos à unidade da fé, e ao
conhecimento do Filho de Deus, a homem perfeito, à medida da
estatura completa de Cristo, para que não sejamos mais meninos
inconstantes, levados em roda por todo o vento de doutrina, pelo
engano dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente”
(Ef 4:10-14, NVI).

Resultado natural: crescimento numérico


Uma igreja local saudável naturalmente desenvolve e
cresce. Lucas narra que “a igreja, na verdade, tinha paz por toda
a Judéia, Galiléia e Samaria, edificando-se e caminhando no
temor do Senhor, e, no conforto do Espírito Santo, crescia em
número” (At 9:31, ARA). Somos informados pela Escritura que os
eleitos de Deus serão alcançados pela pregação da Palavra. Paulo
estando na região de Acaia recebeu uma visão do Senhor que lhe
disse: “não tenha medo, continue falando e não fique calado, pois
estou com você, e ninguém vai lhe fazer mal ou feri-lo, porque
tenho muita gente nesta cidade” (At 18:9-10, NVI). A reação de
apóstolo àquela revelação foi que “ficou ali durante um ano e
meio, ensinando-lhes a palavra de Deus”(At 18:11, NVI), e muitas
pessoas se converteram.
Quantas pessoas se converteram através da sua
evangelização? É triste saber que há cristãos que nunca levaram
ninguém a Cristo. É óbvio que quem realiza a sobrenatural obra
regeneradora é o Espírito Santo, mas Deus decidiu chamar
pecadores perdidos através de pecadores perdoados. O apóstolo
29

João relata que André após conhecer pessoalmente Jesus, foi em


busca de seu irmão Simão e “o levou a Jesus” (Jo 1:42, ARA).
A igreja atual tem gradativamente perdido a noção de que
cada cristão é um ganhador de almas. Até a mesmo a expressão
ganhador de almas soa um tanto que estranho aos nossos
ouvidos nestes tempos pós-modernos, mas era um termo muito
comum até o fim do século 19. Esta expressão é uma menção à
declaração do apóstolo Paulo que disse: “porque, sendo livre de
todos, fiz-me escravo de todos, a fim de ganhar o maior número
possível” (1 Co 9:19, ARA).
Ao discipular apresentamos o evangelho da salvação aos
eleitos de Deus proporcionando a oportunidade de que o Espírito
Santo aplique a graça irresistível. A doutrina da predestinação
não anula a responsabilidade da pregação. Pelo contrário, ela é a
garantia de que a nossa evangelização não será infrutífera, mas
teremos convertidos atraídos pela livre graça de Deus, eleitos
para a glória eterna. Após terminar a exposição da doutrina da
predestinação em Romanos (capítulos 8-9), na sequência Paulo
comenta sobre a necessidade absoluta de se pregar o evangelho
a todos (Rm 10:13-18).
Somos cooperadores desta maravilhosa obra de
reconciliação. A Escritura declara que “somos embaixadores em
nome de Cristo, como se Deus exortasse por nosso intermédio.
Em nome de Cristo, pois, rogamos que vos reconcilieis com
Deus” (2 Co 5:20). Waylon Moore afirma que “a evangelização é
o meio que proporciona convertidos, e é o campo de
adestramento para o desenvolvimento dos discípulos. Quando a
igreja exala discípulos, então inala convertidos.” 36 Evangelizar é
compartilhar Jesus, no poder do Espírito, deixando os resultados
para Deus. A igreja saudável testemunha, ensina e proclama o
evangelho.

Capítulo 3 - Princípios para discipuladores

1. Convicção do seu dever de discipular


É necessário que o discipulador tenha realmente absorvido a
visão do discipulado e não simplesmente concordado com sua
eficácia. Em outras palavras, é necessário que ele esteja
envolvido intelectual, emocional e voluntariamente com a
ordenança do discipulado. Qual a importância disso? George
Barna diz que a visão é a “força impulsora por trás da atividade
36
Waylon Moore, Multiplicación de Discípulos (El Paso, Casa Bautista de Publicaciones, 1981), p. 29.
30

de um líder ou grupo de pessoas motivadas. É uma força interior


que guia o indivíduo através de dificuldades imprevistas ou
estimula a agir quando exausto ou hesitante em dar o próximo
passo rumo a meta a ser alcançada.” 37Assim, a convicção correta
reforça e aumenta o comprometimento.

2. Determinação e compromisso
Aquele que assume o ministério do discipulado deve estar
consciente da sua grande responsabilidade. Este compromisso
pode ser deleitoso, caso seja assumido totalmente, pois é uma
atividade de formação de vidas, o qual poderá ver na prática o
fruto do seu trabalho. Porém, deve ser lembrado que aqueles
discipulados serão pessoas que, veem para a igreja com feridas e
problemas, com conceitos errados e costumes que deverão ser
identificados através de um acompanhamento sincero.
O princípio da identificação precisa reger a relação entre
discipulador e discípulo. Caso o discipulador não se identifique
com o problema do discípulo, este não sentirá segurança em ser
pastoreado, comprometendo assim o objetivo do discipulado. O
discipulador deverá identificar-se com tais pessoas e seus
problemas, não deixando de confrontar o que está errado, tendo
discernimento e moderação para não tomar uma posição
legalista (Tt 2:11-15).
Se o discípulo desanimar isto não pode contagiar o
discipulador. Por isso, não falte aos compromissos e só
desmarque em casos que impossibilitem que você vá ao estudo.

3. Preparo e conhecimento bíblico/doutrinário


É imprescindível que o discipulador tenha conhecimento da
identidade doutrinária. Pois o discípulo estará adentrando numa
denominação confessional. Caso ensine doutrinas que não
coadunem com todo o corpo doutrinário da denominação,
causará uma confusão na mente do discípulo tornando-o um
crente instável (Efésios 4.11-16). Se você tiver alguma dúvida
quanto alguma doutrina ou a interpretação de algum texto
bíblico, procure o seu pastor, ou adquira literatura confessional
dos Padrões de Westminster.
Para o seu contínuo crescimento o discipulador deverá
participar dos cursos de treinamento oferecidos na igreja. Como
parte de nossa identidade local vivemos como uma igreja
discipuladora e, isto significa que oferecemos treinamento para
que os membros não deixem de crescer. O nosso projeto de
37
George Barna, O Marketing na Igreja (São Paulo, JUERP, 1993), p. 75.
31

Instituto Bíblico Para Liderança dispõe de matérias avulsas


realizadas em sistema modular. Também há classes na Escola
Bíblica Dominical Formativa38 que oferecem estudo temático; e,
ainda no estudo bíblico semanal desenvolvemos um tópico de
teologia sistemática. Todo este conteúdo equivale a cursos de
aperfeiçoamento para toda igreja, e em especial aos líderes.

4. Deve ser empático


O discipulador precisa se esforçar para desenvolver um
relacionamento pessoal com o discípulo. Uma amizade sincera
com o seu discípulo contribuirá para esse fim, incluindo uma
preocupação pastoral, sendo sensível aos problemas e
necessidades do discípulo, expressando esse sentimento através
de: aconselhamento, oração e outros tipos de ajuda.
O discípulo está aos cuidados de todos os recursos da igreja.
Se necessário o discipulador deve encaminhá-lo ao pastor da
igreja, aos diáconos, e aos sócios da sociedade interna que mais
se identifique com ele (UPH, SAF, UMP, UPA). É nesta estrutura
que, de modo saudável, vivemos a reciprocidade cristã, ou seja,
pessoas cuidando de pessoas, como membros uns dos outros.

5. Bom testemunho
O discipulador deve ser alguém conhecido por seu bom
testemunho. Por bom testemunho envolve muito mais do que ser
simplesmente um cristão de boa aparência. O testemunho não é
algo mero moralismo externo. É algo que nasce da preocupação
de ser fiel àquilo que é uma cosmovisão bíblica. É o engajamento
por uma mente consistentemente cristã e uma batalha para se
viver coerentemente todas as esferas da vida. Deve ser alguém
que tenha sede de Deus, a fim de aprender, orar e envolver-se na
prática da comunhão da igreja.

6. Saber ouvir
O discipulador é uma pessoa que sabe dar a oportunidade
para que outros falem. Ele se agrada em ver o desenvolvimento
de seus discípulos, e não inibe o crescimento do discípulo, por
causa de seu orgulho. Quem sabe ouvir, saberá que deve fazer o
discípulo pensar e não dar respostas prontas, como se fosse o
dono da verdade. Evite estes três erros:
1. Não ignore o que está sendo falado.

38
Conheça mais sobre o projeto da Escola Bíblica Dominical Formativa no texto disponível na minha página do site
www.academia.edu . É indispensável que o discipulador tenha bom conhecimento dos Padrões de Westminster e leia
literatura sobre Cosmovisão Cristã.
32

2. Não aparente estar ouvindo, desligando-se mentalmente da


conversa.
3. Não ouça as palavras, sem “ouvir” os sentimentos que estão
por trás delas.

7. Como você aprende?


Pausaremos aqui para um breve teste de aprendizado:
( ) Eu leio muito. Os textos são importantes para mim quando
quero aprender.
( ) Raramente leio. Não gosto de ler.
( ) Eu aprendo ao fazer, olhar e me envolver com coisas práticas.
( ) Frequentemente acesso vídeos educativos.
( ) Gosto de conversar com alguém que conhece sobre o assunto
que me interessa.
( ) Eu não tenho um padrão definido de aprendizagem.

Capítulo 4 - Quem será discipulado?


Quando listamos aqueles que serão discípulos devemos
dividir em dois principais grupos: 1. Discipulado de iniciantes e,
2. Discipulado avançado.

DISCIPULADO DE INICIANTES

1. Amigos interessados
É comum que amigos demonstrem interesse em conhecer a
igreja que você frequenta. Além de convidá-lo para uma visita a
um dos cultos ou à Escola Dominical é interessante oferecer-lhe
um estudo bíblico – e assim, iniciando um discipulado.

2. Discipulado de visitantes contínuos


Devemos aproveitar as oportunidades e oferecer o Curso de
Discipulado àqueles que estão visitando a nossa igreja com certa
frequência. Provavelmente esta pessoa aceitará o curso, pois, as
suas repetidas visitas aos cultos demonstram certo interesse.
A evangelização não é algo que deve ser feita somente com
aqueles que veem à igreja local! O mandamento do Senhor Jesus
é “indo por todo mundo” (Mt 28:19-20). Se caso você descobrir
que algum dos seus parentes, amigos, ou conhecidos tem o
interesse de estudar a Bíblia não perca a oportunidade de
oferecer o discipulado.

3. Discipulado de novos convertidos


33

É necessário discipular os novos convertidos para acelerar o


processo de maturidade e firmeza na fé. Se esperássemos que
este novo convertido aprendesse sobre a vida cristã e nosso
corpo doutrinário, apenas vindo aos cultos, provavelmente, ele
levaria muito tempo. A experiência tem nos mostrado que alguns
levam anos para estarem prontos para a evangelização sem o
discipulado, ou para servir em outro departamento dentro da
igreja.
O discipulado tem se mostrado eficaz em integrar e vacinar
os novos convertidos contra os famosos “pescadores de aquário”.
Geralmente os novos convertidos saem para outras
denominações por causa da confusão doutrinária que sofrem, ou,
por não encontrarem acolhida na comunhão na igreja de origem.
Estes dois problemas são solucionados através do discipulado.

4. Como complemento do curso de catecúmenos


O discipulado encaminha para a classe de catecúmenos. As
nossas crianças e adolescentes indispensavelmente precisam ser
acompanhadas por discipulado. Apesar de terem nascido num lar
cristão, e pressupomos que ela desde a sua meninice tenha
recebido instrução, participado de culto doméstico e assíduo
aluno da Escola Dominical, cremos que este estudo
acompanhado servirá para examinar as convicções pessoais, e
identificar o nível de assimilação e compromisso que ela assumiu
com as verdades aprendidas.
Os que expressam o desejo de tornar-se membro também
devem ser discipulados. No processo de aprendizagem, e ao
certificarmos de que o aluno realmente fez seu compromisso de
salvação com Cristo, devemos conscientizar o novo convertido de
sua necessidade de assumir um compromisso completo. Aquele
que tem compromisso com Cristo também o tem com a sua
Igreja. A classe de catecúmenos deve ser vista como uma
sequência natural do discipulado, mas não o seu fim. O discípulo
precisa aprender que ele iniciou a aprender sobre a vida cristã, e
que o processo durará toda a vida.

DISCIPULADO AVANÇADO

O que chamamos de discipulado avançado é o estudo


acompanhado daqueles cristãos que conhecem além do básico.
Por causa da experiência de vida cristã que possuem, e que não
pode ser ignorada, todavia, demonstrando alguma deficiência ou,
34

imaturidade moral, ou doutrinária, devem passar pelo


discipulado.

1. Discipulado de membros vindos de outra igreja


evangélica
Deve-se examinar se os membros vindos de outra
comunidade evangélica carecem, ou não, de estudar os
fundamentos da fé cristã. Cada caso deve ser cuidadosamente
verificado, e isto pode acontecer nos primeiros encontros de
estudo, aferindo o grau de conhecimento bíblico e entendimento
doutrinário.
Recomenda-se que inevitavelmente se estude com ela
acerca da identidade confessional da igreja. Se ela não entender,
ou recusar aceitar as doutrinas essenciais, por uma questão de
coerência e honestidade, ela não poderá se tornar membro da
IPB. Assim, é prudente nos primeiros encontros de estudo listar
os temas que o discípulo não conhece, tem dificuldade de
entender, ou até mesmo se opõe, como por exemplo, o batismo
infantil e a doutrina da predestinação.
A nossa proposta é que o discipulado conduza o aprendiz na
construção de uma cosmovisão cristã. Neste caso o ensino
envolve treiná-lo pensar conforme a cosmovisão calvinista.
Segundo B.B. Warfield
o calvinista é o homem que vê a Deus; e tendo visto a Deus em sua
glória, por uma parte, experimenta um sentimento de indignidade
para comparecer diante dele como criatura e muito mais como
pecador e, por outro lado, o calvinista está cheio do assombro
reverente de que, apesar de tudo, Deus recebe aos pecadores.
Aquele que sem reservas crer em Deus e, está convencido de que
Deus será o seu Deus em todo o seu pensamento, sentimento e
vontade – em toda a ampla gama de suas atividades intelectuais,
morais e espirituais - e, através de todas as suas relações
individuais, sociais e religiosas, é por força da lógica mais estrita
um calvinista.39

Ainda assim, deve-se novamente lembrar a natureza do


discipulado. Ele não é apenas uma sequência de estudos bíblicos,
mas primeiramente a relação estabelecida entre duas pessoas,
sob a autoridade da Palavra de Deus, para que pela confiança,
amor e temor do Senhor, se aprenda acerca do senhorio do
Senhor Jesus, visando o amadurecimento integral do discípulo.

2. Discipulado avançado para líderes


39
B.B. Warfield, Calvin as a Theologian and Calvinism Today em: Presbyterian Board of Publication, Philadelphia,
1909, pp. 22-23.
35

Líderes não nascem prontos, eles são feitos. Dentre os


membros da igreja local o pastor, presbíteros e os coordenadores
do projeto de discipulado devem observar os líderes em
potencial. Há irmãos que após tornarem-se membros da igreja,
acomodam-se por pensarem que a vida cristã será apenas de
manutenção, não atentando que as Escrituras Sagradas
enfaticamente falam de continuo crescimento.
A preocupação de Paulo em cada igreja implantada era a de
formar uma liderança multiplicadora. Isto significa que líderes
devem treinar líderes. Deus em sua rica graça, em meio a
necessidade, levanta líderes autodidatas, entretanto, não foi este
o modelo que o nosso Senhor Jesus nos deixou, e que foi seguido
pelos apóstolos e deixados para os presbíteros.

Mas em nada tenho a minha vida por preciosa, contanto que


cumpra com alegria a minha carreira, e o ministério que recebi do
Senhor Jesus, para dar testemunho do evangelho da graça de
Deus. E agora, na verdade, sei que todos vós, por quem passei
pregando o reino de Deus, não vereis mais o meu rosto. Portanto,
no dia de hoje, vos protesto que estou limpo do sangue de todos.
Porque nunca deixei de vos anunciar todo o conselho de Deus.
Olhai, pois, por vós, e por todo o rebanho sobre que o Espírito
Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus,
que ele resgatou com seu próprio sangue. (At 20:24-28).

3. Discipulado como processo de restauração


Algumas pessoas desviam-se e passam períodos sem
congregar. Algum tempo depois, retornam e desejam reatar o seu
vínculo com a igreja local. Em geral, os conselhos examinam e
restauram, apenas com um breve exame. A ideia é que pelo fato
deste irmão permanecer um longo período sem praticar a
comunhão com os demais membros, sem receber a ceia do
Senhor, e em especial, sem receber instrução da Palavra de
Deus, e ao mesmo tempo, sob influência secularizada, ele precisa
passar por um discipulado como processo da sua restauração.
Ele será acompanhado, aconselhado, e terá este tempo para
oferecer evidência do fruto de arrependimento.

4. Discipulado um meio de restaurar disciplinados


A disciplina é necessária para a saúde espiritual da igreja.
Ela é uma marca da pureza da igreja.
A disciplina é eficaz pela aplicação da Palavra de Deus. Ela
não ocorre ex opere operato, mas pelo estudo, compromisso de
obediência e aplicação contra o pecado.
Como fazer:
36

1. Na sentença de disciplina o Conselho poderá indicar um


discipulador para acompanhar o disciplinado.
2. O material de estudo deverá ser acerca do motivo da
disciplina.
3. A restauração do membro dependerá do resultado e da
avaliação do discipulador, que preferencialmente deverá
membro do Conselho.

Capítulo 5 - Quanto ao material de estudo

O material adotado será definido a partir do modelo de


discipulado a ser realizado. Se ele for um discipulado para
apresentar as doutrinas elementares da fé cristã, então, ele
precisa iniciar com algum texto padrão de evangelização.
Entretanto, se o discipulado for para maturação de membros, ou
preparo de liderança, ele deverá ser conforme o seu propósito do
estudo.

Material para o discipulado de iniciantes


Se o material é básico da fé cristã as editoras têm produzido
vários textos de estudo direcionados para discipulado. Temos
adotado o material publicado pela Editora Cultura Cristã. Para os
discipuladores além do curso recomenda-se que adquira
literatura e continue estudando.
O texto usado para o estudo será definido pela liderança da
igreja. Apenas sugerimos que os discipuladores possuam como
recurso, ou material de apoio os seguintes livros:
1. A Bíblia de Estudo de Genebra (Editora Cultura Cristã).
2. Breve Catecismo de Westminster (São Paulo, Editora Cultura Cristã).
3. Adão Carlos Nascimento, A Razão da Nossa Fé (Editora Cultura
Cristã).
4. Adão Carlos Nascimento & Alderi S. de Matos, O que todo
presbiteriano inteligente deve saber (Z3 Editora).
5. Ezequiel Peixoto de Andrade, Estudos bíblicos doutrinários (Editora
Cultura Cristã).
6. J.I. Packer, Teologia concisa (Editora Cultura Cristã).
7. Martha Piece, Sábia & conselheira uma reflexão bíblica sobre o papel
da mulher (Editora Fiel).
8. Misael Batista do Nascimento, Os primeiros passos do discípulo
(Editora Cultura Cristã).
9. Richardo Baxter, Manual pastoral de discipulado (Editora Cultura
Cristã).
10. R.C. Sproul, Verdades essenciais da fé cristã (Editora Cultura
Cristã), 3 volumes.
37

11. Sean Michael Lucas, O cristão presbiteriano – convicções,


práticas e histórias – uma cartilha sobre a identidade presbiteriana
(Editora Cultura Cristã).
12. Thabiti Anyabwile, O que é um membro saudável? (São José dos
Campos, Editora Fiel).

Material para o discipulado avançado


A literatura neste caso será definida pelos temas que
necessitarão ser estudados. Entretanto, recomendo que o
discipulador adquira:
1. Confissão de Fé de Westminster (São Paulo, Editora Cultura Cristã).
2. Catecismo Maior de Westminster (São Paulo, Editora Cultura Cristã).
3. Abraham Kuyper, Calvinismo (São Paulo, Editora Cultura Cristã,
2004).
4. Charles Colson & Nancy Pearcey, E agora, como viveremos? (Rio de
Janeiro, CPAD, 1999).
5. Joel R. Beeke, Vivendo para a glória de Deus – uma introdução à fé
reformada (São José dos Campos, Editora Fiel, 2010).
6. John MacArthur Jr., Pense biblicamente – recuperando a visão cristã
de mundo (São Paulo, Editora Hagnos, 2005).
7. Nancy Pearcey, Verdade absoluta – libertando o Cristianismo de seu
cativeiro cultural (Rio de Janeiro, CPAD, 2006).

Capítulo 6 - O método do discipulado


O método é a forma como desenvolveremos na prática o
discipulado, portanto, terá um caráter formal e informal.
Precisamos ter consciência de como estamos ensinando. O
método formal é o ensino declarado, ou seja, a lição bíblica
explícita nos conceitos transmitidos. Por método informal
entendemos o que é chamado currículo oculto, sendo este uma
força educacional eficiente transmitido pelas ideias captadas de
modo não verbal. Lawrence O. Richards define currículo oculto
como “todos os elementos de qualquer situação de
relacionamento entre crentes que apoiam ou inibem o processo
de transformação”40 Por isso, é muito importante como
discipuladores atentarmos para o nosso testemunho integral
diante do discípulo “pois as nossas atitudes podem falar mais
alto do que nossas palavras”. Se um profissional da saúde
prepara uma palestra sobre higiene bucal, e não escova os
dentes para a aula, e desta forma apresentando resíduos de
comida em seus dentes, que mensagem você acha que ele está
passando através do currículo oculto? Não podemos descuidado
neste ponto.

40
Lawrence O. Richards, Teologia do Ministério Pessoal (São Paulo, Edições Vida Nova, 1980), p.156.
38

Apresentaremos algumas diretrizes práticas a respeito dos


encontros de discipulado.
1. O discipulador e discípulo, se possível, devem ter a mesma
versão da Bíblia para que se evite a confusão de divergência
de traduções.
2. Quanto à revista, ou apostila usada, não devem passar de
uma pergunta para a outra até que se certifique que o aluno
compreendeu bem o assunto e o texto bíblico.
3. Preferencialmente deve-se limitar a estudar uma lição por
vez. Mesmo que o discípulo tenha disponibilidade de tempo,
não tenha pressa de terminar.
4. Cuidado com a sua aparência pessoal! Roupa indecente,
higiene, e mau humor transmitem muitas mensagens
negativas que poderão prejudicar o Discipulado. A pessoa
não está divorciada de sua mensagem.

É necessário lembrar que o estudo das lições não precisa


continuidade ininterrupta. Pode-se ter sensibilidade e
flexibilidade nelas, mesmo porque nem sempre o tema que será
discutido no dia atenderá a necessidade dos discípulos naquele
momento.

1. Encontros semanais
Estes encontros devem ser num dia e hora que sejam
satisfatórios tanto para o discipulador como para o grupo de
discipulado. A lição anterior precisa estar fresca o suficiente
para fazer a ponte com a lição que será estudada. As lições são
sequenciais, se houver uma distância temporal muito grande,
pode acontecer que o discípulo não consiga fazer a ligação de um
assunto com o outro.

2. Local
Deve ser um local cômodo onde haja liberdade de
expressão. O discípulo não pode ser intimidado a expor as suas
conclusões. Se possível o encontro deve ocorrer na casa dele, na
segurança do seu lar, onde poderá desenvolver-se um maior
vínculo de intimidade entre o discípulo e o discipulador, e entre
os participantes do grupo.
Quando o discipulado acontecer apenas entre duas pessoas:
o discipulado e o aluno, ele deve ser num ambiente que não
ofereça risco de aparência do mal, ou facilite um envolvimento
pecaminoso.
39

3. Tamanho do grupo
Se o discipulado for realizado por várias pessoas
interessadas ao mesmo tempo, então, será melhor que seja
pequeno. Porém, caso tenha um número reduzido de líderes
discipuladores, é necessário que se mantenha numa média de 10
a 15 discípulos, apenas sugerindo pela convicção de que nunca
desenvolveremos um proveitoso relacionamento de ensino
acompanhado num grande grupo.
Recomenda-se quando possível que os discipuladores sejam
um casal. Caso não tenha disponibilidade de casais, também
poderá ser uma dupla de jovens, observando sempre o fator de
faixa etária, ou afinidade entre discipulador e discípulo. O fato de
serem duplas favorecerá a visita ou o discipulado a mulheres ou
famílias, evitando possíveis constrangimentos. Além do mais,
sempre haverá, um, observando o trabalho do outro, podendo
fazer críticas e dando ideias que possam melhorar este trabalho.
Além de aprimorar a visão do trabalho em equipe.

4. Programa do encontro do discipulado


O programa poderá ter duração média de 1 hora e meia,
podendo estender-se conforme a necessidade. Isto significa que o
discernimento em cada encontro de estudo será essencial. Deve-
se estabelecer um tempo, sendo considerado conforme o
contexto da lição, ou outros assuntos que surgirem, ou ainda
preocupações levantadas e dúvidas a serem solucionadas a parte
do tema da lição.

Cada encontro constará de:


Oração: No caso de discipulado para novos convertidos use
uma linguagem simples. Evite um futuro constrangimento
quando chegar o momento do discípulo orar, pois se sentirá
incapaz de orar como o seu discipulador.
Lição: O estudo bíblico indutivo seguirá a sequência da
revista do aluno. Neste ponto lembre-se sempre da definição e do
objetivo do discipulado, para que as lições se ajustem a este
propósito. Tudo o que é bíblico é adequado, porém, deve-se ter o
cuidado de sempre pensar em termos práticos, quaisquer que
sejam as lições.
Compartilhar: Explique a lição, aplicando-a ao contexto
diário, e às experiências práticas. Surgindo um momento para
testemunho, ouça, é possível que o discípulo fascinado com a sua
nova vida em Cristo queira compartilhar como está sendo
40

desafiador viver de modo coerente a fé cristã. Dê oportunidade


para que o discípulo apresente possíveis problemas e, assim você
possa estimulá-lo a perseverar em Cristo. Caso haja mais de um,
observe com atenção se nenhum discípulo está ficando de fora da
conversa.
Distribuição do tempo: O discipulador deverá distribuir
de maneira proveitosa cada parte do programa do encontro para
que o estudo bíblico seja proveitoso. Deve-se ter o cuidado para
que não seja desproporcionar o encontro do estudo bíblico de
modo que transpareça desorganização, ou que o discipulador
pareça confuso quanto ao que está fazendo. Isto poderá causar
insegurança e talvez dúvidas no discípulo que está iniciando.
Caso perceba que algum discípulo está enfrentando algum
problema o discipulador pode interromper o estudo e mudar para
um momento de aconselhamento. Se for um grupo de estudo
contendo mais pessoas torna-se necessário dedicar maior
atenção àquele discípulo, e se for o caso, marque outro horário
para conversar individualmente a respeito do problema.
Desenvolvimento do diálogo:41 Por meio da conversação
se identifica as crenças. É responsabilidade do discipulador de
submeter estas crenças à autoridade da Escritura Sagrada que é
a nossa única regra de fé e prática. Para isso, você pode fazer
algumas perguntas no decorrer das lições:
1. O que você crê sobre esse assunto?
2. Onde você aprendeu isso?
3. Como você sabe que está correto?
4. Quais são as consequências de se crer assim?
5. Se o que você crê não fosse certo, gostaria de conhecer a
verdade?

O diálogo é um processo de duas vias. Isso significa que não


é só você quem fala. Assim:
1. Diga algo para provocar a conversa.
2. Pergunte para saber como Deus está agindo no coração da
pessoa. A boca fala do que o coração está cheio.
3. Escute, pois é a melhor maneira de conhecer o que está
acontecendo e de ter a oportunidade de alcançar o objetivo
de expor o evangelho.
4. Direcione a conversa para o que a Escritura diz. A Palavra
de Deus é a palavra final sobre qualquer assunto.

41
Adaptado de William Fay & Ralph Hodge, Testemunhe de Cristo sem medo (São Paulo, LifeWay Brasil, 2003), p.
30.
41

Desafie o aluno, em toda oportunidade, para que faça um


compromisso com o Senhor Jesus. Observe abaixo como é
simples evitar ideias erradas e apresentar-lhe o plano da
salvação:
1)Ele precisa reconhecer 2. Ele precisa fazer
a. Sou pecador a. Arrepender dos seus
pecados
b. Minhas virtudes/boas obras são insuficientes b. Crer e confiar só no
perdão de Cristo
c. Preciso conhecer mais de Jesus c. Fazer-se membro da igreja

Capítulo 7 - O discipulado e a igreja local

O discipulado não é uma atividade em que somente os


membros estão comprometidos. Os presbíteros docentes e
regentes são chamados para liderar a igreja local, e neste
processo de cuidar abrange o acompanhar o rebanho em suas
necessidades:
1. Visitar os membros que necessitam de assistência.
2. Resolver os desentendimentos entre os membros.
3. Instar aos disciplinados no sincero arrependimento.
4. Orar por/com todas as famílias da igreja.
5. Consolar os aflitos e necessitados.
6. Ser um pacificador em assuntos controversos.
7. Lembrar aos membros da sua fidelidade ao Senhor Deus.
8. Supervisionar o bom andamento das atividades da igreja.

Além dessas atribuições a liderança deve supervisionar a


atividade de discipulado dentro da igreja local. Vimos nesse
programa que os princípios transmitidos aos discipuladores são
também apresentados aos novos convertidos. A convicção
favorece a sequência de toda uma estrutura de discipulado. Em
primeiro lugar teremos um grupo de discipuladores formados,
porém, o primeiro grupo de novos convertidos formados depois
destes, já serão discipulados dentro desta visão, e se engajarão
no programa como discipuladores. O objetivo é termo uma igreja
discipuladora e não apenas um programa de discipulado. Assim,
podemos resumidamente listá-los:
1. Formar discípulos com uma cosmovisão cristã. Treinamos o
pensamento com premissas bíblicas. Ensinamos que em
todas as esferas de sua vida estamos sob o senhorio de
Jesus Cristo e, que devemos viver confiantemente.
2. Apresentar o evangelho aplicado para que vivamos
relacionamentos saudáveis. O evangelho precisa estar
42

doutrinariamente claro no entendimento de quem ensina,


não há outro evangelho (Gl 1:6-9), nem mesmo se pode
ensiná-lo com preferências pessoais, excluindo ou
adicionando nele o que não procede da Escritura, nem por
ela pode ser claramente provado (At 20:25-31; Ap 22:18-
19).
3. Integramos do novo convertido nos relacionamentos e
estrutura da igreja local. Transformado pela graça de Deus,
o novo convertido torna-se membro da Igreja de Cristo e
precisa ser preparado para o batismo, treinado para atuar
com os seus dons e testemunhar do evangelho em todas as
áreas da sociedade.
4. Acompanhamos o crescimento espiritual do novo convertido
rumo à maturidade cristã. O modelo de cristãos que
queremos formar aponta para a conformidade de Cristo (Rm
8:29).

O Conselho convicto desta ordenança de Cristo precisa


estruturar a igreja de modo que facilite a relação de discipulado.
Com isto em mente apresento o esboço de uma estruturada para
prover uma igreja discipuladora.42

1. Curso para formação de discipuladores


A formação de qualquer projeto começa com treinamento.
Embora o discipulado aparentemente se configure como um
projeto, na realidade ele se delineia por princípios de formação.
O discipulado não é apenas um programa, embora ele mantenha
uma estrutura como já vimos até aqui. Como parte de sua
identidade a liderança local necessita desafiar e, através do
ensino bíblico apresentar a responsabilidade da igreja ser
discipuladora.
O treinamento inicial de discipuladores que será motivado
não pelo método, mas por princípios bíblicos da natureza do
discipulado. Obviamente o método do como fazer é
indispensável, mas não é o método que produzirá resultados, não
é ele que em si é o cumprimento da comissão do Senhor Jesus.
Por isso, qualquer tentativa de treinamento onde o claro
entendimento da natureza essencial do que é o discipulado
resultará no fracasso do método.

2. Coordenação dos discipuladores

42
O organograma da Primeira Igreja Presbiteriana de Porto Velho encontra-se no anexo no fim desta apostila.
43

Após o treinamento dos discipuladores eles devem ser


coordenados para captarem os “discípulos em potencial”.
Embora, por convicção, cada discipulador poderá ter a iniciativa
de selecionar quem ele discipulará, enquanto organismo vivo, a
igreja local precisa estruturar-se para viver o discipulado. Os
supervisores poderão ser o pastor, os presbíteros ou membros
designados pelo conselho da igreja local.
A função destes coordenadores é de fazer a ponte entre
discipuladores e discípulos em potencial identificados no convívio
da igreja local. A coordenação visando à escolha de um
discipulador que melhor se identifique, ou que tenha
disponibilidade e assim se estabeleça um vínculo de confiança
entre discipulador e discípulo. Listo os seguintes casos:
1. Os filhos dos membros que também desejam se tornar
membros comungantes da igreja local. Os pais poderão
procurar o pastor, ou os coordenadores e manifestar o
desejo de seus filhos que serão conduzidos ao discipulado. 43
2. Os coordenadores ou discipuladores ao identificar os
visitantes assíduos deverão cuidar para que sejam
procurados, antes ou após os cultos, e sejam abordados com
a proposta de iniciarem um discipulado.
3. Deverão ser discipulados os novos convertidos que estão no
convívio da igreja. Quem tomará a iniciativa de propor o
discipulado para eles serão os coordenadores, embora os
discipuladores mais atentos também o podem se oferecer
para acompanhá-los.
4. Os membros vindos de outras comunidades evangélicas
também deverão ser discipulados. Torna-se necessário este
acompanhamento, tanto pelo motivo de integrá-los
efetivamente na igreja, bem como visando esclarecer-lhes a
identidade doutrinária da IPB. Assim, aquele que congrega
na intenção de transferir-se para a igreja local, em seus
primeiros momentos de convívio, ele será assistido por um
membro maduro e convicto da confessionalidade reformada
que o esclarecerá sobre a história, doutrina, disciplina,
governo da nossa igreja.44
5. Mesmo os casos de discipuladores que desenvolvem o
estudo acompanhado com pessoas que não têm convívio
43
O Conselho da Primeira Igreja Presbiteriana de Porto Velho decidiu que todos os adolescentes ou jovens, mesmo
que batizados na infância e educados na igreja desde a sua tenra meninice, deverão participar do curso de
discipulado, antes ou durante o curso de catecúmeno para que possam ser examinados e se tornem membros
comungantes da nossa igreja.
44
É decisão do Conselho da Primeira Igreja Presbiteriana de Porto Velho que todos que vierem de outra comunidade
evangélica sejam discipulados e passem pela classe de catecúmenos para conhecerem as doutrinas da IPB, e
somente serão aceitos como membros se aceitarem por convicção a nossa identidade confessional.
44

com a igreja local precisam notificar o coordenar para que


ele possa verificar a disponibilidade e não sobrecarregar
alguns, enquanto outros se encontram disponíveis, ou
ociosos.

3. Escola bíblica dominical formativa


Todos os cristãos independentemente do estágio de
maturação que atingiu sempre será um discípulo. Ele carecerá
sempre de aprendizado contínuo. Certamente esse convívio com
a estrutura de educação cristã da igreja local avançará a
integração, o crescimento, e consequentemente a maturação de
todos os membros comprometidos com a Escola Bíblica
Dominical.
A Escola Bíblica Dominical é um indispensável recurso como
parte do treinamento contínuo de discipulado. Entretanto, o
modelo convencional de Escola Dominical que apresenta lições
aleatórias, sem propor um currículo com um objetivo definido, e
sem um alvo claramente direcionado, em geral, torna-se numa
instituição que não usa todo o seu potencial educacional.
A proposta de uma Escola Bíblica Dominical Formativa
intenciona oferecer cursos de treinamento para os membros da
igreja local. Em vez, de se adotar revistas que sigam um
currículo temático pronto, os professores são desafiados a
preparar cursos para ser aplicados no decurso de um ano. Estes
professores serão incentivados a adquirir literatura específica
para que se especialize naquela área de estudo. Obviamente o
pastor, como presbítero docente, terá a responsabilidade de
treinar, orientar na preparação do plano de aulas, indicar a
literatura básica e confiável, bem como coordenar a aquisição de
textos, ou livros de identidade reformada.
O currículo da EBDF será formado a partir do objetivo de
equipar os alunos com o conhecimento necessário em áreas
cruciais para a maturação da vida cristã. Algumas sugestões de
cursos para a Escola Bíblica Dominical Formativa:
1. Curso de Panorama de Antigo Testamento
2. Curso de Panorama de Novo Testamento
3. Curso de Panorama de História da Igreja Cristã
4. Curso Dons e Ministérios do Corpo de Cristo
5. Curso de Cosmovisão Cristã
6. Curso das Confissões Reformadas
7. História da Igreja e do Pensamento

4. Cursos para treinamento de liderança


45

Como parte de sua identidade de igreja discipuladora serão


oferecidos cursos de treinamento de liderança. Tanto os novos
convertidos ou os membros maduros além do discipulado
acompanhado pelo qual passaram, a sua assiduidade nos cultos
de doutrina durante a semana, a sua participação como aluno de
um dos cursos da Escola Bíblica Dominical Formativa, e mesmo
participando dos cultos, ainda terão à sua disposição alguns
cursos para liderança.
Estes cursos podem ser oferecidos em módulos que
funcionarão no decorrer da semana, ou em finais de semana,
dependendo da disponibilidade dos interessados. A proposta é
dispor de um instrumento de ensino que facilite aos que
interessam em aprender o que não seria ensinado de modo
sistemático, num curto espaço de tempo e com didática
direcionada.

Capítulo 8 - Preservando o ministério de


discipulado

O ministério de discipulado não pode estar vinculado a


algum pastor. Os pastores não são permanentes numa igreja
local, mas os ministérios o são. O discipulado é um dever de cada
cristão, por isso, a sua manutenção e continuidade depende
daqueles que nele estão engajados.
Os discipuladores devem seguir as seguintes sugestões para
que o ministério não se torne extinto:
1. Supervisionar o trabalho de todos os grupos de discipulado.
2. Manter clara a concepção do ministério de discipuladores,
corrigindo os desvios.
3. Periodicamente desafiar novos membros para que se tornem
discipuladores.
4. Aperfeiçoar continuamente o material de estudo do
discipulado.
5. Coordenar o ministério de discipulado como metas para
outros ministérios e departamentos da igreja.
6. Aperfeiçoar o material e ampliar ou substituir a literatura
usada de base para o estudo e treinamento de discipulado.

Vimos nesse programa que os princípios transmitidos aos


discipuladores são também apresentados aos novos convertidos.
A convicção favorece a sequência de toda uma estrutura de
discipulado. Em primeiro lugar teremos um grupo de
46

discipuladores formados, porém, o primeiro grupo de novos


convertidos formados depois destes, já serão discipulados dentro
desta concepção, e se engajarão no programa como
discipuladores. O objetivo é termos uma igreja discipuladora e
não apenas um programa de discipulado. Assim, podemos
resumidamente listá-los:
1. Formar discípulos com uma cosmovisão cristã. Treinamos
o pensamento com premissas bíblicas.
2. Apresentar o evangelho aplicado para que vivamos
relacionamentos saudáveis.
3. Acompanhamos o crescimento espiritual rumo à
maturidade cristã.
4. Integramos o novo convertido nos relacionamentos e
estrutura da igreja local.
5. Ensinamos que em todas as esferas de sua vida estamos
sob o senhorio de Jesus Cristo vivendo confiantes no seu
pacto da graça.

Capítulo 9 - Compromisso permanente do


discipulador

Você entendeu a seriedade de ser um discipulador? Há uma


latente urgência e necessidade, somada à obrigatoriedade de se
discipular de modo planejado, consciente, e formando
inteligentemente os cristãos das gerações vindouras preparando-
os para viverem de modo digno do chamado do evangelho de
Cristo. Ao mesmo tempo serem membros que serão uma igreja
saudável construindo uma cosmovisão cristã comprometida
somente com o ensino das Escrituras Sagradas. Treinando
cristãos que com discernimento rejeitam, tanto os falsos mestres,
como os falsos profetas, bem como não se deixam levar pelos
novos ventos de doutrina que sopram nestes tempos pós-
modernos.

Abaixo uma declaração de desafio e compromisso para ser


um discipulador:
1. Em obediência a grande comissão ordenada por nosso Senhor Jesus,
comprometo-me em fazer discípulos tendo Cristo como mestre (Mt
28:18-20).
2. Comprometo-me em estudar as Escrituras a fim de estar preparado a
dar razão da nossa fé.
3. Disponho-me ensinar a Palavra de Deus com integridade de vida e
fidelidade à verdade.
47

4. Quando não souber a resposta de qualquer questão que seja, não


tentarei inventar uma, mas com humildade buscarei aprender para
ensinar somente a verdade, pois, também sou discípulo e estou no
processo do saber em amor e temor do Senhor.
5. Creio que ao discipular apresento o evangelho da salvação aos eleitos
de Deus proporcionando a oportunidade para que o Espírito Santo
aplique a graça irresistível. Evangelizar é compartilhar Jesus, no
poder do Espírito, deixando os resultados para Deus, visando uma
reeducação para uma vida transformada.
6. Comprometo-me ser exemplo de transformação de vida para os meus
discípulos.
7. Assumo a responsabilidade de comunicar-lhes a visão de discipulado:
um discípulo formando discípulos para Cristo Jesus.
8. Acredito que cada vida a mim confiada é importante para Deus. Meu
objetivo não é aumentar o número de membros da minha igreja, mas,
conduzir o discípulo a aumentar o seu amor por Cristo como o seu
Salvador.
9. No que estiver ao meu alcance tentarei instruir e aconselharei o meu
discípulo em suas dúvidas e problemas, guardando sigilo e
preservando a sua dignidade. Entretanto, o que não souber resolver
encaminharei ao pastor para um acompanhamento adequado.
10. Submeto-me às autoridades de nossa igreja, enquanto elas
permanecerem fiéis à Escritura Sagrada, reconhecendo serem
instituídas por Deus para o meu bem e de todo o Corpo de Cristo sob
os seus cuidados.

Conclusão

Tudo no discipulado é para a glória de Deus. Desde a


motivação para iniciar um discipulado, ou mesmo proclamar,
ensinar e aplicar o evangelho que revela o Senhor Deus na
beleza de seus atributos e poderosos feitos. A glória de Deus é a
finalidade do discipulado. Benjamin B. Warfield declara que
Deus não é retratado na Escritura como perdoando o pecado
porque Ele realmente se importe com o pecado. Nem porque Ele
seja tão exclusivo ou predominantemente o Deus de amor, como se
os outros atributos diminuíssem pelo desuso na presença de Sua
infinita bondade. Pelo contrário, Ele é retratado como libertando o
pecador de sua culpa e corrupção porque Ele se compadece das
criaturas da sua mão, envoltas em pecado, com uma intensidade
que nasce da veemência da sua santa ira contra o pecado e sua
justa determinação de visitá-lo com uma intolerante retribuição;
de modo que conduz por uma completa satisfação pela a sua
48

infinita justiça e santidade, como pelo seu ilimitado amor por Si


mesmo.45

É importante lembrar que o alvo não é a multiplicação de


conversões. Isto será o resultado. Entretanto, como fruto da
riqueza da sua graça alcançaremos os eleitos de Deus,
conduzindo de novos convertidos rumo ao modelo de cristãos
maduros. E estes crentes fortes na fé produzindo outros novos
convertidos como conseqüência dessa maturidade e vigor
espiritual.
É tempo de repensarmos o modo de como estamos vivendo
enquanto igreja local. Com isso não proponho mudança de
paradigma eclesiológico. Estou convencido de que o sistema de
governo presbiteriano é herança do ensino de toda a Escritura
Sagrada. Refiro-me ao trabalho de manutenção das atividades da
igreja local que se atém a um pequeno grupo de líderes, que
provavelmente não foram discipulados e, consequentemente não
veem no discipulado a devida importância. Indispensavelmente a
liderança da igreja deve estar preparada para equipar os santos
(Ef 4.11-13). Se todos, e não apenas alguns, ou só o pastor, se
comprometerem em viver o discipulado toda a igreja local será
vigorosamente beneficiada. O pastor coordenando os grupos de
formação de líderes estará mais livre para pastorear o rebanho,
podendo em reuniões periódicas com os discipuladores, ser
informado a respeito das ovelhas que carecem de um cuidado
mais específico, e ele mesmo discipulando e acompanhando o
desenvolvimento dos discipuladores.
Vimos que em cada encontro será um instrumento de
formação e transformação. Nos encontros com o indivíduo ou, de
um pequeno grupo propicia um ambiente onde o “instrui-vos e
admoestai-vos mutuamente” (Cl 3.16).
O pastor e os demais líderes das igrejas devem equipar o
povo de Deus. Já que eles (a liderança) não possuem todos os
dons necessários para que o corpo cumpra as suas funções. A
liderança deve preparar os crentes para que cumpram este
ministério de discipulado no exercício coletivo dos seus dons, de
modo que, a igreja local, de modo saudável, será: discípulos
formando discípulos (Mt 28:16-20).

Apêndice 1

45
Benjamin B. Warfield, "God" in: Works of B.B. Warfield (Grand Rapids, Baker Books, 2003), vol. 9, p. 112.
49

Um resumo da doutrina da Escritura Sagrada

Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para


o ensino, para a repreensão, para a correção,
para a educação na justiça, a fim de que o
homem de Deus seja perfeito e perfeitamente
habilitado para toda boa obra (2 Tm 3:16-17,
ARA).

Confissão de Fé de Westminster I.1


Ainda que a luz da natureza e as obras da criação e da providência de tal
modo manifestem a bondade, a sabedoria e o poder de Deus, que os homens
ficam inescusáveis, contudo não são suficientes para dar aquele
conhecimento de Deus e da sua vontade necessário para a salvação; por
isso foi o Senhor servido, em diversos tempos e diferentes modos, revelar-se
e declarar à sua Igreja aquela sua vontade; e depois, para melhor
preservação e propagação da verdade, para o mais seguro estabelecimento
e conforto da Igreja contra a corrupção da carne e malícia de Satanás e do
mundo, foi igualmente servido fazê-la escrever toda. Isto torna
indispensável a Escritura Sagrada, tendo cessado aqueles antigos modos de
revelar Deus a sua vontade ao seu povo.

Definição da doutrina: a Escritura Sagrada é a inerrante, clara,


suficiente e inspirada Palavra de Deus, sendo ela a nossa única
fonte e regra de fé e prática.

Necessitamos ter convicção sobre qual fundamento estamos


crendo e estaremos ensinando. A nossa fonte de conhecimento é
a Palavra de Deus. Através dela o Senhor se dá a conhecer de um
modo especial e absoluto. Ela é o nosso objeto de estudo para
conhecermos verdadeiramente quem é o nosso Deus, e qual a
Sua vontade para todo ser humano. Para isso é necessário
sabermos o que é a Bíblia. É indispensável termos convicção do
que estaremos aprendendo. Provavelmente você ouvirá
argumentos do tipo “ah! papel aceita qualquer coisa!”, ou,
“porque a Bíblia é sua única regra de fé?” O apóstolo Pedro nos
ordena “santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração,
estando sempre preparados para responder a todo aquele que
vos pedir razão da esperança que há em vós” (1 Pe 3:15).
Começaremos a nossa jornada de estudos analisando
primeiramente o que é a Bíblia.
Lorraine Boettner nos adverte, dizendo que “a resposta que
dermos à pergunta ‘o que é Cristianismo’? dependerá
50

amplamente do conceito que sustentarmos da Escritura”. 46 Se


aceitarmos que a Bíblia é um mero livro de religião, sem
inspiração, insuficiente, cheio de erros, e impossível de ser
entendido, então, ele não nos servirá para nada, a nossa fé será
vazia de significado tornando o nosso Cristianismo numa religião
confusa! J. Gresham Machen estava correto em denunciar que

Estaremos baseando a nossa convicção a respeito da Bíblia


sobre cinco declarações que caracterizam a Bíblia como sendo a
Palavra de Deus.
1. A Bíblia é nossa única fonte e regra de fé e prática.
2. A Bíblia é plenamente inspirada pelo Espírito Santo.
3. A Bíblia é clara em suas declarações sobre salvação e
santificação;
4. A Bíblia é inerrante em todas as suas afirmações.
5. A Bíblia é suficiente para nos ensinar tudo em matéria de fé.

1. A Bíblia é nossa única fonte e regra de fé e prática


Somente a Escritura Sagrada é autoridade absoluta.
Somente a Escritura Sagrada define minhas convicções
doutrinárias.
Somente na Escritura Sagrada encontro a verdadeira
sabedoria.
Somente a Escritura Sagrada rege as minhas decisões.
Somente a Escritura Sagrada molda o meu comportamento.
Somente a Escritura Sagrada determina os meus
relacionamentos.

Por que a Bíblia tem toda esta autoridade? A resposta é


simples: ela é a Palavra inspirada por Deus. Então, por que
muitas pessoas não se submetem a esta autoridade? Calvin K.
Cummings observa que
como pode alguém ler as reivindicações da Escritura como sendo a
Palavra de Deus e estudar a evidência de tais reclames, somente
para rejeitar a Bíblia como inspirada por Deus? Outros leem e
creem com uma convicção inabalável que a Bíblia é a inspirada
Palavra de Deus. A diferença não é a falta de evidências (João
20:30; Lucas 16:31). A diferença é que para alguns não foi dado o
Espírito Santo para capacitá-los ver a verdade da evidência bíblica.
Eles são espiritualmente obscurecidos e prejudicados; não podem
ver a verdade. São espiritualmente mortos; não podem ouvir a voz
de Deus falando em todos os limites.47
46
Lorraine Boettner, Studies in Theology (Philadelphia, The Presbyterian and Reformed Publ. Co., 1967), p. 9
47
Calvin Knox Cummings, Confessing Christ (Suwanee, Great Commission Publications, 2004), p. 16.
51

2. A Bíblia é plenamente inspirada pelo Espírito Santo


Cremos que a Escritura Sagrada é plenamente inspirada. 48
Isto significa que o Espírito Santo exerceu soberanamente uma
influência suficiente e completa estendendo-se a todas as partes
das Escrituras, conferindo-lhes uma revelação autorizada de
Deus, de modo que as revelações vieram a nós por intermédio da
mente e da vontade de homens, todavia, elas são no sentido
estrito, a Palavra de Deus. Esta influência do Espírito Santo que
envolveu os escritores sacros, estendeu-se não somente aos seus
pensamentos gerais, mas também a todas as palavras que eles
usaram, de modo que os pensamentos que Deus desejou revelar-
nos foram conduzidos com infalível exatidão. Não foram
inspirados apenas os seus pensamentos, mas cada palavra
original que os autores usaram.
Esta inspiração se estende não somente ao texto, mas
afetou organicamente o seu autor, no momento do registro da
revelação. Os escritores foram os instrumentos de Deus no
sentido de que aquilo que eles disseram, foi de fato o que Deus
disse. No ato da inspiração o Espírito não anulou o escritor, mas
agiu em, com e através de sua personalidade. O Espírito de Deus
não inspirou os autores como se fossem máquinas, anulando a
sua liberdade, responsabilidade e capacidades mentais, mas
escreveu através deles (2 Pe 1:16-21). Cada autor viveu numa
situação social específica, num contexto histórico real,
escrevendo com preocupações particulares, para destinatários e
propósitos definidos, em seus escritos inspirados percebemos,
inclusive, que eles foram influenciados pelo condicionamento
situacional em que estavam vivendo. Mesmo havendo na Bíblia a
diversidade literária, linguística, e estilo próprio de cada autor,
isto não anula que ela tenha fonte numa única mente, e que o
Espírito Santo seja o seu autor primário (2 Pe 1:19-21; Rm 11:33-
36). O Dr. A.A. Hodge descreve como a inspiração ocorreu sobre
os autores.
Os escritores de todos os livros eram homens, e o processo de
composição que lhes deu origem era, caracteristicamente,
processo humano. As características pessoais do modo de pensar e
sentir dos escritores operaram espontaneamente na sua atividade
literária e imprimiram caráter distinto em seus escritos, de um
modo em tudo semelhante ao efeito que o caráter de quaisquer
outros escritores produz nas suas obras. Escreveram impelidos por
impulsos humanos, em ocasiões especiais e com fins determinados.
Cada um deles enxerga o seu assunto do seu ponto de vista
individual. Recolhe o seu material de todas as fontes que lhe são
48
Lorraine Boettner, Studies in Theology, p. 11
52

acessíveis – da experiência e observações pessoais, de antigos


documentos e de testemunho contemporâneo. Arranja seu material
com referência ao fim especial que tem em vista; e de princípios e
fatos tira inferências segundo o seu próprio modo, mais ou menos
lógico, de pensar. Suas emoções e imaginações exercitam-se
espontaneamente e manifestam-se como co-fator nas suas
composições. As limitações de seu conhecimento pessoal e de seu
estado mental em geral, e os defeitos de seus hábitos de pensar e
de seu estilo são tão óbvios em seus escritos como o são outras
quaisquer de suas características pessoais. Usam a linguagem e os
modismos próprios da sua nação e classe social.49

3. A Bíblia é clara em suas declarações sobre a salvação e


santificação
A essência da revelação bíblica é acessível ao homem
independentemente do seu nível cultural (Sl 19:7; Sl 119:130).
Não é requisito necessário ser formado em teologia para se
interpretar a Bíblia, nem mesmo receber uma ordenação oficial
para isto. Todos devem ter livre acesso ao seu estudo e
interpretação. Todavia, isto não significa que cada um é livre
para interpretá-la do modo que lhe for mais conveniente. A
doutrina do livre exame ensina que qualquer pessoa pode
interpretar ou verificar a interpretação das Escrituras usando, de
modo correto os princípios da hermenêutica, o real significado de
uma passagem bíblica (CFW I.7).
Em cada texto há um significado único, e não múltiplo. O
que determina o significado do texto é a intencionalidade do
autor, em seu contexto histórico e analisado na sua estrutura
gramatical. Não é possível falar em clareza de significado
quando confusas teorias hermenêuticas interrompem a
interpretação do que o autor quis dizer.
A Escritura fala que o homem natural “não pode entendê-
las, porque se discernem espiritualmente” (1 Co 2:14b). Ela não
está negando uma capacidade do não convertido de entender os
assuntos naturais e éticos de que a Bíblia fala. Por exemplo, a
Palavra de Deus é a revelação da vontade de Deus, mas ela
contém a história da raça humana, a narração de culturas de
povos antigos, a descrição geográfica de lugares específicos e
muitos outros assuntos. Mas, mesmo quando trata de assuntos
éticos, o não convertido é capaz de entendê-los. Usemos de
exemplo os “dez mandamentos” (Ex 20:1-17). Será que por mais
ímpia que seja a pessoa ela pode alegar incapacidade de
entender a lei de Deus? Se a Palavra de Deus fosse
absolutamente obscura, então Deus não poderia condenar os
49
A.A. Hodge, Esboços de Teologia (São Paulo, PES, 2001), p. 90.
53

pecadores que ouvem a sua Palavra, pois eles poderiam alegar


que nada entendem! A Escritura tem em si mesma uma clareza
que garante a inteligibilidade da sua mensagem. 50
Não se nega que as Escrituras contenham muitas coisas de
difícil entendimento. É verdade que elas requerem estudo
cuidadoso. Todos os homens precisam da direção do Espírito
Santo para a correta interpretação e obtenção da verdadeira fé.
Afirma-se, porém, que em todas as coisas necessárias à salvação,
elas são suficientemente claras para serem compreendidas
mesmo por aqueles que tiveram pouca formação escolar. 51
Toda verdade necessária para a nossa salvação e vida
espiritual é ensinada tanto explícita como implicitamente na
Escritura.52 Tudo o que é necessário para a salvação e uma vida
de obediência é inteligível para os servos de Cristo. A convicção
do seu dever pessoal de obedecer à Palavra de Deus é uma obra
da iluminação pelo Espírito Santo (1 Ts 2:13; 1 Pe 1:22-25).

4. A Bíblia é inerrante em todas as suas afirmações


Por ter sido escrita por homens sujeitos aos equívocos,
alguns incrédulos (e até alguns pastores) afirmam que a
Escritura Sagrada também contém erros. Todavia, estas pessoas
ao negarem a inerrância das Escrituras estão fazendo da mente
humana um padrão de verdade mais elevado do que a própria
Palavra de Deus. O que encontramos na Bíblia são “aparentes
contradições”, ou afirmações incompreendidas, que podem ser
coerentemente harmonizadas com uma interpretação cuidadosa
(Hb 6:18; Jo 17:17). O fato, de que não consiga entender uma
verdade, não significa que ela não seja real, tenho que
considerar a limitação do meu conhecimento e a falibilidade de
minha mente em pensar corretamente.
A doutrina da inerrância não é recente como alguns
pensam. Os reformadores criam firmemente nela. Um antigo
teólogo chamado Francis Turrentin (1623-1678) observou que
“os escritores sacros foram movidos e inspirados pelo Espírito
Santo, envolvendo tanto os pensamentos, como a linguagem, e
que eles foram preservados livres de todo erro, fazendo com que
os seus escritos fossem plenamente autênticos e divinos.” 53
Se a Bíblia contém algum erro histórico, geográfico, ou
científico, como poderemos ter certeza de que não terá erros
50
Paulo Anglada, Sola Scriptura A Doutrina Reformada das Escrituras (São Paulo, Editora Os Puritanos, 1998), p.
86.
51
Charles Hodge, Teologia Sistemática (São Paulo, Ed. Hagnos, 2001), p. 137.
52
John MacArthur, Jr., Sola Scriptura (São Paulo, Ed. Cultura Cristã, 2000), p. 210.
53
citado por W.G.T. Shedd, Dogmatic Theology (Nashville, Thomas Nelson Publishers, 1980), vol. 1, p. 72. Grifos
meus.
54

morais (Sl 12:6)? Deus mentiu, ou errou em alguma de suas


informações? Seria a pergunta mais sensata a se fazer. Deus
soberanamente não poderia livrar os seus agentes escritores de
errarem? Como poderíamos aceitar a autoridade da Bíblia, que
alega ser a verdade, ensinar a verdade, inspirada por um Deus
verdadeiro, e que ama a verdade, se a sua Palavra estivesse
cheia de erros (Nm 23:19; 2 Sm 7:28; Jo 17:17; Tt 1:2; Hb 6:18)?
No mínimo, ela seria algo não confiável, e perderia toda a sua
autoridade, pois não poderíamos chamá-la de Palavra de Deus!
Mas a Escritura autentica a si mesma como inerrante (Js 23:14;
Sl 12:6; Pv 30:5; Jo 14:35; 1 Ts 2:13).

5. A Bíblia é suficiente para nutrir o nosso relacionamento


com Deus.
Os 39 artigos de Fé da Religião Anglicana ensinam este
tema de forma bem precisa ao declarar que “as Escrituras
Sagradas contêm todas as coisas necessárias para a salvação; de
modo que tudo o que nela não se lê, nem por ela se pode provar,
não deve ser exigido de pessoa alguma que seja crido como
artigo de Fé ou julgado como exigido ou necessário para a
salvação.”54
Na Bíblia o homem encontra tudo o que precisa saber e
tudo o que necessita fazer a fim de que venha a ser salvo, viva de
modo agradável a Deus, servindo e adorando-O aceitavelmente
(2 Tm 3:16-17; 1 Jo 4:1; Ap 22:18).55
A Bíblia é completa em seus 66 livros. Mesmo se os
arqueólogos encontrassem outra epístola do apóstolo Paulo não a
aceitaríamos como parte da Palavra de Deus. O número de livros
que o nosso Senhor desejou dar-nos é somente este, nada mais
acrescentaremos (Ap 22:18-19). O que os autores escreveram,
movidos pelo Espírito Santo, é inspirado, todavia, não significa
que os outros dos seus escritos também sejam inspirados. Por
exemplo, Paulo escreveu 13 dos 27 livros do Novo Testamento,
mas durante toda a sua vida, após a conversão, certamente que
escreveu muito mais do que apenas estas epístolas, mas isto, não
significa que a inspiração estava inerente à sua pessoa de tal
modo, que sempre escrevia inspirado. Mas, é bom lembrarmos
que tudo o que nos foi deixado (os 66 livros), somente foi
preservado por causa de sua inspiração.
Não podemos acrescentar nada à Bíblia (Dt 4:2; 12:32; Pv
30:5-6; Ap 22:18-19). Deus quer que descubramos o que crer ou
54
39 Artigos de Fé da Religião Anglicana, artigo VI sobre As Escrituras Sagradas citado no Apêndice de Wayne
Grudem, Teologia Sistemática (São Paulo, Ed. Vida Nova, 2002), p. 999
55
Paulo Anglada, Sola Scriptura A Doutrina Reformada das Escrituras, p. 74
55

fazer segundo a sua vontade somente na Escritura Sagrada (Dt


29:29; Rm 12:1-21). Não existe nenhuma revelação moderna que
deva ser equiparada à autoridade da Palavra de Deus. Somente a
Bíblia é a nossa única fonte e regra de fé e prática e não novas
profecias (leia todo o Sl 119).

6. A Bíblia “católica” é diferente da Bíblia “protestante”?


A resposta é um “sim” e um “não”. Sim, pois há de fato pelo
menos duas diferenças que podem ser claramente observadas. A
primeira diferença é quanto à sua tradução que difere tanto das
versões evangélicas, como entre as católicas. Por que existem
tantas Bíblias diferentes? Seria mais correto perguntarmos
“porque existem tantas traduções diferentes?” Não existem
Bíblias diferentes, como se algumas fossem mais completas do
que outras,56 ou algumas falassem coisas que contradizem as
demais! O que ocorre é que as Sociedades Bíblicas, que se
dedicam à tradução deste tão precioso livro, adotam diferentes
teorias de tradução (veja sobre teoria de linguística).
A segunda diferença é que as “Bíblias Católicas” possuem 7
livros a mais (Tobias, Judite, 1 e 2 Macabeus, Sabedoria,
Eclesiástico, Baruc) e alguns acréscimos nos livros de Ester e
Daniel.57Até a Reforma do século XVI o conjunto de livros da
Bíblia era aceito como sendo de apenas 66 livros. Os
protestantes começaram a declarar sola Scriptura (somente a
Escritura) como única regra de Fé, e apegando-se ao número de
livros do Antigo Testamento hebraico (39 livros) e do Novo
Testamento grego (27 livros). Então, em reação a esta postura
protestante, a Igreja Católica Romana decidiu no Concílio de
Trento (1545-1563 d.C.) reconhecer alguns livros como
inspirados além dos 66 aceitos. Assim, na 4ª sessão de
08/04/1546 no Decreto Concernente às Escrituras Canônicas o
clero romano decidiu que:
Se alguém não receber como sagrados e canônicos os livros do
Antigo e do Novo Testamento, inteiros e em todas as suas partes,
como se contém na velha edição Vulgata, e conscientemente os
condenar, seja anátema.58

Esta decisão da Igreja Católica Romana implicou que ao adotar a


Vulgata Latina como texto padrão oficial, ela endossou todos os
livros apócrifos que esta tradução continha. A Vulgata Latina é

56
Aqui me refiro entre os 66 livros conforme encontrados nas traduções adotadas pelos protestantes.
57
Catecismo da Igreja Católica, Parte I, cap. II, art. 3. iv, p. 43.
58
Herminsten M.P. da Costa, A Inspiração e Inerrância das Escrituras Uma Perspectiva Reformada (São Paulo, Ed.
Cultura Cristã, 1998), p. 70.
56

uma tradução em latim da Bíblia feita em 382-383 d.C. a partir


da Septuaginta59 e não do texto hebraico original. O tradutor da
Vulgata Latina foi Sofrônio Eusébio Jerônimo (340-420 d.C.),
sendo que ele mesmo questionava o acréscimo de livros na nova
tradução latina que não faziam parte do texto hebraico. Em
outras palavras a Vulgata Latina é uma tradução de outra
tradução e não do original.
Como herdeiros da Reforma a nossa convicção encontra-se
expressa na Confissão de Fé de Westminster da seguinte forma:
Os livros comumente chamados apócrifos, não sendo de inspiração
divina, não fazem parte do cânon da Escritura; e, portanto, não são
de nenhuma autoridade na Igreja de Deus, nem de modo algum
podem ser aprovados nem utilizados senão como escritos
humanos.60

O cânon das Escrituras


O cânon é a coleção de livros reconhecidamente inspirados
e autorizados por Deus. Recebemos somente estes como sendo a
Palavra de Deus. A sua divisão em nossa Bíblia se encontra de
modo literário e não cronológico. A classificação é como segue
abaixo:
O Antigo Testamento
Livros da Livros Livros Profetas Profetas
Lei Históricos Poéticos Maiores Menores
Gênesis Josué Jó Isaías Oséias
Juízes Joel
Rute Amós
Êxodo 1 Samuel Salmos Jeremias Obadias
2 Samuel Jonas
Levítico 1 Reis Provérbios Lamentaçõe Miquéias
2 Reis s Naum
Números 1 Crônicas Eclesiastes Ezequiel Habacuque
2 Crônicas Sofonias
Deuteronôni Esdras Cantares Daniel Ageu
o Neemias Zacarias
Éster Malaquias
O Novo Testamento
Evangelhos Epístolas Paulinas Autor desconhecido
Mateus Romanos Hebreus
1 Coríntios
Marcos 2 Coríntios Epístolas Gerais
59
A Septuaginta (LXX) é a tradução grega do Antigo Testamento feita entre 200 a 150 a.C., por uma equipe de
aproximadamente 70 judeus. Embora a tradução foi realizada à partir do texto hebraico, foram acrescentados vários
outros livros religiosos e escritos em grego, que circulavam entre os judeus. Norman Geisler & William Nix,
Introdução Bíblica (São Paulo, Ed. Vida, 1997), pp. 196 e 213.
60
Confissão de Fé de Westminster I.3.
57

Gálatas Tiago
Lucas Efésios 1 Pedro
Filipenses 2 Pedro
João Colossenses 1 João
1 Tessalonicenses 2 João
Livro Histórico 2 Tessalonicenses 3 João
Atos dos Apóstolos 1 Timóteo Judas
2 Timóteo Livro Profético
Tito Apocalipse de João
Filemom

Certamente aprenderemos muito, mas, em tudo


examinando: o que a Escrituras diz? O pastor presbiteriano rev.
Henry B. Smith escreveu um poema que poderíamos usar para
resumir o que falamos até aqui a respeito da Escritura Sagrada:
Aprendamos sempre com a Bíblia na mão
O que nos foi entregue, nada aceitando senão
O que nos foi ensinado, nada amando senão
O que nos foi prescrito, nada odiando senão
O que nos foi proibido, nada fazendo senão
O que nos foi ordenado na Bíblia do Cristão.61

Apêndice 2
Princípios básicos para a interpretação da Bíblia

A Hermenêutica Bíblica é a ciência e arte de interpretar a


Bíblia. Em resumo veremos alguns princípios de interpretação,
que cuidadosamente observados nos livrará de dizermos o que a
Bíblia não diz! Lembre-se o objetivo da interpretação da
Escritura é alcançar o significado do texto. Pressupomos que
nele há um significado único, e não múltiplo, e o que determina o
significado do texto é a intencionalidade do autor, em seu
contexto histórico e analisado na estrutura gramatical.

61
Citado em Bruce Bickel, ed., Sola Scriptura, p. 210.
58

1. Como devo me aproximar do texto


1. Com reverência e desejo sincero de aprender. A Bíblia é autoridade
inquestionável! Aqueles que criticam negativamente a Escritura, não
querem ser criticados por ela.
2. Humildade para reconhecer que posso estar vivendo de forma errada, e
prontificar-me em mudar. Ao mesmo tempo em que ensino, também estou
aprendendo.

2. Observar bem o texto


1. Limitar o texto e assunto a ser estudado.
2. Ler repetidas vezes até entender a estrutura do texto.
3. Verificar qual é a forma literária (narrativa, profecia, parábola, poesia,
etc.)
4. Verificar as divisões naturais.
5. Verificar o contexto geral: geografia, história, usos e costumes.
6. Verificar o contexto próximo: o texto anterior e posterior.
7. Verifique o uso da gramática: verbos, substantivos, conjunções,
pronomes, etc.

3. Pergunte o máximo ao texto e procure as respostas no


próprio contexto
1. Quem, onde, aonde, quando, o que, por que, como, quanto, etc.
2. Quem é o personagem principal?
3. O que estava fazendo?
4. Qual a ênfase do texto, ou seja, a sua mensagem central?
5. Quais foram as consequências da ação?

4. Um texto obscuro é interpretado pelo mais claro


1. Não devemos isolar o texto do seu contexto histórico original.
2. Todos os textos que tratam do mesmo assunto devem ser usado para
lançar luz sobre a passagem obscura. A Bíblia interpreta a si mesma!

5. Quanto à mensagem
1. O que o autor quis dizer para a sua época? A intenção do autor determina
o significado do texto.
2. Quem foram os leitores originais? Cada livro tem os seus destinatários.
3. Qual foi o resultado da mensagem naquela época?
4. O que este texto nos diz hoje? Todo texto contém princípios universais,
isto é, uma mensagem para todos os povos de todas as épocas.

6. Procure fazer um esboço do texto


1. Busque a ideia central da passagem.
2. Extraia os outros assuntos do texto que também estão presentes e
procure entender a sua relação.

7. Como praticar o ensino bíblico


1. Algo para crer e firmar convicção.
2. Algo para corrigir agora e sempre aperfeiçoar.
3. Algo para pedir a Deus e nele depender.
59

4. Algo para planejar produzir no reino de Deus a médio e longo prazo.


5. Algum motivo de louvor e gratidão.

Apêndice 3
60

Cremos e confessamos: resumo da fé reformada

Esta parte do nosso curso tem o objetivo de fornecer ao


estudante um resumo da fé reformada tão conciso e preciso
quanto possível. Para uma rápida verificação do que cremos e
confessamos como Igreja Presbiteriana, em nossos símbolos de
fé, este esboço foi preparado para facilitar a pesquisa e
esclarecer a dúvida numa sequência simples e lógica de
proposições.

A doutrina das Escrituras Sagradas


1. É a Palavra de Deus
2. É a especial revelação de Deus
3. É uma revelação histórico-progressiva
4. É cessada a transmissão desta revelação especial em outros modos
5. É inspirada verbal, plenária e organicamente pelo Espírito Santo
6. É dada através de homens escolhidos e capacitados
7. É inerrante em cada uma das suas declarações
8. É claramente inteligível a todos
9. É iluminada pelo Espírito para o nosso entendimento espiritual
10. É completo o seu conteúdo
11. É suficiente para a nossa salvação
12. É pública, ou seja, todos têm direito ao livre exame
13. É necessário traduzi-la em língua vernáculo
14. É autoridade final em toda discussão e resolução
15. É a nossa única fonte e regra de fé e prática

A doutrina do Ser e das obras de Deus


1. É um só Deus em três Pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo
2. É perfeito, imutável, independente, infinito, eterno
3. É pessoal em toda relação com a sua criação
4. É santo, bondoso, sábio, justo, verdadeiro em seu Ser
5. É possível conhecê-lo suficientemente
6. É impossível compreendê-lo exaustivamente
7. É criador de todas as coisas em seu estado de perfeição
8. É providente em todas as suas obras
9. É seu o completo controle de cada detalhe e tudo o que acontece no
universo
10. É absolutamente soberano sobre tudo e todos
11. É verdadeiro galardoador daqueles que o buscam

A doutrina do Homem
1. É criado à imagem de Deus
2. É constituído corpo e alma
3. É ordenado formar uma família: homem e mulher
4. É decaído em pecado
5. É escravo do pecado e perdeu o seu livre-arbítrio
6. É imputado o seu pecado sobre toda a sua descendência
61

7. É sofredor das consequências do seu pecado


8. É incapaz de se salvar, ou de preparar-se para isso
9. É maldito e condenado por causa do seu pecado
10. É uma única família em várias raças
11. É ordenado viver os mandatos social, cultural e espiritual

A doutrina da Pessoa e obra de Jesus Cristo


1. É Deus-homem
2. É verdadeiro Deus em todos os seus atributos
3. É verdadeiro homem em toda a sua constituição
4. É o revelador do Pai e da sua vontade eterna
5. É encarnado da virgem Maria por obra sobrenatural do Espírito
6. É impecável, todavia, pode realmente ser tentado
7. É nosso único representante diante de Deus
8. É nosso Mediador na nova Aliança
9. É o prometido Profeta que nos traz a Palavra do Pai
10. É o perfeito Sacerdote que intercede por nós
11. É o soberano Rei que inaugura o Reino de Deus sobre nós
12. É nosso suficiente, satisfatório e definitivo sacrifício diante do Pai
13. É limitada a expiação em seu propósito de salvar somente os eleitos
14. É intercessor eficaz à destra do Pai
15. É seu cada dom concedido pelo Espírito Santo aos salvos
16. É gracioso doador dos seus méritos ao seu povo
17. É a nossa justiça, santidade e sabedoria
18. É Senhor sobre tudo o que existe
19. É esperado o seu retorno físico num futuro não revelado

A doutrina da Salvação
1. É planejada na eternidade
2. É garantida pela graciosa e livre eleição de Deus
3. É fundamentada na obra expiatória de Cristo
4. É exercida na Aliança com o Pai, por meio do Filho, no Espírito Santo
5. É aplicada em nós pelo Espírito Santo
6. É iniciada em nós na regeneração
7. É proclamada pelo chamado universal do evangelho
8. É evidenciada pela fé e arrependimento
9. É declarada na justificação
10. É familiarizada na adoção
11. É comprovada pela santificação
12. É continuada até o fim pela preservação na poderosa graça
13. É consumada na glorificação, após o juízo final

A doutrina do Espírito Santo


1. É verdadeiro Deus em todos os seus atributos
2. É a terceira Pessoa da Trindade
3. É o consolador prometido procedente do Pai e do Filho
4. É quem inspirou a toda a Escritura Sagrada
5. É quem nos batiza no Corpo de Cristo
6. É o regenerador e vivificador dos eleitos de Deus
7. É quem nos ilumina para o correto entendimento da Palavra de Deus
62

8. É testemunha da obra de Cristo em nosso favor


9. É aquele que internaliza em nós a obra da salvação
10. É quem nos convence do pecado, da justiça e do juízo
11. É quem testifica em nosso coração a filiação de Deus
12. É o penhor e selo da nossa salvação
13. É quem frutifica as virtudes de Cristo para a santificação
14. É o comunicador dos dons de Cristo
15. É agente que torna real a nossa comunhão com toda a Igreja de
Cristo

A doutrina da Igreja
1. É o glorioso corpo de Cristo
2. É composta de todos os eleitos de Deus
3. É visível pela confissão pública de fé em Cristo
4. É una, santa e universal
5. É pura pela fiel pregação da Palavra de Deus
6. É confirmada pura pelo correto exercício dos Sacramentos
7. É selado na Aliança pelo batismo o crente e a sua descendência
8. É na Ceia do Senhor celebrada a comunhão da presença espiritual de
Cristo
9. É purificada pela justa e amorosa aplicação da Disciplina
10. É testemunha da glória de Deus
11. É comunicadora do evangelho da salvação em Cristo Jesus
12. É educadora em treinar discípulos para servir inteligentemente
16. É um instrumento de influência para preservar e transformar a
sociedade
13. É serva num mundo corrompido pelo pecado
14. É adoradora do soberano Deus Trino
15. É governada pela pluralidade de presbíteros numa igreja local
16. É cooperadora em toda obra do Reino de Deus

A doutrina dos Últimos Acontecimentos


1. É inaugurado, mas não consumado (já-ainda-não) o Reino de Deus
2. É pessoal na sua realização
3. É universal em sua extensão
4. É esperado o retorno físico de Cristo Jesus
5. É verdadeira a promessa da ressurreição final
6. É absolutamente certa a vitória sobre o mal e seus agentes
7. É inevitável o julgamento de todos os homens
8. É real o lugar de punição eterna que os condenados sofrerão
9. É ansiada a restauração de toda a criação
10. É a consumação final de toda obra da providência
11. É gracioso o galardão que os salvos receberão
12. É eterna a habitação de Deus com o seu povo escolhido
63

Apêndice 4
Algumas sugestões para a prática da visitação62

A visitação é de grande importância dentro da igreja,


porque nos dá não só a chance de aconselhar e fortalecer os que
estão fracos na fé ou doentes, mas, também, de evangelizar e
aproximar de Deus aqueles que estão sem Cristo em seus
corações.
1. Requisitos para o integrante do ministério de Visitação
1. Desejar ser usado pelo Senhor – Is 6:8
2. Ter uma vida coerente com a pregação – 1 Co 11:1; 2 Ts 3:9
3. Crescer continuamente em Jesus Cristo – Fp 3:12-14
4. Fazer a visita numa atmosfera de amizade e amor – Pv
17:17
5. Ter um compromisso com Deus:
- Estou disposto a empregar tempo neste ministério?
- Estou disposto a abrir mão de atividades pessoais, não
prioritárias para dedicar-me mais a este ministério?
- Estou disposto a estudar a Palavra de Deus, preparar-
me melhor para isso?
- Desejo, de fato, que Deus modifique áreas de minha
vida que ainda tenho problemas?
- Estou disposto a renunciar a mim mesmo para que
Cristo seja evidenciado?
2. Aspectos Gerais da visitação nos lares
1. A visita deve ter um objetivo. Não deve ser demorada.
2. Avisar a visita com antecedência, para não ser
inconveniente.
3. Cuidado com comentários a respeito dos objetos da casa.
4. Deixe que a pessoa visitada também fale. Dialogue com ela,
não monologue!
5. Após ouvir a pessoa, medique com a Palavra de Deus,
usando o medicamento certo.
62
Esboço de visitação preparado pelo Rev. Baltazar Lopes Fernandes.
64

6. Cuidado com a direção da conversa, para que não se torne


um ambiente de calúnia e maledicência.
7. Não trate de interesses próprios na visita.
8. Seja humilde e não se altere com opiniões contrárias as
suas.
9. Fale sempre com amor, e espere o resultado de Deus.
10. Não tente resolver problemas além de sua capacidade.
Encaminhe-o ao pastor, ou à junta diaconal.
11. Jamais espalhe as confidências (problemas) que o
visitado confiou a você. Seja discreto e fiel à pessoa para
poder ajudá-la. Se possível busque orientação pastoral.
12. Durante a semana ore pela pessoa visitada.
13. Mostre sempre um interesse sincero e puro pela
pessoa visitada.
14. Lembre-se: Em todo tempo ama o amigo, e na angústia
se faz o irmão (Pv 17:17).

Bibliografia

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